O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Página 1

Quinta-feira, 27 de Outubro de 2011 I Série — Número 35

XII LEGISLATURA 1.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2011-2012)

REUNIÃOPLENÁRIADE26DEOUTUBRODE 2011

Presidente: Ex.ma Sr.ª Maria da Assunção Andrade Esteves

Secretários: Ex.mos

Srs. Duarte Rogério Matos Ventura Pacheco Rosa Maria da Silva Bastos de Horta Albernaz Abel Lima Baptista

S U M Á R I O

A Sr.ª Presidente declarou aberta a sessão às 15 horas

e 10 minutos. Deu-se conta da entrada na Mesa da proposta de lei n.º

29/XII (1.ª), dos projectos de lei n.os

94 e 95/XII (1.ª) e dos projectos de resolução n.

os 115 a 118/XII (1.ª).

Na abertura do debate da interpelação n.º 2/XII (1.ª) — Sobre desemprego, precariedade e alterações às leis do trabalho (BE) proferiram intervenções a Sr.ª Deputada Mariana Aiveca (BE) e o Sr. Ministro da Economia e do Emprego (Álvaro Santos Pereira), tendo-se seguido no uso da palavra, a diverso título, além daqueles oradores, os Srs.

Deputados Adriano Rafael Moreira (PSD), Ana Drago (BE), Basílio Horta (PS), Jorge Machado (PCP), José Luís Ferreira (Os Verdes), Hélder Amaral (CDS-PP), Catarina Martins (BE), Rita Rato (PCP), Pedro Filipe Soares (BE), Artur Rêgo (CDS-PP), Miguel Laranjeiro (PS), Arménio Santos (PSD), João Semedo (BE) e Luís Menezes e Adão Silva (PSD).

No encerramento do debate, intervieram o Sr. Deputado Luís Fazenda (BE) e o Sr. Ministro da Economia e do Emprego.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva) encerrou a sessão eram 17 horas e 40 minutos.

Página 2

I SÉRIE — NÚMERO 35

2

A Sr.ª Presidente: — Srs. Deputados, temos quórum, pelo que está aberta a sessão.

Eram 15 horas e 10 minutos.

Srs. Deputados presentes à sessão:

Partido Social Democrata (PSD)

Adriano Rafael de Sousa Moreira

Adão José Fonseca Silva

Afonso Gonçalves da Silva Oliveira

Amadeu Albertino Marques Soares Albergaria

Ana Sofia Fernandes Bettencourt

Andreia Carina Machado da Silva Neto

António Carlos Sousa Gomes da Silva Peixoto

António Costa Rodrigues

António Egrejas Leitão Amaro

António Fernando Couto dos Santos

António Manuel Pimenta Prôa

Arménio dos Santos

Bruno Jorge Viegas Vitorino

Bruno Manuel Pereira Coimbra

Carina João Reis Oliveira

Carla Maria de Pinho Rodrigues

Carlos Alberto Silva Gonçalves

Carlos Eduardo Almeida de Abreu Amorim

Carlos Henrique da Costa Neves

Carlos Manuel Faia São Martinho Gomes

Carlos Manuel dos Santos Batista da Silva

Cláudia Sofia Gomes Monteiro de Aguiar

Cristóvão Duarte Nunes Guerreiro Norte

Cristóvão Simão Oliveira de Ribeiro

Cristóvão da Conceição Ventura Crespo

Duarte Filipe Batista de Matos Marques

Duarte Rogério Matos Ventura Pacheco

Eduardo Alexandre Ribeiro Gonçalves Teixeira

Elsa Maria Simas Cordeiro

Emídio Guerreiro

Emília de Fátima Moreira dos Santos

Fernando Luís de Sousa Machado Soares Vales

Fernando Mimoso Negrão

Fernando Nuno Fernandes Ribeiro dos Reis

Fernando Ribeiro Marques

Fernando Virgílio Cabral da Cruz Macedo

Guilherme Henrique Valente Rodrigues da Silva

Hugo Alexandre Lopes Soares

Hélder António Guerra de Sousa Silva

Joana Catarina Barata Reis Lopes

Joaquim Carlos Vasconcelos da Ponte

Jorge Paulo da Silva Oliveira

José Manuel Marques de Matos Rosa

José Manuel de Albuquerque Portocarrero Canavarro

Página 3

27 DE OUTUBRO DE 2011

3

José Manuel de Matos Correia

José Mendes Bota

João Bosco Soares Mota Amaral

João Carlos Figueiredo Antunes

João Manuel Lobo de Araújo

Laura Maria Santos de Sousa Esperança

Luís Filipe Montenegro Cardoso de Morais Esteves

Luís Filipe Valenzuela Tavares Menezes Lopes

Luís Pedro Machado Sampaio de Sousa Pimentel

Luís Álvaro Barbosa de Campos Ferreira

Lídia Maria Bulcão Rosa da Silveira Dutra

Manuel Augusto Meirinho Martins

Manuel Filipe Correia de Jesus

Margarida Rosa Silva de Almeida

Maria Clara Gonçalves Marques Mendes

Maria Ester Vargas de Almeida e Silva

Maria Francisca Fernandes Almeida

Maria Isilda Videira Nogueira da Silva Aguincha

Maria José Quintela Ferreira Castelo Branco

Maria José Vieira Teodoro Moreno

Maria João Machado de Ávila

Maria Manuela Pereira Tender

Maria Paula da Graça Cardoso

Maria da Assunção Andrade Esteves

Maria da Conceição Alves dos Santos Bessa Ruão Pinto

Maria da Conceição Vaz Barroso Carloto Caldeira

Maria da Graça Gonçalves da Mota

Maurício Teixeira Marques

Miguel Jorge Reis Antunes Frasquilho

Mário José Magalhães Ferreira

Mário Nelson da Silva Vaz Simões

Mónica Sofia do Amaral Pinto Ferro

Nilza Marília Mouzinho de Sena

Nuno Filipe Miragaia Matias

Nuno Miguel Pestana Chaves e Castro da Encarnação

Nuno Rafael Marona de Carvalho Serra

Odete Maria Loureiro da Silva

Paulo Cardoso Correia da Mota Pinto

Paulo César Lima Cavaleiro

Paulo César Rios de Oliveira

Paulo Jorge Frazão Batista dos Santos

Paulo Jorge Simões Ribeiro

Paulo Miguel da Silva Santos

Pedro Alexandre Antunes Faustino Pimpão

Pedro Augusto Cunha Pinto

Pedro Filipe dos Santos Alves

Pedro do Ó Barradas de Oliveira Ramos

Ricardo Augustus Guerreiro Baptista Leite

Rosa Maria Pereira Araújo Arezes

Sérgio Sousa Lopes Freire de Azevedo

Teresa de Andrade Leal Coelho

Teresa de Jesus Costa Santos

Página 4

I SÉRIE — NÚMERO 35

4

Valter António Gaspar de Bernardino Ribeiro

Vasco Manuel Henriques Cunha

Ângela Maria Pinheiro Branquinho Guerra

Partido Socialista (PS)

Acácio Santos da Fonseca Pinto

Alberto Bernardes Costa

Alberto de Sousa Martins

Ana Catarina Veiga Santos Mendonça Mendes

Ana Maria Teodoro Jorge

Ana Paula Mendes Vitorino

António Fernandes da Silva Braga

António José Martins Seguro

António Manuel Soares Serrano

António Ramos Preto

Artur Miguel Claro da Fonseca Mora Coelho

Basílio Adolfo de Mendonça Horta da Franca

Carlos Filipe de Andrade Neto Brandão

Carlos Manuel Pimentel Enes

Eduardo Arménio do Nascimento Cabrita

Eduardo Luís Barreto Ferro Rodrigues

Elza Maria Henriques Deus Pais

Eurídice Maria de Sousa Pereira

Fernando Manuel de Jesus

Francisco José Pereira de Assis Miranda

Glória Maria da Silva Araújo

Idália Maria Marques Salvador Serrão de Menezes Moniz

Inês de Saint-Maurice de Esteves de Medeiros Vitorino de Almeida

Isabel de Lima Mayer Alves Moreira

Jorge Lacão Costa

Jorge Manuel Capela Gonçalves Fão

José Adelmo Gouveia Bordalo Junqueiro

José António Fonseca Vieira da Silva

José Carlos das Dores Zorrinho

José Duarte Piteira Rica Silvestre Cordeiro

José Manuel Lello Ribeiro de Almeida

João Barroso Soares

João Paulo Feteira Pedrosa

João Raul Henriques Sousa Moura Portugal

João Saldanha de Azevedo Galamba

Júlio Francisco Miranda Calha

Laurentino José Monteiro Castro Dias

Luís António Pita Ameixa

Luís Miguel Morgado Laranjeiro

Luísa Maria Neves Salgueiro

Manuel Francisco Pizarro de Sampaio e Castro

Manuel José de Faria Seabra Monteiro

Manuel Pedro Cunha da Silva Pereira

Marcos da Cunha e Lorena Perestrello de Vasconcellos

Maria Antónia Moreno Areias de Almeida Santos

Maria Gabriela da Silveira Ferreira Canavilhas

Página 5

27 DE OUTUBRO DE 2011

5

Maria Helena dos Santos André

Maria Hortense Nunes Martins

Maria Isabel Coelho Santos

Maria Isabel Ferreira Coelho de Sena Lino

Maria Odete da Conceição João

Maria de Belém Roseira Martins Coelho Henriques de Pina

Miguel João Pisoeiro de Freitas

Mário Manuel Teixeira Guedes Ruivo

Nuno André Neves Figueiredo

Paulo Jorge Oliveira de Ribeiro Campos

Pedro Filipe Mota Delgado Simões Alves

Pedro Manuel Dias de Jesus Marques

Pedro Manuel Farmhouse Simões Alberto

Pedro Nuno de Oliveira Santos

Ricardo Manuel de Amaral Rodrigues

Rosa Maria da Silva Bastos da Horta Albernaz

Rui Jorge Cordeiro Gonçalves dos Santos

Rui Paulo da Silva Soeiro Figueiredo

Sérgio Paulo Mendes de Sousa Pinto

Sónia Ermelinda Matos da Silva Fertuzinhos

Vitalino José Ferreira Prova Canas

Partido Popular (CDS-PP)

Abel Lima Baptista

Adolfo Miguel Baptista Mesquita Nunes

Altino Bernardo Lemos Bessa

Artur José Gomes Rêgo

Inês Dória Nóbrega Teotónio Pereira Bourbon Ribeiro

Isabel Maria Mousinho de Almeida Galriça Neto

José Duarte de Almeida Ribeiro e Castro

José Helder do Amaral

José Lino Fonseca Ramos

José Manuel de Sousa Rodrigues

João Guilherme Nobre Prata Fragoso Rebelo

João Manuel de Serpa Oliva

João Paulo Barros Viegas

João Pedro Guimarães Gonçalves Pereira

João Rodrigo Pinho de Almeida

Manuel Fialho Isaac

Maria Margarida Avelar Santos Nunes Marques Neto

Michael Lothar Mendes Seufert

Nuno Miguel Miranda de Magalhães

Raúl Mário Carvalho Camelo de Almeida

Telmo Augusto Gomes de Noronha Correia

Teresa Margarida Figueiredo de Vasconcelos Caeiro

Teresa Maria de Moura Anjinho Tomás Ruivo

Vera Lúcia Alves Rodrigues

Partido Comunista Português (PCP)

Agostinho Nuno de Azevedo Ferreira Lopes

António Filipe Gaião Rodrigues

Página 6

I SÉRIE — NÚMERO 35

6

Artur Jorge da Silva Machado

Bernardino José Torrão Soares

Bruno Ramos Dias

Francisco José de Almeida Lopes

Jerónimo Carvalho de Sousa

José Honório Faria Gonçalves Novo

João Augusto Espadeiro Ramos

João Guilherme Ramos Rosa de Oliveira

Miguel Tiago Crispim Rosado

Paulo Miguel de Barros Pacheco Seara de Sá

Rita Rato Araújo Fonseca

Bloco de Esquerda (BE)

Ana Isabel Drago Lobato

Catarina Soares Martins

Francisco Anacleto Louçã

João Pedro Furtado da Cunha Semedo

Luís Emídio Lopes Mateus Fazenda

Maria Cecília Vicente Duarte Honório

Mariana Rosa Aiveca

Pedro Filipe Gomes Soares

Partido Ecologista «Os Verdes» (PEV)

Heloísa Augusta Baião de Brito Apolónia

José Luís Teixeira Ferreira

A Sr.ª Presidente: — O Sr. Secretário vai proceder à leitura do expediente.

O Sr. Secretário (Duarte Pacheco): — Sr.ª Presidente, Sr.as

e Srs. Deputados, entraram na Mesa, e foram

admitidas pela Sr.ª Presidente, as seguintes iniciativas legislativas: proposta de lei n. º 29/XII (1.ª) — Procede

à sexta alteração ao Regulamento das Custas Processuais, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 34/2008, de 26 de

Fevereiro, que baixou à 1.ª Comissão; projectos de lei n.os

94/XII (1.ª) — Regula o direito de associação na

Guarda Nacional Republicana (PCP), que baixou à 1.ª Comissão, e 95/XII (1.ª) — Determina a isenção de

portagens na A22 (Via do Infante) (BE), que baixou à 6.ª Comissão; projectos de resolução n.os

115/XII (1.ª) —

Recomenda ao Governo a realização de uma auditoria ao concurso de colocação de docentes da Bolsa de

Recrutamento n.º 2 (PSD e CDS-PP), que baixou à 8.ª Comissão, 116/XII (1.ª) — Restabelece a igualdade de

condições nos concursos públicos entre os licenciados do sistema «pré-Bolonha» e os mestres do sistema de

atribuição de graus criado pelo Decreto-Lei n.º 74/2006, de 24 de Março. (BE), que baixou à 8.ª Comissão,

117/XII (1.ª) — Recomenda ao Governo que defenda intransigentemente a manutenção do programa

comunitário de ajuda alimentar a carenciados, demovendo a minoria de bloqueio constituída por sete Estados-

membros e promovendo a adequação da regulamentação às necessidades de financiamento do mesmo

(CDS-PP), que baixou às 7.ª e 4.ª Comissões, e 118/XII (1.ª) — Recomenda ao Governo a adopção de

medidas de apoio ao acesso à habitação por jovens (PS), que baixou à 11.ª Comissão.

É tudo, Sr.ª Presidente.

A Sr.ª Presidente: — Muito obrigada, Sr. Secretário.

Vamos entrar na nossa ordem do dia, que hoje consta do debate da interpelação n.º 2/XII (1.ª) — Sobre

desemprego, precariedade e alterações às leis do trabalho (BE).

Página 7

27 DE OUTUBRO DE 2011

7

Antes de mais, cumprimento o Sr. Ministro da Economia e do Emprego, os Srs. Secretários de Estado do

Emprego e a Sr.ª Secretária de Estado dos Assuntos Parlamentares e da Igualdade, que se encontram

presentes.

Tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana Aiveca para abrir o debate.

A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Ministro da Economia e do Emprego, Srs. Membros do

Governo, Sr.as

e Srs. Deputados: Ainda ontem, a escassos metros desta Câmara, o Ministro da Economia e do

Emprego disse que o seu objectivo é, nada mais, nada menos, «transformar e reinventar o País em seis

meses». A proclamação é modesta, como se compreende, mas não deixa de ter o seu fundo.

Trabalhar mais tempo, sem nenhumas garantias, pagando cada vez mais pelos serviços garantidos com os

nossos impostos, em troca de um salário mais baixo, muito mais baixo; reinventar o País, numa corrida

desenfreada para moldar o País à imagem de uma gigantesca cidade-fábrica dos subúrbios de uma qualquer

capital asiática — é este o programa do Governo.

Para o conseguir, todos os argumentos servem. «As palavras são importantes» dizia, com razão, Nanni

Moretti, e este Governo parece empenhado, como nunca, na transformação do valor das palavras e dos

conceitos.

Trabalhar mais em empresas que vão precisar de menos trabalhadores para fazer o mesmo, agora é uma

medida, segundo as palavras do Governo, para criar emprego.

O Sr. Luís Fazenda (BE): — Muito bem!

A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — Diminuir a procura interna, levando o comércio e os serviços ao desespero

é anunciado como a condição necessária para o crescimento económico.

Facilitar o despedimento, criando um mundo laboral onde se pode despedir a preço de saldo, porque assim

apetece, é apresentado como um passo necessário para combater o desemprego.

Empobrecer o País e os portugueses, num País onde o salário médio mal chega para pagar a renda de

casa nas maiores cidades do país, passou a ser a proposta para sair da crise.

Empobrecer o País e os portugueses — o mais espantoso é que não é qualquer partido da oposição a

fazer essa leitura, mas o próprio Primeiro-Ministro a anunciá-lo, como fez ontem. É essa, exactamente, a sua

resposta para a crise.

O Sr. Luís Fazenda (BE): — É extraordinário!

A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — Para quem costuma entremear as suas intervenções com inúmeros

exemplos da economia doméstica, desta vez nem uma para amostra. É pena! Sempre gostaríamos de ter

ouvido o Primeiro-Ministro explicar como é que uma família com um rendimento médio de 700 € vai pagar

mais impostos, perder os apoios sociais, receber menos, pagar mais pela saúde ou pelos transportes e ainda

viver melhor.

Esperamos, com inusitada expectativa, o dia em que o Primeiro-Ministro venha anunciar aos portugueses

que vão ficar mais saudáveis adoecendo e que só vamos ter melhores alunos se estes deixarem de estudar.

Entrámos, Sr.as

e Srs. Deputados, definitivamente, no campo da novilíngua.

Por mais chocantes que sejam — e são-no —, estas declarações apenas elevam a um novo patamar a

ideia, constantemente repetida pelo batalhão de comentadores militantes do PSD, de que os portugueses

viveram acima das suas possibilidades.

Num país como o nosso, onde o salário médio está ao nível do mínimo grego e não chega a metade do de

países como a França ou a Alemanha, é preciso topete para fazer estas afirmações.

Vozes do BE: — Muito bem!

A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — Este plano ideologicamente inclinado, que saltou directamente do

comentário televisivo para a bancada do PSD, só conhece uma solução: a austeridade permanente como

castigo moral que vai regenerar a economia e mudar os comportamentos dos portugueses, vistos como

Página 8

I SÉRIE — NÚMERO 35

8

eticamente reprováveis através da diminuição do consumo. «Pobres mas com saúdinha» parece ser o lema do

Governo, a fazer lembrar outros tempos.

Nenhum país faz crescer a economia empobrecendo.

Aproveito para recuperar aqui as palavras do próprio Ministro das Finanças, que parecem ter sido

cirurgicamente dirigidas ao Ministro Álvaro dos Santos Pereira, quando disse que «há ideias que só parecem

funcionar no banco das universidades». Infelizmente, estava a ser excessivamente optimista. Do que se

conhece com origem no Ministério da Economia, nem aí estas ideias funcionam.

Infelizmente, parece ser este o caminho seguido pelo Governo. Fazer de todos nós as cobaias do

radicalismo ideológico de quem se vê como a força transformadora da economia e das relações sociais.

Sr. Ministro da Economia e do Emprego, Sr.as

e Srs. Deputados: O mundo do trabalho é a pedra de toque

desta transformação puramente ideológica do País. O objectivo é claro: transferir uma parte cada vez mais

significativa dos rendimentos do trabalho para os lucros do capital.

