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Terça-feira, 30 de outubro de 2018 I Série — Número 18

XIII LEGISLATURA 4.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2018-2019)

REUNIÃOPLENÁRIADE29DEOUTUBRODE 2018

Presidente: Ex.mo Sr. Eduardo Luís Barreto Ferro Rodrigues

Secretários: Ex.mos Srs. Duarte Rogério Matos Ventura Pacheco Idália Maria Marques Salvador Serrão António Carlos Bivar Branco de Penha Monteiro Sandra Maria Pereira Pontedeira

S U M Á R I O

O Presidente declarou aberta a sessão às 15 horas e 5

minutos. Na abertura do debate conjunto, na generalidade, das

Propostas de Lei n.os 155/XIII/4.ª (GOV) — Aprova as Grandes Opções do Plano para 2019 e 156/XIII/4.ª (GOV) — Aprova o Orçamento do Estado para 2019, usou da palavra o Ministro das Finanças (Mário Centeno), que respondeu depois a pedidos de esclarecimento dos Deputados Adão Silva (PSD), João Paulo Correia (PS), Mariana Mortágua (BE), Assunção Cristas (CDS-PP), João Oliveira (PCP), José Luís Ferreira (Os Verdes), André Silva (PAN), António Leitão Amaro (PSD), Fernando Rocha Andrade (PS), Jorge Costa (BE), Pedro Mota Soares (CDS-PP), Duarte Pacheco (PSD), Paulo Sá (PCP), Lara Martinho (PS), João Pinho de Almeida (CDS-PP), Rita Rato (PCP), Margarida Mano (PSD), António

Sales (PS), Isabel Galriça Neto (CDS-PP), Ana Mesquita (PCP) e Inês Domingos, Sara Madruga da Costa, António Ventura, Jorge Paulo Oliveira e Berta Cabral (PSD).

Usaram da palavra durante o debate, a diverso título, os Deputados Hugo Lopes Soares (PSD), Joana Mortágua (BE), Jamila Madeira e Carlos Pereira (PS), Rubina Berardo (PSD), José Manuel Pureza (BE), Carlos Silva (PSD), Telmo Correia (CDS-PP), Isabel Santos (PS), Paulo Sá (PCP), Cristóvão Crespo (PSD), Heloísa Apolónia (Os Verdes) e Maria Luís Albuquerque (PSD).

Deu-se conta da entrada na Mesa do Projeto de Lei n.º 1025/XIII/4.ª e dos Projetos de Resolução n.os 1866 a 1869/XIII/4.ª.

O Presidente encerrou a sessão eram 20 horas e 28 minutos.

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O Sr. Presidente: — Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs.

Funcionários, Sr.as e Srs. Jornalistas, declaro aberta a sessão.

Eram 15 horas e 5 minutos.

Peço aos Srs. Agentes da autoridade o favor de abrirem as galerias.

Vamos dar início à nossa ordem do dia, que tem um único ponto, a apreciação, na generalidade, das

Propostas de Lei n.º 155/XIII/4.ª (GOV) — Aprova as Grandes Opções do Plano para 2019 e 156/XIII/4.ª (GOV)

— Aprova o Orçamento do Estado para 2019.

Vamos procurar ter uma direção de Mesa o mais flexível possível.

Para apresentar as duas propostas de lei em nome do Governo, tem a palavra o Sr. Ministro das Finanças

Mário Centeno.

Faça favor, Sr. Ministro.

O Sr. Ministro das Finanças (Mário Centeno): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Sr.as e Srs. Ministros,

Sr.as e Srs. Deputados: O Governo apresenta hoje, perante o Plenário da Assembleia da República, o quarto

Orçamento do Estado da XIII Legislatura.

É o quarto Orçamento e é apresentado na 4.ª Sessão Legislativa. Sim, Srs. Deputados, um orçamento por

ano.

Aplausos do PS.

Portugal virou, também, a página dos orçamentos retificativos.

Portugal tem hoje uma situação económica, orçamental e financeira bem distinta daquela que existia em

2015. Hoje podemos afirmar que Portugal está melhor; por isso, também os portugueses estão melhor.

Aplausos do PS.

Ao longo da Legislatura, a riqueza do País cresceu 16%. Produzimos mais. O rendimento das famílias

cresceu 18%. Distribuímos mais. O emprego cresceu. São mais 380 000 postos de trabalho, 80% dos quais

permanentes e com melhores salários. Trabalhamos mais e, por isso, ganhamos mais.

Aplausos do PS.

Os portugueses, hoje, podem acreditar. Os portugueses, hoje, podem confiar no seu País e na possibilidade

de, aqui, construírem o seu futuro e o dos seus filhos sem serem forçados a emigrar. Os portugueses, hoje,

podem sonhar com um futuro para Portugal.

Governar implica fazer escolhas, escolhas entre alternativas. E há sempre alternativas.

Em abril de 2015, apresentámos o documento intitulado Uma década para Portugal. Apresentámos as nossas

ideias, a nossa visão para o aumento do potencial de crescimento da economia. Foi essa visão, plasmada no

Programa do XXI Governo, que serviu de linha condutora para a política orçamental que seguimos, sem

hesitações ou recuos. Os sucessivos orçamentos — de 2016, 2017 e 2018 — deram corpo a essa política,

sempre feita de escolhas.

Escolhemos a recuperação de rendimentos, a valorização do Serviço Nacional de Saúde, um mercado de

trabalho mais justo e mais eficiente e um sistema fiscal que promove a criação de emprego e o investimento em

capital humano.

Escolhemos um sistema educativo global, a valorização da Administração Pública e dos seus trabalhadores,

o investimento, a inovação e internacionalização das empresas portuguesas e a estabilização do sistema

financeiro.

A proposta de Orçamento que hoje apresentamos ao Parlamento e aos portugueses dá continuidade ao

processo que iniciámos no final de 2015. O Orçamento de 2019 é histórico. É histórico não apenas pelos

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números que encerra mas porque, pela primeira vez na história da nossa democracia, um governo cumpriu

aquilo que se tinha proposto fazer no início da Legislatura.

Aplausos do PS.

Fê-lo sem vacilar e, digo-o, Sr.as e Srs. Deputados, sem euforias, sem triunfalismos ou eleitoralismos. É

histórico porque é responsável e porque traz as receitas e as despesas para um nível próximo do equilíbrio. O

défice vai ser 0,2% do PIB em 2019 — 0,2%!

Aplausos do PS.

Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, o Orçamento do Estado que o Governo entregou nesta Assembleia

da República no passado dia 15 prevê o saldo orçamental mais equilibrado de que há memória: um défice de

0,2% do PIB entre receitas e despesas. É uma estimativa, é certo, mas é a nossa estimativa.

Vozes do PSD: — Ah!…

O Sr. Ministro das Finanças: — Este défice historicamente baixo permite que Portugal, pela primeira vez,

tenha uma posição orçamental semelhante à da média dos seus parceiros europeus.

Contas públicas equilibradas dão a segurança aos portugueses de que o aumento de rendimentos dos

últimos três anos é sustentável, de que não se vai voltar atrás, ao tempo dos congelamentos e de aumentos de

impostos, e de que todos podemos continuar a ter confiança no futuro.

Aplausos do PS.

Mas vai ser fácil? Foi fácil aqui chegar? Os portugueses sabem que não. Dá muito trabalho ter sorte! A sorte

não é um acaso nem vive de facilitismos.

Aplausos do PS.

Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística mostram o resultado desse trabalho. São 19

trimestres consecutivos de crescimento económico. O País cresceu em todos os trimestres desta Legislatura e

é a primeira vez que isto acontece neste século.

