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Quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012 I Série — Número 75

XII LEGISLATURA 1.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2011-2012)

REUNIÃOPLENÁRIADE22DEFEVEREIRODE 2012

Presidente: Ex.mo Sr. António Filipe Gaião Rodrigues

Secretários: Ex.mos

Srs. Duarte Rogério Matos Ventura Pacheco Rosa Maria da Silva Bastos de Horta Albernaz

S U M Á R I O

O Sr. Presidente (António Filipe) declarou aberta a

sessão às 15 horas e 6 minutos. Deu-se conta da entrada na Mesa dos projetos de lei n.

os

174 e 176 a 179/XII (1.ª), dos projetos de resolução n.os

224 a 228/XII (1.ª) e das propostas de resolução n.

os 24 e 25/XII

(1.ª). Em declaração política, o Sr. Deputado Adolfo Mesquita

Nunes (CDS-PP) abordou a necessidade de o Estado disponibilizar aos candidatos ao ensino superior informação útil sobre os cursos existentes e, depois, respondeu a pedidos de esclarecimento dos Srs. Deputados Rui Jorge Santos (PS), Jorge Machado (PCP) e Ana Drago (BE).

Em declaração política, o Sr. Deputado Miguel Tiago (PCP) teceu críticas ao Governo por não ter concedido «tolerância de ponto» aos funcionários públicos na terça-feira de Carnaval, após o que deu resposta a pedidos de

esclarecimento dos Srs. Deputados José Luís Ferreira (Os Verdes) e Pedro Filipe Soares (BE).

Em declaração política, o Sr. Deputado João Semedo (BE) contestou a resposta acordada na última cimeira europeia à crise grega e defendeu a renegociação dos montantes e dos prazos do pagamento da dívida de Portugal, tendo, no final, respondido a pedidos de esclarecimento do Sr. Deputado João Oliveira (PCP).

Em declaração política, o Sr. Deputado Miguel Frasquilho (PSD) salientou alguns aspetos que deverão levar a que o nosso país obtenha uma terceira avaliação positiva em relação ao programa de assistência económica e financeira com que se comprometeu. Respondeu depois a pedidos de esclarecimento dos Srs. Deputados Pedro Jesus Marques (PS), Honório Novo (PCP), Pedro Filipe Soares (BE) e Heloísa Apolónia (Os Verdes).

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Foram discutidos os projetos de resolução n.os

203/XII (1.ª) — Recomenda ao Governo a adoção de um programa nacional de erradicação do fogo bacteriano em Portugal (PS), 225/XII (1.ª) — Recomenda ao Governo que apresente, com a maior brevidade possível, o plano de ação nacional para o controlo do fogo bacteriano e avalie possíveis fontes de financiamento para ressarcir os agricultores e os viveiristas dos prejuízos sofridos (CDS-PP) e 228/XII (1.ª) — Recomenda o reforço das medidas de combate às patologias vegetais e a criação de um conselho científico para a monitorização de pragas e doenças na produção agrícola e florestal (PSD). Intervieram os Srs. Deputados Miguel Freitas (PS), Manuel Isaac (CDS-PP), Paulo Batista Santos (PSD), Agostinho Lopes (PCP) e José Luís Ferreira (Os Verdes).

Foi apreciado o Decreto-Lei n.º 127/2011, de 31 de dezembro, que procede à transmissão para o Estado das responsabilidades com pensões previstas no regime de segurança social substitutivo constante de instrumento de regulamentação coletiva de trabalho vigente no sector bancário [apreciação parlamentar n.

o 7/XII (1.ª) (PCP)].

Fizeram intervenções, além do Sr. Secretário de Estado da Administração Pública (Hélder Rosalino), os Srs. Deputados Honório Novo (PCP), Pedro Filipe Soares (BE), Carlos Santos Silva (PSD), João Galamba (PS), José Luís Ferreira (Os Verdes) e João Pinho de Almeida (CDS-PP).

Entretanto, deu-se conta da entrada na Mesa dos projetos de resolução n.

os 229 e 230/XII (1.ª).

Procedeu-se ao debate conjunto da petição n.º 15/XI (1.ª) — Apresentada pela Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses — Intersindical Nacional (CGTP-IN), solicitando à Assembleia da República a urgente eliminação dos paraísos fiscais, e do projeto de resolução n.º 226/XII (1.ª) — Recomenda ao Governo ações para a eliminação dos paraísos fiscais (BE), tendo usado da palavra os Srs. Deputados Pedro Filipe Soares (BE), Elsa Cordeiro (PSD), João Galamba (PS), Paulo Sá (PCP), Vera Rodrigues (CDS-PP), José Luís Ferreira (Os Verdes), José Manuel Rodrigues (CDS-PP), Jacinto Serrão (PS) e Hugo Velosa (PSD).

O Sr. Presidente encerrou a sessão eram 17 horas e 55 minutos.

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O Sr. Presidente (António Filipe): — Srs. Deputados, temos quórum, pelo que declaro aberta a sessão.

Eram 15 horas e 6 minutos.

Deputados presentes à sessão:

Partido Social Democrata (PSD)

Adriano Rafael de Sousa Moreira

Afonso Gonçalves da Silva Oliveira

Amadeu Albertino Marques Soares Albergaria

Ana Sofia Fernandes Bettencourt

Andreia Carina Machado da Silva Neto

António Carlos Sousa Gomes da Silva Peixoto

António Costa Rodrigues

António Egrejas Leitão Amaro

António Fernando Couto dos Santos

António Manuel Pimenta Prôa

António Pedro Roque da Visitação Oliveira

Arménio dos Santos

Bruno Jorge Viegas Vitorino

Bruno Manuel Pereira Coimbra

Carina João Reis Oliveira

Carla Maria de Pinho Rodrigues

Carlos Eduardo Almeida de Abreu Amorim

Carlos Manuel Faia São Martinho Gomes

Carlos Manuel dos Santos Batista da Silva

Cristóvão Duarte Nunes Guerreiro Norte

Cristóvão Simão Oliveira de Ribeiro

Cristóvão da Conceição Ventura Crespo

Duarte Filipe Batista de Matos Marques

Duarte Rogério Matos Ventura Pacheco

Eduardo Alexandre Ribeiro Gonçalves Teixeira

Elsa Maria Simas Cordeiro

Emídio Guerreiro

Emília de Fátima Moreira dos Santos

Fernando Luís de Sousa Machado Soares Vales

Fernando Mimoso Negrão

Fernando Nuno Fernandes Ribeiro dos Reis

Fernando Ribeiro Marques

Fernando Virgílio Cabral da Cruz Macedo

Guilherme Henrique Valente Rodrigues da Silva

Hugo José Teixeira Velosa

Hélder António Guerra de Sousa Silva

Joana Catarina Barata Reis Lopes

Joaquim Carlos Vasconcelos da Ponte

Jorge Paulo da Silva Oliveira

José Manuel Marques de Matos Rosa

José Manuel de Albuquerque Portocarrero Canavarro

José Manuel de Matos Correia

José Mendes Bota

João Bosco Soares Mota Amaral

João Carlos Figueiredo Antunes

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João Manuel Lobo de Araújo

Laura Maria Santos de Sousa Esperança

Luís Filipe Montenegro Cardoso de Morais Esteves

Luís Filipe Valenzuela Tavares Menezes Lopes

Luís Manuel Morais Leite Ramos

Luís Pedro Machado Sampaio de Sousa Pimentel

Lídia Maria Bulcão Rosa da Silveira Dutra

Manuel Augusto Meirinho Martins

Manuel Filipe Correia de Jesus

Margarida Rosa Silva de Almeida

Maria Clara Gonçalves Marques Mendes

Maria Ester Vargas de Almeida e Silva

Maria Francisca Fernandes Almeida

Maria Isilda Videira Nogueira da Silva Aguincha

Maria José Quintela Ferreira Castelo Branco

Maria José Vieira Teodoro Moreno

Maria Manuela Pereira Tender

Maria Paula da Graça Cardoso

Maria da Conceição Feliciano Antunes Bretts Jardim Pereira

Maria da Conceição Vaz Barroso Carloto Caldeira

Maria da Graça Gonçalves da Mota

Maria das Mercês Gomes Borges da Silva Soares

Maurício Teixeira Marques

Miguel Jorge Reis Antunes Frasquilho

Mário José Magalhães Ferreira

Mário Nelson da Silva Vaz Simões

Mónica Sofia do Amaral Pinto Ferro

Nuno Filipe Miragaia Matias

Nuno Miguel Pestana Chaves e Castro da Encarnação

Nuno Rafael Marona de Carvalho Serra

Odete Maria Loureiro da Silva

Paulo Cardoso Correia da Mota Pinto

Paulo César Lima Cavaleiro

Paulo César Rios de Oliveira

Paulo Jorge Frazão Batista dos Santos

Paulo Jorge Simões Ribeiro

Pedro Alexandre Antunes Faustino Pimpão

Pedro Augusto Cunha Pinto

Pedro Augusto Lynce de Faria

Pedro Filipe dos Santos Alves

Pedro Manuel Tavares Lopes de Andrade Saraiva

Pedro do Ó Barradas de Oliveira Ramos

Ricardo Augustus Guerreiro Baptista Leite

Rosa Maria Pereira Araújo Arezes

Sérgio Sousa Lopes Freire de Azevedo

Teresa de Andrade Leal Coelho

Teresa de Jesus Costa Santos

Ulisses Manuel Brandão Pereira

Valter António Gaspar de Bernardino Ribeiro

Vasco Manuel Henriques Cunha

Ângela Maria Pinheiro Branquinho Guerra

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Partido Socialista (PS)

Acácio Santos da Fonseca Pinto

Alberto Bernardes Costa

Alberto de Sousa Martins

Ana Catarina Veiga Santos Mendonça Mendes

Ana Paula Mendes Vitorino

António Fernandes da Silva Braga

António José Martins Seguro

António Manuel Soares Serrano

António Ramos Preto

Artur Miguel Claro da Fonseca Mora Coelho

Basílio Adolfo de Mendonça Horta da Franca

Carlos Filipe de Andrade Neto Brandão

Carlos Manuel Pimentel Enes

Eduardo Arménio do Nascimento Cabrita

Eduardo Luís Barreto Ferro Rodrigues

Elza Maria Henriques Deus Pais

Eurídice Maria de Sousa Pereira

Fernando Manuel de Jesus

Fernando Pereira Serrasqueiro

Francisco José Pereira de Assis Miranda

Glória Maria da Silva Araújo

Idália Maria Marques Salvador Serrão

Inês de Saint-Maurice de Esteves de Medeiros Vitorino de Almeida

Isabel de Lima Mayer Alves Moreira

Jacinto Serrão de Freitas

João Paulo Feteira Pedrosa

João Raul Henriques Sousa Moura Portugal

João Saldanha de Azevedo Galamba

Jorge Lacão Costa

Jorge Manuel Capela Gonçalves Fão

José Adelmo Gouveia Bordalo Junqueiro

José António Fonseca Vieira da Silva

José Carlos Correia Mota de Andrade

José Carlos das Dores Zorrinho

José Duarte Piteira Rica Silvestre Cordeiro

José Manuel Lello Ribeiro de Almeida

Júlio Francisco Miranda Calha

Laurentino José Monteiro Castro Dias

Luís António Pita Ameixa

Luís Miguel Morgado Laranjeiro

Manuel Francisco Pizarro de Sampaio e Castro

Manuel José de Faria Seabra Monteiro

Manuel Pedro Cunha da Silva Pereira

Marcos da Cunha e Lorena Perestrello de Vasconcellos

Maria Antónia Moreno Areias de Almeida Santos

Maria de Belém Roseira Martins Coelho Henriques de Pina

Maria Gabriela da Silveira Ferreira Canavilhas

Maria Helena dos Santos André

Maria Hortense Nunes Martins

Maria Isabel Coelho Santos

Maria Isabel Solnado Porto Oneto

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Maria Odete da Conceição João

Mário Manuel Teixeira Guedes Ruivo

Miguel João Pisoeiro de Freitas

Nuno André Araújo dos Santos Reis e Sá

Nuno André Neves Figueiredo

Paulo Jorge Oliveira de Ribeiro Campos

Pedro Filipe Mota Delgado Simões Alves

Pedro Manuel Dias de Jesus Marques

Pedro Manuel Farmhouse Simões Alberto

Pedro Nuno de Oliveira Santos

Renato Luís de Araújo Forte Sampaio

Ricardo Manuel de Amaral Rodrigues

Rosa Maria da Silva Bastos da Horta Albernaz

Rui Jorge Cordeiro Gonçalves dos Santos

Rui Paulo da Silva Soeiro Figueiredo

Rui Pedro Gonçalves Duarte

Sérgio Paulo Mendes de Sousa Pinto

Sónia Ermelinda Matos da Silva Fertuzinhos

Vitalino José Ferreira Prova Canas

Partido Popular (CDS-PP)

Abel Lima Baptista

Adolfo Miguel Baptista Mesquita Nunes

Altino Bernardo Lemos Bessa

Artur José Gomes Rêgo

Inês Dória Nóbrega Teotónio Pereira Bourbon Ribeiro

Isabel Maria Mousinho de Almeida Galriça Neto

José Duarte de Almeida Ribeiro e Castro

José Helder do Amaral

José Lino Fonseca Ramos

José Manuel de Sousa Rodrigues

João Guilherme Nobre Prata Fragoso Rebelo

João Manuel de Serpa Oliva

João Paulo Barros Viegas

João Pedro Guimarães Gonçalves Pereira

João Rodrigo Pinho de Almeida

Manuel Fialho Isaac

Maria Margarida Avelar Santos Nunes Marques Neto

Michael Lothar Mendes Seufert

Nuno Miguel Miranda de Magalhães

Raúl Mário Carvalho Camelo de Almeida

Telmo Augusto Gomes de Noronha Correia

Teresa Margarida Figueiredo de Vasconcelos Caeiro

Teresa Maria de Moura Anjinho Tomás Ruivo

Vera Lúcia Alves Rodrigues

Partido Comunista Português (PCP)

Agostinho Nuno de Azevedo Ferreira Lopes

António Filipe Gaião Rodrigues

Artur Jorge da Silva Machado

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Bernardino José Torrão Soares

Francisco José de Almeida Lopes

Jerónimo Carvalho de Sousa

José Honório Faria Gonçalves Novo

João Augusto Espadeiro Ramos

João Guilherme Ramos Rosa de Oliveira

Miguel Tiago Crispim Rosado

Paula Alexandra Sobral Guerreiro Santos Barbosa

Paulo Miguel de Barros Pacheco Seara de Sá

Rita Rato Araújo Fonseca

Bloco de Esquerda (BE)

Ana Isabel Drago Lobato

Catarina Soares Martins

Francisco Anacleto Louçã

João Pedro Furtado da Cunha Semedo

Luís Emídio Lopes Mateus Fazenda

Maria Cecília Vicente Duarte Honório

Mariana Rosa Aiveca

Pedro Filipe Gomes Soares

Partido Ecologista «Os Verdes» (PEV)

Heloísa Augusta Baião de Brito Apolónia

José Luís Teixeira Ferreira

O Sr. Presidente (António Filipe): — Srs. Deputados, antes de iniciarmos o período destinado a

declarações políticas, peço ao Sr. Secretário que nos dê conta do expediente.

O Sr. Secretário (Duarte Pacheco): — Sr. Presidente, Sr.as

e Srs. Deputados, deram entrada na Mesa, e

foram admitidas, as seguintes iniciativas legislativas: projetos de lei n.os

174/XII (1.ª) — Aprova o regime

jurídico da classificação de arvoredo de interesse público (Revoga o Decreto-Lei n.º 28 468, de 15 de fevereiro

de 1938) (PS), que baixou às 7.ª e 11.ª Comissões, 176/XII (1.ª) — Altera o complemento solidário para idosos

a fim de garantir que é justo e acessível aos que necessitam de apoio (BE), que baixou à 10.ª Comissão,

177/XII (1.ª) — Introduz uma taxa sobre a transação de produtos financeiros (taxa Tobin) (BE), que baixou à

5.ª Comissão, 178/XII (1.ª) — Alarga as famílias com capacidade de adoção, alterando a Lei n.º 9/2010, de 31

de maio, e a Lei n.º 7/2001, de 11 de maio (Os Verdes), que baixou à 1.ª Comissão, e 179/XII (1.ª) — Procede

à alteração ao Código do Trabalho (Lei n.º 7/2009, de 12 de fevereiro, alterada pelas Leis n.os

105/2009, de 14

de setembro, e 53/2011, de 14 de outubro), que baixou à 10.ª Comissão; projetos de resolução n.os

224/XII

(1.ª) — Recomenda ao Governo a suspensão imediata do processo de encerramento dos Centros Novas

Oportunidades e a assunção dos encargos relativos ao funcionamento daqueles cujo financiamento foi

recusado (BE), que baixou à 8.ª Comissão, 225/XII (1.ª) — Recomenda ao Governo que apresente, com a

maior brevidade possível, o plano de ação nacional para o controlo do fogo bacteriano e avalie possíveis

fontes de financiamento para ressarcir os agricultores e os viveiristas dos prejuízos sofridos (CDS-PP), que

baixou à 7.ª Comissão, 226/XII (1.ª) — Recomenda ao Governo ações para a eliminação dos paraísos fiscais

(BE), que baixou à 5.ª Comissão, 227/XII (1.ª) — Exige a manutenção da gestão pública e autónoma dos

portos portugueses (BE), que baixou à 7.ª Comissão, e 228/XII (1.ª) — Recomenda o reforço das medidas de

combate às patologias vegetais e a criação de um conselho científico para a monitorização de pragas e

doenças nas produções agrícola e florestal (PSD), que baixou à 7.ª Comissão; e propostas de resolução n.os

24/XII (1.ª) — Aprova a Convenção n.º 184, sobre a Segurança e a Saúde na Agricultura, adotada pela

Conferência Geral da Organização Internacional do Trabalho, na sua 89.ª Sessão, realizada em Genebra, em

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21 de junho de 2001, que baixou à 2.ª Comissão, e 25/XII (1.ª) — Aprova a Convenção n.º 183, relativa à

Revisão da Convenção (revista) sobre a Proteção da Maternidade, 1952, adotada pela Conferência Geral da

Organização Internacional do Trabalho, na sua 88.ª Sessão, realizada em Genebra, em 15 de junho de 2000,

que baixou, igualmente, à 2.ª Comissão.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Srs. Deputados, vamos iniciar o período de declarações políticas.

A Mesa regista a inscrição de quatro Srs. Deputados para proferirem declarações políticas, concretamente

dos Srs. Deputados Adolfo Mesquita Nunes, Miguel Tiago, João Semedo e Miguel Frasquilho.

Assim, tem a palavra, em primeiro lugar, o Sr. Deputado Adolfo Mesquita Nunes.

O Sr. Adolfo Mesquita Nunes (CDS-PP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Todos os anos milhares de

estudantes são confrontados com uma das mais importantes escolhas que têm de fazer nas suas vidas: a

escolha de qual o curso a seguir e, dentro do possível, a escolha da instituição de ensino correspondente.

Desta escolha, sobretudo para aqueles que menos hipóteses têm de tentar uma segunda oportunidade,

depende grande parte do seu futuro profissional, académico e até pessoal.

Custa por isso a crer que o nosso Estado, sempre tão pronto a estender a sua mão tentacular, se venha

dispensando da simples tarefa de dar aos estudantes toda a informação necessária para uma escolha

consciente.

O Sr. Artur Rêgo (CDS-PP): — Muito bem!

O Sr. Adolfo Mesquita Nunes (CDS-PP): — Desenganem-se aqueles que veem neste repto um convite

para que o Estado entre numa das mais importantes decisões que um estudante tem de tomar. É

precisamente por ser uma das suas mais importantes decisões que o Estado deve ser deixado de fora. São os

estudantes, apenas eles e quem eles entenderem, que devem fundar uma tão importante decisão de futuro.

Mas já é função do Estado, enquanto agente prestador e regulador, disponibilizar a informação para que

cada estudante possa fazer a sua escolha.

Vozes do CDS-PP: — Muito bem!

O Sr. Adolfo Mesquita Nunes (CDS-PP): — O Estado não tem de fazer sugestões nem de dar opiniões;

não tem de dizer o que é bom nem o que é mau. O Estado não tem de fazer de ama de companhia. Não!

Deixemos para os estudantes a tarefa de decidir o que é bom e o que é mau e deixemos para as suas

famílias, para os seus amigos ou para ajuda especializada o encargo de dar sugestões e opiniões.

O que o Estado tem de fazer — e não faz — é disponibilizar a informação que só ele pode coligir, para que

cada um possa tomar a sua decisão. E, se o Estado não faz este trabalho, Srs. Deputados, é hora de passar a

fazê-lo.

Não podemos continuar a ter um número significativo de estudantes a trocar de cursos ou instituições,

obrigados a gastar recursos não previstos e a estender a sua vida académica para lá do que podem suportar

apenas porque não tiveram acesso à informação relevante.

Não podemos continuar a ter um número significativo de estudantes a aplicar-se numa carreira,

desconhecendo as hipóteses de futuro que a mesma oferece, seja em termos de emprego, seja em termos de

investigação ou de especialização académica.

Por isso, Srs. Deputados, o CDS apresentará, hoje mesmo, um projeto de resolução que recomenda ao

Governo que crie um contrato de transparência de acesso ao ensino superior, um contrato entre o Estado e o

candidato ao ensino superior, através do qual o Estado fica obrigado a disponibilizar, num portal, toda a

informação necessária para a escolha que o candidato deve fazer.

Para além disso, esse portal deve permitir que cada candidato construa o seu próprio ranking, dando maior

ou menor peso aos critérios que considerar relevantes, de forma a encontrar, ele próprio, a sua hierarquização

de cursos ou instituições.

Será o candidato, não será o Estado, a determinar quais os critérios, de entre os possíveis, que devem ser

tidos em conta na sua decisão.

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Para cada critério, o Ministério deverá, segundo a nossa recomendação, especificar a metodologia de

recolha e tratamento da informação pelas instituições, de modo a assegurar uma uniformidade metodológica e

a conformidade com regras previamente estabelecidas.

Por fim, o Ministério da Educação e Ciência, através de um dos seus organismos que reúna competências

para o efeito, deverá analisar e verificar, antes de os tratar e publicar, os dados recebidos das instituições de

ensino.

