I SÉRIE — NÚMERO 65
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O projeto de resolução n.º 182/XII (1.ª), do CDS-PP, tem um preâmbulo que aborda duas questões
indissociáveis e cruciais no sector do leite: o preço do leite e as quotas leiteiras. Mas constitui um texto repleto
de erros, meias verdades e insuficiências.
Sobre as quotas leiteiras: o CDS-PP não tem confiança na (sua) Ministra da Agricultura. Só assim se
compreende a insistência em recomendar ao Governo que deve lutar contra o fim das quotas depois das três
audições nesta Assembleia da República e das muitas declarações públicas em que a Ministra assumiu o
compromisso de lutar contra o fim das quotas. Mas grave e significativo é que o CDS-PP (e o PSD também)
passe ao lado do que está a acontecer!
De facto, as quotas estão a ser liquidadas paulatinamente, todos os anos, pelo aumento anual da quota de
cada país de um ponto percentual — são mais 2,8 milhões de litros em cada campanha, a tal «aterragem
suave» das quotas inventada por Bruxelas! —, aumentos que estão a produzir excedentes, inclusive com
alguns países (Dinamarca, Holanda, Áustria) a ultrapassar as quotas atualizadas sem pagar multas! E são
esses «excedentes» que vão sendo despejados em Portugal, a preço de saldo.
É este processo que tem de ser interrompido. Caso contrário, em 2015, as quotas com os novos valores
perderam qualquer função de limitação da produção e de distribuição da produção entre os diversos países da
União Europeia. Mas percebe-se que o CDS-PP e o PSD, (como o PS, por maioria de razão) não queiram
falar disso, pois não fizeram nenhuma oposição aos Conselhos de Ministros da União Europeia de 17 de
Março e de 18 de Dezembro de 2008 que assim decidiram.
Depois, o CDS-PP acha que as conclusões dos peritos do «Grupo de Alto Nível» da União Europeia são
uma «boa ajuda»! Isto não obstante, prosseguirem a estratégia e objetivos de liquidação das quotas, e
pretendem entregar os «preços do leite» na Europa à roleta das bolsas dos mercados de futuros.
Mas mais grave é que o CDS-PP (e o PSD) não considere estranho nem contraditório com as suas
preocupações pelo sector leiteiro que esteja a ser feita uma reprogramação do PRODER fazendo um corte de
quase duas dezenas de milhões de euros no pacote específico de 55 milhões de euros destinados a preparar
a dita «aterragem suave do fim das quotas»!
Sobre o preço do leite: em primeiro lugar, o CDS-PP deve assumir com clareza o que há muito diz de forma
envergonhada: que a força organizada dos produtores de leite na Lactogal (Agros/Proleite/Lacticoop) é um
monopólio com responsabilidade no baixo preço aos produtores. Deve dizer ainda como compatibiliza tal
avaliação com a tese (correta) de que os agricultores precisam de ter organizações fortes e credíveis, porque
tal consideração coincide com a da grande distribuição e serve para desculpar a sua posição oligopsónia, e
assim elimina a urgente necessidade de uma intervenção reguladora e regulamentadora e uma forte
intervenção fiscalizadora do Estado.
Por outro lado, a votação dos Deputados do CDS-PP (e também do PSD e PS) em recentes documentos
«sobre os desequilíbrios na cadeia de abastecimento alimentar» do Parlamento Europeu, mostra falta de
vontade política para enfrentar, de frente e de facto, o problema dos baixos preços à produção agroalimentar!
Em segundo lugar o CDS/PP, esquece que o rendimento dos produtores de leite depende de uma
«tesoura» de preços: preço do leite versus preço dos fatores de produção. Produzir leite hoje custa mais 30%
do que há 10 anos, mas os preços do leite no produtor baixaram 4%! Isto é, a perda de rendimentos e a
falência das explorações resultam da conjugação de redução/estagnação do preço do leite com a brutal subida
dos custos dos principais fatores de produção — gasóleo, rações, adubos, eletricidade, água, produtos
veterinários, crédito, seguros, etc. E sobre isto o projeto de resolução do CDS-PP (e também o do PSD) nada
diz.
O projeto de resolução nº 182/XII (1.ª), do CDS/PP, é um exercício de ruído político, com um preâmbulo
inaceitável e recomendações inócuas e vazias de consequências políticas para atalhar os graves problemas
da produção e dos produtores de leite portugueses.
Mas apesar das considerações feitas, não será o PCP a levantar qualquer oposição ao «estabelecimento
de uma concorrência saudável no sector do leite e produtos lácteos» e à defesa das quotas leiteiras, pelo que
votou favoravelmente o projeto de resolução n.º 182/XII (1.ª).
O Deputado do PCP, Agostinho Lopes.
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