O aumento do horário de trabalho não tem nenhum estudo que suporte a sua eficácia, não tem outra

consequência visível que não seja a da diminuição da necessidade de mão-de-obra, aumentando assim o

desemprego.

Mais: o Governo quer também fazer tábua rasa das obrigações de comunicação das empresas à

Autoridade para as Condições de Trabalho. Doravante, horários de trabalho, alargamento dos períodos de

laboração, intervalos para descanso ou isenções de horário podem deixar de ser fiscalizadas. É a lei da selva,

que parece que veio para ficar.

Aplausos do BE.

Mas concentremo-nos, Sr.as

e Srs. Deputados, nos números. De acordo com os dados relativos aos

acordos de contratação colectiva em 2010, os portugueses já trabalham mais de 38 horas por semana, mais

meia hora que os alemães, mais 1 hora que os ingleses e mais quase 3 horas que os trabalhadores franceses.

Num país onde já se trabalha mais do que a média europeia, é esta a solução do Governo!

Mas esta solução não é só socialmente injusta e destruidora da qualidade de vida das famílias, é também

economicamente insensata: concentra o trabalho nos sectores menos produtivos da economia, com diminuta

capacidade de valor acrescentado e de incorporação tecnológica; reforça modelos concorrenciais condenados

ao fracasso como nos países asiáticos, onde o salário anda pelos 100 €.

Conclusão: os portugueses vão trabalhar mais, num país cada vez menos produtivo. Trata-se de

empobrecer o País e os portugueses, mais uma vez.

Já a partir deste mês de Novembro, as compensações por despedimento serão mais baixas: menos 10

dias de retribuição aos trabalhadores e um tecto máximo de 12 meses de salário, ou seja, a compensação

estagna a partir dos 18 anos de antiguidade. Também cai o pagamento mínimo, que hoje existe, de três

meses de salário. É o despedimento low cost, que coloca o emprego em saldos e os direitos na gaveta.

O Sr. Luís Fazenda (BE): — Muito bem!

A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — Para o Governo, trabalhar mais não basta; é preciso ganhar menos e viver

sem saber o dia de amanhã, para aceitar cada vez menos.

A radical diminuição do valor das horas extraordinárias é mais um passo para a diminuição do custo do

trabalho e do rendimento dos trabalhadores, afectando, essencialmente, os empregados com menores

rendimentos.

O trabalho precário, a nova forma de escravatura do século XXI, conhece também um novo impulso com a

renovação extraordinária dos contratos a prazo, além dos três anos, por mais 18 meses. Com este Governo,

institucionaliza-se a precariedade.

Os números dizem que sete em cada oito novos contratados no último ano têm contrato a prazo, trabalham

a recibo verde ou para empresas de trabalho temporário. E estes novos contratos têm pouca probabilidade de

se tornarem permanentes. Mas ainda não chega. É preciso empobrecer mais e mais o País e os portugueses.

Na oposição, CDS e PSD diziam que os impostos e as despesas com a segurança social dos

trabalhadores a recibos verdes eram «um esbulho fiscal». Mas isso foi nos idos de Maio, quando o Ministro

Página 9

27 DE OUTUBRO DE 2011

9

Pedro Mota Soares dizia que «alguém tem que levantar a voz em defesa destes contribuintes». Agora, não só

Pedro Mota Soares já mudou de opinião, como os seus companheiros do Conselho de Ministros estão a

penhorar os escassos bens dos trabalhadores precários em nome de uma dívida de que os próprios não são

responsáveis.

É verdade, alguém tem que levantar a voz em defesa destes contribuintes,…

Aplausos do BE.

… razão pela qual o Bloco de Esquerda vai agendar um conjunto de propostas para cruzar os dados

fiscais, para responsabilizar os verdadeiros devedores e para penalizar quem recorra e abuse do expediente

dos falsos recibos verdes.

Ninguém compreende nem é aceitável que, ao mesmo tempo que o Governo desconsidera a fiscalização

do trabalho, faça recair a força da máquina fiscal precisamente sobre os trabalhadores mais desprotegidos e

com menos direitos.

Nenhuma das medidas apresentadas pelo Governo para alterar as leis do trabalho concorre para a

resolução da crise da dívida ou para a diminuição do défice. Fazem parte do ajuste de contas da direita, que

viu na crise do euro a oportunidade histórica de fazer passar a sua agenda de sempre: desregular o mercado

de trabalho e diminuir os direitos sociais e o salário.

Esta interpelação pretende confrontar, hoje, o Governo e a sua deriva radical e ideologicamente motivada

de impor as leis do mais forte como a regra nas relações de trabalho. Porque, ao contrário do Governo, há

quem não se resigne, há quem queira um futuro para o País, há quem queira um futuro que não seja o do

empobrecimento colectivo, Sr.as

e Srs. Deputados.

Aplausos do BE.

A Sr.ª Presidente: — Para uma intervenção, ainda na fase de abertura, tem a palavra o Sr. Ministro da

Economia e do Emprego.

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego (Álvaro Santos Pereira): — Sr.ª Presidente, Sr.as

e Srs.

Deputados: Os temas desta interpelação — desemprego, precariedade e alterações às leis do trabalho — são,

sem dúvida, temas que estão na ordem do dia e que muito preocupam o Governo e os portugueses.

É por isso que venho hoje à Assembleia da República, com todo o empenho e sentido de responsabilidade,

debater estes temas e apresentar as políticas do Governo nesta área.

Comecemos pelo desemprego. Como é que podemos diminuir a taxa de desemprego, que está em níveis

historicamente altos? É importante perceber que não pode haver um decréscimo sustentado da taxa de

desemprego se a economia nacional não crescer. E é o facto de a economia nacional não ter crescido nos

últimos 10 anos que motivou a subida do desemprego e da emigração para níveis históricos.

São hoje mais do que conhecidas as razões que nos conduziram à situação actual. Durante anos,

seguimos o modelo económico errado e as políticas económicas erradas. Os resultados destas opções foram

desastrosos: a estagnação económica, um desemprego recorde e um endividamento histórico.

Por isso, todos nós sabemos que temos de mudar de vida. Todos sabemos que não temos outra alternativa

que não seja basearmos o nosso desenvolvimento num modelo económico mais realista, mais produtivo e,

acima de tudo, mais competitivo.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Até agora só disse banalidades!

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego — Neste sentido, urge perguntar: como é que vamos sair

desta situação? Como é que podemos alicerçar a retoma da economia nacional e diminuir o desemprego?

A resposta a esta pergunta pode ser resumida em quatro palavras: consolidar, investir, exportar e

reestruturar.

Página 10

I SÉRIE — NÚMERO 35

10

Em primeiro lugar, é vital assegurar a consolidação orçamental e a diminuição do endividamento da

economia nacional. É conhecido que os países que têm níveis de endividamento público acima de 90% do PIB

são altamente penalizados no seu crescimento económico.

No nosso caso, essa premissa não poderia ser mais verdadeira, pois nos últimos 150 anos, sempre que

Portugal apresentou uma dívida pública acima de 90% do PIB, a economia cresceu menos do que 0,5% ao

ano. É exactamente isso que se tem passado nos últimos anos. Ou seja, o nosso elevado endividamento é um

autêntico entrave ao crescimento económico e, por isso, tem de ser diminuído. É exactamente isso que este

Governo está a fazer.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

Em segundo lugar, a retoma económica constrói-se através do reforço das exportações e da recuperação

do investimento privado.

E foi assim que, em poucas semanas, agilizámos e desbloqueámos investimentos em várias áreas e

sectores, desde um dos maiores investimentos turísticos no Alqueva, passando pelo estabelecimento de uma

base da Easyjet em Lisboa, que irá criar mais de 200 postos de trabalho directos, até aos vários investimentos

projectados nos sectores mineiro e geológico.

Em poucas semanas, desbloqueámos e agilizámos a concessão da prospecção de gás natural no Algarve;

em poucas semanas, desbloqueámos e agilizámos a concessão da prospecção de ouro no Alentejo; em

poucas semanas, não temos poupado esforços para garantir que outros grandes investimentos no sector

mineiro se possam tornar possíveis a breve trecho.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

Todos estes investimentos irão ter um impacto muito significativo para a economia nacional e para a

criação de emprego.

Porém, os investimentos projectados não ficam por aqui.

Só entre o final de Junho e o presente mês, já aprovámos projectos de investimento na ordem dos 145

milhões de euros e temos candidaturas em análise com um valor global de cerca de 900 milhões de euros.

Encontram-se ainda em acompanhamento cerca de 25 intenções de investimento estrangeiro que somados

poderão representar cerca de 2500 postos de trabalho e um investimento directo estrangeiro que poderá

atingir os 1000 milhões de euros, em sectores diferenciados como o turismo, aeronáutico, serviços, alimentar,

agrícola, entre outros.

As exportações também continuam a dar mostras de grande vitalidade, demonstrando todos os dias que a

aposta no sector exportador deve tornar-se num verdadeiro desígnio nacional. As exportações de bens têm

registado taxas de variação homóloga bastante superiores às das importações e a taxa de cobertura situou-se

em 75,7% no último Agosto.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — E o emprego?

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — A solução para a crise nacional passa certamente pela

internacionalização das nossas empresas e pelo aumento das exportações. E é por isso que o Governo tem

trabalhado para reforçar a liquidez às PME (pequenas e médias empresas) exportadoras, para garantir e

aumentar os seguros de crédito para as exportações e para reduzir os custos de contexto das nossas

exportações através da aposta nos portos nacionais e na ferrovia em bitola europeia.

Estas apostas têm um propósito muito claro: baixar os nossos custos de contexto e, assim, aumentar a

competitividade das nossas exportações. Ao fazê-lo, produziremos mais, exportaremos mais e criaremos mais

emprego.

Em suma, embora estejamos a passar por um período de grandes dificuldades, a verdade é que a

economia nacional move-se, reinventa-se e reforma-se todos os dias.

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — E o emprego nada!

Página 11

27 DE OUTUBRO DE 2011

11

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — Porém, os alicerces da retoma económica não ficam por

aqui. Para que haja uma retoma sustentada, é preciso não ter receio de levar a cabo reformas profundas,

reformas que irão marcar a economia nacional para as próximas décadas.

É isso que estamos a fazer no sector empresarial do Estado e mais concretamente no sector dos

transportes, que será alvo da maior reestruturação das últimas décadas e que se destina a salvar estas

empresas públicas, salvaguardando o maior número possível de postos de trabalho.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

É assim também que estamos a fazer em relação à agilização dos investimentos, no combate à burocracia,

na celeridade dos licenciamentos, na nova lei da concorrência, numa grande reforma do capital de risco

público, na reforma do Código das Insolvências,…

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — E a legislação laboral?

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — … na promoção do Plano Extrajudicial de Consolidação,

na revitalização das empresas, na simplificação do Código Comercial e, por fim, na reforma da lei laboral.

Vozes do PCP: — Ah!…

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — Sim porque, Sr.ª Presidente e Sr.as

e Srs. Deputados, a

reforma da lei laboral é essencial para a criação de emprego e para fomentar a competitividade da nossa

economia.

Não é por acaso que são estes os pontos que encontramos previstos no Memorando de Entendimento

como elementos integrantes das reformas estruturais para o mercado de trabalho português.

A inflexibilidade das leis laborais tem consequências evidentes a nível interno, designadamente na

segmentação do mercado de trabalho, que é especialmente visível nos grupos mais vulneráveis de

trabalhadores.

São eles os jovens recém-licenciados, as mulheres e os desempregados com mais de 45 anos.

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Para os licenciados ainda é pior!

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — Estes grupos são os mais atingidos pelo flagelo do

desemprego e pelos contratos de trabalho a termo ou temporários.

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — E o que é que o Governo vai fazer por isso?

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — É também importante perceber que o mercado de trabalho

português não é atractivo para muitos potenciais investidores e é preciso perceber, de uma vez por todas, que

não pode haver emprego sem empresas.

Com efeito, as regras que hoje encontramos na nossa legislação constituem um factor de desincentivo ao

desenvolvimento da economia, que tem repercussões visíveis no mercado de trabalho, no aumento do

desemprego e nas dificuldades que os portugueses encontram para celebrar contratos de trabalho.

É esta inflexibilidade da lei laboral que motiva a desconfiança das empresas e é exactamente por todas

estas razões que as reformas que estão a ser efectuadas nesta área são prementes e são essenciais para

termos uma maior criação de emprego e uma economia mais competitiva.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

No entanto, quero aqui realçar, mais uma vez, que aquilo que verdadeiramente preocupa o Governo são as

pessoas. Quero aqui afirmar e sublinhar que o Governo não pretende, de modo algum, retirar direitos aos

Página 12

I SÉRIE — NÚMERO 35

12

trabalhadores. A filosofia que o Governo defende e que se encontra plasmada no seu Programa é a da

protecção do trabalhador.

Risos do PCP e do BE.

Contudo, protecção do trabalhador não é a mesma coisa que protecção do posto de trabalho.

O que é necessário é defender o trabalhador e muni-lo dos meios necessários para a sua empregabilidade

e para a rápida obtenção de emprego, não é o posto de trabalho e a falta de mobilidade.

Pelo contrário, o Governo quer incentivar a mobilidade e a adaptação dos trabalhadores às novas

exigências dos mercados de trabalho. Não se pretende, nem tal seria possível à luz da nossa Constituição,

eliminar o conceito de justa causa de despedimento.

Este é um valor que o Governo reconhece e valoriza como princípio integrante do Estado de direito

democrático.

Assim, não corresponde à verdade que haja uma tentativa de permitir os despedimentos por livre arbítrio

do empregador.

Na realidade, todas as medidas que o Governo se propõe implementar são medidas que resultam do

Memorando de Entendimento e que foram sufragadas pelos portugueses nas últimas eleições.

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Isso não é verdade!

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — Assim, no seguimento da lei que já foi publicada para as

compensações aos novos contratos, o Governo propõe-se alterar as regras aplicáveis aos actuais

trabalhadores para determinação do montante das compensações por despedimento, aproximando-as das

estabelecidas para os novos contratos de trabalho.

O Sr. Luís Fazenda (BE): — Ora, pois!…

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — Outra importante medida consiste na implementação do

Fundo de Compensação do Trabalho, com vista a assegurar que os trabalhadores recebem efectivamente as

compensações a que têm direito.

Estão igualmente a ser planeadas reformas ao nível da flexibilização do tempo de trabalho, em especial em

relação à constituição de bancos de horas por acordo entre empregador e trabalhador e ainda do banco de

horas grupal.

Esta é uma medida que se revela essencial para a gestão e organização das empresas e representa um

aspecto decisivo para o aumento da competitividade.

Queremos, com esta reforma, obter um mercado de trabalho que incentive a mobilidade e o crescimento do

emprego, um mercado de trabalho que promova a confiança das empresas, a competitividade e o

desenvolvimento económico.

Todas estas medidas são um primeiro e significativo passo no caminho para a mudança de que Portugal

necessita. Contudo, o relançamento económico carece de outras medidas importantes, dirigidas,

nomeadamente, a aumentar a produtividade e a competitividade do País.

Uma delas consiste na alteração do regime dos feriados visto que Portugal apresenta um calendário de

feriados que supera em grande medida o dos restantes países europeus.

A Sr.ª Presidente: — Sr. Ministro, já ultrapassou o tempo de que dispunha em mais de 1 minuto. Queira,

pois, concluir, quando puder.

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — Muito obrigado, Sr.ª Presidente.

Assim, importa levar a cabo alterações estruturais a este regime, as quais serão igualmente objecto de

discussão no âmbito da concertação social.

Para além disso, foi recentemente anunciada pelo Governo uma medida com carácter excepcional, que

consiste no aumento do horário em meia hora por cada dia de trabalho. Trata-se de uma medida fulcral,

Página 13

27 DE OUTUBRO DE 2011

13

tomada no grave momento de crise económica com que o País e todos os portugueses se debatem. Este é,

bem o sabemos, um esforço acrescido que o Governo pede aos trabalhadores. Todavia, sendo temporária,

esta é uma medida que irá aumentar a competitividade das nossas empresas, contribuindo assim para a

retoma económica.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — É mentira! Vai é aumentar os lucros!

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — Finalmente, no âmbito das políticas de emprego, o

Governo irá não só levar a cabo um programa de reestruturação dos centros de emprego, bem como temos

medidas viradas para a formação profissional.

Em suma, em resposta à crise, ao desemprego e à precariedade no mercado de trabalho, o Governo

apresenta políticas concretas, políticas realistas, políticas que nos irão conduzir a um novo modelo económico,

baseado no baixo endividamento, no investimento privado sustentado, nas exportações e na reestruturação da

economia nacional.

Só assim é que podemos lançar as bases para a retoma económica, só assim é que podemos vencer o

actual período de dificuldades.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

A Sr.ª Presidente: — Srs. Deputados, o Sr. Deputado Adriano Rafael Moreira inscreveu-se para pedir

esclarecimentos à Sr.ª Deputada Mariana Aiveca.

Tem a palavra para o efeito, Sr. Deputado.

O Sr. Adriano Rafael Moreira (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Mariana Aiveca, permita-me que a

felicite a si e ao seu grupo parlamentar pelo tema que aqui trouxeram, que é da máxima importância. Mas

infelizmente por aqui ficamos, isto é, ficamos só pelas felicitações, porque quanto ao restante foi tempo

desperdiçado. V. Ex.ª fez lembrar o anterior ministro das finanças que, em pleno mês Setembro de 2008,

quando as empresas faliam em todo o mundo, quando os grandes bancos faliam, dizia que a crise em

Portugal estava quase a acabar.

O Sr. Adão Silva (PSD): — Bem lembrado!

O Sr. Adriano Rafael Moreira (PSD): — Em Portugal, estamos orgulhosamente sós no caminho do

progresso, dizia então o ministro das finanças.

Nessa altura, como V. Ex.ª se lembrará, reduziam-se impostos, aumentavam-se salários e os membros do

Governo dividiam-se, dia-a-dia, a oferecer computadores e a fazer inaugurações.

Como V. Ex.ª tem de reconhecer essa não é a solução. Esse caminho trouxe-nos, nos dias de hoje, a um

nível de desemprego que não se pode aceitar.

V. Ex.ª deve lembrar-se que o último governo do Partido Socialista todas as semanas aprovava leis, na

semana seguinte alterava-as, quinze dias depois revogava-as. Chegámos a ter leis que chamavam de apoio à

criação de emprego que duravam oito dias.

A Sr.ª Deputada deve ter presente que, nesse clima de euforia, apadrinhado pelo ex-ministro das finanças,

foi apregoado que, em Maio de 2010, teríamos o pacto para o emprego e que tudo iria florir em crescimento.

Mas, infelizmente, o que aconteceu foi que tivemos de recorrer à ajuda externa, tivemos de celebrar um

memorando de entendimento e tivemos de aceitar uma cronologia, um cronograma, de medidas de urgência

que agora cai sobre o actual Governo.

E, Sr.ª Deputada, temos, antes de mais, de assinalar esse mérito.

O actual Governo, em apenas quatro meses, já aprovou dezenas de medidas. Dezenas, Sr.ª Deputada! E

chamo a sua atenção para a medida que está em discussão pública, a que V. Ex.ª fez referência e para a qual

gostava de obter algum esclarecimento. Trata-se da prorrogação dos contratos a prazo. Como V. Ex.ª sabe,

contratos celebrados precisamente no período de euforia do ex-ministro das finanças, em Setembro de 2008,

estão a chegar ao seu limite máximo de duração. E V. Ex.ª sabe o que aconteceu durante o ano de 2010: os

Página 14

I SÉRIE — NÚMERO 35

14

contratos terminavam e as pessoas ou iam para o desemprego ou para os falsos recibos verdes! Era este o

destino!