Srs. Deputados, não estamos, com esta proposta, perante a criação de rankings oficiais; estamos perante a

criação de milhares de rankings, um por cada candidato. Será o candidato, e não o Estado, a determinar quais

os critérios que pretende levar em conta, e qual o seu peso relativo, e quais os que não lhe interessam.

Que fique bem clara esta nossa posição: o Estado não pode nem deve presumir os critérios que cada

candidato deve analisar, nem deve, sequer, sugerir qualquer tipo de peso relativo de cada um deles. É o

candidato, e apenas o candidato, que deve fazer a seleção de critérios.

E que critérios disponíveis serão esses? Desenganem-se aqueles que pensam que vou apenas falar de

empregabilidade. Sim! A empregabilidade é um critério que, por exemplo, considero essencial numa escolha

como essa. Mas quem sou eu para impor um critério aos estudantes? Quem sou eu para dizer a um estudante

quais os critérios que deve levar em linha de conta na sua escolha? A última coisa que me passa pela cabeça,

Srs. Deputados, é utilizar a função legislativa, ao meu alcance, para formatar as escolhas de terceiros. Cada

um é livre, deve ser livre, tem de ser livre de fazer as suas escolhas e de encarar a empregabilidade da forma

que quiser.

Vozes do CDS-PP: — Muito bem!

O Sr. Adolfo Mesquita Nunes (CDS-PP): — A nós, enquanto Deputados, cumpre-nos garantir, mesmo

que em desacordo com as opções de cada um, que essas escolhas possam acontecer e que aconteçam com

o máximo de informação.

Por isso, os critérios disponíveis deverão abarcar um amplo conjunto de realidades que possam fundar a

escolha aqui em causa: critérios relativos às características do curso e da sua instituição; critérios relativos à

satisfação dos alunos com os cursos; critérios relativos ao corpo docente, à sua formação e ao rácio de alunos

por professor; critérios relativos aos departamentos disciplinares, investigação e carreira pós-licenciatura;

critérios relativos às parcerias institucionais e internacionais das instituições; e, sim, também, critérios relativos

à empregabilidade, porque não podemos negar que, para uma grande maioria dos estudantes, a

empregabilidade é uma prioridade.

Vozes do CDS-PP: — Muito bem!

O Sr. Adolfo Mesquita Nunes (CDS-PP): — Quantos dos formandos, na instituição, por curso, estão

empregados seis meses, um ano, três anos após a conclusão da formação? Quantos, entre os que estão

empregados, estão a trabalhar na sua área de formação e quantos estão a trabalhar fora da sua área de

formação? Qual a percentagem dos que conseguiram emprego através dos serviços de colocação das

instituições de ensino? Qual a remuneração média, dois anos após a conclusão do curso e cinco anos após a

conclusão do curso? Especiais exigências na metodologia de recolha destes dados terão de ser empregues

para evitar, aqui, informação pouco fidedigna.

Sabemos que a educação não se resume a estes critérios e sabemos também que nem tudo na educação

é mensurável ou quantificável. Mas esta proposta pretende apenas dar indicadores que, não sendo absolutos,

serão úteis para os candidatos ao ensino superior.

Srs. Deputados, não existe uma varinha mágica para criar emprego; não existe uma varinha mágica que

adapte o sistema de ensino ao mercado de trabalho; não existe uma varinha mágica que assegure o sucesso

de todas as carreiras académicas!!

Esta proposta não é, por isso, nenhuma receita mágica para nenhum desses problemas, e há muitos outros

para resolver. Esta proposta vem apenas promover uma escolha informada por cada um dos candidatos, vem

intensificar a transparência no sistema de ensino superior e vem abrir espaço a uma concorrência saudável no

sistema de ensino.

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O Sr. Presidente (António Filipe): — Sr. Deputado, queira concluir.

O Sr. Adolfo Mesquita Nunes (CDS-PP): — Termino já, Sr. Presidente.

Para quem acredita que 150 000 postos de trabalho se criam por decreto, esta nossa proposta pode

parecer coisa pouca, mas, para quem acredita na iniciativa dos portugueses como o mais eficaz motor de

progresso, esta proposta, que demora tempo a implementar, só peca por tardia.

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Inscreveram-se, para pedir esclarecimentos, os Srs. Deputados Rui

Jorge Santos, Jorge Machado e Ana Drago.

Tem a palavra, em primeiro lugar, o Sr. Deputado Rui Jorge Santos.

O Sr. Rui Jorge Santos (PS): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Adolfo Mesquita Nunes, a ideia,

genericamente, é positiva, porque é positivo tudo o que sirva para elucidar os estudantes, aqueles que

pretendem investir na sua formação, tirar um curso superior. Tudo o que vá nesse sentido, obviamente, é útil.

Mas — e há sempre um «mas» —, embora entendamos que o citério da empregabilidade, em termos de

informação, seja um critério a ter em conta, para que cada um possa, à partida, fazer as suas escolhas, não

nos parece que um estudo sobre empregabilidade permita tirar ilações ou possa servir para fechar cursos e

coartar a possibilidade de os estudantes acederem ao sistema de ensino superior público em Portugal.

Portanto, aquilo que gostaria de perguntar-lhe, em concreto, é qual a metodologia a utilizar e que sistemas

comparados existem, neste momento, relativamente à proposta que, hoje, aqui nos traz.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Não sei se o Sr. Deputado Adolfo Mesquita Nunes pretende

responder de imediato ou em conjunto…

O Sr. Adolfo Mesquita Nunes (CDS-PP): — Respondo de imediato, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Então, tem a palavra, Sr. Deputado.

O Sr. Adolfo Mesquita Nunes (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Rui Jorge Santos, o primeiro

ponto que quero focar é o de que não cabe a esta Câmara decidir quais os critérios mais ou menos adequados

para que um aluno escolha um curso, o que é importante é que os vários critérios possíveis para essa escolha

possam estar disponíveis, cabendo, depois, a cada aluno, descobrir quais lhe interessam.

A empregabilidade, por exemplo, sendo um critério muito importante para determinado tipo de cursos,

poderá não o ser para outros ou para determinadas opções de vida dos alunos.

Portanto, a questão da empregabilidade, não sendo eleita como eixo fundamental dos critérios, porque não

o é, como, aliás, referi na tribuna, não tem qualquer outro objetivo que não seja apenas o de fornecer

informação aos alunos e não está relacionada com qualquer tipo de iniciativa no sentido de encerrar ou deixar

de encerrar cursos.

Quanto à forma como os dados serão tratados pelo Ministério, já estão a ser tratados. O Gabinete de

Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais do Ministério da Educação já emite informação

estatística sobre empregabilidade, a qual tem de ser afinada para este propósito, porque, até agora, a

informação é disponibilizada para efeitos meramente estatísticos, mas tem de passar a ser dada de forma a

que cada aluno possa, com facilidade, aceder a essa informação e cruzá-la com outra.

Estou consciente de que esta é uma proposta que demora algum tempo a implementar, mas todo o tempo

que demorarmos a tomar esta decisão será tempo que estaremos a adiar para implementá-la e, portanto,

estou certo de que será possível, já com os dados que temos, começarmos a trabalhar. Mas digo-lhe o

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seguinte: não é nosso objetivo, de forma alguma, eleger o critério de empregabilidade como sendo o critério

que todos os alunos devem seguir, antes pelo contrário.

Vozes do PSD e do CDS-PP: — Muito bem!

O Sr. Adolfo Mesquita Nunes (CDS-PP): — A liberdade de escolha é que é a nossa linha de orientação

neste projeto.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Jorge

Machado.

O Sr. Jorge Machado (PCP): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Adolfo Mesquita Nunes, a mensagem que

nos transmite não é nova, aliás, no anterior governo, os Ministérios da Educação e da Ciência, Tecnologia e

Ensino Superior já tinham apontado este caminho. Mas, depois da emigração, que é a resposta dada aos

jovens que estão no desemprego e que este Governo encontra para milhares de jovens que estão no

desemprego, a resposta milagrosa é esta que aponta aqui, nesta declaração política, que é a seguinte: não

tirem um curso superior, porque não vão ter emprego, no futuro. No fundo é essa a mensagem, ou seja,

depois da emigração a mensagem é «não tirem o curso, porque não vale a pena, não vão encontrar

emprego».

Mas, Sr. Deputado, esta opção e este discurso têm o perigo seguinte: é a subordinação dos interesses do

Estado, o interesse nacional de promover a oferta de cursos superiores, em função de quem? Em função dos

interesses dos grandes grupos económicos. Se os grandes grupos económicos entenderem que não há

necessidade de oferta relativamente a esta matéria, então, publicite-se, e não há qualquer tipo de resposta, e

condicionando-se dessa forma a oferta e as escolhas das pessoas.

Mas ainda quero dar-lhe a nota final seguinte: é que — o Sr. Deputado não o referiu — temos mais de 400

000 jovens desempregados. Era preciso tomar posições políticas e medidas para que estes jovens tenham

efetivamente emprego. Agora, esta solução, esta declaração política, não resolve problema absolutamente

nenhum, a não ser desviar pessoas do curso que, eventualmente, possam querer tirar ou não.

A verdade é que temos 400 000 jovens no desemprego que são um desperdício, com consequências

sociais brutais! E esta medida não resolve problema absolutamente nenhum! São pessoas que fazem falta ao

País, são pessoas que estão desperdiçadas, porque estão no desemprego, e o que o Governo faz é, pelas

opções erradas que toma, promover, cada vez mais, o maior crescimento do desemprego e o desperdício

destas pessoas que são tão necessárias ao nosso País.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Adolfo Mesquita

Nunes.

O Sr. Adolfo Mesquita Nunes (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Jorge Machado, muito obrigado

pelas questões que me colocou.

Tentei começar por dizer que esta proposta que aqui apresentamos não é uma varinha mágica para

resolver problemas de desemprego.

Vozes do CDS-PP: — Exatamente! Basta ouvir!

O Sr. Adolfo Mesquita Nunes (CDS-PP): — Disse-o, e não o fiz apenas por retórica; estou convencido

disso mesmo. O que esta proposta veio fazer foi dar mais informação aos alunos para que eles possam fazer

uma escolha mais consciente.

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Mas eu também não disse que a escolha que o aluno vai fazer é a escolha certa; até me prontifiquei a dizer

que os alunos poderiam adotar critérios que eu considerasse que eram critérios pouco úteis para a sua

escolha.

Vozes do CDS-PP: — Exatamente!

O Sr. Adolfo Mesquita Nunes (CDS-PP): — Mas cada aluno deve fazer a sua escolha. É por isso que não

percebo que fale da subordinação aos interesse de grandes grupos económicos, quando o único interesse ao

qual quero subordinar esta proposta é o do candidato ao ensino superior que tem de tentar saber quais os

critérios que para ele são mais relevantes para poder concorrer ou não a um curso.

Vozes do CDS-PP: — Exatamente!

O Sr. Adolfo Mesquita Nunes (CDS-PP): — Eu também disse, Sr. Deputado, que o critério da

empregabilidade não era o único critério que qualquer aluno devesse seguir. Podemos ter alunos interessados

em formação complementar, em investigação, em carreira académica…

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Claro!

O Sr. Adolfo Mesquita Nunes (CDS-PP): — Para esses alunos, por exemplo, o critério de

empregabilidade poderá ter um menor peso ou, até, não ter peso algum.

Vozes do CDS-PP: — É indiferente!

O Sr. Adolfo Mesquita Nunes (CDS-PP): — É por isso que teremos milhares e milhares de rankings,

como eu disse, um por cada aluno, porque é cada aluno que define quais são os critérios pelos quais se deve

guiar.

Vozes do CDS-PP: — Muito bem!

O Sr. Adolfo Mesquita Nunes (CDS-PP): — Da minha parte, nunca ouviriam uma proposta — eu nunca a

traria aqui — em que viesse dizer que era o Estado que definiria esses critérios! Da minha parte, nunca

poderia trazer uma proposta dessa forma.

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Claro!

O Sr. Adolfo Mesquita Nunes (CDS-PP): — E também disse uma outra coisa, Sr. Deputado: há muitos

outros problemas por resolver, estou ciente disso, mas vamos ter de resolvê-los um por um. Porém, existe um

problema que é de fácil resolução: é a falta de informação que os alunos têm relativamente aos cursos.

Vozes do CDS-PP: — Claro!

O Sr. Adolfo Mesquita Nunes (CDS-PP): — E se esse é de fácil resolução, embora de difícil

implementação, por que não começar já? Por que não começar agora? Já vamos tarde!

Como é possível que, hoje, um aluno que se candidate ao ensino superior não tenha, sequer, a informação

mínima para poder fundar a sua opinião e fazer a sua escolha (certa ou errada)?! E se a sua escolha foi certa

ou errada é uma coisa que nunca vamos saber, porque uma escolha certa, hoje, pode ser errada, daqui a 10

anos, ou uma escolha errada, hoje, pode ser certa, daqui a 10 anos. E esse atestado de correção ou de

fracasso numa escolha, infelizmente, ninguém o tem.

Aplausos do CDS-PP.

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O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Ana Drago.

A Sr.ª Ana Drago (BE): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Adolfo Mesquita Nunes, fez-nos aqui uma

intervenção que eu diria que é peculiar. Veio falar-nos sobre decisões, tomadas de decisões por candidatos ao

ensino superior que determinam a sua vida e que, por isso, são decisões muitíssimo importantes…

Devo dizer-lhe, da parte do Bloco de Esquerda, o seguinte: creio que deve ser disponibilizada toda a

informação aos candidatos, de forma a eles poderem, de acordo com os seus interesses, a sua vocação, a

sua ambição, fazer essa escolha, no pleno conhecimento de toda a informação que considerarem relevante.

Mas noto também que deixou aqui dito o que fica para «memória futura» e espero que não seja apenas

uma posição pessoal, porque o senhor não está aqui em nome pessoal, está a representar um programa

político; mas espero que seja também esse o critério do seu Governo. Ou seja, o Sr. Deputado deixou aqui

dito que o critério da empregabilidade provavelmente não é o critério de escolha para alguns estudantes, mas

também não pode ser o critério de escolha do investimento do Estado ao nível da formação superior, porque a

formação e o ensino superior não servem apenas o mercado de trabalho e a economia, servem uma

sociedade.

Portanto, como aqui nos disse, há um conjunto de áreas de estudo e de investigação que são necessárias

para sustentar uma sociedade e não apenas a economia. E isso fica para «memória futura», e o Sr. Deputado,

se for esse o critério escolhido pelo seu Governo, será chamado aqui para cumprir a sua palavra.

Mas o Sr. Deputado falou-nos de uma palavra-chave que é a de «critérios», mas em toda uma intervenção

sobre informações, sobre dados, sobre critérios de análise, não nos falou sobre os critérios fundamentais que,

hoje, estão a determinar as escolhas dos candidatos ao ensino superior. E são dois: a questão do desemprego

jovem, a questão do desemprego dos licenciados; e a questão das condições financeiras das famílias.

Temos, hoje, uma situação absolutamente estranha, anormal, que é a de termos a geração mais

qualificada da história portuguesa, que nasceu do contributo de toda a sociedade portuguesa para formar e

qualificar os seus jovens e, hoje, um terço dos jovens está no desemprego. Há todo um investimento, há todo

um trabalho, há todas as decisões fundamentais para a vida, tomadas pelos estudantes e pelos jovens que se

qualificaram, que, hoje, não têm resposta.

Ora, ao falar de formação superior não pode, com certeza, fugir à questão do desemprego jovem; não

podemos criar bases de dados de informação e não responder a esta que é determinante. Há um investimento

da sociedade que, hoje, não tem repercussão e, mais, que cria uma geração de pessoas que estudaram e que

não têm, hoje, resposta ao seu estudo.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Queira concluir, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Ana Drago (BE): — Vou terminar, Sr. Presidente.

Mas há um outro critério fundamental, que é o critério financeiro das famílias — e vou tentar ser muito

breve, Sr. Presidente…

O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem mesmo de ser muito breve, Sr.a Deputada.

A Sr.ª Ana Drago (BE): — Termino, Sr. Presidente, dizendo o seguinte: é que, hoje, a capacidade

financeira das famílias é determinante para escolher o curso. Hoje, quando os estudantes escolhem um curso,

naquilo em que pensam é se há um curso na cidade em que estão a residir, não é em qual é a sua vocação ou

qual é o grau de empregabilidade desse curso.

É que uma família que tenha um pai, uma mãe e um filho, em que pai e mãe ganhem 500 €, a bolsa que

têm da ação social escolar paga apenas as propinas, não paga deslocações, não paga o alojamento numa

outra cidade, não paga transportes, nem apoios ao estudo. E, portanto, hoje, o critério determinante é o da

crise social, é o da dificuldade financeira de aceder ao ensino superior.

O Sr. Luís Fazenda (BE): — Muito bem!

O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem mesmo de concluir, Sr.a Deputada.

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A Sr.ª Ana Drago (BE): — E é esse o debate que temos de ter para falar verdadeiramente das decisões

que afetam a vida dos estudantes, mas das decisões que afetam todo um País.

Muito obrigada pela tolerância, Sr. Presidente.

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Adolfo Mesquita

Nunes.

O Sr. Adolfo Mesquita Nunes (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.a Deputada Ana Drago, muito obrigado

pelas questões que me colocou, que foram muitas, e às quais vou tentar responder.

Em primeiro lugar, começo por registar, relativamente ao projeto de resolução ou, pelo menos, aos

princípios do projeto de resolução que o CDS apresentará, que quer o Partido Socialista quer o Bloco de

Esquerda manifestaram disponibilidade para viabilizar esse intuito de transparência.

Vozes do CDS-PP: — Muito bem!

O Sr. Adolfo Mesquita Nunes (CDS-PP): — Estamos, evidentemente, disponíveis para, quer da parte dos

critérios quer da parte das metodologias, encontrar o melhor projeto de resolução possível.

Vozes do CDS-PP: — Muito bem!

O Sr. Adolfo Mesquita Nunes (CDS-PP): — Falou, e concordo, no esforço que gerações e gerações

fizeram quer por parte das pessoas, das famílias, quer por parte dos políticos, no sentido de dotar o País de

uma geração mais qualificada.

Vozes do CDS-PP: — Muito bem!

O Sr. Adolfo Mesquita Nunes (CDS-PP): — Mas há uma peça-chave que falta neste esforço e que pode

ser dada, com este projeto de resolução, se o Governo ficar recomendado pela Assembleia, no sentido que

pretendemos: é o de que essas escolhas sejam cada vez mais informadas e cada vez mais conscientes.

Vozes do CDS-PP: — Muito bem!

O Sr. Adolfo Mesquita Nunes (CDS-PP): — Repare que não lhe digo, nem posso dizer-lhe, que a escolha,

por ser mais informada ou por ser mais consciente, é uma escolha imune ao risco. Como disse há pouco, uma

escolha, hoje, pode estar corretíssima e, 10 anos depois, não estar.

Vozes do CDS-PP: — Exatamente!

O Sr. Adolfo Mesquita Nunes (CDS-PP): — Não poderemos assegurar isso… E a mesma coisa quanto ao

inverso.

A única coisa que quero tentar trazer, que nos falta, ainda, e falta aos candidatos ao ensino superior, é

mais informação. Por conseguinte, não estamos a falar de outros problemas que o Governo reconhece (e eu

próprio na minha intervenção tive a oportunidade de dizer que há outros problemas), que são muitos e que

temos de resolver, que é o caso, por exemplo, da ação social, que o próprio Governo já reconheceu.

Também estou ciente de que muitas das escolhas que os alunos fazem são motivadas por razões

económicas ou familiares. Não neguei isso; disse, aliás, na minha intervenção que parte da decisão tem a ver

com isto. Mas também não posso negar que as universidades, elas próprias, dizem que a escolha que está em

causa na desistência da frequência do ensino superior, muitas das vezes, não é motivada pelas questões

económicas, mas pelo desagrado relativamente ao curso. Vejo, por exemplo, no jornal Público, a Vice-Reitora

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da Universidade de Coimbra que assegurou que metade das desistências não foram desistências efetivas,

porque se trataram de mudança de curso dentro da própria Universidade.

Vozes do CDS-PP: — Exatamente!

O Sr. Adolfo Mesquita Nunes (CDS-PP): — Portanto, há casos que, sim, senhor, são dramáticos, e temos

de chegar lá, que têm a ver com carências económicas; e há outros que se prendem com as más escolhas ou,

melhor, com as escolhas que os alunos consideraram que eram más, porque julgo que não nos cabe a nós,

Deputados, dizer o que é uma má escolha ou não é uma má escolha.

O que fica para «memória futura» da minha intervenção, Sr.a Deputada, é que este é um projeto para dar

informação aos alunos sobre um critério ou sobre os critérios que eles considerem ser mais relevantes. E se

falei do critério da empregabilidade não foi, certamente, para o associar à questão do financiamento; foi,

precisamente, para desfazer um equívoco que poderia surgir e que eu quis desfazer, desde logo.

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Muito bem!

O Sr. Adolfo Mesquita Nunes (CDS-PP): — Era o de que, com este projeto, o CDS estava a dizer que o

único critério pelo qual os alunos se deveriam guiar era o da empregabilidade. E, nessa onda — permitam-me

a expressão —, não entro! Considero que é cada aluno que deve definir. Eu não sou ninguém para dizer aos

alunos que critérios eles devam seguir e quanto a este Parlamento, a mesma coisa — e presumo que penso

por todos, assim.

De qualquer maneira, Sr.a Deputada, muito obrigado pelas suas questões.

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Vamos passar à segunda declaração política de hoje. Para esse

efeito, tem a palavra o Sr. Deputado Miguel Tiago.

O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: O Governo quis fazer o papel do «bom

aluno» da troica e cortar o Carnaval aos portugueses, mas perdeu essa batalha.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!

O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Quis tirar mais um feriado aos trabalhadores, mas o País demonstrou que

não é um fantoche na mão do Governo e que não está disposto a acatar as ordens de quem se quer impor

perante o povo, mas nunca levanta a voz perante a troica.

O Governo não deu «tolerância de ponto», mas foi feriado em Portugal.

Aplausos do PCP.

