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Quinta-feira, 17 de março de 2016 I Série — Número 45

XIII LEGISLATURA 1.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2015-2016)

REUNIÃOPLENÁRIADE16DEMARÇODE 2016

Presidente: Ex.mo Sr. Eduardo Luís Barreto Ferro Rodrigues

Secretários: Ex.mos Srs. Emília de Fátima Moreira Santos Idália Maria Marques Salvador Serrão

S U M Á R I O

O Presidente declarou aberta a sessão às 10 horas e 3

minutos. Concluiu-se a discussão, na especialidade, da proposta

de lei n.º 12/XIII (1.ª) — Aprova o Orçamento do Estado para 2016.

Foram avocadas pelo Plenário a discussão e votação das propostas de alteração relativas aos artigos 143.º, 144.º, 147.º e 176.º, que foram aprovadas, bem como o artigo 177.º, tendo sido rejeitadas as propostas de alteração aos artigos 175.º e 185.º da proposta de lei. Foram ainda aprovadas as propostas de aditamento dos artigos 144.º-B, 181.º-A, 181.º-B e 185.º-A, tendo sido rejeitada a proposta de aditamento do artigo 186.º-A.

Intervieram, além do Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais (Fernando Rocha Andrade), os Deputados Paula Santos (PCP), José Manuel Pureza (BE), Jorge Paulo Oliveira e Margarida Balseiro Lopes (PSD), Cecília Meireles (CDS-PP), João Paulo Correia (PS), José Luís Ferreira (Os Verdes), Jorge Duarte Costa (BE), Carla Cruz (PCP), Duarte Pacheco (PSD) e Heitor Sousa (BE).

No encerramento do debate, na especialidade, da proposta de lei n.º 12/XIII (1.ª), proferiram intervenções os Deputados André Silva (PAN), Heloísa Apolónia (Os Verdes), João Oliveira (PCP), Telmo Correia (CDS-PP),

Mariana Mortágua (BE), Carlos César (PS), Luís Montenegro (PSD) e o Ministro das Finanças (Mário Centeno), tendo, depois, sido aprovada em votação final global, com alterações entretanto aprovadas. Mereceu também aprovação o requerimento oral, apresentado pelo PS, solicitando a redução para 1 dia do prazo de reclamação, previsto no n.º 1 do artigo 157.º do Regimento da Assembleia da República, da redação final relativa à proposta de lei.

Ainda em votação final global, foram aprovados os textos finais, apresentados pela Comissão de Orçamento, Finanças e Modernização Administrativa, relativos às propostas de lei n.os 11/XIII (1.ª) — Aprova as Grandes Opções do Plano para 2016-2019, e 13/XIII (1.ª) — Aprova o Quadro Plurianual de Programação Orçamental para os anos de 2016-2019. Foi também aprovado o requerimento oral, apresentado pelo PS, solicitando a redução para 1 dia do prazo de reclamação, previsto no n.º 1 do artigo 157.º do Regimento da Assembleia da República, da redação final relativa aos referidos textos finais.

Entretanto, deu-se conta da entrada na Mesa do projeto de resolução n.º 181/XIII (1.ª).

De seguida, ao abrigo da alínea a) do n.º 1 do artigo 4.º da Lei de Acompanhamento, Apreciação e Pronúncia pela

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Assembleia da República no âmbito do Processo de Construção da União Europeia, procedeu-se a um debate preparatório do próximo Conselho Europeu.

Após intervenção de abertura, proferida pelo Primeiro-Ministro (António Costa) — que também felicitou a Deputada Assunção Cristas pela sua eleição para Presidente do CDS-PP —, intervieram os Deputados Miguel Morgado (PSD), Catarina Martins (BE), Pedro Mota Soares (CDS-PP), Jerónimo de Sousa (PCP), José Luís Ferreira (Os Verdes) e Vitalino Canas (PS), tendo ainda o Primeiro-Ministro feito uma intervenção na fase de encerramento do debate.

Foram lidos e aprovados os votos n.os 41/XIII (1.ª) — De pesar pelo falecimento de Heitor Sousa (PSD e PS), 43/XIII (1.ª) — De pesar pelo falecimento de Nicolau Breyner (PSD, PS, BE, CDS-PP, PCP, Os Verdes e PAN) — ao qual o Presidente da AR se associou —, tendo a Câmara aplaudido, de pé, 45/XIII (1.ª) — De pesar pelo falecimento do Dr. Mário Machado (PS e PSD) e 47/XIII (1.ª) — De pesar pelo falecimento de Ana Vieira (PS, PSD, CDS-PP e PAN). No fim, a Câmara guardou 1 minuto de silêncio.

Os votos n.os 44/XIII (1.ª) — De condenação pelo encerramento de fronteiras em vários países europeus (BE,

PS e PAN) e 46/XIII (1.ª) — De congratulação pela posição do Governo português na questão dos refugiados (PS e PSD), após leitura, foram aprovados.

Mereceram ainda aprovação o projeto de deliberação n.º 5/XIII (1.ª) — Primeira alteração à Deliberação n.º 1-PL/2016, de 19 de janeiro (Composição das delegações às organizações parlamentares internacionais) (Presidente da AR), o projeto de resolução n.º 134/XIII (1.ª) — Recomenda a reintrodução da fiscalização da qualidade do ar interior, com a correspondente pesquisa da presença de colónias de legionella tal como previsto no Decreto-Lei n.º 79/2006, de 4 de abril (BE) e a Conta de Gerência da Assembleia da República relativa ao ano de 2014.

Foram aprovados os n.os 16 a 32 do Diário. Finalmente, a Câmara aprovou oito pareceres da

Subcomissão de Ética da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias autorizando sete Deputados do PSD e uma Deputada do PS a intervirem no âmbito de processos que correm em tribunal.

O Presidente encerrou a sessão eram 14 horas e 21 minutos.

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O Sr. Presidente: — Sr.as e Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Funcionários, Sr.as e

Srs. Jornalistas, temos quórum, pelo que declaro aberta a sessão.

Eram 10 horas e 3 minutos.

Peço aos Srs. Agentes de autoridade para abrirem as galerias.

Como sabem, a ordem do dia de hoje é particularmente longa. Do primeiro ponto consta a discussão das

normas avocadas pelo Plenário e o segundo consta da votação dessas mesmas.

De seguida, terá lugar o encerramento do debate, na especialidade, do Orçamento do Estado para 2016,

após o que será votado em votação final global.

Do quinto ponto consta o debate preparatório do próximo Conselho Europeu, ao abrigo da alínea a) do n.º 1

do artigo 4.º da Lei de Acompanhamento, Apreciação e Pronúncia pela Assembleia da República no âmbito do

Processo de Construção da União Europeia.

Em sexto lugar, será apreciado o Relatório e Conta de Gerência da Assembleia da República referente a

2014 e, por último, haverá votações regimentais, no fim do debate.

Vamos começar pela discussão das normas avocadas.

Foram avocadas uma proposta apresentada por Os Verdes, uma proposta apresentada pelo CDS-PP,

cinco propostas apresentadas pelo Bloco de Esquerda e quatro pelo PCP.

Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Paula Santos, do PCP.

A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: A aprovação da

proposta do PCP de redução da taxa máxima do IMI tem uma particular relevância para milhares de famílias

portuguesas que nos últimos anos se viram numa situação extremamente difícil. Por um lado, pela atualização

do valor patrimonial dos imóveis e, por outro, pela consecutiva redução do poder de compra.

A aprovação desta proposta do PCP corresponde a um dos problemas identificados por muitas famílias,

contribui para a desoneração da carga fiscal sobre estas e será já tida em conta nas decisões que forem

tomadas em 2016.

É que enquanto PSD e CDS estavam no Governo e andaram a implementar medidas para aumentar os

impostos sobre as famílias, o PCP esteve sempre do lado da diminuição dos impostos sobre as famílias.

O PSD e o CDS, nos últimos quatro anos, tiveram inúmeras oportunidades para reduzir os impostos sobre

as famílias, mas optaram sempre pelo seu agravamento. E dizer, como fez o CDS ontem, que defende o

desagravamento dos impostos sobre as famílias não passa de demagogia e profunda hipocrisia.

A redução da taxa do IMI, por si só, reflete o sinal da inversão da política prosseguida por PSD e CDS,

demonstra que, contrariamente ao que PSD e CDS afirmaram, é possível um outro caminho e torna evidente

que a nova correlação de forças na Assembleia da República possibilita esse novo caminho, um caminho de

reposição de rendimentos e direitos para o qual o contributo do PCP é determinante.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado José Manuel Pureza, do Bloco de Esquerda.

O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, hoje, graças a uma proposta

apresentada pelo Bloco de Esquerda, damos um passo de grande importância na luta contra a violência

doméstica. Doravante, as vítimas de violência doméstica que se constituírem como assistentes ou partes civis

em processos judiciais sobre essa situação ignóbil deixam de pagar custas judiciais.

Há 16 anos, graças a outra iniciativa do Bloco de Esquerda, a violência doméstica passou a ser crime

público e, assim, retirámo-la da blindagem socialmente cobarde de dentro de casa e assumimo-la como algo a

que toda a sociedade tem obrigação de responder.

Agora trata-se de remover outro obstáculo a um combate eficaz pela erradicação desta vergonha.

É por isso uma decisão que honra a democracia e honra quem veio a este debate com a noção de que é

também no Orçamento que se defendem os direitos humanos.

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Aplausos do BE.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra, em nome do Grupo Parlamentar do PSD, o Sr. Deputado Jorge Paulo

Oliveira.

O Sr. Jorge Paulo Oliveira (PSD): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados:

Em 24 de novembro de 2014 o Parlamento aprova uma proposta que haveria de ficar conhecida como o IMI

familiar, o qual passou a considerar a dimensão do agregado familiar, discriminando positivamente as famílias

com filhos. Votos contra: apenas a esquerda radical.

A justiça social desta medida, aplaudida pela sociedade civil, foi abraçada por 218 autarquias, o

equivalente a 71% dos municípios portugueses.

O PS mudou agora de opinião. A medida, afinal, não era assim tão boa… Boa, boa é a proposta de

alteração do Bloco de Esquerda que prevê que a dedução por dependente passe a corresponder a um valor

fixo e não a uma percentagem da taxa. O que representa, Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, um claro

retrocesso do ponto de vista da equidade fiscal e um claro retrocesso do ponto de vista da proteção das

famílias, que passam simplesmente a pagar mais.

O PS veio dizer que não, que não mudou de opinião. Por isso, Sr. Presidente e Srs. Deputados, será muito

interessante verificar o que é que o PS irá dizer aos camaradas Hugo Martins, de Odivelas, Luís Correia, de

Castelo Branco, Nuno Mocinha, de Elvas, Domingos Bragança, de Guimarães, Raúl Castro, de Leiria, José

Maria Costa, de Viana do Castelo, Rui Santos, de Vila Real, e Fernando Medina, de Lisboa, apenas para citar

alguns dos muitos presidentes de câmara do Partido Socialista que aplicaram nos seus municípios este

imposto, este IMI familiar, exatamente nos termos em que está em vigor.

A verdade é que o PS mudou de opinião porque a sua ala «syrizista», a sua ala «varoufakinana», que

nunca se preocupou verdadeiramente com a proteção das famílias, cedeu, e cedeu em definitivo, ao

radicalismo do Bloco de Esquerda. Manda quem pode e obedece quem tem medo, e nós todos já percebemos

quem é que manda na «gerigonça». Quem manda na «geringonça» é o Bloco de Esquerda. Parabéns, Sr.ª

Deputada Catarina Martins. Muitos parabéns!

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Margarida Balseiro Lopes.

A Sr.ª Margarida Balseiro Lopes (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Ao longo deste debate

orçamental, em diversas intervenções, o PSD alertou para o problema das normas interpretativas na proposta

de lei. Alertámos para o facto de as normas interpretativas terem um caráter retroativo, violando a lei fiscal e a

Lei Fundamental.

E não se trata de um caso, de dois casos, de três casos, são mais de 20 as normas interpretativas que têm

carácter retroativo: é no IRS, é no IRC, é no imposto de selo, é no IUC.

Aos diversos alertas lançados pelo PSD, o Governo disse: «não há mal. Apesar de interpretativas, as

normas só se vão aplicar para casos futuros». Afirmou, aliás, o Governo que os tribunais aplicariam a lei

independentemente da vontade do legislador ou da administração fiscal, ou seja, confrontado com normas

fiscais retroativas, a resposta foi a de que não havia problema porque, no limite, se essas normas em causa

forem inconstitucionais, os tribunais não as vão aplicar.

Isto é de facto espantoso! Não é assim e tem de haver uma explicação para o Governo ter pejado o

Orçamento de normas retroativas.

Estará o Governo ciente do risco? Estará o Governo ciente de que vai receber impostos que poderá ter de

devolver no futuro? E não vai única e exclusivamente devolver esses impostos, vai ter de pagar juros

indemnizatórios e compensatórios por uma lei mal feita.

É que aquilo que o Governo se prepara para fazer é aprovar um Orçamento que viola a lei fiscal, que viola

a Constituição e é, sobretudo, um atentado ao Estado de direito.

Aplausos do PSD.

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O Sr. Presidente: — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Cecília Meireles, do Grupo Parlamentar do CDS-PP.

A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados:

No já longínquo, e por muitos aparentemente esquecido, cenário macroeconómico do PS, uma das coisas

previstas na altura era a criação de um imposto sobre as heranças, as heranças milionárias, creio eu. Era um

cenário, se bem se lembram, muito pensado, muito ponderado, as medidas estavam todas estudadas. Era só

ganharem as eleições que o cenário entrava em vigor.

De facto, não aconteceu nem uma coisa nem outra: nem ganharam as eleições nem o cenário entrou em

vigor.

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Bem lembrado!

A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Em todo o caso, aparentemente, a ideia de voltar a introduzir o

imposto sucessório em Portugal não saiu da cabeça de alguns responsáveis e isso, como é óbvio, lançou

preocupações não só em relação a patrimónios milionários como em relação a qualquer património e a

qualquer herança.

E eis se não quando, no meio deste cenário, o Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais deu uma

entrevista, cujo título era: «Está tudo em aberto nas heranças, até taxar doações já feitas».

Isto, como é óbvio, veio criar uma situação de grave preocupação. E o CDS, para acabar de vez com as

dúvidas, para que elas não continuassem a pairar no ar, criou um artigo dizendo mais ou menos o óbvio, que

cito: «O Governo não pode propor normas fiscais que prejudiquem os contribuintes por referência a factos

tributários ocorridos em momento anterior ao da sua entrada em vigor», que é como dizer que a lei fiscal não

pode ser retroativa.

O Sr. João Galamba (PS): — Isso já não está na lei?! Isso está na lei!

A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Oiço algumas vozes que perguntam: «isso já está na lei?!». Está até

na Constituição, Sr. Deputado. Por isso mesmo é que, se calhar, teria sido sensato não fazer declarações a

dizer que se ia taxar doações já feitas

Aplausos do CDS-PP.

É que já está na lei, o Sr. Deputado tem muita razão.

Portanto, se de facto não há — e quero acreditar que não — qualquer intenção de taxar doações já feitas, é

muito simples: votem a favor da proposta. Ela foi avocada e é uma última das últimas oportunidades de o

Governo demonstrar que, de facto, não quer taxar doações já feitas.

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Sr. Deputado João Paulo Correia.

O Sr. João Paulo Correia (PS): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: As

propostas de alteração ao IMI dominam as avocações do último dia de debate do Orçamento do Estado para

2016, e isso não é por acaso.

O capítulo do IMI resume o que foi o processo do Orçamento do Estado.

Por um, lado, quer pela parte do Governo, quer pela parte dos Grupos Parlamentares do PS, do Bloco de

Esquerda, do PCP e de Os Verdes, houve uma intenção clara de, também no IMI, introduzir critérios de mais

justiça social e de mais justiça fiscal na cobrança do imposto.

Por outro lado, a exemplo do que aconteceu em todo o processo do Orçamento do Estado, também no IMI

o PSD não foi capaz de apresentar qualquer proposta de alteração.

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O PSD fez falta de comparência ao processo do Orçamento do Estado; o PSD perdeu uma enorme

oportunidade de provar o seu regresso à social-democracia; o PSD votou contra propostas do articulado da

proposta de lei que diz serem duas, da sua própria autoria, e absteve-se em propostas oriundas da sua própria

bancada. A isto chama-se esquizofrenia política. É um PSD em estado crítico e sem sentido de

responsabilidade.

Aplausos do PS.

Muitas medidas foram apresentadas, aqui, em sede de IMI, por parte do Governo. Refiro-me à introdução,

com caráter permanente, da cláusula de salvaguarda, que limita a 75 € por ano os aumentos do imposto

decorrentes da reavaliação do imóvel. Refiro-me também ao fim da isenção do pagamento do IMI por parte

dos fundos de investimento.

Mas, para além destas propostas apresentadas pelo Governo, o Grupo Parlamentar do PS votou

favoravelmente outras propostas que, no nosso entender, contribuem para o esforço do «virar da página» da

austeridade.

E a estas propostas em sede de IMI junta-se um vasto conjunto de importantes medidas que concorrem

igualmente para mais justiça social e mais justiça fiscal: a redução das taxas moderadoras no Serviço Nacional

de Saúde, uma medida altamente elogiada pelo Conselho Económico Social; a descida do IVA da restauração;

o aumento da contribuição sobre o sector bancário; o aumento do imposto de sele sobre o crédito ao

consumo, de forma a reduzir o endividamento e aumentar a poupança das famílias; a eliminação do quociente

familiar, que deixava de fora 70% dos agregados familiares, e a sua substituição por uma dedução fixa à

coleta no valor de 600 € por dependente, de forma a assegurar que o filho de um pobre vale tanto como o filho

de um rico; a isenção do imposto do selo agravado para as cooperativas de habitação; a majoração de 120%

nos gastos com combustíveis para as empresas do setor dos transportes, para as mercadorias, para os

transportes coletivos de passageiros e para o setor do táxi; o alargamento do combate à evasão e à elisão

fiscal por parte de pessoas singulares de elevado rendimento, procurando, assim, mais justiça e

progressividade fiscal; e também a descida do IVA para as refeições escolares.

Trata-se de medidas que se podem somar a outras medidas importantíssimas no Orçamento do Estado.

Refiro-me à devolução dos cortes na função pública, à eliminação progressiva da sobretaxa, também à

eliminação progressiva da contribuição extraordinária de solidariedade sobre as pensões, ao aumento do

salário mínimo nacional, à atualização de 80% das pensões contributivas e à reposição dos valores das

prestações sociais, do complemento solidário para idosos, do RSI (rendimento social de inserção) e do abono

de família.

Este Orçamento vira a página da austeridade, aumenta o rendimento disponível das famílias, acrescenta

justiça social, defende o Estado social, acrescenta justiça fiscal.

Este Orçamento inverte a última governação PSD/CDS, que levou o País a mais dívida pública, défice

elevado, mais desemprego, mais pobreza e mais emigração.

O anterior Governo PSD/CDS falhou em todas as suas metas e falhou agora o seu discurso contra este

Orçamento do Estado. O discurso da direita perdeu para a realidade dos factos.

A direita apostou que este Orçamento não iria cumprir o Programa Eleitoral do PS, e cumpre.

A direita apostou que este Orçamento não iria cumprir o Programa do Governo, e cumpre. Este Orçamento

cumpre a Constituição.

A direita apostou que este Orçamento iria dividir os partidos que suportam o Governo, e não dividiu.

A direita apostou que este Orçamento não iria receber luz verde de Bruxelas, e recebeu.

A direita apostou que este Orçamento não passaria no crivo do Eurogrupo, e este Orçamento passou no

crivo do Eurogrupo.

A direita estava apostada que este Orçamento iria gerar a revolta dos mercados e das agências de rating, e

este Orçamento não gerou qualquer revolta dos mercados e das agências de rating.

A direita também estava apostada que este Orçamento não iria ter o apoio dos nossos agentes

económicos, e está a ter. Basta olhar para os dados do último boletim do INE: o indicador de confiança dos

consumidores aumentou em janeiro e em fevereiro e o indicador do clima económico também aumentou em

fevereiro.

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Estamos convictos de que o contributo do Parlamento, no processo de especialidade, veio reforçar este

Orçamento no caminho de haver mais rendimento disponível para as famílias, mais crescimento económico,

mais emprego e mais proteção social.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Ferreira.

O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Como dissemos durante a

discussão, na generalidade, deste Orçamento do Estado, Os Verdes pretendiam apresentar um conjunto de

propostas com vista a melhorar o seu conteúdo, a melhorar a vida das pessoas e a procurar mais justiça

social.

Não fizemos como alguns, que perderam por falta de comparência; viemos a jogo e apresentámos um

conjunto de propostas de alteração ao Orçamento do Estado.

Das propostas apresentadas por Os Verdes, sete mereceram aprovação. São propostas que têm uma

relevância muito grande para as pessoas e constituem um passo no sentido de garantir mais justiça social e

ambiental.

Assim, e por proposta de Os Verdes, o programa de fornecimento de leite escolar passa a incluir leite sem

lactose. Desta forma, e em benefício da saúde das crianças e da possibilidade de opção alimentar, as escolas

passarão a fornecer esse leite a pedido dos pais.

Por proposta de Os Verdes, o Governo terá de proceder à avaliação das rendas atribuídas às energéticas a

título de garantia de potência por forma a reduzir os escandalosos encargos suportados pelo Estado e pelos

consumidores, nomeadamente através da supressão do incentivo à construção de barragens, que foi já

imoralmente atribuído a empreendimentos ao abrigo do Programa Nacional de Barragens.

Por proposta de Os Verdes, Portugal vai passar a ter uma estratégia nacional de combate ao desperdício

alimentar. É uma estratégia que definirá um quadro plurianual de ações a desenvolver pelo Estado em

coordenação com outras entidades. É uma estratégia com reflexos de ordem ambiental e económica muito

significativa e que deve gerar uma imensa participação dos portugueses.

Por proposta de Os Verdes, o nosso País vai contar com um plano de ação corretiva e preventiva a realizar

nos edifícios públicos que contêm amianto, sendo tornado público o mapeamento e o planeamento dessas

ações.

Como é do conhecimento público, desde 2002 que Os Verdes trabalham intensivamente no Parlamento

para um ação consequente com o objetivo da eliminação, correção e monitorização do amianto em edifícios

públicos. A materialização desta norma no Orçamento do Estado implica garantir que no ano de 2016 se darão

passos concretos e eficazes em relação ao objetivo traçado, mas também se tornará público o planeamento

estipulado de modo a que as populações conheçam as intervenções a realizar, assim como comprometer o

próprio Governo com a sua realização.

Por proposta de Os Verdes, as cerca de 550 000 pessoas que beneficiam de isenção de IMI por condições

económicas muito frágeis não vão perder essa isenção pelo facto de terem dívidas ao fisco ou à segurança

social.

Os Verdes consideram que estas pessoas devem ser estimuladas e ajudadas a pagar as suas dívidas e o

que sucede é que retirar a isenção do imposto a pessoas que já têm situações muito delicadas do ponto de

vista económico é uma forma de agudizar a situação e de as impedir, muitas vezes, de criarem condições para

regularizarem as suas situações.

Por fim, refiro-me à proposta que Os Verdes avocaram para Plenário hoje. As pessoas, quando vão para

um lar e são obrigadas a alterar a sua morada de residência, perdem, por esse facto, o benefício da isenção

de IMI.

Ora, por proposta de Os Verdes, essa injustiça vai ser removida, vai deixar de acontecer. As pessoas de

idade e com poucos recursos económicos vão continuar a beneficiar da isenção de IMI, ainda que a sua

morada seja a do lar.

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Fizemos a nossa parte. Contribuímos para melhorar este Orçamento, contribuímos para melhorar a vida

das pessoas, a sua qualidade de vida, nomeadamente na defesa dos valores ambientais, procurámos atribuir

mais justiça social a este Orçamento e, portanto, fizemos a nossa parte.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Jorge Duarte Costa.

O Sr. Jorge Duarte Costa (BE): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: A aprovação do acesso automático à

tarifa social na energia é, neste Orçamento do Estado, o mais importante fator de redução dos custos fixos das

famílias portuguesas com um efeito relevante no seu rendimento.

Só o cinismo do anterior Governo conjugado com o da EDP permitiu que, no período de maior

empobrecimento na sociedade portuguesa, cerca de 900 000 famílias que teriam direito ao benefício da tarifa

social tivessem desistido de conseguir esse benefício a que tinham direito, tal era o labirinto burocrático

montado pela EDP. Não é o Bloco de Esquerda que o diz, é a Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos,

que chegou a multar a EDP por más práticas neste domínio.

Com as alterações introduzidas pelo Bloco de Esquerda, 1 milhão de agregados em situação de

comprovada carência económica vai beneficiar do desconto anual entre 110 € e 130 €, que pode chegar a 200

€ para os utilizadores de gás canalizado.

O tom das ameaças da EDP e da Endesa mostra como é errado deixar em mãos privadas setores

estratégicos, como é o da energia.

Que a democracia se imponha ao poder do lobby é uma boa lição para todos e uma boa lição para o futuro,

porque nas próximas semanas vai começar a trabalhar o grupo de ligação entre o Partido Socialista, o Bloco

de Esquerda e o Governo precisamente para analisar e avaliar medidas para ir mais longe na redução dos

custos energéticos das famílias.

Este, Sr.as e Srs. Deputados, é um caminho que só está agora a começar.

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Carla Cruz.

A Sr.ª CarlaCruz (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: O Governo

PSD/CDS-PP aumentou brutalmente as taxas moderadoras e alterou o regime de isenção a grupos que

haviam tido essa isenção, nomeadamente os bombeiros e os dadores benévolos de sangue. Daí que a

aprovação, ontem, em Comissão, da redução das taxas moderadoras e o alargamento da isenção a vários

grupos seja uma medida positiva, porém insuficiente. E é insuficiente porque o regime aprovado não atende ao

doente mas, sim, à doença, deixando de fora muitos doentes que, pelo facto de terem doenças crónicas, estão

mais vulneráveis ao aparecimento de outras doenças.

É neste sentido que vai a proposta do PCP, uma proposta que recupera o regime de isenção para os

doentes crónicos que existia antes das alterações do regime proposto por PSD/CDS, centrando, assim, o

regime de isenção para os doentes crónicos no doente e não na doença.

Esta proposta, a ser aprovada, permitirá desonerar estes doentes e garantir-lhes o acesso a cuidados de

saúde de que tanto necessitam.

Aplausos do PCP e do Deputado do BE Jorge Duarte Costa.

O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Duarte Pacheco.

O Sr. DuartePacheco (PSD): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados:

Estamos a terminar a discussão e a apreciação do Orçamento do Estado e muito em breve vai iniciar-se a sua

execução. Vai começar a parte mais difícil, que é pôr este Orçamento em prática.

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Como é natural, desejamos, como portugueses, que tudo corra bem. Vivemos neste País, gostamos deste

País, trabalhamos e temos aqui a nossa família. Deus queira que tudo corra bem.

Mas permitam que tenhamos dúvidas quando o caminho que é apresentado é semelhante àquele que nos

levou à bancarrota, fechando a economia sobre o mercado interno, aumentando os custos de contexto sobre

as empresas, aumentando os impostos para as famílias, nomeadamente os mais regressivos.

Criticaram-nos muito por não termos apresentado propostas, mas nós só dizemos o seguinte: os senhores,

e esta maioria, são responsáveis pela plenitude do vosso Orçamento. Não vão ter desculpa se as coisas

correrem menos bem. Boa viagem e que consigam os vossos objetivos.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem agora a palavra o Sr. Deputado Heitor Sousa.

O Sr. HeitorSousa (BE): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: O Bloco de

Esquerda traz a esta discussão, neste ponto, a avocação de duas alterações relativamente ao IMI que, a

nosso ver, corrigem a injustiça fiscal que o anterior Governo praticou durante quatro anos, incidindo essa

injustiça sobre as famílias de menores rendimentos e sobre as empresas de menores recursos.

Essa alteração que agora é proposta pelo Bloco de Esquerda é uma alteração que visa estender a cláusula

de salvaguarda que em boa hora este Governo retomou para o IMI e que o PSD e o CDS tinham declarada

extinta no ano de 2015. Agora, ela é introduzida para que, no futuro, quaisquer revisões do valor patrimonial

dos imóveis venham a poder beneficiar de uma cláusula de salvaguarda que corrige eventuais aumentos que

estejam para além do valor dessa mesma cláusula de salvaguarda.

A proposta do Bloco de Esquerda visa introduzir essa cláusula de salvaguarda estendendo-a ainda aos

idosos com mais de 65 anos que sejam objeto de valorizações do seu património que ultrapasse o valor da

cláusula de salvaguarda.

O segundo aspeto desta correção tem a ver com a mudança de filosofia do chamado «IMI familiar».

Com o anterior Governo, as famílias cujo imobiliário tivesse um valor patrimonial mais alto tinham um

desconto percentual por cada filho, que aumentava à medida do seu número de filhos, e, portanto, aumentava

também à medida que ao valor do imóvel se ia aplicar com esse desconto.

O Sr. Presidente: — Tem de concluir, Sr. Deputado.

O Sr. HeitorSousa (BE): — O que fazemos é introduzir um elemento de equidade e de justiça fiscal,

dando a cada descendente o mesmo desconto em matéria de redução do IMI.

O Sr. Presidente: — Muito obrigado, Sr. Deputado.

O Sr. HeitorSousa (BE): — E isso faz toda a diferença, Sr.as e Srs. Deputados do PSD e do CDS.

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Fernando Rocha

Andrade.

O Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais (Fernando Rocha Andrade): — Sr. Presidente, Sr.as e

Srs. Deputados: Na Roma antiga, como princípio do exercício do poder, usava-se a expressão «pão e circo».

Neste encerramento do debate, na especialidade, do Orçamento do Estado o que tivemos foi, do lado das

bancadas da esquerda, a discussão em torno de um conjunto de medidas que afetam o rendimento das

pessoas e melhoram a sua capacidade contributiva, na medida em que afinam, com mais justiça, os impostos

— o pão. Do lado da direita, naturalmente, veio o circo.