Estamos a convergir com a área do euro e prevemos que, em 2019, o crescimento do PIB seja de 2,2%,

sustentado em investimento produtivo e no aumento das exportações, mas também suportado pelo aumento do

consumo privado, que traduz a recuperação sustentada do rendimento das famílias.

Sim, o consumo também faz parte do crescimento das economias e é ele que gera bem-estar nas famílias.

Sim, é esse o propósito do crescimento e da criação de emprego: gerar rendimento para que os portugueses

vivam melhor.

Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, a esperança dos portugueses no seu País mede-se também pelas

oportunidades de emprego que o País proporciona. A Legislatura anterior ficou fortemente marcada por níveis

de desemprego historicamente elevados. O anterior Governo promoveu, de forma efetiva e ativa, a emigração

de muitos portugueses.

Protestos de Deputados do PSD.

Hoje, temos menos desempregados e temos mais portugueses empregados. Em 2019, face a 2015, teremos

mais 380 000 empregos. A taxa de desemprego, que em 2015 era de 12,4%, será de 6,3% em 2019. Mas estes

números, que revelam só por si o desenvolvimento positivo do mercado de trabalho, juntam-se à redução da

precariedade, ao aumento do valor do salário por trabalhador e ao aumento da produtividade. Não só temos

menos desemprego e mais emprego como temos melhor emprego.

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Aplausos do PS.

Estes números não são do Governo, são dos portugueses. São uma expressão caracterizadora da economia

e da sociedade portuguesas, hoje.

A melhoria das condições de financiamento também não é obra do acaso. O financiamento da República

melhora porque o rácio da dívida pública no PIB se reduz. Entre 2016 e 2019, o rácio da dívida pública deverá

cair 12 pontos percentuais, para 118%.

A sustentabilidade da dívida pública e a redução continuada do seu peso na riqueza criada faz com que todas

as agências de rating coloquem hoje a dívida da República em grau de investimento.

Ao longo da Legislatura, reduzimos a despesa em juros em 1400 milhões de euros e esse valor é hoje

investido em saúde, em educação, em ciência e em cultura. Esse valor é hoje investido em Portugal!

Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, no quadro estratégico do Programa Nacional de Reformas, as opções

de investimento público procuram ultrapassar bloqueios estruturais e promover o desenvolvimento sustentável

da economia.

Assim, prevemos que o investimento público atinja 4800 milhões de euros em 2019. Pelo terceiro ano

consecutivo, registamos uma taxa de crescimento do investimento público acima de 10%.

Sim, o investimento público tem crescido ao longo da Legislatura. Em 2019, teremos um aumento de mais

700 milhões de euros em áreas como a saúde, os transportes, a educação, a ciência, a cultura e a habitação.

Este investimento é naturalmente estrutural, dá continuidade a um programa ambicioso de expansão da

capacidade produtiva do País e reforça as bases para um crescimento sustentável da economia. Parte

importante destes projetos traduz-se em investimento no setor dos transportes, nos corredores internacionais

da ferrovia, em obras significativas para expansão das linhas de metropolitano em Lisboa e no Porto, na compra

de material circulante para todos os serviços públicos de transporte, sejam eles autocarros, metropolitanos,

comboios ou barcos, mas também na construção de novos hospitais ou em investimentos essenciais para

prosseguir a renovação da rede escolar.

A justificação destes investimentos pode ser encontrada quer nas longas décadas em que não houve

investimento nestas áreas quer no retorno económico e social que se espera destes projetos.

Também aqui cumprimos. O investimento público tem de ser responsável e, por isso, é planeado e seletivo.

Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, em matéria fiscal, este Orçamento concretiza e consolida a devolução

de rendimentos às famílias e a estabilidade fiscal, mas incentiva também o investimento produtivo.

Volto a recordar um número que tenho vindo a repetir e que é bom que ninguém esqueça: 1000 milhões de

euros. Em 2019, os portugueses vão pagar menos 1000 milhões de euros em IRS do que pagariam em 2015.

Aplausos do PS.

Eu repito: menos 1000 milhões de euros! São 1000 milhões de euros que este Governo devolveu às famílias

portuguesas. É um enorme alívio fiscal.

Aplausos do PS.

Ao longo da Legislatura adotámos várias medidas que tornaram o IRS num imposto mais progressivo e

menos exigente no esforço fiscal das famílias. Um IRS mais progressivo significa um IRS mais justo.

Substituímos o quociente familiar, altamente regressivo, pela dedução fixa por dependente; eliminámos a

sobretaxa de IRS; aumentámos o número dos escalões do IRS, tornando o imposto mais progressivo, mais

justo; atualizámos o mínimo de existência, indexando-o ao indexante de apoios sociais e alargando-o aos

rendimentos da categoria B, pela primeira vez.

Ao longo da Legislatura, temos privilegiado o princípio segundo o qual o IRS deve ser um imposto ajustado

aos rendimentos de cada um. Na proposta de Orçamento do Estado para 2019, o Governo optou por atuar

seletivamente com medidas que tornam o imposto ainda mais justo.

Conforme já havia sido anunciado, temos uma medida dedicada àqueles que tiveram de sair do País em

busca de oportunidades, uma medida que permite excluir de tributação 50% dos rendimentos do trabalho

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auferidos por quem já tenha tido residência fiscal em Portugal mas que tenha saído do País por mais de três

anos e que deseje regressar até 2020.

Aplausos do PS.

Bem sabemos que não é apenas um incentivo fiscal que, só por si, determina o regresso a Portugal daqueles

que se viram obrigados a abandonar o País em busca de uma vida melhor. Esta é apenas uma das medidas do

Programa Regressar, a primeira de um conjunto de medidas que incentivará o seu regresso.

Portugal é hoje um país diferente do que era há 4 anos. Pela primeira vez, a consolidação orçamental é feita

num quadro de reposição de rendimentos às famílias portuguesas, com estabilidade fiscal para as empresas,

com uma política fiscal que potencia o crescimento económico e a competitividade do nosso tecido empresarial.

Portugal é hoje um país mais atrativo para o investimento e para o trabalho e em crescimento, com condições

para acolher de volta quem partiu. Por isso, Srs. Deputados, o Programa Regressar é uma mensagem muito

clara do Governo para todos os que partiram. Portugal está diferente, Portugal é hoje um país melhor.

Aplausos do PS.

Falemos agora das empresas. As empresas não financeiras portuguesas estão melhor. Em 2 anos apenas,

2016 e 2017, o volume de negócios aumentou 12% e o valor acrescentado bruto destas empresas aumentou

14%. E as empresas estão mais produtivas. A produtividade do trabalho cresceu 11% face a 2012 e, nestes dois

anos, cresceu 6%. A produtividade do trabalho aumenta em Portugal!

Mas as empresas portuguesas estão também financeiramente mais resistentes do que antes da crise

económica. A autonomia financeira está 13% mais elevada e a solvabilidade está 21% mais forte. Estamos

assim melhor preparados para o futuro. O esforço de capitalização empreendido desde dezembro de 2015,

quando mandatámos a Unidade de Missão para a Capitalização, está a dar frutos. Em 2017, as empresas

portuguesas tiveram o melhor desempenho em mais de duas décadas.

Este Governo contribuiu para estes resultados com a previsibilidade e estabilidade fiscal e esse é um valor

inestimável para as empresas. Este Orçamento dá continuidade à estabilidade fiscal que tem marcado a

Legislatura. Um Orçamento de consolidação e crescimento, que garante a melhoria das condições de

financiamento, não pode ser mais amigo das empresas, oferecendo-lhes um cenário macroeconómico

vantajoso, estável e promotor do investimento.

