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I SÉRIE — NÚMERO 35

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Eusébio foi uma marca no desporto nacional e afirmou-se como tal no desporto internacional.

Sobre ele outros pensadores e escritores internacionais escreveram também. Eduardo Galeano dizia:

«Eusébio nasceu destinado a engraxar sapatos, vender amendoim ou roubar dos distraídos. Quando menino,

era chamado de Ninguém, (…) jogava futebol com seus muitos irmãos nos areais dos subúrbios, do

amanhecer até a noite.»

Foi no Mundial de 1966, à medida que os adversários se rendiam às suas fintas e ficavam para trás nas

suas acelerações, que o mundo também se rendeu a Eusébio e que ele mostrou como conseguiu fintar um

regime que lhe deixava um futuro muito mais sombrio. E, ao fazê-lo, deu a um povo mergulhado na ditadura a

alegria de que tanto precisava.

Morreu um desportista único, morreu um homem exemplar, humilde, capaz de mostrar que o desporto não

é só ganhar, que o desporto é jogar e também reconhecer o valor dos nossos adversários.

Numa nota pessoal, refiro um agradecimento que acho ser marcante num homem. Numa final, nos últimos

minutos do jogo, quando se encontrava isolado frente ao guarda-redes e este consegue defender um remate

seu, mesmo assim, quando outros poderiam ter ficado desanimados ou zangados com os deuses, Eusébio

agradeceu o exemplo do desportista e bateu palmas ao guarda-redes. Ora, este desportivismo marca a

humildade de um homem e a sua postura perante um desporto, acho que marca aquilo que deve ser um

desporto para todos nós.

Em nome do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda, dirijo um sentido pesar à família, ao Sport Lisboa e

Benfica e à Federação Portuguesa de Futebol.

Perdeu-se o homem, e essa dor fica com aqueles que de perto lidavam com Eusébio, perdeu-se o símbolo,

porque ele perdeu a vida, mas Eusébio persiste, porque o seu exemplo existirá ainda para as gerações

futuras, porque fica a memória que ele preencheu e que garantiu que manteremos dele.

Para o Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda essa memória manter-se-á, e por isso acompanhamos

este voto de pesar.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Ferreira.

O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as

e Srs.

Deputados: Eusébio da Silva Ferreira, ou simplesmente Eusébio, que é, para milhões e milhões de pessoas, o

maior futebolista português de todos os tempos e um dos maiores futebolistas do mundo, partiu, deixou-nos.

Nestes dias recentes, o País assistiu com carinho e de pé à partida do homem que se fez rei no mundo de

futebol mas que foi admirado também no resto dos mundos.

Hoje é fácil perceber que as homenagens e os minutos de silêncio que por todo o lado lhe têm sido

dedicados nos últimos dias transportam tanto respeito pelo desportista como pelo homem porque Eusébio,

para além de um futebolista absolutamente singular, foi também um enorme cidadão. Os grandes homens são

homens simples, são homens bons, são homens capazes até de chorar.

Pessoalmente, não conheci Eusébio, mas cedo, ainda criança, o meu pai começou a falar-me do Pantera

Negra, e fazia-o com um entusiamo e uma admiração verdadeiramente singulares. Na manhã de domingo

passado, foi o meu filho, de 14 anos, que com tristeza meu deu a triste notícia da morte de Eusébio, o seu

ídolo da bola. Creio que esta passagem acaba por ser o testemunho da transversalidade geracional que a

presença de Eusébio tem nas nossas memórias coletivas.

Eusébio fintava e baralhava os adversários com a mesma facilidade com que ultrapassou os anteriores

parâmetros de avaliação, fazia golos com assinatura sem nunca ter registado a patente e rematava de tal

forma que ainda hoje, para os adolescentes, se um remate sai bem é, indiscutivelmente, um remate à Eusébio.

Era um homem afável, avesso ao vedetismo e de uma simplicidade capaz de merecer, até, a admiração

dos seus adversários.

Eusébio deu muito ao Benfica, seu clube do coração, mas também deu muito à Seleção Nacional e ao

País. Deu tanto ao ponto de ser ainda hoje difícil de contabilizar os pontos que deu a Portugal fora das quatro

linhas.

Se nós, portugueses, demos, noutros tempos, mundos ao mundo, Eusébio ajudou, e muito, a levar Portugal

ao mundo, a todo o mundo, a todos os mundos, o que ganha ainda maior relevância se tivermos em conta que

entre nós reinava, então, o «orgulhosamente sós».

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