Por todo o País, nas autarquias, nos transportes públicos, na CP, no Metro, na RTP, na TAP, na ANA, nos

CTT, na Imprensa Nacional, na Águas de Portugal, em muitas empresas privadas, as portas estiveram

fechadas ou o trabalho foi organizado e pago, como o seria durante um feriado, como, aliás, o é a terça-feira

de Carnaval, em muitos contratos coletivos de trabalho.

O Governo perdeu a batalha e foi, ainda, o alvo do escárnio típico de uma altura carnavalesca, que trouxe

ao entrudo a luta e a revolta de um povo que, tendo um Governo vergado, não lhe quer seguir os passos. Essa

batalha perdeu também a Assembleia da República, com a decisão da Sr.ª Presidente (apoiada pelo PSD,

pelo CDS e pelo PS), ao colocar-se a reboque do Governo e em contramão com o País.

O País seguiu os corsos em luta e protesto, demonstrando que o Governo deveria estar mais preocupado

com os mais de 1,2 milhões de portugueses que não podem trabalhar, porque estão no desemprego, do que

com aqueles que gozam o feriado de Carnaval.

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O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!

O Sr. Miguel Tiago (PCP): — E outras batalhas perderá o Governo se persistir neste caminho da

arrogância típica de quem se mostra muito forte perante o povo, mas sempre muito servil ante os senhores do

dinheiro.

Vozes do PCP: — Muito bem!

O Sr. Miguel Tiago (PCP): — A situação em que o País se encontra, a degradação acentuada da

qualidade de vida dos portugueses, a desvalorização dos salários, os roubos nos subsídios, o alastramento da

pobreza, o crescimento galopante do desemprego, agravado pelo vasto desemprego entre jovens, o

aprofundamento da recessão económica são elementos que ilustram o resultado de anos e anos de políticas

de direita, protagonizadas ora pelo PS, ora pelo PSD, com ou sem o prestável amparo do CDS.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — É verdade!

O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Porém, resulta da reunião de ontem com a troica que, para estes senhores,

estes técnicos do FMI e da União Europeia, tal como para o PS, o PSD e o CDS, não são as opções de

desmantelamento do aparelho produtivo, a corrupção, a privatização de todas os sectores fundamentais da

nossa economia, a destruição das pescas, da agricultura e da indústria, a concentração da riqueza, a

reconstituição dos monopólios que representam um perigo para o nosso País. Não! Para estes senhores, o

que representa um perigo é a luta das populações, a luta dos trabalhadores, o levantamento espontâneo, mas

esclarecido, daqueles que empobrecem a trabalhar ou que não podem trabalhar, porque estão no

desemprego.

E desta avaliação não podemos retirar o Partido Socialista.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Ah, pois não!

O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Depois de ter feito parte do coro dos inflexíveis e de ter rejeitado

liminarmente a exigência do PCP para a renegociação dos prazos, montantes e juros da dívida, eis que agora

se apresenta como defensor — ainda que tímido — do alargamento dos prazos previstos no pacto de

agressão das troicas. Mas é preciso dizer que o PS defende mais tempo, apenas e só, para aplicar

exatamente as mesmas medidas!

PSD, PS e CDS colocam-se, afinal, na posição de sempre: do lado dos grandes interesses, constituindo

esse arco parlamentar da desgraça que quer, ainda que sem o assumir, conduzir o País para a situação em

que a Grécia já se encontra. São estes os responsáveis pelo caminho para o abismo e para a bancarrota que

o País está a trilhar — PS, PSD e CDS aplicam dedicadamente a receita que falha na Grécia e falhará em

Portugal, como já hoje se sente.

Sr. Presidente e Srs. Deputados: É ofensiva a desfaçatez com que se anuncia que a avaliação do

programa é «positiva». O PSD, o CDS e a troica rejubilam com os sucessos, mas que sucessos são esses?!

Os 14% de desemprego? O crescimento da dívida externa? A desvalorização dos salários e pensões? O

aumento incomportável dos preços? A destruição do serviço público de arte e cultura, do Serviço Nacional de

Saúde e do sistema educativo? A quebra no consumo interno e o empobrecimento de vastas camadas da

população ou o encerramento de empresas, umas atrás das outras?

A insensibilidade social e humana por detrás das palavras da troica, do PSD e do CDS são a ilustração de

que o sucesso do pacto, o sucesso do programa da troica é o falhanço do País!

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!

O Sr. Miguel Tiago (PCP): — A necessidade de renegociação da dívida afirma-se cada vez mais e com

mais evidência, porque está bem demonstrado que não há limites para a austeridade e para o roubo neste

pacto de agressão, a não ser aqueles que nós próprios — portugueses — viermos a impor-lhe.

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O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!

O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Ao contrário do que afirmam PSD, PS e CDS, este não é o caminho do

pagamento da dívida, mas, sim, o do seu incumprimento.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!

O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Mas este é, também, o caminho que convém aos grandes interesses

económicos, aos autores e beneficiários desta agenda ideológica que nos é imposta, materializando o mais

profundo e rude ataque às conquistas de Abril de que há memória. Para esses, Portugal pagará a dívida com

a servidão de um povo inteiro — como se a dignidade de um povo fossem juros da dívida —, e é preciso dizer

«não» a esse caminho de desgraça que ensombrou a vida dos portugueses durante 48 anos de ditadura!

«Piegas», Sr. Primeiro-Ministro, é quem «fala grosso» para baixo mas «fininho» para cima!

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exatamente!

O Sr. Miguel Tiago (PCP): — E corajosos não são os governantes ou os mandantes da troica

internacional, que enchem o peito perante aqueles que empobrecem a cada mês, perante os jovens

desempregados, os trabalhadores da Administração Pública ou do privado, mas, sim, aqueles que estão

dispostos a lutar para travar este rumo de destruição e de afundamento nacional!

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!

O Sr. Miguel Tiago (PCP): — É urgente assumir que, a cada dia que passa sob a sombra do Memorando,

se perdem direitos, se perde vida, trabalho e salários e que a vitória de Portugal não é a vitória da troica, mas

antes a sua derrota! É urgente resgatar a soberania e a democracia, que sofre sob o peso das fortunas

acumuladas à custa do trabalho do nosso povo.

É nessa luta que está e estará o PCP!

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Para pedir esclarecimentos, inscreveram-se os Srs. Deputados José

Luís Ferreira e Pedro Filipe Soares.

Tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Ferreira.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Então, e os «troicanos»?

O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Então, a troica nacional continua calada?!

O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Miguel Tiago, de facto, a troica diz

que está tudo bem, que o sinal é «positivo» e, portanto, até parece que o desemprego está a diminuir e os

rendimentos dos portugueses estão a subir…

O Sr. Deputado também fez referência ao Carnaval ou entrudo, que, de facto, tem uma tradição entre os

portugueses. Embora o Carnaval não conste, atualmente, da lista dos feriados obrigatórios que estão

consagrados na lei, existe uma tradição consolidada de organização de festas neste período, acabando o dia

de Carnaval por ser entendido (e até interiorizado pelos portugueses) como um verdadeiro feriado.

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Muito bem!

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O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — A terça-feira de Carnaval é, culturalmente, um dia assimilado

pelas pessoas como um feriado verdadeiro. Aliás, esse facto tem levado os portugueses a programarem com

tempo uma saída para passarem esse dia com a família, muitas vezes até com reservas de estadias.

Também o calendário escolar está feito de maneira a contemplar a terça-feira de Carnaval como um

feriado, por isso é que há uma interrupção letiva nesse período; muitos serviços da Administração Pública,

como é o caso dos centros de saúde e dos hospitais, não marcam consultas para esse dia, porque estão a

contar com o feriado; tribunais judiciais não agendam diligências para esse dia porque esperam que haja

feriado…

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Muito bem!

O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Contudo, este ano o Governo decidiu não considerar o dia de

Carnaval como um feriado; aliás, a decisão deste ano do Governo levou à situação caricata e até singular de

termos uma terça-feira de Carnaval na qual meio País esteve parado e meio País foi trabalhar, como, de resto,

mostra o facto de 70% dos municípios terem dado «tolerância de ponto» nesse dia.

Portanto, 70% dos municípios não foram na «conversa» do Governo e a parte do País que foi trabalhar

apenas o fez «a meio gás», porque não havia serviço de Correios, os CTT estavam fechados e os bancos

também.

Sr. Deputado, considera que a decisão do Governo foi um contributo para o equilíbrio das contas públicas,

ou tratou-se apenas de uma «partida de Carnaval»?

Por outro lado, Sr. Deputado, não nos parece muito razoável deixar nas mãos do Governo a faculdade de,

uma ou duas semanas antes do Carnaval, decidir não considerar o dia de Carnaval como um feriado,

frustrando as expectativas dos portugueses, das autarquias e até dos operadores turísticos, sem dar tempo

aos serviços para se reorganizarem, como aconteceu ontem.

Tendo em consideração esse facto, Os Verdes apresentaram ontem uma iniciativa legislativa com vista a

alterar o Código do Trabalho para tornar a terça-feira de Carnaval um feriado obrigatório.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Queira fazer o favor de concluir, Sr. Deputado.

O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Termino já, Sr. Presidente.

Gostaria que o Sr. Deputado Miguel Tiago se pronunciasse sobre a forma como olha para esse projeto que

Os Verdes apresentaram ontem.

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Muito bem!

O Sr. Presidente (António Filipe): — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Miguel Tiago.

O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Sr. Presidente, Sr. Deputado José Luís Ferreira, se me permite uma nota

prévia, eu gostava de dizer que, sempre que se fala deste pacto de agressão ao povo português, das troicas e

das medidas que estão a ser tomadas pelo Governo, há uma ausência que, praticamente, enche toda a Sala:

essa ausência é provocada por um silêncio, o silêncio dos culpados!

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exatamente!

O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Refiro-me aos partidos da troica nacional — PSD, PS e CDS —, que, para

evitarem ser confrontados com os resultados objetivos das suas políticas, com a degradação das condições de

vida das pessoas que atacam diariamente, se calam e se furtam ao debate!

Aplausos do PCP.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Estão caladinhos que nem ratos!

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O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Estão com medo do debate!

O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Sr. Deputado, sobre as questões concretas que colocou, da parte do PCP,

não temos qualquer ilusão sobre as verdadeiras intenções do Governo em não dar «tolerância de ponto» na

terça-feira de Carnaval. É uma medida que preenche dois requisitos: em primeiro lugar, é uma medida

demagógica para mostrar serviço àqueles que o Governo escolheu como seus «patrões» — a troica ocupante,

a troica estrangeira; em segundo lugar, é uma medida que visa, ao fim e ao cabo, roubar mais um dia de

descanso, atacando o direito ao lazer e ao descanso dos trabalhadores portugueses.

Não é, de todo, uma medida para garantir qualquer espécie de equilíbrio das contas públicas. Aliás, trata-

se de uma medida que, em muitos casos, resulta precisamente no sentido inverso, numa deterioração da

dinâmica económica, em particular das economias locais que estão, em grande parte, interligadas com a

dinâmica do feriado de Carnaval e com as suas comemorações, que são tradicionais em muitas regiões do

nosso País.

Sobre a segunda questão que colocou, Sr. Deputado José Luís Ferreira, devo dizer que o projeto do

Partido Ecologista «Os Verdes» para a consagração da terça-feira de Carnaval como um feriado obrigatório é

de assinalável justiça, porque se limita a consagrar na lei uma prática, uma tradição do povo português

consubstanciada ao longo de vários anos.

Portanto, garantir o direito ao descanso, ao lazer e às comemorações dessa tradição é, obviamente, uma

medida que merece todo o apoio do PCP.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro

Filipe Soares.

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Miguel Tiago, com a prepotência de uma

decisão anunciada duas semanas antes de ser efetivada, o Governo decidiu que queria tirar mais um dia de

descanso aos portugueses e que, por isso, não daria «tolerância de ponto» no Carnaval. Mas o dia de ontem

mostrou que o Governo, que queria mostrar serviço à troica, foi, na prática, desautorizado pelo País,…

O Sr. Luís Fazenda (BE): — Muito bem!

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — … porque o Carnaval saiu à rua por todo o País, mostrando que os

portugueses não se submetem à prepotência deste Governo, nem ao servilismo à troica, em que o Governo

quer colocar todo o País!

Aplausos do BE.

Ontem também ficámos a saber, pelas palavras da própria troica, na reunião que teve lugar na Assembleia

da República, que o País vai no «bom caminho» — essa é a conclusão que retiram dos dados da realidade

concreta.

Diz-nos a troica que o País vai no bom caminho quando sabemos que já temos mais de 1,2 milhões de

desempregados; diz-nos a troica que o País vai no bom caminho quando o desemprego jovem é superior a

35%; diz-nos a troica que o País vai no bom caminho quando, face a estes dados do desemprego, o Governo,

em vez de atacar o desemprego, ataca o emprego, permitindo o despedimento mais fácil e mais barato; diz-

nos a troica que vamos no bom caminho quando Portugal é o terceiro País da Europa com mais emprego

precário, com «recibos verdes», com trabalho temporário e com contratos a termo; diz-nos a troica que o País

vai no bom caminho quando a pobreza aumenta dia-a-dia entre nós; diz-nos a troica que o País vai no bom

caminho quando os impostos, cada vez mais, submetem e retiram rendimento aos portugueses num patamar

nunca visto; diz-nos a troica que o País vai no bom caminho quando os serviços públicos são tirados, um após

outro, aos portugueses e quando os cortes no que é essencial, na saúde e na educação, retiram espaço de

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vida ao salário indireto dos portugueses; diz-nos a troica que o País vai no bom caminho quando a recessão

que temos pela frente é a pior do Portugal democrático!

O Sr. Luís Fazenda (BE): — Muito bem!

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Por isso, Sr. Deputado, pergunto-lhe se o fanatismo desta troica, que

nos diz que o «bom caminho» é o empobrecimento e a perda de direitos, não significa trazer Portugal para o

passado e destruir o futuro que tanto demorou a construir. É esse caminho que temos de romper para impedir

que nos retirem mais direitos e, no fundo, nos coloquem no «bom caminho» da pobreza e da austeridade…

Só rompendo com a austeridade é que poderemos ter, sim, um futuro para o País!

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Miguel Tiago.

O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Pedro Filipe Soares, de facto, durante o dia de

ontem, tornou-se evidente que o povo português não só não acatou o comando que o Governo pensava deter

como respondeu, na ampla participação popular que carateriza o Carnaval, de uma forma ainda mais marcada

e cunhada por uma dimensão política de luta, de protesto, utilizando também o Carnaval como um espaço e

um dia de expressão desse descontentamento.

O Governo e as suas políticas foram, claramente, o alvo desse descontentamento e dessa revolta das

populações, que encontraram no Carnaval, também, uma forma de expressão nas ruas do nosso País.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!

O Sr. Miguel Tiago (PCP): — É óbvio que o Governo, apesar de não ter decretado a «tolerância de

ponto», não evitou a comemoração do feriado.

O «bom caminho», Sr. Deputado, de que, aliás, também falei na declaração política que proferi, é

precisamente a ilustração mais assombrosa do discurso da troica, do PSD, do PS e do CDS. Considerar que o

pacto de agressão está a produzir os efeitos que eram desejados e que o País está no «bom caminho» para

cumprir esse pacto é assumir que os objetivos estabelecidos no Memorando, nestas imposições da troica, são

precisamente a ampliação do desemprego, a diminuição dos direitos laborais dos trabalhadores portugueses,

a recessão económica, a quebra no consumo, a desvalorização do trabalho, a precarização das relações

laborais e todas as questões que, aliás, acabou de enumerar também.

Assumir isto é mostrar à exaustão que o sucesso deste pacto é a derrota do nosso País; por oposição, a

vitória do povo português rumo ao crescimento, rumo a um futuro, na defesa das conquistas de Abril, é

precisamente a derrota destas imposições, deste pacto de agressão e dos seus protagonistas.

Disse bem o Sr. Deputado Pedro Filipe Soares quando fez uma alusão a um regresso ao passado, porque

esse é, de facto, o principal objetivo: reconstituir relações, monopólios e privilégios que estes partidos, estes

protagonistas e os grandes interesses económicos em Portugal nunca aceitaram ter perdido com as grandes

conquistas do povo em 25 de abril de 1974. Tamanhas foram essas conquistas que, 36 anos depois, estes

partidos ainda tentam destrui-las, mas elas subsistem com o apoio do povo e a luta e a resistência dos

trabalhadores portugueses.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Para proferir a próxima declaração política, tem a palavra o Sr.

Deputado João Semedo.

O Sr. João Semedo (BE): — Sr. Presidente, Sr.as

e Srs. Deputados: O que aconteceu na madrugada da

passada segunda-feira em Bruxelas foi o episódio culminante da grande mentira em que se tornou a resposta

europeia à atual crise. A União Europeia emprestou o dinheiro que sabe que a Grécia não pode pagar e o

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governo grego assinou um acordo que sabe ser impossível cumprir. Na verdade, não houve qualquer acordo

mas, sim, a imposição brutal das decisões do eixo alemão e a humilhação punitiva da Grécia e do seu povo.

A farsa que teve lugar em Bruxelas mata a ideia da solidariedade entre os países europeus e, de uma só

assentada, atira a democracia e a soberania popular na Grécia para uma edição especial do Canal Memória.

O Sr. Luís Fazenda (BE): — Muito bem!

O Sr. João Semedo (BE): — A presença em Atenas de uma missão permanente da missão da Comissão

Europeia, que vigiará o orçamento, as privatizações e o enésimo plano de despedimentos e austeridade,

significa que a Europa deixou de ser uma união entre Estados soberanos e iguais nos seus direitos e deveres.

Quando o ministro das finanças alemão se permite a afronta de perorar sobre qual será a melhor data para

as eleições na Grécia percebemos que a obsessão com a austeridade não representa apenas o suicídio

económico e o fim do emprego da Europa, mas também o «caldo político» onde grassa o autoritarismo mais

gratuito, que se arrisca a soltar velhos fantasmas de péssima memória no continente.

Pouco importa que, com a trajetória da economia grega, já se calcule que, em 2020, a Grécia vá continuar

a dever os mesmos 160% do PIB que hoje deve, bem longe dos 120% do PIB anunciados e prometidos pelos

clones da Sr.ª Merkel. É esse exatamente o problema que enfrenta hoje Portugal.

A austeridade brutal que arruinou a economia grega, atirando a Grécia para o «abraço de urso» da

chantagem alemã e da hipoteca da democracia durante mais de uma década, é a mesma política que, se nada

for feito, vai atirar Portugal pelo mesmo caminho.

O Sr. Luís Fazenda (BE): — Muito bem!

O Sr. João Semedo (BE): — Basta ver os números, Sr.as

e Srs. Deputados! Em 2011, fomos o País cuja

dívida mais aumentou — 18 pontos percentuais. É este o resultado do Memorando assinado com a troica.

Portugal é o País da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), em conjunto

com a Espanha, onde o desemprego mais aumenta, sendo que, como sabem, Sr.as

e Srs. Deputados, já temos

mais de um milhão de cidadãos sem emprego. Se tudo o mais ficasse constante e se a recessão não tornasse

mais complicado o controlo das contas públicas, só o impacto desta recessão acumulada em 2011 e 2012

significaria um agravamento de três pontos no nosso endividamento. Mais pobres, sem emprego e muito mais

endividados, e tudo isto, Sr.as

e Srs. Deputados, para, no fim do plano, estarmos com uma dívida maior em 40

000 milhões de euros. É este o resultado da política de um Governo que, perante as críticas a este absurdo

sem sentido, ainda nos chama piegas.

Sr.as

e Srs. Deputados, um em cada sete portugueses não encontra trabalho; um em cada três jovens está

desempregado; 1000 pessoas perderam o seu emprego em cada dia dos últimos três meses do ano passado;

os impostos aumentam mas, apesar disso, a receita fiscal afunda-se. É este o retrato de uma economia

parada, na qual alguns setores económicos, como é o caso do ramo automóvel e da construção civil, já se

encontram à beira da implosão. É este o resultado da obsessão com a austeridade.

Imune a todos os dados e à realidade do País, diz-nos o Governo que em 2013 é que vai ser bom. Há 36

dias que o Ministro das Finanças viu, e, pelos vistos, continua a ver, o «ponto de viragem» na nossa

economia. É caso para dizer, parafraseando o mesmo Ministro, Vítor Gaspar, que entre o «ponto» e a

«viragem» há outras palavras que não foram, no entanto, ditas pelo Ministro. Entre o «ponto» e a «viragem»

estão o desemprego, a recessão, mais dívida, mais pobreza e maior austeridade.

Aplausos do BE.

O Governo reage como aquela pessoa que vê um clarão ao fundo do túnel e que, julgando tratar-se da luz

ao fundo do túnel, se atira de cabeça para a dianteira do comboio. É este o caminho para onde se arrasta o

País.

Sr.as

e Srs. Deputados, o veneno, seja servido às colheres ou bebido pelo frasco, tem sempre o mesmo

resultado. A questão que temos pela frente não é, portanto, a de saber se a austeridade mitigada e aos

bocados resolve os problemas do País mas, sim, a de saber como nos libertamos desta espiral de

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austeridade, que gera mais recessão e menos emprego, acabando sempre por aumentar o endividamento e o

empobrecimento do País.

Não há alternativa que não seja recusar a política da troica, renegociando a dívida, os seus montantes e os

seus prazos. Uma economia sem financiamento é uma economia moribunda. Em vez de encher os cofres dos

bancos privados, que já anunciam que não vão investir na economia, melhor faria o Governo se refinanciasse

a Caixa Geral de Depósitos, orientando a sua atividade para a economia e para o crescimento económico.

Sr.as

e Srs. Deputados, não é com a política da troica nem com o Governo da troica que a economia e o

emprego vão crescer. Nem com a fé da Sr.ª Ministra da Agricultura!

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Para pedir esclarecimentos, inscreveu-se o Sr. Deputado João

Oliveira, a quem dou a palavra.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Sr. Presidente, Sr. Deputado João Semedo, parece que, uma vez mais, a

troica nacional se remete ao silêncio quando se discute o futuro do País e as suas responsabilidades na

situação que hoje vivemos.

Sr. Deputado João Semedo, trouxe à discussão um assunto que o PCP, também em declaração política,

fez questão de abordar, permitindo, talvez, um novo espaço de aprofundamento da matéria. A verdade, Sr.as

e

Srs. Deputados, é que na Grécia, como em Portugal, verifica-se, de facto, que estes programas e estes pactos

de agressão aos povos e aos países confirmam-se como soluções de salvação do capital à custa do

afundamento e da bancarrota dos Estados e da exploração dos trabalhadores.