A Sr.ª Presidente: — Queira terminar, Sr. Deputado.

O Sr. Adriano Rafael Moreira (PSD): — Vou concluir, Sr.ª Presidente.

A minha pergunta é muito simples, Sr.ª Deputada: V. Ex.ª, à data de hoje, continua a defender que é

preferível um falso recibo verde a permitir que se faça uma renovação excepcional dos contratos de trabalho?!

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana Aiveca.

A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado, agradeço as suas questões, até porque,

assim, também nos permite respostas claras às suas tão grandes dúvidas.

Mas, Sr. Deputado, o que vai acontecer é que os senhores vão ter de explicar como é que o

embaratecimento dos despedimentos concorre para o crescimento económico e para a solução do

endividamento e da competitividade, como é que mais 16 dias de trabalho por ano concorrem para o

desenvolvimento económico e para o pagamento da dívida, o mesmo podendo dizer-se em relação aos cortes

nos feriados! E como é que a redução da remuneração das horas extraordinárias para metade concorre para o

crescimento económico e para a solução dos problemas da dívida, da economia?

Sobre os contratos a prazo, Sr. Deputado, é muito simples: os senhores querem dizer-nos que ou há

renovação ou há desemprego? Então, em relação a essas pessoas, a essas centenas de milhares de pessoas

que estão contratadas a prazo nas AEC, nas escolas, na saúde, na função pública, e não só, na PT, em todos

os call centers, como bem sabe, que ocupam, durante anos e anos, postos de trabalho permanentes, o Sr.

Deputado quer dizer que ou se lhes renova o contrato ou são despedidos?!

O Sr. Adriano Rafael Moreira (PSD): — É o resultado da governação PS!

A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — Então, os senhores vão despedir todos os professores que contrataram há

pouco tempo, quando o seu contrato terminar?! Vão despedir todos os trabalhadores que têm contratos a

prazo, em sectores tão importantes como aqueles que lhe referi?!

Ó Sr. Deputado, a inevitabilidade não faz parte do nosso léxico, nós não aceitamos essa inevitabilidade! O

que os senhores nos querem dizer é que as pessoas têm de escolher entre a «morte» e o «estado de coma»,

mas nós não aceitamos isso!

Aplausos do BE.

A Sr.ª Presidente: — Srs. Deputados, informo a Assembleia de que se inscreveram, para pedir

esclarecimentos ao Sr. Ministro da Economia e do Emprego, os Srs. Deputados Ana Drago, Basílio Horta,

Jorge Machado, José Luís Ferreira, Hélder Amaral, Catarina Martins, Rita Rato e Pedro Filipe Soares. O Sr.

Ministro informou a Mesa de que responderá, conjuntamente, a grupos de três, de mais três e, por fim, de dois

Srs. Deputados.

Assim, para formular o seu pedido de esclarecimentos, tem a palavra, em primeiro lugar, a Sr.ª Deputada

Ana Drago.

A Sr.ª Ana Drago (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Ministro da Economia e do Emprego, o debate político, hoje,

está marcado por uma frase que foi dita ontem pelo Sr. Primeiro-Ministro, e que é uma frase absolutamente

extraordinária. Disse o Sr. Primeiro-Ministro: «só saímos desta situação…» — e quando se referiu a «esta

situação» creio que pretendia referir-se à crise social, à redução do rendimento da esmagadora maioria dos

portugueses, ao empobrecimento do País — «… de empobrecimento, empobrecendo». Pode, à partida,

parecer uma frase um pouco estranha, que não tem lógica, mas a verdade é que todos os portugueses

Página 15

27 DE OUTUBRO DE 2011

15

compreenderam, exactamente, o que ela quer dizer. Aliás, todo o programa do PSD e do CDS, ao longo dos

últimos meses, tem sido assim: reinventar o País, no sentido de o empobrecer.

Portanto, Sr. Ministro, o que queremos, hoje, discutir consigo é o que têm sido estes últimos meses e a

forma como PSD e CDS apresentaram um programa político ao País.

É que, Sr. Ministro, lembramo-nos bem das suas intervenções, durante o debate eleitoral, há uns meses

atrás. Aliás, o Sr. Ministro, entrando no elenco governativo, foi apresentado como o homem que vinha de fora,

das universidades estrangeiras. O senhor tinha a teoria que explicava, o senhor tinha os estudos, os

pareceres, as comparações internacionais que iriam permitir criar crescimento económico e emprego no País.

Mas, Sr. Ministro, devo dizer-lhe que, ao longo destes últimos meses, temos assistido ao ruir daquela que era

a sua reputação.

Dizia o Sr. Ministro: «É necessário reduzir a taxa social única». O senhor tinha a teoria, tinha os estudos,

tinha as estimativas, mas, afinal, não, afinal, reduzir a taxa social única não permitiria crescimento e emprego,

antes iria apenas permitir descapitalizar a segurança social.

O Sr. Ministro apresentava-se como o paladino, aquele que iria ser absolutamente imparável nos cortes

das «gorduras» do Estado. Porém, basta olhar para o Orçamento do Estado: cortam-se pensões, cortam-se

salários, corta-se investimento público, cortam-se apoios sociais, mas naquilo que são os consumos

intermédios do Estado há um crescimento. Portanto, a teoria, os estudos, as comparações, as estimativas do

Sr. Ministro afinal nada trouxeram!

Mas, Sr. Ministro, noto que teve alguma dificuldade em chegar ao tema específico desta interpelação do

Bloco de Esquerda, porque a verdade é que, hoje, temos um país em risco de precariedade absoluta, temos

um país em risco de ter 1 milhão de desempregados. E, sobre isto, o Sr. Ministro seguiu aqui o mote do Sr.

Primeiro-Ministro, que é uma espécie de filosofia esotérica, dizendo uns paradoxos: saímos de uma situação…

A Sr.ª Presidente: — Sr.ª Deputada, peço-lhe que termine, porque já ultrapassou largamente o tempo de

que dispunha. Houve uma distracção da Mesa, pelo que peço desculpa.

A Sr.ª Ana Drago (BE): — Termino já, Sr.ª Presidente.

O Sr. Primeiro-Ministro diz que «saímos de uma situação de empobrecimento, empobrecendo» e o Sr.

Ministro, aqui, diz-nos que combatemos o desemprego facilitando os despedimentos, que saímos de um

modelo de baixos salários colocando os trabalhadores portugueses a trabalhar mais 15 dias sem salário.

Sr. Ministro, têm dito que ter o senhor como Ministro da Economia e do Emprego ou não ter nada é mais ou

menos a mesma coisa, mas olha-se para a perspectiva, na legislação laboral, e eu diria, Sr. Ministro,…

A Sr.ª Presidente: — Queira concluir, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Ana Drago (BE): — … que ter o senhor, ter a sua perspectiva de precariedade, ter a sua perspectiva

de aumento do desemprego é muito pior do que não ter nada.

Aplausos do BE.

A Sr.ª Presidente: — A Sr.ª Deputada Ana Drago, em relação ao tempo que usou, beneficiou de uma

distracção da Mesa.

Tem agora a palavra, para pedir esclarecimentos, o Sr. Deputado Basílio Horta.

O Sr. Basílio Horta (PS): — Sr.ª Presidente, Sr. Ministro da Economia e do Emprego, a primeira nota que

quero sublinhar no seu discurso é a contradição que existe entre aquilo que o Sr. Ministro veio aqui dizer e

aquilo que o Sr. Primeiro-Ministro disse ontem aos portugueses: o Sr. Primeiro-Ministro informou os

portugueses de que não havia outro caminho senão empobrecer e o Sr. Ministro veio dizer que só há um

caminho, que é o de enriquecer.

O Sr. Miguel Laranjeiro (PS): — Muito bem!

Página 16

I SÉRIE — NÚMERO 35

16

O Sr. João Oliveira (PCP): — Mas é o de enriquecer a banca!

O Sr. Basílio Horta (PS): — Temos de perceber onde estamos!

Sr. Ministro, como há dias dizia o Presidente da CIP, o Sr. Ministro é pródigo em anúncios, em boas

intenções, mas a verdade é que as concretizações não existem. Isto é exactamente assim! O que temos visto

até agora tem sido uma ausência de economia. E de tal maneira a ausência de economia se verifica que um

alto dirigente da maioria vem dizer que a economia é um problema para este Governo.

Vozes do PS: — Muito bem!

O Sr. Basílio Horta (PS): — Não é esta bancada que o diz, é um alto dirigente da maioria, aliás

empresário. E como o compreendo!

Quando o ministério de V. Ex.ª foi constituído, pensei que seria dificilmente gerível, para não dizer ingerível,

não obstante os méritos académicos do Sr. Ministro. Porém, havia uma coisa que podia ter alguma lógica, que

era pôr o emprego ao lado da economia. Se a prioridade do Governo fosse a retoma económica, então, sim,

teria lógica. Mas como a prioridade do Governo não é a retoma económica, como a prioridade do Governo é

aumentar impostos, cortar salários e viver num momento permanente de contracção, obviamente o Sr. Ministro

deixa de ser Ministro do Emprego para passar a ser «ministro do desemprego».

Aplausos do PS.

É isso que está a acontecer, Sr. Ministro, e que vai acontecer cada vez mais!

O Sr. Ministro deverá lembrar-se da experiência chilena dos anos 80, em que houve qualquer coisa

semelhante a esta: cortes salariais, aumento de impostos, contracção permanente. Os chilenos iam entrar na

ordem — era a expressão que se utilizava. Vejamos: o desemprego foi de quase 30%, a construção de uma

sociedade de poucos e de um Estado para poucos. Sr. Ministro, não é isso que esta bancada quer para

Portugal!

Aplausos do PS.

Sr. Ministro, discordamos completamente de si. E tudo isto não é uma simples discussão económica, é

uma profunda discussão política que, efectivamente, nos separa em termos democráticos. É que, Sr. Ministro,

nós entendemos que a consolidação orçamental se deve fazer simultaneamente com a retoma do crescimento

e V. Ex.ª diz que, primeiro, está a consolidação orçamental e só depois a retoma do crescimento.

A Sr.ª Presidente: — Tem de concluir, Sr. Deputado.

O Sr. Basílio Horta (PS): — Concluo, Sr.ª Presidente, se tiver para comigo a mesma generosidade que

teve há pouco.

A Sr.ª Presidente: — Peço desculpa, Sr. Deputado, mas houve um engano em relação ao tempo usado

pela Sr.ª Deputada Ana Drago, porque os serviços é que registaram um tempo que não correspondia à

realidade. Aliás, também devo um pedido de desculpas à Sr.ª Deputada Ana Drago.

O Sr. Basílio Horta (PS): — Não há problema, Sr.ª Presidente.

Mas, como dizia, Sr. Ministro, há uma divergência entre nós. V. Ex.ª diz que, primeiro, a consolidação e,

depois, a retoma; nós dizemos que a retoma e a consolidação têm de estar, necessariamente, lado a lado,

porque se não V. Ex.ª chega a 2013 com poucas empresas e poucas famílias. E esse é um aspecto que não

podemos aceitar em termos de modelo deste Orçamento.

O Sr. Luís Fazenda (BE): — Votem contra! Já!

Página 17

27 DE OUTUBRO DE 2011

17

O Sr. Basílio Horta (PS): — Portanto, Sr. Ministro, de forma muito rápida, coloco-lhe quatro questões: se

V. Ex.ª quer criar emprego, como é que vai financiar a economia? Que apoio é que está a dar às empresas

exportadoras e às que substituem importações? O que está a fazer para a competitividade empresarial? Em

quarto lugar e muito importante: qual é o seu papel, Sr. Ministro, na internacionalização da economia? É que,

por este caminho, Sr. Ministro,…

A Sr.ª Presidente: — Tem de concluir, Sr. Deputado.

O Sr. Basílio Horta (PS): — Concluo, Sr.ª Presidente.

Como estava a dizer, por este caminho, Sr. Ministro, V. Ex.ª será um velho «ministro de abastecimento e

preços» ou um «secretário de estado do comércio interno», mas Ministro da Economia de uma economia

internacionalizada é que V. Ex.ª não será, com grave prejuízo para a economia portuguesa.

Aplausos do PS.

A Sr.ª Presidente: — Srs. Deputados, peço-lhes que se contenham dentro do tempo regimental de que

dispõem. Não é bom ter de retirar a palavra aos Srs. Deputados, mas usarem, a mais, mais de 100% do tempo

de que dispõem é muito para a ordem normal dos nossos trabalhos.

Também para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Jorge Machado.

O Sr. Jorge Machado (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Ministro da Economia e do Emprego, tem um grave

problema de confronto entre aquilo que diz e a realidade concreta em que o País vive.

O Sr. Ministro fala de rigidez laboral, mas não consegue explicar uma coisa: temos mais de 1 milhão de

desempregados, temos mais de 1,2 milhões de trabalhadores precários. Como é que há rigidez laboral no

nosso País?!

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Ora bem!

O Sr. Jorge Machado (PCP): — O Sr. Ministro diz que é preciso atacar o desemprego. E o que é que

propõe ao nível da legislação laboral? Facilitar o despedimento e tornar mais barato esse mesmo

despedimento. Como é que isso resolve o problema do País ou como é que isso vai combater o desemprego?

De forma nenhuma, Sr. Ministro!

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!

O Sr. Jorge Machado (PCP): — O Sr. Ministro diz que quer manter a justa causa para os despedimentos.

Ora, o que o Sr. Ministro propõe, na alteração da legislação laboral, é que se o patrão disser que há uma

quebra de produtividade do trabalhador, se o patrão disser que o trabalhador não cumpriu os objectivos, se o

patrão disser que a qualidade do trabalho do trabalhador é inferior, então, tem justa causa para o

despedimento. Na prática, tudo passa a ser justa causa, esvaziando o conceito — é isso que o Sr. Ministro

quer fazer!

Vozes do PCP: — Exactamente!

O Sr. Jorge Machado (PCP): — Depois, o Sr. Ministro fala de investimento como factor fundamental para

o crescimento e para combater o desemprego. O que é que diz o seu Orçamento do Estado? No Orçamento

do Estado, o investimento cai 29%, em termos reais, de 2011 para 2012.

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Exactamente!

O Sr. Jorge Machado (PCP): — Portanto, não há investimento que o salve!

Página 18

I SÉRIE — NÚMERO 35

18

Depois, o Sr. Ministro diz ainda — e com uma profunda hipocrisia (permita-me que lho diga) — que quer

defender os trabalhadores. O que o Sr. Ministro propõe é um ataque aos salários e pensões, a redução das

indemnizações por despedimento, um ataque à contratação colectiva, um banco de horas para trabalhar mais

sem receber um cêntimo, a redução para metade do valor pago em trabalho extraordinário, a eliminação do

dia de descanso compensatório, o ataque ao subsídio de desemprego, acabar com a regra das 8 horas de

trabalho por dia. Mais meia hora de trabalho por dia, Sr. Ministro, sabe o que representa? São mais 10 horas

de trabalho por mês, 16 dias de trabalho de graça por ano, mais 7000 milhões de euros entregues ao

patronato, de graça, de trabalho dado pelos trabalhadores!

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Uma vergonha!

O Sr. Jorge Machado (PCP): — O Sr. Ministro propõe-se eliminar uma conquista histórica dos

trabalhadores portugueses. Os últimos trabalhadores a conquistarem as 8 horas de trabalho por dia foram os

trabalhadores agrícolas, em 1962, em plena ditadura fascista! Morreram trabalhadores para conquistarem

esses direitos!

Foi com o sangue derramado na luta dos trabalhadores que se conquistaram as 8 horas de trabalho por dia

e é esse direito que o Sr. Ministro quer pôr em causa de uma forma absolutamente inaceitável e vergonhosa!

Vozes do PCP: — Muito bem!

O Sr. Jorge Machado (PCP): — Sr. Ministro, as medidas que propõe não resolvem nenhum problema, não

vão criar nenhum posto de trabalho, antes, vão agravar a injustiça, a exploração de quem trabalha e afundar o

nosso País!

Mas o Sr. Ministro foi traído pelas palavras que o Sr. Primeiro-Ministro proferiu ontem. É que o Sr. Primeiro-

Ministro, ontem, tornou claro qual é o objectivo do Governo quando disse «só vamos sair da crise,

empobrecendo».

A pergunta que lhe quero fazer é a seguinte: quem é que está a empobrecer no nosso País? É porque os

ricos estão mais ricos! As fortunas das 25 famílias mais ricas de Portugal aumentaram para 17 400 milhões de

euros, muito recentemente. Os ricos estão cada vez mais ricos! Quem é que vai empobrecer?

Sr. Ministro, o novo modelo de desenvolvimento que aqui anunciou torna quem vive do seu trabalho, da

sua reforma, cada vez mais dependente, cada vez mais pobre, para deixar os ricos cada vez mais ricos!

A Sr.ª Presidente: — Queira terminar, Sr. Deputado.

O Sr. Jorge Machado (PCP): — É esta a acusação que lhe deixamos! E informo-o que vai enfrentar a luta

determinada do PCP e dos trabalhadores portugueses!

Aplausos do PCP.

A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Ministro da Economia e do Emprego.

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — Sr.ª Presidente, começo por responder às perguntas

colocadas pela Sr.ª Deputada Ana Drago.

No que respeita a cortes na «gordura» do Estado e ao que o Governo está a fazer em relação a isso, basta

lembrar que o Plano de Redução e Melhoria da Administração Pública (PREMAC) é a maior reforma do

Estado levada a cabo nos últimos anos, que o Governo está a implementar várias reformas ao nível da

moralização da vida pública e que está a levar a cabo cortes bastante significativos.

Dou-lhe o exemplo do Ministério que tutelo. Só aí a reestruturação prevista nas entidades e organismos do

Estado acarreta uma redução do número de dirigentes, serão menos 500,…

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — E quantos especialistas já contratou para os gabinetes?!

Página 19

27 DE OUTUBRO DE 2011

19

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — … uma redução em 50% do pessoal dos gabinetes

ministeriais e também uma redução de mais de 25% das entidades e organismos do Estado.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — E as consultorias não aumentaram?!

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — Toda a política passa por o Estado poupar dinheiro para

não termos que taxar os contribuintes, para não termos que onerar a economia portuguesa com aumentos de

impostos que são altamente prejudiciais.

Aplausos do PSD.

É fundamental perceber que os cortes nas «gorduras» do Estado são essenciais para conseguirmos ter um

Estado mais moderno, mais dinâmico e, essencialmente, não tão gastador como tem sido nos últimos anos.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Diga lá quanto ganha o seu Chefe de Gabinete!

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — Sr.ª Deputada Ana Drago, as alterações à legislação

laboral que estão inscritas no Memorando de Entendimento e que foram aprovadas por 85% dos portugueses

que votaram nas últimas eleições…

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Isso é falso!

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — … não querem facilitar os despedimentos, querem

essencialmente facilitar a contratação e a mobilidade do emprego.

A Sr.ª Ana Drago (BE): — Despedindo!

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — É precisamente para facilitar a contratação e a mobilidade

do emprego que criaremos mais emprego e tornaremos a economia nacional mais dinâmica e mais saudável.