A proposta que hoje discutimos contempla — e permitam-me destacar, pela sua importância e impacto — o

fim da obrigatoriedade do pagamento especial por conta (PEC) e da coleta mínima no IRC (imposto sobre o

rendimento das pessoas coletivas) simplificado.

Aplausos do PS.

Estas medidas permitem que mais 100 milhões de euros sejam repostos, anualmente, na liquidez de milhares

de empresas e é particularmente importante no que respeita às pequenas e médias empresas. Ao mesmo

tempo, permite que as empresas cumpram com responsabilidade todas as suas obrigações fiscais.

Esta medida vai no sentido de tributar as empresas pelo seu lucro real e, por isso mesmo, também pode

significar redução de impostos para muitas delas. O PEC, como é referido, foi nos últimos 20 anos qualificado

por todas as empresas — da mais pequena à maior — como uma injustiça. Pois bem, nesta Legislatura fomos

criando progressivamente as condições para aquilo que hoje é uma realidade: a dispensa da obrigatoriedade

de entrega do PEC para as empresas que assim o pretendam. Mais uma vez, cumprimos o que prometemos!

Aplausos do PS.

Para 2019, propomos ainda o alargamento do limite máximo de lucros retidos e reinvestidos para efeitos de

dedução à coleta de IRC e, por esta via, mais uma vez o IRC desce para as empresas que investem. Criamos

condições para ter mais investimento em Portugal.

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Este é também um Orçamento com uma política fiscal de forte apoio ao interior do País. Não queremos um

País dividido, queremos um País que cresça e se desenvolva de forma harmoniosa e equilibrada, um País coeso

social e territorialmente.

Solicitámos, assim, uma autorização legislativa que nos permita assegurar uma redução do IRC, que pode

atingir uma taxa zero, permitindo que as empresas deduzam até 20% de toda a massa salarial de emprego com

conexão com o interior. Mais emprego, mais investimento, maior coesão territorial.

Aplausos do PS.

Este Orçamento é, pois, a reafirmação da política fiscal que começámos em 2016 e que consistentemente

prosseguimos ao longo de toda a Legislatura. Um Orçamento amigo das famílias, porque dá continuidade ao

aumento do rendimento disponível também pela via fiscal, e um Orçamento amigo das empresas, porque lhes

confere um contexto de crescimento económico sustentado, melhoria das condições de financiamento,

estabilidade fiscal e incentivos fiscais ao investimento.

Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, a Administração Pública portuguesa merece a maior das atenções do

Governo enquanto órgão responsável pela sua gestão. A melhoria dos serviços prestados aos cidadãos não é

passível de se efetuar sem valorizar a Administração Pública e sem reconhecer o papel fundamental dos seus

trabalhadores. Também aqui virámos uma página: valorizámos o emprego público, recusamos o discurso que

dividia funcionários públicos e trabalhadores do setor privado. Todos são trabalhadores, todos merecem o

mesmo respeito.

É evidente para todos que o Orçamento do Estado de 2016 fez uma rutura na forma como a Administração

Pública e os seus trabalhadores eram tratados. Depois de cortes cegos, depois de congelamentos arbitrários, o

atual Governo e a atual maioria parlamentar que o suporta devolveram a dignidade à contribuição para a causa

pública.

Reposição de rendimentos, modernização do sistema de formação profissional, recuperação do horário de

trabalho que devolve tempo para a conciliação com a vida pessoal, renovação das perspetivas de

desenvolvimento de carreira, que, nesta Legislatura, retomam a sua normalidade, são apenas algumas das

medidas adotadas. A conjugação destas medidas, que todos concordarão que envolve um enorme esforço

orçamental, cumpre os compromissos assumidos e tem mesmo ido para além das medidas estabelecidas no

Programa do Governo em diversas dimensões. Os portugueses sabem que apenas prometemos o que podemos

cumprir.

Risos do PSD.

Não embarcamos em promessas vãs, não promovemos a simulação da devolução de uma sobretaxa, que

depois não passa de uma ilusão.

Aplausos do PS.

Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, o Programa do XXI Governo, elaborado em harmonia com as posições

conjuntas assinadas entre o Partido Socialista e o Bloco de Esquerda, o Partido Comunista Português e o Partido

Ecologista «Os Verdes», coloca a prioridade nas pessoas, rendimentos, pensões e outras prestações sociais,

melhorando a qualidade de vida dos portugueses.

O Orçamento do Estado para 2019 tem um enfoque especial na promoção da coesão social, no combate à

pobreza. Apenas dessa forma a sociedade pode evoluir, assumindo como prioritária a garantia de uma maior

solidariedade entre gerações e a construção de um caminho sustentável de maior igualdade. Foi por isso que,

desde janeiro de 2016, foi reposto o mecanismo automático de atualização regular das pensões. 2019 será o

terceiro ano consecutivo com aumento generalizado de pensões e o segundo em que esse aumento é superior

à inflação para mais de 85% dos pensionistas. Esta é a grande novidade desta Legislatura, que se confirma com

este Orçamento: o respeito por todos os portugueses está de volta e está de volta para ficar!

Aplausos do PS.

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A presente Legislatura tem sido marcada por um forte investimento na proteção social e 2019 verá o maior

aumento de sempre no combate pela inclusão. São mais 153 milhões de euros investidos no combate à pobreza

e à exclusão, através do reforço da prestação social para a inclusão.

Mas o combate às desigualdades motiva ainda o reforço dos valores do abono de família para as crianças

entre os 4 e os 6 anos de idade, mas também do valor de referência do rendimento social de inserção, que

retomará, em 2019, o valor que tinha em 2011.

Este Orçamento aposta, e muito, na educação porque essa aposta é essencial para o futuro de Portugal e

dos portugueses. O Orçamento do Estado para 2019 alarga a gratuitidade dos manuais escolares, com um

enfoque na devolução para reutilização, ao mesmo tempo que aumenta as dotações para a ação social escolar.

A qualidade da educação é também reforçada, com um maior enfoque na redução do número de alunos por

turma nas situações em que tal se revela mais premente.

Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, a habitação é uma prioridade do XXI Governo. O Orçamento do

Estado para 2019 dá um passo decisivo para cumprir o objetivo de dar uma resposta às famílias que vivem em

situação de grave carência habitacional. A meta é erradicar as situações habitacionais indignas no nosso País

até 2024. Para tal, é lançado o 1.º Direito – Programa de Apoio ao Acesso à Habitação, com uma dotação inicial

de 40 milhões de euros, que crescerá ao longo dos próximos anos com comparticipações não reembolsáveis.

A saúde é outra prioridade claríssima da política orçamental deste Governo.

Protestos do PSD.

O Serviço Nacional de Saúde (SNS) é uma marca distintiva do setor público em Portugal e a expressão do

sucesso das políticas públicas do Portugal democrático. Estamos absolutamente comprometidos com o SNS.

Aplausos do PS.

O Orçamento prossegue, por isso, um aumento do investimento no SNS, com um crescimento de 27% em

2018 e de 15% em 2019. Estes são dos valores mais elevados dos últimos anos e todos devemos ter isto

presente.

Protestos do PSD e do CDS-PP.

Assim, pela primeira vez na última década, foram iniciados os processos de construção de cinco novas

unidades hospitalares. No que respeita ao Hospital Central da Madeira, o Estado…

Aplausos do PS.

Protestos do PSD e do CDS-PP.