O Sr. João Ramos (PCP): — Exatamente!

O Sr. João Oliveira (PCP): — Essa marca é denominador comum aos pactos de agressão, quer ao

português, quer ao grego, quer inclusivamente ao irlandês.

Aquilo que temos pela frente são verdadeiros pactos de salvação do capital à custa dos Estados e dos

trabalhadores. Por isso, a ditas políticas de austeridade acabam por contrastar com as políticas de benesse e

de favorecimento à banca, ao sector financeiro e aos grandes grupos económicos. Ao mesmo tempo que se

roubam os salários e as pensões, ao mesmo tempo que se degradam as condições de vida e de trabalho das

populações, ao mesmo tempo que se degradam as condições de vida atacando o Serviço Nacional de Saúde,

atacando a escola pública, atacando as prestações sociais, assistimos às benesses que são concedidas à

banca, seja por via dos 12 000 milhões de euros concedidos para operações de recapitalização, seja por via

dos negócios milionários, que também daqui a pouco teremos oportunidade de discutir no âmbito de uma

proposta apresentada pelo PCP relativamente à negociata feita com a transferência dos fundos de pensões da

banca para o Estado. Ou seja, todas estas políticas de austeridade impostas aos povos, impostas aos

trabalhadores, acabam, depois, por contrastar com as benesses e as mordomias concedidas ao capital,

particularmente ao capital financeiro.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exatamente!

O Sr. João Oliveira (PCP): — Ao mesmo tempo que isto acontece, assistimos, de facto, a um caminho que

será o da inevitável bancarrota dos países que estão sujeitos a estas políticas de verdadeiro assalto aos

recursos públicos. O aumento da dívida externa em Portugal, o aumento do desemprego, a desvalorização

dos salários e das pensões dão conta daquilo que é o rumo de afundamento da economia nacional, de

afundamento do País, a caminho de uma situação que será, provavelmente, de inevitável bancarrota. Por isso,

Sr. Deputado João Semedo, há uma questão que se coloca, e daí a pergunta que quero fazer-lhe.

O PCP tem colocado como objetivos decisivos no combate a estas políticas a derrota do pacto de agressão

e seguir-se um caminho alternativo, que passará, inevitavelmente, pela renegociação da dívida. O Sr.

Deputado João Semedo fez referência a este aspeto na sua declaração política, por isso lhe coloco esta

questão: em que condições entende o Bloco de Esquerda que deve dar-se importância a esta medida da

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necessária renegociação da dívida, não só numa perspetiva da recuperação da economia nacional mas

também da resolução dos grandes problemas estruturais da nossa dependência externa e do endividamento

do País?

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado João Semedo.

O Sr. João Semedo (BE): — Sr. Presidente, Sr. Deputado João Oliveira, agradeço a sua pergunta, à qual

respondo diretamente.

O acordo, o Memorando está em execução há nove meses. Nove meses depois, o País está pior: mais

pobre; mais endividado; a economia todos os meses se afunda; todos os meses, todos os dias, há mais

desemprego; os serviços públicos começam hoje a sentir a asfixia decorrente dos cortes orçamentais a que

ficaram sujeitos. Isto são evidências. A troica, que vem a Portugal de três em três meses, olha para o

Memorando, olha para o acordo, mas seguramente não olha para Portugal, porque estas são evidências

indesmentíveis.

Para o Bloco de Esquerda é muito claro que esta não é a alternativa, que este não é o caminho. O nosso

caminho, aquilo que propomos, é, como disse, a renegociação da dívida. Mas, Sr. Deputado João Oliveira, a

renegociação da dívida só é possível rasgando o acordo com a troica. Não há outra alternativa! Esse é o

caminho político proposto e defendido pelo Bloco de Esquerda.

Sr. Deputado João Oliveira, não leve a mal que agora dedique algumas palavras às outras bancadas.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Ora essa!…

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Já que não falam…!

O Sr. João Semedo (BE): — Já aqui foram feitas várias intervenções sobre aquilo que é central na política

portuguesa, mas ninguém entende o silêncio das bancadas que apoiam o Governo nem — podemos dizê-lo

de outra forma — do conjunto das bancadas que assinaram, com os organismos internacionais, o Memorando

de intervenção económica e financeira. Isso é incompreensível, para além de, no que respeita às bancadas do

PSD e do CDS, até poder ser interpretado como uma atitude de alguma irreverência e de alguma pouca boa

educação relativamente a quem essas bancadas tanto estimam. Há uma pergunta que eu gostaria de deixar: o

silêncio do PSD e do CDS não é um silêncio envergonhado de quem, para aplaudir a troica, engana todos os

dias os portugueses?

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Srs. Deputados, para proferir a última declaração política de hoje, tem

a palavra o Sr. Deputado Miguel Frasquilho.

O Sr. Miguel Frasquilho (PSD): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Decorre, nesta altura, a terceira

avaliação regular da troica à forma como o Programa de Assistência Económica e Financeira com que

Portugal se comprometeu em Maio de 2011 está a ser implementado.

Do que já se conhece, penso que nos é permitido concluir que o nosso País deverá obter a terceira

avaliação positiva. Sem triunfalismos de qualquer espécie, só quem não quer mesmo ver é que não percebe

que esta é uma notícia muito positiva para Portugal.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

Uma notícia que, entre muitas dúvidas, incertezas, sinais preocupantes que nos continuam a chegar de

inúmeras frentes, confirmará outros sinais positivos que começam também a tornar-se visíveis.

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O Sr. Pedro Nuno Santos (PS): — Onde?

O Sr. Miguel Frasquilho (PSD): — Permitam-me enumerar dois desses sinais.

O primeiro tem a ver com as emissões de dívida portuguesa de curto prazo que têm sido efetuadas pelo

IGCP (Instituto de Gestão da Tesouraria e do Crédito Público, I.P.). Os juros de referência têm vindo a ser

mais baixos, a procura tem suplantado claramente a oferta e o prazo a que os bilhetes do tesouro são emitidos

tem vindo a ser alargado.

Vozes do PSD: — Muito bem!

O Sr. Miguel Frasquilho (PSD): — É verdade que a política do BCE (Banco Central Europeu), através da

operação de refinanciamento de longo prazo, também propiciou o regresso de investidores aos leilões de

dívida pública, mas não é menos verdade que taxas mais baixas, a procura crescente e a maior maturidade na

colocação denotam uma confiança progressiva, bem-vinda e encorajadora dos investidores nas nossas

emissões de dívida pública.

Vozes do PSD: — Muito bem!

O Sr. Miguel Frasquilho (PSD): — O segundo sinal que aqui vou abordar tem a ver com os primeiros

dados da execução orçamental de 2012, relativos ao mês de janeiro, que foram divulgados há dois dias. Nem

vou alongar-me quanto ao facto de o saldo da conta consolidada das administrações públicas na ótica de

caixa, incluindo entidades públicas reclassificadas, ter sido de 327 milhões de euros — um saldo positivo —,

que contrasta com o objetivo do Orçamento de um défice de 7454 milhões de euros para o conjunto do ano.

Não! Vou concentrar-me nos resultados do subsector Estado, aquele em que, tradicionalmente, ocorre o maior

desequilíbrio entre a receita e a despesa no universo das administrações públicas.

Sim, é verdade que a receita caiu quando o Orçamento projeta uma subida. A receita fiscal desceu em

janeiro, numa base comparável de 1,6% face ao ano anterior, e tinha-se projetado uma subida de 2,9%. Mas

janeiro, todos sabemos, é um mês muito atípico em termos de cobrança de receita, que, mesmo assim,

evoluiu abaixo do que se previa no Orçamento.

Mas é na evolução da despesa que as notícias, face aos objetivos fixados, dificilmente podiam ser mais

animadoras. De facto, a despesa do Estado desceu 12,7%, quando se estimava uma queda de 5,9%; a

despesa primária caiu 13,6% contra uma queda de 10,5%, prevista como objetivo; e a despesa corrente

primária reduziu-se 17,2% contra o objetivo de reduzir 9,5%.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

É por tudo isto que o défice do Estado se reduziu 41%, situando-se em 436 milhões de euros.

Podemos dar as voltas que quisermos, mas o que é inegável é que não há uma segunda oportunidade

para causar uma primeira boa impressão. E, mesmo sendo estes dados relativos a apenas um mês — e temos

consciência disso —, eles são globalmente positivos para Portugal, são a primeira boa impressão que o País

não podia desperdiçar, mostram que o esforço dos portugueses não está a ser desbaratado, como tantas

vezes aconteceu no passado, e marcam também uma clara rutura com o que acontecia anteriormente.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

E o que é que acontecia anteriormente? As metas fixadas para o controlo da despesa, e mesmo para a

redução da despesa, não passavam do papel.

Portugal não podia continuar nessa senda, porque foi também essa forma de governar que em muito

contribuiu para a insustentabilidade da situação a que o País chegou e que levou o governo de José Sócrates

a pedir ajuda externa.

É hoje claro — para todos os que querem ver, naturalmente — que, finalmente, e depois de tantos anos de

tentativas frustradas, pelas quais estamos a pagar o preço que todos conhecemos, Portugal tem um Governo

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que ataca o crónico desequilíbrio das contas públicas, reduzindo o peso da despesa, única forma

verdadeiramente sustentável de realizar uma consolidação orçamental e aquela que permitirá, no futuro,

baixar a sufocante carga fiscal que há tantos anos a nossa sociedade enfrenta.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

É algo de que Portugal precisa como de pão para a boca, quer para ajudar no relançamento da economia,

como para combater, de forma eficaz e duradoura, esse flagelo social que é o desemprego.

Sr. Presidente, Srs. Deputados: Penso que é claro para todos que Portugal tem hoje, finalmente, um

Governo que age e não que reage, como acontecia no passado, um Governo que antecipa os problemas e os

ataca com coragem e frontalidade, não um Governo que vai a reboque e ao sabor dos acontecimentos.

Portugal tem hoje um Governo que, passe as enormes dificuldades com que se tem deparado, está a fazer

aquilo que lhe compete para desendividar o País e o voltar a colocar na rota do crescimento económico

sustentado.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

São políticas duras e exigentes? Sem dúvida.

São políticas impopulares e seria mais cómodo não as aplicar? Certamente.

Mas seguir essa via significaria o desastre financeiro, económico e social. E é por isso que ela nem sequer

pode ser opção, nem sequer pode ser equacionada.

Vozes do PSD: — Muito bem!

O Sr. Miguel Frasquilho (PSD): — Srs. Deputados, é fundamental para Portugal, mas também para a

Europa, que o nosso processo de ajustamento, aquele por que estamos a passar, produza resultados

positivos.

Ninguém pode assegurar que o sucesso está garantido. Os riscos que enfrentamos são grandes e bem

conhecidos, mas isso não pode servir de desculpa para, numa altura em que precisamos de mostrar ao mundo

e a nós próprios que somos capazes de cumprir as metas e os objetivos com que nos comprometemos,

dizermos que precisamos mais disto ou mais daquilo.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

A situação que Portugal enfrenta é dramática, não por causa do programa de ajustamento que estamos a

cumprir, Srs. Deputados. O que foi dramático, e mesmo imperdoável, foi o governo anterior ter deixado o País

chegar ao ponto absolutamente insustentável de ter que pedir auxílio externo.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

Pode-se discutir se o tempo do ajustamento é ou não suficiente,…

O Sr. Pedro Jesus Marques (PS): — Ah!…

O Sr. Miguel Frasquilho (PSD): — … sendo certo que o prazo que hoje vigora é o que foi negociado pelo

anterior governo com a troica. Mas não nos enganemos, Srs. Deputados: o ajustamento, em si, teria sempre,

como está a ser, de ser inevitável.

Sr. Presidente, termino, referindo que os portugueses sabem bem a quem têm de pedir contas e

responsabilidades. E não é, certamente, a este Governo. Com este Governo, e como os dados orçamentais

agora revelados confirmam, os portugueses sabem que o seu esforço — que é muito grande, mas é

necessário — não será em vão. E é exatamente esse esforço dos portugueses, em conjunto com a atuação

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deste Governo, que faz toda a diferença em relação ao passado, que nos permite ter a confiança de que

seremos, em conjunto, capazes de ultrapassar as imensas dificuldades que nos deixaram.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Inscreveram-se, para pedidos de esclarecimento, os Srs. Deputados

Pedro Jesus Marques, Honório Novo, Pedro Filipe Soares e Heloísa Apolónia.

Tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Jesus Marques.

O Sr. Pedro Jesus Marques (PS): — Sr. Presidente, Sr.as

e Srs. Deputados, Sr. Deputado Miguel

Frasquilho, diria que nenhuma comemoração carnavalesca tardia, em dia de quarta-feira de cinzas, justificaria

o tom triunfalista que o Sr. Deputado utilizou na sua intervenção de há pouco.

Vozes do PS: — Muito bem!

O Sr. Pedro Jesus Marques (PS): — Sr. Deputado, este partido está e continua — como não poderia

deixar de acontecer com um partido responsável — cometido com o sucesso do ajustamento económico e

financeiro em Portugal.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — É só sucessos!

O Sr. Pedro Jesus Marques (PS): — Mas um partido responsável também sabe olhar para os sinais

preocupantes que já vão existindo, precisamente do ponto de vista das condições para o sucesso desse

processo de ajustamento económico e financeiro.

Sr. Deputado, são por demais evidentes os preocupantes sinais do ponto de vista económico e social, mas

também orçamental.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Não tem nada a ver com as medidas!

O Sr. Pedro Jesus Marques (PS): — Depois de dois anos de um desempenho extraordinário das

exportações, fruto da dinâmica dos nossos empresários, da economia do valor acrescentado e da

diversificação de mercados, no final do ano 2011, a partir de uma recessão alargada e de uma estagnação

também significativa nos principais mercados exportadores portugueses, tivemos uma travagem abrupta da

economia que também coincidiu, curiosamente, com o trimestre em que os senhores tomaram um conjunto de

medidas de austeridade excessiva, tais como o corte dos 50% do subsídio de Natal ou o aumento do IVA

sobre a eletricidade.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Mas isso estava no programa!

O Sr. Pedro Jesus Marques (PS): — Aí ficaram os resultados: uma recessão agravada no último trimestre

e um disparar do desemprego para 14%. E aí estão os sinais orçamentais: queda da receita fiscal de quase

8% no primeiro mês do ano e um aumento de 15% da despesa mais sensível à situação económica e social,

que é a despesa do subsídio de desemprego.

Sr. Deputado, se juntarmos a isso os desvios que os senhores já reconheceram ter na despesa de 2012,

tornados públicos em documentos do Ministério das Finanças — que agora, de repente, se tornam todos

públicos, não percebendo o Ministério como é que esses documentos circulam… Mas, a verdade, é que esses

documentos indicam problemas na despesa prevista para 2012, e a juntarem-se a essa situação económica

estes dados orçamentais com riscos significativos logo em janeiro temos pela frente o risco de dificuldades no

cumprimento dos objetivos orçamentais.

O que queremos perguntar-lhe, com muita clareza, é se, perante este risco, perante dados tão concretos

como os que já apareceram em janeiro na execução orçamental, nomeadamente a queda da receita fiscal e o

aumento do subsídio de desemprego, pergunto-lhe: como fazer, Sr. Deputado? Mais austeridade recessiva?

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Uma espiral recessiva para o nosso País? É esse o caminho que propõe para Portugal? Ou, pelo contrário, se

não for esse o caminho, de mais austeridade recessiva, é ou não uma evidência que necessitaremos de

continuar o nosso processo de ajustamento, mas com mais tempo para o fazer, de modo a não impormos mais

austeridade a Portugal, mais austeridade aos portugueses?

Aplausos do PS.

Tem de ser relativamente evidente a sua resposta, Sr. Deputado.

Já agora, duas notas finais.

Em primeiro lugar, gostaria de saber qual é a posição do PSD…

O Sr. Presidente (António Filipe): — Sr. Deputado, tem de ser muito rápido porque já ultrapassou o seu

tempo.

O Sr. Pedro Jesus Marques (PS): — … sobre a alteração das taxas de juro do empréstimo à Grécia.

Considera ou não que seria positivo que a redução das taxas de juro do empréstimo grego se estendesse a

Portugal?

Em segundo lugar, estão finalmente preocupados com o financiamento à economia? Não percebem que o

que também aconteceu no último trimestre de 2011 já teve a ver com o estrangulamento do financiamento à

economia, que não reconheceram, e que agora teve consequências tão severas? Não defendem medidas

para melhorar o financiamento à nossa economia, Sr. Deputado?

São estas as nossas questões.

Aplausos do PS.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Isto foi o PS mascarado de oposição!

O Sr. Presidente (António Filipe): — Como o Sr. Deputado Miguel Frasquilho pretende responder a

conjuntos de dois pedidos de esclarecimento, dou de seguida a palavra ao Sr. Deputado Honório Novo.

O Sr. Honório Novo (PCP): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Miguel Frasquilho, acho que o Sr. Deputado

está profundamente enganado. Os resultados da execução orçamental de janeiro de 2012 não são bons. Os

sinais não são claros nem positivos, como o senhor disse. A execução orçamental do primeiro mês de 2012

pode mesmo, Sr. Deputado — fixe bem —, ser a antecâmara de novas medidas de austeridade que veem a

caminho.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exatamente!

O Sr. Honório Novo (PCP): — E o primeiro sinal de que isso pode acontecer foi dado na execução

orçamental de 2011, da qual se recorda, certamente.

É claro que a execução orçamental de 2011 — o senhor sabe-o muito bem — demonstra a exaustão das

receitas fiscais e das receitas contributivas da segurança social. Isto mostra que, mesmo comparativamente

com as previsões do vosso Relatório para o Orçamento de 2012, datado de outubro, os impostos indiretos

ficaram aquém do previsto, o IVA ficou aquém do previsto, as receitas e as quotizações da segurança social

ficaram muito aquém do previsto.

O Sr. Deputado também sabe muito bem que as receitas não fiscais de 2011 são absolutamente

fantasmagóricas e que, se as despirmos das receitas extraordinárias, ficam completamente

sobredimensionadas, como as do Orçamento de 2012.

Portanto, se os sinais já existiam na execução orçamental de 2011, a verdade é que os dados da execução

orçamental, ontem distribuídos, confirmam e reforçam as piores previsões que tinha deixado a execução

orçamental de 2011.

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O Sr. Deputado fala num corte da despesa de 12,7% e lança foguetes. Mas o senhor esqueceu que, só nos

salários e nos subsídios dos funcionários públicos e dos reformados houve um corte de 15%? O senhor

esqueceu isso?

A baixa da despesa estava mais do que prevista. Mas o que não se esperava é que os senhores tivessem

previsto um aumento da receita fiscal e ela tivesse caído.

Vozes do PCP: — Exatamente!

O Sr. Honório Novo (PCP): — Era isso que o Sr. Deputado tinha de vir aqui hoje dizer e não aquilo que já

estava previsto.

O que está subjacente ao que o senhor acabou de dizer é que pode estar comprometida a execução

orçamental e o senhor pode estar em risco de entrar num ciclo vicioso que nos vai levar a um abismo, a novas

medidas de austeridade.

Portanto, em vez de boas notícias, não será isto a antecâmara, como lhe perguntei no início, de novas

medidas de austeridade? Não será isto a demonstração cabal de que este caminho, absolutamente obsessivo,

imposto pela troica internacional, vai conduzir-nos inevitavelmente a medidas cada vez mais recessivas e que

cada vez mais vão empobrecer o País?

O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem de concluir, Sr. Deputado.

O Sr. Honório Novo (PCP): — Por mais declarações políticas que venha fazer, não vai conseguir «dourar

a pílula». E o caminho vai ser, certamente, o do agravamento da situação económica e de novas medidas de

austeridade.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Miguel Frasquilho.

O Sr. Miguel Frasquilho (PSD): — Sr. Presidente, começo por agradecer as questões formuladas pelos

Srs. Deputados Pedro Marques e Honório Novo, as quais têm, aliás, um âmago muito parecido,…

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Parecido?!

O Sr. Miguel Frasquilho (PSD): — … ao referirem que a austeridade é excessiva.

Sr. Deputado Pedro Marques, começando pelas suas questões, direi que a quem o ouve parece que os

problemas são todos de agora, que chegaram todos agora a Portugal, que os temos desde há oito meses.

Sr. Deputado, até esperava ouvi-lo dizer, como o líder do seu partido referiu há dois dias, que os

portugueses pagam um preço elevado pelo facto de Passos Coelho chegar tarde a conclusões óbvias. Só que,

Sr. Deputado, não podemos enganar-nos: os portugueses estão a pagar um preço demasiado elevado, sim,

mas é porque o Eng.º Sócrates foi demasiado tarde para Paris. Esse, sim, é um preço muito elevado que os

portugueses estão a pagar.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

Sr. Deputado, ouvi-o com atenção no que toca às preocupações, que subscrevemos, do aumento da

despesa em subsídio de desemprego — o cenário para o desemprego é, de facto, pior, este ano — e da

evolução da receita fiscal, que está abaixo daquilo que se esperava, mas não o ouvi dizer uma palavra, nem

uma, sobre o controlo da despesa que este Governo está a fazer e que contrasta definitivamente com o

descontrolo que existia no passado.

Vozes do PSD: — Muito bem!

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O Sr. João Galamba (PS): — Qual descontrolo?! Isso não é verdade!

O Sr. Miguel Frasquilho (PSD): — As intenções eram boas, Srs. Deputados, é evidente que eram. Mas

nunca saíram do papel — a questão é essa! Aliás, em janeiro do ano passado, depois de um corte salarial de

5%, orçamentado pelo Governo do Eng.º Sócrates, as despesas com pessoal, misteriosamente, subiram! Srs.

Deputados, isto não é um bom cartão-de-visita; diria mesmo que é um péssimo cartão-de-visita. E essa é uma

das razões por que chegámos onde chegámos.

Sr. Deputado, não se prenda com detalhes, como o de saber se as taxas de juro mais baixas concedidas à

Grécia podem vir para Portugal.

Vozes do PS: — Detalhes?!

