I SÉRIE — NÚMERO 4
12
O problema das filas de espera nos tribunais terá de ser resolvido, designadamente com a criação de
juízes liquidatários, nomeadamente nos tribunais fiscais, impondo-se, igualmente, a reforma do processo
tributário. À margem das reformas legislativas, o Governo equaciona medidas complementares que, de forma
integrada, poderão potenciar a obtenção dos resultados.
As alterações ao regime jurídico do inventário devem ser objecto de ponderação. À data de hoje, um ano
após a sua entrada em vigor, a lei é inexequível. Nenhum cidadão consegue tramitar um processo de
inventário em nenhum cartório notarial ou numa conservatória, devendo aguardar pelas conclusões de um
grupo de trabalho que está a fazer agora o que já devia ter feito — isto é exactamente o exemplo daquilo que
não se deve fazer em processo legislativo.
Quanto ao mapa judiciário e à reforma judiciária é oportuno avaliar o funcionamento das três comarcas-
piloto e essa avaliação não está integralmente feita.
Outro dos problemas principais que o Governo vai enfrentar respeita a uma questão extremamente grave e
estruturante: a destruição do sistema de inteligência do Estado, nomeadamente os antigos gabinetes de
estudos e planeamento.
Vozes do PSD: — Muito bem!
A Sr.ª Ministra da Justiça: — O sistemático recurso a avaliações ad hoc, encomendadas a gabinetes que
desconhecem a realidade da administração ou a empresas de auditorias exteriores não é aceitável como
regra.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
O Ministério da Justiça vai empenhar-se perante a Assembleia da República e com a Assembleia da
República na introdução de reformas que privilegiem a independência técnica da administração e as boas
práticas.
Os caminhos do Estado devem ser objecto de uma visão de conjunto que estabeleça objectivos
socialmente partilhados mas, ao mesmo tempo, não esteja em permanente alteração em função de meras
conjunturas partidárias.
Propugna-se, ainda, pela publicação de um inventário do património do Estado afecto ao Ministério da
Justiça.
Outra orientação essencial será a de evitar o desperdício da repetição de serviços de Estado. Nos últimos
anos, temos assistido à duplicação de diversos serviços com consequências negativas do ponto de vista
financeiro, da identidade das instituições e dos direitos dos cidadãos.
Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: Todo o compromisso do Governo vai também no alargamento e na
consolidação do espaço europeu de justiça e cidadania, sem esquecer o objectivo de criação de um judiciário
comum com os países lusófonos.
Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: Pensar a justiça é pensar o ser humano. É uma tarefa primeira e um
desafio. Contamos com o vosso apoio, a vossa colaboração, a vossa ponderação neste caminho difícil. Bem
hajam!
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Entretanto, assumiu a presidência o Sr. Vice-Presidente Guilherme Silva.
O Sr. Presidente: — A Sr.ª Ministra da Justiça tem quatro pedidos de esclarecimento e, depois, informará a
Mesa se pretende responder em conjunto ou individualmente.
Tem a palavra a Sr.ª Deputada Cecília Honório.
A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Ministra, o Programa do seu Governo é claro quanto à
insistência na necessidade de combater a corrupção e a sua intervenção na manhã de hoje reforçou esta