Aplausos do PS.

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O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD):— Olha o ilusionista!

O Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais: — E veio o circo em torno de uma polémica estéril

sobre normas interpretativas vindas de uma antiga maioria parlamentar, que, aliás, teve normas interpretativas

de natureza fiscal em todos os seus orçamentos mas que agora lhes descobriu um qualquer carácter

demoníaco.

Aplausos do PS.

Do lado da bancada do CDS, veio o circo em torno de uma proposta que não está no Orçamento e discutiu-

se, na especialidade, uma proposta que ninguém apresentou no Orçamento relativa ao imposto sucessório.

Sobre a norma proposta pelo CDS, queria dizer três coisas muito breves: em primeiro lugar, uma

preocupação que tenho enquanto académico é, quando cito alguém, ir à fonte; leio e cito corretamente.

Srs. Deputados,a entrevista tem três páginas, não custa assim tanto ler o que eu disse, não me imputando,

nomeadamente, o uso da palavra «taxar», que é uma palavra, como já afirmei, de que não gosto, não uso e,

por preciosismo de linguagem jurídica, não acho que deva ser aplicada. Portanto, é pelo menos uma citação

que eu dispensava.

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Há taxas e taxinhas!

O Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais: — Quanto à questão substancial da norma proposta,

Srs. Deputados, como saberão, a Constituição não permite à lei ordinária limitar os poderes de iniciativa do

Governo.

Portanto, de duas, uma: ou a iniciativa que está lá descrita é desconforme à Constituição, e a Constituição

já a proíbe, tornando a norma inútil; ou a iniciativa que está lá descrita não é contrária à Constituição e, então,

é inconstitucional por limitar a iniciativa do Governo. Como tal, uma norma que só pode ser lida como

repetindo a Constituição, parece-me que só tem um enquadramento possível, que é o enquadramento de uma

antiga maioria parlamentar que não pode, de facto, conceber um desenho de uma política orçamental sem ser

através do constante atropelo à Constituição.

Aplauso do PS.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Cecília Meireles.

A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados,

em primeiro lugar um pequeno detalhe: ainda não estamos no período de encerramento, que é o que se

seguirá, estamos num período de avocações de votações na especialidade, e não é ainda o encerramento.

Em segundo lugar, diz o Sr. Secretário de Estado que isto é o circo. Curiosamente, já no outro dia utilizou

uma expressão com a qual estou integralmente de acordo, que foi: «é uma questão de princípio».

De facto, é mesmo uma questão de princípio, porque a discussão sobre se vai ou não taxar doações já

feitas, se vai ou não taxar heranças ou reintroduzir o imposto sucessório, ou o que lhe queira chamar, do ponto

de vista do Sr. Secretário de Estado, é uma questão de circo.

É legítima a sua opinião — não será elegante, mas legítima é! Mas também é legítimo, do nosso ponto de

vista, ser contra o imposto sucessório, também é legítimo, do nosso ponto de vista, preocuparmo-nos com

essa questão.

E já que fala tanto em ler a entrevista, numa das páginas, o senhor lembra que, na versão anterior do

imposto, tributavam-se os bens da herança mas também as doações em vida, logo, Sr. Secretário de Estado,

doações já feitas. Portanto, do nosso ponto de vista, é legítimo preocuparmo-nos com a questão de o Sr.

Secretário de Estado estar a pensar incluir no seu imposto sucessório doações que já foram feitas, portanto,

factos tributários ocorridos no passado, sendo também legítimo querermos impedir esse facto.

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O Sr. Secretário de Estado pode não querer aprovar porque, de facto, quer taxar ou quer incluir no imposto

sucessório as doações já feitas.

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Exatamente!

A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Agora, do nosso ponto de vista, isso, Sr. Secretário de Estado, não é

legítimo, não devia ser legal e é até inconstitucional. E, sim, é de facto uma questão de princípio: aqui

protegem-se os factos tributários que já ocorreram.

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais.

O Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais: — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada, como é evidente,

não é a discussão substancial sobre o imposto sucessório que é o circo e, também como é evidente, são

legítimas todas as opiniões quer sobre o princípio do imposto sucessório quer sobre qualquer modelo em

concreto do imposto sucessório.

Agora, é preciso termos presentes alguns dados fundamentais da Constituição. Nem o Secretário de

Estado dos Assuntos Fiscais nem o Governo podem criar qualquer imposto sucessório. Portanto, qualquer

proposta de imposto sucessório terá de vir a este Parlamento, terá de ser aqui discutida e merecerá a votação

que este Parlamento entender dar-lhe. Como tal, a única discussão séria em torno do imposto sucessório será

a que existir em torno de uma iniciativa que seja apresentada pelo Governo ou por qualquer Deputado sobre

essa matéria.

O que é verdadeiramente um circo é provocar, neste momento, uma discussão em torno de uma proposta

que não existe de todo.

Aplausos do PS e da Deputada do BE Mariana Mortágua.

O Sr. Presidente: — Não há mais oradores inscritos e, como tal, vamos passar ao ponto 2 da ordem do

dia, que consiste na votação das normas avocadas.

Antes de mais, vamos proceder à verificação do quórum de deliberação, utilizando o sistema eletrónico.

Os Srs. Deputados que, por qualquer razão, não o puderem fazer terão de o sinalizar à Mesa e depois

fazer o registo presencial, para que seja considerada a respetiva presença na reunião.

Pausa.

O quadro eletrónico regista 214 presenças, às quais se acrescentam os Srs. Deputados Heloísa Apolónia,

de Os Verdes, Susana Amador, do PS, Carlos Abreu Amorim, do PSD, e Paulo Portas, do CDS-PP,

perfazendo 218 presenças.

Entretanto, estão a entrar na Sala mais uns Srs. Deputados que procederão ao respetivo registo,

posteriormente, junto dos serviços.

Srs. Deputados, temos quórum para proceder às votações.

Começando pelo artigo 143.º da proposta de lei, vamos proceder à votação da proposta 115-C,

apresentada pelo PCP, de emenda à alínea c) n.º 1 do artigo 112.º do Código do IMI.

Submetida à votação, foi aprovada, com votos a favor do PS, do BE, do CDS-PP, do PCP e de Os Verdes

e a abstenção do PSD.

É a seguinte:

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Artigo 112.º

Taxas

1 — ................................................................................................................................................................. .

a) — ................................................................................................................................................................ .

b) — ................................................................................................................................................................ .

c) Prédios urbanos — de 0,3% a 0,45%.

O Sr. Presidente: — Quanto ao artigo 144.º — Aditamento ao Código do Imposto Municipal sobre os

Imóveis, vamos proceder à votação da proposta 114-C, apresentada pelo BE, de emenda da tabela do n.º 1 do

artigo 112.º-A do Código do IMI.

Submetida à votação, foi aprovada, com votos a favor do PS e do BE, votos contra do CDS-PP, do PCP e

de Os Verdes e a abstenção do PSD.

É a seguinte:

Artigo 112.º-A

Prédios de sujeitos passivos com dependentes a cargo

1 — Os municípios, mediante deliberação da assembleia municipal, podem fixar uma redução da taxa do

imposto municipal sobre imóveis, que vigora no ano a que respeita o imposto, a aplicar ao prédio ou parte de

prédio urbano destinado a habitação própria e permanente do sujeito passivo ou do seu agregado familiar, e

que seja efetivamente afeto a tal fim, atendendo ao número de dependentes que, nos termos do Código do

IRS, compõem o respetivo agregado familiar, de acordo com a seguinte tabela:

Número de dependentes a cargo Dedução Fixa (em €)

1 20

2 40

3 ou mais 70

O Sr. Presidente: — Passamos à votação da proposta 73-C, apresentada pelo BE, aditamento do n.º 3 ao

artigo 140.º do Código do IMI, constante do artigo 144.º da proposta de lei.

Submetida à votação, foi aprovada, com votos a favor do PS, do BE, do PCP e de Os Verdes e abstenções

do PSD e do CDS-PP.

É a seguinte:

3 — O aumento da coleta de IMI determinado por aumento de valor tributável não resultante de mera

atualização nos termos do artigo 138.º, não é aplicável, independentemente do valor do imóvel, a sujeitos

passivos que reúnam as condições legais para a isenção de IMI e tenham mais de 65 anos.

O Sr. Presidente: — Vamos passar à proposta 188-C, apresentada por Os Verdes, na parte em que adita

um artigo 144.º-B — Alteração do artigo 11.º-A do Código do Imposto Municipal sobre Imóveis.

Submetida à votação, foi aprovada, com votos a favor do PS, do BE, do PCP e de Os Verdes e abstenções

do PSD e do CDS.

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É a seguinte:

Artigo 144.º — B

Alteração do artigo 11.º-A do Código do Imposto Municipal sobre Imóveis

Artigo 11.º-A

Prédios de reduzido valor patrimonial de sujeitos passivos de baixos rendimentos

1 — ................................................................................................................................................................. .

2 — ................................................................................................................................................................. .

3 — ................................................................................................................................................................. .

4 — ................................................................................................................................................................. .

5 — ................................................................................................................................................................. .

6 — ................................................................................................................................................................. .

7 — ................................................................................................................................................................. .

8 — ................................................................................................................................................................. .

9 — Sem prejuízo do disposto no número anterior, o sujeito passivo que, a 31 de dezembro do ano a que

respeita o imposto, se encontre a residir em lar de terceira idade, pode beneficiar da isenção prevista no

presente artigo, efetuando até aquela data prova junto da Autoridade Tributária e Aduaneira, de que o prédio

ou parte de prédio urbano em causa antes constituía a sua habitação própria e permanente.

O Sr. Presidente:— Vamos passar ao artigo 147.º — Autorização Legislativa no âmbito do Imposto

Municipal sobre Imóveis, começando por votar a proposta 188-C, apresentada por Os Verdes, na parte em

que emenda a alínea g) do artigo 147.º da proposta de lei.

Submetida à votação, foi aprovada, com votos a favor do PS, do BE, do PCP e de Os Verdes abstenções

do PSD e do CDS.

É a seguinte:

g) Estabelecer que para os efeitos do artigo 118.º fica suspensa a liquidação do imposto enquanto não for

decidido o pedido de isenção do sujeito passivo para os prédios destinados a habitação própria e permanente,

ao abrigo do número 9 do artigo 11º-A do Código do Imposto Municipal sobre Imóveis e do artigo 46.º do

Estatuto dos Benefícios Fiscais;

O Sr. Presidente: — Vamos passar ao artigo 175.º — Alteração à Lei n.º 73/2013, de 3 de setembro,

começando por votar as alíneas b), c), d), e), f), g), h), i), j), k), l), m) e n) do artigo 14.º da Lei n.º 73/2013, de 3

de setembro (Estabelece o regime financeiro das autarquias locais e das entidades intermunicipais).

Submetidas à votação, foram aprovadas, com votos a favor do PS, do BE, do PCP e de Os Verdes, votos

contra do PSD e abstenções do CDS.

Ainda no âmbito do artigo 175.º da proposta de lei, vamos votar a proposta 81-C, apresentada pelo BE, de

aditamento de um n.º 4 ao artigo 30.º da Lei n.º 73/2013, de 3 de setembro (Estabelece o regime financeiro

das autarquias locais e das entidades intermunicipais).

Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PS, votos a favor do BE, do PCP e de Os Verdes e

abstenções do PSD e do CDS-PP.

Era o seguinte:

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4 — O disposto no número 2 não é aplicável aos municípios localizados no território nas regiões

autónomas, devendo os competentes órgãos regionais fixar quais as despesas elegíveis e fiscalizar o seu

cumprimento.

O Sr. Presidente: — Vamos passar à votação do n.º 5 do artigo 52.º da Lei n.º 73/2013, de 3 de setembro

(Estabelece o regime financeiro das autarquias locais e das entidades intermunicipais), constante do artigo

175.º da proposta de lei.

Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PS, do BE, do PCP e de Os Verdes, votos contra

do PSD e a abstenção do CDS-PP.

Vamos votar o artigo 81.º da Lei n.º 73/2013, de 3 de setembro (Estabelece o regime financeiro das

autarquias locais e das entidades intermunicipais), constante do artigo 175.º da proposta de lei.

Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PS, do BE, do PCP e de Os Verdes, votos contra

do PSD e a abstenção do CDS-PP.

Vamos votar o corpo do artigo 175.º da proposta de lei.

Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PS, do BE, do PCP e de Os Verdes, votos contra

do PSD e a abstenção do CDS-PP.

Relativamente ao artigo 176.º — Alteração à Lei n.º 169/99, de 18 de setembro, vamos votar a proposta 30-

C, apresentada pelo PAN, de substituição do artigo 27.º da Lei n.º 169/99, de 18 de setembro.

Submetida à votação, foi aprovada, com votos a favor do PS, do BE, do PCP e de os Verdes e abstenções

do PSD e do CDS-PP.

É a seguinte:

Artigo 27.º

[…]

1 — Nas freguesias com o mínimo de 5 000 e o máximo de 10 000 eleitores ou nas freguesias com mais de

3 500 eleitores e de 50 km2 de área, o presidente da junta pode exercer o mandato em regime de meio tempo.

2 — Nas freguesias com mais de 10 000 eleitores ou nas freguesias com mais de 7 000 eleitores e de 100

km2 de área, o presidente da junta pode exercer o mandato em regime de tempo inteiro.

3 — Desde que suportados pelo orçamento da freguesia, e sem que o encargo anual com a respetiva

remuneração ultrapasse 12% do valor total geral da receita constante na conta de gerência do ano anterior

nem o valor inscrito no orçamento em vigor:

a) Pode exercer o mandato em regime de meio tempo o presidente de junta nas freguesias com até 1 500

eleitores;

b) Pode exercer o mandato em regime de tempo inteiro o presidente de junta nas freguesias com mais de 1

500 eleitores e o máximo de 10 000.

c) Pode ainda exercer o mandato em regime de tempo inteiro mais um vogal do órgão executivo das

freguesias com mais de 10 000 eleitores e o máximo de 20 000 ou das freguesias com mais de 7 000 eleitores

e 100 Km2 de área;

d) Podem ainda exercer o mandato em regime de tempo inteiro mais dois vogais do órgão executivo das

freguesias com mais de 20 000 eleitores.

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4 — Os tempos inteiros referidos nos números anteriores podem ser divididos em meios tempos, nos

termos gerais.

5 — A possibilidade de exercício de funções a tempo inteiro habilita igualmente o exercício de funções

apenas a meio tempo, nomeadamente nos casos em que tal seja necessário para assegurar o cumprimento

dos limites com encargos anuais previstos no n.º 3.

6 — [Anterior n.º 4].

O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, vamos votar o corpo do artigo 176.º da proposta de lei.

O Sr. Duarte Pacheco (PSD): — Sr. Presidente, peço a palavra para interpelar a Mesa.

O Sr. Presidente: — Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. Duarte Pacheco (PSD): — Sr. Presidente, dada a aprovação da proposta apresentada pelo PAN,

pensamos que também estará prejudicada a votação do corpo do artigo 176.º, pelo que não será necessário

proceder à sua votação. Se votarmos o corpo do artigo, o nosso sentido de voto é contra.

O Sr. Presidente: — E o sentido de voto do CDS?

A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Sr. Presidente, o sentido de voto relativamente ao corpo do artigo

176.º, caso se entenda que ele não está prejudicado, o que me parece difícil, é de abstenção, porque eles são,

em termos de redação, absolutamente semelhantes.

O Sr. Presidente: — Então, considera-se que o corpo do artigo 176.º da proposta de lei foi aprovado, com

votos a favor do PS, do BE, do PCP e de os Verdes, votos contra do PSD e a abstenção do CDS-PP.

Relativamente ao artigo 177.º — Alteração à Lei n.º 75/2013, de 12 de setembro, vamos votar os n.os 1 e 2

do artigo 17.º da Lei n.º 75/2013, de 12 de setembro, e o corpo do artigo 177.º da proposta de lei.

Submetidos à votação, foram aprovados, com votos a favor do PS, do BE, do PCP e de Os Verdes, votos

contra do PSD e a abstenção do CDS-PP.

Vamos votar a proposta 183-C, apresentada pelo BE, de aditamento de um artigo 181.º-A — Alteração ao

Decreto-Lei n.º 138-A/2010, de 28 de dezembro.

Submetida à votação, foi aprovada, com votos a favor do PS, do BE, do PCP e de os Verdes e abstenções

do PSD e do CDS-PP.

É a seguinte:

Artigo 181.º-A

Alteração ao Decreto-Lei n.º 138-A/2010, de 28 de dezembro

1 — Os artigos 2.º, 2.º-A e 6.º do Decreto-Lei n.º 138-A2010, de 28 de dezembro, alterado pelo Decreto-Lei

n.º 172/2014, de 14 de novembro, passam a ter a seguinte redação:

Artigo 2.º

Clientes finais elegíveis

1 — ................................................................................................................................................................. .

2 — ................................................................................................................................................................. .

3 — Para efeitos do disposto no n.º 1 são ainda considerados clientes finais economicamente vulneráveis

as pessoas singulares que, no universo dos clientes finais de energia elétrica em baixa tensão normal,

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obtenham um rendimento anual inferior ao rendimento anual máximo, ainda que não beneficiem de qualquer

prestação social.

4 — Considera-se economicamente vulnerável o cliente final que integre um agregado familiar cujo

rendimento total, anual, seja igual ou inferior a€ 5.808,00, acrescido de 50% por cada elemento do agregado

familiar que não aufira qualquer rendimento, até um máximo de 10.

5 — Para efeitos do disposto no número anterior, considera-se agregado familiar, em cada ano, o conjunto

de pessoas constituído pelo cliente final e os dependentes a seu cargo nos termos definidos no Código do

IRS.

6 — O apuramento do rendimento máximo anual é feito nos termos do n.º 2 do artigo 3.º da Portaria n.º

311-D/2011, de 27 de dezembro.

7 — O rendimento anual máximo é anualmente revisto, com vista à sua adequação à situação vigente no

setor elétrico.

8 — [Revogado]

9 — [Revogado]

10 — [Revogado]

11 — [Revogado]

Artigo 2.º-A

[…]

A Direção-Geral de Energia e Geologia, em articulação com as entidades da Segurança Social e a

Autoridade Tributária e Aduaneira, elabora um relatório, dirigido ao membro do Governo responsável pela área

da energia e com periodicidade anual, com indicação do número de clientes finais que beneficiam da tarifa

social.

2 — [Revogado].

Artigo 6.º

Processamento

1 — A Direção-Geral de Energia e Geologia promove a fixação do número de clientes finais que beneficiam

da tarifa social, nos termos de protocolo a definir pelos membros do Governo responsáveis pelas áreas das

finanças, da segurança social e da energia.

2 — Para efeitos do disposto no número anterior, devem os comercializadores de energia elétrica remeter

para a Direção-Geral de Energia e Geologia a informação necessária à identificação dos titulares de contratos

de fornecimento de energia elétrica.

3 — O tratamento de dados pessoais previsto nos números anteriores carece de parecer prévio da

Comissão Nacional de Proteção de Dados.

4 — Identificados os potenciais beneficiários, é remetida informação individual a cada beneficiário com a

advertência de que, querendo, deve opor-se à atribuição da tarifa social no prazo de 30 dias, sob pena de a

mesma ser automaticamente atribuída.

5 — A manutenção da tarifa social depende da confirmação, por parte da Direção-Geral de Energia e

Geologia, em setembro de cada ano, da condição de cliente final economicamente vulnerável, nos termos do

artigo 2.º.

6 — Sem prejuízo do disposto nos números anteriores, pode o beneficiário requerer junto das instituições

de segurança social competentes e da Autoridade Tributária e Aduaneira um comprovativo da sua condição de

beneficiário e apresentá-lo junto do comercializador de energia elétrica.

7 — O beneficiário que deixe de reunir os requisitos de atribuição da tarifa social deve comunicá-lo às

instituições de segurança social competentes no prazo de 30 dias.»

2 — São revogados os artigos 10.º e 13.º do Decreto-Lei n.º 138-A/2010, de 28 de dezembro, alterado pelo

Decreto-Lei n.º 172/2014, de 14 de novembro.

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3 — Os procedimentos, os modelos e as demais condições necessárias à aplicação das alterações ao

artigo 6.º do Decreto-Lei n.º 138-A/2010, de 28 de dezembro, alterado pelo Decreto-Lei n.º 172/2014, de 14 de

novembro, são estabelecidos em Portaria dos membros do Governo responsáveis pelas áreas das finanças,

da segurança social e da energia.

O Sr. Presidente: — Vamos votar a proposta 178-C, apresentada pelo BE, de aditamento de um artigo

181.º-B — Alteração ao Decreto-Lei n.º 101/2011, de 30 de setembro.

Submetida à votação, foi aprovada, com votos a favor do PS, do BE, do PCP e de os Verdes e abstenções

do PSD e do CDS-PP.

É a seguinte:

Artigo 181.º-B

Alteração ao Decreto-Lei n.º 101/2011, de 30 de setembro

1 — Os artigos 3.º, 6.º e 8.º do Decreto-Lei n.º 101/2011, de 30 de setembro, passam a ter a seguinte

redação:

Artigo 3.º

[…]

1 — ................................................................................................................................................................. .

2 — O valor do desconto referido no número anterior é determinado através de despacho do membro do

Governo responsável pela área da energia, ouvida a Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE).

3 — [Revogado]

4 — O despacho previsto no número 2 é publicado até 20 de setembro de cada ano, para que possa

produzir efeitos no cálculo das tarifas de gás natural para o ano seguinte.

5 — [Revogado]

Artigo 6.º

Processamento

1 — A Direção-Geral de Energia e Geologia promove, junto das instituições de segurança social

competentes, a identificação dos clientes finais que beneficiam da tarifa social, nos termos de protocolo a

definir pelos membros do Governo responsáveis pelas áreas da segurança social e da energia.

2 — Para efeitos do disposto no número anterior, devem os comercializadores de gás natural remeter para

a Direção-Geral de Energia e Geologia a informação necessária à identificação dos titulares de contratos de

fornecimento de gás natural.

3 — O tratamento de dados pessoais previsto nos números anteriores carece de parecer prévio da

Comissão Nacional de Proteção de Dados.

4 — Identificados os potenciais beneficiários, é remetida informação individual a cada beneficiário com a

advertência de que, querendo, deve opor-se à atribuição da tarifa social no prazo de 30 dias, sob pena de a

mesma ser automaticamente atribuída.

5 — A manutenção da tarifa social depende da confirmação, por parte da Direção-Geral de Energia e

Geologia, em setembro de cada ano, da condição de cliente final economicamente vulnerável, nos termos do

artigo 2.º.

6 — Sem prejuízo do disposto nos números anteriores, pode o beneficiário requerer junto das instituições

de segurança social competentes um comprovativo da sua condição de beneficiário de uma das prestações

previstas no n.º 2 do artigo 2.º e apresentá-lo junto do comercializador de gás natural.

7 — O beneficiário que deixe de reunir os requisitos de atribuição da tarifa social deve comunicá-lo às

instituições de segurança social competentes no prazo de 30 dias.

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Artigo 8.º

Divulgação de informação

1 — Os comercializadores de gás natural devem promover a divulgação de informação sobre a existência

da tarifa social e a sua aplicação aos clientes finais economicamente vulneráveis na documentação que

acompanhe as faturas enviadas aos clientes de gás natural fornecido em baixa pressão com consumo anual

igual ou inferior a 500 m3, assinalando que as condições de elegibilidade e processamento da tarifa social

constam dos sítios na Internet do comercializador em causa, bem como dos sítios na Internet da segurança

social e da Direção-Geral da Energia e Geologia.

2 — É revogado o artigo 9.º do Decreto-Lei n.º 101/2011, de 30 de setembro.

3 — Os procedimentos, os modelos e as demais condições necessárias à aplicação das alterações ao

artigo 6.º do Decreto-Lei n.º 101/2011, de 30 de setembro, são estabelecidos em Portaria dos membros do

Governo responsáveis pelas áreas da segurança social e da energia.

O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, vamos passar ao artigo 185.º — Alteração ao Decreto-Lei n.º

113/2011, de 29 de novembro, da proposta de lei.

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Sr. Presidente, solicito que sejam votadas as três primeiras

alíneas em conjunto e depois as três seguintes.

O Sr. Presidente: — Então, Srs. Deputados, vamos votar as alíneas b), c) e d) do artigo 2.º do Decreto-Lei

n.º 113/2011, de 29 de novembro (Regula o acesso às prestações do Serviço Nacional de Saúde por parte dos

utentes no que respeita ao regime das taxas moderadoras e à aplicação de regimes especiais de benefícios),

constantes do artigo 185.º da proposta de lei.

Submetidas à votação, foram aprovadas, com votos a favor do PS, do BE, do PCP e de Os Verdes, votos

contra do PSD e a abstenção do CDS-PP.

Vamos agora votar as alíneas e), f), g) do artigo 2.º do Decreto-Lei n.º 113/2011, de 29 de novembro,

constantes do artigo 185.º da proposta de lei.

Submetidas à votação, foram aprovadas, com votos a favor do PS, do BE, do CDS-PP, do PCP e de Os

Verdes e votos contra do PSD.

Vamos, agora, votar a proposta 29-C, apresentada pelo PCP, de aditamento de uma alínea o) ao n.º 1 do

artigo 4.º do Decreto-Lei n.º 113/2011, de 29 de novembro, constante do artigo 185.º da proposta de lei.

Submetida à votação, foi rejeitada, com votos contra do PS, votos a favor do BE, do CDS-PP, do PCP e de

Os Verdes e a abstenção do PSD.

Era a seguinte:

o) Os doentes com doença crónica, identificadas em portaria do Ministro da Saúde.

O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, vamos votar as alíneas b), c), subalínea i) da alínea m) e alínea n) do

artigo 8.º do Decreto-Lei n.º 113/2011, de 29 de novembro (Regula o acesso às prestações do Serviço

Nacional de Saúde por parte dos utentes no que respeita ao regime das taxas moderadoras e à aplicação ao

de regimes especiais de benefícios), constantes do artigo 185.º da proposta de lei.

Submetidas à votação, foram aprovadas, com votos a favor do PS, do BE, do PCP e de Os Verdes, votos

contra do PSD e a abstenção do CDS-PP.

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Vamos agora votar a proposta 75-C, apresentada pelo BE, de aditamento de um artigo 185.º-A — Alteração

ao Decreto-Lei n.º 34/2008, de 26 de fevereiro.

Submetida à votação, foi aprovada, com votos a favor do PS, do BE, do CDS-PP, do PCP e de os Verdes e

a abstenção do PSD.

É a seguinte:

Artigo 185.º-A

Alteração ao Decreto-Lei n.º 34/2008, de 26 de Fevereiro

O artigo 4.º do Decreto-Lei n.º 34/2008, de 26 de Fevereiro passa a ter a seguinte redação:

«Artigo 4.º

Isenções

1 — ................................................................................................................................................................. .

a) — ................................................................................................................................................................ .

b) — ................................................................................................................................................................ .

c) — ................................................................................................................................................................ .

d) — ................................................................................................................................................................ .

f) — ................................................................................................................................................................. .

g) — ................................................................................................................................................................ .

h) — ................................................................................................................................................................ .

i) — ................................................................................................................................................................. .

j) — ................................................................................................................................................................. .

l) — ................................................................................................................................................................. .

m) — ............................................................................................................................................................... .

n) — ................................................................................................................................................................ .

o) — ................................................................................................................................................................ .

p) — ................................................................................................................................................................ .

q) — ................................................................................................................................................................ .

r) — ................................................................................................................................................................. .

s) — ................................................................................................................................................................ .

t) — ................................................................................................................................................................. .

u) — ................................................................................................................................................................ .

v) — ................................................................................................................................................................ .

x) — ................................................................................................................................................................ .

z) — As pessoas a quem tenha sido atribuído o estatuto de vítimas de crime de violência doméstica, nos

termos do disposto no artigo 14.º da Lei n.º 112/2009, de 16 de Setembro, quando intervenha no respetivo

processo penal em qualquer das qualidades referidas nos artigos 67.º-A a 84.º do Código do Processo Penal.

2 — ................................................................................................................................................................. .

a) — ................................................................................................................................................................ .

b) — ................................................................................................................................................................ .

c) — ................................................................................................................................................................ .

d) — ................................................................................................................................................................ .

e) — ................................................................................................................................................................ .

f) — ................................................................................................................................................................. .

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3 — ................................................................................................................................................................. .

4 — ................................................................................................................................................................. .

5 — ................................................................................................................................................................. .

6 — ................................................................................................................................................................. .

7 — ................................................................................................................................................................. .»

O Sr. Presidente: — Vamos votar a proposta 124-C, apresentada pelo CDS-PP, de aditamento de um

artigo 186.º-A — Cláusula de salvaguarda dos contribuintes.

Submetida à votação, foi rejeitada, com votos contra do PS, do BE, do PCP e de Os Verdes, votos a favor

do CDS-PP e a abstenção do PSD.

Era a seguinte:

Artigo 186.º-A

Cláusula de salvaguarda dos contribuintes

1 — O caráter interpretativo, expressamente conferido às alterações legislativas em matéria tributária

efetuadas no âmbito da presente lei não pode prejudicar os contribuintes, nomeadamente por referência a

factos tributários ocorridos em momento anterior ao da sua entrada em vigor.

2 — O Governo não pode propor normas fiscais que prejudiquem os contribuintes por referência a factos

tributários ocorridos em momento anterior ao da sua entrada em vigor, nomeadamente em matéria de factos

tributários atualmente sujeitos, mas isentos, de imposto de selo.

O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, terminámos as votações, e com elas este ponto da nossa ordem de

trabalhos.

Pausa.

Vamos entrar na fase de encerramento do debate do Orçamento do Estado para 2016.

Para uma intervenção, pelo PAN, tem a palavra o Sr. Deputado André Silva.