Protestos do Deputado do PCP Bruno Dias.

O Sr. Deputado Basílio Horta falou sobre o desemprego e afirmou que eu seria o «ministro do

desemprego». Pois, se sou «ministro do desemprego», o legado é do governo que nos precedeu.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

Protestos do PS.

Relembro o Sr. Deputado que a maior taxa de desemprego dos últimos 100 anos foi registada na altura em

que o seu partido estava no governo, taxa que este Governo herdou. Deixaram-nos um pesado legado: taxas

de emigração novamente significativas e um desemprego muitíssimo elevado.

O Sr. Deputado disse que temos uma diferença política profunda. Sobre isso, não tenho a mínima dúvida.

Nós não acreditamos na «receita mágica» do investimento público; nós não acreditamos na fantasia das

parcerias público-privadas (PPP), que serviram para cobrir défices…

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

Protestos do PS.

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Vão acabar com elas?!

Página 20

I SÉRIE — NÚMERO 35

20

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — … e para alimentar sonhos de projectos megalómanos

com rentabilidade mais do que duvidosa, as quais conduziram as empresas portuguesas e o Estado português

ao maior nível de endividamento dos últimos 150 anos.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Quantas vão acabar?!

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — É esta a grande diferença política que nos separa. A

política deste Governo é de responsabilidade e de realismo, é uma política que assenta em bases económicas

verdadeiramente saudáveis e não em sonhos e fantasias, como os que foram vendidos aos portugueses nos

últimos anos.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Está a falar da capitalização da banca?!

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — O Sr. Deputado Jorge Machado perguntou-me por que

razão se diz que há rigidez laboral se temos centenas de milhares de desempregados.

Sr. Deputado, como referi, ontem, na Comissão de Segurança Social e Trabalho, quem diz que há rigidez

laboral não é o Governo português, é a Organização Internacional do Trabalho (OIT), é a Organização para a

Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), é o Banco Mundial!

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — A Organização Internacional do Trabalho?!

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — Não é o Governo que o diz! Todos esses organismos

estão errados?! Todos mostram que existe, em Portugal, uma rigidez laboral manifestamente excessiva…

O Sr. Jorge Machado (PCP): — E nos outros países?!

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — … e que se nada fizermos contra isso, estaremos a

fomentar a precariedade,…

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Precariedade já existe!

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — … e a falta de mobilidade no mercado de trabalho, o que

penalizará grandemente a criação de emprego.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

Protestos da Deputada do PCP Rita Rato.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Não se esqueça que vai pagar por aquilo que está a fazer!

A Sr.ª Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Ferreira.

O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, Sr. Ministro da Economia e do Emprego, ouvi-o

com atenção dizer que mudámos de vida. Não, Sr. Ministro, não mudámos de vida; mudámos foi de Governo.

Para o confirmar, basta atender ao número do desemprego que continua a aumentar.

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Essa é que é essa!

Página 21

27 DE OUTUBRO DE 2011

21

O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — O Instituto do Emprego e Formação Profissional registou, em

Setembro, mais de 550 000 desempregados inscritos, tendo-se verificado um aumento de quase 4%

relativamente a Agosto.

Face a este quadro, era de esperar que o Governo nos apresentasse medidas para combater o maior

problema com que nos defrontamos, que é o do desemprego.

Contudo, o Governo insiste em facilitar os despedimentos e em torná-los mais baratos para que as

entidades patronais possam despedir quando entenderem e sem grandes custos.

E, como o Sr. Ministro ainda não explicou, fica desde já o meu primeiro pedido de esclarecimento, porque

creio que mesmo os portugueses que dominam muito bem a Matemática, mesmo esses, não conseguem

compreender como é que o Governo explica que, facilitando o despedimento e tornando-o mais barato, se

geram mais postos de trabalho! Como é possível combater o desemprego, despedindo?!

Outra questão, Sr. Ministro. O aumento do horário de trabalho, que o Governo quer impor aos

trabalhadores do sector privado, vai naturalmente trazer mais desemprego. É óbvio! De facto, este vergonhoso

aumento do horário de trabalho em 2,5 horas, passando das actuais 40 horas semanais para 42,5 horas

semanais, constitui, todos o sabem, uma velha aspiração dos patrões e o Governo prepara-se agora para lhes

fazer esse favor, o jeito, para lhes fazer a vontade.

Uma vez que esse trabalho não vai ser pago, este aumento do horário de trabalho vai provocar uma perda

salarial da ordem dos 7%. Em termos práticos, o que o Governo pretende é proceder a uma transferência

directa dos rendimentos de quem trabalha para os grandes accionistas, os quais ganham com este jeito cerca

de 7% dos salários, que são retirados aos trabalhadores face ao novo horário de trabalho semanal. É o

regresso do Robin dos Bosques, mas o «filme» é visto ao contrário.

Sr. Ministro, diga-nos qual é o contributo do aumento do horário semanal de trabalho para o combate ao

défice? O que é que isto representa para a redução da dívida externa? É porque, Sr. Ministro, se não for claro

na resposta, fica claro para os portugueses que o défice é apenas um pretexto para fazer mais um jeito aos

patrões. Mais um!

Sr. Ministro, uma vez que se diz tão preocupado com as pessoas, deixe-me lembrar-lhe que há mais

mundo, há mais pessoas para além dos patrões.

Aplausos do PCP.

A Sr.ª Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Hélder Amaral.

O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr. Ministro da Economia e do Emprego, é um facto

que temos um problema na economia. Não vale a pena escondê-lo.

Devo dizer, nos poucos anos que levo na política, que se há frase clara, corajosa e que diz muito bem que

temos um Primeiro-Ministro ciente das dificuldades que enfrentamos, é a frase «nós só saímos disto

empobrecendo».

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Só alguns é que vão empobrecendo!

O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — É, talvez, uma das frases mais corajosas que ouvi.

O Sr. Jorge Machado (PCP): — Coragem?!

O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Neste debate, quase toda a esquerda utilizou mais tempo do que o

regimentalmente previsto, mas não ouvi ninguém apresentar uma única solução para o problema.

Aplausos do CDS-PP e do PSD.

Mas eu percebo porquê. Fizeram-no, porque o grande drama da esquerda não é a precariedade ou a falta

de políticas que potenciem o crescimento económico, mas, isso sim, se nós acertamos e resolvemos o

problema.

Página 22

I SÉRIE — NÚMERO 35

22

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Não há esse risco! Por aí estamos descansados!

O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Esse é que é o verdadeiro drama da esquerda!

Aplausos do CDS-PP.

Diz o Partido Socialista que temos que ter um caminho, que é o da retoma e o da consolidação. Por outras

palavras, como diz o nosso povo na sua sempre enorme sabedoria, é o caminho do «chapa ganha, chapa

gasta». Foi isso que tivemos até agora! Foi «zero» de contenção. No fundo, o que o Governo queria dizer, e

bem, sem querer admitir, era que se tratava do tal «Estado de muitos para poucos», que nunca foi a nossa

política.

Vozes do CDS-PP: — Muito bem!

O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Sr. Ministro, fique descansado e não se desvie um milímetro da

coragem e da serenidade que tem posto no debate. Esqueça os bitaites dos telejornais e daqueles que vêm

sempre reivindicar políticas económicas sem dar uma única solução.

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Seja sério!

O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Esqueça. Concentre-se no caminho. Sou daqueles que acreditam

perfeitamente que não estamos a recuar mas, sim, a ganhar balanço.

Risos do PCP e do BE.

Portanto, tenho a perfeita convicção de que se fizermos aquilo que anunciou,…

Protestos do PCP.

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, há gente aos gritos. Com certeza, indignados!

O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Não faz mal!

A Sr.ª Presidente: — Srs. Deputados, deixem ouvir o orador, por favor.

O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Como eu estava a dizer, tenho a perfeita convicção de que se fizermos

aquilo que anunciou, acho que conseguimos alcançar o nosso objectivo.

Ou seja, primeiro, é preciso consolidar. Estranhamente, muitos aceitavam e diziam que era preciso

consolidar as contas, pôr as contas em ordem, trabalhar mais, pôr o País a produzir mais. Pois é isso que

estamos a tentar fazer.

Depois, reestruturar. Primeiro consolidar e depois reestruturar. Não é possível fazer de outra maneira.

Depois, investir. Não há crescimento sem investimento na economia.

Portanto, o caminho é estreito, mas há algumas possibilidades, e era sobre essas possibilidades que queria

questioná-lo.

Hoje, os dados da exportação são razoáveis e são um motivo de esperança.

Pergunto — sei que tem falado sobre isso, mas gostava que, se pudesse, explicasse um pouco melhor —

se o Governo já está ou não a trabalhar numa reestruturação do QREN no sentido de os seus fluxos

financeiros aproveitarem a quem precisa deles e, de facto, quem cria emprego são as empresas, se estamos

ou não a aproveitar as empresas fortemente exportadoras no sentido de servirem como uma espécie de

«porta-aviões» e levarem com elas pequenas empresas para que estas possam também chegar aos

mercados e, com isso, melhorar os seus resultados…

Página 23

27 DE OUTUBRO DE 2011

23

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Se calhar, é um submarino!

O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — … e se estamos ou não a agilizar a devolução do IVA, a criar o tal

«passaporte» para a exportação e a criar um pacote sereno, contido, mas muito eficaz, de medidas que

apostam no empreendedorismo e no desenvolvimento. Para quê? Para que aproveitemos nichos de mercado,

pequenos empreendedores, que poderão transformar a nossa economia e gerar uma economia

descentralizada em todo o território nacional, mas, essencialmente, criar bolsas de crescimento económico.

Tudo o que referi são pequenos passos para que, em 2013 (coisa que não escondemos a ninguém), ano

de retoma, possamos ganhar balanço e chegar aos níveis que todos desejamos e que, creio, até a própria

esquerda, de forma mais serena e recatada, deseja.

Aplausos do CDS-PP e do PSD.

A Sr.ª Presidente: — Tem agora a palavra, para pedir esclarecimentos, a Sr.ª Deputada Catarina Martins.

A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Ministro da Economia e do Emprego, há pouco, a

direita perguntava-nos quais são as alternativas da esquerda. Talvez fosse, então, bom referirmos algumas

coisas lógicas que se possam perceber.

Uma alternativa é proteger postos de trabalho; outra alternativa é criar postos de trabalho; outra alternativa,

ainda, é promover o crescimento económico. Porque o que nos oferece o Governo, o que nos disse o Sr.

Ministro, ainda há pouco, foi algo tão extraordinário como «nós defendemos o trabalhador, mas não o posto de

trabalho». Não sei se o Ministro sabe, mas um trabalhador sem um posto de trabalho é um desempregado!

Aplausos do BE.

Estamos quase a chegar a 1 milhão de trabalhadores sem posto de trabalho, a 1 milhão de

desempregados!

Percebo bem o drama da direita, que não vê aqui nenhuma proposta, que está desorientada! Não há

nenhuma proposta de crescimento económico ou de emprego!

Sr. Ministro, que se saiba, a única proposta de investimento público que teve até agora foi uma reunião

com autarcas do PSD em que se lembrou que talvez agora pudesse haver uma auto-estrada para Viseu,…

A Sr.ª Ana Drago (BE): — Exactamente!

A Sr.ª Catarina Martins (BE): — … porque, de resto, não se conhece mais nada!

A Sr.ª Ana Drago (BE): — Muito bem!

A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Conhece-se esta ideia louca de reinventar um País empobrecendo-o, nas

palavras tão claras e tão límpidas do Sr. Primeiro-Ministro. Não se conhece mais nada.

Temos até uma proposta apresentada ontem, com pompa e circunstância, para criar emprego, que não é

mais nem menos do que gastar pouco mais de 0,1% do Orçamento do Estado para que as empresas possam

contratar desempregados por 65 €! «Venha buscar o seu desempregado por 65 € e nem sequer precisa de lhe

dar qualquer tipo de contrato especial. Precários, pois então! Venham buscar aos centros de emprego

desempregados por 65 € e mantenham-nos na precariedade toda a vida!»

É esta a proposta que o Sr. Ministro tem para o emprego: um investimento de menos 0,1% do Orçamento

do Estado para fazer face ao nível histórico do desemprego! Uma medida que não chega a atingir um décimo

dos desempregados, que não chega, sequer, para 8% dos desempregados de longa duração e que mantém

as pessoas na pobreza e os trabalhadores na precariedade!

Portanto, Sr. Ministro, claro, claríssimo está para todos nós que o senhor é o «ministro do

empobrecimento».

Página 24

I SÉRIE — NÚMERO 35

24

A pergunta simples que tenho para lhe fazer é esta: até que número é que quer descer o valor do trabalho?

Quando é que este Governo acha que somos pobres o suficiente? Quantos pobres mais? Dois milhões não

chegam? Mais quantos? De quantos pobres precisa este Governo para ganhar o tal balanço de que fala a

direita? Quantos mais pobres?

A Sr.ª Ana Drago (BE): — Exactamente!

A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Quantos mais pobres, Sr. Ministro?!

Aplausos do BE.

A Sr.ª Presidente: — Sr. Ministro da Economia e do Emprego, tem a palavra para responder.

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — Sr.ª Presidente, acho que é muito claro neste debate que

a resposta da esquerda para a maior crise nacional das últimas décadas é deitar dinheiro para cima dos

problemas à espera de que eles se vão embora.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

Protestos do PCP e do BE.

Foi com a quimera do investimento público,…

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Deve estar a falar do PP!?

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — … foi com as rendas dadas a vários sectores, foi com o

fomentar de uma cultura de subsídio-dependência…

Vozes do PSD e do CDS-PP: — Muito bem!

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — … e de apoio a lobbies que estavam associados ao poder

político que a esquerda levou o nosso País ao maior nível de endividamento público, desde os meados do

século XIX, e ao maior nível de endividamento externo, desde 1892. É assim que a esquerda quer resolver os

problemas!

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

Protestos do PCP e do BE.

A Sr.ª Deputada Rita Rato tem algum problema com pessoas que vivam fora do País?

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Não!

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — A Sr.ª Deputada tem algum problema com pessoas que

sejam emigrantes?

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Não!

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — Então, por que é que está a falar do Canadá?! Sr.ª

Deputada…!

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

Página 25

27 DE OUTUBRO DE 2011

25

Protestos do PCP.

Gostava de lembrar à Sr.ª Deputada que, além de termos representantes dos nossos emigrantes nesta

Casa, temos mais de 5 milhões de emigrantes no mundo, de quem muito nos orgulhamos e que se orgulham

muito de Portugal!

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Com a sua política, vamos ter muitos mais!

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — Gostava também de mencionar que outra das «receitas

mágicas» que a esquerda nos apresenta é a da reestruturação da dívida. Ora, uma reestruturação da dívida

desordenada foi o que nos aconteceu em 1892 e depois estivemos 60 anos fora dos mercados!

Protestos da Deputada do PCP Rita Rato.

Portanto, insistir na quimera da reestruturação da dívida, fingir e dizer aos portugueses que esta é a

solução fácil para os nossos problemas,…

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Não é fácil, não. É a única!

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — … é uma solução que é não só uma fantasia mas também

uma irresponsabilidade total. Porque se o fizéssemos de uma forma desordenada, o que iria acontecer era que

não mais teríamos financiamento, não mais teríamos dinheiro para pagar aos funcionários públicos, iríamos ter

dezenas de milhares de pessoas desempregadas, iríamos ter corridas aos bancos, iríamos ter consequências

desastrosas para o nosso País. Iríamos, certamente, ter uma recessão económica que seria muitíssimo maior

do que a actual, que iria fazer com que a actual fosse uma mera brincadeira perante um cenário de

reestruturação de dívida desordenada.

Portanto, quando os senhores afirmam que a reestruturação de dívida é a solução para o nosso País,

deviam estudar os livros de Economia,…

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — O «seu» livro!

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — … deviam estudar os livros da História para perceberem o

que se passa!

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

Protestos do PCP.

Foi-me perguntado o que poderia fazer o aumento do horário de trabalho para o nosso País. Não é difícil

responder a essa questão, basta perguntar às empresas. São as empresas que criam emprego, são as

empresas que, juntamente com os trabalhadores, fazem com que seja possível uma diminuição de

desemprego. E o aumento do horário de trabalho, como aqui foi mencionado — e muito bem! —, é uma

medida de carácter excepcional numa altura de grande crise de emergência nacional, que vai fazer com que

as nossas empresas tenham possibilidade de se tornar mais competitivas e mais produtivas a curto prazo.

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Que grande economista que aqui está!?

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — Como não temos margem orçamental para fazer outras

políticas,…

Página 26

I SÉRIE — NÚMERO 35

26

Entretanto, assumiu a presidência o Sr. Vice-Presidente Guilherme Silva.

O Sr. Presidente: — Faça favor de terminar, Sr. Ministro.

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — … o aumento da carga laboral de forma temporária é uma

maneira de fazer com que as nossas empresas sejam mais competitivas e, ao serem mais competitivas, vão

produzir mais, vão exportar mais e vamos criar mais emprego.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Essas são «contas de merceeiro»!

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Rita

Rato.

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, o que o Sr. Ministro, hoje, veio aqui

dizer foi que pretende substituir trabalhadores com direitos por trabalhadores sem direitos!

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — O que o Sr. Ministro e a sua política pretendem — aliás, na mesma medida que

a política anterior do Partido Socialista —…

Vozes do PS: — Eh!…

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — … é agravar a exploração de quem trabalha. Isto não tem nada de novo nem de

moderno! Isto é o que tem sido a história dos povos! É meia dúzia de pessoas a viverem à conta da maioria do

povo!

Aplausos do PCP.

Protestos do PSD.

E o que o Sr. Ministro aqui nos vem dizer é que defende a precarização total das relações de trabalho.

O Sr. Ministro vá a um supermercado, vá a um hipermercado, vá a um centro comercial e pergunte àquelas

trabalhadoras o que é mais grave no seu horário de trabalho. E elas dir-lhe-ão: «é trabalhar ao domingo,

quando os meus filhos estão em casa, quando a família está em casa e eu tenho de estar aqui».

Vá ao Braga Parque, vá ao Almada Fórum, vá ao Fórum Montijo, vá ao Fórum Algarve e pergunte-lhes qual

é o problema da desregulamentação do horário de trabalho.

O Sr. Ministro vem apresentar-nos esta ideia «mágica» de aumentar o horário de trabalho. É pena que não

aumente o salário! Neste País, aumenta tudo, só não aumentam os salários!

Vozes do PCP: — Exactamente!

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — É pena que o Sr. Ministro, que gosta tanto de falar da concertação social —

porque fica bem falar da concertação social! —, «manda-a para as urtigas», quando se trata de cumprir o que

está previsto na concertação social.

Vozes do PCP: — Muito bem!

Página 27

27 DE OUTUBRO DE 2011

27

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Por que é que não cumpre o que está estabelecido na concertação social e

aumenta o salário mínimo que, neste momento — é uma vergonha! —, está nos 485 €?!

O Sr. Ministro fala-nos de precariedade, mas a precariedade tem conduzido este País para o fim! O Sr.

Ministro é o «ministro do desemprego e da falência do País»!

Protestos do PSD.

O Sr. Ministro sabe que o desemprego e a precariedade andam de mãos dadas! Sabe que a precariedade

é a antecâmara do desemprego. Quanto mais precariedade, mais desemprego!

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exactamente!

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — O desemprego tem tudo a ver com precariedade e a precariedade está muito

ligada ao desemprego!

