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21 DE FEVEREIRO DE 2014

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A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra, pelo CDS-PP, a Sr.ª Deputada Inês Teotónio Pereira.

A Sr.ª Inês Teotónio Pereira (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr.as

e Srs. Deputados: Nascida no Porto, a 6

de novembro de 1919, a escritora Sophia de Mello Breyner Andresen marcou, de forma ímpar, a literatura

portuguesa. Obras poéticas como O nome das coisas e Ilhas ficarão para sempre inscritas na nossa memória

coletiva, assim como os Contos Exemplares ou Histórias da Terra e do Mar. Também os seus livros infantis,

como A Menina do Mar ou AFada Oriana, obras excecionais, cedo fizeram com que gerações de portugueses

se revissem e se inspirassem com a sua forma de escrever: um estilo inovador e muito à frente no seu tempo.

Mulher de fortes convicções políticas foi também Deputada à Assembleia Constituinte, onde deu o seu

contributo para a transição democrática, mas foi às letras que dedicou a vida, e o justo reconhecimento do

valor literário das suas obras sempre a acompanhou. Foi distinguida com vários galardões, o primeiro dos

quais o Grande Prémio de Poesia, pela Sociedade Portuguesa de Escritores, em 1964. Em 1999, foi a primeira

mulher a receber o Prémio Camões, o mais importante galardão literário da língua portuguesa e, em 2003, foi

ainda distinguida com o Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana.

Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu portuguesa, mas aquilo que criou é universal. A exatidão com

que escreveu a beleza das coisas simples tornou-a numa das maiores figuras da literatura portuguesa. Por

isso, acreditamos que a trasladação de Sophia de Mello Breyner Andresen para o Panteão Nacional é a

melhor forma de o País lhe prestar o contributo merecido e assim honrar o seu legado.

Diz a lei que as honras de Panteão destinam-se a homenagear e a perpetuar a memória dos cidadãos

portugueses que se distinguiram por serviços prestados ao nosso País no exercício de altos cargos públicos,

altos serviços militares, na expansão da cultura portuguesa, na criação literária, científica e artística ou na

defesa dos valores da civilização em prol da dignidade da pessoa humana e da causa da liberdade. É por

cumprirem estes critérios que no Panteão Nacional repousam algumas das nossas maiores figuras, como

Almeida Garrett, Guerra Junqueiro ou Amália Rodrigues. Nós acreditamos que Sophia de Mello Breyner

Andresen tem esta dimensão. De resto, que essa trasladação ocorra 10 anos após o seu falecimento permite-

nos tornar esta homenagem ainda mais justa e apropriada.

Sophia de Mello Breyner Andresen faleceu em julho de 2004, sabendo que os portugueses lhe estavam

gratos.

Este é, pois, o momento, de, fazendo justiça a esta gratidão que sentimos, levarmos a poetisa a repousar

no Panteão Nacional, onde só há espaço para os que como ela são maiores do que a vida, pois, como

escreveu Sophia de Mello Breyner Andresen «as coisas que passam ficam para sempre numa história exata».

Aplausos gerais.

A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra, pelo Bloco de Esquerda, o Sr. Deputado Luís Fazenda.

O Sr. Luís Fazenda (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as

Deputadas e Srs. Deputados: Sophia é uma pessoa de

nome feliz porque, nomeada pelo saber, aleou o saber aos sentidos. E foi a poeta, como ela gostava de se

chamar, da natureza, gémea da natureza, gémea do mar, fez as cantatas do mar, tem, acerca disso, um

versejar que é quase telúrico, que vem de dentro, que vem da natureza.

É a poeta que aqui homenageamos, mas é também a pessoa de atitude cívica, aliás, aquela que conheci

primeiro, cantada «porque os outros se mascaram mas tu não», cantava Francisco Fanhais, «porque os outros

têm medo mas tu não».

Tudo isso marcou a minha geração e uma forma de lutarmos pela liberdade, cuja definição ela tirou do

sentido material do tempo e quis imprimi-lo, decalcou em todos nós qualquer coisa de cidadania que está

emprestada nesta Sala e que vem de Sophia, como veio de tanta outra sabedoria que aí se juntou.

Mas, para além disso tudo, temos agora o reconhecimento de uma constituinte de 1976, de uma daquelas

que aprovaram o texto mais admirável deste Parlamento no século passado e que será, seguramente, o ponto

de partida de novas poesias, de novas atitudes cívicas, de novos impulsos da democracia.

A Sophia, o nosso muito e muito obrigado.

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