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5 DE JANEIRO DE 2013

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Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.

Endereço à família os nossos sentidos pêsames.

Srs. Deputados, vamos passar ao voto n.º 98/XII (2.ª) — De pesar pelo falecimento do realizador Paulo

Rocha (PSD, PS, CDS-PP, PCP, BE e Os Verdes), que o Sr. Secretário vai ler.

O Sr. Secretário (Duarte Pacheco): — Srs. Deputados, o voto n.º 98/XII (2.ª) é do seguinte teor:

«Faleceu, no passado dia 29 de dezembro de 2012, o realizador Paulo Rocha, a quem Portugal deve

alguns dos mais belos filmes da nossa cinematografia.

Nascido no Porto em 1935, Paulo Soares da Rocha abandonou o curso de Direito para ir estudar cinema

em Paris, no Instituto de Altos Estudos Cinematográficos, tendo sido, logo a seguir, assistente de Jean Renoir

e Manoel de Oliveira.

Estreia-se como realizador em 1963, com Verdes Anos, filme sobre os amores adolescentes e trágicos de

um jovem provinciano numa Lisboa em mutação, também ela em crescimento, também ela a ter que lidar com

uma modernidade que ainda não domina.

Verdes Anos marca o início do novo cinema português. Movimento que conjuga a influência tanto do

neorrealismo italiano como da nouvellevague francesa, mas que se distingue pela sua carga poética, aqui

transmitida pela inesquecível música de Carlos Paredes.

Não se pode, no entanto, reduzir a obra de Paulo Rocha a um movimento estético e artístico. Como

realizador, Paulo Rocha nunca deixou de experimentar novos estilos e géneros, mas duas constantes

caracterizam a sua obra: a beleza das imagens e a humanidade retratada. Nesse sentido, ela aproxima-se do

pensamento de um dos seus mestres, Jean Renoir, para quem o propósito da arte cinematográfica é o de “se

aproximar da verdade dos homens e não o de contar histórias cada vez mais surpreendentes.”

E é de humanidade que fala Mudar de Vida em 1965, um segundo filme que vem confirmar o imenso

talento de um realizador fora de comum. Os pescadores nele retratados são seres complexos e agitados,

seres abandonados pelos deuses que os criaram, mas que mantêm a força indomável do mar. Segundo as

palavras do próprio Paulo Rocha, eles são os gigantes do mar que o realizador admirava na sua infância:

“Para mim, aquilo era um mundo maior que o mundo das cidades, com aqueles homens ruivos, roucos,

gigantescos, que pegavam naqueles rolos de madeira e naqueles remos pesadíssimos como se nada fosse,

gritando juras, insultos, numa cantilena sem fim. A miséria era medonha, com as crianças raquíticas, comidas

pelas moscas e pelas pulgas, os pais encharcados de aguardente, mas eu não a queria ver. Eles, os do mar,

eram os gigantes, nós, a gente do interior, os anões.”

Paulo Rocha é também um realizador de atrizes. A ele se deve a revelação da jovem Isabel Ruth que

“parecia uma chama a arder”, dizia, e uma das atuações mais marcantes no cinema de Maria de Jesus

Barroso, que convidara pela sua “coragem moral e física, uma certa integridade combativa, aliada à

inteligência e à ausência de autopiedade que projetava na vida.”

Em 1971, participa na fundação da Escola Piloto para a formação de profissionais de cinema, que viria

depois a ser a escola de cinema.

Em 1973 e 1974, Paulo Rocha dirige o Centro Português de Cinema e entre 1975 e 1983 é adido cultural

da Embaixada de Portugal em Tóquio.

Durante esses anos, para além de estudar em profundidade a língua e cultura japonesas, Paulo Rocha

dedica-se ao estudo da vida e obra de Venceslau de Moraes. A Ilha dos Amores, presente no Festival de

Cannes em 1982, é uma homenagem ao cinema japonês, que tanto admirava sob forma de biografia do

escritor e militar da Marinha Portuguesa.

Paulo Rocha nunca temeu procurar correspondências entre géneros e sempre procurou, com a liberdade

dos criadores, encontrar na história respostas para as interrogações do presente.

O filme O Desejado, em 1988, é simultaneamente inspirado em Dit du Genji, clássico da literatura

japonesa, e uma tomada de posição sobre a evolução política de Portugal, desde a Revolução de Abril,

passando pela descolonização até à entrada no espaço europeu.

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