5 DE JANEIRO DE 2012
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Para que Portugal possa voltar a ter crescimento económico, para que possa voltar a entrar num trilho de
crescimento que todos desejamos, é preciso, como a Sr.ª Deputada apontou, uma coisa que, desde logo, tem
a ver com concertação social. Mas, Sr.ª Deputada, concorda ou não comigo que, para que haja concertação
social, para que haja diálogo social, é necessário que haja vontade e interesse das duas partes? Gostaria de
saber a posição do Partido Socialista em relação a essa matéria. Se acha que deve haver essa abertura — e
estou certo que a há — da parte do Governo, também tem de haver uma abertura da parte dos parceiros
sociais. É ou não essa a opinião do Partido Socialista?
Por fim, Sr.ª Deputada, e por falar no que para nós é essencial e que tem a ver com cumprir, acha ou não
que, apesar de tudo, são notícias animadoras, numa altura em que, infelizmente, se fala na eventual e
hipotética saída de um país da zona euro, que hoje mesmo, pela primeira vez desde que Portugal está a ser
objeto de um Programa de Assistência Financeira, tenha havido um leilão de dívida pública que atingiu os
juros mais baixos de sempre.
Queremos saber se isso é ou não motivo para nos podermos mobilizar e para podermos perceber que, se
cumprirmos com o que nos comprometemos, então, poderemos criar condições para que, no futuro mais
próximo possível, possamos voltar a crescer.
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Maria de Belém.
A Sr.ª Maria de Belém Roseira (PS): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados, agradecendo também as
questões que me colocaram, gostaria de dizer ao Sr. Deputado António Filipe que a assinatura do programa
da troica, programa esse que o Partido Comunista apelida de pacto de agressão,…
Vozes do PCP: — E bem!
A Sr.ª Maria de Belém Roseira (PS): — … foi assinado, como o Sr. Deputado sabe, numa situação de
enorme ataque às dívidas soberanas, a que Portugal não escapou, como não escapou a Espanha, como não
escapou a Itália e como não escaparam outros países e, se calhar, não escaparão ainda outros.
Perante situações extraordinárias, houve que recorrer a esse programa de apoio que, à partida é,
evidentemente, influenciado no seu desenho por aqueles que, obviamente, nos disponibilizarão os meios
financeiros para sairmos desta situação. Portanto, o que devemos fazer é, numa negociação responsável, e
conhecendo a situação social e económica do nosso País, ajustar o máximo possível o desenho desse
programa à nossa especificidade e à nossa conjuntura.
Daí a importância de conhecermos os dados dos relatórios que são feitos e de os usarmos para explicitar e
demonstrar não propriamente a alteração das metas mas dos caminhos para lá chegar, como, aliás, o
Governo já fez, designadamente, no que se refere à taxa social única.
Estamos num exercício que tem uma enorme visibilidade internacional, que deve correr no sentido de
mostrar um comportamento responsável por parte dos agentes políticos, porque isso é escrutinado, e, no caso
de não acontecer, é o suficiente para determinar oscilações relativamente aos encargos sobre a dívida que
agudizarão a pressão que se faz sobre o nosso País.
O Partido Socialista tem esta avaliação responsável, não abdica de a ter, não abdica de a afirmar e não
abdica de a traduzir em atos concretos, como foi a decisão relativamente à abstenção no último Orçamento,
mesmo não concordando com muitas das medidas que continha e tendo acentuado variadíssimas vezes que o
Governo iria por mau caminho ao não aceitar algumas propostas de alteração. Como referi, aceitou apenas
uma delas, que agora até está a ser concretizada em medidas que foram hoje anunciadas, designadamente
no programa PME Investe.
Há outro aspeto que gostaria muito de salientar, que é o seguinte: nunca falei, nesta Assembleia, na minha
intervenção de hoje, em austeridade. Na mensagem do Presidente da República nunca consta austeridade. A
austeridade é uma avaliação, do ponto de vista moral, que não deve ser aceite nem deve incorporar e não
incorpora o meu léxico. Repito: a austeridade não incorpora o meu léxico. O que incorpora o meu léxico é o
equilíbrio orçamental.