8 DE MARÇO DE 2012
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O Sr. Primeiro-Ministro: — Portanto, Sr. Deputado, voltamos ao fundo da questão: não vale a pena usar
de habilidade na forma como a informação é circulada.
Quero garantir aqui, Sr. Deputado, que não deixaremos de fazer qualquer correção que se imponha face ao
acordo que vinha do passado com a Lusoponte e se a Estradas de Portugal reteve pagamentos indevidamente
não o podendo fazer a situação terá de ser corrigida dentro da legalidade e não de forma estranha.
Portanto, Sr. Deputado agradeço-lhe que não confunda as matérias. Ninguém faz apropriação de
pagamentos indevidos; se eles são feitos indevidamente, corrigem-se, quer seja na segurança social quer seja
com a Lusoponte.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado Jerónimo de Sousa.
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, parece que não foi muito
convincente,…
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — É verdade!
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — … tendo em conta a reação das bancadas que o apoiam, que pouco
o aplaudiram.
A verdade é esta: a Lusoponte recebeu os dois meses, e o resto é conversa! Portanto, depois, logo
veremos se pagam ou não.
Uma segunda questão muito importante, Sr. Primeiro-Ministro, prende-se com o seguinte: a troica e o
Governo acabaram de anunciar um balanço positivo à evolução do País com o pacto de agressão. Trata-se,
contudo, de um estranho balanço e de uma surpreendente avaliação, uma avaliação que não encaixa com a
realidade do País.
Desde o nosso último debate, a situação tem conhecido um agravamento a passos largos: a recessão
segue a um passo cada vez mais preocupante; a economia afunda-se a cada dia que passa, com todas as
previsões de dias piores; a queda do PIB prevista para o presente ano já vai no dobro da anunciada quando
da assinatura do pacto; o desemprego atingiu, por sua vez, números inaceitáveis, com a última estimativa
fixada nos 14,8%; dados do Ministério da Justiça, que não abarcam todo o ano de 2011, dizem-nos que
desapareceram cerca de 40 000 empresas; o comércio tradicional é atingido de forma brutal, tal como a
construção civil, a restauração e a indústria — só na indústria transformadora, entre os terceiro e quarto
trimestre de 2011, desapareceram 33 000 empregos.
Lendo, aliás, Sr. Primeiro-Ministro, a moção que apresentou no Congresso do seu partido,
surpreendentemente está lá, como um grande objetivo, a reindustrialização do País. Como é que isto se faz?
É destruindo? É do caos que nascerão as soluções? Explique lá essa contradição entre a realidade e o que se
afirma?
Por outro lado, também a redução dos apoios sociais, que em 2011 atingiu os 574 milhões de euros, está a
empurrar para a pobreza milhares de portugueses, porque não fazem tratamentos médicos, porque passam
fome, porque abandonam o ensino por falta de meios das famílias.
Quero aqui fazer uma afirmação e, simultaneamente, uma acusação: o que está a fazer-se no plano da
saúde, particularmente aos mais idosos, negando-lhes a possibilidade de transporte, negando-lhes a
possibilidade de uma consulta atempada, de um exame atempado, responsabiliza este Governo pela morte
antecipada de muitos portugueses, em particular de idosos!
Aplausos do PCP.
Por isso, esta é uma estranha avaliação da troica e do Governo: tudo vai bem se o País e o povo estiverem
piores.