O Sr. Presidente: — O Sr. Ministro pode continuar, se faz favor.

O Sr. Ministro das Finanças: — Assim, pela primeira vez na última década, foram iniciados os processos

de construção de cinco novas unidades hospitalares: Lisboa Oriental, Madeira, Seixal, Sintra e Évora.

Aplausos do PS.

Protestos do PSD e do CDS-PP.

Para o Hospital de Lisboa Oriental, foi lançado no final do ano passado o concurso público internacional; no

que respeita ao Hospital Central da Madeira, o Estado irá cofinanciar a sua construção e o seu equipamento,…

Protestos do PSD.

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… num esforço de solidariedade para com o serviço regional de saúde.

Como prioridade que é, o SNS contará em 2019 com um reforço histórico no seu orçamento de 585 milhões

de euros, face a 2018.

Aplausos do PS.

São 1200 milhões de euros em toda a Legislatura.

Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, este Orçamento não é um orçamento eleitoralista.

Aplausos do PS.

Risos do PSD.

Não pode ser eleitoralista um Orçamento que cumpre o Programa do Governo apreciado nesta Câmara há

já três anos. Não pode ser eleitoralista um Orçamento que garante o financiamento das medidas que propõe.

Não pode ser eleitoralista um Orçamento que dá continuidade ao que iniciámos em 2016: credibilizar a política

económica e orçamental em Portugal, atingindo as metas a que nos propusemos junto dos portugueses. Srs.

Deputados, sem sanções, sem retificativos, sem inconstitucionalidades.

Aplausos do PS.

Protestos e risos do PSD e do CDS-PP.

Sem sanções, sem retificativos, sem inconstitucionalidades, o Orçamento do Estado para 2019 é um

exercício feito de escolhas.

Protestos do Deputado do PSD Pedro Alves.

A escolha mais decisiva que lhe está subjacente é a de prosseguir o caminho que iniciámos com o Orçamento

de 2016. Um caminho que já é conhecido, um caminho que provou e que deu resultados, um caminho seguro e

com indicações certas que levam ao rumo certo.

As condições económicas e orçamentais permitirão certamente múltiplas interpretações, mas permitam-me

que termine afirmando a determinação do Governo na construção de um Portugal mais sustentável e inclusivo.

Foi assim que começámos esta Legislatura, é assim que queremos e vamos terminar esta Legislatura, atingindo

as metas, superando as metas.

É isto que permite que Portugal atinja e supere as suas ambições. É assim que temos feito. É assim, e só

assim, que faremos. Não sabemos, aliás, fazer de outra maneira, porque Portugal e os portugueses merecem o

nosso respeito, merecem o respeito de todos.

Termino como iniciei a minha primeira intervenção nesta Câmara, há 3 anos, socorrendo-me de Sophia e da

mais bela das suas poesias.

Aplausos de Deputados do PS.

Vozes do PSD: — Ah!…

O Sr. Ministro das Finanças: — Nesse momento, celebrámos a «madrugada» pela qual esperávamos. Hoje,

prosseguimos a «substância» da política e do tempo, que nos levará, como em Abril, ao futuro.

Colocando enorme exigência em tudo o que fazemos, não temos mandato para voltar atrás, com

responsabilidade, sem recorrer a soluções simples — o populismo é, aliás, filho das soluções simples —, sempre

com a mesma determinação, a de devolver Portugal ao futuro e às novas gerações. Estas são as nossas

escolhas.

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Aplausos do PS, com Deputados de pé.

O Sr. Presidente: — Sr. Ministro das Finanças, inscreveram-se, para pedir esclarecimentos, 25 Srs.

Deputados. As respostas ao primeiro Sr. Deputado de cada bancada parlamentar serão dadas individualmente,

como acordado. Assim sendo, teremos, em primeiro lugar, pedidos de esclarecimento de sete Sr.as e Srs.

Deputados das diversas áreas parlamentares e, depois, teremos três rondas de pedidos de esclarecimento por

parte de seis Srs. Deputados.

Peço ao Sr. Ministro que programe bem, «financeiramente», as suas respostas.

Para pedir esclarecimentos, tem a palavra, em primeiro lugar, o Sr. Deputado Adão Silva.

O Sr. Adão Silva (PSD): — Sr. Presidente, Sr. Ministro das Finanças, pode o Sr. Ministro negá-lo, mas este

é um Orçamento com uma marca: a marca do eleitoralismo.

Vozes do PS: — Ah!…

O Sr. Adão Silva (PSD): — Eleitoralismo do Governo, do Partido Socialista, do Bloco de Esquerda e também

do PCP. Todos à canelada, às vezes, às claras, às vezes, por baixo da mesa. Todos a pensarem, sobretudo,

nos seus proveitos eleitorais de outubro de 2019. Todos a esquecerem o papel essencial que deve ter qualquer

orçamento rigoroso, digno e transparente: ser um instrumento de construção do futuro de Portugal e de todos

os portugueses.

Mas não! Este é apenas um Orçamento do eleitoralismo, em companhia de responsabilidade limitada.

A palavra de ordem deste Orçamento é: iludir! Iludir os portugueses, até onde for possível, porque, depois

de outubro, acabam as ilusões e quem vier que feche a porta. Depois de outubro de 2019, chegará a fatura das

ilusões com as quais se sustenta a gerigonça.

Protestos do PS.

Tudo na melhor cepa socialista. Tudo como aconteceu no Orçamento do ano eleitoral de 1999, com António

Guterres. Tudo, e mais alguma coisa, como aconteceu no Orçamento para 2009, com José Sócrates.

O Partido Socialista é useiro e vezeiro em prometer mundos e fundos, na véspera das eleições, para depois

meter Portugal no fundo, no buraco, sobretudo para pôr os portugueses a pagar a austeridade.

Aplausos do PSD.

Se, no passado, tudo acabou em tragédia, em 2019, tudo acabaria numa farsa, citando o vosso amigo Karl

Marx.

O Sr. João Oliveira (PCP): — A sua amizade com o Marx era a anedota que faltava!

O Sr. Adão Silva (PSD): — E nós, Partido Social Democrata, não queremos que os portugueses voltem a

cair nas armadilhas dos Orçamentos eleitorais socialistas e nos interesses míopes dos seus parceiros de

Governo.

Por isso, denunciamos que este Orçamento é pura negociata eleitoral. E o futuro dos portugueses? —

perguntamos nós. Isso pouco interessa neste Orçamento.

Que fique bem claro: nestas negociatas da gerigonça, os portugueses não podem ser uma pechincha, uma

moeda de troca.

Nós, Partido Social Democrata, temos a certeza de que os portugueses aprenderam com os erros dos

Governos socialistas do passado e não vão cair nesta cartilha de ilusões desencontradas que é o Orçamento

para 2019.

Nós temos a certeza de que os portugueses não aceitam esta política da «chapa ganha, chapa gasta», onde

o futuro fica adiado.

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Nós temos a certeza de que os portugueses abominam as vossas aldrabices…

Protestos do PS.

… em torno do real valor do défice, das pensões antecipadas, do imposto sobre os combustíveis ou, ainda,

da carreira dos professores — da carreira dos professores! Ora digam lá agora alguma coisa!

Aplausos do PSD.

Protestos do PS.

