I SÉRIE — NÚMERO 122
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bases dos sistemas de proteção da natureza, caso da revisão da Reserva Ecológica Nacional (REN). Diga-se
que esta revisão não coincide sequer com aquilo que está na Nota Informativa.
Gostaria de perceber o que se pretende com este debate.
Mas vamos ao conteúdo.
Segundo a Resolução do Conselho de Ministros e a Nota, pretende-se ultrapassar os constrangimentos, as
barreiras ao investimento e à atividade económica levantadas pela morosidade dos processos de
licenciamento e elevados custos de contexto no que se refere ao relacionamento com a Administração Pública
e com a administração local. Pretende-se ultrapassar reais constrangimentos para os investidores
simplificando processos e agilizando decisões.
Estamos, Srs. Deputados, perante uma profunda ilusão ou a tentativa de forte manipulação, não o
levantamento de barreiras, mas o lançamento de cortinas de fumo de propaganda.
De facto, a grande barreira ao investimento e à atividade económica, como pudemos hoje confirmar na
audição do Sr. Ministro da Economia, são as políticas do pacto de agressão e da troica, as políticas do
Governo PSD/CDS e as práticas do setor financeiro, as políticas e as práticas que secam a liquidez das
empresas e o financiamento da economia, que secam o investimento público e privado.
Srs. Deputados, no investimento público, estamos ao nível de meados da década de 90, Srs. Deputados —
repito, estamos ao nível de meados da década de 90. São políticas e práticas que secam o mercado interno
pela redução brutal do poder de compra dos portugueses e dos cortes da despesa do Estado, secando a
procura pública e privada, a que se juntam as políticas de austeridade dos nossos principais parceiros
comerciais na União Europeia. E sem procura, Srs. Deputados, para quê produzir? Para quê investir? Quando
há procura solvável, até no vão de escada se instalam empresas — mal, como todos sabemos, mas instalam-
se.
O Governo retira o combustível e gripa o motor da economia e depois quer que o carro ande. Mas não
anda, Srs. Deputados, mesmo que tenha uma autoestrada à sua frente!
Srs. Deputados, este faz de conta, este apelo emocionado ao fim das barreiras e ao investimento é uma
reprise, um filme velho e revelho. Quando um governo não sabe o que há de fazer, diz que dá cabo da
burocracia.
Se bem se lembram — e não foi assim há tanto tempo —, era Governo o PS e o Primeiro-Ministro Sócrates
quando se descobriu o Programa SIMPLEX e o Licenciamento zero e os argumentos eram exatamente os
mesmos. E integrado nestas invenções, publicou-se o Decreto-Lei n.º 209/2008, sobre o regime de exercício
da atividade industrial (REAI), a que posteriormente se juntarem os PIN e PIN+ e até — o Sr. Deputado Basílio
Horta esqueceu-se! — duas alterações, casuísticas e dedicadas, do Código de Expropriações para facilitar a
vida e poupanças ao capital, ao investimento privado nacional e estrangeiro. Aliás, o regime de licenciamento
industrial deveria ter sido revisto em 2010, na base de relatórios que, julgamos, terão sido feitos.
O que agora o Governo PSD/CDS propõe é fundamentalmente, e até ver, uma mudança de siglas: onde
estava REAI, passar a estar Sistema de Indústria Responsável (SIR); onde estava área de localização
empresarial (ALE), passa a estar zonas empresariais responsáveis (ZER) e o interlocutor único Entidade
coordenadora do licenciamento (ECL) passa a Balcão do empreendedor. Como se vê, são grossas novidades!
Para a continuidade ser absoluta, lá continuam os PIN e os PIN+, que vão ser revistos.
Srs. Deputados, diz-se na Nota Informativa que se pretende melhorar o ambiente do investimento tendo em
vista a reindustrialização de Portugal. Certo! Está no Programa do Governo. Mas, então, Srs. Deputados da
maioria, não teria sido melhor o Governo começar por impedir que a Caixa Geral de Depósitos fizesse aquele
negócio com os brasileiros da Camargo e da Votorantim, que nos vão levar a desmantelar a nossa principal
empresas industrial, a Cimpor?!
Aplausos do PCP.
Não seria melhor começar por travar o aceleramento da desindustrialização em curso, fruto da brutal
recessão económica em que o Governo e a troica mergulharam o País?! Ou desindustrializa-se agora para
arranjar espaço para industrializar amanhã?! Os problemas da liquidação em curso de muita indústria
portuguesa são demasiado sérios para que se brinque.