I SÉRIE — NÚMERO 102
28
O Sr. Primeiro-Ministro: — … uma das situações mais desafiantes de que a generalidade dos
portugueses tem memória. Não existe, no nosso passado democrático, nenhuma situação que se lhe possa
equivaler.
Já tivemos, no nosso passado democrático, por duas vezes, necessidade de recorrer à ajuda externa para
evitar rotura de pagamentos e, portanto, para evitar o caos social e a quebra da coesão social. Dessas duas
vezes, as intervenções feitas operaram-se num regime inteiramente diferente daquele que hoje vivemos, com
instrumentos de política económica de que hoje não dispomos. A competitividade da economia portuguesa foi
restaurada em relativamente pouco tempo, embora hoje saibamos bem quais os verdadeiros custos de
restaurar a competitividade da economia desvalorizando a moeda, aumentando o valor das importações e,
dessa maneira, não promovendo a competitividade verdadeira das nossas empresas.
Protestos do Deputado do PS João Galamba.
Durante demasiados anos, ouvimos falar de reformas estruturais em Portugal, durante muitos anos houve
quem dissesse, em Portugal, que se essas reformas estruturais não fossem de facto atendidas, um dia,
iríamos bater na parede. Apesar dessa insistência, durante muitos anos, ignorámos estes alertas e, desde que
ingressámos no pelotão da frente da união monetária, na ausência dos instrumentos que nos permitiam fazer
desvalorizações da moeda mas não intervir ao nível estrutural, a economia portuguesa viciou-se em crédito e
endividou-se. Em resultado desse processo galopante, a economia portuguesa deixou de ter financiamento no
exterior, quer o Estado quer os bancos portugueses.
A situação que hoje vivemos não tem, portanto, paralelo, porque sabemos que para vencer esta situação
não basta desvalorizar a moeda e esperar que no ano a seguir a economia artificialmente recupere a sua
competitividade. Hoje sabemos que a recuperação da competitividade tem de ser levada a sério, o que
demora tempo e custa a fazer, sobretudo porque tem de ser feito em tempo de restrição.
Aproveito, portanto, a sua pergunta, Sr. Deputado — penso que não me leva a mal —, para dizer à Sr.ª
Deputada Heloísa Apolónia que o realismo em política faz muito falta. Muita falta, Sr.ª Deputada!
Fazer discursos inflamados a falar das necessidades e dos problemas e não atender à realidade em que
vivemos, Sr.ª Deputada, é muito fácil, mas não convence.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Não é fácil, não!
O Sr. Primeiro-Ministro: — As soluções que, portanto, temos de encontrar para os nossos problemas não
são soluções de facilidade. Nem sequer são soluções como as que já foram tentadas no passado.
Protestos do Deputado do PCP João Oliveira.
O Sr. Deputado insiste! O Sr. Deputado ainda não reparou que já não se trata de um aparte normal num
debate parlamentar?
Protestos do Deputado do PCP João Oliveira.
Sr. Deputado, isso é aquilo a que se chama a persistência em criar ruído num debate onde se quer prestar
esclarecimentos. O Sr. Deputado revela, através dessas suas persistentes interrupções, uma falta de respeito
que é indesculpável.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
O Sr. Deputado não ganha nada com isso, só prejudica esta Casa. Aprenda isso, se fizer favor! Faz parte
da democracia.
Nós estamos interessados em não repetir as más lições do passado. Uma má lição do passado muito
importante: para fazer crescer a economia, temos de gastar mais dinheiro, custe o que custar. É uma receita
errada. Nós, em Portugal, nos últimos anos, gastámos o que tínhamos e o que não tínhamos e a economia