I SÉRIE — NÚMERO 106
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Sr. Deputado Luís Montenegro, em todo o caso, na leitura do vosso projeto de resolução, saltou-me ao
espírito uma novidade absoluta, que é o facto de o PSD, tantos anos depois, agora propor a eliminação, no
quadro europeu, dos paraísos fiscais.
Vozes do BE: — É verdade!
O Sr. Luís Fazenda (BE): — O facto de não trazer o projeto de resolução a votação, tirou-nos desde já
uma esperada delícia, um prazer, que era ver como votariam os Deputados do PSD da Madeira. Já não vamos
poder ver como é que votariam!…
O Sr. Honório Novo (PCP): — E o Sr. Deputado José Manuel Rodrigues também!
O Sr. Luís Fazenda (BE): — Em todo o caso, gostaria que reconhecesse essa nova posição da parte do
PSD: eliminação dos paraísos fiscais. Como é que chegaram a uma posição defendida há tantos anos pelas
bancadas da esquerda, nesta Assembleia da República? Será que a eliminação dos paraísos fiscais é mesmo
uma nova posição do PSD?
Aplausos do BE.
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — A Madeira é um paraíso, mas para passar férias!
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Ferreira.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Luís Montenegro, não deixa de ser
curioso o que o PSD vem fazer duas semanas depois de ter aprovado o tratado orçamental, que poderá
implicar mais austeridade, que poderá abrir a possibilidade de a Comissão Europeia cobrar prestações
financeiras vinculativas para o Estado português caso este não cumpra as imposições da Europa, que poderá
obrigar a novas transferências de soberania, agora em matéria orçamental, para um poder sem rosto a que
chamamos Europa, que poderá condicionar este Parlamento na definição das suas políticas orçamentais,
económicas e sociais. Digo «poderá», porque, como se sabe, este tratado orçamental está praticamente
moribundo.
De qualquer forma, não deixa de ser curioso que, duas semanas depois da aprovação do tratado, o PSD
venha agendar, para discussão, exatamente o tema Europa, o caminho que a Europa está a seguir.
E o que pretende o PSD? O PSD apresenta-nos um projeto de resolução no sentido de recomendar um
conjunto de medidas a adotar pelo Governo, pela Assembleia da República e também pelas instituições
comunitárias.
Ora, que esta Assembleia recomende ao Governo ainda vá que não vá. Agora, que esta Assembleia
recomende às instituições comunitárias, para além de inédito, parece-nos uma brincadeira, sobretudo depois
de o PSD ter aprovado o tratado orçamental.
Por fim, faltava a «cereja em cima do bolo». O PSD propõe que a Assembleia da República adote algumas
medidas. Ou seja, se este projeto for aprovado, vamos ter a Assembleia a recomendar-se a si própria, vamos
ter a Assembleia a autorrecomendar-se.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Bem lembrado!
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Confesso que, depois de ver o PSD preocupado com o caminho
da Europa depois de ter aprovado o tratado orçamental, já nada me espanta. Mesmo assim, seria caso para
perguntar se o agendamento do PSD é apenas para o «número», se se trata de um súbito ataque de
consciência, se é para cumprir calendário, ou se se trata de uma declaração de voto tardia, relativamente à
votação do tratado orçamental!
Mas não era isto que eu queria perguntar, Sr. Deputado. O meu pedido de esclarecimento tem a ver com
uma das nove recomendações propostas pelo PSD — elas são muitas, de facto, mas dizem muito pouco.