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I SÉRIE — NÚMERO 77

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de prestígio e respeitabilidade, apesar de, numa opção perfeitamente egoísta e prejudicial para o País,

manterem sedes fiscais na Holanda ou no Luxemburgo.

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — É verdade!

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — E valerá a pena recordar aqui um momento memorável da Comissão de

Inquérito ao BES.

Luís Horta e Costa tinha sido chamado para falar como administrador da Escom, que, para quem não se

lembra, era a empresa do GES em Angola, e resolveu, sem advogados e voluntariamente, explicar o destino da

comissão de 16,5 milhões, paga pelo consórcio alemão na compra dos submarinos ao Estado português. Do

dinheiro distribuído aos membros do Conselho Superior do BES sobravam 6 milhões, e desconfiava-se que

tinham terminado a pagar a compra de decisores políticos. Quando Horta e Costa esclareceu, ouviu-se na sala

um suspiro de alívio: afinal, o dinheiro não tinha sido para comprar políticos, nem para corrupção, apenas para

montar um esquema de fuga aos impostos. Para isso, disse ainda Horta e Costa com desplante, fizeram uso de

uma lei aprovada na Assembleia da República — o regime excecional de regularização fiscal. Só desde 2010,

houve, em Portugal, três destas amnistias fiscais, que permitiram lavar, legalmente, 6000 milhões de euros. E

tudo isto, Sr.as e Srs. Deputados, é considerado banal no mundo em que vivemos.

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Uma vergonha!

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — O orgulho e a desfaçatez com que Horta e Costa relatou a forma como

fugiu ao fisco é equiparável às declarações do dono da Google a comentar o facto de a empresa usar as

Bermudas para reduzir ao mínimo a sua fatura fiscal na Europa. E cito: «estamos muito orgulhosos da estrutura

que montámos (…) chama-se capitalismo». É caso para perguntar: O dono da Google é um empreendedor ou

um criminoso? Serão estas operações simples otimização fiscal ou clara fuga aos impostos? Não sabemos, mas

estamos certos de uma coisa: a tudo isto chama-se «capitalismo».

Aplausos do BE.

Protestos do Deputado do CDS-PP João Pinho de Almeida.

Sr.as e Srs. Deputados, não deixemos que os gritos dos Srs. Deputados do CDS nas bancadas ou estes

relatos nos desviem do elenco das desculpas para a inação política.

Protestos do CDS-PP.

Para além do argumento moral e da banalização do abuso, existe ainda um terceiro argumento: a impotência.

Somos sempre demasiado pequenos e insignificantes para mudarmos, de facto, «sozinhos», acrescenta-se

normalmente alguma coisa. Fácil é compreender que deixar este assunto à espera de condições de coordenação

internacional é a melhor garantia de que esse assunto nunca será resolvido.

Portugal não será parte da solução se mantiver a atitude hipócrita de dizer que está disponível para ser parte

da solução, mas só quando todos os outros também estiverem. Contribuiremos, sim, para a solução quando

esgotarmos todo o potencial que a nossa lei concede para combater estas práticas. E há, para já, duas coisas

a fazer.

Em primeiro lugar, é preciso blindar a lei contra o abuso e impor transparência. É nesse sentido que vão

algumas das propostas que o Bloco de Esquerda traz a este debate, como a eliminação dos títulos ao portador,

a obrigatoriedade de divulgação das transferências para offshore, ou a criação de regras muitíssimo mais

exigentes quanto a cláusulas utilizadas no planeamento fiscal das grandes empresas. É verdade que não

podemos impedir a existência de offshore fora do nosso território, mas podemos dificultar, e muito, a sua

utilização.

É urgente, em segundo lugar, dar o exemplo. E dar o exemplo é assegurar que temos um Estado livre de

offshore. Dar o exemplo é garantir que não há dinheiro a sair de Portugal para offshore que integram a lista

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