30 DE ABRIL DE 2016
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O Sr. Presidente: — Sr.as e Srs. Deputados, Sr.as e Srs. Funcionários, Sr.as e Srs. Jornalistas, está aberta a
sessão.
Eram 10 horas e 3 minutos.
Peço aos Srs. Agentes da autoridade o favor de abrirem as galerias.
Srs. Deputados, a nossa ordem do dia contempla um ponto fundamental, que é o debate temático, requerido
pelo PCP, ao abrigo do artigo 73.º do Regimento, sobre o sistema financeiro e controlo público da banca,
seguindo-se o projeto de lei n.º 183/XIII (1.ª) — Regula o acesso à gestação de substituição nos casos de
ausência de útero, de lesão ou de doença deste órgão que impeça de forma absoluta e definitiva a gravidez,
procedendo à segunda alteração à lei n.º 32/2006, de 26 de julho, alterada pela lei n.º 59/2007, de 4 de setembro
(BE), ao qual não estão atribuídos tempos para debate.
Vamos, então, começar com o debate requerido pelo PCP.
Para abrir o debate, tem a palavra o Sr. Deputado Miguel Tiago.
O Sr. MiguelTiago (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O sistema financeiro nacional transporta
hoje um lastro que é o resultado de décadas de política de concessão de crédito sem garantias e sem avaliação
de risco e de práticas mais ou menos lícitas de circulação de capitais, de fuga fiscal e de distribuição de
dividendos que nunca deveriam ter sido distribuídos.
A forma como os donos dos bancos puderam gerir a poupança dos portugueses e os recursos financeiros
do País desde a reprivatização da banca colocou nas mãos de um reduzido número de grupos económicos o
acesso ao endividamento sem custos para os próprios, mas à custa dos portugueses.
A nacionalização da banca, em 1975, ao contrário do que se diz, foi um importante instrumento para garantir
o financiamento à economia numa altura em que o grande patronato fugia do País e abandonava a produção,
mas foi também um importante momento para a banca nacional. O BES, por exemplo, mais do que duplicou os
ativos do seu balanço durante o período em que foi estritamente público e em nenhum outro momento os
trabalhadores do sector viram melhorar de forma tão significativa as suas condições de trabalho.
A entrega da banca às mãos dos grandes acionistas colocou uma alavanca fundamental da economia ao
serviço da acumulação do lucro e dos caprichos de uma classe dominante que tem apenas um horizonte: ser
mais rica e ter ainda mais domínio.
Tomando como exemplo novamente o BES, entre 1992 e 2008, os principais acionistas retiraram mais de
4000 milhões de euros em dividendos e não é possível saber exatamente quantos mais milhões terão levado
de outras formas mais ou menos lícitas, mais ou menos legais.
O resultado foi um Banco que deixou um buraco de 4900 milhões de euros nas contas dos portugueses. Ou
seja, os acionistas levaram o que havia e o que não havia. O mesmo se passou no BANIF e em muitos bancos
descapitalizados por opções dos seus grandes acionistas.
A banca nacionalizada cresceu e financiou a economia, a sua privatização iniciou um ciclo de assaltos aos
bancos, assaltos perpetrados pelos próprios proprietários desses bancos — é grande o contraste! —, e tudo isto
sob o olhar do Banco de Portugal, que não evitou um só desses assaltos.
O Banco de Portugal não se limita a não fazer nada. É, afinal de contas, um agente publicitário da banca.
Diz-nos que podemos confiar as nossas poupanças às mãos dos banqueiros, enquanto estes as utilizam na
especulação financeira e na concessão de crédito às suas próprias empresas e às dos amigos, muitas vezes
sem nenhuma segurança de retorno.
Ao mesmo tempo, o Banco de Portugal esconde, dissimula, silencia os problemas, legitima a especulação e,
para fingir que faz alguma coisa, escreve, de vez em quando, umas cartas aos banqueiros com algumas
recomendações. No final, passa a conta aos portugueses, que a pagam por opção dos governos.
Aplausos do PCP.
A conta, neste momento, já está próxima dos 20 000 milhões de euros, desde 2008 até aos dias de hoje,
excluindo garantias públicas.