Mais, também temos também a certeza de que os portugueses estranham que este Orçamento diga pouco

ou nada sobre a criação de emprego que vai abrandando, Sr. Ministro (vai, vai, como o senhor sabe!), o estímulo

à poupança, que é a base do crescimento, e o apoio às empresas, de que o senhor tanto se gabou. Falou com

as empresas, Sr. Ministro? É que elas dizem que não têm apoios e nós percebemos que não, porque são

detestadas pelo Bloco de Esquerda e pelo PCP, mas são o lugar onde nasce o emprego, a riqueza e a

prosperidade de Portugal.

Temos também a certeza de que os portugueses não toleram mais: a degradação nos transportes públicos;

a indignidade das condições do trabalho nos tribunais e das forças de segurança; as trapalhadas na educação,

Sr. Ministro da Educação, nomeadamente, na suposta educação inclusiva; a demora de meses e meses para

receberem a pensão de velhice, Sr. Ministro da Segurança Social; as crescentes listas de espera em consulta e

cirurgia no Serviço Nacional de Saúde, porque, afinal este não é prioridade neste Orçamento (e bem pode o Sr.

Ministro dizer que esta prioridade não é clara, é claríssima, pois V. Ex.ª gosta de superlativos absolutos

sintéticos, mas uma prioridade claríssima é o que nós não vemos neste Orçamento do Estado para o Serviço

Nacional de Saúde); ou ainda o aumento continuado e manhoso dos impostos indiretos, que todos pagam, de

forma injusta.

Dr. Centeno, temos a certeza de que os portugueses e os serviços públicos não toleram mais a guilhotina

das suas cativações, que são a suprema e refinada política de ilusões deste Governo.

Sr. Ministro, desta vez não! Desta vez, isto não vai lá com as «papas e bolos» orçamentais do costume,

porque os portugueses sabem bem quanto lhes custaram as cantigas ilusórias das cigarras socialistas do

passado.

Vozes do PSD: — Muito bem!

O Sr. Adão Silva (PSD): — Por isso, para terminar, faço-lhe esta pergunta: com este Orçamento eleitoral

para 2019, vai, outra vez, como aconteceu no passado, iludir e enganar os portugueses, até às eleições

legislativas, apostando no imediato, no presente, e esquecendo o Portugal do futuro?

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Ministro das Finanças.

O Sr. Ministro das Finanças: — Sr. Presidente, Sr. Deputado Adão Silva, gostava de começar por referir

que, depois do livro publicado na última semana, sobre caneladas estamos conversados, porque as caneladas

estão muito bem retratadas nesse livro.

Aplausos do PS.

A negociação que é feita seriamente em torno deste Orçamento é feita, Sr. Deputado, no âmbito da

Assembleia da República, à qual o Sr. Deputado pertence. Se calhar, um pouco mais de respeito sobre essas

negociações não lhe ficaria mal.

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Aplausos do PS.

Depois, gostaria de lhe dizer, Sr. Deputado, que a palavra «ilusão» não rima com a palavra «cumprir». E o

que este Governo tem feito é cumprir. Cumprimos desde o primeiro Orçamento até ao último…

Aplausos do PS.

… a trajetória da redução da dívida e a trajetória da redução do défice com que nos tínhamos comprometido

no início da Legislatura.

O Sr. Deputado falou dos Orçamentos do Estado para 1999 e para 2009, mas faltou-lhe falar do Orçamento

do Estado para 1994. E falou também do Orçamento do Estado para 2020. Mas, sobre o Orçamento do Estado

para 2019, ouvi muito pouco, Sr. Deputado, porque é este que estamos hoje aqui a debater.

Aplausos do PS.

Um Orçamento que reduz a dívida, que aposta na inovação, que aposta no interior e que aposta nos recursos

humanos é, seguramente, um Orçamento que aposta no futuro, é, seguramente, um Orçamento que aposta num

Portugal melhor para as próximas gerações.

Não há nenhum Orçamento que possa ter a designação que o Sr. Deputado atribui a este quando temos um

saldo primário projetado para o próximo ano superior a 3%. Este é um Orçamento de enorme responsabilidade

para com o futuro — e esse é o nosso compromisso — e também relativamente ao emprego, porque criar 380

000 postos de trabalho numa Legislatura é algo que o Sr. Deputado seguramente não previa no início, e tem de

recuar muito no tempo para encontrar uma Legislatura como esta no que diz respeito ao emprego, aos salários

e às empresas.

Aplausos do PS.

Falo das empresas para relembrar dois números que referi na minha intervenção inicial. Nesta Legislatura, a

produtividade está a crescer, sim! Os números divulgados pelo INE (Instituto Nacional de Estatística) na semana

passada mostram que, nas empresas portuguesas, a produtividade, em 2016 e 2017, cresceu 6% e está 12%

acima daquela que existia em 2012.

Vozes do PSD: — Não, não!

O Sr. Ministro das Finanças: — Sim! Este é um emprego com melhores salários, porque é mais produtivo.

Este foi o desafio que colocámos para esta Legislatura e estamos a cumprir.

Finalmente, nas empresas, temos — é claro que o Sr. Deputado se esqueceu —, de fundos comunitários,

4000 milhões de euros para as empresas, nesta Legislatura. São esses os números que fazemos chegar às

empresas, são esses os números do nosso compromisso.

Tudo o que está inscrito no Orçamento do Estado para 2019 está inscrito no Programa do Governo. Estamos

a cumprir. É isso que se espera de um Governo.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado João Paulo Correia.

O Sr. João Paulo Correia (PS): — Sr. Presidente, Sr. Ministro das Finanças, ouvimos o PSD. O PSD traz a

este debate, na generalidade, do Orçamento do Estado o discurso do «Vem aí o diabo — parte II».

O PSD está perdido no debate sobre este Orçamento. No mesmo discurso, o PSD diz uma coisa e o seu

contrário. Defende, por um lado, que este Orçamento é eleitoralista e despesista e que devia ir mais longe na

redução do défice e diz, por outro lado, que o Orçamento devia atender a mais reivindicações de subida da

despesa e de descida da receita, o que levaria ao agravamento do défice.

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O PSD tem de fazer uma escolha clara: se o Orçamento é despesista, então, o PSD deve dizer que medidas

de devolução de rendimentos e de reposição de direitos devem cair deste Orçamento.

Aplausos do PS.

Mas se para o PSD este Orçamento devia atender a mais reivindicações, então, o PSD devia dizer que

impostos é que pretende aumentar para acomodar a subida da despesa e a descida de impostos.

Vozes do PS: — Muito bem!

O Sr. João Paulo Correia (PS): — Não é sério, nem responsável, estar no melhor dos dois mundos. Ao PSD

pede-se mais seriedade e mais responsabilidade no debate orçamental.

Este Orçamento prossegue uma estratégia governativa que resgatou o País do procedimento por défice

excessivo, que resgatou o País da degradação económica, que resgatou o País da tendência para o

empobrecimento e que resgatou o País do desemprego massivo.

Aplausos do PS.

Este Orçamento sucede a três Orçamentos que não precisaram de retificativos, que cumpriram as suas

metas sem planos B, sem medidas extraordinárias e sem esconder problemas graves, como o caso da Caixa

Geral de Depósitos e do Banif, como fez o anterior Governo, em 2015.

Aplausos do PS.

Sr. Ministro das Finanças, uma economia desenvolve-se não apenas quando cresce mas quando, a par do

crescimento, consegue criar emprego, diminuir as desigualdades sociais e combater os défices estratégicos do

País, como o défice energético e o défice ambiental.

Por isso, a política de devolução de rendimentos e de reposição de direitos trouxe confiança à nossa

economia. A recuperação da confiança reforçou o investimento e o investimento gerou crescimento e emprego.

