I SÉRIE — NÚMERO 129
60
Para o PCP, os serviços de águas e saneamento devem manter-se na esfera pública, assumindo-se a
gestão destes serviços como a gestão de um património comum. A privatização dos serviços de águas e
saneamento que o Governo PSD/CDS pretende levar a cabo serve os interesses dos grandes grupos privados
que operam no setor, mas não serve Portugal nem os portugueses. Neste processo de privatização, o Estado
fica com os encargos de criar as infraestruturas e reestruturar o setor, os consumidores veem a sua fatura da
água e do saneamento aumentar brutalmente e os privados, claro, embolsam chorudos lucros, sem qualquer
risco.
O PCP rejeita este caminho de privatização dos serviços de água e saneamento e reafirma a sua posição
em defesa da água como um bem público e um serviço essencial que deve ser gerido unicamente por
organismos públicos.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís
Ferreira.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Há um mês, Os Verdes
agendaram, para discussão, uma iniciativa legislativa no sentido de garantir o acesso humano à água e ao
saneamento, o acesso universal das populações ao abastecimento de água e a sistemas de saneamento.
Hoje, discutimos cinco iniciativas legislativas que têm exatamente como objeto a importante questão da água.
Como na altura defendemos, Os Verdes entendem que, sendo a água um bem essencial à vida, não pode
ser gerido em função de critérios de lucro e de distribuição de dividendos por acionistas mas, sim, numa lógica
que atenda às necessidades das populações, dado que se trata, ainda por cima, de um bem escasso.
São conhecidos os casos de países que procederam à privatização do setor da água e que demonstram
que a gestão privada da água tem provocado privações graves e condicionalismos muito preocupantes para
as respetivas populações.
Os estudos fazem um relato avassalador sobre o impacto da privatização massiva de bens públicos como
seja da energia ou da água.
A nosso ver, a defesa do reconhecimento e implementação do direito à água para todos constitui um
elemento de combate mais amplo, pela defesa de sociedades sustentáveis e mais justas, sociedades nas
quais os recursos naturais têm de ser protegidos e geridos em função do bem comum.
Todos sabemos que a eventual privatização da água, para além de outros aspetos gravíssimos do ponto de
vista ambiental, vai trazer aumentos brutais na fatura da água bem como a eliminação de alternativas, como
sejam fontanários ou captações próprias.
Ninguém duvida que a fatura da água subirá de forma insuportável com a eventual privatização, com a
preparação do negócio para a subordinação ao objetivo do lucro.
Será um caminho que vem agravar a pobreza e promover a desigualdade social. Uma percentagem cada
vez maior da população deixará, certamente, de poder pagar a fatura da água e, assim sendo, ser-lhe-á
cortado o respetivo fornecimento.
Daí que Os Verdes entendam que a água e os respetivos serviços, sendo património comum, não podem
ser alienados, assim como não pode ser lícita a privatização da água nem qualquer atribuição de privilégios ou
concessões de direitos exclusivos sobre as águas ou sobre os serviços de água.
Nem a água nem os serviços de água pode ser objeto de negócio, de mercantilização ou fonte de obtenção
de lucros para alguns. A gestão da água tem de ser orientada para o objetivo de garantir a universalidade da
sua fruição, o que só é objetivamente possível mantendo a propriedade e a gestão no domínio público, sem
fins lucrativos.
Para terminar, queria dizer que, através da sua resolução, o PSD e o CDS, que, aliás, votaram contra a
iniciativa legislativa de Os Verdes, pretendem recomendar ao Governo que, como princípio e orientação
essencial, mantenha os recursos hídricos na propriedade pública. É pouco, Srs. Deputados! É muito pouco!
Para quem diz que pretende promover a acessibilidade, a sustentabilidade e a qualidade dos serviços de
abastecimento de água e de saneamento, é muito pouco. Na nossa perspetiva, essa promoção não vai lá com
princípios e orientações, exige-se mais objetividade e não pode haver espaço ou lugar para concessões.