O Sr. André Silva (PAN): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados, Cidadãos:

Encerramos hoje a discussão e votação relativa ao Orçamento Geral do Estado. Tivemos um período que nos

trouxe novidades a vários níveis. Foram alcançados alguns avanços nas causas humana e animal, mas pouco

no que diz respeito à natureza. O PAN reconhece os avanços que foram feitos, mas considera que se poderia

ter ido muito mais além.

Muitas das propostas apresentadas pelo PAN que foram rejeitadas, foram-no não tanto porque houvesse

acréscimo da despesa, uma vez que em muitos casos, como o fim dos benefícios fiscais para a indústria

tauromáquica, verificava-se, inclusive, um aumento da receita. O que se passa, infelizmente, é que a nossa

sensibilidade como sociedade em relação aos animais ainda se encontra, nalguns casos, em níveis muito

desajustados.

Para quando o reconhecimento, hoje cientificamente comprovado, da sensibilidade dos animais? Porquê

tanta resistência contra aquilo que é apenas uma extensão lógica do que subjaz à própria existência e

consciência humana?

Não conseguimos ser acompanhados noutras medidas, nomeadamente nas respeitantes às áreas da

sustentabilidade, que iriam permitir um investimento social na produção de energia renovável e sistemas de

racionalização de energia, nem noutras que incentivavam hábitos de consumo e de reciclagem mais

sustentáveis.

No entanto, temos também aspetos positivos a realçar, como sejam as medidas de apoio social aprovadas

por este Parlamento no sentido de reduzir as carências que várias pessoas têm visto agravadas nos últimos

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tempos, a consideração das despesas médico-veterinárias em sede de IRS ou a inclusão de alguns produtos

vegetais alternativos a taxas reduzidas em sede de IVA.

Não foi, ainda, o que o PAN deseja proporcionar a todos os portugueses, mas foi, sem dúvida, um

importante primeiro passo para suavizar as elevadas despesas que tantas famílias têm com os seus animais

de companhia. Acreditamos que novos passos serão dados em próximos Orçamentos, nas iniciativas que

continuaremos a propor e no reforço do diálogo e cooperação com o Governo.

Estes pequenos passos representam, acima de tudo, positivas expectativas rumo a uma sociedade mais

empática e mais justa.

Por tudo isto, não faria sentido votar contra ou a favor deste Orçamento. Assim, e com expectativa de

novos avanços com que nos possamos identificar de forma mais consistente, deixamos o nosso voto confiante

para o futuro, optando pela abstenção.

Aplausos da Deputada do PS Rosa Maria Albernaz.

O Sr. Presidente: — Em nome do Grupo Parlamentar de Os Verdes, tem a palavra a Sr.ª Deputada

Heloísa Apolónia.

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs.

Deputados: Nesta intervenção de encerramento do debate do Orçamento do Estado para 2016, Os Verdes

gostariam de realçar três ideias.

Em primeiro lugar, este é um Orçamento apresentado à Assembleia da República pelo Governo do Partido

Socialista. Não corresponde, em vários aspetos, a um Orçamento que Os Verdes apresentariam, mas é

notoriamente um Orçamento influenciado por posições conjuntas assinadas entre o PS e três partidos à sua

esquerda, entre os quais o Partido Ecologista «Os Verdes».

É sem dúvida, por isso, que o Orçamento do Estado é marcado por instrumentos necessários e muito

relevantes para o primeiro objetivo que se impunha nesta Legislatura ao País: quebrar o ciclo de

empobrecimento e devolver rendimentos aos portugueses em benefício, também, da dinamização da

economia.

Por isso, é moldado por questões tão relevantes como acabar com a sobretaxa do IRS, devolver salários

retirados, descongelamento do aumento de pensões, repor e atualizar apoios sociais como o CSI, o RSI, o

abono de família, a ação social escolar, diminuir as taxas moderadoras. Os Verdes consideram que tinham o

dever de dar este contributo.

A segunda ideia que gostaria de realçar é que é um Orçamento que teve, evidentemente, margem para

alterações na especialidade que dessem melhor resposta e aperfeiçoassem questões da vida concreta das

pessoas. Da parte de Os Verdes, introduzimos propostas que foram aprovadas, como dar resposta a muitas

famílias que pediram a integração do leite sem lactose no programa de leite escolar para crianças intolerantes

à lactose; dar resposta a pessoas com carências económicas que perdiam a isenção de IMI simplesmente

porque entravam num lar de idosos ou porque tinham dívidas ao fisco e à segurança social, comprometendo-

se, assim, a sua regularização — isso acabou, e é da mais elementar justiça; avaliação das rendas atribuídas

aos centros electroprodutores a título de garantia de potência, retirando o incentivo à construção de novas

barragens; criação de estratégia para o combate ao desperdício alimentar com definição de um quadro

plurianual de ações a desenvolver pelo Estado com uma profunda participação da sociedade; e a criação de

um programa público de ações corretivas e preventivas dos edifícios públicos que contêm amianto, tornando

público o mapeamento e o planeamento dessas ações.

Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, a terceira ideia prende-se com a atitude do PSD e do CDS

relativamente a este Orçamento do Estado.

Em primeiro lugar refiro a do PSD, que decidiu não apresentar quaisquer propostas de alteração ao

Orçamento do Estado. Foi irresponsável, porque mesmo que não se concorde com a estrutura política de um

Orçamento do Estado, há sempre melhorias a propor para a vida concreta das pessoas,…

Aplausos de Os Verdes, do PS e do BE.

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O PSD não desistiu do Orçamento do Estado, desistiu do País e de apresentar respostas concretas aos

cidadãos.

Mas, em abono da verdade, Sr.as e Srs. Deputados, a questão é que o PSD não tinha contributos positivos

a propor. Se apresentassem propostas elas revelariam a face que hoje preferem esconder. Teriam

necessariamente de apresentar um corte de 600 milhões de euros à segurança social, porque essa era a sua

proposta, a devolução de 0% da sobretaxa de IRS, a continuação dos cortes salariais, a continuação dos

cortes nos apoios sociais, a continuação do congelamento do aumento das pensões mínimas, o aumento das

taxas moderadoras, enfim a continuação da política de estrangulamento.

O CDS teve outra estratégia: apresentou devidamente propostas de alteração ao Orçamento do Estado,

mas, Sr.as e Srs. Deputados, revelou-se igual a si próprio. Está a trabalhar agora na oposição para reganhar

todos os rótulos que perdeu quando foi para o Governo praticar políticas de empobrecimento. Quer outra vez

para si o rótulo do partido das famílias, o rótulo do partido dos contribuintes, o rótulo do partido da lavoura. O

CDS assume-se, claramente, como a fachada de ser uma coisa na oposição e outra quando está no Governo.

Serve, Sr.as e Srs. Deputados, nitidamente melhor os portugueses quando está na oposição.

Em conclusão, Sr.as e Srs. Deputados, contra todas as pressões, contra todas as chantagens,

designadamente da União Europeia, com um fortíssimo apoio do PSD e do CDS, estamos perante um

Orçamento que tem a capacidade de constituir um instrumento para quebrar um ciclo de aperto tão duro para

as famílias e para a pequena e média economia. Um ciclo que atava o País de pés e mãos a um

empobrecimento estrutural, que pagava aos mais poderosos só à custa do que tirava aos mais frágeis.

Os Verdes contribuíram para que esse ciclo tivesse um fim e querem continuar a contribuir para gerar

desenvolvimento com sustentabilidade ambiental, social e económica neste País. Por isso, votarão

favoravelmente o Orçamento do Estado para 2016, com a plena consciência de que este é, apenas, um

instrumento para se trabalhar muito para melhor daqui para a frente.

Aplausos de Os Verdes, do PS e do BE.

O Sr. Presidente. — Pelo Grupo Parlamentar do PCP, tem a palavra o Sr. Deputado João Oliveira.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: O PCP

salienta o sinal de mudança que este Orçamento comporta e o contributo que assumiu, e assume, para que tal

seja possível.

Sendo um Orçamento da iniciativa do Governo PS, não selecionamos o que nos agrada ignorando o resto

nem fazemos a sua apreciação apenas pelo que é, menosprezando tudo o que evita, trava ou recusa.

Valorizamos este Orçamento e cada uma das suas medidas positivas pela resposta que dão a problemas e

necessidades imediatas dos trabalhadores e do povo.

Sublinhamos que essas medidas de reposição de direitos ou rendimentos não são uma dádiva de um

Governo ou de uma maioria parlamentar mas, sim, o resultado da luta firme, convicta e determinada que os

trabalhadores e o povo português souberam travar durante anos contra quem os espezinhou e confiscou.

Destacamos o significado e a importância de cada uma dessas medidas, porque cada uma delas confirma

que vale a pena lutar, que há outro caminho, que é possível outra política, que não estamos condenados ao

retrocesso e ao falso destino das inevitabilidades.

Identificamos as insuficiências e as limitações que o Orçamento comporta, as opções que o condicionam e

as medidas de que discordamos, apontando soluções para a sua superação, a partir de opções que defendam

a soberania nacional, garantam a justiça social e assegurem o desenvolvimento do País.

Mas não permitiremos que se apague a memória da ação do anterior Governo PSD/CDS, da sua política

de exploração e empobrecimento, da pobreza e miséria que semearam, do desespero que deixaram em

legado às novas gerações, porque esquecer tudo isso seria reabilitar as forças responsáveis por essa política

de desastre nacional para uma nova vaga de destruição de direitos e condições de vida do povo português.

Aplausos do PCP.

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A proposta inicial de Orçamento do Estado para 2016 dava concretização a um conjunto de medidas

aprovadas nos últimos meses e avançava outras de sentido igualmente positivo. No fim da discussão e com as

propostas e contributos do PCP e das bancadas parlamentares que quiseram contribuir positivamente para

este debate, o Orçamento leva mais longe as medidas positivas contidas nessa proposta inicial.

Diminuir a importância de cada uma das medidas positivas deste Orçamento é diminuir o esforço de todos

os portugueses que lutaram para que elas fossem possíveis, mais até do que desvalorizar o contributo de

quem aqui se bateu por elas.

Pela primeira vez, será aprovada nesta Assembleia da República uma lei que dá concretização à

gratuitidade dos manuais escolares, comprovando que tínhamos razão em insistir nessa proposta, pela sua

justeza e necessidade.

É garantido um apoio extraordinário aos desempregados que ficam sem proteção no desemprego, por

perda do subsídio social de desemprego, com um novo período de concessão.

É reduzida a taxa máxima do IMI para 0,45%, com efeito nas decisões que serão tomadas já em 2016.

Fica parcialmente impedido o aumento do valor das propinas; é apontado o descongelamento do IAS em

2017; serão revistos os descontos para a segurança social dos trabalhadores a recibos verdes; são

aumentadas ou majoradas as prestações sociais; são reduzidos os custos com a energia; é assegurada a

isenção do imposto sobre veículos aos bombeiros na aquisição de veículos de proteção e socorro.

A estas melhorias introduzidas na discussão do Orçamento juntam-se outras que já constavam da proposta

inicial.

Não ignoramos que a resposta fica, ainda assim, aquém daquilo que seria necessário e possível perante os

problemas que atingem os trabalhadores, o povo e o País.

Procurando o Governo dar cumprimento às regras, imposições e condicionamentos externos, sejam eles o

da submissão ao euro, ao Pacto de Estabilidade, ao tratado orçamental ou a uma dívida insustentável, o

Orçamento não deixa de traduzir limitações e insuficiências na inversão consistente e coerente da política de

exploração e empobrecimento.

O adiamento da reposição integral de direitos e condições laborais dos trabalhadores da Administração

Pública e do setor empresarial do Estado, a recusa do aumento real do valor das pensões, a inexistência de

resposta estrutural ao problema da dívida, os baixos níveis de investimento público, as opções de

agravamento dos impostos indiretos que recaem de forma mais generalizada sobre os portugueses,

nomeadamente o aumento do imposto sobre os combustíveis, a insuficiente tributação do grande capital e do

património mobiliário são expressões dos limites e insuficiências deste Orçamento e das opções nele

assumidas.

Por isso, batemo-nos por um conjunto de propostas que continuarão a revelar-se necessárias na

valorização do trabalho e dos trabalhadores, no aumento do valor das reformas e pensões, no apoio à

produção nacional e aos setores produtivos, na diminuição da carga fiscal sobre as pequenas e médias

empresas, no aumento do investimento público, numa tributação mais justa do grande capital.

Continuaremos a bater-nos para que tenha mais força a exigência de uma verdadeira política alternativa, a

política patriótica e de esquerda que o PCP propõe ao povo português.

Aplausos do PCP.

O debate deste Orçamento do Estado confirmou ainda que PSD e CDS estão apostados em fazer

esquecer rapidamente não só a ação destruidora do seu Governo mas também os planos que tinham para a

sua perpetuação. Fazem-no de forma diferente, mas ambos com o mesmo objetivo: fugir às responsabilidades

que têm pela situação a que conduziram o País.

Da parte do PCP, não permitiremos que se esqueça o que foi a sua política de desastre e abdicação

nacional, de agravamento da exploração, de empobrecimento generalizado, de destruição de direitos e

condições de vida dos trabalhadores e do povo português, de fomento da emigração.

Começámos este debate orçamental fazendo o exercício de saber que Orçamento estaríamos a discutir se

PSD e CDS não tivessem sido derrotados e afastados do poder. Nesse exercício, identificámos um conjunto

de malfeitorias que aqueles dois partidos se preparavam para perpetuar.

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Agora, que chegamos ao fim do debate orçamental, torna-se também mais clara a tática de cada um dos

partidos que deram suporte à ação do anterior Governo.

O PSD está em estado de negação, e não é apenas porque se entretém a inaugurar escolas que

funcionam há três anos, como se ainda estivesse no Governo. O PSD está em estado de negação, porque se

recusa a aceitar a derrota que lhe foi imposta nas eleições,…

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Qual derrota? Isso é que é um estado de negação!

O Sr. João Oliveira (PCP): — … mas também porque se recusa a reconhecer os problemas que deixou ao

País.

Puseram os contadores a zero e querem fazer crer que todo e qualquer problema que surja é resultado das

medidas que vão sendo aprovadas e das decisões que vão sendo tomadas.

O CDS, por seu lado, utiliza outra via para chegar ao mesmo objetivo.

No CDS, a ordem é para limpar rapidamente a imagem e apagar todos os vestígios do passado, fazer

esquecer rapidamente e por completo tudo o que disseram e fizeram a partir do Governo, nem que para isso

tenham de sacudir o ex-parceiro de coligação e aprovar algumas das medidas que durante anos recusaram.

PSD e CDS classificam de imprudentes as medidas de reposição de direitos e rendimentos e acusam de

irresponsáveis os partidos que as propõem e as aprovam. Ao mesmo tempo, proclamam que a devolução de

direitos começou ainda com o seu Governo, procurando fazer crer que alguma vez tiveram planos para

devolver o que confiscaram.

Antes, recriminavam os portugueses com o discurso de culpabilização por supostamente terem vivido

acima das suas possibilidades e, por isso, deverem suportar todas as humilhações e confisco de direitos.

Agora, procuram lançar a vergonha sobre quem recebe de volta o que lhe foi retirado, como se estivesse a

receber algum privilégio injustificado e não aquilo que é seu por direito.

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Exatamente!

O Sr. João Oliveira (PCP): — Instigam a divisão, a intriga, a inveja, com a ideia de que está a ser

devolvido mais a uns do que a outros.

Nós, da parte do PCP, não deixaremos que dividam os portugueses, não deixaremos que se esqueça o

mal que fizeram ao povo e ao País, não deixaremos que se esqueçam as vezes em que cantar Grândola foi a

arma com que se calaram as medidas do Governo.

Aplausos do PCP e do BE.

O Orçamento que hoje aqui se aprova dá um sinal de que é possível uma outra política, mas de que é

preciso ainda lutar muito por ela. Nada do que foi já reposto está definitivamente garantido.

Votamos este Orçamento do Estado de olhos postos no futuro, nas muitas batalhas que temos para travar

e nos problemas que há para resolver.

Na próxima sexta-feira os Deputados comunistas estarão pelo País em ações de contacto com os

trabalhadores, integradas na campanha nacional de combate à precariedade e em defesa do emprego com

direitos. E no dia 23 aqui estaremos, no debate temático que agendámos para discutir a precariedade laboral.

Nos próximos meses, o PCP trará à discussão dos portugueses a renegociação da dívida, o controlo

público da banca, onde se deve incluir, desde já, a manutenção do Novo Banco enquanto banco público, a

preparação do País para a libertação da submissão ao euro.

O rumo de desenvolvimento soberano, progresso social e criação de emprego de que Portugal precisa

exige não só a rutura com as imposições da União Europeia e outros constrangimentos externos, mas também

a rutura com décadas de política de direita e com os interesses do capital monopolista que domina o País.

A concretização de uma política alternativa patriótica e de esquerda, sendo inseparável da consolidação de

todas as medidas positivas entretanto alcançadas e do combate a todas as medidas negativas e aspetos e

orientações da política de direita que, entretanto, prevalecem, requer simultaneamente, como elementos

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determinantes, o alargamento da intervenção e da luta dos trabalhadores e das populações e um cada vez

mais largo apoio ao PCP, às suas propostas e iniciativas políticas.

Retomamos hoje a saudação que aqui deixámos em 2011. Daqui saudamos todos aqueles que não se

calaram e não se resignaram. Daqui saudamos os trabalhadores, os jovens, os reformados, os pequenos e

médios empresários, agricultores e pescadores, os profissionais das forças de segurança, os militares, todos

aqueles que exerceram e defenderam os seus direitos com o objetivo patriótico de assegurar um futuro

diferente e melhor para o nosso País.

Foi a sua luta forte, convicta e determinada que abriu a possibilidade de trilharmos um caminho diferente

daquele que nos foi imposto com a política de exploração e empobrecimento dos últimos quatro anos e há de

ser a sua luta a abrir caminho para a rutura com a política de direita e a concretização da política patriótica e

de esquerda de que o País necessita.

Aplausos do PCP, do PS, do BE e de Os Verdes.

O Sr. Presidente: — Para intervir, em nome do Grupo Parlamentar do CDS-PP, tem a palavra o Sr.

Deputado Telmo Correia.

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro e Srs. Membros do Governo, Sr.as

e Srs. Deputados: Chegámos ao final da discussão do primeiro Orçamento do Estado do Governo das

esquerdas mais ou menos unidas. E se é certo que o Orçamento do Estado, como era previsível, será

aprovado, não é menos verdade que o pobre do documento orçamental, desde a sua apresentação, foi

empurrado de uns para outros, dentro da maioria parlamentar, e mesmo enjeitado, pois, por momentos,

parecia que, sendo da «geringonça», não era, no fundo, de ninguém.

Este é um assunto que fica resolvido hoje. Este é o vosso Orçamento e é um Orçamento, exclusivamente,

da responsabilidade do PS, do Bloco de Esquerda, do PCP e de Os Verdes.

Aplausos do CDS-PP.

Mais vosso, quando tendo o CDS procurado contribuir viu todas as suas propostas essenciais serem

rejeitadas por autossuficiência vossa. O que foi aprovado, podendo ser relevante, é pouco mais do que um

detalhe.

Bem podem vir com a ideia, tão típica à esquerda, de que a responsabilidade ou a culpa é sempre dos

outros, sejam os outros o anterior Governo, a Europa, as instituições, os norte-americanos, a Fitch, a Standard

& Poor’s ou o mundo em geral, que, na verdade, este Orçamento é o fruto das vossas escolhas, das vossas

opções, e o enorme risco que representa para o País é consequência única da vossa irresponsabilidade.

Aplausos do CDS-PP.

Representa uma mudança de rumo? É certo! É certo que representa uma mudança de rumo, mas uma

mudança de rumo em relação a uma economia que estava a crescer, a um desemprego que descia

sustentadamente e a uma recuperação de credibilidade e respeitabilidade externa que deu muito trabalho aos

portugueses e exigiu enorme coragem política ao Governo que vos antecedeu!

Mudança de rumo? Sim! É mesmo aquilo a que os britânicos gostam de chamar a U-turn, ou seja, uma

volta de 180º. Mas mudar radicalmente o sentido, fazer uma inversão de marcha, quando, finalmente, fruto de

muitos sacrifícios, estávamos no caminho certo, é um erro, e é um erro colossal!

Voltar para trás pode significar, no limite, voltar a 2011, quando o PS deixou o País na bancarrota e a

nossa soberania limitada pelos credores.

Não faz, de resto, nenhum sentido o vosso discurso patrioteiro que nos coloca em confronto com a Europa.

Nós não estamos em conflito com a Europa e, pelo contrário, somos membros de pleno direito da União

Europeia, ao contrário do que defendem alguns dos partidos que suportam este Governo.

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Defender Portugal na Europa, ser exigente perante as instituições, mas, sobretudo, defender a nossa

presença e a nossa continuidade na Europa é do interesse de Portugal e dos portugueses. Isso, sim, é ser

patriótico!

Aplausos do CDS-PP.

O mesmo se diga em relação ao passado. A verdade, digam o que disserem, é que foi com o Partido

Socialista que começaram os cortes nos rendimentos, foram congeladas as pensões mínimas e chegaram a

troica e a crise. Como é verdade que foi com o Governo do PSD e do CDS que começou o crescimento

económico, foram descongeladas as pensões, começou a diminuir o desemprego e iniciámos a devolução de

rendimentos aos portugueses.

Aplausos do CDS-PP.

O resto, Srs. Deputados, é conversa fiada! E, atenção, Srs. Deputados, porque «fiado» significa sempre

dívida.

Durante o debate deste Orçamento, o Governo, pela voz de vários dos seus protagonistas e muito em

especial pela voz do Sr. Primeiro-Ministro, descobriu, ufano, que se a oposição, mas também todas as

instituições independentes, nacionais ou estrangeiras — a Comissão e o Eurogrupo —, apontavam riscos,

então, não era possível «que este Orçamento fosse, ao mesmo tempo, de risco e austeritário». Mas é! E o

problema é exatamente esse!

Este Orçamento é, de facto, ao mesmo tempo, um risco para a nossa credibilidade e traz mais austeridade.

E é, sobretudo, uma ilusão, a ilusão de que é possível, ao mesmo tempo, dar tudo rapidamente, pôr a

economia a crescer e ainda cumprir as regras e fechar as contas.

Aplausos do CDS-PP.

De facto, de errata em errata, o que ficou claro foi a direção errática do atual Governo.

Onde estava e existia gradualismo, propõem imediatismo. Onde estava previsibilidade, temos

imprevisibilidade. Onde tínhamos realismo, encontramos, agora, irrealismo. E, por último, a responsabilidade

deu lugar à irresponsabilidade. Esse é o problema, e o problema principal é que o risco não é para o Governo

ou para a maioria que os apoia, o risco é, como foi em 2011, infelizmente, para todos os portugueses.

Vozes do CDS-PP: — Muito bem!

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Por outro lado, este Orçamento traz austeridade. Pois, digam o que

disserem, usem das habilidades que quiserem, a verdade é que este Orçamento representa — e vou dizê-lo

devagar — um enorme aumento dos impostos indiretos…

Vozes do CDS-PP: — Muito bem!

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — … e um aumento muito significativo da carga contributiva, que passa

dos 45,498 milhões de euros, em 2015, para 46,837 milhões de euros, em 2016, ou seja, mais 1339 milhões

de euros em impostos. Esta é a frieza dos números.

Aplausos do CDS-PP.

E não só é a frieza dos números como é tudo o contrário do que os senhores, nas vossas várias versões,

andaram a prometer aos portugueses. E, por isso, este Orçamento é um conjunto de ilusões.

É a ilusão, baseada na falácia, segundo a qual neste Orçamento da frente de esquerda protege as pessoas

e penaliza, não as pessoas, mas unicamente as empresas. É uma ideia infantil.

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27

É certo que a esquerda em geral e a mais radical em particular não gostam de empresas. Mas o que são

as empresas, senão pessoas?…

Aplausos do CDS-PP.

É por isso que, quando não se mexe no IRC, que aumenta em vez de diminuir, quando se aumentam os

custos para as empresas, o que se está a fazer é a prejudicar as pessoas, a prejudicar os empresários, mas,

principalmente, os seus trabalhadores.

Sr.as e Srs. Deputados, não existem empresas falidas com trabalhadores felizes; pelo contrário, é o

sucesso e é o lucro das empresas que cria emprego e gera o sucesso dos seus trabalhadores.

Aplausos do CDS-PP.

Por outro lado, este Orçamento é, igualmente, a ilusão de que é possível fazer um aumento tão significativo

dos impostos indiretos sem, com isso, causar enormes dificuldades aos portugueses, impondo mais

austeridade.

O Sr. Primeiro-Ministro chegou mesmo a recomendar aos portugueses que não fumassem e não

utilizassem o automóvel.

Eu diria que podia, até, ter ido mais longe, Sr. Primeiro-Ministro, e, na lógica deste Orçamento, dizer-lhes

que, já agora, não podem comprar carro, não podem comprar casa e só podem consumir produtos que não

sejam transportados, ou seja, se possível, da sua própria horta e, já agora, sem adubos, porque esses chegam

de camioneta.

Risos e aplausos do CDS-PP.

O que o Sr. Primeiro-Ministro, nesta sua teoria do homem novo socialista, ou do tempo novo, ou do homem

«geringonça», se esqueceu de explicar aos portugueses é como é que, se eles seguissem as suas

recomendações, o senhor ia buscar a receita e fechava a conta. Porque, das duas, uma: ou há mais impostos

ou fecha a conta ou eles seguem a sua sugestão e a conta não podia fechar nunca.

Aplausos do CDS-PP.

É, evidentemente, mais um engano. Estamos a assistir a um enorme ataque fiscal de que o setor

transportador é só uma das principais vítimas e que terá consequências desastrosas para todos os

portugueses e, em particular, para as empresas exportadoras que utilizam o transporte rodoviário.

Se conjugado com o fim da reforma do IRC e as alterações no IMI, é um enorme ataque à economia real e,

sobretudo, às classes médias empreendedoras.

Convém, ainda, lembrar que 2015 foi o melhor ano de sempre em investimento estrangeiro contratualizado!

Aplausos do CDS-PP.

Os senhores, hoje, como se viu neste debate, não têm nada para apresentar. Foi por isso que o CDS

participou neste debate, de forma construtiva, procurando minorar este efeito. Propusemos mais gradualismo e

bastava que houvesse mais gradualismo, mais gradualismo nas devoluções, para se poder proteger a

economia.

Pelo contrário, o vosso caminho é perigosamente recessivo.

E, já gora, o que dizer do apelo do Sr. Ministro da Economia, para que, depois do enorme aumento do ISP,

os automobilistas e os camionistas não abasteçam em Espanha? O que é que quis dizer, Sr. Ministro? É quê?

É nacionalismo fiscal? Ou quem não paga os vossos exageros fiscais também é acusado de falta de

patriotismo, tal como os partidos da oposição, ou, mesmo, Sr. Ministro, de sabotador?

Aplausos do CDS-PP.

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Sr. Ministro, esse tempo dos sabotadores vai longe, e mais longe ainda vai o tempo em que beber vinho

era dar de comer a um milhão de portugueses.

O consumo, Sr. Ministro, não é um feito patriótico. Mas, se percebeu a dimensão do problema, então, Sr.

Ministro, aceite um conselho e diga ao seu colega das Finanças que aceite as nossas propostas e que alivie a

carga fiscal sobre os combustíveis e sobre as empresas transportadoras.

Aplausos do CDS-PP.

Era o melhor que tinha a fazer e era a melhor forma de sair da embrulhada em que se meteu.

O CDS participou neste debate construtivamente, mas não viu as suas propostas aprovadas. Não viu, por

exemplo, aprovada a proposta do quociente familiar, que faria deste Orçamento um Orçamento mais amigo

das famílias. A rejeição do quociente familiar penalizará, por razões estritamente ideológicas, as famílias com

mais filhos.

Se somarmos essa opção à intenção de dedução com as despesas de educação, substituindo-as por uma

dedução automática mas limitada, a mensagem é clara: este Orçamento é contra as famílias, é contra o

investimento na educação dos nossos filhos, e é, por isso, contra o futuro das nossas novas gerações

portuguesas.

Aplausos do CDS-PP.

Protestos de Deputados do PS e do BE.

Por opção, estritamente ideológica, de quem acredita que o Estado tudo pode, permitindo, por vezes,

generosamente, que os cidadãos acedam a uma pequena parcela de que, no fundo, para vós, pertence

sempre ao Estado.

Entre o Estado e a família a opção é sempre pelo Estado, e, nesse sentido, este Orçamento é contra o

futuro e é um exercício estatista de um Governo «familiófobo», pois não há outro nome para identificar a vossa

política em relação à família.

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Presidente: — Peço-lhe que conclua, Sr. Deputado.

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Por último, Sr. Presidente, pergunto: tem este Orçamento também uma

ameaça velada de ataque ao património e de fazer tudo ao contrário, ou seja, tributar sucessões e doações,

quando o que devíamos estar a fazer era, ao contrário, libertar a transmissão de património aos nossos filhos

e aos nossos netos, garantindo-lhes um bom início de vida. É uma ameaça inaceitável!

O Sr. Primeiro-Ministro, talvez pela forma como chegou a essa cadeira, diz acreditar no impossível.

Protestos da Deputada do BE Mariana Mortágua.

Sr.a Deputada, é, de resto, curioso…

O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, já ultrapassou largamente o seu tempo. Peço-lhe que conclua.

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Vou terminar, mesmo, Sr. Presidente, dizendo que é, de resto, curioso

verificar como é que aqueles que estavam tão exaltados com a Grécia e o Syriza, como sendo o futuro da

terra, agora os «syrizitas» de cá, Sr.a Deputada, foram os primeiros a «roer a corda» aos «syrizas» de lá.

Enfim, é a «‘syriza’ no topo do bolo».

Aplausos do CDS-PP.