O Sr. Miguel Frasquilho (PSD): — As taxas de juro do nosso programa de financiamento já são abaixo da

média da taxa da dívida pública, daquela que pagávamos, mesmo antes da crise. Portanto, vamos prender-

nos àquilo que é sério, Sr. Deputado, àquilo que é verdadeiramente importante.

O Sr. Pedro Jesus Marques (PS): — Sério?!

O Sr. Miguel Frasquilho (PSD): — Sério e importante! E o que é importante é que Portugal cumpra,…

O Sr. Pedro Jesus Marques (PS): — Custe o que custar!

O Sr. Miguel Frasquilho (PSD): — … é que Portugal não siga a trajetória de incumprimento infeliz que a

Grécia está a ter.

O Sr. Pedro Jesus Marques (PS): — Custe o que custar!

O Sr. Miguel Frasquilho (PSD): — E tem de ser mesmo custe o que custar, Sr. Deputado!

A Sr.ª Odete João (PS): — Até à derrocada final!

O Sr. Miguel Frasquilho (PSD): — Sabe porquê? Porque o caminho do incumprimento seria um

verdadeiro apocalipse para este país, para todos os portugueses. Muito, muito pior do que aquilo que está a

ser hoje sentido.

Vozes do PSD: — Bem lembrado!

Protestos do PCP e do BE.

E o Sr. Deputado sabe muitíssimo bem disso.

O Sr. Deputado falou das exportações. É evidente que também estamos preocupados com as exportações,

até porque elas são a alavanca que permitirá que a recessão não seja mais profunda. Mas a economia

doméstica, Sr. Deputado, tem de ajustar. Os senhores é que estavam ao leme do País quando foi pedida

ajuda internacional — os portugueses não podem esquecer-se disso!

O Sr. Pedro Jesus Marques (PS): — Os senhores chumbaram o PEC!

O Sr. Miguel Frasquilho (PSD): — O estado do País não é caótico por estes oito meses! Houve muitos e

muitos anos, no passado, que nos conduziram a esta situação — e o Sr. Deputado sabe muito bem disso.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Isso é verdade!

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O Sr. Miguel Frasquilho (PSD): — Sr. Deputado Honório Novo, deixe-me dizer-lhe que, de facto, a sua

visão é diametralmente oposta à nossa. O PS diz que a austeridade é excessiva, mas acordou e assinou o

Memorando com a troica e tem tido atitudes responsáveis (reconheça-se) durante os últimos meses, mas já da

parte do PCP a leitura é completamente diversa. Portanto, não nos surpreende que o Sr. Deputado considere

que, quanto melhor estivermos a cumprir o nosso programa, pior para o nosso País. Mas, Sr. Deputado, deixe-

me dizer-lhe: o senhor está profundamente enganado. O senhor não tem ideia das devastadoras

consequências financeiras, económicas e sociais que teríamos se aquilo que o Sr. Deputado defende, que é

uma reestruturação da dívida, fosse levado por diante.

O Sr. Honório Novo (PCP): — Daqui a um ano conversamos!

O Sr. Miguel Frasquilho (PSD): — Podemos falar quando o Sr. Deputado entender. Mas para essas

opções não contará com o Governo deste País, que, tenho a certeza, está a fazer aquilo que se impõe. Até

porque, se estamos a ser ajudados, temos de cumprir e precisamos de provar — e é em 2012 que isso vai

acontecer — que somos capazes de «arrumar a casa». E foi o que não aconteceu no passado. É que, só com

a «casa arrumada», poderemos criar condições para um crescimento económico sustentado e para reduzir

esse flagelo social gravíssimo — concordo com o senhor — que é o desemprego. Não há outra maneira, Sr.

Deputado! E vai ver que o futuro nos irá dar razão.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Também para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado

Pedro Filipe Soares.

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Miguel Frasquilho, ouvi-lo falar sobre os

dados da execução orçamental, sobre o contexto internacional em que Portugal está inserido e até sobre a

visão que outros têm do nosso País é ouvir um mundo de fantasia — só pode ser um mundo de fantasia! —

em que o Sr. Deputado vive. É que, na realidade concreta, os dados são muito diferentes daqueles que nos

veio trazer.

Falemos da execução orçamental. Diz o Sr. Deputado que janeiro é um mês atípico e que, por isso, até há

um problemazito na receita. Não é um mês atípico, Sr. Deputado, é o resultado direto das políticas deste

Governo!

Vejamos o que diz a imprensa internacional sobre Portugal. Por exemplo, ainda ontem, o Der Spiegel dizia

que Portugal, por muito que se esforce para ser o «menino bonito» da troica, será provavelmente a próxima

peça de dominó destinada a cair no decorrer da crise do euro. Onde é que está o triunfalismo nesta notícia, Sr.

Deputado? O que vemos é que, afinal, o PSD (não sei se o CDS também) vive num país que não é este onde

estamos inseridos.

A execução do mês de janeiro diz-nos que o resultado da política do Governo tem impactos brutais na

receita esperada. É que o cenário cor-de-rosa que se esperava depois destes aumentos de impostos, que

seria o de que a receita pudesse crescer na exata medida, não se confirmou e verificou-se exatamente o

contrário, tendo esta caído 8%. O IRC veio por aí abaixo! O IRS veio por aí abaixo! E o IVA, mesmo depois de

todo o aumento levado a cabo por este Governo, teve um aumento irrisório nas suas receitas, muito diferente

do aumento brutal que os portugueses sentem na sua carteira.

Por isso, o que esta execução nos diz é que «quem semeia ventos, colhe tempestades» e quem semeia a

recessão, colhe mais desemprego e mais destruição da economia. E o que não colhe é mais impostos,

porque, aí, não há Governo que consiga ir, mais do que este, aos bolsos dos portugueses. Mas, com esta

recessão, não há economia que resista à política do Governo.

A pergunta que lhe deixo, Sr. Deputado, é simples: o que diz da notícia do Der Spiegel? A imprensa alemã

diz que, por muito que queiramos ser o «menino bonito», estamos destinados a ser o próximo país a cair. O

que me diz disto? É que isto contrasta nitidamente com o triunfalismo que trouxe a esta Câmara.

Aplausos do BE.

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O Sr. Presidente (António Filipe): — Ainda para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada

Heloísa Apolónia.

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Miguel Frasquilho, o Sr. Deputado

tem de, como se costuma dizer, «cair na real», o Sr. Deputado tem de atender àquela que é a verdadeira

realidade do País. Não basta o Sr. Deputado chegar aqui e dizer: «Ah, que bom,…» e bate palmas «…

estamos a cortar na despesa! Isto é tão bom!»

O Sr. Miguel Frasquilho (PSD): — Não bati palmas!

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Bateu palmas, sim, Sr. Deputado, bateu palmas de outra forma.

O que lhe pergunto — e quero que o Sr. Deputado reflita sobre isso — tem a ver com o seguinte: à conta

de quem e do quê se está a fazer esse corte na despesa?

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — À conta do roubo aos portugueses, Sr. Deputado! É que cortam o

subsídio de férias e o subsídio de Natal! Cortam na saúde — as pessoas que paguem mais! Cortam na

educação — piora a educação! E promovem rescisões na Administração Pública — significa que vão fazer

despedimentos na Administração Pública, ainda que não lhe queiram dar esse nome!

Sr. Deputado, assim todos nós poupávamos! Não é verdade? Assim, todos nós cortávamos nas nossas

despesas! Assim, é fácil, Sr. Deputado!

Mas qual é o resultado? É que é para esse resultado que temos de olhar. O resultado é o empobrecimento

literal do País e o empobrecimento literal dos portugueses, Sr. Deputado!

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Não me diga que ainda não reparou que há um aumento enorme

da bolsa de pobreza em Portugal!? É inacreditável que o Sr. Deputado não tenha reparado nisso! Todos os

dias ouvimos isso nas notícias. Todas as associações que lidam com estas questões da pobreza bradam ao

Governo que tenha cuidado com a verdadeira realidade que se está a formar no País, que é o aumento da

pobreza. Mas o Sr. Deputado consegue fazer uma intervenção sobre o corte na despesa sem olhar àquela que

é a consequência direta desse corte, para percebermos exatamente de onde ele decorre. Ora, assim, não

vale, Sr. Deputado!

Então, o Sr. Deputado está aqui a aplaudir o quê?! É só para dar aplausos para a troica? É só para dar

fotografias para a troica? Então, e os portugueses?! É que foram os portugueses que vos elegeram, Sr.

Deputado! É aos portugueses que os senhores têm de responder. E há de convir que os senhores, na altura,

não foram francos, não disseram verdade, porque chegaram ao Governo e fizeram exatamente o contrário.

O Sr. Deputado diz, na sua intervenção, que, no futuro, é preciso baixar a carga fiscal, diz que o País

precisa disso «como de pão para a boca» para o relançamento da economia. Então, o que é que isto significa?

Que vamos relançar a nossa economia quando o Governo baixar os impostos? Pergunto-lhe: quando? Até lá,

é sempre para o afundamento, Sr. Deputado? É só recessão?

O Sr. Miguel Frasquilho (PSD): — Não!

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Não? Então, explique, por favor, porque não percebi nada!

O Sr. Deputado diz ainda que pode discutir-se se o prazo de ajustamento é ou não suficiente. Qual é a sua

opinião sobre essa matéria, Sr. Deputado?

Vozes do PCP: — Muito bem!

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O Sr. Presidente (António Filipe): — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Miguel Frasquilho.

O Sr. Miguel Frasquilho (PSD): — Sr. Presidente, começo por agradecer as questões colocadas pelos

Srs. Deputados Pedro Filipe Soares e Heloísa Apolónia e quero esclarecer que o que esteve no centro desta

minha declaração de hoje foram exatamente os portugueses — os portugueses, que estão a fazer um esforço

titânico e aos quais está a ser pedida uma contribuição enorme para alterar o estado de coisas do País. E o

meu objetivo, quando trouxe aqui este tema hoje, é o de tentar passar a mensagem — e espero consegui-lo —

de que os esforços dos portugueses não serão em vão, como no passado.

Vozes do PSD: — Muito bem!

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Não…!

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Com este Governo, são!

O Sr. Miguel Frasquilho (PSD): — Estes esforços vão servir para alguma coisa. Vão servir — não,

provavelmente, em 2012, mas no futuro — para que o País possa voltar a ter dias mais prósperos.

E, Srs. Deputados, não existe outro caminho para atingirmos esse estatuto.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Existe, existe!

O Sr. Miguel Frasquilho (PSD): — Não existe! E, aí, divergimos completamente. Mas também são

conhecidas as nossas divergências.

De facto, parece que os senhores ficam satisfeitos com o «bota abaixo». O Sr. Deputado Pedro Filipe

Soares disse que eu vivo num mundo de fantasia, porque a imprensa internacional é que conta. Ó Sr.

Deputado, alguma da imprensa internacional faz essas análises há meses e meses a fio!

O Sr. Luís Fazenda (BE): — Veja bem!…

O Sr. Miguel Frasquilho (PSD): — Até agora, não acertaram.

O Sr. Luís Fazenda (BE): — Não acertaram?!

O Sr. Miguel Frasquilho (PSD): — E esperemos que não venham a acertar, porque, então, seria

muitíssimo grave para todos nós.

Mas deixe-me dizer-lhe o seguinte: o Sr. Deputado esteve ontem, como eu estive, na reunião com a troica

internacional, neste Parlamento. E ouviu bem a análise feita pela troica aos primeiros números da execução

orçamental, uma análise extremamente positiva, de que, no ano que conta para que possamos ensaiar a saída

desta situação, que é 2012, o ano da verdade,…

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Qual saída?!

O Sr. Miguel Frasquilho (PSD): — … não podíamos ter começado melhor, com um controlo da despesa

que não existiu nunca no passado. Ora, este é um sinal de grande confiança em termos internos, porque

assim os portugueses sabem que os seus esforços estão a resultar, mas é também um enorme cartão-de-

visita em termos internacionais,…

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Então não!…

O Sr. Miguel Frasquilho (PSD): — … para que os investidores voltem a ter confiança no nosso País,

como, aliás, os dados sobre as emissões de curto prazo de dívida pública o provam.

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O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — E a longo prazo?

O Sr. Miguel Frasquilho (PSD): — Sr. Deputado, no longo prazo, estamos a ser financiados pela troica!

Essa é uma questão que nem se coloca — o Sr. Deputado deveria saber disso tão bem como eu.

Deixe-me ainda dizer-lhe o seguinte: os senhores estão muito preocupados em saber se há mais tempo, se

há mais dinheiro, se há reestruturação… Srs. Deputados, temos de nos concentrar naquilo que é essencial! E

aquilo que é essencial é honrarmos a nossa palavra, é cumprirmos aquilo com que nos comprometemos. Se

vai haver mais tempo, ou se vai haver um segundo envelope financeiro — depois deste e não em cima deste,

o que faz toda a diferença, pois significa que o Governo não falhou — isso, a seu tempo, se verá.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Ah!…

O Sr. Miguel Frasquilho (PSD): — Essa não é uma decisão do Governo português. Não é o Governo

português, que está a ser ajudado e a fazer o seu papel como deve ser, honrando os compromissos do País

que outros assinaram, que pode colocar uma questão dessas. É evidente!

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — E os compromissos com os portugueses?!

O Sr. Miguel Frasquilho (PSD): — Sabe como é que isso seria encarado?

Seria encarado como estando a aproximar-nos do caminho da Grécia, como estando a não cumprir e a

fracassar os nossos objetivos.

Do nosso ponto de vista, essa forma é completamente irresponsável e seria a pior forma de cuidar dos

interesses dos portugueses. Portanto, não contem connosco para a prosseguir.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Terminadas as declarações políticas, vamos passar ao próximo ponto

da ordem de trabalhos, que consta da apreciação conjunta dos projetos de resolução n.os

203/XII (1.ª) —

Recomenda ao Governo a adoção de um programa nacional de erradicação do fogo bacteriano em Portugal

(PS), 225/XII (1.ª) — Recomenda ao Governo que apresente, com a maior brevidade possível, o plano de

ação nacional para o controlo do fogo bacteriano e avalie possíveis fontes de financiamento para ressarcir os

agricultores e os viveiristas dos prejuízos sofridos (CDS-PP) e 228/XII (1.ª) — Recomenda o reforço das

medidas de combate às patologias vegetais e a criação de um conselho científico para a monitorização de

pragas e doenças na produção agrícola e florestal (PSD).

Para apresentar o projeto de resolução n.º 203/XII (1.ª), do PS, tem a palavra o Sr. Deputado Miguel

Freitas.

O Sr. Miguel Freitas (PS): — Sr. Presidente, Sr.as

e Srs. Deputados: Entrou em Portugal uma doença que

é uma das maiores ameaças à fruticultura nacional nos últimos 100 anos.

Estamos, portanto, hoje, nesta Câmara, a debater um assunto muito sério: tem a ver com uma produção

exclusivamente portuguesa, a pera rocha; tem a ver com a economia frutícola da região mais competitiva de

Portugal, o Oeste; tem a ver com 10 000 postos de trabalho; e tem a ver com 40 milhões de euros de

contribuições e impostos que entram todos os anos para os cofres do Estado.

Perante esta ameaça, exige-se uma ação rápida e eficaz. Aliás, como muito bem reconhece o PSD no seu

projeto de resolução.

Quero aqui dizer que o PSD, nesta matéria, tem andado bem. Começou por, no âmbito do Orçamento do

Estado, questionar a Sr.ª Ministra, mas não obteve resposta. Depois, fez uma pergunta ao Governo, que lhe

deu uma resposta evasiva. Isto é, temos um PSD que anda bem na matéria, mas temos um Governo que não

tem a ação necessária.

Então, o que é necessário? A par de uma legislação adequada, são necessárias verbas para atuar, rápida

e imediatamente, no pomar de pera rocha em Portugal.

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Vozes do PS: — Muito bem!

O Sr. Miguel Freitas (PS): — E exigimos do Governo uma estimativa rigorosa do que está em causa.

É isso, Srs. Deputados, que neste momento se esperava do Governo.

No entanto, o projeto de resolução do CDS mostra bem como o Governo está desfasado da realidade. Diz

o CDS, no seu projeto de resolução, que já foram arrancados 10,5 ha de pera rocha em Portugal, mas a

estimativa dos agricultores é que podem estar 2000 ha infetados de fogo bacteriano. Vejam o desfasamento

entre o que o Governo já fez e a realidade sobre esta matéria.

Portanto, o que esperamos, com a apresentação do nosso projeto de resolução, é que rapidamente o

Governo avance com um programa para erradicar o fogo bacteriano em Portugal.

Estamos num momento que pode ser histórico. Srs. Deputados, tenham a certeza de que este é um

momento que ficará na história da agricultura portuguesa para o bem ou para o mal. Esperamos que o

Governo e esta Câmara estejam à altura das circunstâncias.

Há uma outra questão que certamente se coloca à maioria, que é a questão orçamental. Mas sejamos

claros: existe margem de manobra no Orçamento para resolver este problema. E existe ainda a possibilidade

de recorrermos ao Fundo de Solidariedade da União Europeia e, com isso, obtermos 50% de apoio a este

programa.

Portanto, este é o momento que esperamos de decisão por parte do Governo.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Para apresentar o projeto de resolução n.º 225/XII (1.ª), do CDS-PP,

tem a palavra o Sr. Deputado Manuel Isaac.

O Sr. Manuel Isaac (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as

e Srs. Deputados: É realmente preocupante a

propagação do fogo bacteriano na zona Oeste.

Fontes locais da zona Oeste referem que, até ao momento, este fogo bacteriano já obrigou ao arranque de

18 500 árvores, uma área aproximada de 10,5 ha, 80% de plantações de pera rocha e o restante de maçã.

Tais números são prova do trabalho que tem vindo a ser efetuado no terreno, sintomático da pronta atuação

do Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território (MAMAOT).

É, assim, com surpresa que o Grupo Parlamentar do CDS encontra no projeto do PS um conjunto de

recomendações que correspondem exatamente àquilo que o Governo, através do MAMAOT, preconizou e tem

vindo a concretizar.

Vozes do CDS-PP: — Exatamente!

O Sr. Manuel Isaac (CDS-PP): — Vem, agora, o PS recomendar ao atual Executivo a solução de

problemas herdados da sua má governação, ou seja, recomenda aquilo que não foi capaz de fazer e que o

atual Executivo já está a implementar!

Vozes do CDS-PP: — Muito bem!

O Sr. Manuel Isaac (CDS-PP): — Um exemplo, Sr. Deputado Miguel Freitas, é a Quinta de São João, nas

Caldas da Rainha, propriedade do Estado, que foi um dos primeiros sítios onde apareceu fogo bacteriano. E o

que fizeram os senhores?

Vozes do CDS-PP: — Zero!

O Sr. Manuel Isaac (CDS-PP): — Zero!

Vozes do CDS-PP: — Muito bem!

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O Sr. Manuel Isaac (CDS-PP): — Vejamos o que tem feito o MAMAOT.

Desenvolve, em todo o território nacional, programas de prospeção para vários organismos nocivos das

plantas. O programa de prospeção do fogo bacteriano tem sido executado pela Autoridade Fitossanitária

Nacional, em colaboração com as direções regionais de agricultura, e inclui o seguinte: 1 — a identificação dos

locais prioritários a monitorizar; 2 — as épocas em que as observações e colheitas de amostra devem ser

realizadas; 3 — a listagem das plantas hospedeiras a observar; 4 — a descrição da sintomatologia; e 5 — os

procedimentos de colheita de amostras para análises laboratoriais. Os focos detetados são devidamente

identificados, delimitados pelas respetivas zonas de segurança e mapeados para o seu devido

acompanhamento.

Deve ter sido esta a matéria a que o Sr. Deputado se referiu como alarmante. Uma coisa é o que está em

risco, outra coisa é a realidade onde já existe fogo bacteriano. São duas coisas totalmente diferentes: uma é a

realidade e outra é o que pode estar em risco, que foi ao que o Sr. Deputado se referiu.

Vozes do CDS-PP: — Muito bem!

O Sr. Manuel Isaac (CDS-PP): — A Portaria n.º 287/2011, de 31 de outubro, que define medidas

fitossanitárias adicionais e de emergência, veio reforçar as medidas a desenvolver para o controlo e

erradicação do fogo bacteriano. Tal reforço, preconizado em estreita colaboração com as organizações de

produtores, designadamente as da região Oeste, está a ser implementado no terreno e já resultou no corte,

arranque e destruição de mais de cerca de 39 000 árvores no território nacional. Decorrem ainda,

nomeadamente na região Oeste, ações de arranque e destruição de árvores afetadas, tarefa que estará

concluída antes do início da primavera.

Compete ao Conselho Nacional de Proteção da Produção Vegetal o acompanhamento e a avaliação das

medidas de proteção fitossanitária, tendo sido constituído um grupo de trabalho para apoiar este Conselho. O

grupo de trabalho agrega peritos de várias áreas com o objetivo de ser desenvolvido um trabalho técnico e

científico devidamente estruturado e fundamentado sobre a evolução da doença do fogo bacteriano no País e

de estabelecer e implementar as medidas de controlo fitossanitário preconizadas.

Destas diligências, têm resultado importantes propostas a incluir no plano de ação nacional para o controlo

do fogo bacteriano, que o MAMAOT quer disponibilizar ainda no decorrer do presente mês. Este plano de ação

irá integrar, além de um renovado programa de prospeção em cuja execução no terreno estarão envolvidos os

serviços do MAMAOT, a Associação Nacional de Municípios Portugueses e o Centro Operativo e Tecnológico

Hortofrutícola Nacional, também os procedimentos a seguir para a realização da destruição das plantas

afetadas e a sua queima e um conjunto de ações complementares essencialmente direcionadas para a

divulgação e sensibilização dos produtores para que se desenvolvam as melhores práticas para o controlo e

erradicação desta grave doença.

Por fim, o MAMAOT está a avaliar possíveis fontes de financiamento que possam vir a suportar apoios

financeiros compensatórios aos agricultores e também aos viveiristas afetados de forma a ressarci-los dos

elevados prejuízos. Nesse sentido, o MAMAOT está a proceder ao levantamento de todos os casos em que

efetivamente se verifica o arranque das árvores e dos pomares infetados nas regiões onde foi confirmada a

ocorrência desta doença para que se possa contabilizar o montante financeiro necessário.

