I SÉRIE — NÚMERO 35
8
eticamente reprováveis através da diminuição do consumo. «Pobres mas com saúdinha» parece ser o lema do
Governo, a fazer lembrar outros tempos.
Nenhum país faz crescer a economia empobrecendo.
Aproveito para recuperar aqui as palavras do próprio Ministro das Finanças, que parecem ter sido
cirurgicamente dirigidas ao Ministro Álvaro dos Santos Pereira, quando disse que «há ideias que só parecem
funcionar no banco das universidades». Infelizmente, estava a ser excessivamente optimista. Do que se
conhece com origem no Ministério da Economia, nem aí estas ideias funcionam.
Infelizmente, parece ser este o caminho seguido pelo Governo. Fazer de todos nós as cobaias do
radicalismo ideológico de quem se vê como a força transformadora da economia e das relações sociais.
Sr. Ministro da Economia e do Emprego, Sr.as
e Srs. Deputados: O mundo do trabalho é a pedra de toque
desta transformação puramente ideológica do País. O objectivo é claro: transferir uma parte cada vez mais
significativa dos rendimentos do trabalho para os lucros do capital.
O aumento do horário de trabalho não tem nenhum estudo que suporte a sua eficácia, não tem outra
consequência visível que não seja a da diminuição da necessidade de mão-de-obra, aumentando assim o
desemprego.
Mais: o Governo quer também fazer tábua rasa das obrigações de comunicação das empresas à
Autoridade para as Condições de Trabalho. Doravante, horários de trabalho, alargamento dos períodos de
laboração, intervalos para descanso ou isenções de horário podem deixar de ser fiscalizadas. É a lei da selva,
que parece que veio para ficar.
Aplausos do BE.
Mas concentremo-nos, Sr.as
e Srs. Deputados, nos números. De acordo com os dados relativos aos
acordos de contratação colectiva em 2010, os portugueses já trabalham mais de 38 horas por semana, mais
meia hora que os alemães, mais 1 hora que os ingleses e mais quase 3 horas que os trabalhadores franceses.
Num país onde já se trabalha mais do que a média europeia, é esta a solução do Governo!
Mas esta solução não é só socialmente injusta e destruidora da qualidade de vida das famílias, é também
economicamente insensata: concentra o trabalho nos sectores menos produtivos da economia, com diminuta
capacidade de valor acrescentado e de incorporação tecnológica; reforça modelos concorrenciais condenados
ao fracasso como nos países asiáticos, onde o salário anda pelos 100 €.
Conclusão: os portugueses vão trabalhar mais, num país cada vez menos produtivo. Trata-se de
empobrecer o País e os portugueses, mais uma vez.
Já a partir deste mês de Novembro, as compensações por despedimento serão mais baixas: menos 10
dias de retribuição aos trabalhadores e um tecto máximo de 12 meses de salário, ou seja, a compensação
estagna a partir dos 18 anos de antiguidade. Também cai o pagamento mínimo, que hoje existe, de três
meses de salário. É o despedimento low cost, que coloca o emprego em saldos e os direitos na gaveta.
O Sr. Luís Fazenda (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — Para o Governo, trabalhar mais não basta; é preciso ganhar menos e viver
sem saber o dia de amanhã, para aceitar cada vez menos.
A radical diminuição do valor das horas extraordinárias é mais um passo para a diminuição do custo do
trabalho e do rendimento dos trabalhadores, afectando, essencialmente, os empregados com menores
rendimentos.
O trabalho precário, a nova forma de escravatura do século XXI, conhece também um novo impulso com a
renovação extraordinária dos contratos a prazo, além dos três anos, por mais 18 meses. Com este Governo,
institucionaliza-se a precariedade.
Os números dizem que sete em cada oito novos contratados no último ano têm contrato a prazo, trabalham
a recibo verde ou para empresas de trabalho temporário. E estes novos contratos têm pouca probabilidade de
se tornarem permanentes. Mas ainda não chega. É preciso empobrecer mais e mais o País e os portugueses.
Na oposição, CDS e PSD diziam que os impostos e as despesas com a segurança social dos
trabalhadores a recibos verdes eram «um esbulho fiscal». Mas isso foi nos idos de Maio, quando o Ministro