Foi a confiança que permitiu ao Governo reformar o sistema financeiro, contra a vontade da direita, que não

apoiou a recapitalização pública da Caixa Geral de Depósitos.

Foi também a confiança que permitiu ao Governo a reforma do mercado de trabalho. Até ao final de 2019,

estarão criados 380 000 postos de trabalho líquidos; o salário médio cresceu, em 2017; a contratação coletiva

disparou; a precariedade laboral diminui; o salário mínimo sobe todos os anos, contra a vontade do PSD e do

CDS.

O Sr. Fernando Rocha Andrade (PS): — É verdade!

O Sr. João Paulo Correia (PS): — Entre 2011 e 2015, os serviços públicos sofreram o maior ataque desde

o 25 de Abril, foram 4 anos de cortes e desinvestimento. Entre 2011 e 2015, o Serviço Nacional de Saúde sofreu

um corte de 1000 milhões de euros. O Serviço Nacional de Saúde ficou com menos médicos, menos

enfermeiros, menos técnicos e subiram também as taxas moderadoras para diminuir a procura deste serviço.

Protestos do PSD.

Desde 2016 que o Governo tem reforçado o Serviço Nacional de Saúde, que conta hoje com mais médicos,

mais enfermeiros, mais técnicos de diagnóstico e terapêutica e mais auxiliares.

Protestos do PSD.

Do corte de 1000 milhões de euros, feito pelo anterior Governo do PSD e do CDS, este Governo, em 3 anos,

já repôs 700 milhões de euros no Serviço Nacional de Saúde. E o Orçamento para 2019 garante mais 500

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milhões de euros para o Serviço Nacional de Saúde, prosseguindo o compromisso de reforçar o investimento

na saúde.

Nos transportes, foram 4 anos de emagrecimento das empresas públicas e das obrigações de serviço público

de transportes, onde cortaram pessoal, cortaram e reduziram carreiras, cortaram na manutenção, congelaram

os investimentos nas infraestruturas e em material circulante e aumentaram os tarifários. Tudo isto feito em

nome de privatizações que só foram impedidas porque uma nova maioria parlamentar travou esse ataque aos

transportes públicos.

Foi desde 2016 que o Governo relançou o investimento no setor dos transportes. Basta olhar para as obras

que estão em curso na ferrovia e no alargamento dos passes 4_18 e sub23. Mas basta olhar também para este

Orçamento, Sr. Ministro, para confirmar a grande medida, a medida revolucionária do passe único a preços

reduzidos que vem transformar a cultura de transporte público e que é uma medida também com impacto muito

positivo na sustentabilidade ambiental.

Aplausos do PS.

Basta olhar para o aumento das indemnizações compensatórias para que as empresas de transportes e

aquelas que garantem o serviço público de transportes consigam prestar melhor serviço e para o aumento do

investimento em material circulante, o aumento do investimento na ferrovia e na expansão das redes de

metropolitanos de Lisboa e do Porto.

Termino com uma pergunta, Sr. Ministro: confirma que este Orçamento traz novamente um crescimento do

investimento público, nomeadamente na escola pública, no Serviço Nacional de Saúde e nos transportes?

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Ministro das Finanças. Faça favor.

O Sr. Ministro das Finanças: — Sr. Presidente, Sr. Deputado João Paulo Correia, o crescimento económico

faz-se através da previsibilidade, através de reformas estruturais que aumentem o potencial de crescimento do

País, através do aumento da confiança interna e externa na economia e na sociedade portuguesa.

Quando aqui chegámos, tínhamos dois processos de sanções levantados pela Comissão Europeia por

incumprimento de metas do Governo anterior, tínhamos níveis de confiança de todos os agentes económicos

— consumidores e empresas — muito baixos e em queda acentuada ao longo de todo o ano de 2015.

Quando aqui chegámos, tínhamos um sistema financeiro em que três quartos dos ativos estavam em

instituições que ou estavam em resolução ou à beira disso, subcapitalizadas ou com problemas muito sérios na

sua estrutura acionista. Ou seja, quando aqui chegámos, o sistema financeiro não fazia o papel importantíssimo

que tem numa economia como a economia portuguesa.

A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — E agora faz!? A dar crédito ao consumo!…

O Sr. Ministro das Finanças: — Quando aqui chegámos, a procura interna era a transfiguração do Diabo.

A procura interna e o consumo privado representavam o mal de toda a economia portuguesa.

Tudo isso mudou! Tudo isso mudou ao longo do ano 2016, seguramente, com o sucesso que tivemos no

processo de recapitalização da Caixa Geral de Depósitos e com o sucesso que tivemos com a aprovação,

implementação e execução dos Orçamentos de 2016 e 2017.

Chegados a 2017, tudo mudou! Chegados a 2017, tivemos o crescimento económico mais alto deste século;

chegados a 2017, o emprego cresce de forma robusta e todos os setores económicos em Portugal crescem.

Quero dizer também — para responder à pergunta que o Sr. Deputado me coloca — que desenhámos e

temos vindo a implementar projetos de investimento público ao longo da Legislatura, acompanhando a execução

do Portugal 2020, que têm vindo a aumentar o investimento público ao longo da Legislatura. Durante os anos

de 2017, 2018 e 2019, o investimento público vai crescer, ou já cresceu, mais do que 10%.

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Este processo de recuperação é aquele que justifica que, hoje, tenhamos o investimento no SNS a crescer

acima de 20% e o investimento na ferrovia já materializado e, prospetivamente, em 2019 com um fortíssimo

crescimento, neste Orçamento do Estado.

O Sr. Pedro Alves (PSD): — Em projetos!

O Sr. Ministro das Finanças: — É essa trajetória para o investimento público que desenhámos no início da

Legislatura. Vamos com certeza cumprir, vamos continuar a atingir as nossas metas porque só assim o País

terá credibilidade, porque só assim o País terá futuro.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana Mortágua, do Grupo Parlamentar do Bloco de

Esquerda, para um pedido de esclarecimento.

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr. Presidente, Sr. Ministro das Finanças, nos anos que antecederam esta

Legislatura, os pensionistas não sabiam o futuro da sua pensão; os trabalhadores não tinham outra perspetiva

a não ser os aumentos do IRS e as falsas promessas de devolução da sobretaxa, bem a tempo das eleições;

os precários não vislumbravam qualquer sinal de proteção; milhares de desempregados, bem como as crianças

e os idosos mais pobres, deixaram de poder contar com o mínimo que lhes era garantido pelos apoios sociais.

Insegurança! A insegurança foi a marca que o PSD e o CDS deixaram em tantas e tantas pessoas em

Portugal, uma insegurança imposta sempre na base do medo, o medo de um futuro pior, o medo que não

existisse alternativa.

Três anos volvidos, o que tem esta direita apresentar ao País? Que programa defendem para este

Orçamento? Que alternativa tem hoje para apresentar quem sempre disse que não havia alternativa à

austeridade? Ninguém sabe, Srs. Deputados! Mas uma coisa sabemos: os Deputados do PSD e do CDS já não

podem contar com o medo para os ajudar. O discurso do susto, o discurso do papão, o discurso do Diabo

morreu, falhou e não há medo que, neste momento, sustente o projeto da direita.

Aplausos do BE.

Nos últimos 3 anos, Sr.as e Srs. Deputados, nos últimos três orçamentos, aos quais se junta este Orçamento

para 2019, quem vive em Portugal viu e sentiu avanços que até agora eram dados como impossíveis.