Em conclusão, pelo exposto, o Grupo Parlamentar do CDS considera que, embora pertinente a proposta de

resolução apresentada, as medidas e ações já em fase desenvolvimento pelo MAMAOT enquadram todas as

preocupações manifestadas e consideradas na proposta de resolução em discussão.

Sr. Deputado Miguel Freitas, o CDS e o Governo estão preocupados com o problema, mas também em

arranjar solução para ele. E é isso que vamos fazer.

Aplausos do CDS-PP e do PSD.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Para apresentar o projeto de resolução n.º 228/XII (1.ª), do PSD, tem

a palavra o Sr. Deputado Paulo Batista Santos.

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O Sr. Paulo Batista Santos (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as

e Srs. Deputados: Começo por saudar os

colegas que me antecederam.

Em primeiro lugar e em particular, saúdo o Sr. Deputado Miguel Freitas pela forma como colocou esta

questão, que é, de facto, importante. Felicito, assim, o Sr. Deputado e o seu grupo parlamentar pela forma

responsável como têm tratado e intervindo neste assunto.

Quero também felicitar o Sr. Deputado Manuel Isaac por trazer a esta Assembleia um conjunto de medidas

positivas que o Governo já tomou em sede de fogo bacteriano. É importante sublinhar que o Governo não está

parado, está a intervir e a dar respostas.

O PSD entendeu, nesta matéria, fazer uma abordagem mais ampla. Naturalmente que esta Câmara se

deve ocupar destas microquestões, que são relevantes e merecem respostas políticas do Governo e da

Assembleia, mas entendemos que, nesta ocasião, seria oportuno sublinhar e colocar na ordem do dia uma

estratégia nacional de combate às pragas e doenças nesta área.

O Sr. Pedro Lynce (PSD): — Muito bem!

O Sr. Paulo Batista Santos (PSD): — A questão do fogo bacteriano não é, infelizmente, o único problema

que o nosso País atravessa. No passado, tivemos o nemátodo do pinheiro…

Protestos do PCP e do BE.

… e há outras pragas que, infelizmente, assolam e preocupam os produtores e os agricultores nacionais.

Fizemos uma abordagem alargada a esta questão. Falámos com investigadores, organizações de

produtores, associações do setor e chegámos a algumas conclusões, a primeira das quais, Sr.as

e Srs.

Deputados, quero partilhar e convocar o vosso apoio. Vale a pena, sem gastar 1 €, juntar toda investigação

que tem sido feita no nosso País…

O Sr. Pedro Lynce (PSD): — Muito bem!

O Sr. Paulo Batista Santos (PSD): — … e colocá-la ao serviço da agricultura, como por vezes,

infelizmente, não sucede.

Foi essa a abordagem que fizemos: juntar e convocar os nossos investigadores, pedindo-lhes contributos

para que, de alguma forma, surjam respostas científicas que sirvam a agricultura nacional e, sobretudo,

combatam o fenómeno muito português da irregularidade na produção agrícola.

Com o nosso projeto de resolução, apresentamos algumas ideias concretas, naturalmente numa visão de

colaboração com a ação do Governo.

A primeira, e muito importante, é a criação de um conselho científico que junte, de facto, as competências e

os recursos humanos que existem em Portugal para que, de uma forma alargada, possam estudar e, ao serem

financiados pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, desenvolver respostas científicas às pragas que

existem hoje e também às que, infelizmente, fruto das alterações climatéricas, possam surgir amanhã. Esse é

um desafio que colocamos na ordem do dia.

Outro desafio, não menos importante, é o de criar e disponibilizar uma base de dados sobre o que tem sido

feito nas faculdades, no Instituto Nacional de Investigação Agrária (INIA) e num conjunto de institutos que se

têm dedicado à investigação desta matéria. É importante que essa base de dados esteja disponível aos

produtores e aos agricultores.

No fundo, com esta discussão, pretendemos que o País encontre, de uma vez por todas, uma resposta

para estes problemas que afligem a produção nacional.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Agostinho

Lopes.

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O Sr. Agostinho Lopes (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Ontem, terça-feira, dia 21 de fevereiro,

realizou-se uma audição da Sr.ª Ministra da Agricultura em sede da respetiva Comissão.

Questionada pelo PCP sobre a situação do combate ao fogo bacteriano, a primeira responsável pelos

meios e recursos do Ministério da Agricultura afirmou que tudo estava bem, que tudo continuava em curso no

âmbito do grupo de trabalho específico criado para o efeito.

Nenhum dos partidos que subscreveram os projetos de resolução que estão hoje em debate questionou a

Sr.ª Ministra. Ou seja, trata-se de uma implícita e explícita assunção de que tudo corre pelo melhor no pior dos

mundos das pragas e doenças que atacam a nossa produção vegetal!

O PS avança com um projeto de resolução para que se faça agora o que os governos do PS não fizeram

ontem.

Protestos do Deputado do PS Miguel Freitas.

O CDS-PP é um caso ainda mais notável, porque quer que a Assembleia da República recomende ao

Governo, vide Sr.ª Ministra da Agricultura, que faça o que o CDS sabe que ela está a fazer: um plano de ação

nacional para o controlo do fogo bacteriano! Apenas tem uma dúvida: haverá dinheiro para o plano? Logo,

trata-se de uma segunda recomendação para que a Ministra descubra «possíveis fontes de financiamento»

para ressarcir prejuízos!

Protestos do CDS-PP.

O PSD, consciente do processo de liquidação, de aniquilação das estruturas do Estado/Ministério da

Agricultura para a deteção/alerta, investigação e combate a pragas e doenças, pelos seus governos e pelos

governos do PS, avança com um projeto de resolução de maior espectro.

No fundo, são três projetos de resolução de boas intenções, que não levantam grandes objeções. Mal não

virá ao mundo e fica barato, como disse o Deputado Batista Santos!

De facto, a «chuva» (à falta de outra…) de projetos de resolução inócuos do PSD e do CDS sobre matéria

agrícola (regadios, leite, produção nacional) mais não pretende senão criar uma cortina de propaganda que

esconda o prosseguimento puro e duro da política agrícola de Jaime Silva e dos governos PS!

Como ontem houve oportunidade de dizer à Sr.ª Ministra, prossegue o atraso no pagamento de dívidas e

compromissos assumidos com os agricultores e as suas associações — é o caso exemplar do atraso, sem

data de pagamento, de 20% das ajudas do regime de pagamento único (RPU); prossegue a perda de fundos

comunitários pela não disponibilização de contrapartidas nacionais — é o caso dos 2 milhões de euros da

Rede Rural Nacional, perdidos em 2011; prossegue a transferência de custos, totais ou parciais, do Estado

para os produtores — é o caso dos seguros agrícolas.

Por falar em sanidade agropecuária, diga-se que os projetos de resolução fingem uma cara parlamentar de

preocupação, enquanto a careta da prática do Governo a nega! Releve-se o não pagamento de dívidas às

organizações de produtores pecuários em 2010, 2011 e 2012, que está a obrigar estas organizações a

transferirem custos para os produtores pecuários ou, pior, a não fazer as intervenções sanitárias necessárias,

pondo em risco não só a sanidade animal como a própria saúde pública!

Registe-se o desaproveitamento das verbas comunitárias (3 milhões de euros relativos a 2010) para apoiar

as 250 empresas que tratam a madeira afetada pelo nemátodo.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Sr. Deputado, queira concluir, por favor.

O Sr. Agostinho Lopes (PCP): — Vou concluir, Sr. Presidente.

Denuncie-se, mais uma vez, as insuficiências, erros e a carência de meios nas respostas necessárias ao

problema do nemátodo do pinheiro, à praga da flavescência dourada, com gravidade semelhante à do fogo

bacteriano na região Entre-Douro-e-Minho e a tantas outras pragas e doenças que vão flagelando a produção

vegetal e as florestas portuguesas.

Não é com estes projetos de resolução que vamos responder aos problemas da fitossanidade,

nomeadamente do fogo bacteriano em Portugal.

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Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís

Ferreira.

O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Estão hoje a ser discutidos

vários projetos de resolução com o propósito de recomendar ao Governo a adoção de um programa nacional

de erradicação do fogo bacteriano.

De facto, esta doença representa a pior e a mais grave das doenças que se conhece relativamente às

fruteiras. Veio dos Estados Unidos da América, atravessou fronteiras e está hoje, infelizmente, instalada nos

países europeus que produzem maçãs e peras.

Só que, ao contrário do que sucede nos restantes países europeus, como Espanha, que atualmente está

avançar com um programa de erradicação, assumindo o arranque uma natureza obrigatória compensada com

as respetivas indemnizações aos agricultores, Portugal e os agricultores portugueses continuam a assistir ao

alastrar desta doença.

É verdade que, em 2005, foram tomadas algumas medidas com vista à erradicação desta doença,

sobretudo na Cova da Beira, mas também é verdade que Portugal, apesar destas medidas, manteve o

estatuto de zona protegida.

Sucede que, ultimamente, temos assistido à multiplicação de casos desta doença, sobretudo na região

Oeste, onde o pomar da pera rocha tem sido alvo de um rápido e preocupante alastramento do fogo

bacteriano.

Foi, aliás, por esse motivo que as associações de produtores fizeram chegar as suas preocupações ao

Governo, propondo, inclusivamente, a necessidade urgente de implementação de um programa de apoio ao

arranque das árvores afetadas. Em resposta, o Governo, em outubro do ano passado, procurou melhorar os

instrumentos de erradicação da doença, admitindo até o arranque ou a destruição das árvores afetadas.

Apesar disto, como muito bem tem vindo a ser defendido pelas associações de produtores, esta doença só

poderá ser encarada com alguma seriedade se for implementado no imediato um fundo para o incentivo ao

arranque dos pomares infetados e a respetiva compensação.

Portanto, é necessário criar já estímulos ao arranque porque quanto mais tarde forem tomadas medidas

sérias tanto pior será para os agricultores e tanto mais difícil será para o Governo controlar esta doença.

Os Verdes consideram que se exige a adoção urgente de um programa nacional de erradicação do fogo

bacteriano, que passe, nomeadamente, por um plano de emergência para a região Oeste, mas também por

medidas de apoio financeiro ao arranque e à destruição das árvores infetadas.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Não há mais inscrições…

Pausa.

Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Paulo Batista Santos.

O Sr. Paulo Batista Santos (PSD): — Sr. Presidente, era para corresponder ao desafio do Sr. Deputado

Agostinho Lopes dizendo que V. Ex.ª veio justificar, e bem, a sua ausência na discussão. Como não teve

oportunidade de apresentar o seu contributo para o debate, veio justificar a falta de comparência!

O Sr. Agostinho Lopes (PCP): — Os senhores, ontem, é que se esqueceram de questionar a Sr.ª

Ministra!

O Sr. Paulo Batista Santos (PSD): — Sr. Deputado, o que lhe quero dizer com toda a honestidade é que

V. Ex.ª faz falta neste debate, o seu partido faz falta neste debate, é um contributo importante e, pelo que

percebi da sua intervenção, vai ao encontro do que defendemos.

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23 DE FEVEREIRO DE 2012

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Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Concluída a discussão conjunta dos projetos de resolução n.os

203,

225 e 228/XII (1.ª), vamos passar ao ponto seguinte, a apreciação do Decreto-Lei n.º 127/2011, de 31 de

dezembro, que procede à transmissão para o Estado das responsabilidades com pensões previstas no regime

de segurança social substitutivo constante de instrumento de regulamentação coletiva de trabalho vigente no

sector bancário [apreciação parlamentar n.º 7/XII (1.ª) (PCP)].

Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Honório Novo.

O Sr. Honório Novo (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: «Considerou-se essencial que os bancos

portugueses reduzissem a sua elevada exposição aos riscos dos planos de benefícios definidos que

constituíram a favor dos seus trabalhadores». Esta afirmação de Vítor Gaspar no debate suscitado pelo PCP

para analisar a transferência para o Estado dos fundos de pensões da banca mostra bem o que de essencial

está em jogo com esta operação.

O Sr. Miguel Tiago (PCP): — É verdade!

O Sr. Honório Novo (PCP): — Claro que os quase 6000 milhões de euros também serviram para fazer

uma redução virtual do défice orçamental de 2011, que, aliás, o Orçamento do Estado para 2012 — com os

cortes nos subsídios, nas reformas, nas prestações sociais e com os aumentos brutais de impostos, de

transportes, da energia e dos bens essenciais — vai querer fazer pagar aos trabalhadores, aos pequenos

empresários e ao povo.

Mas, como lembrou Vítor Gaspar, esta transferência vai sobretudo, e mais uma vez, servir os interesses

estratégicos e conjunturais da banca em Portugal.

Por um lado, a banca vê-se livre de parte substancial dos seus fundos de pensões e consequentes

responsabilidades sociais, transferindo fundos com valorização degradada por anos de subfinanciamento, em

que contou com o implícito apoio do regulador, e que agora vai corrigir com capitais que o Estado lhe vai dar

«de barato».

Por outro lado, a banca vai proceder a mais uma recapitalização imposta por atos de gestão incorretos e

inadequados, mas não vai fazê-lo à custa dos seus acionistas; vai fazê-lo à custa do Estado e dos dinheiros

públicos, à custa de parte dos próprios fundos de pensões transferidos para o Estado.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Uma vergonha!

O Sr. Honório Novo (PCP): — Mais: esta recapitalização é feita sem se saber que legislação vai

enquadrar a participação pública nos capitais da banca, nem sequer se cumprindo as normas previstas na

recente legislação para a recapitalização da banca com a dotação de 12 000 milhões de euros previstos no

Memorando da troica.

Esta operação de transferência de fundos beneficia a banca através de uma outra via: aquilo que, da

recapitalização direta, sobrar dos ativos transferidos (4,5 ou 5000 milhões de euros) vai também ser entregue

à banca, ou através da antecipação, em meses ou anos, dos financiamentos que esta concedeu a empresas

públicas ou servindo para que seja o Estado a assumir responsabilidades da banca contratadas com entidades

credoras da Administração Pública.

Ao contrário do que é dito ou sugerido, esta grossa fatia dos ativos dos fundos não vai pagar diretamente

compromissos do Estado em atraso seguindo critérios racionais de antiguidade. Vai é ser entregue à banca

para que seja ela a extinguir compromissos próprios que assumiu perante terceiros, segundo os seus próprios

critérios e mesmo que estejam longe dos respetivos vencimentos. Serve, no fundo, para desalavancar a

banca, mais uma vez à custa do Estado e dos impostos de quem trabalha.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!

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O Sr. Honório Novo (PCP): — Resta uma palavra, que logicamente deveria ser a primeira, sobre a

transferência de fundos de pensões: a garantia de que os atuais reformados terão sempre direito às suas

reformas e respetivos subsídios.

Na verdade, o valor transferido foi fixado com taxas de desconto e tábuas de mortalidade que não

garantem a resposta global às responsabilidades de que a banca se viu livre e que o Estado, muito

provavelmente, só vai conseguir satisfazer por recurso a fundos da segurança social ou através de

contribuições adicionais do Orçamento do Estado.

Fica, então, claro que o objetivo não é, nem nunca foi, resolver o problema dos reformados bancários. O

objetivo foi sempre resolver mais um problema à banca, sempre à custa do Estado e do dinheiro das reformas

dos bancários.

Daí que o PCP proponha, hoje, a cessação de vigência do Decreto-Lei n.º 127/2011, de 31 de dezembro.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Filipe

Soares.

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, Sr.ª Secretária de Estado dos Assuntos Parlamentares

e da Igualdade, Sr. Secretário de Estado da Administração Pública, Sr.as

e Srs. Deputados: O assunto que

debatemos hoje aqui já foi largamente escalpelizado na Comissão de Orçamento, Finanças e Administração

Pública.

Todos nós tivemos possibilidade de ouvir os diversos argumentos, mas devo dizer que o que mais me

chamou a atenção foi a forma como o Sr. Ministro das Finanças catalogou esta transferência dos fundos de

pensões da banca para o Estado. Disse-nos o Sr. Ministro das Finanças que esta transferência era uma

oportunidade para os bancos porque assim ficavam livres de algumas responsabilidades, ficando a sua

situação equiparada à dos restantes congéneres europeus.

Percebemos, portanto, que, para além de todas as outras narrativas que o Governo ou mesmo as

bancadas que o sustentam fizeram nestas discussões, o que estava em causa era uma grande oportunidade

para os bancos.

Vejamos, então, que oportunidade era esta e qual era, afinal, a benesse que o Estado aceitou dar pela voz

deste Governo, deste Ministro das Finanças, de forma tão agradável, a estes banqueiros.

Dizia o ex-ministro de um governo do PSD e do CDS que qualquer taxa de desconto que fosse superior a

3,5% seria um mau negócio para o Estado e um bom negócio para a banca. Perguntamos: qual é a taxa de

desconto a que se chegou? É de 4%. Assim já começámos a perceber qual é a oportunidade para os bancos.

Trata-se de uma taxa de desconto que lhes sai muito mais favorável a eles, mas sempre à custa dos

contribuintes!

Se somarmos a isto a escolha das tábuas de mortalidade, percebemos uma outra parte do erro que o

Governo comete e que lesa os contribuintes, que lesa todas e todos os portugueses.

Para além desta negociação direta, percebemos bem que, ao longo de 20 anos — ouviram bem: 20 anos!

—, os bancos poderão descontar prejuízos fiscais sempre dizendo que a culpa é deste negócio realizado hoje.

Este Governo imputa para as próximas duas gerações responsabilidades que são da sua própria gestão,

que são da sua própria escolha. No entanto, claro está, em nome da oportunidade para a banca, o Governo

tudo dá e tudo aceita, mesmo que isso lese os portugueses e as portuguesas.

O Bloco de Esquerda não concorda com esta forma de gerir dinheiros públicos, não concorda com mais

este euromilhões para a banca portuguesa e por isso mesmo entregámos um projeto de resolução de

cessação de vigência do Decreto-Lei, porque temos de ser justos, temos de cuidar de cada cêntimo do erário

público, porque cada cêntimo de erário público é conseguido à custa dos portugueses e não para ser

desmanchado e dado com estas facilidades à banca.

Aplausos do BE.

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O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Carlos Santos

Silva.

O Sr. Carlos Santos Silva (PSD): — Sr. Presidente, Srs. Secretários de Estado, Sr.as

e Srs. Deputados: O

processo de integração das pensões de reforma dos bancários no sistema de segurança social encerrou com

a publicação do diploma em apreciação, representativo da celebração do acordo tripartido entre o Governo,

bancos e organizações sindicais.

Nesta apreciação parlamentar, importa salientar o espírito de diálogo e cooperação mantidos por todas as

entidades envolvidas.

Sr.as

e Srs. Deputados, a ausência deste espírito poria em causa o interesse nacional. O acordo baseou-se

em pressupostos que pretenderam assegurar o equilíbrio financeiro da operação, nomeadamente a defesa

dos interesses dos contribuintes, a salvaguarda dos legítimos interesses dos trabalhadores beneficiários dos

fundos de pensões, bem como evitar distorções que lesassem patrimonialmente as instituições de crédito.

A necessidade de recorrer a este mecanismo extraordinário de transferência dos fundos de pensões

prendeu-se com a magnitude do desvio orçamental — é preciso salientar — dos 1.º e 2.º trimestres de 2011.

Vozes do PSD: — Muito bem!

O Sr. Carlos Santos Silva (PSD): — Senão vejam, Srs. Deputados: 7,7% no 1.º trimestre e 9% no 2.º

trimestre.

Sr.as

e Srs. Deputados, não será demais refletir nos efeitos devastadores para a credibilidade e confiança

de Portugal junto dos nossos parceiros e dos mercados internacionais caso não tivéssemos cumprido as

metas orçamentais objeto do Programa de Assistência Financeira a Portugal logo no primeiro ano.

É importante reconhecer, do ponto de vista do interesse nacional, que este acordo foi um extraordinário

contributo para contrariar as restrições de financiamento ao Estado português e assim poder voltar aos

mercados da forma a que assistimos no último leilão de dívida, em que se registou uma diminuição substancial

das taxas de juro a cinco e a dez anos e em outras maturidades, o que não se verificava há vários meses a

esta parte.

Vozes do PSD: — Bem lembrado!

O Sr. Carlos Santos Silva (PSD): — Sr. Deputado Honório Novo, devemos sublinhar a importância

acrescida deste mecanismo no contributo indireto para o financiamento à economia, pois parte destes ativos

serão utilizados no pagamento de dívidas de entidades públicas,…

O Sr. Honório Novo (PCP): — Não era para isso!

O Sr. Carlos Santos Silva (PSD): — … permitindo aliviar os encargos com juros por parte da

administração central. Este efeito de desalavancagem no crédito bancário permite aos bancos continuarem o

processo de financiamento à economia, pilar fundamental, Sr. Deputado Pedro Filipe Soares,…

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Mas não à custa dos acionistas!

O Sr. Carlos Santos Silva (PSD): — … do desenvolvimento futuro das nossas empresas e,

consequentemente, da criação de riqueza.

Vozes do PSD: — Muito bem!

O Sr. Carlos Santos Silva (PSD): — Do ponto de vista dos trabalhadores e pensionistas — não podemos

deixar de o referir —, tratou-se de uma operação equilibrada e atuarialmente justa. Os ativos recebidos

asseguram, Sr. Deputado Honório Novo, a cobertura integral das responsabilidades assumidas com os

pagamentos das pensões futuras.

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O Sr. Honório Novo (PCP): — Vamos ver! Vamos ver!

O Sr. Carlos Santos Silva (PSD): — Mantêm-se assegurados todos os direitos que estes beneficiários já

detinham, como sejam, a manutenção integral do valor das pensões de reforma com pagamento de 14

prestações mensais, a garantia de atualização das pensões de reforma e de sobrevivência em percentagem

igual à atualização salarial dos trabalhadores no ativo e, ainda, a manutenção dos benefícios de saúde.

Vozes do PSD: — Muito bem!

O Sr. Carlos Santos Silva (PSD): — Para terminar, Sr. Presidente, o PSD saúda o Governo pela coragem

e empenho demonstrados ao longo destes oito meses de governação no combate permanente pelo assegurar

da sustentabilidade e da credibilidade das contas públicas.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João Galamba.

O Sr. João Galamba (PS): — Sr. Presidente, Sr.as

e Srs. Deputados: Estamos aqui a apreciar o decreto-lei

que regula o processo de transferência dos fundos de pensões e o problema é que este Decreto-Lei, de facto,

não regula o processo de transferência de fundos de pensões, porque respeita apenas a uma parte dessa

transferência.

