I SÉRIE — NÚMERO 29
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grupos do sector, quando já demonstraram que não servem os interesses públicos, como está bem visível na
parceria público-privada (PPP) do Hospital de Braga.
Vozes do PCP: — Muito bem!
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Para o Governo, não há uma política de prevenção da doença e de
promoção da saúde que proporcione ganhos de saúde do ponto de vista do utente e vantagens para o SNS a
prazo. Em vez disso, o Governo aplica sucessivas medidas, como se a política de saúde fosse uma folha de
cálculo, onde o que importa é reduzir custos, independentemente das consequências nos cuidados prestados
e na saúde dos utentes, numa visão puramente economicista.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Em pouco mais de três meses, o Governo pôs fim ao reembolso aos
utentes do SNS, introduzindo obstáculos no acesso a próteses, óculos ou serviços de estomatologia; reduziu o
transporte de doentes não urgentes, impossibilitando milhares de utentes de acederem a consultas e
tratamentos; reduziu horas extraordinárias sem o respectivo reforço dos profissionais de saúde, conduzindo à
ruptura de muitos serviços, sobretudo das urgências; cortou nos incentivos à transplantação, levando à
redução da recolha e do transplante de órgãos e gorando a expectativa de muitos portugueses se tratarem; e
restringiu o acesso aos meios complementares de diagnóstico e terapêutica, aumentando as listas de espera,
devido à interpretação abusiva das novas regras de prescrição.
A redução de 11% no orçamento dos hospitais públicos agravou a situação de subfinanciamento crónico,
com reflexos nas elevadas dívidas, na falta de material clínico e na carência de profissionais de saúde. Alguns
hospitais já não disponibilizam os medicamentos aos utentes nas farmácias hospitalares, nomeadamente os
medicamentos biológicos.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — É verdade!
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Foram suspensos os processos de construção de hospitais e criado um
grupo de trabalho para reformular a rede hospitalar, condicionado, à partida, à necessidade de concentração
serviços e de redução de custos. Está-se mesmo a ver qual vai ser o resultado!
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — A par disto, vai-se transmitindo a ideia de que há hospitais a mais e
duplicação de respostas, para que os portugueses aceitem o encerramento de serviços hospitalares, para
mais uma vez beneficiar os hospitais privados.
Desde 2006 até Junho de 2011, o Ministério da Saúde perdeu mais de 24 000 trabalhadores,
correspondendo a uma redução de 22%. Mais de 1,7 milhões de utentes não têm médico de família e são
precisos, pelo menos, mais 5000 enfermeiros ao nível dos cuidados de saúde primários.
A Sr.ª Presidente: — Sr.ª Deputada, peço desculpa por interromper, mas há um ruído na Sala que, não
sendo um ruído gritante, perturba a audição das palavras da Sr.ª Deputada. Por isso, solicitava aos Srs.
Deputados algum cuidado.
Faça favor de continuar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Obrigada, Sr.ª Presidente.
Face à restrição na contratação de profissionais, muitas unidades de saúde recorreram à subcontratação
de médicos, de enfermeiros ou de assistentes técnicos, com custos muito superiores para o Estado e com
relações laborais muito precárias e instáveis. Agora, estão a reduzir as horas médicas e de enfermagem
subcontratadas, sem a integração destes trabalhadores na função pública. Já despediram 46 enfermeiros em