E ligada ao desemprego — e, ontem, o Sr. Ministro não nos respondeu a esta questão — estão os

acidentes de trabalho.

Um trabalhador da Siderurgia Nacional sofreu queimaduras no corpo, porque estava a trabalhar desde as 6

horas da manhã e já eram 22 horas e 52 minutos. O Sr. Ministro acha que ainda é preciso aumentar mais o

horário de trabalho?!

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Que vergonha! Mais «meia-horinha»!…

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Este homem trabalhava ao sábado, ao domingo e aos feriados.

Um trabalhador da Petrogal, em Sines, morreu, porque estava a trabalhar para lá do seu horário de

trabalho. Tinha um contrato de trabalho precário, não teve formação profissional e já estava a trabalhar há 12

horas. O Sr. Ministro acha que ainda é preciso aumentar o horário de trabalho?!

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Mais «meia-horinha»!…

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — O Sr. Ministro acha justo, neste País, as pessoas sobreviverem com 485 €?!

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Faça favor de terminar, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Termino já, Sr. Presidente.

O Sr. Ministro vivia com 485 €? É que, no nosso País, existem mais de 246 000 trabalhadores que

sobrevivem com 485 €!!

O caminho não é este.

Protestos do PSD e do CDS-PP.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Faça favor de terminar, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — O caminho é o do combate à precariedade e do emprego com direitos, Sr.

Ministro!

Aplausos do PCP e do BE.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro

Filipe Soares.

Página 28

I SÉRIE — NÚMERO 35

28

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, Sr.ª e Srs. Membros do Governo, Sr.as

e Srs.

Deputados, o Sr. Ministro da Economia e do Emprego veio falar-nos em momentos de excepção.

Por isso, a primeira pergunta que lhe faço é muito directa: estes momentos de excepção duram quanto

tempo para o Governo? Quando é que para o Governo a meia hora adicional de trabalho diária vai terminar? É

uma pergunta concreta cuja resposta não pode passar à margem deste debate.

Porém, já percebemos que é um tabu, porque, perguntado várias vezes sobre as palavras de ontem do Sr.

Primeiro-Ministro, o Sr. Ministro da Economia nada disse. O Sr. Ministro não consegue falar em

empobrecimento nem sequer pronunciar a palavra «empobrecer». Diga, Sr. Ministro: «nós não queremos

empobrecer». Consegue dizer isto? Não consegue, porque isto é o contrário do que tem vindo a fazer o seu

Governo.

Senão, vejamos.

O que faz este Governo ao dar 12 000 milhões de euros à banca, quando a banca diz que não quer investir

na economia? Empobrecer!

Ou quando deita dinheiro para cima dos problemas. Empobrecer!

Ou quando corta o subsídio de Natal e o subsídio de férias aos funcionários públicos? Empobrecer!

Ou quando corta o subsídio de Natal e o subsídio de férias aos reformados que trabalharam uma vida

inteira? Empobrecer!

Ou quando obriga a trabalhar mais meia hora por dia, mais três semanas de trabalho gratuito anual?

Empobrecer!

Ou quando facilita os despedimentos, criando um novo contrato low cost? Empobrecer!

Ou quando embaratece as horas extraordinárias? Empobrecer!

Ou quando eterniza a precariedade, aumentando o período dos contratos a prazo? Empobrecer!

Ou quando adia as vidas dos trabalhadores a recibos verdes, para quem o verde já não é uma esperança

mas, sim, um calvário? Empobrecer!

Ou quando fala da mobilidade, que é só uma forma de despedir mais facilmente e, com isso, terminar com

qualquer ideia de progressão na carreira? Empobrecer!

Ou quando o Sr. Ministro fala na taxa de desemprego deste ano, devo dizer que as previsões do seu

Governo para o próximo ano são a maior taxa de desemprego de que há memória no nosso País.

Empobrecer!

Por isso, o desafio que lhe deixo é muito simples, Sr. Ministro: tem coragem de dizer esta palavra? Tem

coragem de dizer esta frase: «nós não queremos empobrecer»? Ou é mesmo este o desígnio que o Governo

tem para o País?

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para responder, tem a palavra o Sr. Ministro da Economia e do

Emprego.

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — Sr. Presidente, Srs. Deputados, sobre o salário mínimo

nacional, também acho que terá de aumentar nos próximos anos.

Vozes do PSD: — Muito bem!

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — De que maneira conseguiremos aumentar o salário

mínimo nacional e os outros salários? Só fazendo uma coisa: criando mais riqueza, tornando a economia

portuguesa mais produtiva e mais competitiva para que possamos produzir mais, ao produzir mais,

exportaremos mais e mais e iremos criar mais emprego.

O Sr. Luís Menezes (PSD): — Claro!

Página 29

27 DE OUTUBRO DE 2011

29

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — Aconteceu sempre assim em toda a História. Os aumentos

salariais só acontecem com aumentos da produtividade e o que se passou, nos últimos anos, foi uma descida

muito substancial da produtividade e que também nos conduziu a esta situação.

Ora, alguns partidos desta Câmara defendem que o salário mínimo nacional aumente para 600 €, até 2013.

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — O que ficou acordado foram 500 €!

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — Ora, se tal acontecesse, apesar de, idealmente ser

interessante e, demagogicamente, ser ainda mais interessante…

O Sr. João Oliveira (PCP): — E o aumento do IVA na electricidade?!

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — … iríamos condenar a economia portuguesa ao que

aconteceu após o 25 de Abril, que foi um aumento de salários nominais de tal modo grande que fez com que

as exportações nacionais tivessem o maior recuo dos últimos 150 anos.

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Foi por causa dos salários?!

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — Portanto, se houvesse um aumento substancial dos

salários nesta altura em que nos defrontamos com problemas de competitividade muito graves,…

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Teriam um impacto mínimo!

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — … seria meio caminho andado para declararmos o

falhanço de Portugal.

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Isso não é verdade!

O Sr. João Oliveira (PCP): — E o aumento do IVA na electricidade?!

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — Como o Governo tem uma atitude responsável e realista,

medidas como estas são, obviamente, impossíveis nesta altura.

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Essas medidas são o que está acordado!

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — Sobre a precarização das relações de trabalho, gostava

de perguntar à Sr.ª Deputada Rita Rato se acha que a Dinamarca, a Suécia e a Áustria são países com

precariedade. Acha?

Protestos da Deputada do PCP Rita Rato.

É que, se acha, gostaria que consultasse os indicadores da Organização Internacional do Trabalho ou do

Banco Mundial, que mostram que, habitualmente, a precariedade está associada à rigidez laboral.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Ai, é?!

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — Se quiser, posso mandar-lhe uns gráficos…

Vozes do PCP e do BE: — Mais gráficos?!

Página 30

I SÉRIE — NÚMERO 35

30

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — … e uns estudos que mostram, muito claramente, que a

precariedade que existe em Portugal, que é muitíssimo alta, se deve essencialmente às nossas leis laborais e

à rigidez das nossas leis laborais.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

No que refere à concertação social, devo dizer que o Governo está muitíssimo empenhado. É por isso

mesmo que temos mantido uma agenda bastante intensa com os parceiros sociais; é por isso mesmo que,

ainda esta semana, tivemos reuniões bilaterais com todos os parceiros sociais; é por isso mesmo que, para a

semana, iremos ter uma reunião onde iremos falar sobre competitividade; é por isso mesmo que, daqui a duas

semanas, iremos ter uma reunião onde falaremos sobre crescimento económico; é por isso mesmo que,

dentro de três semanas, iremos ter uma reunião onde falaremos sobre emprego e trabalho.

Portanto, se há alguém que privilegia e defende a concertação social é este Governo. O diálogo social é

absolutamente fundamental num tempo de crise, a união é importante, trabalharmos em equipa é importante

para sairmos da crise actual, entendendo o Governo que a concertação social é essencial para a prossecução

destes objectivos.

O Sr. Deputado Pedro Filipe Soares perguntou quanto tempo estará em voga a medida da meia hora de

trabalho adicional. Como já foi referido pelo Governo, esta medida estará vigente durante o período em que a

ajuda externa se mantenha em Portugal. A resposta é esta: depende, obviamente, do período dessa ajuda

financeira.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Artur Rêgo.

O Sr. Artur Rêgo (CDS-PP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Penso que, chegado a este ponto, é altura

de começarmos a deixar de falar para dentro, é altura de nos deixarmos de preconceitos e chavões e de dizer

aos portugueses aquilo que é preciso dizer. E aquilo que é preciso dizer é isto: temos uma economia

estagnada e que não cresce há mais de 10 anos,…

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Podia não ouvir isto, Sr. Ministro!…

O Sr. Artur Rêgo (CDS-PP): — … temos 700 000 desempregados, temos um salário mínimo que — é

verdade — se não é o mais baixo, é um dos mais baixos da Europa,…

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — E vai continuar!

O Sr. Artur Rêgo (CDS-PP): — … e temos estas leis laborais.

O que acho extraordinário é que se acuse um Governo e um Ministro que estão no exercício de funções há

três ou quatro meses de serem os responsáveis pelos 700 000 desempregados, de serem os responsáveis

pelos salários mínimos baixos, de serem os responsáveis por uma economia estagnada há mais de 10 anos.

O que acho extraordinário também é que se acusem alterações à lei laboral, que estão a ser efectuadas agora

e que nem sequer ainda entraram em vigor, de serem responsáveis por isto tudo.

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — É verdade!

O Sr. Artur Rêgo (CDS-PP): — Penso que, aqui, podemos ter duas espécies de discurso: um, é o discurso

catastrofista, de dizer mal de tudo, em que nada do que se faça é bom; outro, é ver o copo meio cheio. Neste

momento, o que temos de ter para Portugal e para os portugueses é um discurso positivo, é ver o copo meio

cheio.

A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Se o copo está vazio, não se consegue ver meio cheio!

Página 31

27 DE OUTUBRO DE 2011

31

O Sr. Artur Rêgo (CDS-PP): — Efectivamente, sendo esta a realidade, as alterações que, neste momento,

estão a fazer-se à legislação laboral são aquelas que não só este Governo mas também todas as instâncias

internacionais constataram dever ser feitas, porque essa legislação constitui em si um entrave — e é um deles

— ao crescimento da economia portuguesa e à internacionalização da economia.

O Sr. Jorge Machado (PCP): — Isso é mentira!

O Sr. Artur Rêgo (CDS-PP): — Portanto, o que temos de dizer aos portugueses é que, neste momento,

esta maioria, este Governo e este Ministério estão a introduzir os ajustes na economia portuguesa e na

legislação laboral que entendemos serem necessários — e não somos só nós que o entendemos, como

também todas as instâncias internacionais — para dar esperança aos portugueses, para fazer a economia

crescer, para criar emprego, para tirar os portugueses da situação de desemprego e de precariedade.

Portanto, a mensagem para os portugueses é esta: esperança, que as medidas que estamos a tomar

visam tirar-nos da situação em que estamos; e não um discurso catastrofista.

Mais: este Governo e esta maioria tiveram uma medida inteligente.

O Sr. Honório Novo (PCP): — Calma!… Calma!…

O Sr. Artur Rêgo (CDS-PP): — Ao separar a solidariedade social do trabalho e ao juntar as políticas de

trabalho e de criação de emprego no Ministério da Economia, o Governo pô-las no sítio correcto, porque não

se cria empregos com slogans, cria-se empregos com políticas económicas activas de dinamização do tecido

económico empresarial do País.

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Muito bem!

O Sr. Artur Rêgo (CDS-PP): — Portanto, o Governo fez muito bem ao executar esta reorganização, mas,

ao mesmo tempo, fez muito bem sob outro ponto de vista: ao autonomizar um ministério exclusivamente para

a solidariedade social, libertou mãos ao Governo e a um ministro para se concentrar — aí, sim — naqueles

que verdadeiramente necessitam e nas políticas que, independentemente dos esforços e das restrições que

se estão a impor, é necessário manter para apoiar aqueles que, efectivamente, são os mais carenciados e os

mais necessitados. E este Governo, estando a ter este Orçamento e estas medidas, não se esqueceu destes.

Posso dizer-vos que este Governo descongelou e actualizou as pensões de reforma mínimas, que estavam

congeladas e que era uma medida que o CDS já tinha preconizado na anterior Legislatura;…

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Muito bem!

O Sr. Artur Rêgo (CDS-PP): — … este Governo propôs a majoração do subsídio de desemprego, e vai

levar isso à prática, para casais desempregados, que era uma medida que o CDS também já tinha proposto na

anterior Legislatura;…

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Entretanto, corta tudo o resto!

O Sr. Artur Rêgo (CDS-PP): — … este Governo propôs o subsídio de desemprego para os trabalhadores

independentes, que é uma medida essencial para aqueles trabalhadores independentes que fazem os seus

descontos regularmente mas que não tinham cobertura nenhuma; este Governo propôs a tarifa social de

energia para que as pessoas mais necessitadas não fossem afectadas pelo aumento dos consumos;…

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Isto deve ser brincadeira!

Página 32

I SÉRIE — NÚMERO 35

32

O Sr. Artur Rêgo (CDS-PP): — … este Governo propôs um passe social. Este Governo e esta maioria, ao

mesmo tempo que estão a tomar as medidas necessárias para redinamizar a economia, estão a prestar

atenção aos mais necessitados.

O Sr. Jorge Machado (PCP): — Roubo autorizado aos trabalhadores!

O Sr. Artur Rêgo (CDS-PP): — Não é com chavões, não é com discursos catastrofistas do copo vazio e da

desgraça que andamos com o País para a frente, é com estas medidas.

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Muito bem!

O Sr. Jorge Machado (PCP): — Sr. Ministro, pode continuar a contar com o nosso apoio, porque

compreendemos perfeitamente — e o que queremos passar aos portugueses é esta mensagem de esperança

— que, se temos o País no estado em que temos, se temos 700 000 desempregados, se temos um País com

ordenados mínimos que fazem com que seja efectivamente verdade que os trabalhadores portugueses

ganham menos do que a média europeia, temos de tomar medidas para pôr a economia a mexer, para a fazer

crescer, para criar riqueza, porque esta riqueza é que vai permitir aumentar os ordenados, criar emprego, dar

trabalho aos portugueses e dar, no fundo, maior felicidade a este País.

Aplausos do CDS-PP e do PSD.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Catarina

Martins.

A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Artur Rêgo, catastrofistas, nós?! O Sr.

Primeiro-Ministro é que veio anunciar que o grande desígnio deste Governo é o empobrecimento do País. Foi

o Sr. Primeiro-Ministro que disse isto! Catástrofe é com o Governo, nós estamos aqui, sim, a lutar contra a

catástrofe!

Vozes do BE: — Muito bem!

A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr. Deputado, o Código do Trabalho contra o qual o CDS hoje tanto fala

foi elaborado por um ministro do CDS.

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Mal!

A Sr.ª Catarina Martins (BE): — A base da legislação laboral é de Bagão Félix.

A Sr.ª Ana Drago (BE): — Exactamente! É vossa!

A Sr.ª Catarina Martins (BE): — É bom que se digam as coisas como elas são! Sejamos sérios! Portugal é

o recordista dos despedimentos colectivos. Não há aqui nenhuma imobilidade no mercado do emprego, não

há nenhuma rigidez, o que há, sim, é empobrecimento.

Sr. Deputado, muito rapidamente, quero fazer uma pergunta que tem a ver com um chavão da campanha

eleitoral do CDS e da propaganda nos primeiros tempos de Governo. O alargamento do horário de trabalho

tem o «visto familiar» do CDS-PP? Os pais não conseguirem estar com os filhos tem o «visto familiar» do

CDS-PP? Explique-nos lá isto, Sr. Deputado.

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Artur Rêgo.

Página 33

27 DE OUTUBRO DE 2011

33

O Sr. Artur Rêgo (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Catarina Martins, agradeço a sua

intervenção e a sua pergunta, extremamente pertinentes porque permitem esclarecer aqui dois ou três pontos.

Primeiro, o que o Sr. Primeiro-Ministro veio dizer não é que está a empobrecer o País. O que o Sr.

Primeiro-Ministro veio dizer é que, devido à situação em que o País está, obviamente que num primeiro

momento, até as medidas que estão a ser tomadas começarem a funcionar, o País vai empobrecer. Sr.ª

Deputada, não se pára um carro que vai a 200 km/hora em zero metros, há inércia… Estamos a tomar as

medidas para travar este carro que está embalado, mas num primeiro momento ele ainda vai deslizar um

bocadinho.

Sr.ª Deputada, fico muito feliz, folgo em ver uma Sr.ª Deputada do Bloco de Esquerda a defender com tanto

vigor o «Código Bagão Félix».

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — É verdade! Veja bem!

O Sr. Artur Rêgo (CDS-PP): — De duas, uma: ou o Bloco de Esquerda passou a reconhecer os méritos

desse Código ou a Sr.ª Deputada mudou de ideias e está na bancada do Bloco de Esquerda como

independente.

Relativamente ao horário de trabalho e ao «visto familiar», Sr.ª Deputada, é evidente que o alargamento em

meia hora do horário de trabalho não tem «visto familiar» nenhum; nem o CDS nem ninguém de bom senso

poderá dizer uma coisa dessas!…

A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Ah!… O Programa do Governo já lá vai!

O Sr. Artur Rêgo (CDS-PP): — Sr.ª Deputada, esta é mais uma medida que, infelizmente, está a ser usada

pela extrema-esquerda com demagogia. Como sabe, este alargamento em meia hora do horário de trabalho é

uma medida excepcional que, se Deus quiser, irá terminar no fim do próximo ano. E quanto a isto nada mais

temos a dizer, Sr.ª Deputada.

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís

Ferreira.

O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Infelizmente, o desemprego

continua a subir de forma muito preocupante, mas o Governo, ao invés de procurar criar mecanismos para

combater este grave problema, insiste em estimular os despedimentos e promove o desemprego, como se as

pessoas fossem meras mercadorias; facilita os despedimentos; esvazia completamente o conceito de justa

causa no despedimento; permite, através da atribuição de critérios subjectivos, que a entidade patronal possa

despedir quando entenda; torna o despedimento mais barato, para não custar tanto à entidade patronal; reduz

o valor das indemnizações por despedimento; reduz os 30 dias de retribuição por cada ano de antiguidade

para 20 dias; elimina a garantia de pagamento de um mínimo de três meses de retribuição e cria limites

máximos de indemnização em caso de despedimento; pretende impor um vergonhoso aumento da duração do

trabalho em duas horas e meia por semana.

O Governo rouba 7% dos salários a quem trabalha para os entregar aos grandes accionistas,

provavelmente para engrossarem o caudal de capitais que todos os anos fogem do País. Feitas as contas,

serão menos uns bons milhões de euros a circular na nossa economia, no pagamento de impostos,

nomeadamente no IVA, porque se os trabalhadores não vão receber os 7% correspondentes ao aumento da

carga horária menos podem consumir e, portanto, menos receitas vão para o Estado. Mais: este

empobrecimento dos trabalhadores é ainda pouco saudável para a nossa economia, porque a sucessiva perda

do poder de compra está a ter efeitos devastadores no mercado interno, levando ao encerramento de

empresas e à inevitável perda de postos de trabalho.

