I SÉRIE — NÚMERO 20
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O Sr. Carlos César (PS): — Para solucionar este assunto, o anterior Governo e a supervisão tiveram muito
tempo. O dossier do Banif surgiu, porém, perante o atual Governo, com urgência inusitada, com um banco sob
investigação da União Europeia, num quadro de fragilidade e no limite temporal.
Torna-se pouco compreensível que problemas como o do Banif sobrevivam à execução do programa da
troica, que tinha como um dos eixos principais a estabilização do sector financeiro, comprometendo, nesse
sentido, o Governo anterior, o Banco de Portugal e a própria Comissão Europeia. Como podem, todos eles,
não serem os culpados?
O País folgado e o Orçamento assegurado que parlapateavam está à vista. A realidade mostra-nos que
submergiu o que inevitavelmente viria à superfície, mas, como o PSD e o CDS queriam, só depois das
eleições.
Aplausos do PS.
Nunca faltaram o conhecimento e os avisos para este caso, pelo menos desde a operação de
recapitalização, e, daí para cá, o Ministério das Finanças e o Banco de Portugal conviveram continuadamente
com insucessos e impasses, designadamente com planos sucessivos de reestruturação falhados e rejeitados.
Importa, por isso, por via de uma comissão parlamentar de inquérito, como, em simultâneo, por outras vias,
saber, nesse período de tempo em que o Estado assumiu responsabilidades especiais por via da ajuda
concedida, o que foi feito e não deveria ter sido feito e o que não foi feito e deveria ter sido.
Aplausos do PS.
Depois das eleições, o Governo anterior retirou-se mesmo, de facto, da negociação, causando
perplexidade nos negociadores europeus, ficando a interlocução com o Banco e a Comissão Europeia no
Banco de Portugal.
Chegou-nos, por incúria, um problema velho, em contínua deterioração e no prazo limite, estreitando-se a
margem de solução e a capacidade negocial do Estado.
Aplausos do PS.
Por causa disso, a dívida pública volta a subir e confrontamo-nos com um encargo financeiro vultuoso. É
mais um imposto sobre a incompetência do PSD e do CDS que os portugueses pagarão.
Vozes do PS: — Muito bem!
Protestos do Deputado do PSD Carlos Abreu Amorim.
O Sr. Carlos César (PS): — Os custos submersos e ocultados são agora inevitavelmente assumidos,
restando-nos o esforço de os tentar reduzir.
A alternativa que restava, inviabilizada a recapitalização e a integração na Caixa Geral de Depósitos, que
deveria ter sido ensaiada em 2012/2013, havendo, então, boas probabilidades de ter sido aceite,…
Risos de Deputados do PSD.
… era a da resolução acompanhada da venda imediata ou a liquidação total, gorada que também tinha sido
a venda voluntária. Optou-se, e bem, pela primeira.
A liquidação total que acontecerá, se esta alteração orçamental não for aprovada, sairia, entre outros
aspetos, mais cara para o Estado e para os contribuintes, resultaria na perda integral dos milhares de postos
de trabalho diretos e indiretos, numa agressão recessiva às economias empresariais dos Açores e da Madeira,
numa quebra reflexa das remessas dos emigrantes ou, por exemplo, na redução a zero do Fundo de Garantia
de Depósitos, que geraria quase pânico em depositantes em todos os bancos.