As pessoas vivem com mais segurança porque há uma tarifa social que lhes garante o acesso à energia;

vivem com mais segurança porque sabem que vão pagar menos pelos transportes; vivem com mais segurança

porque viram a sua pensão aumentar ao longo da Legislatura; vivem com mais segurança porque houve,

finalmente, quem olhasse para os precários no público e no privado,…

O Sr. Jorge Costa (BE): — Muito bem!

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — … houve quem se preocupasse com a sua proteção social e houve quem

se preocupasse com a sua vinculação.

As pessoas vivem com mais segurança por recuperar os apoios sociais que eram um seu direito e de que

tanto precisavam. Quem ganha o salário mínimo nacional vive com mais segurança porque, em janeiro de 2019,

ganhará, pelo menos, mais 20% do que ganhava em 2015.

Aplausos do BE.

Sr. Ministro, a recuperação da economia deu-se porque demos garantias às pessoas.

A direita está convencida, e já o disse várias vezes, que a economia só cresce quando se sacrificam salários

e direitos laborais, quando se privatiza e se precariza e, por isso, está condenada a sacrificar salários e direitos

laborais, está condenada a precarizar e a privatizar.

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Mas estes anos provaram que a redistribuição de rendimentos não é apenas socialmente justa, a distribuição

de rendimentos é um poderoso instrumento de política económica que protege o crescimento e garante mais

emprego.

O Sr. Jorge Costa (BE): — Muito bem!

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Mas, Sr. Ministro, se somos capazes de fazer e de defender as contas ao

bem que se fez a este País, estamos também certos de que poderia ter sido mais e muito melhor.

Nestes 3 anos, o Governo apresentou e defendeu perante o Parlamento os limites de despesa que

considerava relevantes para as metas do défice com que se tinha comprometido. Esta despesa foi sempre

autorizada pelo Parlamento. Apesar disso, o Sr. Ministro insiste em devolver ao Parlamento as contas que

provam que uma parte dessas verbas autorizadas ficaram por gastar sem qualquer justificação, uma vez que as

metas do défice foram cumpridas e até ultrapassadas nestes anos.

Esta responsabilidade cabe exclusivamente ao Governo e cabe-lhe a si, em particular, enquanto Ministro das

Finanças. Cabe ao Ministro das Finanças explicar porque é que continua a adiar investimentos que são tão

importantes para o País e porque é que continua a adiar despesas que são essenciais para os serviços públicos,

que o Parlamento validou e previu no último Orçamento do Estado.

Bem sei que o Sr. Ministro aposta todas as suas fichas na política do défice zero e, claro está, na sua própria

credibilidade externa. Mas quando a próxima crise chegar, e ambos sabemos que ela virá,…

Vozes do CDS-PP: — Ah!…

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — O Diabo?!

O Sr. Jorge Costa (BE): — Nunca ouviram falar?! Nunca ouviram falar das crises?! É uma novidade?!

O Sr. Presidente: — Peço aos Srs. Deputados para deixarem a Sr.ª Deputada Mariana Mortágua prosseguir

com a sua intervenção.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Parece que andam por ali fantasmas!

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr. Ministro, quando a próxima crise chegar, o que vai fazer a diferença e

o que vai proteger o País não é saber se o défice é 0,1%, é 0,15% ou é 0,25%, num contexto dos juros negativos

no curto prazo. O que vai fazer a diferença é saber se o País soube investir para preparar o seu Estado social.

O que vai fazer a diferença é saber se temos um Estado social capaz, eficiente, capitalizado, equipado e

moderno, capaz de proteger as pessoas daquilo que está para vir.

Um dos elementos centrais desse Estado social são os seus trabalhadores, a maior parte deles com salários

muito baixos: há 200 000 trabalhadores da função pública com salários inferiores a 835 € por mês e que estão

congelados há uma década.

Mas o Sr. Ministro faz segredo da proposta de aumentos para a função pública. Ora, o Orçamento não é um

envelope secreto, é um instrumento de política social que deve ser discutido em todos os seus detalhes e, por

isso, pergunto-lhe, muito concretamente: quanto e quando vão os trabalhadores da função pública receber o

seu aumento salarial? O Governo tem obrigação de clarificar a proposta orçamental e não jogar às escondidas,

muito menos com o Parlamento.

Sr. Ministro, para terminar, o Bloco ainda não recebeu também a resposta sobre um alerta importante que

fizemos ao Governo. Tal como desenhado pelo Governo, o alargamento da contribuição extraordinária às

empresas do setor renovável arrisca-se a ser um flop. Mesmo quetudo corra bem, a CESE (Contribuição

Extraordinária sobre o Setor Energético) das renováveis não irá além de 30 milhões de euros, segundo a

previsão do relatório do Orçamento do Estado. Mas acontece que o Governo se esqueceu de retirar da lei a

isenção para as centrais atribuídas por concurso.

A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — A sério?!… Ah!…

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A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Desta forma, a receita cobrada à produção renovável arrisca-se a ser

insignificante — um flop!

No ano passado, perdemos a oportunidade de introduzir uma medida corajosa para conter as rendas do setor

energético e descer a fatura da eletricidade em Portugal.

O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — É assim desde o início do Governo!

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Este ano, perante uma proposta do Governo muito mais modesta do que

aquela que defendemos no ano passado, a questão que lhe coloco é a de saber se esta medida vai sequer

produzir algum resultado em 2019.

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Ministro das Finanças. Faça favor.

O Sr. Ministro das Finanças: — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Mariana Mortágua, o crescimento económico

é um fenómeno de longo prazo. Uma analogia possível, em termos atléticos, é que o crescimento económico é

uma maratona.

E Portugal até é muito bom a correr maratonas! Temos, na nossa história, vários campeões de maratonas.

Só temos de aplicar exatamente os mesmos princípios de distribuição ao processo de crescimento, porque

correr uma maratona a acelerar não dá, normalmente, bom resultado.

Estou completamente de acordo consigo e com a leitura que faz sobre as condições de recuperação da

economia portuguesa, condições que permitiram que, hoje, as empresas, em Portugal, tenham um volume de

produção superior. Apenas em 2016 e 2017, houve um crescimento de 12%. É essa capacidade de produzir, é

essa capacidade de criar que, depois, permite fazer a distribuição. E a verdade é que essa distribuição, que é

feita através do Orçamento do Estado, que é um instrumento de política económica absolutamente essencial,

conseguiu garantir que nos quatro anos desta Legislatura não tivéssemos nenhum corte. Não houve nenhum

corte em nenhum setor de atividade, em nenhum programa orçamental, nesta Legislatura.

Foi assim que definimos a afetação de verbas a diferentes áreas e, como sabe, tivemos prioridades muito

claras. Desde logo na saúde, com o programa orçamental da saúde a crescer 1200 milhões de euros na

Legislatura. Isto anula todo o corte — aí sim, corte! — que se registou ao longo da Legislatura anterior.

A credibilidade que aqui debatemos é, seguramente, a credibilidade do País. É a reversão mais importante

ao longo desta Legislatura, porque em 2016, como há pouco relembrei ao Sr. Deputado João Paulo Correia, o

País não tinha essa credibilidade. Sem credibilidade não temos liberdade para fazer escolhas e as escolhas que

temos feito, ao longo desta Legislatura, só são possíveis porque ganhámos essa credibilidade. Se e quando não

a tivermos, garanto-lhe, Sr.ª Deputada Mariana Mortágua, que iremos perder também a capacidade de fazer

essas escolhas.

