I SÉRIE — NÚMERO 106
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Aplausos do PS.
E, obviamente, que não podemos desligar — como já aqui foi sublinhado, nomeadamente pelo Sr.
Deputado Bernardino Soares, na sua última intervenção — essa mudança, que pessoalmente me é simpática,
dos resultados das eleições na França e também na Grécia.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Na Grécia é simpática?!
O Sr. João Soares (PS): — É preciso tirar consequências políticas desses resultados em França e há
qualquer coisa que me parece também muito importante sublinhar, do ponto de vista histórico: é que quem
avançou pela primeira vez com essa linha que põe o acento tónico nas questões do emprego e do crescimento
como a solução para os problemas terríveis com que a Europa está confrontada, foi o Partido Socialista
português, foi a sua bancada parlamentar e foi, sobretudo, o seu líder António José Seguro, que ainda há
cerca de um mês teve, em Lisboa, uma reunião com o novo líder do Partido Socialista espanhol, o que,
depois, deu lugar a uma iniciativa, que teve lugar em Roma, de todos os partidos socialistas e sociais-
democratas europeus, que colocaram as questões do emprego e do crescimento no centro das batalhas
políticas.
Assim, é também a partir daí que a vitória de Hollande, que também põe o acento tónico nessas questões,
é especialmente relevante para todos nós — e aqui não faço distinções entre as bancadas.
O que importa, do meu ponto de vista, do ponto de vista da nossa bancada, é que haja uma mudança de
fundo no rumo europeu e que reconheçamos os erros que cometemos. Reconheço os erros cometidos no
quadro da família socialista. Nomeadamente, quando a Europa era uma Europa a 15 e havia seis primeiros-
ministros que eram da família socialista e social-democrata, reconheço que foram cometidos erros nas
cedências que foram feitas ao neoliberalismo em nome daquela — felizmente desaparecida —, terceira via de
que o Sr. Blair foi o protagonista.
É preciso reconhecermos os erros que foram cometidos nessa matéria para impormos a mudança de rumo
que é absolutamente decisiva na Europa e, portanto, vemos com satisfação a bancada do PSD a falar aqui,
pela primeira vez, na necessidade de eliminação dos offshore, no quadro da União Europeia, e é também
importante avançar para as taxas sobre as transações financeiras que têm lugar no quadro dos mercados.
A verdade é esta: não podemos dar àqueles que nos lançaram nesta crise, antes do Lehman Brothers e
antes de 2008, com uma cultura que revelou o seu fracasso total, as responsabilidades do poder,
nomeadamente no quadro da União Europeia a que pertencemos e que queremos que continue a ser um
espaço de progresso.
Srs. Deputados, quando ouvi esta discussão, do que me lembrei foi do debate sobre o Iraque,…
O Sr. Honório Novo (PCP): — Sobre isso é melhor perguntar ao Dr. Portas! Ele é que sabe!
O Sr. João Soares (PS): — … ou seja, estamos a dar àqueles que lançaram a ideia de que havia armas de
destruição maciça escondidas o poder nessa matéria, e isso não pode acontecer.
Porém, também recomendo, com muita simpatia, aos nossos colegas do PCP que tenham em conta os
grandes autores, nomeadamente o Dr. Álvaro Cunhal e o Rumo à Vitória e o Radicalismo Pequeno-Burguês
de Fachada Socialista. São textos dos anos 60, que seguramente muitos de vós leram, como também da
bancada do Bloco de Esquerda, que se impõem hoje, na sua perspetiva histórica, pela sua maturidade, e não
tenho qualquer dificuldade em reconhecê-lo, da mesma maneira que nós não temos dificuldade em
reconhecer os nossos erros.
Do nosso ponto de vista, o que importa é essa mudança de rumo, que é decisiva no quadro europeu e não
pode ser deixada nas mãos dos burocratas que, em Bruxelas, querem decidir em nome dos povos. Tem de ser
feita em nome do emprego, do crescimento, da sustentabilidade, da afirmação dos valores que fizeram a mais-
valia da Europa no mundo e que são, no fundo, os valores da Revolução Francesa, ou seja, os valores da
liberdade, da igualdade e da fraternidade.