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O Sr. Primeiro-Ministro chegou a essa cadeira e disse acreditar no impossível. Mas nesta matéria não há

impossíveis, num Orçamento tão arriscado, que terá um plano B, de execução tão incerta…

O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, tem mesmo de concluir.

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Os senhores prometeram virar a página, mas as vossas promessas vão

ficar reduzidas a uma nota de rodapé.

Pela nossa parte, tudo faremos, com responsabilidade, para proteger Portugal, os portugueses e o futuro

das novas gerações.

Aplausos do CDS-PP.

Continuem a cantar a Grândola que nós preferimos o Hino Nacional. É essa a nossa obrigação e é esse o

nosso interesse.

Aplausos do CDS-PP, de pé, e de Deputados do PSD.

O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, em nome do Grupo Parlamentar do BE, a Sr.a Deputada

Mariana Mortágua.

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: O

Orçamento que hoje será aprovado, com o voto favorável do Bloco de Esquerda, teve um rascunho inicial e

muitas propostas de alteração. Foi piorado pela Comissão Europeia e melhorado, depois, pela Assembleia da

República, neste País.

Sabendo das dificuldades deste Orçamento — e, pela parte do Bloco, nunca escondemos as suas

insuficiências —, há duas coisas que ninguém pode negar: em primeiro lugar, este foi o Orçamento mais

escrutinado, mais debatido e negociado da nossa história recente. É a expressão de um novo momento

político, livre do autoritarismo das maiorias absolutas e sujeito à legítima diversidade representativa deste

Parlamento.

Vozes do BE: — Muito bem!

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Houve pluralismo e democracia nestes dias, na Assembleia da

República.

Aplausos do BE e de Deputados do PS.

Em segundo lugar, é a primeira vez, em cinco anos, que a Assembleia da República aprovará um

Orçamento totalmente de acordo e em respeito pela Constituição da República Portuguesa,…

Vozes do BE: — Muito bem!

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — … e isso não é coisa pouca, não é coisa pouca!

Aplausos do BE e de Deputados do PS.

Protestos do PSD.

Há mesmo quem não se consiga habituar a esta bizarria constitucional que esta nova maioria veio impor à

Assembleia da República.

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É certo que, ontem, durante o debate da manhã, tivemos a oportunidade de ouvir Deputados do PSD

indignados com uma norma orçamental que pretendia alterar — imaginem só!… —, de forma unilateral e

abrupta, nada menos que uma regra de funcionamento do sistema bancário. Anátema! Quem se atreve a tocar

nas legítimas expectativas, no pé-de-meia constituído pelos nossos esforçados banqueiros?! Era essa a

preocupação do PSD, ontem, aqui no debate,…

Protestos do PSD.

… o mesmo PSD que, na chefia do Governo anterior, Orçamento após Orçamento, cortou, unilateralmente,

de forma abrupta, complementos de reforma, salários, pensões e apoios sociais.

Aplausos do BE e de Deputados do PS.

O que podemos, já agora, dizer do CDS? O CDS que agora «arranca os cabelos» pela tributação dos

combustíveis é o mesmo CDS que, Orçamento após Orçamento, alterou os escalões do IRS, subiu o IVA da

restauração, subiu o IVA da eletricidade, impôs uma sobretaxa sobre os salários, e só não tornou permanentes

os cortes nas pensões porque o Tribunal Constitucional não deixou. É este o CDS que agora se revolta com o

aumento dos combustíveis.

Aplausos do BE e de Deputados do PS.

Srs. Deputados, a transformação que a direita operou em Portugal ao longo dos últimos quatro anos tem

uma medida muito clara: a tal classe média que tanto diz proteger nunca foi tão reduzida.

Os efeitos da austeridade estão à vista de todos: aumento do desemprego estrutural, aumento da pobreza

infantil, aumento da pobreza entre os mais idosos.

PSD e CDS dirão, a este respeito, que toda a austeridade era inevitável, uma imposição da troica que nos

diagnosticou a bancarrota. É falso! Não só existiam alternativas, como o projeto de transformação da direita foi

muito além da austeridade, deixando marcas profundas no nosso regime social.

Enquanto batia com a mão no peito pela saúde pública, o Governo PSD/CDS subia taxas moderadoras,

cortava no orçamento do Serviço Nacional de Saúde, expandia a precariedade e a subcontratação e

entregava, de mão beijada, hospitais públicos às misericórdias!

Enquanto batia a mão no peito pela qualidade do ensino, o Governo PSD/CDS inventava novas

humilhações para os professores e mais contratos de favor com grupos privados do ensino.

Enquanto se declarava pelo Estado social, o Governo PSD/CDS excluía 60 000 idosos do complemento

solidário para idosos, 60 000 crianças do rendimento social de inserção e entregava, pela calada, funções

cruciais da segurança social a instituições privadas.

Protestos do PSD.

Enquanto juravam pelo País, Passos Coelho e Paulo Portas contentavam-se com a pior relação

diplomática com Bruxelas e Berlim: a submissão obediente, sem perguntas ou discussões.

Sr.as e Srs. Deputados: O ajustamento estrutural, que é o nome desta revolução perversa e nunca

verdadeiramente assumida por PSD ou CDS, não é apenas um programa económico; é, acima de tudo, um

novo projeto ideológico de poder social autoritário, apoiado na troica, mas continuado como um destino

nacional.

No Programa de Estabilidade para 2015-2019, entregue à Comissão Europeia por Passos Coelho e Paulo

Portas, lá estava: contenção dos rendimentos, devastação da segurança social, cortes nas pensões em

pagamento.

Felizmente, essas opções orçamentais da direita nunca chegaram a ver a luz do dia. E uma coisa vos

garanto: essas opções da direita estavam muito mais perto do extremismo ultraliberal…

Protestos do PSD.

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… do que dessa social-democracia que o PSD sempre invoca, em dias de festa ou em cerimónias

fúnebres, ou mesmo da confissão cristã que emerge sempre que o CDS chega à oposição.

Protestos do CDS-PP.

Ao contrário desse futuro de austeridade que soubemos recusar, o Orçamento que vamos aprovar hoje

repõe a normalidade constitucional. A aversão que a direita lhe tem mostra bem a forma como esta direita se

radicalizou, como se afastou desses princípios, do projeto social que fundou a democracia em Portugal e que

marcou a Constituição da República Portuguesa.

Aplausos do BE.

Sr.as e Srs. Deputados, não perdemos tempo com ilusões. As pressões da Comissão Europeia são, hoje, o

maior risco para a consagração desse projeto. Quem tiver dúvidas, confira as estratosféricas exigências para

um obscuro défice estrutural, um conceito mais que duvidoso. Foi nessa receita que veio prescrito o aumento

do imposto sobre os combustíveis.

Ainda assim, a proposta que chegou à Assembleia traçava um diagnóstico que partilhamos, um diagnóstico

que é, em si, uma estratégia: a emigração, o empobrecimento, o desrespeito pelo salário e pelo trabalho, as

desigualdades sociais e fiscais não são formas de desenvolvimento, não são formas de progresso e não são

um futuro que queiramos para o nosso País.

Por isso, começámos por inverter o retrocesso: os acordos entre o PS e os partidos à sua esquerda

permitiram a devolução de salários na função pública, a eliminação da sobretaxa para quase todos os

contribuintes, o aumento do salário mínimo, a reposição de apoios sociais sabotados pela direita e também a

reversão de uma injusta reforma do IRC.

Depois, o debate na Assembleia da República cumpriu o seu papel e o documento voltou a melhorar nesta

Casa.

Pela parte do Bloco de Esquerda, orgulhamo-nos do que conseguimos: a atribuição automática da tarifa

social a um milhão de famílias com comprovada carência económica, o que, na prática, dá mais de 100 € de

desconto na conta anual da eletricidade de um milhão de famílias mais pobres; um novo aumento do

complemento solidário para idosos e do abono de família para dependentes com deficiência; um regime

contributivo mais justo para os trabalhadores a recibos verdes; mais equidade no IMI, já que com as deduções

fixas o filho de uma família rica não vale mais do que um filho de uma família pobre.

Aplausos do BE.

Estes são apenas alguns exemplos de que estamos a prestar contas ao País por cada decisão, que nem

sempre foi fácil, mas que tomámos na certeza de que era a melhor.

No final deste processo, com o esforço da proposta e a força do nosso voto, contribuímos para começar a

corrigir graves injustiças e trazer algum alívio à vida de milhões de cidadãos que a austeridade tanto tem

castigado.

A questão que agora se impõe é: que contas prestará o PSD ao País?

Como conseguirá o PSD explicar que, por pura birra, votou contra, por exemplo, a majoração do subsídio

de desemprego?

Neste processo orçamental o PSD não provou apenas ser absolutamente inútil ao País, ficou claro que só

tem agressividade onde lhe falta a razão, que despreza a obrigação de representar os seus eleitores e que

acha que a política só vale uma pirraça.

Protestos da Deputada do PSD Teresa Morais.

Agradecemos, por isso, a Passos Coelho. O vosso sucesso, ao demonstrarem que só pensam nos lugares

que perderam quando vos faltaram os votos, poupa-nos, a nós, muito trabalho.

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Ao povo deste País basta-nos dizer: vejam e ouçam a direita! É ao que está reduzida a glória da

austeridade!

Aplausos do BE e do PS.

Sr.as e Srs. Deputados, votamos favoravelmente este Orçamento pelas escolhas que faz, sabendo que

muito fica por fazer. Num País que atingiu níveis inimagináveis de pobreza nos últimos anos, é necessário

pensar, aplicar e financiar respostas para os desempregados, sobretudo para os de longa duração.

É urgente combater a precariedade, começando por bani-la do Estado, dando a estes trabalhadores um

vínculo, um salário e os direitos que o País lhe deve.

Precisamos de prosseguir o aumento do salário mínimo para proteger a economia e os baixos rendimentos.

É necessário fazer reformas profundas e estruturais no nosso regime fiscal para acabar com os alçapões e

com os incentivos à fuga consentida ao fisco.

O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Muito bem!

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Não mais podemos ter uma autoridade tributária implacável com quem

não paga porque não pode ou não sabe, mas tão complacente com o abuso propositado.

Finalmente, se queremos mesmo criar emprego e fomentar a inovação e o nosso desenvolvimento

produtivo, então o Estado deve assumir as suas funções. Para além de escolhas claras de política económica

e industrial, é preciso investimento público.

Nenhuma destas prioridades é ainda respondida em pleno por este Orçamento, nem poderão ser,

provavelmente, num País em que os juros da dívida pública sangram mais de 10% de toda a despesa e em

que o sistema financeiro é uma bomba relógio a tiquetaquear cada vez mais alto sobre as nossas cabeças.

Estas escolhas implicam, por isso, os debates mais difíceis sobre o que fazer com o sistema financeiro,

neste momento disputado entre Espanha e Angola, e como garantir a sustentabilidade da nossa dívida pública

externa. Os grupos de trabalho acordados entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista permitirão, até ao

verão, avançar no debate, na discussão e nas respostas sobre estes temas essenciais.

Sr.as e Srs. Deputados, o contributo do Bloco foi decisivo para que este Orçamento possa ousar travar o

empobrecimento do País.

O Sr. Duarte Filipe Marques (PSD): — Eh!

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Orgulhamo-nos deste caminho. Falta agora o mais difícil: coragem para

executar estas escolhas, alicerçada na força social que defende o País da burocracia europeia.

Aplausos do BE, do PS e de Os Verdes.

O Sr. Presidente: — Em nome do Grupo Parlamentar do PS, para uma intervenção, tem a palavra o Sr.

Deputado Carlos César.

O Sr. Carlos César (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Primeiro-Ministro, Sr.as e Srs.

Membros do Governo: Começo por destacar a importância do significado histórico, político e constitucional

desta atribuição parlamentar de apreciação da proposta orçamental que hoje nos cabe finalizar.

Na verdade, e no plano simbólico, a aprovação do Orçamento é um exercício, a um tempo, democrático e

de afirmação da independência soberana do Estado. Democrático, porque a obrigatoriedade da sua aprovação

pela Assembleia da República exprime um princípio fundador do Governo representativo e das democracias

constitucionais contemporâneas, expresso na nossa Lei Fundamental. Afirmativo, porque a formulação original

deste princípio, no taxation without representation, se reporta à Magna Carta, assinada por João Sem Terra,

em 1215, que, no século XVIII, iria assumir o significado universal que hoje lhe é reconhecido, depois da

Guerra da Independência dos Estados Unidos, em que, precisamente, se justificou a rebelião contra a

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Inglaterra pela recusa de pagar impostos criados por um parlamento onde os destinatários não estavam

representados.

Invoco essa memória para que compreendamos a dimensão dos condicionamentos diferenciados do

momento presente e porque o tempo em que vivemos é um tempo de conflito incontornável entre os nossos

desejos, as nossas legitimidades, os interesses que se sobre-elevam e as instituições supranacionais.

O PS sabe que, por via da nossa condição de membros da União Europeia e da zona euro, o apuramento

da vontade democrática não nos cabe em toda a sua profundidade, pois é partilhado, e sabe também que a

afirmação da nossa independência tem as mais fortes limitações, pois somos uma parte frágil de um todo. Mas

é nessa repartição e nesse processo comum que temos feito o nosso caminho e que o poderemos prosseguir

com um mínimo de sucesso.

Podemos assim dizer, sem que nos refugiemos na retórica, que a proposta de Orçamento do Estado que

iremos aprovar não é um imposto estrangeiro, mas sim um compromisso nacional.

Conquistámo-lo com diálogo e persuasão, junto da Comissão Europeia. E bem posso repetir o que já uma

vez dissemos: este é o Orçamento mais português que poderia hoje ser votado, porque não é o resultado de

uma imposição mas, em preponderância, da nossa persistência e da boa negociação empreendida pelo

Primeiro-Ministro e pelo seu Ministro das Finanças.

Aplausos do PS.

É certo que se trata de um Orçamento que assenta num equilíbrio delicado de interesses contrastantes,

que incluem os dos portugueses, individual e coletivamente considerados, os da diversidade parlamentar, os

de um contexto económico e financeiro nacional extraordinariamente debilitado, os de uma Comissão

Europeia que produz obrigações e os de um sistema financeiro internacional que a constrange e mesmo a

ultrapassa.

Por isso mesmo, não pôde deixar de ser um Orçamento de ponderação, de concertação, de coerência e de

comedimento, mas não deixou, nem deixa de ser, o Orçamento que tendencialmente desejávamos e que a

direita, uma parte dela mais do que a outra, tudo fez para impedir: um Orçamento de convergência social, de

convergência parlamentar e de convergência europeia.

Aplausos do PS.

É um Orçamento onde, apesar do crescimento da despesa pública, o peso do Estado na economia diminui;

onde, apesar do crescimento da receita fiscal, a carga tributária face ao PIB diminui; onde, apesar disso, dirão

alguns, ou por causa disso, dirão outros, assegura uma melhoria nas contas públicas; onde, o esforço é

simultaneamente dirigido à obtenção de efeitos na melhoria, por via fiscal e salarial, dos rendimentos do

trabalho e dos instrumentos de proteção e reinserção social.

O desafio é, justamente, tendo em conta as exigências da execução orçamental, o de a fazermos com os

melhores resultados face às metas propostas, adotando o rigor, o acompanhamento permanente e os

mecanismos de alerta indispensáveis.

Na verdade, será a sua boa execução em 2016 a melhor garantia de que poderemos ter e fazer mais e

melhor em 2017.

Aplausos do PS.

Todavia, a orientação orçamental é clara, representando uma viragem face à política de austeridade.

Cumprir o prometido é a grande marca da política orçamental do Governo do PS e atuar nos limites das regras

financeiras europeias aplicáveis é um compromisso reiterado na projeção das nossas contas públicas.

Aplausos do PS.

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Sr.as e Srs. Deputados, empenhámo-nos muito numa cultura de diálogo, procurando que este Orçamento

tivesse a maior participação possível, acolhendo os mais variados contributos dos parceiros sociais e dos

partidos políticos.

Competiu ao Governo e ao PS, porém, acautelar, no acolhimento dessas propostas, a unidade e a

coerência de um documento que decorre do Programa do Governo aprovado nesta Assembleia.

Ao convocarmos os partidos para essa contribuição, não quisemos privá-los da sua liberdade, nem ofuscar

as suas divergências. O próprio PS, a propósito do Orçamento do Estado de 2015, salientou que raramente

uma proposta global desta natureza se reforma na sua alteração em especialidade, mas nunca fez o que o

PSD agora, na oposição, acabou por fazer: prescindir de melhorar um documento tão importante para o País,

não apresentando qualquer proposta alternativa.

Aplausos do PS.

A cultura democrática da atual maioria está à vista: enquanto nos últimos anos foram sempre rejeitadas as

propostas do PS pela maioria de então, agora foram aprovadas propostas de todos os partidos que as

submeteram, inclusive do CDS-PP.

Da caranguejola da direita, que se desconjuntou, foi o PSD que ficou a pé, mas não de pé,…

Aplausos do PS.

Risos do PSD.

… que não quis servir quem o elegeu, nem quis servir para o que foi eleito. Ficou à porta da democracia,

do lado de fora da procura do melhor para seu próprio País.

Aplausos do PS.

Votou contra mais de 70 artigos idênticos aos do Orçamento de 2015, que eram da sua autoria. Esteve por

aqui a votar contra o que concordava com a mesma leviandade com que se absteve em relação ao de que

discordava.

Aplausos do PS e do PCP.

Esta era a ocasião para o PSD se endireitar e dizer o que faria e entendia melhor para o seu País. Afinal, o

PSD nem se curou da aversão à esquerda, nem se endireitou, entortou-se, ainda vergado pelo despeito

partidário e tomado por absoluta paralisia.

Aplausos do PS.

É o pior dos destinos que agora podia reservar para si próprio, justamente quando o seu antigo parceiro, o

CDS-PP, deseja ultrapassá-lo e substituí-lo.

Pelo nosso lado, continuaremos a governar com sentido de mudança e com o entusiasmo da renovação

para preparar o futuro.

Nós estamos a olhar para a frente. O PSD escolheu ficar a olhar para trás.

Aplausos do PS.

Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados e Srs. Membros do Governo: Está visto, este debate orçamental não

correu bem aos partidos da direita parlamentar.

Começaram por dizer que o Orçamento que hoje vamos aprovar nunca iria existir. A atual maioria

parlamentar foi descrita como uma «coligação negativa» e os acordos que estão na base do atual Governo

como documentos vazios e estéreis, incapazes de gerar os fundamentos para uma governação. Falharam: o

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Governo está para durar e a sua base parlamentar tem a participação e a consistência prometidas. Ainda bem

para os portugueses, ainda bem para Portugal!

Aplausos do PS.

Afirmaram que o Orçamento ia ser chumbado em Bruxelas e devolvido à procedência. Afinal, bastou um

processo de negociação para viabilizar um Orçamento que faz tudo aquilo que a direita jurava que não era

possível fazer: repõe salários, reorienta a fiscalidade e reforça apoios e prestações sociais. Ainda bem para os

portugueses, ainda bem para Portugal!

Aplausos do PS.

Fizeram, ainda, uma derradeira aposta. Os seus vaticínios soaram como apelos: o Orçamento até podia

passar em S. Bento e em Bruxelas, mas os mercados iriam entrar em alvoroço, os ratings cairiam a pique, os

juros iriam disparar e os investidores partiriam aflitos só de pensar num Orçamento tão exótico que aumenta o

rendimento das famílias, ao mesmo tempo que reduz o défice e a dívida. Falharam na profecia de catástrofe:

nem alvoroço nos mercados, nem descida dos ratings, nem disparar dos juros, nem debandada dos

investidores. Ainda bem para os portugueses, ainda bem para Portugal!

Aplausos do PS.

Porém, a direita tem ainda uma última hipótese de se aproximar dos interesses dos portugueses e de

Portugal, porque neste momento está em curso na Europa um importantíssimo debate sobre a orientação das

políticas orçamentais.

Na semana passada, como todos sabemos, o Banco Central Europeu anunciou mais um pacote de

medidas de política monetária expansionista para combater a deflação e promover o crescimento da economia

europeia.

A presidência do BCE não se tem cansado de repetir, há vários meses, que a política monetária do BCE

não chega. Na realidade, de pouco serve estar alguém de «prego a fundo» no acelerador, enquanto os outros

insistem em pôr a força toda no travão.

A política monetária, por muito criativa e expansionista que seja, necessita ser complementada por outras

políticas convergentes, que reforcem o estímulo à economia.

E não se trata apenas das chamadas reformas estruturais de resultados a médio e a longo prazos. Trata-

se, também, da necessidade cada vez mais imperiosa de uma nova política orçamental europeia menos

restritiva e mais flexível, sem ser perdulária ou permissiva ao endividamento exponencial, uma política que

promova o crescimento e favoreça o investimento, a começar pelos países que têm mais margem orçamental.

Esse já não é apenas o apelo dos socialistas e de outros movimentos progressistas europeus, mas também o

apelo de outros países, como os da periferia do Sul da Europa, que veem agravadas as assimetrias face às

economias do Centro ou do Norte.

Deixamos, por isso, um desafio aos partidos da oposição parlamentar, cuja resposta já poderão dar nos

debates próximos do Programa de Estabilidade e do Plano Nacional de Reformas: já que estão sempre tão

atentos ao que se diz na Alemanha, ouçam agora este apelo que vem de Frankfurt.

Em vez de se colocarem sempre do lado daqueles que em Berlim ou em Bruxelas se recusam a perceber

que a austeridade não é solução, ajudem a construir uma política mais amiga do crescimento e do

investimento e estejam na Europa do lado que interessa aos portugueses e que beneficia Portugal.

Aplausos do PS.

Termino, Sr.as e Srs. Deputados e Membros do Governo, dizendo o seguinte: este Orçamento entrará em

vigor com um legado muito negativo da governação dos últimos quatro anos na economia como na pobreza,

no défice como na dívida, ou no setor bancário.

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O desafio do novo Governo é, pois, o da concretização de uma política que inverta esses resultados. O

empresário, tal como o cidadão desempregado, contam para nós e podem confiar em nós. Estamos

empenhados no progresso de Portugal.

Nas palavras de Roosevelt, o teste do progresso não depende de conseguirmos adicionar riqueza à

abundância de quem já tem muito, mas, antes, de conseguirmos dar o que é preciso a quem tem pouco.

Portugal precisa de todos!

Aplausos do PS, de pé, do BE, do PCP e de Os Verdes.

O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, em nome do Grupo Parlamentar do PSD, tem a palavra o Sr.

Deputado Luís Montenegro.

O Sr. Luís Montenegro (PSD): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: Não

há dúvidas. Não há desculpas. Este é o Orçamento do Dr. António Costa, da Deputada Catarina Martins e do

Deputado Jerónimo de Sousa.

Vozes do PSD: — Muito bem!

O Sr. Luís Montenegro (PSD): — Os três perderam as eleições. Os três derrubaram o Governo escolhido

pelo povo. Os três juntaram-se, formaram uma maioria absoluta no Parlamento e os três viabilizam este

Governo.

Os três prometeram políticas patrióticas e de esquerda, prometeram mais crescimento económico, mais

emprego, menos austeridade e mais equilíbrio orçamental.

Aplausos do BE e de Deputados do PS.

Prometeram, é verdade. Não sei é se vão cumprir. Aliás, sei, não vão cumprir.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

Os três convergiram nas opções, fizeram as escolhas e os três respondem por elas.

Este Orçamento é um Orçamento socialista, bloquista e comunista. Este Orçamento aquilo que não é, é um

Orçamento social-democrata.

O PSD é muito claro e transparente: discordamos da estratégia política e económica desta governação;

discordamos, naturalmente, desta proposta de Orçamento.

Discordamos, mas respeitamos democraticamente as vossas escolhas e a vossa maioria.

Para o PSD, este Orçamento é mau, não é amigo das famílias, não é amigo das empresas, não combate

as desigualdades da nossa sociedade.

A nossa posição foi cristalina: votámos contra a proposta na generalidade, votámos contra a proposta na

especialidade e abstivemo-nos em todas as alterações, permitindo que as esquerdas encontrassem, sem

queixume, as suas opções.

Vozes do PSD: — Muito bem!

O Sr. Luís Montenegro (PSD): — E não apresentámos propostas de alteração porque, como já dissemos,

este Orçamento do Estado não tem emenda.

Os mais distraídos ou os mais ofegantes apoiantes desta geringonça governativa, dentro e fora do

Parlamento, apressaram-se a concluir que o PSD estava amuado, que tinha uma posição de birra.

O Sr. João Galamba (PS): — Não…!

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O Sr. Luís Montenegro (PSD): — Dizem, com indisfarçável superficialidade, que não digerimos bem a

formação deste Governo de perdedores. Estão errados. Estão profundamente equivocados. Estão

doentiamente confusos. Não percebem o essencial.

Sr.as e Srs. Deputados socialistas, bloquistas e comunistas, nós não estamos contra este Orçamento por

causa da forma como os senhores constituíram este Governo! Os senhores, porventura, acham isso porque, lá

no fundo, vos pesa cada vez mais a consciência!… Mas a nós não. Nós, no PSD, estamos de consciência

tranquila.

Nós estamos contra este Orçamento por razões substantivas. Porque ele é mesmo um mau Orçamento

para o País. É mau para a economia, afugenta os investidores, agrava os custos de contexto, penaliza a

competitividade fiscal. Não é um Orçamento amigo das empresas.

É um Orçamento também mau para as pessoas: dá seletivamente com uma mão e tira sem critério com a

outra mão.

Aplausos do PSD.

Trata tudo pela mesma bitola e não é solidário com os mais pobres e os mais desprotegidos. Como não é

justo para os pensionistas e para os contribuintes de mais baixos recursos. Substitui restrições seletivas e

progressivas por impostos injustos e regressivos.

Aplausos do PSD.

Para a esquerda portuguesa, a austeridade virtuosa é a que é suportada por todos, independentemente da

sua condição.

Também não é um Orçamento amigo do emprego e é um Orçamento mau para o Estado social. À

imprudência orçamental de hoje vai corresponder, como já todos sabemos, um plano b, amanhã.

O Dr. António Costa faz, hoje, o que o Eng.º Sócrates fez em 2009.

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Bem lembrado!

O Sr. Luís Montenegro (PSD): — Dá o que tem e o que não tem para, a seguir, cobrar em dobro o que

deu antes.

Hoje, como em 2009, apresenta o folheto eleitoral. Amanhã, como em 2010 e em 2011, apresentará as

faturas. E isto, Sr. Deputado Carlos César, isto é que é olhar para trás! É olhar para trás e fingir não ver aquilo

que está a acontecer e aquilo que já aconteceu antes em Portugal!

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

Sr.as e Srs. Deputados, se não fosse trágico para as pessoas, tinham sido hilariantes os impropérios que os

Deputados socialistas dirigiram ao PSD no debate que agora termina.

Como é possível que os mesmos — os mesmos — que em 2010 subiram o IVA, cortaram salários na

Administração Pública, congelaram pensões (mesmo as pensões mínimas, sociais e rurais), cortaram no

abono de família, encareceram os exames médicos, cortaram nas prestações sociais, subiram as

contribuições para a Caixa Geral de Aposentações e para a ADSE, cortaram nas deduções fiscais,

congelaram o salário mínimo nacional, os mesmos que, meio ano depois — meio ano depois de fazerem tudo

isto —, negociaram e subscreveram a carta magna da nossa austeridade que foi o famigerado Memorando de

Entendimento,…

Aplausos do PSD.

… os mesmos que, à boleia da situação económica e financeira que herdaram do anterior Governo,

tenham o topete de dizer que estão a remover a austeridade que nós criámos? É extraordinário. Se esse

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descaramento pagasse imposto, de facto, não era preciso obrigar pessoas e empresas a pagar o mais brutal

aumento dos impostos sobre combustíveis da história deste País.

Aplausos do PSD.

Sr.as e Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados, a desfaçatez política e a dissimulação não ficam

por aqui.

Que penoso foi ver o próprio Primeiro-Ministro vir a público vangloriar-se de não conseguir que a maioria

que o apoia esteja de acordo no que toca aos compromissos com a Grécia e com a Turquia.

O Primeiro-Ministro que escolheu — foi ele que escolheu — os seus parceiros, aqueles que o apoiam neste

Parlamento, em vez de procurar com eles assegurar a maioria que prometeu ao País, vinha aflito e até muito

irritado clamar pela responsabilidade do PSD, como que dizendo ao País que a sua maioria é só para a

mercearia, não é para as questões de Estado e para os compromissos do Estado português!

Aplausos do PSD.

E ainda quis dizer, e disse, que o PSD era incoerente e que o Bloco de Esquerda e o PCP, esses, eram o

ícone da coerência.

E o PS o que é? Diz que os seus parceiros são coerentes porque não respeitam os compromissos

europeus de Portugal, mas alia-se a eles. Como classificar este comportamento do Partido Socialista? O

mínimo que se pode dizer é que é, de facto, muito incoerente e muito irresponsável.

Isto é, nós que dissemos, antes da discussão, que votaríamos contra as normas da proposta de lei e que

nos absteríamos nas propostas de alteração, éramos incoerentes porque estávamos a fazer aquilo que

dissemos; eles, que prometeram que eram uma maioria sólida, consistente e duradoura, eram coerentes

porque não conseguiam — como não conseguiram —, dentro de si, chegar a acordo. Ou seja, eles eram

coerentes porque fazem, e fizeram, o contrário daquilo que disseram!

Se há quem chame a isto habilidade, se há quem chame a estas artimanhas socialistas habilidade, nós,

que estamos de boa-fé, com seriedade e com coerência, chamamos-lhe o que isto é, de facto: chico-

espertismo.

Aplausos do PSD.

Um chico-espertismo que é tão arrogante como saloio.

E nesta ocasião, e a propósito destas artimanhas, queremos dizer, de uma forma solene, responsável e

serena: o PSD é um partido livre, livre, sério e coerente que decide sempre em função do interesse nacional.

Aplausos do PSD.

