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29 | I Série - Número: 054 | 19 de Fevereiro de 2011

As imagens que nos deixou contam os sítios que amou, as pessoas que respeitou e admirou, conta o seu olhar cheio de humor e de surpresa, a sua felicidade perante a beleza.
E quando não subscrevia as simplificações do tipo «uma imagem substitui-se a mil palavras» era por a fotografia — a sua fotografia — ser o que antecede a própria palavra.
Queremos aqui expressar as nossas condolências aos seus familiares e amigos e homenagear um grande artista.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Maria Conceição Pereira.

A Sr.ª Maria Conceição Pereira (PSD): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Numa semana em que a cultura esteve no centro, perdeu-se um grande nome, Gérard Castello-Lopes, que nasceu em França e se licenciou em Economia. Dedicou a sua vida profissional ao mundo das artes, começando pelo cinema, onde se ligou à geração do Cinema Novo.
Foi assistente de realização de Artur Ramos no filme português Pássaros de Asas Cortadas, tendo também estado ligado à fundação do Centro Português de Cinema.
Foi crítico de cinema e escreveu como colaborador em vários títulos da imprensa, nomeadamente nos jornais A Tarde e O Semanário, no período que mediou entre 1982 e 1984.
Só tardiamente iniciou a sua actividade como fotógrafo nos anos 50. Por provavelmente não se acreditar, pelas suas características próprias, interrompeu esta actividade durante quase duas décadas, retomando-a nos anos 80, com inúmeras exposições individuais e colectivas.
Muitos de nós, que tivemos a felicidade e a oportunidade de a visitar, ainda temos na memória a grande exposição de Gérard Castello-Lopes, realizada no CCB, em 2004, e denominada retrospectiva Oui/Non, onde o Homem, que como sempre o acompanhou, estava, uma vez mais, no centro do mundo.
Mas Gérard Castello-Lopes nunca levou muito a sério a sua actividade artística como fotógrafo, dizendo a propósito desta exposição: «Nunca achei que era excepcional ou muito bom fotógrafo». No entanto, é bom citar o que escreveu António Barreto, contrariando esta modéstia que sempre acompanhou Gérard CastelloLopes, ao longo da sua vida de artista multifacetada: «‘Um grande tímido’«, um «falador impenitente«, segundo o qual uma imagem vale por mil palavras.
As nossas sinceras condolências a toda a família de Gérard Castello-Lopes e um grande pesar para a cultura portuguesa com a sua morte e com o seu desaparecimento.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado Paulo Portas.

O Sr. Paulo Portas (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Gérard Castello-Lopes era um homem de um tempo em que nos cinemas havia gongo, havia intervalo e o prazer de tomar um café no foyer era mais importante do que a pressa da sessão seguinte.
Gérard Castello-Lopes era um príncipe, era um senhor e, como disse, e bem, Miguel Esteves Cardoso, «Morreu o meu único amigo, simultaneamente encantador, charmant e charming».
Foi diplomata e economista, foi empresário e distribuidor, foi assistente de realização e assistente de produção, no cinema e na ópera, foi cinéfilo, cineclubista, fotógrafo — porventura, como diz António Barreto, «talvez o maior fotógrafo português de século XX», embora ele não desejasse esse reconhecimento, nem quisesse que outros entendessem que ele o merecesse.
Foi um português no mundo, quando Portugal não se abria ao mundo. Foi um homem a meio caminho entre o cinema de autor, às vezes sem público, e o cinema de massas, às vezes sem marca. Era um homem que queria um cinema com público e um cinema com qualidade.
Era um homem que provava que indústria e cultura não são conceitos antagónicos — e esse é, em certo sentido, precursor das indústrias de cultura.

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