Estamos, portanto, perante um documento que apenas reflete parte deste processo em que, tudo indica, os

bancos terão ficado claramente a ganhar e em que o Estado e o Ministério das Finanças não acautelaram

devidamente o interesse público.

O Decreto-Lei foi objeto de vários pareceres, mas o que não há, em nenhum lado — não foram dados à

Comissão de Orçamento, Finanças e Administração Pública nem até agora foi referido por nenhum membro

do Governo —, são pareceres sobre as contrapartidas da banca que estão envolvidas neste processo.

Sabemos que o Banco de Portugal, a Associação Portuguesa de Bancos, a comissão de trabalhadores, os

sindicatos pronunciaram-se sobre este Decreto-Lei, mas não sabemos qual é a opinião destas entidades sobre

a outra parte da transferência.

Porém, é a outra parte da transferência que verdadeiramente importa, porque o processo de transferência

dos fundos de pensões é muito mais do que isso; é, sobretudo, um processo de recapitalização encapotada da

banca sobre o qual não há documentos nem há, que se conheça, qualquer posição de membros do governo

sobre esta matéria. E é esta a parte fundamental.

Não é aceitável que num processo desta natureza, que foi repetidamente dito que era apenas mais um de

entre tantas transferências de fundos de pensões feitas no passado — e por isso esta transferência é singular

—, haja contrapartidas para os bancos que não constam de nenhum documento nem foram alvo de parecer e

estão apenas na segunda atualização do Memorando da troica, em inglês. O Governo sobre isso pouco ou

nada disse.

Sabemos que os bancos transferem uma parte dos ativos que tinham para o Estado, sabemos que essa

transferência é aturialmente neutra, ou seja, sabemos que essa transferência acautela o interesse público,

mas o problema é que não sabemos o que dizer sobre o resto. E o resto é: o Governo comprometeu-se, e é

isso que consta do Memorando da troica, a utilizar parte do dinheiro que recebe da troica para recapitalizar os

bancos, e sobre isso, Sr. Secretário de Estado da Administração Pública, que certamente irá falar, gostava de

saber o que tem o Governo a dizer, porque, se há pareceres que dizem que a parte que respeita ao Decreto-

Lei salvaguarda os interesses dos contribuintes, sobre a segunda parte, que são as contrapartidas para a

banca, pouco ou nada sabemos.

Ficarei à espera que o Sr. Secretário de Estado diga algo sobre esta matéria.

Aplausos do PS.

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O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís

Ferreira.

O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados:

Através do Decreto-Lei n.º 127/2011, o Governo procurou dar forma à sua intenção de transferir para o Estado

as responsabilidades com pensões previstas no regime de segurança social substitutivo constante de

instrumento de regulamentação coletiva de trabalho em vigor no setor bancário.

Estamos, portanto, a falar de um regime de proteção social dos reformados e pensionistas do setor

bancário, mas de um regime convencional, previsto e estabelecido em instrumento de regulamentação coletiva

de trabalho, livremente negociado entre as partes, ou seja, entre as entidades patronais e as organizações

sindicais. E é, desde logo, e, no mínimo, estranho, que o Governo, desrespeitando completamente as normas

que orientam a contratação coletiva, venha alterar, por decreto, este regime de natureza convencional, sem

que as partes celebrantes dos instrumentos de negociação coletiva que o estabeleceram tenham previamente

negociado e acordado entre si as alterações ao regime e as condições da transferência.

Aliás, o descaramento do Governo é, a este propósito, de tal ordem que, no preâmbulo deste diploma,

apenas se faz referência, e cito, ao «processo de audição desenvolvido entre o Governo, a Associação

Portuguesa de Bancos e as instituições de crédito», sem se fazer qualquer menção às associações sindicais

que, recorde-se, também são signatárias dos instrumentos de regulamentação coletiva que o Governo

pretende alterar.

O Sr. Secretário de Estado está a olhar para mim com um ar muito admirado, mas eu posso facultar-lhe

uma cópia deste diploma para poder constatar que aquilo que estou a dizer é verdade.

Mas, para além desta fragilidade do ponto de vista formal, também sobram reservas relativamente ao

conteúdo deste diploma legal.

Desde logo, o facto de a segurança social assumir legalmente a responsabilidade com as pensões do

sector bancário sem que a esta transferência de responsabilidade corresponda uma direta transferência dos

ativos que compõem os atuais fundos de pensões e que deveriam assegurar a cobertura destas

responsabilidades.

Na versão do Governo, a operação seria assim: a titularidade dos ativos dos fundos de pensões é

diretamente transmitida para o Estado, que, depois, transfere para a segurança social os montantes

correspondentes às pensões devidas. O que levanta, desde já, uma interrogação: essa transferência, sob a

forma de dotação específica, do Estado para a segurança social terá natureza mensal? Será anual? Seria bom

que o Governo clarificasse esta matéria. Mas, mesmo assim, a segurança social seria apenas, neste processo,

uma prestadora de serviços ou uma intermediária, tal como diz o Governo.

Sucede que, de acordo com o Decreto-Lei em apreciação, é a segurança social e não o Estado que

assume a responsabilidade pelas pensões e, no limite, se um dia não existirem fundos suficientes para dar

resposta a estas responsabilidades e o Estado não proceder à respetiva transferência, a responsabilidade

cairá, legalmente, sobre a segurança social, isto é, sobre o sistema público de segurança social.

Para além destas questões e destas reservas, há ainda uma questão política que é necessário ter

presente: este negócio, apesar de ser muito bom para a banca, é desastroso para o Estado, é um mau

negócio para a segurança social e é um péssimo negócio para os portugueses.

Ganha a banca, perde o País e perdem os portugueses!

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exatamente!

O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João Pinho de

Almeida.

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Sr. Presidente, Srs. Secretários de Estado, Sr.as

e Srs.

Deputados: Estamos a apreciar um decreto-lei específico, com normas e disposições muito específicas,

embora durante o debate tenhamos ouvido falar essencialmente de matérias que não são reguladas por este

Decreto-Lei e que, supostamente, são conexas, na interpretação de alguns Deputados da oposição ou até na

imaginação desses mesmos Deputados.

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Acontece que o regime da apreciação parlamentar é muito claro: o que temos de apreciar, seja com

intenção de revogação seja com intenção de alteração dos termos agora prescritos, é aquilo que consta e não

aquilo que não consta do Decreto-Lei. E o que consta do Decreto-Lei resulta de um processo muito participado

e, desde logo, de um acordo tripartido entre o Estado, os representantes das instituições financeiras e os

representantes dos trabalhadores, ou seja, é resultado, ele próprio, de concertação anterior entre todas as

partes.

Foi também um processo fiscalizado de forma intensiva neste Parlamento. A Comissão de Orçamento,

Finanças e Administração Pública ouviu o Ministro das Finanças, ouviu o Ministro da Solidariedade e da

Segurança Social, ouviu o Governador do Banco de Portugal, ouviu o Instituto de Seguros de Portugal, ouviu a

Associação de Bancos e ouviu os sindicatos representativos dos trabalhadores. Que diferença em relação a

anteriores processos de transmissão de fundos para a órbita do Estado em que não houve este escrutínio por

parte do Parlamento!!

Vozes do CDS-PP: — Bem lembrado!

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — É em resultado de todo este escrutínio que agora,

legitimamente, alguns grupos parlamentares fazem a apreciação deste Decreto-Lei. É legítimo, como é

legítimo que discordemos dos termos em que a fazem.

Por uma razão simples: o enquadramento legal e processual desta operação é claro, é mais uma fase de

um processo, que se iniciou em 2009, primeiro, com a passagem dos trabalhadores bancários que foram

admitidos a partir de 3 de março de 2009 e, mais tarde, com as transferências das responsabilidades relativas

a trabalhadores que foram admitidos antes de 2009. Depois, foi garantido aqui pelo Sr. Governador do Banco

de Portugal que esta operação é neutra para o Estado, ou seja, que os compromissos e as responsabilidades

assumidos pelo Estado são na mesma medida do património que é transmitido. É também assegurado pelo

acordo tripartido que os direitos dos trabalhadores estão perfeitamente garantidos.

Ou seja, tudo aquilo que o Decreto-Lei tinha de garantir garante. Eventualmente, alguns partidos queriam

que o Decreto-Lei incluísse outras matérias, mas não inclui. Isso não é, só por si, argumento para que aquilo

que está incluído não esteja correto.

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Secretário de Estado da

Administração Pública.

O Sr. Secretário de Estado da Administração Pública (Hélder Rosalino): — Sr. Presidente, Sr.as

e Srs.

Deputados: Gostaria de recordar que a operação de transferência dos fundos de pensões dos bancos,

concretizada no passado dia 31 de dezembro de 2011, se enquadra no processo de integração progressiva

dos bancários na segurança social, processo esse que se iniciou em 2009, como já aqui foi referido e eu

gostaria de reiterar.

Nessa altura, em 2009, o primeiro acordo tripartido determinou que os trabalhadores bancários admitidos a

partir de março de 2009 passariam a estar integrados no regime geral da segurança social.

Em 2010, o segundo acordo tripartido procedeu à integração no regime geral da segurança social dos

trabalhadores bancários no ativo admitidos antes de março de 2009.

Esta operação, realizada no final de 2011, foi, assim, mais uma etapa desse processo de integração dos

pensionistas e reformados bancários na segurança social.

Assinalo que foi o acordo tripartido, assinado no final do ano, envolvendo os sindicatos, as instituições de

crédito e o Governo, que esteve na base da produção do Decreto-Lei n.º 127/2011, de 31 de dezembro, que

procedeu à transmissão para o Estado das responsabilidades com pensões previstas no regime de segurança

social substitutivo constante de instrumento de regulamentação coletiva vigente para o setor bancário.

De facto, o que aconteceu foi uma transposição quase literal das condições que tinham sido definidas e

tinham sido a base do acordo tripartido para a produção do decreto-lei que veio a ser promulgado e publicado

no final do ano.

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Assim, a assinatura deste acordo tripartido conferiu a necessária legitimidade negocial a este processo de

transferência dos fundos de pensões da banca para a segurança social, na medida em que traduziu, e enfatizo

esta parte, a livre vontade de todas as partes envolvidas na concretização desta operação: sindicatos,

instituições de crédito e Governo.

Um ponto fundamental que quero realçar é o de que a operação, como tem vindo a ser dito e foi

reconhecido pelo PS, é equilibrada e actuarialmente justa, na medida em que os ativos recebidos asseguram a

cobertura integral das responsabilidades assumidas com o pagamento das pensões que lhe estão associadas.

Aliás, o Banco de Portugal e o Instituto de Seguros de Portugal tiveram oportunidade de afirmar

exatamente esta conclusão.

Esta operação foi realizada utilizando pressupostos explícitos e procedimentos transparentes. Os principais

pressupostos considerados foram uma taxa de desconto de 4%, tábuas de mortalidade que estão de acordo

com aquilo que é a política, a prática e as recomendações do Instituto de Seguros de Portugal e, portanto, são

tábuas de mortalidade adequadas a este tipo de operações, aliás, equivalentes ou ligeiramente melhores,

nalguns aspetos, do que as utilizadas na operação anterior de transferência do fundo de pensões da PT.

Acresce referir que, no contexto da preparação da operação foram efetuadas análises técnicas rigorosas,

devidamente acompanhadas pelos reguladores e pelas entidades internacionais que acompanham o

Programa de Assistência Económica e Financeira, que, naturalmente, tiveram toda a informação e puderam

pronunciar-se sobre esta operação.

Quero referir que as responsabilidades de pagamento das pensões da banca transferidas para o Estado

não serão integradas, do ponto de vista financeiro, no regime geral da segurança social, tendo um tratamento

e uma gestão autónoma, separada do sistema de seguro social. O financiamento dos pagamentos será

garantido pelo Orçamento do Estado, através de uma dotação específica não incluída nas dotações previstas

na Lei de Bases da Segurança Social.

A respeito da dotação orçamental destinada ao pagamento das responsabilidades com pensões assumidas

pelo Estado bem como à aplicação última dos valores transferidos dos fundos de pensões para o Estado,

apesar de já ser do conhecimento público a pretensão do Governo de aplicar uma parte desse valor na

liquidação de dívidas de entidades públicas, esclareço que estas são matérias cuja concretização será

realizada no âmbito da proposta de lei referente ao orçamento retificativo para 2012, não sendo oportuno

avançar com mais informação quando se trata de matérias que se encontram ainda em fase de definição de

trabalho técnico, designadamente no que respeita à sua análise e avaliação pelo conjunto de representantes

das entidades que suportam o Programa de Assistência Económica e Financeira.

É uma matéria que está a ser analisada pelos elementos das entidades que nos dão apoio no âmbito do

Programa de Assistência Económica e Financeira e que terá, digamos, o momento para a sua apresentação

ao Parlamento aquando da apresentação do orçamento retificativo.

Termino, reconhecendo que o Governo tem plena consciência de que a operação de transferência dos

fundos de pensões da banca para o Estado, não obstante as vantagens que lhe estão associadas e que

abrangem, efetivamente, todos os intervenientes na operação (Estado, pensionistas e sistema bancário), é

uma forma extraordinária e irrepetível de reduzir o défice orçamental que não contribui para a sustentabilidade

das finanças públicas. Apenas circunstâncias excecionais justificaram o recurso a esta medida, como solução

para o cumprimento dos limites do défice a que Portugal estava obrigado em 2011, sendo que dessas

circunstâncias excecionais, não podemos ignorar as consequências fortemente negativas que adviriam do

incumprimento da meta do défice em 2011 para a credibilidade internacional de Portugal e para a confiança

dos nossos parceiros europeus.

Reitero, por fim, o firme propósito do Governo em privilegiar a consolidação das contas públicas através de

medidas de caráter estrutural e permanente, visando a contenção da despesa pública, como, aliás, é possível

constatar, desde já, com a execução orçamental do primeiro mês de 2012.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Ainda para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João

Galamba.

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O Sr. João Galamba (PS): — Sr. Presidente, Sr. Secretário de Estado da Administração Pública: Disse

que esta transferência era essencial para atingir os objetivos do défice em 2011 mas esqueceu-se de referir a

outra parte, que era essencial para pagar dívidas, o que a troica não deixou, e, por isso, deixaram o País com

uma embrulhada na mão, que é a de ter um défice francamente inferior ao necessário em 2011 e, em 2012,

francamente superior àquilo que está estipulado.

Segundo documentos divulgados pelo seu Ministério, esqueceram-se de orçamentar 478 milhões de euros

e esqueceram-se também dos 1500 milhões de dívida que vão pagar — deviam ter pago em 2011 mas a

troica não deixou, por trapalhada vossa — e que agora vão onerar o Orçamento do Estado para 2012.

Mas também se esqueceu de outra coisa, Sr. Secretário de Estado. É que disse aqui que a transferência

de fundos de pensões era equilibrada, justa e actuarialmente neutra. Isto não é verdade! Uma parte da

transferência é actuarialmente neutra, que é a parte em que o Estado fica com as responsabilidades e recebe

6000 milhões de ativos — esta parte é actuarialmente neutra —, mas a segunda parte, que é aquela de que o

Ministério das Finanças nunca fala, é a que consta da segunda atualização do Memorando de Entendimento,

em que o Estado se compromete a entrar no capital dos bancos com parte do dinheiro que recebe dos

próprios bancos, num valor em torno dos 2000 milhões de euros, e esta, Sr. Secretário de Estado, pode ter a

certeza absoluta de que não é actuarialmente neutra e é uma parte fundamental desta operação sobre a qual

ninguém se pronunciou. Sobre isto, Sr. Secretário de Estado, não pode dizer que é justo nem actuarialmente

neutro e muito menos que protege os interesses dos contribuintes.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Também para uma intervenção, tem ainda a palavra o Sr. Deputado

João Pinho de Almeida.

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as

e Srs.

Deputados: Na conclusão deste debate, quero reforçar um pouco aquilo que foi dito anteriormente.

Estamos a debater a apreciação parlamentar de um decreto-lei, debateremos um orçamento retificativo, a

seu tempo, e, quando o debatermos, terá o Governo toda a oportunidade de esclarecer muitas das questões

que hoje foram aqui colocadas. O que fica hoje evidente, neste debate, é que sobre o decreto-lei que estamos

a apreciar não existem dúvidas nem oposições; as dúvidas e as oposições que possam existir são sobre

matérias conexas e, no debate do orçamento retificativo, teremos oportunidade de fazer a sua apreciação.

Aplausos do CDS-PP e do PSD.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Srs. Deputados, concluímos o debate da apreciação parlamentar n.º

7/XII (1.ª).

Entretanto, deram entrada na Mesa, e foram admitidos, os projetos de resolução n.os

229 e 230/XII (1.ª),

ambos sobre a cessação da vigência do Decreto-Lei n.º 127/2011, de 31 de dezembro, que procede à

transmissão para o Estado das responsabilidades com pensões previstas no regime de segurança social

substitutivo constante de instrumento de regulação coletiva de trabalho vigente no sector bancário,

apresentados, respetivamente, pelo BE e pelo PCP, os quais serão votados no próximo período regimental

destinado a votações, que ocorrerá, como se sabe, na próxima sexta-feira.

Passamos ao último ponto da nossa ordem de trabalhos, que diz respeito à apreciação conjunta da petição

n.º 15/XI (1.ª) — Apresentada pela Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses — Intersindical

Nacional (CGTP-IN), solicitando à Assembleia da República a urgente eliminação dos paraísos fiscais, e do

projeto de resolução n.º 226/XII (1.ª) — Recomenda ao Governo ações para a eliminação dos paraísos fiscais

(BE).

Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Filipe Soares.

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, Sr.as

e Srs. Deputados: Em primeiro lugar, gostaria de

saudar os peticionários, no nome da CGTP, e dizer que há aqui um espaço importante de demonstração de

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que o movimento sindical também pode ter voz em matérias que afetam as contas públicas, particularmente

quando, como sabemos, todos os holofotes estão, desde 2007, sobre a evasão fiscal.

Por isso, este é um exemplo de cidadania e de preocupação que merece ser saudado e não deixamos de o

relevar, porque este tema é importantíssimo para o País nos dias de hoje, mas também para o mundo, no

contexto da crise financeira atual.

Os offshore, reconhecidamente, em 2007 e em 2008, vieram para os escaparates do mundo enquanto

espaços de concentração e de transformação de muitos dos produtos financeiros, particularmente os que

estiveram na base da crise do subprime, mas também são espaços que muitos já reconhecem, por exemplo,

para lavagem de dinheiro ou alguns negócios mais obscuros. Se juntarmos a isso serem também espaço para

isenções fiscais que são tidas à custa dos Estados nacionais, temos todo um cenário que demonstra como os

offshore são maus para o mundo, são maus para o País e para os portugueses.

No entanto, Portugal assumiu-se, em 2010, como o principal País da União Europeia a fazer transferências

e empréstimos para offshore. Só no 1.º semestre de 2010, os bancos nacionais deram 10 700 milhões de

euros de empréstimos para offshore. Portugal foi, assim, o primeiro País da zona euro a transferir dinheiro, a

emprestar dinheiro para estes «buracos negros» do sistema financeiro. Isto deve ser motivo para alguma

reflexão mas também motivo para ação, e é isto que trazemos no projeto de resolução em debate.

O offshore da Madeira, o offshore no espaço nacional, tem exemplos que merecem ser altamente

reprovados por todas as bancadas. A Arcelormittal, por exemplo, que tem 60 000 milhões de euros de

faturação anual por todo o mundo, não tem nenhum trabalhador na Madeira, não obstante ter lá a sua sede. E

por que é que o faz? Exatamente para poder utilizar a fuga aos impostos nos processos de compra e venda a

nível mundial e, com isso, fugir ao que qualquer cidadão, qualquer pequena e média empresa tem de fazer,

que é o pagamento de impostos, coisa que a Arcelormittal, fruto do offshore da Madeira, não faz.

O Sr. José Manuel Rodrigues (CDS-PP): — Não! Paga, paga!

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — A Wainfleet, a maior exportadora do País em 2007 — pasme-se! —

não produz absolutamente nada em Portugal, mas tem a sua sede fiscal no offshore da Madeira. Exatamente

para quê? Exatamente para não pagar impostos! Nem um único trabalhador!

Poderia continuar, porque 80% das empresas com sede no offshore da Madeira não têm qualquer

trabalhador em Portugal, repito, qualquer trabalhador em Portugal!

Por isso, percebemos que, na prática, o offshore não cria riqueza, não cria trabalho, é, antes, um

sorvedouro de dinheiros públicos e um espaço para a fuga de capitais do nosso País.

O offshore da Madeira tem uma perda fiscal equivalente ao que este Governo cortou aos funcionários

públicos, nomeadamente os 13.º e 14.º meses. Mas cortar onde se podia cortar, que era na especulação

financeira, no offshore, o Governo não quis, preferiu ir ao bolso dos funcionários públicos.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Queira concluir, Sr. Deputado.

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Termino, Sr. Presidente, dizendo que é, por isso, da maior justiça a

proposta que o Bloco de Esquerda apresenta. É uma proposta para o País, com o fim do offshore da Madeira,

mas uma proposta para a Europa, mandatando o Governo para ir ao Conselho Europeu dizer que basta desta

desregulação dos mercados financeiros, basta destes «buracos negros», que são sorvedouros de dinheiros de

todos nós, é preciso trazer alguma justiça onde ela, agora, não impera.

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Elsa Cordeiro.

A Sr.ª Elsa Cordeiro (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as

e Srs. Deputados: Desde já, quero saudar os 5246

peticionários e dizer-lhes que compreendemos os motivos desta iniciativa, uma vez que os paraísos fiscais são

mal vistos pela generalidade das pessoas, seja por desconhecimento do seu funcionamento, seja por

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acreditarem que todos os paraísos fiscais são utilizados exclusivamente para finalidades ilícitas, como a fuga

de impostos e a lavagem de dinheiro.

Vozes do PSD: — Muito bem!

A Sr.ª Elsa Cordeiro (PSD): — Aliás, dispomos, no atual contexto, de uma oportunidade que não devemos

desperdiçar no combate aos paraísos fiscais, uma vez que são muitos os estados que têm colocado pressão

sobre alguns países que são utilizados com a finalidade de minimização da carga fiscal.