Srs. Deputados e Srs. Membros do Governo, no dia em que o Governo e o Primeiro-Ministro não tiverem o

apoio suficiente dos partidos que estiveram na base, no fundamento, da sua investidura parlamentar para

aprovar decisões estruturantes da governação, o Governo e o Primeiro-Ministro terão de tirar as devidas

consequências e, como já disse o Presidente do PSD, terão nesse dia de se demitir.

Aplausos do PSD.

É uma questão de seriedade, de responsabilidade política e de verdade.

E isto não é azedume e muito menos uma ameaça política.

Protestos do PS.

Isto é tão-só exercer o mandato popular com valores e princípios de seriedade, de transparência e, por que

não dizê-lo, de ética republicana.

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Aplausos do PSD.

Risos do PS.

O Sr. Filipe Neto Brandão (PS): — Não o tinha por monárquico, Sr. Deputado!

O Sr. Luís Montenegro (PSD): — Se e quando a vossa maioria ruir, desaba, naturalmente, o poder que foi

constituído pelo vosso conluio parlamentar.

No PSD, não claudicamos nos princípios, não andamos atrás de sondagens ou de popularidade efémera.

Vozes do PS: — Não…!

O Sr. Luís Montenegro (PSD): — Sr.as e Srs. Deputados, não contem connosco para atitudes

dissimuladas. Ouçam bem, não somos dos que afinam e mudam o discurso em função das plateias que têm

pela frente. Nós não somos desses, Srs. Deputados.

Aplausos do PSD.

O Sr. João Galamba (PS): — Social-democracia, sempre! Então, e os 600 milhões das pensões?!

O Sr. Luís Montenegro (PSD): — Sabem todos que, se tivéssemos a responsabilidade de propor um

Orçamento do Estado, continuaríamos, é verdade, continuaríamos a remover a austeridade, com gradualismo,

com realismo e com o desígnio de que essa remoção fosse sustentável para poder ser permanente.

Vozes do PSD: — Muito bem!

O Sr. Luís Montenegro (PSD): — A nossa proposta seria também exigente na prossecução da disciplina

orçamental, não por opção ideológica nem como um fim em si mesmo, mas porque a disciplina orçamental é o

pressuposto do equilíbrio financeiro do País, que permite reduzir a dívida, que permite salvaguardar o Estado

social e que abre caminho ao crescimento da economia e à criação de emprego.

Connosco, a atratividade fiscal seria um estímulo à captação de investimento, à aposta na capacidade

exportadora das nossas empresas e, por via disso, à obtenção de saldos externos positivos.

A nossa opção era também favorecer a situação fiscal das famílias e dos agregados familiares mais

numerosos.

Por outro lado, associaríamos à política orçamental um ambicioso plano de novas reformas estruturais nos

serviços públicos e na economia. Um plano que desse sequência às conquistas dos últimos anos, ao invés da

atitude revanchista de desfazer tudo a qualquer preço.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Qual é a próxima escola que vai inaugurar?!

O Sr. Luís Montenegro (PSD): — O nosso modelo de desenvolvimento não seria minado pelo estímulo ao

consumo interno insuflado pelo Estado, mas assente na produtividade dos setores público e privado, que

também acarreta um aumento da procura, mas desta feita sustentado no crescimento real da riqueza.

A opção socialista, bloquista e comunista, já testada no passado, é, de facto, um presente envenenado

para os portugueses.

Por isso, o Governo e o Primeiro-Ministro não conseguem, por mais que queiram, disfarçar a inevitabilidade

de um plano b. Um plano que faz do Orçamento que hoje vai ser votado apenas mais uma das inúmeras

versões do Orçamento do Estado, um Orçamento demasiado precário e irrealista.

Mas, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados que apoiam o Governo, este é o vosso Orçamento. É mau para os

portugueses, mas contempla as vossas escolhas. Vossas, do Governo; vossas, do PS; vossas, do PCP, do

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Bloco de Esquerda e de Os Verdes. De todos. Não é um bocadinho de cada um, é tudo de todos quantos o

vão aprovar.

Protestos da Deputada do PS Isabel Alves Moreira.

E é ainda o Orçamento de um Ministro das Finanças que abandonou o defunto cenário macroeconómico da

mudança, para se cingir a cumprir uma missão meramente notarial: passar a números duvidosos as palavras

erráticas do Dr. António Costa, da Deputada Catarina Martins e do Deputado Jerónimo de Sousa.

E o problema do País não é saber se os três se entendem ou não; o problema do País é saber para que é

que eles se entendem. Aí é que está o verdadeiro problema, este entendimento revanchista é o caminho para

desfazer reformas e para desperdiçar sacrifícios.

Sr.as e Srs. Deputados, este Orçamento representa uma oportunidade perdida. Quando Portugal tinha tudo

para se proteger e para se diferenciar dos seus competidores, o Governo retrocede e insiste com os seus

cúmplices da esquerda radical, numa receita testada e de má memória para os portugueses.

Este Orçamento representa uma oportunidade perdida porque insiste num modelo económico falido, numa

opção que os portugueses rejeitaram quando votaram.

Este Orçamento representa uma oportunidade perdida porque, como disse Rentes de Carvalho, e passo a

citar: «A ilusão de que se pode gastar sem ter dinheiro não lembra ao diabo».

Essa ilusão merece oposição, merece uma forte oposição. Nós cumpriremos esse papel com

responsabilidade, com verdade e com ética, com frontalidade e também com cultura democrática, mas,

sobretudo, sempre concentrados em servir o interesse dos portugueses.

Aplausos do PSD, de pé, e do CDS-PP.

O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, em nome do Governo, tem a palavra o Sr. Ministro das

Finanças, Mário Centeno.

O Sr. Ministro das Finanças (Mário Centeno): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Sr.as e Srs.

Ministros, Sr.as e Srs. Deputados, Minhas Senhoras e Meus Senhores: Hoje é, certamente, um dia marcante

para Portugal. As Sr.as e os Srs. Deputados votarão de seguida, em votação final global, o Orçamento do

Estado para 2016, nesta que é a Casa da democracia.

Fazem-no em representação das portuguesas e dos portugueses que, através do voto de 4 de outubro, em

vós confiaram.

Confiaram, desde logo, para que este Parlamento, na medida dos seus poderes e das forças políticas aqui

representadas, contribuísse para o virar de página da austeridade.

Sr. Presidente, a 5 de fevereiro entreguei-lhe a proposta do Governo para o Orçamento do Estado para

2016. O período de preparação do Orçamento decorreu num tempo recorde, o que exigiu um esforço adicional

aos serviços públicos, tantas vezes menosprezados no passado recente, e exigiu ao Governo um trabalho de

coordenação, inédito em Portugal.

Desde então, tem vindo a decorrer o processo de discussão e aprovação deste Orçamento, um processo

que tornou mais claro o seu objetivo: devolver a esperança aos portugueses de uma forma responsável e no

cumprimento integral dos compromissos assumidos.

Aplausos do PS.

Para além do cumprimento dos preceitos constitucionais e regimentais, esta discussão esclareceu as

cidadãs e os cidadãos deste País sobre o Orçamento do Estado para 2016.

Este foi um processo de diálogo e capacidade de compromisso. A proposta que aqui entreguei teve

inúmeras sugestões de alteração e algumas foram aprovadas. Na verdade, todos os partidos que

apresentaram propostas de alteração viram algumas dessas propostas aprovadas pelos restantes partidos

desta Assembleia.

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Vemos este contributo como uma melhoria face à proposta inicial. A inclusão, em democracia, traduz-se

nesta capacidade de alargar o âmbito daqueles que se revêm nas decisões legislativas, na criação de uma

sociedade mais horizontal e participativa.

Aplausos do PS.

Pela nossa parte, consideramos que este é o reconhecimento do funcionamento em pleno do sistema

parlamentar. Quem, nesta fase tão relevante da nossa democracia, decidiu alhear-se escreveu uma página de

ausência no esforço coletivo de construção de uma sociedade mais justa e coesa.

Aplausos do PS.

Disse, por diversas vezes, que este é um Orçamento dialogante. Dialogante porque a sua elaboração

resultou da procura de equilíbrios que colocassem os portugueses em primeiro lugar, e foi precisamente isso

que aconteceu.

Permitam-me, assim, que agradeça todos os contributos apresentados pelos diferentes grupos

parlamentares, grupos de Deputados, ou Deputados individualmente. Todas as propostas, independentemente

da sua aprovação ou não, contribuíram para a discussão e, por isso, enriquecem o Orçamento.

Mais do que isso, resultam do exercício de responsabilidade que os portugueses confiaram às Sr.as e aos

Srs. Deputados. Não é compreensível que alguém se demita de tamanha e tão nobre responsabilidade, que é

a de representar os seus concidadãos, aqueles que os elegeram e lhes confiaram as suas escolhas.

Aplausos do PS e do BE.

Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, o Orçamento do Estado que estão prestes a votar surge num

momento particularmente relevante da vida nacional. Portugal esteve sujeito, ao longo dos últimos anos, a

medidas de austeridade cegas.

As consequências foram óbvias e são visíveis, nas famílias e nas empresas e, em geral, na economia

portuguesa. A saída dita «limpa» foi, como a realidade já o demonstrou, apenas demasiado pequena.

As medidas que irão compor o Orçamento do Estado para 2016 mostram que, afinal, ao contrário do que

nos era dito, existe alternativa, uma alternativa séria e responsável, uma alternativa que hoje se completa com

a votação final global.

O Orçamento do Estado para 2016 reduz a fiscalidade. Desde logo, a fiscalidade direta, principalmente

aquela que incide sobre os rendimentos do trabalho. Permite às famílias e às empresas mais espaço para as

suas decisões, para os seus investimentos, em educação, nas novas gerações, em novas contratações, para

que contemos com todos.

Fica, hoje, claro para todas as portuguesas e para todos os portugueses que é possível a recuperação do

rendimento das famílias e das empresas, que é possível uma maior equidade fiscal e um reforço da coesão

social.

Aplausos do PS.

Sr.as e Srs. Deputados, este é um Orçamento melhor, onde a receita dos impostos diretos cai: são menos

390 milhões de euros, em 2016, menos 320 milhões de euros para as famílias e menos 70 milhões de euros

para as empresas. E, em ambos os casos — para quem ainda não se tenha dado conta disso —, o rendimento

das famílias e das empresas aumenta, em 2016. Ou seja, a carga fiscal sobre rendimentos diminui.

O anterior Governo projetou, no Programa de Estabilidade de 2015, um crescimento da receita do IVA de

7,2%, em 2016. Neste Orçamento, o IVA segue o crescimento do consumo privado nominal, ou seja, cresce

3,6%, ou seja, metade do que estava inscrito no Programa de Estabilidade. Como é que se pode falar, agora,

num enorme aumento de impostos?

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Mas quero dizer-vos que os objetivos deste Orçamento não se alcançam com milagres austeritários, nem

nas costas dos cidadãos, através de operações financeiras não concluídas, nem tão-pouco sem defender os

interesses dos portugueses e de Portugal numa Europa coesa e solidária.

Como sempre dissemos, a solidariedade na Europa é um caminho com duas vias. Essa dimensão de

solidariedade para com aqueles que precisam de Portugal também está presente neste Orçamento.

Como é que se alcançam, então, estes desígnios nacionais e europeus? Através de uma gestão

orçamental equilibrada e rigorosa, mas principalmente através de escolhas.

Sim, fazemos e assumimos essas escolhas — assumimo-las de forma transparente perante os

portugueses.

Há oito escolhas que gostaria de destacar.

Escolhemos não usar a política fiscal de forma cega, apenas para obtenção de receitas.

Escolhemos introduzir uma cláusula de salvaguarda no IMI, ao mesmo tempo que eliminámos a isenção

deste imposto para fundos imobiliários.

Escolhemos substituir o quociente familiar por uma dedução fixa por filho, que é independente do

rendimento do agregado familiar, beneficiando um maior número de famílias e aumentando ainda as deduções

por ascendente e por dependente deficiente.

A Sr.ª Ana Catarina Mendonça Mendes (PS): — Muito bem!

O Sr. Ministro das Finanças: — Escolhemos não aumentar as taxas do IRS, do IVA e do IRC,

acautelando a estabilidade fiscal.

Escolhemos aumentar impostos indiretos, nomeadamente os impostos especiais, desincentivando o

recurso ao crédito excessivo, às importações e ao consumo de energia.

Aplausos do PS.

Escolhemos eliminar a sobretaxa, ao invés de propagandear eleitoralmente a sua devolução.

Escolhemos repor faseadamente os salários dos funcionários públicos, ao mesmo tempo que

implementamos medidas para a dignificação do serviço público e para uma maior produtividade e eficiência no

setor público, porque, sim, escolhemos retomar o programa SIMPLEX.

Escolhemos promover a capitalização das empresas, através do lançamento de instrumentos financeiros

com recurso a fundos europeus.

Mas agora é o tempo de executar o que hoje aprovamos.

Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A fase que agora se inicia é de enorme responsabilidade para todos

— repito, para todos.

Pela parte do Governo, a aprovação deste Orçamento atribui-nos a missão de executá-lo com rigor e com

seriedade.

Este caminho foi iniciado há um ano, quando mostrámos, com rigor e com contas feitas, que existia uma

alternativa. Essas propostas foram vertidas no Programa do Governo, onde estabelecemos as prioridades

para os próximos quatro anos.

Muitas vezes, é esquecido que as políticas que agora iniciamos se inserem num horizonte de legislatura,

que pretendem criar as condições para um crescimento inclusivo, que conte com todos, onde o rendimento

aumenta de forma sustentável. Isto para que os mais jovens encontrem um lugar no mercado de trabalho em

Portugal, não no estrangeiro, e para que as empresas combinem a internacionalização com o reforço de um

mercado interno, cada vez mais exigente — e relembro, Srs. Deputados, que o mercado interno somos todos

nós.

Aplausos do PS.

Os desafios com que Portugal se depara são enormes. Temos de corrigir desequilíbrios, relançar o

crescimento e recuperar o emprego.

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Cabe ao Governo, em parte através da política orçamental, garantir as condições para que esses objetivos

se concretizem.

Virar a página da austeridade não significa governar sem restrições, temos plena consciência disso.

Sempre apresentámos uma alternativa responsável.

Temos noção exata dos problemas com que o País se confronta. Mas temos também a coragem para os

enfrentar e para os resolver, desde logo com as escolhas que fazemos, algumas das quais aqui vos referi.

O Orçamento do Estado para 2016 assenta em previsões conservadoras. Não alinhamos em discursos

alarmistas, nem em profecias catastróficas.

Ao contrário do que tem sido dito, este não é um Orçamento irrealista. Ao contrário do que muitos previam,

foi possível cumprir os compromissos internos, com os portugueses e no quadro parlamentar. Mas foi também

possível chegar a acordo com as instituições europeias e, desta forma, contribuir para a construção europeia.

Reafirmo, por isso, a intenção de manter as contas públicas equilibradas. A meta para 2016 é de um défice

de 2,2% e de uma dívida pública de 127,7% do PIB.

Pretendemos, com este exercício, sair, agora sim, do procedimento por défice excessivo (PDE) no final

deste ano, reduzindo ainda o défice estrutural. Permitam-me que recorde que as ações e omissões do anterior

Governo não permitiram que Portugal o concretizasse, em 2015. Ao alcançarmos este objetivo, estaremos

também a cumprir os nossos compromissos europeus.

Como tenho afirmado, este é um Orçamento responsável, responsável também nesta dimensão. Portugal

está inserido numa área económica e monetária e este Governo está fortemente empenhado na sua

construção, no aprofundamento da união bancária, no fortalecimento da política orçamental da União

Europeia, na resposta à crise dos refugiados e numa política europeia ativa na promoção da mobilidade do

trabalho e das pessoas.

Aplausos do PS.

Estamos cientes das nossas responsabilidades a nível europeu e internacional e reafirmo o nosso

compromisso, mas não descuraremos a defesa dos interesses nacionais. Três meses depois de tomar posse,

já o demonstrámos. Colocámos o bom funcionamento das instituições, que contribuem para o

desenvolvimento nacional, acima de todas as nossas prioridades.

Perguntar-me-ão se é o caminho mais fácil. Não, não é o caminho mais fácil. Mas entendemos que é o

melhor para o futuro de Portugal e dos portugueses.

Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Não vendemos ilusões, nem apresentamos quimeras, porque

medimos, económica e financeiramente, todas as propostas que fazemos.

Aplausos do PS.

Este Orçamento é o primeiro passo para atingirmos os compromissos que apresentámos aos portugueses:

o aumento e proteção do rendimento disponível das famílias e a melhoria da proteção no desemprego; o alívio

da asfixia fiscal das famílias e das empresas; melhores condições de investimento para as empresas; o

combate à pobreza; a garantia de serviços e de bens públicos essenciais.

No entanto, como referi, o cumprimento do Programa do Governo não se esgota no Orçamento do Estado,

insere-se num conjunto mais vasto de medidas em todas as áreas da governação. Todas elas têm bem

presente o caminho que devemos seguir para colocar Portugal numa trajetória de crescimento.

Foi pelas portuguesas e pelos portugueses que assumimos esta missão: a de colocar o País no caminho

da prosperidade e do progresso. É por eles que vale a pena aqui estar.

Aplausos do PS.

Termino como comecei: este é um momento decisivo na nossa história, é o momento de devolver

esperança aos portugueses, é o momento de participar por Portugal. Quem se alheia agora não merece um

novo tempo.

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Minhas Senhoras e Meus Senhores, este Orçamento, relembrando uma ideia que aprendemos na nossa

democracia, é o que «faz falta».

Aplausos do PS, de pé, do BE, do PCP e de Os Verdes.

O Sr. Presidente: — Passamos ao ponto seguinte da ordem do dia, que consiste na votação final global da

proposta de lei n.º 12/XIII (1.ª) — Aprova o Orçamento do Estado para 2016, e dos textos finais, apresentados

pela Comissão de Orçamento, Finanças e Modernização Administrativa, relativos às propostas de lei n.os

11/XIII (1.ª) — Aprova as Grandes Opções do Plano para 2016-2019, e 13/XIII (1.ª) — Aprova o Quadro

Plurianual de Programação Orçamental para os anos de 2016-2019.

Assim sendo, peço aos serviços que acionem o respetivo mecanismo e às Sr.as e aos Srs. Deputados para

se voltarem a registar, porque temos de ter a confirmação das presenças e do quórum.

Pausa.

Srs. Deputados, vamos dar 2 minutos para as Sr.as e os Srs. Deputados que não estão na Sala poderem

voltar.

Entretanto, vou dar a palavra ao Sr. Secretário Deputado Pedro Alves para proceder à leitura de

expediente.

O Sr. Secretário (Pedro Alves): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, deu entrada na Mesa o projeto de

resolução n.º 181/XIII (1.ª) — Diminuição do número de alunos por turma e promoção do sucesso escolar

(BE), que baixa à 8.ª Comissão.

O Sr. Presidente: — Muito obrigado, Sr. Secretário.

Srs. Deputados, o quadro eletrónico regista 225 presenças, a que acrescem 4, perfazendo 229 Deputados,

pelo que temos quórum para proceder às votações.

Srs. Deputados, vamos, então, votar, em votação final global, a proposta de lei n.º 12/XIII (1.ª) — Aprova o

Orçamento do Estado para 2016, com as alterações entretanto aprovadas.

Submetida à votação, foi aprovada, com votos a favor do PS, do BE, do PCP e de Os Verdes, votos contra

do PSD e do CDS-PP e a abstenção do PAN.

Aplausos do PS, do BE e de Os Verdes, de pé.

Vamos votar, em votação final global, o texto final, apresentado pela Comissão de Orçamento, Finanças e

Modernização Administrativa, relativo à proposta de lei n.º 11/XIII (1.ª) — Aprova as Grandes Opções do Plano

para 2016-2019.

Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PS, do BE, do PCP e de Os Verdes, votos contra

do PSD e do CDS-PP e a abstenção do PAN.

Finalmente, também em votação final global, vamos votar o texto final, apresentado pela Comissão de

Orçamento, Finanças e Modernização Administrativa, relativo à proposta de lei n.º 13/XIII (1.ª) — Aprova o

Quadro Plurianual de Programação Orçamental para 2016-2019.

Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PS, do BE, do PCP e de Os Verdes, votos contra

do PSD e do CDS-PP e a abstenção do PAN.

O Sr. João Paulo Correia (PS): — Peço a palavra, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente: — Faça favor, Sr. Deputado.

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O Sr. João Paulo Correia (PS): — Sr. Presidente, no intuito de que os serviços da Assembleia envolvidos

na redação final da proposta de lei n.º 12/XIII (1.ª) e dos textos finais relativos às propostas de lei n.os 11/XIII

(1.ª) e 13/XIII (1.ª), que acabámos de aprovar, possam trabalhar os textos e de que a Comissão de

Orçamento, Finanças e Administração Pública possa reunir para aprovar a redação final dos mesmos na

próxima quarta-feira, o Grupo Parlamentar do Partido Socialista solicita a redução do prazo de reclamação de

três para um dia.

O Sr. Presidente: — Penso que a questão fundamental é a redução destes prazos de maneira a que a

Comissão de Orçamento, Finanças e Administração Pública consiga aprovar, na próxima quarta-feira, a

redação final e a mesma possa seguir, na quarta-feira, para o Sr. Presidente da República. É esse o objetivo.

Vamos, então, votar o requerimento.

Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Peço a palavra, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente: — Para que efeito, Sr. Deputado?

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, por lapso, não o referi na altura, mas o Bloco de

Esquerda, sobre a votação da proposta de lei n.º 11/XIII (1.ª), irá apresentar uma declaração de voto por

escrito.

O Sr. Presidente: — Fica registado, Sr. Deputado.

Vamos agora passar ao ponto seguinte da ordem do dia de hoje, que consta do debate preparatório do

próximo Conselho Europeu, ao abrigo da alínea a) do n.º 1 do artigo 4.º da Lei de Acompanhamento,

Apreciação e Pronúncia pela Assembleia da República no âmbito do Processo de Construção da União

Europeia.

Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.

O Sr. Primeiro-Ministro (António Costa): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Sendo esta a primeira

intervenção após o Congresso do CDS-PP, permitam-me que dirija uma saudação especial à Sr.ª Deputada

Assunção Cristas, fazendo votos dos maiores sucessos na liderança do CDS-PP. Sr.ª Deputada, as maiores

felicidades!

O Conselho Europeu tem dois pontos fundamentais: um, relativo à conclusão do Semestre Europeu, e

outro, sobre a questão dos refugiados.

Sobre a conclusão do Semestre Europeu, a proposta de conclusões consta de dois parágrafos genéricos

que não colocam especiais reservas nem motivam particular reflexão. A maior reflexão é aquela que

suscitaremos junto desta Assembleia da República logo a seguir à Páscoa, tendo em vista a apresentação do

Programa Nacional de Reformas e de um PEC que vise um triplo objetivo: mais crescimento, melhor emprego

e maior igualdade.

O Programa Nacional de Reformas procurará responder aos desequilíbrios estruturais, ainda recentemente

sinalizados pela Comissão Europeia, e que exigem um programa centrado naquelas que devem ser as

verdadeiras reformas estruturais: reforçar o investimento nas qualificações, na inovação e na modernização

empresarial, na valorização do território, na capitalização das empresas, na modernização do Estado para

poupar na burocracia e para podermos investir no crescimento económico.

Já quanto aos refugiados, este será, a justo título, o tema central deste Conselho Europeu.

A questão dos refugiados é, em primeiro lugar, um dos maiores desafios à fragilidade evidenciada pela

política externa e de vizinhança da União Europeia e a sua dificuldade em contribuir para consolidar a paz, a

democracia e o desenvolvimento sustentável na sua envolvente, mas também evidencia a dificuldade da

gestão comum de uma fronteira externa, segmentada em vários troços de fronteiras nacionais.

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A crise dos refugiados tem vindo a crescer, constituindo, hoje, uma desonra para os valores de todos

aqueles que veem o mundo e a nossa sociedade assentes num valor fundamental, que é o da dignidade da

pessoa humana.

Mais do que a ameaça à Europa de Schengen, esta crise é uma ameaça à Europa dos valores e, por isso,

deve ser enfrentada, resolvida, tendo presente que o valor essencial é o da dignidade da pessoa humana.

Aplausos do PS.

Como sabemos, este Conselho vai permitir aprofundar o debate, iniciado no anterior Conselho, sobre a

proposta apresentada pela Turquia.

Relativamente a essa proposta, há que distinguir os diferentes pontos. Dois deles não suscitam particular

preocupação por Portugal. Pelo contrário, Portugal sempre foi defensor da aproximação das relações com a

Turquia e, por isso, a liberalização da concessão de vistos a cidadãos turcos para entrarem na Europa não

suscita, da nossa parte, qualquer reserva.

Do mesmo modo, como temos sido sempre favoráveis ao aprofundamento do diálogo e das negociações

da União Europeia com a Turquia tendo em vista a sua adesão, é com bons olhos que vemos a abertura de

novos capítulos e, em particular, a abertura de negociações sobre os Capítulos XXIII e XXIV, que se centram

nas matérias absolutamente decisivas do sistema judicial, das liberdades públicas e da proteção dos direitos

fundamentais,

Quanto mais aprofundarmos a negociação, mais garantiremos as liberdades e os direitos fundamentais na

Turquia a todos os turcos e a todos aqueles que residem na Turquia.

Aplausos do PS.

Por outro lado, é também com agrado que vemos o aprofundamento do debate sobre o apoio humanitário a

prestar a refugiados, seja na Turquia, seja na Síria, seja na Jordânia, seja em todos os países fora da União

Europeia que têm acolhido de modo muito significativo e dando uma grande lição à União Europeia na

capacidade de assegurar proteção internacional a todos aqueles que dela carecem.

Aplausos do PS.

Finalmente, nesse acordo há um ponto particularmente delicado, que tem a ver com a aplicação do acordo

de readmissão negociado e assinado entre a Grécia e a Turquia e em relação ao qual há que fazer dois tipos

de distinção.

Em primeiro lugar, relativamente aos mecanismos que se abrangem. De um lado, o retorno de pessoas da

Grécia à Turquia e, por outro lado, a reinstalação nos diferentes países da União Europeia de pessoas

residentes na Turquia.

Em segundo lugar, impõe-se ainda fazer a distinção entre aqueles que são refugiados e os que, sendo

migrantes, não têm o estatuto de refugiados.

Ora, é preciso ter em conta que o acordo de readmissão entre a Grécia e a Turquia prevê um mecanismo

de retorno à Turquia não de quem é refugiado ou tenha direito a ter tratamento de proteção internacional, mas,

única e exclusivamente, relativamente a migrantes de outra natureza.

Já o mecanismo de reinstalação na União Europeia abrange exclusivamente pessoas que tenham

merecido na Turquia proteção internacional, designadamente com o Estatuto dos Refugiados. Esta distinção

não significa que, mesmo assim, este acordo esteja livre de dificuldades jurídicas que importa acautelar, tendo

em conta que, acima dos acordos bilaterais entre a Grécia e a Turquia, acima das decisões do Conselho

Europeu, tem de prevalecer sempre o direito humanitário e o direito internacional no que diz respeito à

proteção dos refugiados.

Ora, isto significa, em primeiro lugar, quanto ao mecanismo de retorno da Grécia à Turquia, que é essencial

garantir, em primeiro lugar, que a decisão não é aplicada em conjunto, mas após uma análise individualizada

de cada caso e permitindo verificar se, sim ou não, é merecedor de proteção internacional ou se pode ser

abrangido por uma medida de readmissão na Turquia.

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Entretanto, assumiu a presidência o Vice-Presidente José Manuel Pureza.

O Sr. Presidente: — Sr. Primeiro-Ministro, agradecia que terminasse, por favor.

O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, vou procurar sintetizar, mas pedia alguma tolerância porque

creio que estas precisões são importantes para o debate que temos pela frente.

Em segundo lugar, é essencial assegurar que, na pendência dessa decisão, não há lugar a qualquer

retorno e que dessa decisão haverá sempre lugar a recurso judicial.

Por outro lado, é essencial ter em conta que a Convenção dos Direitos Humanos proíbe qualquer fora de

expulsão coletiva e que, por isso, a referência exigirá sempre uma apreciação…

Por outro lado, é essencial ter em conta que a Convenção dos Direitos Humanos proíbe qualquer fora de

expulsão coletiva e que, por isso, a referência exigirá sempre uma apreciação individualizada, como, aliás, já

foi expresso pelo non-paper divulgado pelo Presidente do Conselho e, sobretudo, mais recentemente, pela

comunicação da Comissão.

Será, assim, necessário: garantir a natureza temporária e extraordinária deste mecanismo de retorno;

garantir que todos os migrantes sejam registados e os pedidos de asilo devidamente processados,

independentemente da sua nacionalidade; garantir o direito de apresentar o pedido de asilo e a proibição de

não retorno na pendência da análise do pedido; garantir que apenas poderão ser retornadas à Turquia as

pessoas que não formulem um pedido de asilo ou cujo pedido seja considerado infundado ou inadmissível nos

termos da Convenção de Genebra; garantir que todos os que reunirem os requisitos para obterem o estatuto

de refugiado e serem beneficiários de proteção internacional não serão retornados; por fim, garantir que a

Turquia protegerá todos os retornados em linha com os padrões internacionais em matéria de tratamento dos

refugiados e do princípio do non-refoulement, independentemente da limitação geográfica consagrada pela

Turquia na anterior subscrição das convenções sobre refugiados.

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Sr. Primeiro-Ministro, peço desculpa, mas tem de terminar. Já

ultrapassou largamente o seu tempo.

O Sr. Primeiro-Ministro: — Termino precisamente com uma palavra sobre o mecanismo de reinstalação,

para dizer que tem de ser um mecanismo que trate de uma forma não discriminatória em razão da

nacionalidade e a especial referência aos refugiados sírios deve ser entendida única e exclusivamente por ser

a nacionalidade predominante no contexto de todos aqueles que merecem proteção internacional no quadro

na União Europeia e designadamente em Portugal.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Miguel

Morgado.