Assim, e para além de ser socialmente injusto e intolerável, este monumental roubo da transferência directa

da massa salarial para os patrões não representa qualquer contributo para resolver a crise, pelo contrário,

Página 34

I SÉRIE — NÚMERO 35

34

constitui um factor de agravamento da situação. Mas a injustiça é ainda mais gritante se tivermos em conta

que, afinal, são os trabalhadores, os desempregados, os reformados e os pensionistas que estão a pagar a

factura da crise que não provocaram e sobre a qual não têm qualquer responsabilidade.

Estamos, de facto, perante um Governo com muita coragem. É verdade, muita coragem!… De facto, só um

Governo com muita coragem carregava tanto sobre quem trabalha; só um Governo com muita coragem fazia

tantos jeitos aos patrões.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exactamente!

O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — De facto, só um Governo com muita coragem fazia o que faz e

continuava a ter um ministério com o bonito nome de Ministério da Economia e do Emprego. Falta apenas

propor que o 1º de Maio deixe de ser feriado, porque, em vez do dia do trabalhador, passou a ser o dia dos

patrões e estes prescindem, naturalmente, do feriado; falta apenas dizer que o dia 10 de Junho deixa de ser

feriado, porque, afinal, quem manda é a tróica, e esta também prescinde; falta apenas alterar a designação do

Ministério da Economia e do Trabalho para «ministério dos patrões e do desemprego». E falta, mas está

agendada, uma forte resposta dos trabalhadores a todas estas políticas que nos levaram a esta situação e às

políticas que se anunciam e que colocam aqueles que, não tendo responsabilidade nenhuma na situação que

está criada, são agora chamados a suportar os custos da irresponsabilidade dos outros.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Miguel

Laranjeiro.

O Sr. Miguel Laranjeiro (PS): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as

e Srs. Deputados, Sr.

Ministro Álvaro Santos Pereira: Inicio esta intervenção citando uma frase. «Esta crise é o melhor que nos

poderia ter acontecido». Esta frase, insensível e fria como o aço, não foi proferida por qualquer pessoa num

momento menos feliz. Foi escrita, foi reescrita pelo membro do Governo que tem responsabilidades sobre a

vida das pessoas, dos trabalhadores portugueses e dos jovens desempregados; foi escrita por si, Sr. Ministro.

O que dirão as centenas de milhares de desempregados que apenas vêem diminuir as oportunidades e são

tratados como estando a mais na sociedade? Foi o melhor que lhes poderia ter acontecido? O que dirão os

milhares de pequenos e médios empresários que não têm interlocutor neste Governo? Foi também o melhor

que lhes poderia ter acontecido? O que dirão os empreendedores que querem criar riqueza e não têm

financiamento?

O que dirão os empresários da restauração, que podem ver o seu negócio ruir, com as medidas deste

Governo? Foi também o melhor que lhes poderia ter acontecido?!… Não, não foi, Sr. Ministro!!

O PSD e o CDS tinham, aliás, uma «solução mágica», que tudo resolveria na economia nacional, no

combate ao desemprego e no crescimento económico: a descida das contribuições dos empregadores,

através da redução significativa da Taxa Social Única (TSU). Tinham tudo estudado: o valor, o seu impacto, a

forma de arrecadação das verbas entretanto perdidas para a segurança social…, tudo, mas a final nada! Não

passava de uma ideia sem concretização possível. Sempre poderíamos aplicar a frase do seu colega da pasta

das Finanças: «A descida da TSU é uma medida que funciona muito bem, mas nos modelos utilizados na

Universidade». Está tudo dito! Nem sequer resistiu ao primeiro estudo feito pelo próprio Governo! Pois o Sr.

Ministro, com todo o respeito, naturalmente, está fora da realidade nacional. Chegou ao Ministério com ideias,

com estudos académicos, mas absolutamente alheado do que é a realidade europeia e nacional.

A ausência de política, de um caminho, de uma ideia para o crescimento e o emprego está a ter

consequências internas dentro do Governo e da maioria que o apoia — e essas são as que menos nos

preocupam —, mas está também a ter consequências no País, e muito graves!

Sr. Presidente, Sr.as

e Srs. Deputados: Não comentamos a orgânica do Governo — é uma responsabilidade

do Primeiro-Ministro —, mas desde cedo se percebeu que ao querer um governo mais pequeno criou um

grande problema a Portugal. Ao meter no mesmo gabinete decisões que vão do TGV ao financiamento das

PME, do sector dos transportes ao Instituto de Emprego, da Carris à Autoridade para as Condições de

Página 35

27 DE OUTUBRO DE 2011

35

Trabalho (ACT), da Metro de Lisboa à Formação Profissional, da Comissão para a Igualdade no Trabalho aos

portos nacionais, da geologia à defesa dos consumidores, da Soflusa à concertação social, confundiu tudo e

agora não consegue dar resposta a nada. Era uma missão impossível para um Ministro,…

Aplausos do PS.

… que, embora possa ter muita boa vontade, não tem o «peso» que muitos — e muitos na maioria — já

detectaram. Em toda esta organização do Ministério ficou absolutamente para trás o combate ao desemprego.

Ficou para trás o diálogo social e só com ele é que será possível ultrapassar muitos dos problemas com que

as empresas e os portugueses se confrontam. Ficou para trás uma visão de futuro!

O País, Sr. Ministro, tinha a ganhar com mais concertação social, com verdade e realismo. Era preciso

mobilizar os portugueses para enfrentarmos juntos as dificuldades que o País enfrenta, mas a opção não tem

sido essa. O Governo erra quando tenta colocar trabalhadores contra trabalhadores! O Governo erra quando,

em vez de unir, tenta dividir os portugueses! O Governo erra quando vira as costas à concertação social.

Não cumprir o acordo de Março seria uma «facada na Concertação Social», afirmou o Dr. Silva Peneda,

presidente reeleito por esta Câmara para o Conselho Económico e Social e, aliás, seu antecessor na pasta.

Ele sabe do que fala, pois este Governo já deu várias «facadas» na concertação social e basta ver as

declarações dos diferentes parceiros para perceber o que se está a passar ou, pior, o que não se está a

passar.

A primeira vez que se dirigiu ao Plenário, o Primeiro-Ministro falou em verdade e transparência. Chegou a

hora de, nesta matéria crucial para a manutenção da confiança no diálogo social, o Governo falar verdade

sobre os propósitos que defende e apresentar também, com transparência, as suas propostas.

Sr.as

e Srs. Deputados, relativamente à apresentação das medidas activas de emprego, não passou disso:

anúncios.

Anunciou dezenas de medidas para reestruturar os centros de emprego. Foi há mais de um mês… Nem

uma está em marcha!

Pode ter um «superministério», mas tem um conjunto de minipolíticas que destroem qualquer tipo de

credibilidade, absolutamente vital para a economia e o emprego no nosso País. Desde que há registos, nunca

como no passado mês de Setembro houve tantos desempregados inscritos nos centros de emprego! Foram

80 000 novos inscritos em apenas um mês, menos 39% de ofertas de emprego disponíveis, em comparação

homóloga, e menos 23,7% de ofertas recebidas, ao longo do mês, nos centros de emprego!!

Sr. Ministro, por isso, o senhor arrisca-se a ser o «Ministro do Desemprego»…

Aplausos do PS.

O Sr. Artur Rêgo (CDS-PP): — Não era preciso isso!…

O Sr. Miguel Laranjeiro (PS): — O recorde de desemprego está consigo, está nas projecções que tem

para o próximo ano, no maior valor de desemprego de que há memória em Portugal — e são projecções feitas

por defeito…!

Não conhecemos nenhuma medida para o crescimento do emprego ou, melhor, conhecemos — como já foi

discutido — a do aumento do horário de trabalho em meia hora por dia. É uma medida de duvidosa aplicação

e são cada vez mais os que consideram que não contribuirá para o crescimento económico. Mas já temos uma

certeza: a de que é uma medida contra a criação de emprego!

As empresas que, neste momento e neste ambiente económico, pudessem imaginar criar mais emprego,

aproveitando a mão-de-obra existente, já não o farão. Trata-se de uma medida que se pode virar contra os

milhares de desempregados, sobretudo os mais jovens.

Na sessão de trabalho que tivemos ontem na Comissão Parlamentar, tive oportunidade de questioná-lo

sobre uma medida sobre a qual gostava de ter hoje aqui a resposta, já que ontem não a deu. Trata-se da

continuação da medida que visa a isenção da TSU por três anos, para contratos sem termo, para jovens e

desempregados de longa duração.

Página 36

I SÉRIE — NÚMERO 35

36

Volto a fazer a pergunta: vão continuar estes apoios às empresas que visam efectivamente a

empregabilidade dos mais vulneráveis? Ou esses apoios vão ser trocados pela medida que anunciou de apoio

directo às empresas, para empregar precariamente trabalhadores por seis meses? Esta é uma questão que

não pode ficar sem resposta.

Sr. Ministro da Economia, ontem, também deixou uma péssima notícia para a sustentabilidade da

segurança social ao afirmar que o Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS), que

garante as pensões futuras dos portugueses, pode vir a pagar medidas activas de emprego. Inacreditável!

Significa que o Fundo, as verbas que visam a sustentabilidade do nosso sistema de segurança pública, podem

vir a pagar apoios ao emprego, ou seja, apoios às empresas.

Convém que hoje, no Plenário da Assembleia da República, o Ministro do Emprego ou a maioria de direita

que o apoia desmintam esta perigosa ideia. Se assim não for, é absolutamente claro que é uma matriz de

descapitalização da segurança social pública que o Partido Socialista rejeita. A segurança social pública não é

dos governos. As verbas que estão no Fundo são para pagar as pensões e reformas dos actuais

trabalhadores, não para políticas avulsas de qualquer governo. Sabemos que a situação do País é complexa,

que este momento exige convergência nacional, convergência naquilo que é essencial, mas o Governo não

tem sabido gerir o dossiê da concertação social, fundamental para esta convergência. O Governo tem

pretendido fazer o caminho sozinho, percorrer um trajecto isolado, afastado da realidade e do realismo que

seria necessário. E o que é mais confrangedor é a inexistência de uma liderança no Governo no que diz

respeito à economia nacional.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Ana

Drago.

A Sr.ª Ana Drago (BE): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Miguel Laranjeiro, queria dizer-lhe que partilhamos

muito do diagnóstico que acaba de fazer daquela tribuna.

O Sr. Ministro que hoje, enfim, teve a simpatia de vir a este Plenário responder pelas suas

responsabilidades governamentais, tem-se revelado absolutamente incapaz de cumprir quer os compromissos

que estabeleceu durante a campanha eleitoral com os cidadãos que, eventualmente, votaram no PSD e no

CDS…

Protestos do PSD.

… quer no que toca à questão central e decisiva para o futuro do País, que é a questão do crescimento. De

facto, vamos observando e ouvindo sucessivamente as intervenções do Sr. Ministro, que vai tentando

apresentar uma miríade de soluções, cujo resultado é absolutamente irrelevante e, portanto, no horizonte

vemos que não há perspectivas, não há rigorosamente nada.

Sr. Deputado, há um debate específico nesta interpelação sobre a questão das relações laborais e das

«mexidas» e alterações propostas pelo Governo, no que toca ao Código do Trabalho. O Bloco de Esquerda

não se esquece de que foi o Partido Socialista que abriu o debate sobre a fragilização das relações laborais e

sobre a facilitação dos despedimentos. Fomos, na altura, muitíssimo francos, claros e totalmente críticos do

caminho seguido na concertação social, naquela época liderado pela agora Sr.ª Deputada Helena André. Mas

este é o momento em que o Partido Socialista vai ter de se definir.

Portanto, de forma muito clara, Sr. Deputado Miguel Laranjeiro — e sem que haja aqui respostas, enfim,

com «probabilidades» de votações a favor ou contra… —, eu gostava de perceber se os trabalhadores

portugueses, em luta e contestação a este Governo, que vão estar numa greve geral no próximo dia 24 de

Novembro, contam ou não com o voto contra do Partido Socialista, no que concerne à facilitação de

despedimentos pela via da inadaptação do trabalhador ao seu posto de trabalho; e se o Partido Socialista vai

ou não, também, votar contra o aumento de meia hora de trabalho sem salário, que é a resposta

absolutamente inaceitável que nos foi dada pelo Sr. Ministro.

Página 37

27 DE OUTUBRO DE 2011

37

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Miguel Laranjeiro.

O Sr. Miguel Laranjeiro (PS): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Ana Drago, muito obrigado pelas suas

questões.

Como creio que sabe, nós, PS, em Julho, votámos contra uma primeira proposta do Governo relativamente

às alterações dos processos de indemnizações da cessação dos contratos de trabalho.

Votámos contra, porque o Governo — e o Sr. Secretário de Estado do Emprego aqui presente é

testemunha — não garantiu a simultaneidade do Fundo de base empresarial. Repito: não garantiu!

Vozes do PS: — Isso é verdade!

O Sr. Luís Fazenda (BE): — Não é disso que estamos a falar!

O Sr. Miguel Laranjeiro (PS): — O Sr. Secretário de Estado sabe que, nesse lugar, na bancada do

Governo, referiu que garantia aos trabalhadores portugueses essa simultaneidade. Aliás, posso citar as suas

próprias palavras.

Relativamente à questão do fundo, quero reafirmar o compromisso do Governo no sentido de promover a

entrada em vigor, em simultâneo, do Fundo e da alteração das compensações.

As compensações já entraram em vigor, mas o Fundo não. Esta é uma marca negativa do Governo de V.

Ex.ª, Sr. Secretário de Estado.

O Sr. Luís Fazenda (BE): — Responda às perguntas!

O Sr. Miguel Laranjeiro (PS): — Naturalmente não me esqueço de responder à pergunta da Sr.ª Deputada

Ana Drago…

O Sr. Luís Fazenda (BE): — Às duas perguntas!

O Sr. Miguel Laranjeiro (PS): — É evidente que estamos vinculados a dois documentos: ao de Março

deste ano, sobre o acordo da concertação social, porque a valorizamos…

Vozes do PS: — Muito bem!

O Sr. Miguel Laranjeiro (PS): — Valorizamos a concertação social no passado, no presente, no futuro e

sempre!

Vozes do PS: — Muito bem!

O Sr. Miguel Laranjeiro (PS): — Achamos que é na concertação social que a discussão das relações

laborais e, digamos, do relacionamento entre as entidades patronais e os trabalhadores…

Vozes do PS: — E o Estado!

O Sr. Miguel Laranjeiro (PS): — … se deve efectivar com o Estado, em termos do acordo tripartido. Essa

é uma posição que não é de agora, que já vem de trás e que mantemos, assim como o que está inscrito no

Memorando da tróica. Mas mantemos — com a concertação social e com a tróica — o que verdadeiramente lá

está inscrito, não as medidas que o Governo aprovou e que violavam, objectivamente, quer o acordado com a

concertação social quer o Memorando da tróica.

Vozes do PS: — Está respondido!

Página 38

I SÉRIE — NÚMERO 35

38

O Sr. Miguel Laranjeiro (PS): — Aproveito os 20 segundos de tempo que tenho disponíveis para referir o

desconforto das bancadas da direita,…

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — O desconforto é vosso!

O Sr. Miguel Laranjeiro (PS): — … porque nem sequer colocaram uma pergunta.

O Sr. Luís Fazenda (BE): — «Uma perna no Pico, outra no Faial»…!

Risos do BE.

O Sr. Miguel Laranjeiro (PS): — Mas quero dar um toque de actualidade… E o Sr. Deputado João

Almeida vai ver que vai gostar.

Ainda hoje foi aprovado no Parlamento Europeu o relatório que apela a investimentos para a criação de

emprego e vou ler uma frase desse relatório.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Mas o Sr. Deputado já não tem muito tempo…

O Sr. Miguel Laranjeiro (PS): — Não tenho, Sr. Presidente, mas é apenas uma frase…

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Ah, é uma frase feita!?…

O Sr. Miguel Laranjeiro (PS): — O relatório insta os países da União Europeia, insta o Governo de

Portugal, a «avaliarem os custos sociais decorrentes de cortes na despesa, nomeadamente na área da

educação e nas políticas activas do mercado de trabalho, que poderão comprometer o combate à penúria dos

trabalhadores qualificados na Europa…

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Sr. Deputado, faça o favor de terminar.

O Sr. Miguel Laranjeiro (PS): — … e colocar em risco a garantia do desempenho económico».

Srs. Deputados do PSD, sabem de quem é este relatório?!

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Eu sei!

O Sr. Miguel Laranjeiro (PS): — É da Sr.ª Deputada Regina Bastos, que ainda há poucos anos estava aí

sentada, na bancada do PSD!

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Sr. Deputado, já não tem tempo.

O Sr. Miguel Laranjeiro (PS): — E as conclusões do Conselho Europeu do passado domingo são muito

claras: «É essencial intensificar esforços para garantir um crescimento sustentável e gerador de emprego; é

necessário agir com determinação para reforçar a economia já a curto prazo…». É isso que diz a União

Europeia, é isso que não faz o Governo de Portugal!!

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Arménio

Santos.

O Sr. Arménio Santos (PSD): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as

e Srs. Deputados:

Portugal e os portugueses vivem tempos muito difíceis, por razões internas e por razões externas.

Página 39

27 DE OUTUBRO DE 2011

39

Por razões internas, em virtude das políticas erradas e irrealistas, que foram seguidas, não obstante os

muitos alertas para se mudar de rumo, em ordem a evitar-se a situação em que nos encontramos.

Por razões externas, que agravam as nossas vulnerabilidades, em virtude de a União Europeia também

não ter revelado a determinação e a coesão necessárias para enfrentar com solidez os problemas da zona

euro.

Desta crise resulta a necessidade de definir e aplicar um conjunto de medidas de austeridade, que

seguramente ninguém desejaria tomar, mas que são incontornáveis e que exigem coragem para ser

implementadas.

A sua não aplicação significaria, seguramente, agravar os problemas que existem, e as consequências

seriam ainda mais dolorosas para todos os portugueses.

Políticas de austeridade essas que o Governo anterior negociou e assinou com as instituições

internacionais — e bem! — e que os dois partidos que hoje estão no Governo também subscreveram — e

bem! —, porque aos seus interesses particulares sobrepuseram o interesse nacional. Ou seja, as políticas

difíceis que hoje temos de suportar foram reconhecidas e negociadas pela anterior governação socialista e são

consequência das suas opções erradas.

Sr. Presidente, uma das principais consequências destas políticas e desta crise é a imposição de políticas

de austeridade a que obriga, é a recessão económica e o inevitável aumento do desemprego.

E o desemprego elevado — hoje, superior a 700 000 desempregados e na ordem dos 12,1% —

naturalmente não é de hoje, nem é da responsabilidade do actual Governo. Os números são públicos, afectam

de um modo geral todos os sectores de actividade, ambos os sexos e todas as idades.

Os jovens, porém, são os mais atingidos. Mesmo aqueles que obtiveram uma licenciatura na esperança de

um futuro melhor, à custa de muito esforço e dedicação pessoais e à custa de muitos recursos financeiros,

públicos ou familiares, são vítimas do desemprego e são forçados a emigrar.

E nós, PSD, sabemos bem como é importante para a economia e para o nosso País podermos contar com

o trabalho, a criatividade e o empreendedorismo dos nossos jovens quadros e da nossa juventude.

Ao fazermos estas referências, queremos realçar que o PSD tem bem presente que o desemprego é um

problema muito sério e grave, em termos familiares, sociais e económicos.

Por isso mesmo, deve ser tratado com sentido de responsabilidade e não com demagogia.

Vozes do PSD: — Muito bem!

