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I SÉRIE — NÚMERO 52

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É um trabalho que dá os primeiros passos, que tem o contributo unânime e empenhado de todos os grupos

parlamentares e que pode ser o início de uma reforma audaz na simplificação legislativa que todos

pretendemos.

Por isso, saúdo a boa vontade dos Srs. Deputados em encetar esta experiência, que começa a ter o

primeiro sucesso, sublinho o orgulho que partilho com todos vós de o conseguirmos e anuncio que o grupo de

trabalho se prepara já para consolidar legislação sobre emigração, legislação eleitoral, Código da Publicidade

e financiamento dos partidos políticos. É um trabalho que será, a médio prazo, notável.

Srs. Deputados, passamos ao projeto de resolução n.º 952/XII (3.ª) — Honras de Panteão Nacional a

Sophia de Mello Breyner Andresen (PSD, PS, CDS-PP, PCP, BE e Os Verdes).

Como previsto, cada grupo parlamentar dispõe de 2 minutos para intervir.

Tem a palavra, pelo PSD, o Sr. Deputado Nuno Encarnação.

O Sr. Nuno Encarnação (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr.as

e Srs. Deputados: Poderia Sofia de Mello Breyner

ficar refém do apelo irrecusável do mar e do jardim, distanciada da cidade e do tempo.

Afinal, como confessa, começou a escrever numa noite de primavera, numa noite de junho e de vento

leste.

Só que essa noite de vento leste juntava à consciência do êxtase a do pânico.

E na vida preenchida de Mulher, Mãe e Poeta, percebeu que a sua escrita tinha outra função maior e mais

nobre, se outra função mais nobre existe que a invenção do poema.

Seria essa a de despertar a exaltação dos princípios, de sobressaltar o deserto do pensamento, de afirmar

e de descobrir outra realidade possível.

Rigorosa, profunda, envolvente, era a sua voz poética.

Tanto bastava para garantir aos seus textos uma vida eterna.

Este compromisso fez nascer os outros.

Via e não virava a cabeça.

Ouvia e não fazia de conta.

Lia e não calava.

Não podia ignorar.

E daí a consciência do que não queria, do que não lhe servia, do que não lhe bastava.

E a exigência manifesta do repúdio pela ausência e pela desistência.

«Quando a Pátria que temos não a temos/Perdida por silêncio e por renúncia/Até a voz do mar se torna

exílio/E a luz que nos rodeia é como grades.»

Restava afrontar e romper as grades e recuperar a Pátria com a voz, a palavra e os atos.

E foi aqui que Sofia de Mello Breyner, com a serenidade da convicção, o equilíbrio da intervenção e a justa

medida da inteligência projetou a força do seu próprio pensamento.

Tentando sempre, insistindo sempre…

Desde a participação nos movimentos dos católicos politicamente empenhados, à assunção de

responsabilidades nas organizações da oposição ao regime.

No amoroso exílio da voz do mar e na doce prisão da sua luz.

Por isso foi seu o dia que chegou, enfim.

«Esta é a madrugada que eu esperava/O dia inicial inteiro e limpo…»

Aqui chegados, foi o tempo da participação nesta Assembleia, o tempo de viver a liberdade como poema

construído e de fazer o balanço entre aquilo que se quis e aquilo que se conseguiu, ou de fazer a constatação

das oportunidades perdidas.

Para concluir, como nas navegações, navegamos sem o mapa que fazemos.

Depois de tudo quanto foi escrito sobre Sophia, depois de se avaliar a dimensão da sua obra, depois de

todos os prémios que justamente recebeu, percebe-se que uma outra coisa falta. E essa não é senão a

entrada no local sagrado onde reside a memória do povo identificada em quem assumiu por inteiro a Pátria.

Esta é a homenagem que faltava, a justiça que tardou, o gesto que, regressando à força das suas palavras,

recusa a noite e o silêncio para permitir habitar, definitivamente livre, a substância do tempo.

Aplausos gerais.

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