O Sr. MiguelMorgado (PSD): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Membros do Governo, Sr.as e

Srs. Deputados: Julgo que não exagero se disser que a Europa vive hoje a sua mais grave hora de crise. E,

uma vez mais, nesta crise, a Europa ficou, perante o mundo inteiro, a patentear o comportamento de quem

estava impreparado para lidar com a catástrofe humanitária em curso.

Chegámos a um ponto perigoso em que se tornaram indistintas as migrações económicas da questão dos

refugiados e, em grande medida, isso já está a envenenar o debate público nas democracias europeias. Essa

indistinção leva a erros graves.

As migrações económicas são, como não podiam deixar de ser, e para todos os efeitos, questões políticas

de primeira ordem. Mas a questão dos refugiados é humanitária.

Os refugiados estão protegidos pelo nosso Direito nacional, pelo direito europeu e pelo Direito

internacional. Estão protegidos pelos princípios mais basilares das nossas democracias europeias. É, como

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disse o Primeiro-Ministro, e nós concordamos, uma questão de dignidade humana. Mas temos, então, de ser

consequentes.

Se é uma questão humanitária, se é uma questão de dignidade humana, nós não podemos admitir que

nenhum Governo e nenhum Estado instrumentalize a questão dos refugiados para outros debates políticos. Os

refugiados não podem ser uma moeda de troca em tabuleiros políticos mais amplos. Não é admissível, é

contraditório com a própria ideia da dignidade humana.

Aplausos do PSD.

Neste momento, a mais urgente prioridade é fazer chegar o auxílio humanitário para os milhares de

pessoas que vivem em condições desumanas. É uma prioridade tanto no que diz respeito ao financiamento,

como à sua operacionalização. Não se pode desperdiçar o trabalho diário de milhares de pessoas — ONG,

associações de voluntários — que, sobretudo na Grécia, dedicam os seus dias a tentar aliviar o sofrimento e

as carências das pessoas enclausuradas nos campos.

O Conselho Europeu vai aprovar o plano — bom, à data em que nós falamos não é líquido, não é um dado

adquirido que seja aprovado — o plano de ação conjunto com a Turquia, mas, mesmo que o seja, e para ser

eufemístico, este plano conjunto está cercado de dificuldades e não está isento de incentivos perversos, nem

de fundamentos jurídicos e morais questionáveis.

Portanto, se for implementado este plano de ação conjunta, a Europa inteira vai precisar de um escrutínio e

monitorização muito apertados. Mas, infelizmente, não conhecemos em detalhe os procedimentos desse

escrutínio e dessa monitorização.

Sabemos também que o Conselho Europeu vai propor que os países recebam mais migrantes, isto é, que

aumentem as suas quotas de acolhimento nacionais. Não temos ainda informação sobre os números, pelo que

pergunto ao Sr. Primeiro-Ministro se nos pode adiantar alguns números. E, sabendo nós que o Governo atual,

voluntariamente, já aumentou a quota nacional que cabe a Portugal, seguindo a opção que o Governo anterior

já tinha tomado para voluntariamente aumentar a quota originariamente adstrita a Portugal, pergunto se esse

aumento das quotas nacionais também abrange Portugal e, se sim, qual é o aumento da quota nacional

portuguesa de que estamos a falar. Mas, antes do aumento das quotas, é preciso acelerar o processo de

recolocação.

De que serve aumentar as quotas se as pessoas ficam indefinidamente presas nos centros onde estão, na

Grécia e na Itália?

Pergunto, Sr. Primeiro-Ministro: quais são os números que o Governo prevê — não os números para os

quais o País está preparado — para receber refugiados em 2016? Era importante saber quais são esses

números.

Por todas estas razões, está mais do que na altura de Portugal exigir aos restantes Estados-membros que

cumpram os seus compromissos e essa exigência que Portugal tem de fazer aos restantes Estados-membros

deve ser vocalizada no Conselho Europeu. Por isso, peço também ao Primeiro-Ministro para confirmar essa

exigência aqui, hoje, no Parlamento.

Ainda que este plano de ação com a Turquia seja executado condignamente, sabemos que esta é apenas

uma maneira de a Europa ganhar tempo. É por isso que a Europa precisa de ser um elemento ativo na

estabilização dos países de onde originam estes êxodos.

Qual é o contributo europeu para um roteiro para a paz na Síria? Nós não sabemos!

Qual é contributo europeu para a estabilização na Líbia? Nós não sabemos!

Qual é contributo europeu de longo prazo, estratégico, para a reestruturação de países que precisam do

nosso auxílio no domínio da cooperação, do desenvolvimento e da segurança? Nós não sabemos!

Finalmente, refiro-me ao Semestre Europeu.

Segundo se pode ler do projeto de conclusões, serão apoiadas pelo Conselho Europeu as recomendações

gerais da análise anual de crescimento da Comissão Europeia e elas são — o Primeiro-Ministro já as referiu

mas volto a repita-las — as seguintes: relançar o investimento em cada país, prosseguir reformas estruturais e

implementar políticas orçamentais responsáveis.

Ora, tivemos o debate anterior sobre o Orçamento do Estado para 2016 e, como fica patente nesse

documento, parece que o Governo português não faz nenhuma tenção de seguir qualquer uma destas

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recomendações, porque o Orçamento do Estado prejudica o investimento privado e corta no investimento

público, porque há a obsessão de o Governo reverter as reformas estruturais, e não planeia fazer nenhuma, e

porque um Orçamento tão ferido na sua credibilidade como este não corresponde, com certeza, a uma política

orçamental responsável.

Finalmente, sabemos também que o Conselho Europeu agendará para o próximo Conselho Europeu de

junho a discussão sobre a conclusão da união bancária.

Coloco uma pergunta importante, até porque já a fiz várias vezes, inclusive ao Ministro dos Negócios

Estrangeiros e à Secretária de Estado dos Assuntos Europeus e nunca me responderam, pelo que talvez o Sr.

Primeiro-Ministro não queira desperdiçar a oportunidade: qual é a estratégia concreta do Governo português

para, até junho, assegurar que o mecanismo europeu de garantia de depósitos irá efetivamente constar da

lista de elementos indispensáveis da união bancária? Por outras palavras: qual é a estratégia concreta do

Governo português para impedir o revés que o Governo e o País, infelizmente, sofreram no Conselho Europeu

de dezembro, quando, à última hora, o mecanismo europeu de garantia de depósitos foi retirado das suas

conclusões definitivas?

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, em nome do Grupo Parlamentar do

Partido Socialista, tem a palavra o Sr. Deputado Vitalino Canas.

O Sr. VitalinoCanas (PS): — Sr. Presidente, creio que não é esta a ordem que está fixada, mas terei todo

o gosto em fazer agora a minha intervenção.

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Peço desculpa ao Sr. Deputado e à Câmara, mas houve uma

confusão na Mesa.

Tem a palavra, em nome do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda, a Sr.ª Deputada Catarina Martins.

De novo, as minhas desculpas.

A Sr.ª CatarinaMartins (BE): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro: A crise migratória, ou crise dos

refugiados, está a revelar uma falência trágica do projeto europeu.

O acordo com a Turquia é o mais recente e mais assustador passo deste percurso. A União Europeia

prepara-se, nada mais, nada menos, para pagar à Turquia para que esta fique com os refugiados e aceite de

volta pessoas que buscam proteção internacional na Europa. Devemos perguntar-nos: Porquê a Turquia?

Porque a Turquia não é um país da União Europeia. A tragédia pode acontecer desde que seja fora das

nossas fronteiras. A Europa convive bem com o atropelo dos mais básicos direitos humanos. Só pede que seja

longe da nossa vista e para lá dos muros europeus. E, para isso, até está disposta a pagar.

Como bem escreveu um eurodeputado do PSD no Parlamento Europeu, num artigo publicado esta

semana: «Esse é o modelo falhado de Guantánamo: enviar as pessoas para um território onde não haja os

constrangimentos que existem no nosso». As palavras de Carlos Coelho são certeiras e são também o eco de

um consenso amplo, ao qual apenas o CDS se exclui contra o acordo da vergonha. É um acordo que o Alto

Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, o ACNUR, dirigido até há pouco por António Guterres, já

classificou como ilegal e que todas as organizações humanitárias acusam de constituir um verdadeiro

atentado, com traços de xenofobia, contra a proteção dos direitos humanos de cada um dos seres humanos,

de cada cidadã e cidadão que compõem esta multidão em fuga.

A posição de Portugal neste Conselho Europeu não pode ser a da resignação com a derrota da decência e

dos direitos humanos. É tempo de não ficar calado face à catástrofe, de não ser cúmplice do silêncio, nem

com as soluções que a extrema-direita preconiza.

A posição de Portugal neste Conselho Europeu não pode ser a da resignação com a derrota da decência e

dos direitos humanos. É tempo de não ficar calado face à catástrofe, de não ser cúmplice do silêncio, nem das

soluções que a extrema-direita preconiza.

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Recusamos o acordo com a Turquia porque o apoio aos refugiados exige essa recusa. Acolhê-los, assumir

as responsabilidades solidárias com a Grécia e com a Itália, reabrir as rotas das Balcãs e recusar a Europa

dos muros, ser terra firme para quem se lançou no mar para fugir da guerra,…

A Sr.ª MarianaMortágua (BE): — Muito bem!

A Sr.ª CatarinaMartins (BE): — … e ir às causas, ser duro contra o terror e a guerra, deixar de comprar

petróleo e vender armas aos territórios ocupados pelo Daesh, proteger populações dos bombardeamentos,

recusar a subserviência à Arábia Saudita e o aprofundamento das ligações entre a União Europeia e a NATO

— que nunca soube criar soluções mas apenas problemas — numa securitização bélica, e por isso perversa,

da fronteira mediterrânica da Europa.

Sr. Primeiro-Ministro, finalmente, falo sobre economia e Semestre Europeu. Há uma afirmação de hoje,

deste Parlamento, com a aprovação do Orçamento do Estado, que deve levar ao Conselho Europeu: aqui está

uma maioria para recuperar Portugal e que recusa dar qualquer passo atrás. Mas temos duros desafios pela

frente.

Não há emprego sem investimento, não há investimento sem reestruturação das dívidas. Esta evidência

não é hoje sequer restrita ao campo da esquerda ou da crítica das instituições europeias. Não há instituição

internacional, economista de referência ou mesmo governo que, pelo menos à porta fechada, não reconheça

essa necessidade.

Se este Conselho Europeu levasse a sério o tema «emprego e crescimento», tinha como assunto a

reestruturação das dívidas. Assim, mais uma vez, «emprego» ou «crescimento» são palavras meramente

ornamentais.

Pior: a União Europeia está em processo de concentrações na banca. Não nega apenas aos estados da

periferia do euro, como Portugal, o direito a manter sistemas financeiros nacionais, como impõe a

capitalização de grandes bancos europeus com mais dívida pública desses mesmos países. Veja-se o caso de

Portugal: os 3000 milhões de euros que entregou ao Santander através do Banif e os planos que se preparam

para o Novo Banco.

O que está em curso é um novo ataque aos países periféricos do euro em nome da recomposição da

banca europeia à custa de recursos públicos e soberania democrática. Pagamos para não ter banca. Este é o

momento de dizer «não»!

Só há emprego com investimento e democracia, o que exige a reestruturação da dívida, por um lado, e a

resolução do sistema financeiro e o seu controlo público, por outro. Pode parecer que este é um caminho

difícil, mas é a alternativa à implosão.

Não nos enganemos: uma União Europeia que abdica da democracia, despreza a soberania dos povos e

condena gerações ao desemprego repete os piores erros da história da Europa, trágicos como foram. A União

Europeia é hoje um projeto em agonia.

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, em nome do CDS-PP, tem a palavra o

Sr. Deputado Pedro Mota Soares.

O Sr. PedroMotaSoares (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, a quem agradeço a

referência que fez ao CDS e à nova liderança do CDS, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: O

próximo Conselho Europeu vai debater, acima de tudo, dois temas, o das migrações e o do Semestre

Europeu. Permita-me que comece pelo primeiro tema, as migrações.

É desesperante ver o vagar com que a Europa continua a lidar com a crise dramática dos refugiados.

Conselho Europeu após Conselho Europeu, medida após medida, a verdade é que muito pouco acontece.

Há 10 reuniões do Conselho Europeu consecutivas que o tema dos refugiados é discutido, mas verdade é que

a Europa não só não consegue encontrar uma resposta humanitária, pois só acolheu 870 dos 160 000

requerentes de asilo — e Portugal, quer pela mão do anterior Governo, quer pela mão do atual Governo, tem

sido, do ponto de vista da capacidade de acolhimento, um exemplo pelo que já conseguiu fazer —, como, ao

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mesmo tempo que não consegue dar uma resposta humanitária, não consegue implementar um sistema de

triagem que separe as situações de asilo e refugiados de guerra da situação de emigração económica, nem

sequer consegue ter um sistema de informações que garanta que, a coberto de uma crise humanitária, não

existam células fundamentalistas a aproveitarem-se desta migração. Até no combate aos traficantes de seres

humanos, àqueles que se aproveitam do desespero de muitas pessoas que querem fugir de um teatro de

guerra, o que era uma prioridade para a própria Europa, ou seja combater os traficantes e os meios dos

traficantes, também aí a Europa está a falhar.

A Europa ou tem a capacidade de ter uma resposta e de a aplicar ou, então, veremos muitos governos a

colapsar perante movimentos populistas, perante movimentos extremistas anti-União Europeia, antieuro,

antiliberdade de circulação e com nuances muito preocupantes de xenofobia e de ódio e que não podemos

tolerar.

Não podemos permitir que esta crise migratória, que esta crise humanitária, que já fez colapsar Schengen

e que já fez mossas na solidariedade entre governos europeus, destrua também a tradição humanista da

Europa.

O tema dos refugiados já não é só uma questão humanitária, já não é só uma questão de direitos

humanos, é, cada vez mais, uma crise institucional dentro da própria União. Só esperamos que o acordo entre

a União e a Turquia não sirva para agravar essa crise institucional. O acordo pode não ser perfeito, e não é,

pode levantar problemas, e levanta, mas a verdade é que a Turquia tem sobre a Europa, especialmente neste

tema dos refugiados, uma posição e uma relevância estratégica que não podemos ignorar. A Europa e a

Turquia têm de saber dialogar e colaborar, mais que não seja, pelo simples facto de estarem em solo turco

cerca de 2 800 000 refugiados a quem a resposta europeia tem, também, de atender. A resposta é para

chegar efetivamente às pessoas, não só as que estão cá, mas, também, as que estão lá.

Neste sentido, é tempo de os Estados europeus se comprometerem com uma solução que comece,

efetivamente, a chegar às pessoas, que comece a ter um acolhimento e que, ao mesmo tempo, seja realista

nessa mesma capacidade de acolhimento.

Quanto ao segundo tema, Sr. Primeiro-Ministro: Semestre Europeu. Permita-me que lhe refira, só para

provar a importância das coisas, um excerto do relatório relativo a Portugal, especificamente naquele sector

que continua a ser um dos nossos problemas: o mercado de trabalho.

Refere o relatório que, em Portugal, «o mercado de trabalho começou a dar sinais de recuperação no 1.º

semestre de 2013. Pese embora o facto de a segmentação do mercado de trabalho continuar a constituir um

desafio, os recentes aumentos da taxa de emprego incidiram em contratos permanentes, o que sugere que as

anteriores reformas da legislação de proteção do emprego contribuíram para reduzir a propensão para o

emprego temporário».

Vozes do CDS-PP: — Muito bem!

O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Li-lhe isto, Sr. Primeiro-Ministro, apenas para lhe provar duas

coisas: primeiro, que as reformas estruturais podem dar resultado — e digo isto num momento em que os

senhores estão a reverter essas mesmas reformas — e, segundo, que para criar emprego é preciso

investimento, para atrair investimento é preciso confiança e para ganhar confiança é, acima de tudo, preciso

colocar Portugal como um destino previsível, estável e com reformas duradouras.

Sr. Primeiro-Ministro, reverter a descida do IRC é um erro; reverter as alterações ao Código do Trabalho é

um erro; escolher as empresas como alvo a abater de uma política orçamental é um enorme erro!

Sr. Primeiro-Ministro, acabámos de ouvir aqui o Ministro das Finanças a citar um poeta, dizendo que este

Orçamento do Estado faz o que faz falta. Ora, o que o poeta dizia era que «o que faz falta é animar a malta!».

E nós sabemos que, depois de a malta estar animada, a música vai ser outra, a música vai ser a da fatura a

pagar. Mas, nessa altura, Sr. Primeiro-Ministro, é aqui, nesta Câmara, e não perante o Conselho Europeu que

vai ter de dar uma explicação.

Aplausos do CDS-PP.

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O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Jerónimo

de Sousa.

O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, um dos pontos que está na

ordem de trabalho do Conselho é o Semestre Europeu e a chamada «revisão da implementação das

recomendações específicas para o País».

O senhor sabe que o relatório da Comissão Europeia sobre Portugal considera que alguma das medidas

mais positivas, que acabámos de aprovar no Orçamento do Estado, são para eles negativas.

Mais, reconhecendo a devastação social e económica dos últimos quatro anos, aquele documento afirma

que a política que Portugal tem de seguir é mais do mesmo: mais de regulação laboral, menos contratação

coletiva, salários mais baixos, menos serviços públicos, menos apoios sociais e mais privatizações.

Sejamos claros, eles pretendem impedir ou destruir o que acabámos de decidir para defesa dos interesses

dos trabalhadores e do nosso povo. Quero reafirmar-lhe que o único caminho é respeitar esta Assembleia da

República, resistindo a pressões e dizendo «Não!». É nessa luta que se pode contar com o PCP, porque

resistir às manobras, chantagens e pressões, é defender o interesse nacional.

Falando do interesse nacional, não posso deixar de lhe colocar duas questões, sendo que a primeira, que

já lha coloquei antes, recai sobre o drama dos produtores leiteiros. As consequências do fim das quotas

leiteiras aí estão, tal como o PCP alertou, e os Governos do PSD e CDS e do PS têm pesadas

responsabilidades. A célebre «aterragem suave» resultou, como previmos, num autêntico desastre. Agora a

questão é: o que fazer para defender o interesse nacional?

Por mais que se diga o contrário, o Conselho de Ministros da Agricultura da União Europeia resultou em

pouco ou nada. O sistema de liberalização mantém-se e as medidas aprovadas ou são provisórias, algumas

meras promessas, ou remetem para os Estados-membros e para os produtores os custos da redução da

produção. Nada disto é solução!

Portanto, o que é necessário defender no seio da União da Europeia é a reversão do processo de

liberalização, bem como um debate nacional sobre medidas de fundo de proteção da produção nacional.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!

O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Um debate nacional porque estamos a falar da nossa soberania

alimentar e porque nunca foi tão evidente a falência da atual política agrícola comum.

As consequências estão à vista e o sector da suinicultura é mais um exemplo disso. Sabemos bem que as

causas dos protestos dos suinicultores não nasceram agora. Mas, independentemente de ser uma questão de

conjuntura, há uma realidade que é inegável: Portugal perdeu 25% do seu efetivo suíno. Nos últimos 25 anos

passámos de País autossuficiente para País importador líquido, e isto requer uma reflexão séria sobre as

consequências da nossa adesão à União Europeia.

Aumentar a nossa produção nacional é a questão-chave para o nosso desenvolvimento.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Muito bem!

O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Não está agora presente o Sr. Deputado Telmo Correia, mas

consideramos que, porque falou na defesa dos interesses dos pequenos e médios empresários, é hipocrisia

proclamar cá essa defesa e maltratar as suas vidas na União Europeia.

Aplausos do PCP.

Uma União Europeia que está lançada numa deriva reacionária e xenófoba extremamente perigosa, face

ao drama dos refugiados.

Hoje queríamos saudar os sinais positivos que o Governo português tem dado na resposta ao drama

humanitário, sinais esses que devem ser aprofundados.

Ainda assim, para o PCP, seria inaceitável que o Governo português desse cobertura e acordo ao que está

previsto ser aprovado no Conselho, no ponto sobre migrações, medidas que a própria ONU já veio questionar,

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como aqui foi lembrado, assim como é inaceitável que Portugal continue a dar cobertura e a considerar a

participação na missão da NATO no Mar Egeu e a dar o seu acordo à criação da guarda costeira europeia.

Esperamos, Sr. Primeiro-Ministro, que leve ao Conselho uma perspetiva diferente das conclusões que

estão ensejadas.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem a palavra para uma intervenção o Sr. Deputado José Luís

Ferreira.

O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, de facto, a Europa está a

viver uma grande crise humanitária, uma verdadeira tragédia. Uma crise muito preocupante, sobretudo quando

assistimos a situações de violência e à imposição de políticas discriminatórias no acolhimento de refugiados e

que violam todos os princípios e todos os valores que devem de presidir à construção de uma Europa solidária

e respeitadora dos direitos humanos. E se é verdade que esta crise humanitária tem sido objeto de várias

cimeiras europeias, também é verdade que as respostas apresentadas pela Europa não têm dado quaisquer

resultados práticos.

Impõe-se, portanto, a procura de uma solução efetiva, séria e determinada para o problema dos refugiados,

uma solução que, na perspetiva de Os Verdes, não pode passar pelo encerramento das fronteiras ou por

limitações à livre circulação de pessoas.

Importa, por isso, saber que posição vai o Governo português assumir, não só no que respeita ao eventual

encerramento de fronteiras, mas também à procura de uma solução europeia comum e permanente que,

sobretudo, respeite os valores da paz, da solidariedade entre os povos e o respeito pelos direitos humanos.

Assim, como importaria, também, saber qual é a posição do Governo português relativamente ao acordo que a

União Europeia está a fazer com a Turquia.

Sr. Primeiro-Ministro, recentemente, os agricultores portugueses manifestaram-se contra a crise do sector

do leite e do sector da carne de porco, ou seja, manifestaram-se contra a política agrícola comum (PAC).

De, facto, o que nos parece é que a falência da PAC nunca foi tão visível como hoje, porque destruiu todos

os instrumentos públicos de regulação e acabou por impor uma reforma liberal onde o mercado é quem mais

ordena.

Assim, Sr. Primeiro-Ministro, diga-nos se não lhe parece que é tempo de começar a ponderar a

necessidade de uma viragem ao nível da PAC.

Por fim, Sr. Primeiro-Ministro, o Semestre Europeu, Recentemente, a Comissão Europeia publicou os ditos

relatórios por país, e, no que se refere a Portugal, a Comissão Europeia reconheceu os efeitos profundamente

negativos das suas receitas, sobretudo, das que vieram da troica. A Comissão Europeia reconhece, por

exemplo, a subida dos níveis de pobreza e o aumento das desigualdades sociais no nosso País.

Mas o mais insólito é que a Comissão Europeia, apesar de reconhecer os efeitos negativos das suas

receitas, parece teimar em levar por diante essas mesmas receitas que nos colocaram onde hoje estamos.

Gostaria que o Sr. Primeiro-Ministro se pronunciasse sobre este propósito da Comissão Europeia, que

parece teimar em não querer aprender com os erros, o que é profundamente lamentável.

Aplausos de Os Verdes e do PCP.

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Agora, sim, tem a palavra, para uma intervenção, o Sr.

Deputado Vitalino Canas.

O Sr. Vitalino Canas (PS): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs.

Deputados: No projeto de conclusões do Conselho Europeu refere-se, no contexto da crise migratória, que a

prioridade continua a ser a recuperação do controlo das fronteiras externas da União. Permita-me aqui fazer

uma pequena correção, estabelecer uma pequena nuance: não negamos que essa seja uma prioridade, mas

certamente que essa não é a prioridade mais urgente. A prioridade mais urgente é cuidar dos migrantes que

estão em campos de Estados-membros, em situações desumanas, atentatórias da dignidade.

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A situação que se vive em Idomeni e noutros locais da Grécia e fora da Grécia, avilta, gravemente, os

refugiados, insulta os nossos valores europeus, atormenta as nossas consciências e abala a coesão em torno

do projeto europeu.

Mas é certo que temos de resolver os problemas do controlo externo das fronteiras, do estabelecimento

pleno de Schengen, que está afetado, da solidariedade com os Estados mais atingidos pelo fluxo de migrantes

e do acolhimento condigno dos que procuram a nossa ajuda, que não podem ser deixados ao abandono.

Este Conselho Europeu é vital para isso. Nele é central a criação de condições, designadamente as de

implementação do plano de ação conjunta da União Europeia com a Turquia. Podemos ter, certamente,

dúvidas sobre alguns aspetos deste plano de ação, e algumas delas já foram aqui, hoje, vocalizadas, como

dúvidas jurídicas e de carácter civilizacional, a troca de migrantes bons, entre aspas, por migrantes maus,

entre aspas — migrantes maus como sendo alguns daqueles, mulheres e crianças, que, abandonados a cargo

dos contrabandistas e traficantes de pessoas, lutam pela sua vida — mas isso não é, talvez,

civilizacionalmente aceitável e terá de ser reponderado no futuro.

Mas nós temos, nesta altura, de ter consciência de que a relação com a Turquia é estratégica, é vital, para

resolver o problema que temos. Sem a Turquia a crise migratória não tem solução.

Por isso, a implementação urgente dessa parceira interessa à Europa e interessa à Turquia. A Europa deve

tomar todas as medidas quanto ao enquadramento normativo, quanto à mobilização de recursos e quanto ao

cumprimento dos compromissos assumidos em matéria de vistos e em matéria de abertura de novos capítulos

de negociação da adesão, como já foi, aliás, referido pelo Sr. Primeiro-Ministro.

Mas o caderno de encargos da Europa vai muito mais além do que a parceira com a Turquia: há que

reforçar o Frontex, há que reforçar o EASO (European Asylum Support Office) e a Europol, dotando-os de

mais recursos humanos disponibilizados pelos Estados-membros capazes de acorrer a dificuldades, que

sabemos existirem, por parte de autoridades nacionais dos países com mais dificuldades, designadamente a

Grécia e a Itália.

A prazo há que criar a guarda de fronteiras com a salvaguarda da soberania, há que, concomitantemente,

ganhar eficácia no funcionamento dos hotspots, há que rever o sistema de Dublin, que se mostrou deficiente

em situações de crise migratória como a que estamos a viver atualmente. Dublin sobrecarrega

excessivamente o Estado a que os pretendentes de proteção internacional acorrem e desprotege os próprios

refugiados, reduzindo-lhes garantias e forçando-os a instalarem-se em localizações onde a sua integração é

difícil ou mesmo inviável.

Implementar rapidamente a ajuda de emergência à Grécia é também, nesta altura, uma prioridade

premente.

O nosso caderno de encargos passa também por intensificar as condições de instalação dos pretendentes

de proteção em condições dignas e, aqui, queria assinalar que Portugal é, neste momento, um dos países da

União Europeia que está, com maior rapidez, a proceder a essa integração.

Sr. Primeiro-Ministro, a posição do Governo português merece o nosso apoio e apreço. A rejeição de

iniciativas unilaterais, como o encerramento da chamada «rota dos Balcãs ocidentais», por opção exclusiva de

Estados-membros e de Estados não-membros, é vital. É vital rejeitar essas iniciativas unilaterais. A solução

tem de ser europeia e Portugal tem lutado por uma solução europeia, disponibilizando-se, aliás, para assumir

responsabilidades acrescidas na sua viabilização e execução.

Num momento em que é óbvio que terá de haver um significativo acréscimo das reinstalações de migrantes

merece ser sublinhado o facto de, mesmo antes de esses números estarem fixados, o Governo português já

se ter disponibilizado a receber mais do que os 4486 migrantes que tinham sido inicialmente definidos.

É também em prol de uma posição europeia, contra iniciativas isoladas, assumindo todas as nossas

responsabilidades e estando preparados para outras responsabilidades, que Portugal está a dar o exemplo do

modo como se deve construir confiança no projeto europeu.

Aplausos do PS e do Deputado do PCP João Oliveira.

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Passamos agora à fase de encerramento deste debate, pelo

que dou a palavra ao Sr. Primeiro-Ministro.

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O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente e Sr.as e Srs. Deputados, evitarei prolongar o debate, que já

concluímos, sobre Orçamento do Estado, nem antecipar agora o debate que teremos sobre o programa

nacional de reformas e centrar-me-ei naquele que foi o denominador comum das principais preocupações dos

diferentes grupos parlamentares: a crise dos refugiados.

As palavras que aqui ouvi de consenso ilustram bem a apreensão que esta crise coloca à Europa. Aliás,

creio que o Sr. Deputado Miguel Morgado usou a expressão «esta é a mais grave hora de crise», o Sr.

Deputado Pedro Mota Soares falou «da destruição de Shengen» e a Sr.ª Deputada Catarina Martins falou «de

uma Europa em agonia».

Infelizmente, receio que tenhamos razão, porque este facto é o maior desafio com que a Europa se

confronta, e se há algo que podemos ter por certo é que a Europa não enfrentará com sucesso este desafio se

ceder naquilo que é essencial, que são os valores. Isto porque, quando cedermos nos valores, não estaremos

a diminuir os argumentos utilizados pelos populistas para combaterem o projeto europeu, estaremos,

simplesmente, a legitimar a sua argumentação, e, com isso, não só não defendemos a Europa como não

ajudamos sequer os governos amigos a ganharem as eleições que, em cada domingo, justificam uma nova

cedência em nome da estabilidade política europeia.

Não! Não é cedendo nos valores que nós defenderemos a Europa.

Aplausos do PS.

Acho que Portugal deve ser exemplar na manutenção do consenso nacional da prioridade que deve ser

dada à catástrofe humanitária. Isso devemos fazer, desde logo, dando exemplo da nossa disponibilidade para

fazer o que todos deveríamos ter obrigação de fazer: assumir uma partilha de encargos, de forma a assegurar

não só a proteção internacional mas, sobretudo, a oportunidade que todos aqueles seres humanos têm de

encontrar uma nova oportunidade para reconstruirem a sua vida e para poderem realizar-se plenamente

enquanto seres humanos. Este é o dever que temos e é assim que devemos prosseguir, quer do ponto de visa

multilateral, quer também do ponto de vista bilateral.