O Sr. Arménio Santos (PSD): — Só se cria emprego com as empresas e a economia a funcionar em bom

ritmo, e não por decreto, como algumas forças políticas aqui pretendem.

Este Governo — contrariamente ao anterior, porque este saldo negativo não é do actual Governo, mas é

uma herança do anterior — está a trabalhar no sentido de responder a estes problemas. Está a envolver os

parceiros sociais num diálogo social novo e estruturado, porque nunca como hoje foi tão necessário concertar

posições e políticas entre o Governo e os representantes dos trabalhadores e dos empresários. Este diálogo é

indispensável, para gerar um clima de confiança e de convergência, ainda que todos saibamos quão difícil é

chegar-se a acordos, num contexto de austeridade e de «vacas magras» como o que vivemos.

Este Governo está a combater a burocracia, com acções concretas e não apenas com palavras, em ordem

a que burocratas sem rosto não empatem por anos a fio, ou afastem mesmo, projectos de investimento, tão

necessários ao desenvolvimento do País e à criação de riqueza e de emprego.

Este Governo está a reprogramar o QREN, orientando os seus recursos para melhorar a competitividade

das nossas empresas e dar-lhe um ânimo novo. Está a reforçar o ensino profissional, o empreendedorismo e a

inovação.

Este Governo, Srs. Deputados, está a adequar as leis do trabalho, nos termos do Memorando de

Entendimento, em diálogo com os parceiros sociais, em sede de concertação social, e também aqui, no

Parlamento.

Este Governo está a tornar Portugal mais atractivo e mais «amigo» do investimento, sem o qual não há

crescimento económico, e sem crescimento económico não há resposta para os graves problemas sociais

com que os portugueses se confrontam.

Página 40

I SÉRIE — NÚMERO 35

40

Aplausos do PSD.

Ou seja, está a preparar-se o País para ultrapassar as actuais dificuldades e iniciar um novo ciclo de

desenvolvimento, fundamental para gerar riqueza, salvar o Estado social e criar emprego sustentado.

E é com esta economia saudável e mais pujante que melhor se pode responder às questões suscitadas por

esta interpelação do Bloco de Esquerda: desemprego, precariedade e alteração às leis laborais.

Só com uma economia a funcionar normalmente se podem criar postos de trabalho, e só com muito

emprego e baixos níveis de desemprego é que também se combate a precariedade no emprego.

Não é com índices elevados de desemprego que legalmente se decreta a inexistência da precariedade —

não, Srs. Deputados! É preciso que as empresas criem oportunidades de emprego; é preciso que a economia

dê oportunidades para que os cidadãos tenham condições para se realizar profissionalmente; é necessário

que haja emprego, porque as regras de mercado, elas próprias, vão impor a redução, simultaneamente, da

precariedade no emprego.

Sr. Presidente, os portugueses esperam que o Governo, as forças políticas e os agentes económicos e

sociais elejam, como sua primeira preocupação, ajudar a encontrar soluções para resgatar Portugal desta

situação.

Os portugueses querem sinais fortes, que lhes devolvam a esperança e a confiança, e não entenderiam

que os seus representantes políticos nesta Casa, especialmente os três partidos que assinaram o Memorando

de entendimento, optassem por uma postura confrontativa, em vez de um diálogo sério e construtivo.

O Governo está a trabalhar nesse caminho, com coragem e sentido patriótico, e tem o apoio do Partido

Social Democrata.

Acreditamos que as restantes bancadas também estarão à altura da gravidade dos problemas com que

Portugal se confronta, especialmente o principal partido da oposição.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado João

Semedo.

O Sr. João Semedo (BE): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Arménio Santos, ao longo da minha vida fui-me

habituando a considerar que sindicalismo e fatalismo não conviviam bem um com o outro. Mas enganei-me:

pelo menos na sua pessoa, sindicalismo também é sinónimo de fatalismo!…

O senhor veio aqui convertido, resignado a que tudo isto é uma inevitabilidade e que contra isso nada os

trabalhadores podem fazer.

Não disse, mas sugeriu: também está de acordo em que é uma inevitabilidade termos de empobrecer o

País. Empobrecer os trabalhadores, seguramente para que eles não se habituem a viver acima das suas

necessidades; empobrecer os desempregados, para que eles não tenham a mínima ilusão de podem viver

acima das suas possibilidades; empobrecer os jovens que procuram o primeiro emprego, para que também

eles não caiam na ilusão de viver acima das suas necessidades; empobrecer os trabalhadores da função

pública, para que eles nem pensem em viver acima das suas necessidades!…

É isto que um sindicalista — e Deputado também — tem para dizer aos trabalhadores!?

Sr. Deputado, gostava de fazer-lhe três perguntas muito concretas. O Sr. Deputado está de acordo em que

se retirem os subsídios de Natal e de férias aos trabalhadores da Administração Pública?

O Sr. Deputado está de acordo em que se crie emprego, facilitando os despedimentos?

O Sr. Deputado está de acordo em que se crie emprego, deixando o País arrastar-se na depressão, na

estagnação e na recessão económica?

Gostava de ouvir as suas respostas a estas perguntas.

Termino fazendo uma sugestão, a si e aos seu grupo parlamentar: não desistam das operações post-it, não

desistam de procurar ideias. Mas sugiro-lhes que substituam os post-its por sapatilhas para que o Sr. Ministro

da Economia tome balanço para encontrar soluções para o desemprego e para a promoção do crescimento e

do desenvolvimento económico.

Página 41

27 DE OUTUBRO DE 2011

41

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Arménio Santos.

O Sr. Arménio Santos (PSD): — Sr. Presidente, Sr. Deputado João Semedo, agradeço-lhe as suas

questões, mas, como perceberá, essas perguntas deveriam ser dirigidas aos responsáveis pela situação em

que o País se encontra,…

Vozes do PSD: — Muito bem!

O Sr. Arménio Santos (PSD): — … e o responsável não foi o Partido Social Democrata.

Aplausos do PSD.

É espantoso que V. Ex.ª esteja aqui a cobrar factura a um Governo que tomou posse há três, quatro meses

e que está confrontado com a obrigação não só da situação que herdou no plano interno mas também do

compromisso externo — aliás, o coordenador do seu partido, que não foi às reuniões com a dita tróica, depois

arrependeu-se, pelo que, se tivesse participado nessas negociações, provavelmente também teria subscrito o

Memorando de entendimento.

Vozes do BE: — Ehhh!…

O Sr. Arménio Santos (PSD): — Mas, como dizia, o Governo actual está exactamente a tomar as medidas

que a situação impõe que sejam tomadas, não apenas em termos internos mas também por razões de

compromissos internacionais — e nós não podemos violar esses compromissos internacionais.

De resto, gostaríamos de saber: onde é que as políticas do Bloco de Esquerda nos levariam? Quais eram

os índices de emprego a que as políticas do Bloco de Esquerda nos conduziriam? Quais eram os índices

salariais a que nos conduziriam as políticas do Bloco de Esquerda? Onde é que existe um modelo de

sociedade defendido pelo Bloco de Esquerda? E pergunto isto para podermos comparar se seria melhor do

que aquele que temos. Qual é a sociedade que o Bloco de Esquerda defende?

É porque ouvimos o Bloco de Esquerda falar com muita demagogia…

A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — Demagogia?!

O Sr. Arménio Santos (PSD): — … porque sabe, de antemão, que não está confrontado com a obrigação

de cumprir aquilo que promete, aquilo que defende, aquilo que diz nesta Casa.

Vozes do PSD: — Muito bem!

O Sr. Luís Fazenda (BE): — Isso é o PSD!

O Sr. Arménio Santos (PSD): — É porque, Sr. Deputado, se V. Ex.ª dissesse aqui que tinham um

determinado programa, que defendiam determinadas políticas, que essas políticas eram melhores por esta ou

aquela razão e o fundamentassem, naturalmente teríamos outra postura em relação à sua posição.

Agora, sabemos qual é tradicionalmente a vossa posição: quando há qualquer mudança nas leis laborais, o

que acontece, Sr. Deputado? Há um discurso…

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Tem de terminar, Sr. Deputado.

O Sr. Arménio Santos (PSD): — Termino já, Sr. Presidente.

Como dizia, há um discurso catastrofista da sua bancada e da bancada ao seu lado. Porém, a realidade,

hoje, mostra que as profecias das vossas bancadas falham.

Página 42

I SÉRIE — NÚMERO 35

42

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — As vossas ainda são piores!

O Sr. Arménio Santos (PSD): — E tanto falharam que hoje estão aqui a defender aquelas desgraças que

os Srs. Deputados defendem sempre, quando há qualquer alteração às leis do trabalho.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Tem de terminar, Sr. Deputado.

O Sr. Arménio Santos (PSD): — Em suma, aquilo que defendemos, Sr. Deputado, é que há uma

instituição chamada Conselho Permanente de Concertação Social, na qual confiamos. E o Governo e os

parceiros sociais vão seguramente encontrar boas soluções para serem discutidas e aprovadas nesta Câmara.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Jorge

Machado.

O Sr. Jorge Machado (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as

e Srs. Deputados: O Sr.

Ministro acusa o PCP de «atirar» dinheiro para os problemas. Então, falemos lá de para quem é que se atira

dinheiro e para que problemas, no nosso País.

Sabe quanto dinheiro PS, PSD e CDS atiraram para tapar o buraco do BPN? Foram 2300 milhões de

euros!

Sabe que valor, em garantias bancárias, se propõem dar à banca? Mais de 6500 milhões de euros!

Sabe qual o valor do bolo global que a banca vai receber da dita ajuda externa? Mais de 12 000 milhões de

euros!

Quem é que atira dinheiro para os problemas? PS, PSD e CDS-PP!!

Vozes do PCP: — Muito bem!

O Sr. Jorge Machado (PCP): — Sr. Ministro, para o PCP, mais salários, mais direitos e menos horário de

trabalho, graças à evolução tecnológica que se registou, significaria mais progresso, mais emprego e mais

crescimento! O Governo opta por atacar direitos, salários e aumentar o horário de trabalho e, com isso, vai

trazer o retrocesso, a recessão económica, a injustiça e a dependência externa.

O Sr. Ministro sabe muito bem que o problema da competitividade no nosso País não são os direitos dos

trabalhadores. O Governo sabe muito bem que as sucessivas alterações à legislação laboral levaram a mais

precariedade, a mais desemprego, a mais exploração e a mais injustiça. O Governo, deliberadamente, toma

medidas no sentido de agravar a injustiça, atacar, roubar quem trabalha para dar aos grandes grupos

económicos. É para esses que governa. Ao contrário do que defende a Constituição e do que deveria ser um

projecto de transformação da sociedade, o Governo defende os interesses dos grandes grupos económicos!

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Ora bem!

O Sr. Jorge Machado (PCP): — É para esses que governa!

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Exactamente!

O Sr. Jorge Machado (PCP): — O dinheiro não estica e, como diz o nosso povo, para dar aos mais ricos

há que tirar e roubar a quem recebe dinheiro da sua reforma ou a quem vive do seu salário.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!

O Sr. Jorge Machado (PCP): — É essa injustiça que importa aqui denunciar.

Página 43

27 DE OUTUBRO DE 2011

43

Estamos assim, Sr. Ministro, face a um autêntico saque, a um roubo organizado ao País e ao nosso povo!

O Sr. Ministro pode ter o apoio das bancadas do PS, do PSD e do CDS-PP, entusiasmados com as

medidas que são anunciadas e promovidas pelo novo testamento, que é o acordo com a tróica. No entanto,

Sr. Ministro, mais cedo do que tarde, estas opções políticas, estas opções de direita, estes governos de direita

que têm desgraçado o nosso País vão enfrentar o descontentamento do povo português e vão ter a resposta

necessária que é, de uma vez por todas, libertarmo-nos destas opções e transformarmos a sociedade de

forma a termos um País mais justo!

Ao contrário do que o Sr. Ministro quer fazer querer, ao contrário do que PS, PSD e CDS tentam

reiteradamente induzir na sociedade portuguesa, existe no nosso País quem tenha um projecto diferente de

transformação da sociedade…

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Faça favor de terminar, Sr. Deputado.

O Sr. Jorge Machado (PCP): — … que olhe para o mercado de trabalho e diga que são os trabalhadores

que criam riqueza e que, por isso, têm de ser respeitados e que não temos de salvaguardar e apaparicar os

interesses dos grandes grupos económicos. Esses já estão bem na vida. É preciso olhar para o povo, para os

trabalhadores que passam dificuldades!

O PCP tem esse projecto de transformação da sociedade e, mais cedo do que tarde, vamos criar um País

mais justo e solidário!

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Luís Menezes.

O Sr. Luís Menezes (PSD): — Sr. Presidente, queria ter colocado perguntas a alguns partidos da

esquerda, mas, infelizmente, já não dispõem de tempo que lhes permita responder.

Srs. Deputados, este debate é sobre emprego, mas não há emprego sem economia ou empresas, tal como

também não há economia sem trabalhadores.

Por isso, apesar de muitos desvalorizarem, gostava de saudar o trabalho muito substancial que tem sido

feito no Ministério da Economia nos últimos tempos, designadamente através do PREMAC, como o Sr.

Ministro falou e bem. Tenho pena de que não gostem de ouvir que este Ministério está a dar o exemplo.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Vai, vai…!

O Sr. Luís Menezes (PSD): — Já reduziu mais de 25% nos institutos públicos, já reduziu 50% do pessoal

que trabalha dentro do Ministério,…

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Claro! E quantos especialistas já contrataram?

O Sr. Luís Menezes (PSD): — … vai acabar com 500 cargos dirigentes; criou a moratória no âmbito do

PME Investe — se calhar, também não concordam, está a equacionar a flexibilização do nosso

completamente obtuso código laboral,…

Vozes do PCP: — Sim, é obtuso!

O Sr. Jorge Machado (PCP): — Mas é vosso!

Vozes do BE: — É obtuso, sim!

O Sr. Luís Menezes (PSD): — … que é um factor que nada promove a criação de emprego, e está a

implementar medidas relacionadas com a produtividade, como a dos 30 minutos adicionais de trabalho diário

ou ainda a questão dos feriados.

Página 44

I SÉRIE — NÚMERO 35

44

O Sr. Jorge Machado (PCP): — É roubo e exploração!

O Sr. Luís Menezes (PSD): — Outro exemplo é o Plano Estratégico dos Transportes, que em seis anos a

bancada socialista não fez, mas que este Governo apresentou em menos de 100 dias. Trata-se de uma

reforma estrutural num sector completamente falido, com mais de 17 000 milhões de euros de dívida. Este

Plano Estratégico é a única forma de salvarmos o serviço público de transportes, dando-lhe sustentabilidade,

que é uma palavra de que a esquerda não gosta muito…!

Apesar de tudo o que tem sido feito, não se pode «tapar o sol com a peneira», porque nenhum governante

no mundo gostaria de apresentar um Orçamento como o que o Governo apresentou.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Estou «careca» de ouvir essa conversa!

O Sr. Luís Menezes (PSD): — Não é um Orçamento de vontade, mas de necessidade. Tenho pena de que

o exibicionismo retórico de alguma esquerda mais radical — que a tem, aliás, acantonado, como se pode ver

pelos resultados eleitorais que têm tido ultimamente — não se traduza em propostas construtivas, mas apenas

em miríades de fantasias do que o mundo podia ser.

Gostaria de terminar fazendo uma referência ao Partido Socialista, porque, enquanto maior partido da

oposição, tem uma posição muito relevante no que se vai passar.

Sabemos que assinou o Memorando da tróica em Maio de 2011 e que a sua governação foi a responsável

por chegarmos à situação a que chegámos.

O Sr. José Junqueiro (PS): — Não vá pelo mau caminho!

O Sr. Luís Menezes (PSD): — Nesse sentido, é muito grave que, à segunda, quarta e sexta-feira, o Partido

Socialista diga que a probabilidade de aprovar o Orçamento é de 0,00001% e, à terça, quinta, sábado e

domingo, já não saiba bem o seu sentido de voto no Orçamento.

Srs. Deputados do Partido Socialista, os portugueses querem que o Partido Socialista esteja à altura das

suas responsabilidades. Por isso, decidam-se e deixem-se de tibiezas no que é a vossa posição quanto ao

sentido de voto no Orçamento do Estado!

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Tem a palavra o Sr. Ministro da Economia e do Emprego.

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — Sr. Presidente, gostaria de responder a algumas das

perguntas que me foram dirigidas pelo Deputado Miguel Laranjeiro.

Sobre a questão da TSU, é público que defendi, antes de ir para o Governo, a sua redução. É

absolutamente importante perceber que a descida da TSU não aconteceu por uma simples razão: porque o

buraco orçamental que nos foi legado é de tal modo elevado que não há margem orçamental para a fazer.

O Sr. José Junqueiro (PS): — Sr. Ministro, assim não vai a lado nenhum!

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — Para o Governo, a descida da TSU deveria ter acontecido

de forma a privilegiar alguns sectores, mas isso não nos foi possível fazer.

Portanto, não houve descida da TSU, porque não nos deixaram margem orçamental e porque o buraco das

contas públicas, que herdámos, é verdadeiramente colossal.

Em segundo lugar, o Sr. Deputado disse que o País tinha a ganhar com a verdade. Não tenho dúvidas

sobre isso. Aliás, se o PS e o anterior governo tivessem tido uma política de verdade, o País não teria chegado

à situação que chegou. Essa é a realidade!

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

Página 45

27 DE OUTUBRO DE 2011

45

Também perguntou se as medidas da baixa da TSU para desempregados de longa duração são para

manter. Infelizmente os estudos mostram que o impacto desta medida é extremamente reduzido, mas é para

manter.

Sobre o Fundo de Estabilização da Segurança Social, é verdade, o Governo está a equacionar a

possibilidade de o utilizar para políticas activas de emprego.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Claro! À custa dos reformados e dos trabalhadores!

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — Considero, no entanto, inacreditável que o PS levante

estas questões quando o anterior governo utilizou o Fundo de Estabilização da Segurança Social para

comprar dívida pública com uma rentabilização muitíssimo negativa.

Vozes do PSD e do CDS-PP: — Muito bem!

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — Portanto, Srs. Deputados, antes de perguntarem se o

Fundo de Estabilização vai ser utilizado para criar emprego, lembrem-se de que é bem melhor criar empregos

do que comprar dívida pública!

Em relação à não simultaneidade, o PS esquece-se mais uma vez de que, supostamente, o Fundo era tão

fácil de fazer que deveria ter sido feito uma semana após o acordo tripartido ter sido assinado. No entanto,

passou-se Março, passou-se Abril, passou-se Maio, passou-se Junho, tomámos posse e, quando chegámos

ao Governo, havia zero do Fundo.

O Sr. Luís Menezes (PSD): — Muito bem!

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — Portanto, é muito fácil, retoricamente, falar de

simultaneidade quando os senhores nada fizeram para cumprir o que assinaram no acordo tripartido de Março.

Finalmente, considero que todas as afirmações feitas pelo PS demonstram inequivocamente que continua

ausente da realidade e a considerar que não foi o principal responsável por termos chegado à situação actual,

não é responsável pelo maior endividamento externo dos últimos 120 anos e não é responsável pelo maior

endividamento público desde meados do século XIX.

Portanto, era bom que o PS descesse à terra e percebesse, de uma vez por todas, os problemas que estão

afectar Portugal.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

Protestos do PS.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — O Sr. Deputado Miguel Laranjeiro pediu a palavra. Para que efeito,

Sr. Deputado?

