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23 DE JANEIRO DE 2016

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«Em 1948, um grupo de jovens arquitetos, entre os quais Nuno Teotónio Pereira, revoltou-se contra a

imposição pelo regime salazarista de um estilo ‘nacional’. E partiram, sob o impulso de Keil do Amaral, à

descoberta da arquitetura popular, procurando um saber antigo e essencial, onde as formas habitadas nascem

da relação entre o homem e o meio. Mais de meio século depois, escrevia Nuno Teotónio, a liberdade de

expressão arquitetónica continuava ameaçada, já não pela ditadura política mas pela ‘ditadura do mercado’.

Traço essencial da sua obra é o facto de ter conferido absoluta prioridade à dimensão social da arquitetura

e à arquitetura como um serviço à comunidade. Foi um dos pensadores estratégicos do SAAL. A habitação

social sempre ocupou lugar central no seu trabalho, com destaque especial para os projetos dos Olivais Norte,

que elaborou com Nuno Portas e Pinto de Freitas, e diversos projetos por todo o País, de que foi responsável

como consultor de Habitações Económicas na Federação das Caixas de Previdência.

Trouxe para Portugal, nos anos 40, a Carta de Atenas, bandeira do movimento moderno, que era

naturalmente mal visto pela ditadura.

Na sua arquitetura, sobressai o cuidado com o lugar central da convivialidade e do encontro, de que é

exemplo especial o Bloco das Águas Livres (em conjunto com Bartolomeu Costa Cabral).

Foi igualmente um nome cimeiro do movimento de renovação da arte religiosa, marcado pela imbricação

do espaço do sagrado na praça pública, como se vê na Igreja do Sagrado Coração, em Lisboa, que desenhou

com Nuno Portas.

Acompanhava com grande atenção e perspicácia as transformações do território, não hesitando em fustigar

as desordens geradoras de desigualdade social, desde os realojamentos forçados no vale de Alcântara, em

1966, às distorções do mercado imobiliário no final do século XX, o escândalo dos fogos devolutos e o

desordenamento e degradação das cidades.

Reclamou medidas públicas para o fim das barracas, prioridade à reabilitação urbana e ao transporte

público, primazia do peão no espaço público, medidas fiscais severas contra o abuso do direito de

propriedade. Em 2015, continuava a dizer que o grande desafio para os arquitetos de hoje era o problema da

habitação.

Formou o primeiro atelier em 1949 com Chorão Ramalho, Alzina de Menezes e Manuel Tainha. Em 1954, o

atelier instala-se na Rua da Alegria, em Lisboa e, de certo modo, transforma-se na verdadeira escola da

arquitetura de Lisboa, alternativa ao ensino tradicionalista da ESBAL. Por ali passaram grandes nomes, de

Nuno Portas, Bartolomeu Costa Cabral e Pedro Vieira de Almeida a Gonçalo Byrne, Duarte Nuno Simões,

João Paciência ou Pedro Botelho. Deixou profunda marca em todos quantos com ele trabalharam, embora

estivesse sempre a dizer que o mérito era todo alheio e nunca de si próprio.

Defensor incansável da responsabilidade social dos arquitetos, batalhou pela sua organização profissional,

desde o velho Sindicato Nacional dos Arquitectos à Associação dos Arquitetos Portugueses e mais tarde à

Ordem dos Arquitectos, tendo encabeçado, em 2002, a petição n.º 22/IX (1.ª), sob o lema ‘Direito à

Arquitectura’, que veio a originar, em 2005, a primeira iniciativa legislativa de cidadãos sobre a mesma

matéria.

Nuno Teotónio Pereira foi também um católico progressista. Não é possível fazer a história do catolicismo

progressista em Portugal sem pôr Nuno Teotónio Pereira no centro dessa outra rotura. Com uma coragem

admirável e com uma capacidade invulgar de organizar coletivos, Nuno Teotónio Pereira interpretou

empenhadamente as transformações operadas no contexto do concílio Vaticano II e contribuiu para o

distanciamento crítico de católicos para com o regime de Salazar e para a presença pública de católicos na

oposição à ditadura e à guerra colonial. O seu papel crucial nas vigílias pela paz na Igreja de S. Domingos, em

1969, e na Capela do Rato, em 1972, e na criação e dinamização dos cadernos GEDOC foram marcos

particularmente relevantes nesta dimensão da sua vida.

Nascido numa família de grande pluralidade política, Nuno Teotónio Pereira foi um opositor tenaz e

coerente do regime fascista. A criação, em 1963, do Direito à Informação, boletim clandestino que difundia

notícias sobre a guerra colonial, a sua participação na Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos, ou

o seu envolvimento militante no Boletim Anti-Colonial e, em geral, toda a sua atividade de luta contra a

repressão e a ditadura valeram-lhe a prisão pela PIDE em 1967, 1972 e 1973, de onde foi libertado nas horas

que se seguiram à revolução de 25 de Abril de 1974.

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