É evidente que esta crise coloca a cada Estado-membro dificuldades muito próprias e nós devemos

compreender essas dificuldades próprias. Eu aceitei um convite do Sr. Primeiro-Ministro Tsipras para,

brevemente, me deslocar a Atenas para podermos aprofundar a cooperação na base bilateral, relativamente à

temática dos refugiados.

Compreendo bem que nos possa suscitar dúvidas o acordo de readmissão, assinado entre a Grécia e a

Turquia, mas, se nos procurarmos situar na pele do governo grego, teremos, porventura, necessidade de

compreender que, perante um drama a que se sente impotente para fazer face, perante o bloqueio da rota dos

Balcãs, perante a total ineficiência do sistema de redistribuição dentro da União Europeia, terá de haver um

acordo de readmissão daquela natureza.

Se me perguntam: gosta? Não, não gosto! Se me perguntam: acredita neste mecanismo? Tenho

esperança de que aqueles que acreditam tenham razão! Mas, de facto, tenho muita dificuldade em acreditar

que, neste jogo de um por um, seja o mecanismo mais eficaz para destruir a máquina montada de tráfico de

seres humanos que, creio, resistirá mais e que, pelo contrário, irá aproveitar este mecanismo para se

fortalecer.

Aplausos do PS.

A posição que Portugal tem assumido, quer no Conselho Europeu quer no Conselho de Justiça e Assuntos

Internos, é a de ter uma postura construtiva, partindo da compreensão das dificuldades dos outros para

procurar encontrar soluções que respondam às dificuldades de cada um.

Há algo, para nós, absolutamente essencial: que, em caso algum, um mecanismo de retorno com base no

acordo de readmissão entre a Grécia e a Turquia abranja aqueles que são objeto de proteção internacional;

que a execução desse acordo prescinda de uma análise individualizada de cada uma das situações; que

possa haver readmissão na Turquia sem que essa reavaliação esteja concluída e sem que o direito de recurso

possa ter sido assegurado, e que, portanto, o mecanismo de readmissão seja só para as situações de

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migrantes que não são objeto de proteção internacional. Isto é absolutamente essencial poder garantir estes

princípios.

Por outro lado, não devemos confundir o mecanismo de reinstalação na Europa, que só deve abranger

aqueles que na Turquia já são objeto de proteção internacional, e estes nós devemos acolher, porque, de

facto, se a prioridade deve ser dar resposta àqueles que estão a sofrer nos campos de refugiados já dentro

das fronteiras externas da União Europeia, não temos o direito de ignorar também aqueles que estão a sofrer

fora das fronteiras externas, seja no Líbano, seja na Jordânia, seja na Turquia.

A melhor forma de garantir uma reinstalação ordenada não é multiplicar essa ideia mirífica de que

conseguiremos blindar a nossa fronteira externa, é agindo para lá da nossa fronteira externa, encontrando

canais legais, canais ordenados por forma a assegurar a proteção internacional na Europa, porque a Europa

não pode deixar de assumir e de honrar os seus deveres de assegurar proteção internacional.

Aplausos do PS.

Convém que a Europa nunca esqueça o trágico contributo que a II Guerra Mundial deu para a construção

desse estatuto dos refugiados, para o qual contribuímos da pior forma, que essa II Grande Guerra teve causa,

origem e palco na Europa, que não seja preciso regressar a uma tragédia dessas e que saibamos agora

contribuir da melhor forma para proteger esse estatuto e assegurar a proteção internacional a qualquer ser

humano que dele careça, esteja ele onde estiver. É isso que vamos assegurar.

Aplausos do PS.

Entretanto reassumiu a presidência o Presidente Ferro Rodrigues.

O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, está assim concluído este debate preparatório do próximo Conselho

Europeu.

O ponto seguinte tem a ver com Relatório e Contas de Gerência da Assembleia da República de 2014,

para o qual não há tempos atribuídos.

Assim, despedindo-nos primeiro do Governo, passamos ao período regimental de votações, mas antes

vamos ter de proceder à verificação do quórum, utilizando o sistema eletrónico.

Pausa.

Srs. Deputados, o quadro eletrónico regista 210 presenças, às quais se acrescentam 5, o que perfaz 215

Deputados presentes, pelo que temos quórum de deliberação.

Srs. Deputados, começamos pelo voto n.º 41/XIII (1.ª) — De pesar pelo falecimento de Heitor Sousa (PSD

e PS), que o Sr. Secretário vai ler.

O Sr. Secretário (Pedro Alves): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, o voto é do seguinte teor:

«Faleceu no passado dia 28 de fevereiro, em Fall River, nos Estados Unidos da América, Heitor Miguel

Medeiros Sousa, figura incontornável da nossa numerosa comunidade no Estado de Massachussets.

Heitor Sousa nasceu na vila de Rabo de Peixe, em São Miguel, tendo-se fixado profissionalmente em Fall

River, onde, em 1986, fundou as grandes festas do Divino Espírito Santo da Nova Inglaterra, evento agregador

da comunidade portuguesa e muito especialmente da diáspora açoriana de toda a América do Norte.

Com esta iniciativa, Heitor Sousa foi o grande responsável por um evento que desde cedo mobilizou

centenas de milhar de portugueses e lusodescendentes, numa enorme manifestação de fé e de cultura, que

ainda hoje continua bem viva e demonstrativa da importância da nossa presença naquele continente.

Porém, a obra de Heitor Sousa teve outros momentos de grande relevância, quer em São Miguel, quer nos

Estados Unidos.

As Jornadas Jubilares ano do Espírito Santo, em 1998, a criação do Festival de Bandas de Música da Nova

Inglaterra, no Heritage Park, em Fall River, e a fundação dos Amigos de Rabo de Peixe são outras das

realizações a que esteve intimamente ligado.

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Para além disso, Heitor Sousa distinguiu-se igualmente como dirigente ou ativista de variadíssimas outras

entidades, como a Sociedade Cultural Açoriana, a Banda de Nossa Senhora da Luz, a Banda da Nossa

Senhora da Conceição Mosteirense, o Ateneu Luso-Americano, a Associação Académica de Fall River, a

Portuguese-American Business Association, a Associação Cultural Lusitânia, o Grupo Amigos da Terceira, o

Sporting Club Ideal da Ribeira Grande, a Comissão de Árbitros do ex-Distrito de Ponta Delgada, a Junta de

Freguesia, o Sporting Clube Beira-Mar e a Banda Lira do Norte de Rabo de Peixe. Tal percurso comunitário foi

determinante para a atribuição de distinções de grande relevo, como os graus de Comendador da Ordem de

Mérito e da Ordem do Infante D. Henrique da República Portuguesa, a Medalha de Mérito das Comunidades

Portuguesas, a Insígnia Autonómica da Região Autónoma dos Açores e a Medalha da Câmara dos

Representantes do Estado de Massachusetts.

A Assembleia da República, reunida em sessão plenária, manifesta o seu pesar pelo falecimento de Heitor

Miguel Medeiros Sousa e endereça aos seus familiares e amigos as suas sinceras condolências».

O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, vamos votar o voto n.º 41/XIII (1.ª).

Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.

Srs. Deputados, passamos ao voto 43/XIII (1.ª) — De pesar pelo falecimento de Nicolau Breyner (PSD, PS,

BE, CDS-PP, PCP e Os Verdes). O Sr. Secretário vai proceder à sua leitura.

O Sr. Secretário (Pedro Alves): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, o voto é do seguinte teor:

«Foi com profunda consternação e pesar que a Assembleia da República tomou conhecimento do

falecimento de João Nicolau de Melo Breyner Lopes.

Nicolau Breyner, ator, produtor e realizador português, uma das figuras mais populares da ficção nacional

é, sem dúvida, um dos representantes mais emblemáticos da cultura portuguesa.

Nicolau Breyner nasceu em Serpa, a 30 de julho de 1940, e muito cedo, aos nove anos, começou a ter

aulas de canto com os grandes professores da altura. Ingressou na Faculdade de Direito, com a ambição de

se tornar diplomata mas depressa desistiu do direito, optando por se diplomar no Conservatório Nacional,

primeiro no curso de canto e, depois, no de teatro.

Com mais de 55 anos de carreira, Nicolau Breyner estreou-se como ator, ainda quando frequentava o

Conservatório, com a peça Leonor Telles, de Marcelino Mesquita, no Teatro da Trindade.

Foi no teatro que se tornaria conhecido do grande público revelando-se um dos mais bem-sucedidos atores

da sua geração, contracenando e dirigindo, ao longo da sua vida, os maiores vultos.

Também na televisão, Nicolau Breyner é tido como um dos percussores do humor em Portugal. Programas

como Nicolau no País das Maravilhas, Lá em Casa Tudo Bem, Eu Show Nico, Euronico ou Nico D’Obra

marcaram de forma indelével várias gerações e transformaram indubitavelmente a produção televisiva de

entretenimento em Portugal.

Ainda na produção de ficção, Nicolau Breyner deixa uma marca intensa na televisão portuguesa, sobretudo

através das telenovelas Vila Faia — a primeira telenovela portuguesa — Cinzas, Vingança, Equador,

Morangos com Açúcar e muitas outras partilhadas por tantos portugueses.

Ao longo da sua carreira, Nicolau Breyner, somou ainda quase 50 participações no cinema, em filmes de

cineastas de diversas gerações, tendo colaborado com realizadores como António-Pedro Vasconcelos (A Bela

e o Paparazzo, Os Imortais, Os gatos não têm vertigens), João Botelho (Corrupção) e Leonel Vieira (A arte de

roubar), entre outros.

Uma das suas participações mais recentes é o filme Comboio Noturno para Lisboa, adaptação do livro

homónimo de Pascal Mercier e que estreou em 2013.

Com uma vida ligada à representação recebeu três Globos de Ouro para melhor ator, com Kiss Me, em

2004, O Milagre Segundo Salomé, em 2004, e Os Imortais, em 2003.

A 9 de junho de 2005 foi feito Grande-Oficial da Ordem do Mérito.

Artista de muitos talentos, ator naturalmente dotado, homem de elevado grau de ética, Nicolau Breyner faz

parte da vida de muitas gerações de portugueses.

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Profundamente empenhado na vida cívica, teve também intervenção política ao candidatar-se à Câmara

Municipal de Serpa pelo CDS-PP, demonstrando o seu apego às suas origens.

A morte de Nicolau Breyner é sentida como uma perda importante para a cultura portuguesa.

Foi um homem com uma imensa e inesgotável capacidade de gostar da vida e das pessoas, sendo sempre

autêntico, caloroso, generoso e despretensioso.

Afirmou que não tinha medo da morte, mas pena de não viver. Adorado pelos inúmeros amigos e pelo

público, quando questionado sobre como quereria ser lembrado quando morresse, respondeu que desejaria

que tivessem gostado dele e que o recordassem com um sorriso e com carinho.

Não era preciso dizer Nicolau!

A Assembleia da República presta um merecido tributo à sua memória e endereça à sua família um sentido

voto de pesar».

O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, no final da leitura e votação dos vários votos de pesar iremos fazer 1

minuto de silêncio, mas agora quero associar-me particularmente a este voto e, visto que Nicolau Breyner foi

sempre um homem irrequieto e inconformado, penso que ele gostaria que lhe batêssemos uma salva de

palmas.

Aplausos gerais, de pé.

Srs. Deputados, vamos proceder à votação do voto n.º 43/XIII (1.ª).

Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.

Srs. Deputados, passamos à leitura do voto 45/XIII (1.ª) — De pesar pelo falecimento de Mário Machado

(PS e PSD).

Faça favor, Sr. Secretário.

O Sr. Secretário (Diogo Leão): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, o voto é do seguinte teor:

«Mário Jorge Rodrigues Machado faleceu no passado dia 13 de março, aos 61 anos de idade.

Um companheiro, de inteligência invulgar, de grande honestidade, solidário, com particular sentido de

humor, voluntarioso de muitas iniciativas cívicas e políticas.

Nasceu, a 5 de novembro de 1954, nos Açores, na cidade de Ponta Delgada, onde frequentou o seminário

Colégio do Santo Cristo, tendo concluído os seus estudos secundários no Liceu Nacional de Ponta Delgada.

Concluiu o curso superior de Organização e Gestão de Empresas na Escola Superior de Organização

Científica do Trabalho do Instituto Superior de Línguas e Administração.

Teve uma extensa vida profissional, quer no meio empresarial, como gestor de várias empresas nos

Açores e no continente português, quer como político. A sua atividade foi caracterizada pelo seu empenho

ilimitado, pela sua capacidade de trabalho, pelo seu sentido de dever. Sempre ao serviço da sua terra,

Portugal e os Açores.

Destacou-se, como dirigente da Câmara do Comércio e Indústria de Ponta Delgada, como diretor do

Instituto de Inovação e Tecnologia dos Açores, como autarca na qualidade de Presidente da Câmara Municipal

de Ponta Delgada e como Deputado do Partido Socialista na Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos

Açores. Em 1998, foi eleito pela revista Açores como gestor do ano na Região Autónoma dos Açores.

Nos últimos anos, mais distanciado da vida política ativa, nunca deixou de intervir na defesa de causas que

considerou relevantes, as quais sempre se sobrepuseram aos problemas de circunstância.

Mesmo quando lutava contra a doença continuou a participar civicamente na nossa sociedade, com atos e

palavras que nos merecem reflexão.

Mário Machado partiu. Deixou-nos o seu sentido de responsabilidade, a sua credibilidade e o seu

pensamento.

A Assembleia da República, reunida em sessão plenária, manifesta o seu pesar pelo falecimento de Mário

Machado e endereça à sua família sinceras condolências».

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Srs. Deputados, vamos votar o voto n.º 45/XIII (1.ª).

Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.

Srs. Deputados, o Sr. Secretário vai agora proceder à leitura do voto 47/XIII (1.ª) — De pesar pelo

falecimento de Ana Vieira (PS, PSD, CDS-PP e PAN).

O Sr. Secretário (Diogo Leão): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, o voto é do seguinte teor:

«Quando o País perde um artista, perdemos todos uma parte insubstituível da nossa voz. Ana Vieira,

artista plástica, nascida em Coimbra em 1940, foi uma das vozes subtis, mas perseverantes, que falou pelos

portugueses ao longo da sua vida, através da sua obra, deixando um trabalho original e inspirador que marcou

a arte portuguesa contemporânea.

Faleceu a 29 de fevereiro de 2016, aos 75 anos de idade. De origem açoriana da parte do pai, Ana Vieira

viveu toda a infância nos Açores, facto que irá distinguir de forma indelével o seu trabalho.

Nas suas palavras: ‘Lembro-me que nos Açores, quando chegava da escola, (…) dirigia-me a uma parte da

propriedade mais perto do mar. Nessa zona existiam grandes muros de pedra que abrigavam a vinha da

maresia. Absorvi aquele espaço, a ambiguidade de ser aberto e simultaneamente fechado, de ter passagens,

de implicar um tempo e uma cadência, e, finalmente, as pulsações de um percurso’.

A perceção do mundo e das suas barreiras, a transformação dos espaços em metáforas poéticas, o

recurso a dinâmicas alegóricas sobre iconografia familiar, sobre a habitabilidade, a transgressão, a condição

feminina e a subversão das convenções da arte, fazem da sua linguagem artística um caso singular de

originalidade, destacando-se no cruzamento das diversas disciplinas artísticas.

Expunha desde 1965, realizando a primeira mostra em 1968, onde revelou, desde logo, o seu interesse em

superar a dimensão pictórica do trabalho criativo. Em 1977, Ana Vieira foi uma das participantes na exposição

Alternativa Zero; em 1991 recebeu o prémio da AICA/SEC. Serralves dedicou-lhe a sua primeira exposição

antológica em 1998; em 2010, o Centro de Arte Moderna da Gulbenkian, em colaboração com o Museu Carlos

Machado, apresentou a maior retrospetiva na carreira da artista.

Ana Vieira foi uma artista ousada e inconformada que rompeu muros — os de basalto atlântico e os

metafóricos — da criatividade portuguesa no último quartel do século XX, com o rasgo da sua arte.

A Assembleia da República, reunida em plenário, no dia 16 de março de 2016, manifesta o seu pesar pelo

falecimento de Ana Vieira e endereça aos seus familiares, amigos e admiradores as suas sentidas

condolências».

Srs. Deputados, vamos proceder à votação do voto n.º 47/XIII (1.ª).

Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.

Srs. Deputados, vamos guardar 1 minuto de silêncio.

A Câmara guardou, de pé, 1 minuto de silêncio.

Srs. Deputados, passamos ao voto n.º 44/XIII (1.ª) — De condenação pelo encerramento de fronteiras em

vários países europeus (BE, PS e PAN), que vai ser lido.

Faça favor, Sr. Secretário.

O Sr. Secretário (Diogo Leão): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, o voto é do seguinte teor:

«Nos últimos meses, têm-se multiplicado as situações de violência e de criação de medidas

discriminatórias relativas ao acolhimento de refugiados que contrariam flagrantemente o primado da defesa

dos direitos humanos dessas pessoas.

A Europa está a atravessar uma das maiores crises humanitárias da sua história recente, repetindo o que

se julgava definitivamente afastado: a existência de multidões de seres humanos tidos como supérfluos. É

urgente uma resposta efetiva, conjunta e solidária.

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Apesar do debate sobre este problema em sucessivas cimeiras europeias, as soluções encontradas não

têm produzido respostas efetivas, seja através de programas de recolocação permanente de refugiados, de

funcionamento eficaz dos hotspots ou de apoios efetivos de toda a União aos países de entrada e à criação de

passagem segura para quem busca proteção internacional no espaço europeu.

A verdade é que quantas mais vezes a União Europeia se encontra para tentar chegar a resoluções

comuns, mais florescem as soluções particulares, nacionalistas e discriminatórias.

Proliferam também decisões unilaterais de encerramento de fronteiras, como na Áustria, na Hungria, na

Macedónia, na Eslováquia ou na Holanda, assim como todo um conjunto de medidas para travar a entrada de

refugiados. Tais medidas têm como resultado único o aumento exponencial da crise humanitária.

Assim, a Assembleia da República, reunida em Plenário, exprime a sua mais viva preocupação com as

decisões de Estados-membros da União Europeia de encerramento de fronteiras que se abate

discriminatoriamente sobre os/as requerentes de proteção internacional, em desfavor da resposta de socorro

humanitário e de defesa dos direitos humanos que urge pôr em prática».

O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, vamos votar o voto que acaba de ser lido.

Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.

Passamos ao voto n.º 46/XIII (1.ª) — De congratulação pela posição do Governo português na questão dos

refugiados (PS e PSD).

Peço ao Sr. Secretário, Deputado Diogo Leão, o favor de proceder à sua leitura.

O Sr. Secretário (Diogo Leão): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, o voto é do seguinte teor:

«A União Europeia está hoje confrontada com uma crise política e humanitária com a chegada em massa

de refugiados que diariamente cruzam as fronteiras europeias à procura de proteção internacional e de ajuda

humanitária, o que coloca as instituições europeias e os Estados-membros perante um desafio político para o

qual se exigem respostas imediatas e respeitadoras dos valores em que se fundou o projeto europeu.

As sucessivas reuniões e decisões ao nível europeu ainda não apresentaram soluções eficazes para a

proteção daqueles que no nosso espaço esperam encontrar proteção nem para a própria segurança dos

cidadãos europeus, permitindo o surgimento de preocupantes sinais políticos em vários Estados-membros,

onde começam a despontar medidas xenófobas, nacionalistas e, em alguns casos, indignas para a condição

humana.

A resolução desta crise de refugiados não se encontra através do encerramento de fronteiras, do

enfraquecimento do sistema de livre circulação de pessoas, instituído pelo Acordo de Schengen, nem isolando

os Estados-membros que enfrentam maior pressão nas suas fronteiras.

O reacender de acusações entre os diversos Estados-membros, a que temos vindo a assistir, e uma

preocupante falta de solidariedade entre Estados têm contribuído para agudizar a crise e apenas promovem

todos aqueles que colocam em causa o projeto da integração europeia.

Assim, a Assembleia da República, reunida em Plenário, exprime o entendimento de que é necessário

encontrar respostas políticas e institucionais, que recusem qualquer iniciativa tendente ao encerramento de

fronteiras e que preservem o Acordo de Schengen e a livre circulação de pessoas, com todos os Estados-

membros que fazem parte deste Acordo, o que passa por garantir a proteção das fronteiras externas da área

Schengen e da União Europeia e por adotar mecanismos eficazes de solidariedade entre os Estados-membros

que enfrentam maior pressão nesta crise, como é o caso da Grécia.

Entende, ainda, a Assembleia da República exprimir a sua satisfação pela ação do Governo de Portugal

neste domínio, ao manifestar a sua disponibilidade para acolher mais refugiados, numa demonstração clara de

solidariedade a nível europeu, e que deveria ser seguida por outros Governos europeus».

O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, vamos votar o voto que acaba de ser lido.

Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PSD, do PS, do CDS-PP e do PAN e abstenções

do BE, do PCP e de Os Verdes.

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O Sr. João Oliveira (PCP): — Sr. Presidente, permite-me o uso da palavra?

O Sr. Presidente: — Faça favor, Sr. Deputado João Oliveira.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Sr. Presidente, quero anunciar que, relativamente à votação destes dois

últimos votos, apresentaremos uma declaração de voto.

O Sr. Presidente: — Fica registado, Sr. Deputado.

Passamos à votação do projeto de deliberação n.º 5/XIII (1.ª) — Primeira alteração à Deliberação n.º 1-

PL/2016, de 19 de janeiro (Composição das delegações às organizações parlamentares internacionais)

(Presidente da AR).

Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.

Vamos votar o projeto de resolução n.º 134/XIII (1.ª) — Recomenda a reintrodução da fiscalização da

qualidade do ar interior, com a correspondente pesquisa da presença de colónias de legionella, tal como

previsto no Decreto-Lei n.º 79/2006, de 4 de abril (BE).

Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PS, do BE, do PCP, de Os Verdes e do PAN e

votos contra do PSD e do CDS-PP.

Vamos, agora, votar a Conta de Gerência da Assembleia da República relativa ao ano de 2014.

Submetida à votação, foi aprovada por unanimidade.

Srs. Deputados, estão ainda em aprovação os Diários da Assembleia da República, I Série, n.os 16 a 20,

respeitantes às reuniões plenárias dos dias 11, 16, 17, 18 e 23 de dezembro de 2015, e n.os 21 a 32,

respeitantes às reuniões plenárias de 6, 7, 8, 13, 14, 15, 16, 21, 22, 27, 28 e 29 de janeiro de 2016.

Pausa.

Não havendo objeções, consideram-se aprovados.

Resta apreciar e votar alguns pareceres da Subcomissão de Ética da Comissão de Assuntos

Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, de que o Sr. Secretário, Deputado Pedro Alves, nos vai dar

conta.

O Sr. Secretário (Pedro Alves): — Sr. Presidente e Srs. Deputados, a solicitação do 3.º Juízo de Instrução

da Secção Criminal da Instância Local da Comarca de Lisboa, Processo n.º 7849/14.TDLSB, a Subcomissão

de Ética da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias decidiu emitir parecer no

sentido de autorizar o Deputado Hugo Lopes Soares (PSD) a intervir no âmbito dos referidos autos.

O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, está em apreciação o parecer.

Pausa.

Não havendo pedidos de palavra, vamos votá-lo.

Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.

Faça favor de prosseguir, Sr. Secretário.

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O Sr. Secretário (Pedro Alves): — Sr. Presidente e Srs. Deputados, de acordo com o solicitado pelo 2.º

Juízo da Secção de Competência Genérica da Instância Local do Entroncamento da Comarca de Santarém,

Processo n.º 159/12.4TBGLG, a Subcomissão de Ética da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos,

Liberdades e Garantias decidiu emitir parecer no sentido de autorizar o Deputado Pedro Passos Coelho (PSD)

a intervir nos referidos autos.

O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, o parecer está em apreciação.

Pausa.

Não havendo pedidos de palavra, vamos votá-lo.

Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.

Queira prosseguir, Sr. Secretário.

O Sr. Secretário (Pedro Alves): — Sr. Presidente e Srs. Deputados, a solicitação do 7.º Juízo da 1.ª

Secção de Execução da Instância Central da Comarca do Porto, Processo n.º 13452/07.9TBVNG-C, a

Subcomissão de Ética da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias decidiu

emitir parecer no sentido de autorizar o Deputado Marco António Costa (PSD) a intervir no âmbito dos

referidos autos.

O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, o parecer está em apreciação.

Pausa.

Dado que ninguém pretende usar da palavra, vamos votá-lo.

Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.

Faça favor de prosseguir, Sr. Secretário.

O Sr. Secretário (Pedro Alves): — Sr. Presidente e Srs. Deputados, a solicitação do 7.º Juízo da 1.ª

Secção de Execução da Instância Central da Comarca do Porto, Processo n.º 13452/07.9TBVNG-C, a

Subcomissão de Ética da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias decidiu

emitir parecer no sentido de autorizar o Sr. Deputado Firmino Pereira (PSD) a intervir no âmbito dos referidos

autos.

O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, o parecer está em apreciação.

Pausa.

Não havendo pedidos de palavra, vamos votá-lo.

Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.

Queira prosseguir, Sr. Secretário.

O Sr. Secretário (Pedro Alves): — Sr. Presidente e Srs. Deputados, de acordo com o solicitado pelo 2.º

Juízo da 2.ª Secção Cível da Instância Central de Santa Maria da Feira da Comarca de Aveiro, Processo n.º

2793/12.3TBVFR, a Subcomissão de Ética da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e

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Garantias decidiu emitir parecer no sentido de autorizar o Sr. Deputado António Topa (PSD) a intervir no

âmbito do referido processo.

O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, o parecer está em apreciação.

Pausa.

Dado que ninguém pretende usar da palavra, vamos votá-lo.

Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.

Faça favor de prosseguir, Sr. Secretário.

O Sr. Secretário (Pedro Alves): — Sr. Presidente e Srs. Deputados, a solicitação do 3.º Juízo da Secção

Criminal da Instância Central de Leiria da Comarca de Leiria, Processo n.º 162/10.9TALRA, a Subcomissão de

Ética da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias decidiu emitir parecer no

sentido de autorizar o Sr. Deputado António Sales (PS) a intervir no âmbito dos referidos autos.

O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, o parecer está em apreciação.

Pausa.

Não havendo pedidos de palavra, vamos votá-lo.

Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.

Faça favor de prosseguir, Sr. Secretário.

O Sr. Secretário (Pedro Alves): — Sr. Presidente e Srs. Deputados, de acordo com o solicitado pela

Secção Criminal da Instância Central da Comarca de Viseu, Processo n.º 10/11.2TANLS, a Subcomissão de

Ética da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias decidiu emitir parecer no

sentido de autorizar a Sr.ª Deputada Isaura Pedro (PSD) a intervir no âmbito do referido processo.

O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, o parecer está em apreciação.

Pausa.

Não havendo pedidos de palavra, vamos votá-lo.

Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.

Queira prosseguir, Sr. Secretário.

O Sr. Secretário (Pedro Alves): — Sr. Presidente e Srs. Deputados, a solicitação da 1.ª Secção Central de

Instrução Criminal da Comarca de Braga, Processo n.º 963/13.6TABRG, a Subcomissão de Ética da

Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias decidiu emitir parecer no sentido de

autorizar a Deputada Palmira Maciel (PS) a intervir no âmbito do referido processo.

O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, o parecer está em apreciação.

Pausa.

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64

Dado que ninguém pretende usar da palavra, vamos votá-lo.

Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.

Srs. Deputados, chegámos ao fim dos nossos trabalhos de hoje.

A próxima sessão plenária realizar-se-á na terça-feira, dia 22, às 15 horas, e terá a seguinte ordem de

trabalhos: declarações políticas; apreciação da petição n.º 308/XII (3.ª) — Apresentada pela CGTP-IN —

Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses — Intersindical Nacional, manifestando-se contra o roubo

nas pensões e o aumento da idade da reforma; e apreciação da petição n.º 549/XII (4.ª) — Apresentada por

António José Ladeira Soares Neto e outros, solicitando à Assembleia da República a suspensão da aplicação

do novo regulamento da Caixa de Previdência dos Advogados e Solicitadores (CPAS), conjuntamente com o

projeto de resolução n.º 135/XIII (1.ª) — Recomenda ao Governo a suspensão do novo regulamento da Caixa

de Previdência dos Advogados e Solicitadores e sua posterior revogação, repristinando-se o regime anterior

(BE).

Srs. Deputados, está encerrada esta nossa longa sessão.

Eram 14 horas e 21 minutos.

———

Declarações de voto enviadas à Mesa, para publicação

Relativas à proposta de lei n.º 12/XIII (1.ª):

Os Deputados do PSD eleitos pelos Açores, tal como diversas entidades independentes nacionais e

internacionais, não acreditam neste Orçamento de Estado para 2016. É um documento sem credibilidade.

As sucessivas erratas, adendas, emendas e outras correções à proposta inicial do Governo da República,

revelam que este Orçamento de Estado não é de confiança.

Este é um mau Orçamento do Estado. É mau do ponto de vista técnico e é mau do ponto de vista social.

Trata-se de um Orçamento que agrava a carga fiscal para as famílias e empresas e que afasta a captação de

investimento privado.

O Orçamento do Estado do Governo do PS e da extrema-esquerda é também socialmente injusto, pois

todos os portugueses vão pagar a teimosia do Governo na mesma medida: os que têm mais rendimentos

pagam exatamente o mesmo que aqueles que têm menos rendimentos.

Em suma, este é um mau Orçamento do Estado para o País. E, se é mau para o País, nunca poderá ser

bom para os Açores.

Os Deputados do PSD eleitos pelos Açores também não podem apoiar um Orçamento do Estado que não

cumpre com os compromissos eleitorais que o Partido Socialista assumiu relativamente à Região Autónoma

dos Açores.