O Sr. Miguel Laranjeiro (PS): — Para uma interpelação à Mesa, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Em que sentido? Sobre a condução dos trabalhos?

O Sr. Miguel Laranjeiro (PS): — Também sobre a condução dos trabalhos.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. Miguel Laranjeiro (PS): — Sr. Presidente, gostaria de solicitar à Mesa que distribua a todas as

bancadas e ao Sr. Ministro da Economia e do Emprego a Portaria n.º 1273/2004, referente ao Fundo de

Estabilização Financeira da Segurança Social.

Página 46

I SÉRIE — NÚMERO 35

46

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Faremos a distribuição, Sr. Deputado.

O Sr. Miguel Laranjeiro (PS): — Permita-me apenas dizer que está…

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — O Sr. Deputado já fez a interpelação e, embora esteja publicado em

Diário da República, vamos proceder à distribuição.

O Sr. Miguel Laranjeiro (PS): — Só para terminar, gostaria de dizer que é uma portaria…

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Sr. Deputado, não vai fazer uma intervenção.

O Sr. Miguel Laranjeiro (PS): — … que regula a composição do activo do Fundo e que foi assinada em

2004 — não sei se o Sr. Ministro estava em Portugal —…

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Faça favor de terminar.

O Sr. Miguel Laranjeiro (PS): — … pela então Sr.ª Ministra de Estado e das Finanças Manuela Ferreira

Leite e pelo então Sr. Ministro da Segurança Social e do Trabalho António Bagão Félix.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, no escasso tempo de que dispõe, tem a

palavra o Sr. Deputado Adão Silva.

O Sr. Adão Silva (PSD): — Sr. Presidente, o Governo veio esta tarde aqui, ao Parlamento, dizer que está

absolutamente compenetrado da relevância que tem a questão do emprego em Portugal.

O Sr. Luís Menezes (PSD): — Muito bem!

O Sr. Adão Silva (PSD): — Ouvimos aqui palavras de certeza e palavras de empenho para combater o

desemprego em Portugal e para promover o emprego entre os portugueses.

O desemprego é irmão gémeo da pobreza. Por isso, Sr. Ministro, ouvimos com gosto como V. Ex.ª está

empenhado, como V. Ex.ª está afincado e como V. Ex.ª está determinado em encontrar todos os meios e

soluções para combater o desemprego.

Vozes do PSD: — Muito bem!

O Sr. Adão Silva (PSD): — Ouvimos, nomeadamente, que é preciso falar verdade aos portugueses. Sim, é

preciso falar verdade sobretudo depois de tempos em que não se falou verdade aos portugueses.

Vozes do PSD e do CDS-PP: — Muito bem!

O Sr. Adão Silva (PSD): — É preciso promover uma lógica de concertação. Por isso, convido todos os Srs.

Deputados a que, em vez da retórica de confrontação, nos empenhemos numa retórica de cooperação. Isso é

essencial!

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

Devemos empenhar-nos numa retórica de cooperação, porque a retórica de confrontação não serve para

mais nada.

Página 47

27 DE OUTUBRO DE 2011

47

Lamentamos profundamente que o Partido Socialista tenha vindo aqui enjeitar responsabilidades, como se

nada se lhe devesse. É preciso dizer uma coisa relevante: a variável desemprego é diferida, isto é, os

senhores criaram um conjunto de malfeitorias ao País há uns anos e agora este Governo está a arcar com as

responsabilidades da vossa inconsciência e da vossa incapacidade.

Por isso, Sr. Ministro, V. Ex.ª está no caminho certo! V. Ex.ª tem um empenho e uma dedicação que quero

sublinhar e terá desta bancada a solidariedade que é precisa neste momento de grande combate e de grande

denodo que Portugal e os portugueses exigem.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Srs. Deputados, não havendo mais inscrições, vamos passar à fase

de encerramento.

Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Luís Fazenda.

O Sr. Luís Fazenda (BE): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as

e Srs. Deputados, Sr. Ministro

da Economia e do Emprego: O Bloco de Esquerda não pretende fulanizar esta discussão, que é de

actualidade, de enorme urgência e de grande importância para a maioria do povo português.

No entanto, o Sr. Ministro da Economia e do Emprego, dir-se-á, «põe-se a jeito»… Mandou-nos «estudar a

economia». Gostaria que tivesse um pouco mais de humildade democrática para reconhecer que, entre muitas

das coisas que escreveu, que elaborou, seguramente com muito esforço intelectual, e aquela que é a

realidade da sua gestão há muitas discrepâncias, e a TSU não é a única.

Portanto, nisto, acho que um pouco de cautela, de presunção diminuída, de água benta suficiente da

democracia não faria mal a ninguém, incluindo ao Sr. Ministro da Economia e do Emprego.

É que a questão da TSU não é apenas uma opinião intelectual do Sr. Ministro, foi uma proposta política do

partido maioritário, foi uma proposta do então candidato a Primeiro-Ministro, estava absolutamente estudada,

sabia-se tudo, era a ferramenta da competitividade e foi passada à tróica e às instituições internacionais como

aquilo que iria ser o ariete do desenvolvimento económico.

Ora, isso faliu completamente e sabia-se, à partida, que essa medida iria descapitalizar a segurança social

e não teria efeitos significativos do ponto de vista da produtividade.

Portanto, aquilo que, em desespero de causa, o Sr. Ministro e o Governo no seu conjunto —

responsabilidade primeira do Sr. Primeiro-Ministro —, entenderam fazer foi transformar a TSU num aumento

do horário de trabalho para os trabalhadores portugueses. E como era difícil dizer aos trabalhadores

portugueses que «praticamente vão ficar sem férias, porque vamos tirar 16 dias, somando o acréscimo de

meia hora por dia, e ainda vamos cortar quatro feriados, o que dá 20 dias» — estamos quase no limite das

férias —, como isso, provavelmente, originaria uma explosão social, optou-se, então, pela via inversa. Mas cá

estamos… Trata-se de «ver o copo de um lado ou do outro», Srs. Deputados da direita. Na verdade, o que se

fez foi cortar os subsídios aos funcionários da Administração Pública e aos pensionistas e, em relação aos

trabalhadores do sector privado, anulou-se, na prática, a quase totalidade do período de férias.

Disse aqui, hoje, o Sr. Ministro, e nós registámos, que isso durará pelo tempo do plano de resgate.

Verificaremos se assim será, porque a tendência em Portugal, particularmente da parte dos partidos mais à

direita, dos partidos conservadores, é transformar o provisório em definitivo, ou seja, aquilo que é, por

embuste, uma excepção por natureza temporária passar a ser integrado numa política permanente. Não o

permitiremos, Sr. Ministro da Economia e do Emprego.

O Sr. Ministro referiu hoje, aqui, na sua intervenção — e disse-o assim, sem estados de alma, sem

qualquer repulsa —, a retoma, a retoma, a retoma… Mas o que constatamos nas previsões macroeconómicas

é um ano de recessão muito acima, infelizmente, do que está previsto como taxa de crescimento negativa,

muito para além dos quatro pontos, calculamos nós, e veremos se nos enganamos no final do exercício. Mas

não há ali retoma nenhuma.

O Sr. Ministro diz-nos «querem deitar dinheiro para cima dos problemas». Já aqui foi referido que este

Governo aumenta extraordinariamente, em relação ao seu antecessor, as garantias, os compromissos do

Estado em relação ao BPN, esse caso extraordinário desse buraco sem fundo que é o Banco Português de

Negócios.

Página 48

I SÉRIE — NÚMERO 35

48

É este Governo que deita dinheiro para o buraco da Madeira, não é o Bloco de Esquerda. O Bloco de

Esquerda, durante anos, defendeu uma posição contrária sobre o processo do BPN, há anos sem fim que

pedimos auditorias sobre a Madeira, fomos o único partido que aqui propôs a renegociação de todas as

parcerias público-privadas, propusemos o orçamento de base zero e propusemos o combate ao desperdício e

ao endividamento excessivo do Estado. Com certeza! Porquê? Porque nós queremos privilegiar o investimento

público, não queremos privilegiar a promiscuidade e a traficância dos dinheiros públicos a favor de interesses

privados, como se verificou.

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego veio aqui dizer que a responsabilidade é toda do Partido

Socialista. Lamento, mas, de há muitos anos a esta parte, a responsabilidade é dividida.

A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — Exactamente!

O Sr. Luís Fazenda (BE): — Esse caminho do endividamento, esse caminho das parcerias público-

privadas, esse caminho de não acautelar questões essenciais do ponto de vista da consolidação das finanças

públicas foi um caminho partilhado pelo PSD e pelo PS. Não recai exclusivamente no PS, é uma opção do

bloco central, e que agora chegou ao fim da pior maneira possível.

O PS esteve no Governo e prosseguiu a mesma política e o PSD quando esteve fora do Governo viabilizou

orçamentos do Estado atrás de orçamentos do Estado, programas de estabilidade e crescimento atrás de

programas de estabilidade e crescimento… É escusado vir aqui — pode poupar-nos a isso — fazer um

exercício de «passa culpas» entre as duas bancadas, porque, na verdade, elas têm um património em comum

sobre o endividamento excessivo da República e do País.

Pela nossa parte, entendemos que há uma agenda oculta do Governo. A nosso ver, não é apenas aquilo

que está no Memorando da tróica que é errado do ponto de vista da perspectiva macroeconómica,

independentemente dos condicionamentos políticos; é que há aqui um ajuste de contas com o factor trabalho.

E a ideia é, não só do ponto de vista do revanchismo social, alterar as relações de trabalho de uma forma

drástica a favor do patronato, a favor do capital, mas é um pouco mais do que isso: é pensar, é ter a ilusão de

que, pelo choque salarial, pelo choque sobre o consumo, por dizer «vamos empobrecer para melhorar» se vai

atrair capital estrangeiro.

Tenho más notícias para si, Sr. Ministro: não há nada no horizonte acerca disso. Ou seja, o Sr. Ministro e o

seu Governo não têm nada, do ponto de vista do crescimento económico, para daqui a dois ou três anos.

A nossa alternativa é realmente outra: pensamos que é necessário reestruturar a dívida interna e externa, é

necessário um conjunto de medidas que nos possam levar a promover, em tempo útil, alguma quota de

investimento público reprodutivo que possa animar o investimento privado, porque se não vem esse capital

estrangeiro não haverá emprego e vamos chegar a 1 milhão ou 1 milhão e meio de desempregados neste

País.

Não nos venham dizer que a esquerda é retórica. A esquerda tem soluções, a esquerda tem posições

claras, os senhores é que estão todos comprometidos com este plano de ruína a que trouxeram o País.

Sr. Ministro da Economia e do Emprego, com o devido respeito, estaremos aqui sempre em condições de

verticalidade política para discutir opções, não exactamente para discutir este ou aquele rompante, esta ou

aquela ideia, mais ou menos hoje pouco credível, bastante incredível até, de que se reinventa um país em seis

meses.

Poderá fazer uma desforra político-ideológica, mas esse é o pior cenário que o partido do Governo pode

apresentar ao País e é o pior cenário para os portugueses e para as portuguesas.

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, no âmbito do encerramento desta

interpelação ao Governo, tem a palavra o Sr. Ministro da Economia e do Emprego.

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — Sr. Presidente, Srs. Deputados: O Governo veio aqui a

esta Casa afirmar, mais uma vez, que uma política de crescimento, de competitividade e de emprego passa,

essencialmente, por quatro pilares.

Página 49

27 DE OUTUBRO DE 2011

49

Em primeiro lugar, a consolidação das contas públicas é essencial, a descida do endividamento externo e

interno é crucial para o futuro do País. Se não conseguirmos baixar o endividamento público é impossível

conseguirmos esperar que o crescimento económico possa acelerar.

Mas, para além disso, e porque há, certamente, vida para além da austeridade, é preciso investir. E o que o

Governo tem feito tem sido agilizar vários projectos de investimento,…

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Resmas!

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — …, trabalhar para diminuir os licenciamentos, trabalhar

para simplificar o Código Comercial, trabalhar para tornar Portugal num país amigo do investimento.

Vozes do PSD: — Muito bem!

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — Portugal e este Governo têm um verdadeiro desígnio pela

frente. Esse desígnio chama-se exportações.

Portugal, nos últimos anos, investiu em sectores de rentabilidade duvidosa, com pouca concorrência, pouco

abertos ao exterior e, por isso mesmo, o que é preciso fazer é redireccionar a economia portuguesa para as

exportações. Aliás, se olharmos para a economia portuguesa não é difícil concluir que, neste momento, está

bastante dual. É verdade que o consumo está a baixar, é verdade que o consumo público está a baixar devido

ao elevado nível de endividamento,…

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — O investimento é que conduziu ao endividamento?!

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — … no entanto temos as exportações a crescerem a ritmos

notáveis, o que mostra que, mesmo com moeda forte, mesmo com todos os problemas, mesmo com um

elevado nível de endividamento e com a crise grave que temos em mãos, os nossos empresários, as nossas

empresas estão a tornar-se cada vez mais competitivas, cada vez mais concorrenciais nos mercados externos

e, por isso mesmo, dão-nos a esperança e a certeza que vamos sair desta crise. E a saída desta crise passa,

certamente, pelas exportações.

Mas, para além do mais, é preciso também reestruturar, é preciso abandonar o modelo económico irrealista

dos últimos anos, é preciso deixar a quimera e a receita mágica do investimento público, que nos conduziu ao

maior endividamento público das últimas décadas,…

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — O investimento tem vindo a baixar desde há 10 anos!

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — … e é preciso ajudar as empresas a reestruturarem-se.

O que é que nós, nomeadamente o meu Ministério, já fizemos nos últimos meses?

Desde o primeiro dia, estivemos a trabalhar na alteração das leis laborais; estivemos a trabalhar na lei das

comunicações móveis; estivemos a trabalhar — já o apresentámos — no plano estratégico dos transportes,

que vai dar azo não só à maior reestruturação do sector público dos transportes das últimas décadas, mas que

vai também acabar com os modelos irrealistas de alto endividamento da Estradas de Portugal; vamos apostar

na ferrovia de bitola europeia, que vai aumentar a competitividade das nossas exportações; vamos apostar

nos portos nacionais, que têm um potencial que não tem sido devidamente aproveitado; e vamos também

apostar numa melhor governança para o sector público empresarial.

Para além disto, também já demos início à reforma do capital de risco público, que vai ser a maior reforma

de capital de risco já feita nas últimas décadas; conseguimos evitar que as tarifas da electricidade subissem

30% em 2012 para os consumidores…

A Sr.ª Catarina Martins (BE): — 22%

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — … e 55% para a indústria, indo as tarifas aumentar

simplesmente 4% quando poderiam ter aumentado 30%.

Página 50

I SÉRIE — NÚMERO 35

50

Avançámos também com a renovação extraordinária dos contratos a termo, que irá permitir que milhares

de pessoas que estão empregadas consigam salvaguardar os seus empregos; conseguimos negociar o

prolongamento das linhas PME Investe; fizemos, em 15 dias, a reprogramação técnica do QREN, que vai

permitir diminuir a contrapartida nacional e uma injecção de 372 milhões de euros adicionais na economia

nacional; e estamos a efectuar a reprogramação técnica do QREN, que está virada para as empresas, para as

populações e que está virada para simplificar o QREN, que, neste momento, está demasiado complicado.

Há duas semanas, assinámos a introdução do Fundo JESSICA em Portugal, de 130 milhões de euros, que

irá alavancar cerca de 1000 milhões de euros dedicados à regeneração urbana e à requalificação dos centros

das cidades.

Lembro também que fizemos não só o PREMAC e demos azo a uma redução substancial de dirigentes, na

ordem dos 500 dirigentes só no meu Ministério; temos apostado muito do nosso tempo e do nosso empenho

na concertação social; vamos levar a cabo a já também anunciada reestruturação dos centros de emprego;

fizemos a actualização tarifária dos transportes; promovemos o plano extrajudicial de conciliação e a nova lei

da concorrência; apostámos na bitola europeia e nos portos; cancelámos projectos quiméricos e faraónicos,

como o TGV;…

Risos do PCP e do BE.

… cancelámos projectos quiméricos e faraónicos como o novo aeroporto;…

Vozes do PSD: — Muito bem!

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — … racionalizámos o número de feriados e pontes em

Portugal;…

A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — Já?!

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — … agilizámos investimentos no sector mineiro; agilizámos

os investimentos da EasyJet e do Alqueva; e temos um programa de empreendedorismo e inovação que será

apresentado nesta Câmara muito em breve.

Acima de tudo, Srs. Deputados, temos uma nova política de competitividade, que não é baseada em

receitas mágicas do investimento público sustentado no endividamento do sector privado, mas, sim, baseada

numa economia mais aberta, mais concorrencial e mais competitiva.

Acima de tudo, acho que, neste momento de crise, temos de perceber que é preciso uma nova atitude.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Queria terminar, Sr. Ministro.

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — Termino já, Sr. Presidente.

Acima de tudo, é importante pormos de lado as nossas diferenças, é importante trabalharmos em conjunto

— é isso que temos feito na concertação social —, é importante trabalharmos em equipa em prol do superior

interesse nacional.

E neste momento de grande crise, neste momento de emergência nacional, não adianta termos a atitude

do contra, de oposicionista, de catastrofista. É muito melhor para o País se todos trabalharmos em conjunto,…

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Isso deve ser um recado para a bancada do PSD!

O Sr. Ministro da Economia e do Emprego: — … em equipa, para que consigamos que Portugal saia

desta crise e que a economia recupere o mais brevemente possível.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Srs. Deputados, chegámos ao fim dos nossos trabalhos de hoje.

Página 51

27 DE OUTUBRO DE 2011

51

Informo os Srs. Deputados que reuniremos amanhã, às 15 horas, com a seguinte ordem do dia: discussão,

na generalidade, da proposta de lei n.º 26/XII (1.ª) — Procede à segunda alteração à Lei do Orçamento do

Estado para 2011, aprovada pela Lei n.º 55-A/2010, de 31 de Dezembro.

Srs. Deputados, estão encerrados os nossos trabalhos.

Eram 17 horas e 40 minutos.

Deputados não presentes à sessão por se encontrarem em missões internacionais:

Partido Social Democrata (PSD)

António Pedro Roque da Visitação Oliveira

Hugo José Teixeira Velosa

Maria da Conceição Feliciano Antunes Bretts Jardim Pereira

Maria das Mercês Gomes Borges da Silva Soares

Pedro Manuel Tavares Lopes de Andrade Saraiva

Ulisses Manuel Brandão Pereira

Partido Socialista (PS)

Fernando Pereira Serrasqueiro

José Carlos Correia Mota de Andrade

Renato Luís de Araújo Forte Sampaio

Partido Comunista Português (PCP)

Paula Alexandra Sobral Guerreiro Santos Barbosa

Deputados que faltaram à sessão:

Partido Social Democrata (PSD)

Carlos António Páscoa Gonçalves

Luís Manuel Morais Leite Ramos

Pedro Augusto Lynce de Faria

Partido Socialista (PS)

Fernando Medina Maciel Almeida Correia

Maria Isabel Solnado Porto Oneto

Nuno André Araújo dos Santos Reis e Sá

Paulo Alexandre de Carvalho Pisco

A DIVISÃO DE REDACÇÃO E APOIO AUDIOVISUAL.

Descarregar páginas

Página Inicial Inválida
Página Final Inválida

×