I SÉRIE — NÚMERO 25
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A Sr.ª Presidente: — Srs. Deputados, visto não haver objecções, considera-se aprovado o parecer da
Comissão.
Srs. Deputados, vamos dar início ao debate de urgência sobre a abertura do ano lectivo, requerido pelo
PCP.
Para a intervenção de abertura, tem a palavra o Sr. Deputado Miguel Tiago.
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: Este Governo prossegue a marcha contra a
escola pública que já os seus antecessores haviam trilhado. O arranque do primeiro ano lectivo sob o mandato
político da direita mais reaccionária demonstrou, de forma evidente, que este Governo está igualmente
apostado no desmantelamento dos principais pilares e fundações da escola pública.
Certamente, tentará hoje o Sr. Ministro, como bom aluno de Maria de Lurdes Rodrigues e Mariano Gago,
seus antecessores de má memória, enganar os portugueses e virar pais contra professores, na velha
estratégia de «dividir para reinar».
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Na sua apresentação de hoje, porém, o Governo não dirá que, no ensino
básico e secundário, enquanto falamos, continuam professores por colocar e turmas sem aulas. Certamente, o
Sr. Ministro não nos dirá hoje que, até ao momento, as escolas contam com menos 10 000 professores do que
no ano lectivo anterior.
O concurso de colocação de professores foi novamente atacado por quem tem obrigação legal e política de
o concretizar. Este Governo converteu à força as vagas anuais em vagas mensais, distorcendo os resultados
de um procedimento concursal público, que se deve pautar pela transparência e objectividade.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Exactamente!
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Como se não bastasse, o Governo mentiu e responsabilizou as escolas pela
falha. Mas é nas palavras do próprio Ministério que a mentira se evidencia, pois afirma o Governo, no dia 16
de Setembro, em órgão de comunicação social, que «os contratos mensais serão renovados sucessivamente
(…) até ao final do ano lectivo». Ora, de duas, uma: ou as escolas indicaram necessidades mensais e, a ser
assim, os contratos não seriam renovados além do esgotamento da necessidade; ou os contratos mensais
serão renovados sucessivamente até ao final do ano, porque, na verdade, as necessidades indicadas eram
efectivamente anuais.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Ora bem!
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — É simples: ou mente o Governo ou mentem milhares de professores e
dezenas de directores de escolas.
Aplausos do PCP.
Ao PCP chegaram inúmeros testemunhos de professores e de directores de escolas e agrupamentos, e
lerei apenas uma pequena frase de um desses exemplos: «quando descarregou os dados para o recrutamento
de um docente, através da bolsa, a escola encontrou bloqueada a opção ‘anual’. O sistema assumiu
imediatamente todas as vagas como sendo apenas por um mês». Este é um dos muitos exemplos que nos
chegaram e que, certamente, também chegaram a outros grupos parlamentares.
Hoje, o Governo tem de explicar o sucedido.
O Governo quer, objectivamente, preencher necessidades anuais com recurso ao contrato mensal e, nesta
fúria de ataque aos direitos laborais dos docentes, distorceu e manipulou os critérios de selecção de um
concurso público.