Na verdade, face ao contexto político económico atual e à pressão a que os paraísos fiscais estão sujeitos,

consideramos que todos os protocolos existentes necessitam de ser eficazmente usados, no sentido de

aumentar a troca de informações entre estados, arrecadando, assim, maiores receitas fiscais perdidas.

Saliente-se neste sentido os esforços que o Governo tem desenvolvido, promovendo um intenso nível de

controlo e combate à fraude e evasão fiscal nos paraísos fiscais, tudo com o objetivo de, por um lado,

concretizar um pacto para a internacionalização fiscal e, por outro, conduzir à formalização de acordos que

assumam particular relevância na troca de informações em matéria fiscal. Tudo com a finalidade de evitar a

dupla tributação e a prevenir a evasão fiscal

Portugal já conta com dezenas de acordos sobre troca de informações e várias convenções destinadas a

evitar a dupla tributação e evasão fiscal. Amanhã mesmo nesta assembleia iremos aprovar oito novos

acordos, o que demonstra, e demonstra bem, o empenho do nosso Governo no combate à fraude fiscal.

Da nossa parte, da parte do PSD, estamos convictos que este é de facto o caminho correto.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João Galamba.

O Sr. João Galamba (PS): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Em primeiro lugar, queria saudar os

peticionários, através da CCTP.

Os paraísos fiscais são, de facto, um cancro do sistema, da economia moderna, porque minam as

soberanias dos estados e introduzem um princípio de concorrência fiscal que é negativo para todas as

economias, acabando por levar a um dumping fiscal de que ninguém beneficia, nem países, nem cidadãos.

É também um esquema de fuga ao fisco legal que introduz problemas gravíssimos de concorrência, uma

vez que nem toda a gente tem o mesmo acesso a este tipo de benesse e o combate sem tréguas a estes

paraísos fiscais é algo que deve estar na prioridade de todos os governos.

Obviamente que é importante a celebração de acordos de partilha de informação e de dupla tributação,

mas não é suficiente. É preciso colocar o combate aos paraísos fiscais no topo da agenda política e travar

essa luta onde ela pode ser travada, não só na União Europeia mas também com todos os países, porque,

enquanto existirem paraísos fiscais, é a soberania fiscal dos estados que está em perigo e são todos os

cidadãos que a ele não podem recorrer que verão a sua tributação onerada, o que também põe em dificuldade

a capacidade de os Estados desenvolverem as suas políticas.

É, portanto, algo que todos devemos tentar eliminar, não, ao contrário do que diz a CGTP, um país

individualmente, mas é uma luta política na qual todos se devem empenhar porque não há nenhum paraíso

fiscal, com ou sem acordos de troca de informação, com ou sem acordos de dupla tributação, que possa ser

visto como algo benéfico para os países e para a economia do mundo.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem a palavra o Sr. Deputado Paulo Sá.

O Sr. Paulo Sá (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Em primeiro lugar, gostaria de saudar os mais de

5000 subscritores da presente petição, da iniciativa da CGTP — Intersindical Nacional, uma central sindical

unitária, de classe, independente, democrática e de massas, que desde sempre se tem posicionado na

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primeira linha do combate em defesa dos direitos dos trabalhadores, contra o retrocesso social resultante da

política de direita.

Apesar de ter sido enviada à Assembleia da República há mais de dois anos, a presente petição, que apela

à urgente eliminação dos paraísos fiscais, mantém toda a sua atualidade.

Efetivamente, vários anos após o início da atual crise sistémica do capitalismo e não obstante as

bombásticas declarações desde então proferidas em múltiplos conclaves do capitalismo mundial, as

transferências para paraísos fiscais continuam a processar-se a um ritmo muito elevado. Por estes territórios,

que se multiplicaram nos últimos 30 anos, circula uma parte importante dos fluxos financeiros mundiais,

permitindo, além da evasão fiscal, o branqueamento de capitais provenientes de atividades ilegais.

Em Portugal, a fuga de capitais para paraísos fiscais, além de privar o Estado de avultadas receitas fiscais,

as quais permitiriam reduzir o nosso défice orçamental, priva também a economia nacional de recursos

financeiros de que ela tanto necessita. Enquanto se permite a fuga de capitais e a evasão fiscal, envolvendo

largos milhares de milhões de euros por ano, aos trabalhadores e ao povo português continuam a ser exigidos

sacrifícios cada vez mais insuportáveis e injustos.

Apesar do anúncio de medidas para diminuir a desregulamentação do sistema financeiro e para

desarticular a imensa rede de paraísos fiscais, inclusivamente por aqueles que facilitaram os meios legais e os

instrumentos para a proliferação desses mesmos paraísos fiscais, a realidade é bem diferente. Subsiste, por

parte dos setores ligados ao grande capital, uma manifesta falta de vontade política para adotar medidas de

desmantelamento dos paraísos fiscais…

O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Essa é que é essa!

O Sr. Paulo Sá (PCP): — … ou, até, para implementar novas regras de supervisão e regulação, mesmo

aquelas respeitantes aos produtos financeiros derivados de maior risco.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!

O Sr. Paulo Sá (PCP): — Enquanto não se extinguem os paraísos fiscais, objetivo que requer ampla

colaboração internacional, o PCP tem apresentado um conjunto de propostas, de âmbito nacional, visando

limitar ou condicionar as transferências financeiras que fogem ao poder tributário e que, pior ainda, participam

ativamente em movimentos de natureza especulativa sobre a nossa própria economia, minando as bases

financeiras do Estado português.

Propusemos, por exemplo, que à transferência de capitais para paraísos fiscais fosse aplicada uma taxa

especial de 25%. Esta medida visava sobretudo os grandes grupos económicos e financeiros que, de forma

sistemática, usam esta transferência de capitais para obterem inaceitáveis isenções ou benefícios fiscais. Mais

recentemente, há cerca de um mês, propusemos ainda o reforço da tributação sobre os rendimentos

distribuídos por entidades localizadas em paraísos fiscais, assim como a eliminação da isenção da tributação

das mais-valias mobiliárias realizadas por SGPS.

Estas e muitas outras propostas no mesmo sentido foram recusadas pelos partidos da troica interna, num

sinal claro de que os seus discursos sobre a equidade fiscal e sobre a justa repartição de sacríficos não

passam de mera retórica, destinada a tentar justificar os inaceitáveis sacrifícios exigidos aos trabalhadores e

ao povo português pelo pacto de agressão da troica, enquanto continuam a atuar como conselho de

administração dos interesses dos grandes grupos económicos e financeiros, protegendo os seus interesses e

fabulosos lucros.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Vera Rodrigues.

A Sr.ª Vera Rodrigues (CDS-PP): — Sr. Presidente, cumprimento-o a si, bem como aos Srs. Deputados e

aos peticionários.

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Vivendo num mercado livre e aberto, como é aquele em que nos inserimos, a matéria desta petição da

CGTP e do projeto de resolução do BE sofrem de um problema de falta de adesão à realidade. Mas isso não

significa que o Governo esteja completamente alheado dos impactos, da diferença que existe em matéria de

competitividade fiscal entre territórios. Por isso, nessa medida, cremos ser uma boa altura para relembrar

aquilo que, em sede de Orçamento do Estado, ficou previsto como resposta a esta realidade e às

preocupações que estão vertidas quer na petição quer no projeto de resolução do Bloco de Esquerda.

Podemos dar aqui alguns exemplos: agravamento para 30% da tributação das transferências de

rendimentos de capitais provenientes de e com destino a paraísos fiscais, em sede de IRS; regime de

tributação dos lucros e não dedutibilidade, em sede de IRC, no que respeita aos pagamentos a entidades

sujeitas a um regime fiscal privilegiado; alargamento significativo das regras de transparência fiscal

internacional, as chamadas regras CFC; reforço significativo do combate à fraude e evasão fiscais;

agravamento da moldura penal dos crimes fiscais mais graves; reforço dos mecanismos de troca de

informações a introduzir nos protocolos às convenções de dupla tributação.

Protestos do Deputado do BE Luís Fazenda.

Assim, indo também ao encontro das preocupações vertidas quer na petição quer no projeto de resolução

do BE, o Governo está manifestamente comprometido com medidas que permitam evitar a utilização abusiva

dos paraísos fiscais mas também combater a hipotética ilicitude que dessa utilização possa resultar. Esta é,

evidentemente, matéria de preocupação central da parte do CDS.

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Ferreira.

O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Em primeiro lugar, em nome do

Grupo Parlamentar Os Verdes, gostaria de saudar os cidadãos que subscreveram a petição que estamos a

discutir, uma saudação que estendo, naturalmente, à Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses, a

CGTP-Intersindical Nacional, que tomou a iniciativa de a promover e de, por essa via, trazer para a discussão

um assunto da maior importância e uma matéria que tem contribuído, de forma muito sentida, para a

imoralidade e a injustiça fiscal que está instalada no nosso País.

Mas, para além desta injustiça fiscal e desta imoralidade fiscal que estão associadas aos paraísos fiscais,

como muito bem se refere no texto da petição, os paraísos fiscais foram o palco de alguns dos acontecimentos

da crise que hoje vivemos, como seja a falência de bancos ou as fraudes em larga escala.

Por outro lado, nos estudos, especialistas apontam para uma concentração de 26% da riqueza mundial nos

paraísos fiscais. E o pior é que essas atividades estão, muitas vezes, associadas à economia clandestina, à

evasão fiscal, à fraude fiscal, ao crime organizado, à lavagem de dinheiro e, por vezes, a muitas práticas que

fragilizam a estabilidade mundial, como seja o negócio da droga e, até, o negócio de armamento.

Mas, pior, esta verdadeira economia de casino é inseparável do agravamento das desigualdades sociais,

da pobreza e da insustentabilidade do modelo económico que vai reinando no mundo. Por cá, sempre se

lembrará os processos escandalosos do BCP, do BPP ou do BPN, que indiciaram práticas relacionadas com

empresas sediadas exatamente em paraísos fiscais e cuja fatura acabou por ser paga pelos contribuintes

portugueses, já que acabou por ser o Estado a tapar o buraco de algumas dessas instituições.

Os Verdes consideram, portanto, imperioso caminhar no sentido de eliminar os paraísos fiscais como forma

de ajudar também a credibilizar o nosso sistema fiscal. Na nossa perspetiva, os paraísos fiscais têm de ser

olhados como um elemento estranho à nossa democracia. Parece-nos, pois, profundamente injusto um

sistema fiscal no qual convivem uns, em paraísos fiscais, e outros, em verdadeiros infernos fiscais, que é a

situação da generalidade dos portugueses, hoje.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem a palavra o Sr. Deputado José Manuel Rodrigues.

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O Sr. José Manuel Rodrigues (CDP-PP): — Sr. Presidente, Sr.as

e Srs. Deputados: O Bloco de Esquerda

e a CGTP partem de uma deliberada confusão para chegarem a uma péssima conclusão. Confundem

paraísos fiscais sem qualquer controlo ou regulação com zonas francas, como a da Madeira, que é fiscalizada

pelo Banco de Portugal e pelo Ministério das Finanças e obedece à legislação europeia.

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Muito bem!

O Sr. José Manuel Rodrigues (CDP-PP): — Propositadamente, chamam ao «barulho» os casos do BPN e

do Banco Privado Português e a sua relação com paraísos fiscais para pôr em causa o Centro Internacional de

Negócios da Madeira. Esquecem que nenhuma das situações detetadas nos dois bancos teve a ver com a

praça da Madeira. E, depois desta deliberada confusão, chegam à conclusão de que se deve acabar com o

Centro da Madeira.

Só que, mais uma vez, esquecem que a praça da Madeira não consta da lista negra da OCDE. Do que esta

praça precisa é de um regime fiscal mais favorável, que lhe permita competir com as suas congéneres do

Luxemburgo, de Malta ou da Holanda.

Saúdo, aliás, a iniciativa do Governo português por ter reaberto o processo de negociações com a

Comissão Europeia sobre esta matéria, depois de o anterior governo do PS ter abandonado essas mesmas

negociações. Não sejamos ingénuos: se o Centro Internacional de Negócios da Madeira acabasse, como

alguns pretendem, quem iria beneficiar eram as outras praças financeiras europeias, e a Madeira e Portugal

perderiam capitais, empresas e postos de trabalho.

O Sr. Luís Fazenda (BE): — Postos de trabalho?!…

O Sr. José Manuel Rodrigues (CDP-PP): — O que dirão o Bloco de Esquerda e a CGTP aos 2800

trabalhadores do Centro Internacional de Negócios da Madeira, se estes perderem o emprego?

Vozes do CDS-PP: — Muito bem!

O Sr. José Manuel Rodrigues (CDP-PP): — E não venham com a questão dos prejuízos fiscais, porque

eles, realmente, não existem.

Vozes do BE: — Não existem?!…

O Sr. José Manuel Rodrigues (CDP-PP): — Se as empresas deixarem de ter benefícios na Madeira,

naturalmente vão deslocalizar-se para outras praças, dentro ou fora da União Europeia, e até poderemos

perder 150 milhões de euros de receita fiscal e de contribuições da segurança social.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Queira concluir, Sr. Deputado.

O Sr. José Manuel Rodrigues (CDP-PP): — Termino Sr. Presidente.

Mais: nestes tempos difíceis que a Madeira atravessa, o Centro Internacional de Negócios da Madeira pode

ser um poderoso instrumento de atração de capital estrangeiro, de investimento e de criação de emprego e de

riqueza, afinal, aquilo de que desesperadamente precisamos.

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem a palavra o Sr. Deputado Jacinto Serrão.

O Sr. Jacinto Serrão (PS): — Sr. Presidente, Sr.as

e Srs. Deputados: De facto, estamos a falar aqui de

problemas muito distintos, através destas duas iniciativas que estão a ser apreciadas.

Existe, de facto, um problema à escala global, que exige uma vontade política, a nível internacional, para

resolver uma série de problemas relativamente a paraísos fiscais que estão na lista negra e precisam de

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controlo por parte de instituições idóneas. Mas misturar no mesmo saco o Centro Internacional de Negócios da

Madeira, o offshore da Madeira, é disparatado, como está a fazer, através do seu projeto de resolução, o

Bloco de Esquerda.

O Centro Internacional de Negócios da Madeira é devidamente escrutinado, com base nas regras que

foram estabelecidas pelas instituições, escrutinado pelo Banco de Portugal e pelas instituições da União

Europeia. Portanto, é manifestamente exagerado estarmos aqui a confundir certos paraísos fiscais, que

existem à escala internacional, com aquilo que se passa na Região Autónoma da Madeira.

Podemos, de facto, questionar alguns aspetos que se prendem com um maior rigor e um maior escrutínio

relativamente a estas praças financeiras que existem em todo o espaço europeu, por parte das instituições

europeias, mas essa é uma questão que tem de ser equacionada a nível europeu, porque todos sabemos que

o Centro Internacional de Negócios da Madeira, a sua continuidade, depende de um conjunto de orientações e

de regras estabelecidas pela União Europeia, regras essas que devem ser devidamente negociadas e

estabelecidas entre o Governo Regional da Madeira e o Governo do País, para que o Governo do País, por

sua vez, possa levar todas essas reivindicações e preocupações à União Europeia.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Queira concluir, Sr. Deputado.

O Sr. Jacinto Serrão (PS): — Para terminar, Sr. Presidente e Srs. Deputados, é preciso que se diga que,

de facto, enquanto existirem praças desta natureza a operarem no espaço europeu, é manifestamente

despropositado estarmos a pedir que se extinga a única praça que temos em Portugal, porque todas as

empresas lá sediadas, certamente, deslocar-se-ão para outros centros offshore congéneres dentro do espaço

europeu, supervisionados pelas instituições europeias, como todos sabemos.

Aplausos do PS.

Protestos do BE.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Hugo Velosa.

O Sr. Hugo Velosa (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as

e Srs. Deputados, apenas gostaria de dizer o seguinte: o

Sr. Deputado Pedro Filipe Soares teve aqui uma imprecisão técnica inaceitável, e é um Deputado em relação

ao qual nos habituámos a pensar que, tecnicamente, ainda domina minimamente as matérias.

A zona franca da Madeira não é uma zona offshore.

Risos do BE.

Aconselho-o a ir ler tudo o que quiser sobre essa matéria! Não é uma zona offshore, repito. O sistema de

fiscalização da zona franca da Madeira demonstra que não é uma zona offshore, mas há na Europa zonas

offshore.

Vozes do PSD: — É verdade!

O Sr. Hugo Velosa (PSD): — Por isso, V. Ex.ª veio aqui, ao Parlamento, fazer um número político…

Vozes do PSD: — Muito bem!

O Sr. Hugo Velosa (PSD): — … contra a zona franca da Madeira, contra os interesses da Madeira e de

Portugal.

Aplausos do PSD.

E não é a primeira vez que o Bloco de Esquerda o faz. Isso é perfeitamente claro!

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Portanto, fez um mau serviço aos interesses de Portugal, porque a zona franca da Madeira não é uma zona

offshore, tem mais de 2000 trabalhadores e, exatamente neste momento, em que foram reabertas as

negociações, é bom que se fale pouco da zona franca da Madeira. É bom que o Bloco de Esquerda e o

Partido Comunista falem pouco da zona franca da Madeira.

Para bem de Portugal e para bem dos interesses dos portugueses, é bom que a zona franca da Madeira

volte a funcionar de uma forma correta, não offshore, que não prejudica os portugueses, pelo contrário,

beneficia-os.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Srs. Deputados, está concluída a discussão conjunta da petição n.º

15/XI (1.ª) e do projeto de resolução n.º 226/XII (1.ª), que será votado na próxima sexta-feira.

A próxima reunião plenária terá lugar amanhã, às 15 horas. Haverá declarações políticas e proceder-se-á à

apreciação conjunta das propostas de resolução n.os

14/XII (1.ª) — Aprova a Convenção entre a República

Portuguesa e os Emirados Árabes Unidos para Evitar a Dupla Tributação e Prevenir a Evasão Fiscal em

Matéria de Impostos sobre o Rendimento, assinada em Abu Dhabi, a 17 de janeiro de 2011, 15/XII (1.ª) —

Aprova a Convenção entre a República Portuguesa e o Reino da Noruega para Evitar a Dupla Tributação e

Prevenir a Evasão Fiscal em Matéria de Impostos sobre o Rendimento, assinada em Lisboa, a 10 de março de

2011, 16/XII (1.ª) — Aprova o Protocolo e o Protocolo Adicional, assinados em 7 de setembro de 2010, que

alteram a Convenção entre a República Portuguesa e o Grão-Ducado do Luxemburgo para Evitar as Duplas

Tributações e Prevenir a Evasão Fiscal em Matéria de Impostos sobre Rendimento e o Património e o

respetivo Protocolo, assinados em Bruxelas, a 25 de maio de 1999, 17/XII (1.ª) — Aprova a Convenção entre a

República Portuguesa e a República do Panamá para Evitar a Dupla Tributação e Prevenir a Evasão Fiscal em

Matéria de Impostos sobre o Rendimento, assinada na cidade do Panamá, a 27 de agosto de 2010, 18/XII (1.ª)

— Aprova a Convenção entre a República Portuguesa e a República da Colômbia para Evitar a Dupla

Tributação e Prevenir a Evasão Fiscal em Matéria de Impostos sobre o Rendimento, assinada em Bogotá, em

30 de agosto de 2010, 19/XII (1.ª) — Aprova o Acordo entre a República Portuguesa e a Região Administrativa

Especial de Hong Kong da República Popular da China para Evitar a Dupla Tributação e Prevenir a Evasão

Fiscal em Matéria de Impostos sobre o Rendimento, assinado em Hong Kong, em 22 de março de 2011, 20/XII

(1.ª) — Aprova a Convenção entre a República Portuguesa e o Japão para Evitar a Dupla Tributação e

Prevenir a Evasão Fiscal em Matéria de Impostos sobre o Rendimento, assinada em Lisboa, em 19 de

dezembro de 2011, 22/XII (1.ª) — Aprova o Acordo entre a República Portuguesa e o Estado do Qatar para

Evitar a Dupla Tributação e Prevenir a Evasão Fiscal em Matéria de Impostos sobre o Rendimento, assinado

em Doha, em 12 de dezembro de 2011.

Em seguida, proceder-se-á à apreciação conjunta dos projetos de resolução n.os

204/XII (1.ª) —

Recomenda ao Governo a manutenção da autonomia de gestão dos portos comerciais nacionais (PS) e

227/XII (1.ª) — Exige a manutenção da gestão pública e autónoma dos portos portugueses (BE), após o que

se fará a apreciação conjunta do inquérito parlamentar n.º 1/XII (1.ª) — Comissão eventual de inquérito

parlamentar à gestão do Banco Português de Negócios pela CGD e à sua venda ao BIC (BE) e do projeto de

deliberação n.º 5/XII (1.ª) — Auditoria a realizar pelo Tribunal de Contas ao processo de nacionalização do

BPN, Banco Português de Negócios, e ao processo que determinou a insolvência do BPP, Banco Privado

Português, avaliando, nomeadamente, os custos já realizados e a realizar pelo Estado português (PCP).

Srs. Deputados, está encerrada a sessão.

Eram 17 horas e 55 minutos.

Deputados não presentes à sessão por se encontrarem em missões internacionais:

Partido Social Democrata (PSD)

Adão José Fonseca Silva

Hugo Alexandre Lopes Soares

Luís Álvaro Barbosa de Campos Ferreira

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Nilza Marília Mouzinho de Sena

Paulo Miguel da Silva Santos

Partido Socialista (PS)

João Barroso Soares

Deputados que faltaram à sessão:

Partido Social Democrata (PSD)

Carlos Alberto Silva Gonçalves

Carlos António Páscoa Gonçalves

Carlos Henrique da Costa Neves

Cláudia Sofia Gomes Monteiro de Aguiar

Maria da Assunção Andrade Esteves

Maria da Conceição Alves dos Santos Bessa Ruão Pinto

Maria João Machado de Ávila

Partido Socialista (PS)

Fernando Medina Maciel Almeida Correia

Luísa Maria Neves Salgueiro

Paulo Alexandre de Carvalho Pisco

Partido Comunista Português (PCP)

Bruno Ramos Dias

A DIVISÃO DE REDAÇÃO E APOIO AUDIOVISUAL.

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