I SÉRIE — NÚMERO 128
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O Sr. Agostinho Lopes (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Basílio Horta, gostaria de começar por
saber se o que acabei de ler é mesmo verdade. É o seguinte: «O PS tem clara consciência de que a retoma
do crescimento económico passa pelo cumprimento do Memorando da troica e do objetivo do défice de 4,5%
para este ano». Isto está escrito num jornal.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Extraordinário!
O Sr. Agostinho Lopes (PCP): — Faço-lhe ainda uma segunda pergunta muito simples: porque é que
estas 12 medidas não foram concretizadas pelo Governo do PS durante seis anos?! O senhor, certamente,
então como Presidente da AICEP, até as sugeriu! Porque é que não foram concretizadas?!
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Basílio Horta.
O Sr. Basílio Horta (PS): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Agostinho Lopes e querido amigo, muito
obrigado pelas questões que me colocou.
Não sei qual é a data da declaração que leu. Se calhar, foi feita há algum tempo.
Há uma coisa importante em relação à qual divergimos completamente: acho que a imagem que Portugal
tem fora conseguiu um espaço de manobra que de outra maneira não teria. Essa imagem exterior é positiva.
Portanto, essa declaração relativa ao cumprimento do défice se calhar é dita com essa intenção.
Mas o que lhe quer dizer é o seguinte, Sr. Deputado: em primeiro lugar, o Governo anterior não é o fim da
história. Não fez tudo, como é evidente; há muita coisa que tem que ser feita agora, senão não seria
necessário estarmos aqui.
Em segundo lugar, o Sr. Deputado falou também nas PME. Quero dizer-lhe que, nesta altura, nos estamos
a focar nas exportadoras, mas, obviamente, não ignoramos que há empresas que trabalham para o mercado
interno que necessitam de atenção. Mas se começarmos a ajudar as exportadoras a sério, talvez a economia
comece a melhorar e então, se isso suceder, arrastará consigo todas as outras PME.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Catarina Martins.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Basílio Horta, começou por dizer que não
pode assentar tudo nas exportações. Concordamos consigo: as exportações são importantes, mas a economia
não assenta nas exportações. Contudo, vamos mais longe e dizemos também que não há política para as
exportações que possa ser sustentável se não houver uma política para a economia do País. E a verdade é
que as exportações e as empresas exportadoras têm problemas também devido aos problemas do mercado
interno e às questões internas da política «austeritária», a qual vem com o Memorando da troica. E também
devido à política «austeritária» europeia.
Há duas coisas que sabemos. A primeira é que as empresas exportadoras não vivem num outro país que
não este, portanto confrontam-se com as decisões deste país. E muitas dessas empresas dependem também
do mercado interno. E quando o mercado interno está em retração as empresas deixam de ter capacidade
para existir, pois muitas delas não vivem só para a exportação, não podem viver só para a exportação.
Portanto, perceber que o ataque ao mercado interno é também um ataque às exportações parece ser um
importante início de conversa, para que depois as medidas propostas tenham pés para andar.
A segunda coisa que sabemos é que as empresas exportadoras estão a viver o drama da política
«austeritária» europeia, que é a do Memorando da troica em Portugal e a das condições que estão a ser
impostas, por exemplo, também à vizinha Espanha com estes planos de resgate, que são planos de matar
economias.
Portanto, é certo que se não afirmamos claramente uma outra política não haverá exportações, pois não
haverá para onde exportar. E é por isso mesmo que sabemos agora, no que respeita a toda aquela ideia de