I SÉRIE — NÚMERO 96
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O Sr. Primeiro-Ministro: — Mas não há qualquer dúvida de que a principal ameaça não é no curto prazo,
é no médio e no longo prazos. É que se começarmos a ter uma União Económica e Monetária à la carte, em
que os países decidem hoje estar e amanhã não estar por que razão seja — por pressão financeira dos
mercados, por não terem dinheiro ou por vontade própria —, se todos os anos pairar sobre a Europa este
estigma, então, o projeto europeu e a moeda única perderão a capacidade mobilizadora que precisam de
manter para todos os europeus.
A Sr.ª Presidente: — Queira concluir, Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Concluirei, Sr.ª Presidente.
E esse é o grande risco, o risco de futuro, que devíamos hoje evitar. E evitamos encontrando, dentro dos
próprios tratados, soluções que resultem destas lições de crise que todos devíamos saber retirar.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Dou agora a palavra ao PS.
Para formular perguntas, tem a palavra o Sr. Deputado Ferro Rodrigues.
O Sr. Ferro Rodrigues (PS): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, vamos fazer agora aqui uma
interrupção de 18 minutos nas Conversas em Família, em que, como sempre, se tenta trazer o medo de
qualquer alternativa e, como sempre, se procura utilizar o tempo para fazer a propaganda, embora não se
saindo muito bem, antes saindo, mais ou menos um flop, como há dois dias. As garantias e os desafios,
vindos de quem vem…! Garantias, Sr. Primeiro-Ministro?! O senhor é capaz de olhar para o seu programa
eleitoral de 2011 e vir aqui hoje falar de garantias?! Os desafios que, infelizmente, o senhor conseguiu ganhar,
como diz, são os desafios da emigração, da pobreza, do desemprego e do aumento da dívida pública. Estes
foram os desafios que os senhores ganharam.
Aplausos do PS.
Mas passemos a matérias concretas e importantes.
Efetivamente, o Governo português entregou um documento em Bruxelas, com propostas de reforma da
zona euro, em finais de maio, sem qualquer debate, em Portugal. Os senhores que têm sempre a palavra
«consenso» a encher-lhes a boca quando lhes interessa para fazerem passar medidas que não são do agrado
popular, nesta questão, em que, pelos vistos, até fizeram uma viragem não direi de 180º mas, vá lá, de 80º ou
90º, mesmo assim, não quiseram discutir esse documento com a Assembleia da República, nomeadamente,
com o principal partido da oposição, antes de o enviarem para Bruxelas.
Acha normal que não haja nenhuma discussão, em Portugal, sobre uma questão tão importante? Acha
normal que apenas tenha chegado, há menos de 48 horas, aos Deputados, por intermédio da comissão
parlamentar, esse documento de base, que não foi alvo de qualquer discussão prévia? Acha normal, Sr.
Primeiro-Ministro? É evidente que a situação é anormal. E o senhor fala, fala, fala sobre consenso, mas não
nos diz nada, nem a nós, nem à Assembleia da República.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro para responder.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Ferro Rodrigues, vamos diretos aos assuntos. O
primeiro é o medo da alternativa. Não há medo nenhum, Sr. Deputado! Não há medo nenhum!
O Sr. Jorge Fão (PS): — Não?! Parece!