I SÉRIE — NÚMERO 29
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O Sr. Ministro da Saúde: — Pretende o PCP contestar a acção do Governo, criticando a política de saúde,
invocando estar em risco o Serviço Nacional de Saúde.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Que falta de originalidade!
O Sr. Ministro da Saúde: — Neste contexto, vamos ser claros: o objectivo primordial que move o Governo
é a sobrevivência do Serviço Nacional de Saúde naquilo que este Serviço tem de mais valioso: a garantia de
prestação de cuidados de saúde de qualidade a todos os portugueses.
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Estranha forma de o defender!
O Sr. Ministro da Saúde: — Efectivamente, a salvaguarda da protecção conferida pelo Serviço Nacional
de Saúde garante aos cidadãos a confiança em direitos e valores consolidados de que a nossa sociedade se
pode orgulhar. Esses direitos e valores não estão postos em causa; não é isso que se debate aqui, hoje.
O que se debate, e aquilo em que divergimos, é a forma de sustentar esse pilar fundamental da nossa
sociedade; é a forma de garantir a coesão, pilar fundamental da nossa sociedade, com um serviço público
sustentável, ou seja, duradouro, e não constantemente à beira da rotura, carecendo sempre e a todo o
momento de dotações extraordinárias de capital. Quer isto dizer novos impostos ou contracção de dívida.
Aplausos do PSD.
Todos sabemos que, no passado, esse foi sempre o expediente usado, mas, hoje em dia, não é mais
possível utilizá-lo.
Esses expedientes levaram a que os hospitais, numa grande maioria, como é do conhecimento de todos,
se apresentem em falência técnica, a um défice anual incontrolado e a dívidas que ameaçam os próprios
fornecedores do Serviço Nacional de Saúde.
O que tem o Governo feito? Tem respondido, fundamentalmente, com rigor e promoção de mudanças
estruturais: a transparência na afectação dos dinheiros públicos e a boa utilização dos recursos públicos, a
redução do fardo que pesa sobre o SNS.
Isto não significa que não se transforme, não significa que não se deva ajustar, não significa que não se
deva investir quando houver fundos para tal.
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Especialmente no sector privado!
O Sr. Ministro da Saúde: — Preserve-se o essencial, reforme-se o acessório, elimine-se o redundante.
O Sr. Adão Silva (PSD): — Muito bem!
O Sr. Ministro da Saúde: — Num ponto estamos de acordo: a saúde é, de facto, um investimento. É um
investimento pelas externalidades positivas geradas, que beneficiam toda a sociedade, é um investimento para
as pessoas, permitindo mitigar a desigualdade e minorar as assimetrias sociais.
Mas este investimento de elevado retorno só poderá continuar a existir nos moldes que conhecemos hoje
se formos capazes, como acredito que seremos, de fazer o mesmo ou melhor com menos recursos. Trata-se,
acima de tudo, de adequar o nível de despesa aos fundos disponíveis para a financiar. Não podemos
despender, no nosso dia-a-dia, mais do que aquilo que é o nosso rendimento. As famílias e os portugueses
sabem isso.
O resultado dos últimos anos é que, infelizmente, encontrámos — isso é conhecido de todos —
acumulação de défices crónicos, mesmo com o crescimento dos fundos disponíveis para os financiar, o que
resultou em dívidas a fornecedores acumuladas de mais de 3000 milhões de euros.
A verdade é que, à semelhança de outros países, os resultados em saúde alcançados colocam Portugal ao
nível dos nossos parceiros europeus. No entanto, outros países do nosso espaço económico e com nível de