Para o Plano de Revitalização Económica da Ilha Terceira o que sobra em palavras neste Orçamento falta

em verbas concretas para o cumprimento das obrigações do Governo da República na concretização deste

Plano, que visa enfrentar a diminuição do impacto económico da Base das Lajes.

Para a construção do novo estabelecimento prisional de Ponta Delgada também não têm faltado

promessas e juras por parte do PS, mas a verdade é que o Orçamento de Estado não prevê verbas para a

construção deste infraestrutura, apesar da Assembleia da República ter aprovado já este ano, por

unanimidade, uma resolução que recomenda que o Governo dê prioridade absoluta à construção do novo

estabelecimento prisional de Ponta Delgada.

Do mesmo modo era uma legítima expetativa que estivessem previstas no Orçamento de Estado obras de

conservação e beneficiação estabelecimento prisional da Horta.

Voltamos assim às soluções de adiamento crónico de uma situação que se arrasta há vários anos e que

poderia ser agora resolvida, uma vez que já foi ultrapassado o período de ajustamento a que o País teve de

ser sujeito nos últimos quatro anos, por força da desastrosa governação do Partido Socialista.

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Adiada foi também a construção das novas instalações da Polícia de Segurança Pública na Ribeira

Grande, que trabalha há anos provisoriamente nas instalações dos bombeiros. Este era um processo que já se

encontrava em andamento no Governo anterior e que agora é inexplicavelmente interrompido.

Na Universidade dos Açores assistimos também a um retrocesso em relação à política de apoio a esta

instituição que estava a ser seguida pelo Governo anterior. Recorde-se que, no ano passado, a Universidade

dos Açores recebeu, além das verbas a que tinha direito, uma dotação extraordinária de um milhão de euros.

Este caminho de consolidação da situação financeira da Universidade dos Açores que estava a ser seguido é

agora interrompido. O Orçamento de Estado não prevê o aumento de verbas relativamente ao efetivamente

recebido no ano anterior para este importante pilar da autonomia dos Açores.

Como se não bastassem todos estes motivos para que este Orçamento de Estado não tenha o nosso

apoio, verificamos ainda que as câmaras municipais dos Açores não vão receber as verbas a que têm

legalmente direito.

Com uma correta aplicação da Lei das Finanças Locais, as autarquias dos Açores deveriam receber 98,8

milhões de euros em 2016. Com este Orçamento de Estado recebem apenas 95,3 milhões.

Ou seja, a recusa do Governo do PS e da extrema-esquerda em aplicar devidamente a Lei das Finanças

Locais vai custar às câmaras municipais dos Açores 3,5 milhões de euros.

Por estas razões, os Deputados do PSD eleitos pelos Açores votam contra o Orçamento de Estado para

2016.

Os Deputados do PSD, Berta Cabral — António Ventura.

____

O Bloco de Esquerda votou favoravelmente a proposta de lei n.º 12/XIII (1.ª), que aprova o Orçamento do

Estado para 2016, em votação final global. Depois dos trabalhos de especialidade desta lei, podemos afirmar

que o texto final demonstra como a Assembleia da República cumpriu o seu papel: o texto aprovado é melhor

do que aquele que tinha dado entrada na AR. A lei aprovada cumpre o acordo que havia sido assinado entre

PS e Bloco de Esquerda, o que prova como é consequente esta forma de estar na política.

O debate orçamental foi dos mais escrutinados e negociados da nossa recente história democrática. Neste

novo momento político, a legítima diversidade representativa do Parlamento foi valorizada e as pessoas

saíram a ganhar.

O Orçamento do Estado para 2016 é um passo fundamental para a afirmação do novo momento político. É

um Orçamento que vira a página do caminho de empobrecimento do País e respeita os preceitos

constitucionais. Incorpora já as decisões de aumento do salário mínimo nacional e as 35 horas de trabalho

semanal na Administração Pública, escolhas pela valorização dos rendimentos do trabalho, respeito por quem

trabalhou uma vida inteira e agora deixa de ter a pensão ou a reforma cortada para passar a ser atualizada.

Reafirma a devolução dos rendimentos do trabalho com a eliminação dos cortes nos salários e a redução

progressiva da sobretaxa de IRS.

No debate parlamentar, o Bloco de Esquerda conseguiu aprofundar as escolhas já iniciadas no combate à

pobreza e às desigualdades com o reforço do complemento solidário para idosos e para os primeiros escalões

do abono de família, a atualização do abono de família para dependentes com deficiência, melhorias para um

regime contributivo mais justo para os trabalhadores a recibos verdes, mais equidade no IMI, evitando que o

filho de um rico valha mais do que o filho de um pobre. São alguns exemplos do que foi alcançado. Não menos

importante é o acesso a bens essenciais como a eletricidade e o gás, facilitado com a automatização do

acesso à tarifa social de energia, medida que baixará os custos com energia a um milhão de famílias.

Valorizamos estas conquistas.

O caminho traçado é muito diferente daquele que foi proposto por PSD e CDS. Desde o contínuo ataque à

Constituição da República Portuguesa, cortes nos salários e nas pensões, cortes nos serviços públicos

essenciais e favorecimento dos privados nestas áreas, exclusão de idosos do CSI ou de dezenas de milhares

de crianças do RSI, o caminho da direita era o oposto daquele que foi aprovado.

Mas, tendo votado favoravelmente esta proposta de lei pelas escolhas que faz, sabemos que ainda fica

muito por fazer. Depois de quatro anos de destruição da riqueza do País, os desafios que temos pela frente

são imensos. É necessário pensar, aplicar e financiar propostas para a existência de justiça na economia,

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valorizar salários, direitos sociais e a criação de emprego digno, promover a justa distribuição da riqueza,

reforçar a qualidade dos serviços públicos e garantir a universalidade dos direitos constitucionais.

Consideramos essencial: Reforçar o investimento público para a criação urgente de emprego e responder à

enorme taxa de desemprego, bem como a apresentação de soluções para quem está desempregado,

sobretudo em situação de longa duração; valorizar salários e direitos sociais e laborais, prosseguindo o

aumento do salário mínimo nacional, combatendo a precariedade e valorizando a ação coletiva dos

trabalhadores e as suas carreiras; reforçar o combate à pobreza, estudando as pensões não contributivas e a

estrutura da proteção social; realizar uma valorização real das pensões e reformas, particularmente das mais

baixas; reformar o sistema fiscal para ser mais justo e amigo de quem vive dos rendimentos do seu trabalho,

atacar a desigualdade e eliminar os alçapões que favorecem a fuga consentida ao fisco; avaliar os custos

energéticos e a incidência junto das famílias, para podermos reduzir estes custos; aprofundar a política de

habitação, protegendo esse direito constitucional; responder às necessidades e anseios das pessoas com

deficiência, combatendo a pobreza e a exclusão a que estão sujeitas, assegurando o cumprimento dos direitos

inscritos na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência; combater as desigualdades territoriais,

nomeadamente retirando as restrições impostas pela existência de portagens nas vias fundamentais de muitos

distritos, aprovando e alargando propostas similares à que o Bloco de Esquerda fez no âmbito do processo de

especialidade de eliminação das portagens na A22, que infelizmente não foi aprovada; responder às restrições

que a dívida pública coloca no orçamento nacional, para libertarmos recursos para o investimento público

criador de emprego, e garantir que não deixamos para trás aqueles a quem o desemprego bateu à porta e que

não têm qualquer apoio social.

A larga maioria destas preocupações estão englobadas no mandato dos diversos grupos de trabalho em

curso entre o Bloco de Esquerda, o PS e o Governo. É importante dar sequência a essa elaboração conjunta,

a tempo de produzir soluções para implementar no Orçamento do Estado para 2017. É esse o nosso

compromisso.

As Deputadas e os Deputados do Bloco de Esquerda.

_____

Duas razões principais fundamentam o voto a favor do PCP no Orçamento do Estado para 2016: pelo que

ele contém de avanço no sentido da devolução de direitos, remunerações e rendimentos; pelos sinais de

inversão que ele assume quanto ao rumo de exploração, empobrecimento e liquidação de direitos que mais

intensamente marcaram, nos últimos anos, a política económica e social do País.

Como afirmámos, o Orçamento do Estado transporta as limitações e insuficiências inerentes a opções do

Governo do PS. Não dá resposta sólida e determinada ao que a situação do País exigiria face ao rumo

imposto por décadas de política de direita e em particular pelo chamado Programa de Assistência Económica

e Financeira. Mas nem por isso se pode desvalorizar o significado e importância que a sua aprovação

representa.

O Orçamento do Estado para 2016 dá expressão ao grau de convergência da posição conjunta do PS e do

PCP para solução política.

A avaliação do Orçamento do Estado é inseparável de dois elementos aí refletidos. Por um lado, o de uma

assumida diferença programática reconhecida no próprio texto da posição conjunta, quando refere «a natureza

distinta dos programas dos dois partidos e as diferenças de pressupostos com que observam e enquadram

aspetos estruturantes da situação do País» e, por outro, o de, independentemente destas diferenças, ele

corresponder, como consta daquela posição, «à indispensável devolução de salários, pensões e direitos; à

inadiável inversão da degradação das condições de vida do povo português bem como das funções sociais

com a garantia de provisões pelo Estado de serviços públicos universais e de qualidade; e à inversão do

caminho de declínio, injustiças, exploração e empobrecimento acentuado nos últimos anos.»

O Orçamento do Estado para 2016 reflete o conjunto de medidas já assumidas anteriormente quer quanto

à eliminação dos cortes e à inerente reposição de salários dos trabalhadores da Administração Pública, à

eliminação progressiva da sobretaxa do IRS, ao aumento do salário mínimo nacional e à majoração de

prestações sociais, designadamente o abono de família, o complemento solidário para idosos ou o rendimento

social de inserção.

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O Orçamento do Estado para 2016 dá concretização, com grau e alcance diversos, a alterações de sentido

positivo no IRS, que eliminam o quociente familiar e repõem a dedução fixa por descendente; repõem o

pagamento dos complementos de reforma aos trabalhadores do sector empresarial do Estado; repõem a

cláusula de salvaguarda do IMI; confirmam o direito ao transporte dos trabalhadores, designadamente dos

ferroviários; reduzem o valor das taxas moderadoras e ampliam as isenções; reduzem o IVA na restauração;

procedem ao descongelamento das pensões de reforma; eliminam as restrições de contratação na

administração local; possibilitam a contratação no sector empresarial do Estado; eliminam restrições à

autonomia do poder local.

O Orçamento do Estado para 2016 acolhe a contribuição dada pelo PCP no trabalho de especialidade,

designadamente nas propostas aprovadas que introduzem a progressiva gratuitidade dos manuais escolares;

garantem o apoio extraordinário a desempregados de longa duração; visam a alteração do cálculo das

contribuições dos trabalhadores independentes; permitem o recrutamento de trabalhadores por parte das

instituições do ensino superior público; prorrogam a atividade das amas familiares, reduzem a taxa máxima de

IMI; visam o apoio preferencial à agricultura familiar e pesca tradicional; isentam de ISV os veículos de

proteção e de socorro; garantem o não aumento da propina máxima e mínima nas instituições do ensino

superior público e repõem as condições de aposentação dos trabalhadores dos matadouros dos Açores.

A posição assumida pelo PCP de aprovação do Orçamento do Estado não se confina ao que ele consagra

e o diferencia para melhor. Traduz também o que ele evita e impede se PSD e CDS tivessem tido

oportunidade de prosseguir e intensificar no governo a sua política. Uma atitude não determinada apenas por

uma avaliação ou posicionamento em função dos promotores mas, sim, pela natureza e conteúdos da política

concreta que em cada momento é promovida.

Não iludimos as insuficiências do atual Orçamento do Estado. Reafirmámos a necessidade de ir mais longe

no caminho de inversão da política de direita. Sublinhámos com convicção que o percurso de avanço num

sentido de atingir os objetivos inscritos na posição conjunta enfrenta dificuldades e obstáculos. Conhecerá a

resistência dos sectores políticos, económicos e financeiros que, no plano nacional, veem questionados ou

beliscados, por pouco que seja, os seus objetivos e projetos. Enfrentará a pressão e a chantagem da União

Europeia e de outras entidades externas que não toleram a decisão soberana de adotar políticas ou medidas

que se afastem das políticas que têm imposto aos povos e aos Estados em benefício do capital transnacional

e dos interesses diretos do diretório de potências que comanda o processo de integração capitalista.

Conhecerá as hesitações decorrentes das opções do PS de não assumir o confronto com os constrangimentos

externos e os interesses do capital monopolista.

São estas as limitações que não permitiram dar resposta mais sólida e determinada a problemas

económicos e sociais inadiáveis.

Em aspetos e matéria de relevância, o Orçamento do Estado reflete os condicionamentos impostos por um

valor para o défice e por metas de redução do défice estrutural incompatíveis com um sustentado

desenvolvimento económico e social, a que se adiciona o cerceamento decorrente de uma dívida insustentável

e de juros e encargos anuais incomportáveis. É isso que deixa o Orçamento do Estado sem dar a devida

resposta ao nível do investimento público, que está na base dos escassos meios disponíveis para um

aproveitamento integral dos fundos destinados ao País no atual quadro comunitário de apoio, que justifica a

ausência de meios para o reforço e valorização da produção nacional.

O Orçamento do Estado para 2016 não deu, ao nível do que devia ter dado, resposta a questões e

sectores importantes. Não deu, como o PCP propôs com o aumento extraordinário de 10 euros, resposta ao

necessário aumento do valor real das pensões de reforma, permitindo outra amplitude e alcance ao

descongelamento de pensões. Não deu, como o PCP propôs por via da redução do montante mínimo do

pagamento especial por conta, o apoio e estímulo devido a milhares de micro, pequenas e médias empresas.

Não deu, como o PCP propôs com o objetivo de eliminar as restrições impostas a direitos e remunerações na

administração pública, resposta a aspirações e interesses destes trabalhadores, designadamente face à

desvalorização das suas remunerações decorrente de anos de congelamento de progressões, redução do

valor do subsídio de refeição e do valor do trabalho extraordinário e noturno. Não deu resposta, como o PCP

propôs para dar cumprimento à Lei de Finanças Locais, ao acentuado subfinanciamento das autarquias locais.

Mesmo no quadro das limitações externas, poder-se-ia ter ido mais longe se PS e Governo tivessem

assumido o afrontamento dos interesses do grande capital.

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O PCP não se limitou a propor medidas inadiáveis de alcance económico e social. Avançou soluções no

domínio da redução da despesa e do aumento das receitas que, a terem sido aprovadas, não só viabilizariam

aquelas medidas como introduziriam mais justiça fiscal. Foi isso que procurámos com a reversão ou

renegociação das parcerias público-privadas, o aumento da contribuição extraordinária sobre o sector

energético, o aumento da derrama estadual para empresas com volume de negócios superiores a 35 milhões

de euros, a criação de um imposto sobre o património mobiliário superior a um milhão de euros. Medidas e

opções que, tendo agora sido rejeitadas, se afiguram cruciais para assegurar os meios financeiros

indispensáveis para dar corpo a uma política que consolide os avanços agora conseguidos e dê novos passos

na devolução de direitos, remunerações e rendimentos. Medidas e opções que encarem na perspetiva certa a

questão de uma política fiscal mais justa, não cedendo ao ardiloso discurso de «carga fiscal» em abstrato, que

visa manter uma forte tributação sobre os rendimentos do trabalho, facilitar o recurso a impostos indiretos e

deixar intocados os grandes lucros, transações financeiras, dividendos e património mobiliário.

Procurámos, no trabalho da especialidade, remover disposições negativas e encontrar respostas de sentido

positivo, mesmo quando elas, não resolvendo, como deviam, já em 2016 limitações ou imposições indevidas,

abriram perspetiva de terem no Orçamento do Estado para 2017 novos avanços. Foi assim com o

descongelamento do IAS previsto para o próximo ano, com a retenção de verbas das autarquias para financiar

a DGAL, que conhecerá revisão durante o atual ano, e com a progressiva eliminação inscrita como objetivo a

partir de 2017 do conjunto de disposições restritivas do regime jurídico de trabalho em funções públicas.

A aprovação pelo PCP do Orçamento do Estado para 2016 corresponde a um posicionamento assumido no

interesse dos trabalhadores e do povo, dos seus direitos e da sua aspiração a uma vida melhor.

Posicionamento que convictamente assumimos em coerência com o contributo que demos e continuaremos a

dar na nova fase da vida política nacional, certos de que a perspetiva e a possibilidade de dar resposta mais

consistente às aspirações e interesses do nosso povo reside na insubstituível intervenção e luta dos

trabalhadores e do povo.

Não prescindindo de aproveitar todas as oportunidades para contribuir para a defesa dos direitos e para a

elevação das condições de vida dos trabalhadores e do povo, o PCP prosseguirá a sua intervenção para

afirmar a política patriótica e de esquerda como fator e condição crucial para uma rutura definitiva com a

política de direita e para assegurar o desenvolvimento soberano e independente a que Portugal tem direito.

Os Deputados do PCP, João Oliveira — Paulo Sá.

_____

Relativas à proposta de lei n.º 11/XIII (1.ª):

O Bloco de Esquerda votou favoravelmente a proposta de lei n.º 11/XIII (1.ª), que aprova as Grandes

Opções do Plano para 2016-2019, em votação final global. Depois dos trabalhos de especialidade desta lei,

podemos afirmar que o texto final demonstra como a Assembleia da República cumpriu o seu papel: o texto

aprovado é melhor do que aquele que tinha dado entrada na AR. A lei aprovada cumpre o acordo que havia

sido assinado entre PS e Bloco de Esquerda, o que prova como é consequente esta forma de estar na política.

O debate orçamental foi dos mais escrutinados e negociados da nossa recente história democrática. Neste

novo momento político, a legítima diversidade representativa do Parlamento foi valorizada e as pessoas

saíram a ganhar.

As Grandes Opções do Plano para 2016-2109, a par do Orçamento de Estado para 2016 constituem um

passo fundamental para a afirmação do novo momento político. É um Orçamento que vira a página do

caminho de empobrecimento do País e respeita os preceitos constitucionais. Incorpora já as decisões de

aumento do salário mínimo nacional e as 35 horas de trabalho semanal na Administração Pública, escolhas

pela valorização dos rendimentos do trabalho, respeito por quem trabalhou uma vida inteira e agora deixa de

ter a pensão ou a reforma cortada para passar a ser atualizada. Reafirma a devolução dos rendimentos do

trabalho com a eliminação dos cortes nos salários e a redução progressiva da sobretaxa de IRS.

No debate parlamentar, o Bloco de Esquerda conseguiu aprofundar as escolhas já iniciadas no combate à

pobreza e às desigualdades com o reforço do complemento solidário para idosos e para os primeiros escalões

do abono de família; a atualização do abono de família para dependentes com deficiência; melhorias para um

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regime contributivo mais justo para os trabalhadores a recibos verdes; mais equidade no IMI, evitando que o

filho de um rico valha mais do que o filho de um pobre. São alguns exemplos do que foi alcançado.

Não menos importante é o acesso a bens essenciais como a eletricidade e o gás, facilitado com a

automatização do acesso à tarifa social de energia, medida que baixará os custos com energia a um milhão de

famílias. Valorizamos estas conquistas.

O caminho traçado é muito diferente daquele que foi proposto por PSD e CDS. Desde o contínuo ataque à

Constituição da República Portuguesa, cortes nos salários e nas pensões, cortes nos serviços públicos

essenciais e favorecimento dos privados nestas áreas, exclusão de idosos do CSI ou de dezenas de milhares

de crianças do RSI, o caminho da direita era o oposto daquele que foi aprovado.

Mas, tendo votado favoravelmente esta proposta de lei pelas escolhas que faz, sabemos que ainda fica

muito por fazer. Depois de quatro anos de destruição da riqueza do País, os desafios que temos pela frente

são imensos. É necessário pensar, aplicar e financiar propostas para a existência de justiça na economia,

valorizar salários, direitos sociais e a criação de emprego digno, promover a justa distribuição da riqueza,

reforçar a qualidade dos serviços públicos e garantir a universalidade dos direitos constitucionais.

Consideramos essencial: reforçar o investimento público para a criação urgente de emprego e responder à

enorme taxa de desemprego, bem como a apresentação de soluções para quem está desempregado,

sobretudo em situação de longa duração; valorizar salários e direitos sociais e laborais, prosseguindo o

aumento do salário mínimo nacional, combatendo a precariedade e valorizando a ação coletiva dos

trabalhadores e as suas carreiras; reforçar o combate à pobreza, estudando as pensões não contributivas e a

estrutura da proteção social; realizar uma valorização real das pensões e reformas, particularmente das mais

baixas; reformar o sistema fiscal para ser mais justo e amigo de quem vive dos rendimentos do seu trabalho,

atacar a desigualdade e eliminar os alçapões que favorecem a fuga consentida ao fisco; avaliar os custos

energéticos e a incidência junto das famílias, para podermos reduzir estes custos; aprofundar a política de

habitação, protegendo esse direito constitucional; responder às necessidades e anseios das pessoas com

deficiência, combatendo a pobreza e a exclusão a que estão sujeitas, assegurando o cumprimento dos direitos

inscritos na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência; combater as desigualdades territoriais,

nomeadamente retirando as restrições impostas pela existência de portagens nas vias fundamentais de muitos

distritos, aprovando e alargando propostas similares à que o Bloco de Esquerda fez no âmbito do processo de

especialidade de eliminação das portagens na A22, que infelizmente não foi aprovada; responder às restrições

que a dívida pública coloca no orçamento nacional, para libertarmos recursos para o investimento público

criador de emprego, e garantir que não deixamos para trás aqueles a quem o desemprego bateu à porta e que

não têm qualquer apoio social.

A larga maioria destas preocupações estão englobadas no mandato dos diversos grupos de trabalho em

curso entre o Bloco de Esquerda, o PS e o Governo. É importante dar sequência a essa elaboração conjunta,

a tempo de produzir soluções para implementar no Orçamento do Estado para 2017. É esse o nosso

compromisso.

As Deputadas e os Deputados do Bloco de Esquerda.

_____

As Grandes Opções do Plano (GOP) e o Orçamento do Estado (OE) constituem peças de iniludível

importância para o conjunto de políticas económicas e sociais levadas a cabo no País. O posicionamento do

PCP face a estes dois documentos em 2016 tem em linha de conta não só o conjunto de medidas e

disposições positivas que foram inscritas visando a recuperação de direitos e de rendimentos que foram

roubados nos últimos anos mas também tudo quanto foi impedido pela importante derrota que foi imposta ao

Governo PSD/CDS e para a qual o PCP deu um importante contributo.

As GOP sujeitas à apreciação da Assembleia da República são da responsabilidade do Governo PS, e por

isso mesmo amarradas às opções políticas dos seus autores que não correspondem ao que se exigiria de

rutura com a política de direita. As GOP não traduzem, a nosso ver, as grandes prioridades que se impunham

face a um tão profundo processo de degradação da situação do País provocado por décadas de política de

direita, pelo processo de submissão às imposições da União Europeia e por uma crise estrutural que atinge

Portugal e o mundo. As GOP transportam consigo as limitações de um assumido não questionamento do

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garrote de uma dívida pública insustentável, da não inversão da política de favorecimento dos grupos

monopolistas, da aceitação das imposições decorrentes da União Económica e Monetária e de outros

mecanismos da União Europeia, de um posicionamento internacional do País — sobretudo em matéria de

defesa — ainda submetido aos ditames das grandes potências e da NATO.

São, no entanto, umas GOP diferentes, para melhor, das dos anos anteriores, quer por aquilo que não

inscrevem quer, sobretudo, por aquilo que não impedem. E não impedem que se possa avançar, em sede de

OE, em matérias tão diversas como a reposição dos rendimentos cortados aos trabalhadores e ao povo, o

descongelamento de pensões, o aumento dos valores de prestações sociais, o alargamento das possibilidades

de contratação de trabalhadores na Administração Pública, a reposição do horário semanal de trabalho de 35

horas, a interrupção de privatizações e concessões, a defesa da autonomia do poder local, a redução de taxas

moderadoras, a contratação de médicos e outros profissionais de saúde, a valorização da escola pública e a

introdução da gratuitidade dos manuais escolares, o avanço, ainda que tímido, na tributação mais adequada

dos grupos económicos.

As GOP não impedem, apesar das suas evidentes limitações, que se confirmem as possibilidades abertas

pela nova correlação de forças na Assembleia da República para devolver esperança de uma vida melhor ao

povo português e que o PCP não desperdiçará.

Os Deputados do PCP, João Oliveira — Paulo Sá.

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Relativa ao voto n.º 44/XIII (1.ª):

Não obstante a sua associação ao presente voto, não pode o Grupo Parlamentar do PCP deixar de

salientar que o texto apresentado pelo Grupo Parlamentar do BE não aborda aspetos que o PCP considera

essenciais para a compreensão da grave situação de milhões de refugiados e migrantes — como são as

causas e primeiros responsáveis por esta dramática situação — e, logo, para o apontar de importantes

medidas que se impõem.

Desde logo, o texto apresentado não denuncia a profunda responsabilidade da União Europeia na

dramática situação em que se encontram milhões de refugiados, assim como omite o carácter desumano da

política e decisões que têm sido adotadas por esta relativamente àqueles.

O texto omite a responsabilidade e conivência da União Europeia com as brutais agressões a Estados

soberanos no Norte de África, no Médio Oriente e na Ásia Central, que causaram a morte e a destruição,

originando milhões de deslocados e refugiados que vivem nas mais difíceis condições.

Por fim, o texto não aponta as insuficientes ou, mesmo, a grave ausência de medidas adequadas da União

Europeia de resposta às necessidades prementes de milhares de refugiados — crianças, mulheres e homens.

O texto não menciona as medidas adotadas no quadro da União Europeia que, visando a criminalização e

expulsão dos refugiados, promovem uma agenda xenófoba e a «Europa fortaleza», de que é ignóbil exemplo o

acordo entre a União Europeia e a Turquia — em discussão na Cimeira UE-Turquia, que se realizará nos

próximos dias.

Este acordo em discussão entre a União Europeia e a Turquia demonstra até que ponto vai a hipocrisia da

UE e a ausência de elementares valores de respeito pelos direitos humanos, acenando com «contrapartidas»

para o seu papel de Estado tampão face aos refugiados.

O texto não aborda a presença da NATO no mar Egeu, apoiada pela União Europeia — com a qual a

agência FRONTEX se deve coordenar numa linha de submissão à lógica e modusoperandi da NATO — que

constitui uma resposta militarista de intimidação e afrontamento aos que fogem da guerra.

Entende o PCP que a política seguida pela União Europeia face aos refugiados — e que tem alimentado o

crescimento de forças de extrema-direita em vários países — merece uma clara denuncia e condenação em

toda a sua plenitude e não o desfocar das responsabilidades desta como o voto apresentado fez.

O drama humanitário exige medidas imediatas e no terreno. Exige uma inversão na política da União

Europeia que responda de facto ao drama dos refugiados de guerra e outros migrantes que fogem da miséria,

da doença e da fome.

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Uma resposta que passa necessariamente pelo fim das políticas de ingerência e agressão que a União

Europeia, com os EUA e a NATO têm levado a cabo e pelo respeito da soberania e a independência dos

Estados, do direito dos povos à autodeterminação e ao desenvolvimento.

Os Deputados do PCP, Carla Cruz — João Oliveira.

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Relativa ao voto n.º 46/XIII (1.ª):

O Grupo Parlamentar do PCP absteve-se no voto apresentado pelo Grupo Parlamentar do PS por entender

que há aspetos contidos quer no preâmbulo, quer na parte resolutiva que divergem do entendimento que o

PCP tem quanto às causas e principais responsáveis pela dramática situação dos refugiados e dos migrantes

e, logo, quanto às medidas prementes que se impõem.

O texto apresentado, preocupando-se com a salvaguarda do denominado «projeto da integração europeia»

e do seu denominado «Espaço Shengen», ilude um aspeto central para compreender o drama de milhões de

deslocados e refugiados, ou seja, o papel e responsabilidade da União Europeia no eclodir desta situação,

responsabilidade que decorre das opções políticas de apoio à desestabilização e agressão a Estados

soberanos no Médio Oriente, no Norte de África e na Ásia Central.

Não obstante o texto apresentado fazer a referência ao «despontar de medidas xenófobas, nacionalistas»

situa-as apenas em «vários Estados membros» negligenciando a responsabilidade das políticas da União

Europeia na promoção da xenofobia e no crescimento das forças de extrema-direita em diversos países.

O texto postula que «as respostas [a ser encontradas devem ser] respeitadoras dos valores em que se

fundou o projeto europeu». Ora, as medidas já conhecidas da União Europeia e aquelas que, previsivelmente,

serão fechadas no Conselho Europeu de Março demonstram à saciedade, e mais uma vez, a natureza

profundamente desumana da UE.

No tocante à parte resolutiva, o PCP saudando os sinais positivos que o Governo português tem dado na

resposta ao drama humanitário, entende que será inaceitável que o Governo português dê cobertura à política

da UE relativamente aos refugiados, nomeadamente e entre outros exemplos, ao acordo entre a União

Europeia e a Turquia — que contém inadmissíveis medidas que a própria ONU já questionou —, à missão da

NATO no mar Egeu, em cooperação com a EU, ou à criação da Guarda Costeira Europeia.

O drama humanitário exige medidas imediatas e no terreno. Exige uma inversão na política da União

Europeia que responda de facto ao drama dos refugiados de guerra e outros migrantes que fogem da miséria,

da doença e da fome.

Uma resposta que passa necessariamente pelo fim das políticas de ingerência e agressão que a União

Europeia, com os EUA e a NATO têm levado a cabo e pelo respeito da soberania e a independência dos

Estados, do direito dos povos à autodeterminação e ao desenvolvimento.

Os Deputados do PCP, Carla Cruz — João Oliveira.

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Presenças e faltas dos Deputados à reunião plenária.

A DIVISÃO DE REDAÇÃO E APOIO AUDIOVISUAL.

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