Uma das escolhas que fizemos foi a da recuperação dos rendimentos dos trabalhadores da Administração

Pública. Em 2019, as despesas com o pessoal na Administração Pública vão crescer 800 milhões de euros. São

800 milhões de euros que estão associados, principalmente, ao processo de descongelamento das carreiras,

progressões e promoções, mas são 800 milhões de euros que cobrem muitas outras decisões que tomámos —

na saúde, nos transportes, na educação — de valorização das carreiras, de todas as carreiras da Administração

Pública. Este processo tem sido conduzido em negociação com os sindicatos, em negociação parlamentar, e é

exatamente neste quadro que vamos levar todas as decisões até ao fim. Vamos respeitar todos esses processos

negociais mas desde já lhe garanto que, neste Orçamento do Estado, estão 800 milhões de euros para aumento

de despesas com pessoal, salários e remunerações da Administração Pública no ano de 2019.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Para formular pedidos de esclarecimento, pelo Grupo Parlamentar do CDS-PP, tem a

palavra a Sr.ª Deputada Assunção Cristas.

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A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Sr. Presidente, antes de irmos às questões do Orçamento, da

oportunidade perdida de um Orçamento que dá com uma mão aquilo que tira com a outra,…

Protestos do PS e do BE.

… há uma nota prévia que tem de ser feita. Este ano, como de resto aconteceu em 2016, o Sr. Primeiro-

Ministro repete o feito inédito de não dar a cara na apresentação e defesa do seu Orçamento do Estado.

O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — É verdade!

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Critiquei-o duramente na altura e critico-o hoje.

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Muito bem!

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — É um desrespeito pelo Parlamento, é um sinal de cobardia política,

é a prova de que não está à altura do cargo que desempenha.

Vozes do CDS-PP: — Muito bem!

Protestos do PS.

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Um Primeiro-Ministro que falha o debate mais importante de todo o

ano parlamentar é um Primeiro-Ministro que falha no centro da sua ação.

Aplausos do CDS-PP.

Se não está à altura de apresentar e debater o Orçamento do Estado, então, não está à altura das funções

de Primeiro-Ministro.

Aplausos do CDS-PP.

Protestos do PS.

Um Primeiro-Ministro que não acha importante explicar o seu Orçamento a todos os portugueses no

Parlamento, que é o centro da democracia representativa, é um Primeiro-Ministro que não respeita o nosso

sistema político.

Protestos do PS.

Um Primeiro-Ministro que se furta ao debate é um Primeiro-Ministro fraco, pode viver da habilidade e do

esquema, mas será sempre fraco em estatura.

Um Primeiro-Ministro que se esconde atrás do seu Ministro das Finanças confirma um padrão: não dá a cara

quando alguma coisa lhe corre mal.

Protestos do PS.

Mas o que correrá mal neste momento, Sr. Primeiro-Ministro? Será este um Orçamento enganador?! Um

Orçamento que frustra expectativas criadas junto de tantos grupos, dos professores aos polícias, dos

enfermeiros aos pensionistas?! É o Orçamento da regra «60 anos de idade/40 anos de descontos», que afinal

ninguém consegue explicar?! É a isto que o Sr. Primeiro-Ministro não quer responder?!

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Protestos do PS.

Ou será à enorme carga fiscal escondida neste Orçamento, que dá com uma mão e tira com a outra,

enganando todos os portugueses, carregados de impostos indiretos?!

Aplausos do CDS-PP.

Ou serão os episódios sucessivamente incómodos, com Tancos à cabeça, passando pelo Deputado do PS

que, afinal, fruto da pressão parlamentar, já não vai para o regulador da energia?!

Protestos da Deputada do PS Marisabel Moutela.

Não quer o Sr. Primeiro-Ministro que lhe pergunte, afinal, se sabia ou não do encobrimento de Tancos?!

Protestos da Deputada do BE Mariana Mortágua.

Há dois anos, o Sr. Primeiro-Ministro escondeu-se para evitar as perguntas incómodas sobre as

circunstâncias da, então, administração da Caixa Geral de Depósitos. Todos nos lembramos desse episódio

lamentável.

Protestos de Deputados do PS.

Hoje, consigo ensaiar um conjunto de explicações, mas vão todas bater no mesmo ponto: o Orçamento do

Estado é o documento produzido pelo Governo e aprovado neste Parlamento que mais influência tem na nossa

vida coletiva.

Protestos do PS.

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — E, ainda assim, não fala dele!

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Fica-lhe mal, Sr. Primeiro-Ministro, esta atitude displicente e

arrogante, de quem acha que tudo pode, de quem acha que está tão confortável no seu lugar que nem se digna

sujeitar-se ao debate, à crítica e ao escrutínio.

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Muito bem!

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Sinto vergonha alheia!

Aplausos do CDS-PP.

Protestos do PS.

O Sr. Fernando Rocha Andrade (PS): — Sinto o mesmo sempre que a Sr.ª Deputada fala!

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Já me ouviu dizer que este Governo só tem um Primeiro-Ministro e

um Ministro das Finanças, todos os outros membros são secretários de Estado. Parece que agora ficou também

sem Primeiro-Ministro!

O Sr. Primeiro-Ministro dizia, há umas semanas, que as propostas do Orçamento não são dos ministros, são

do Governo, mostrando bem que, para si, os ministros pouco ou nada valem, descartáveis que são depois de

participarem ativamente nas negociações do Orçamento, sem saberem que já não o irão executar. Foi assim

com Adalberto Fernandes, com Manuel Caldeira Cabral e com Luís Filipe de Castro Mendes.

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Protestos do PS.

Agora, preferiu passar a cadeira ao seu único ministro, o Ministro das Finanças, que hoje tem as vestes de

Primeiro-Ministro.

Vozes do CDS-PP: — Muito bem!

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Mas, tal como aconteceu há dois anos, a posição do CDS, a nossa

atitude, a minha atitude, não se deixa condicionar pela sua, Sr. Primeiro-Ministro. Se não quer debater comigo,

se se sente muito incomodado com as minhas perguntas,…

Vozes do PS: — Oh!…

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — … só a si lhe fica mal. Se convive mal com as perguntas que lhe

faço sobre como aprovará as propostas do CDS e se isso o incomoda muito, porque gosta de ser ora Primeiro-

Ministro, ora Secretário-Geral do Partido Socialista, da minha parte, só há o incómodo da vergonha alheia.

Colocarei, por isso, ao Sr. Ministro das Finanças as mesmas questões sobre o Orçamento que lhe colocaria

a si, Sr. Primeiro-Ministro. Outras, certamente, terão o seu espaço próprio.

Sr. Ministro das Finanças, este Orçamento é, para nós, mais uma vez, uma oportunidade perdida. Portugal

tem dos piores crescimentos da Europa e continua com níveis de investimento muito baixos. De resto, recordo

bem o plano que o levou até ao Governo, onde indicava crescimentos acima dos 3%, que nunca — mas nunca!

— se concretizaram nesta Legislatura.

Continuamos a ter de pedalar mais do que outros. O Orçamento das esquerdas falha redondamente neste

ponto.

Por um lado, o Governo não realiza os investimentos públicos há muito anunciados e, por outro, não garante

com prontidão e eficácia a disponibilidade dos meios para o investimento privado, seja na formação profissional

— e sei bem, Sr. Ministro, da habilidade vergonhosa que fez no ano passado —,…

Protestos da Deputada do PS Marisabel Moutela.

… seja nos transportes, seja na agricultura, onde o programa de apoio ao investimento está completamente

parado e o orçamento do Ministério da Agricultura tem um corte de 8%!

Protestos do PS.

Por outro lado, o Governo aperta o garrote fiscal, com o imposto sobre o gasóleo e a gasolina a penalizarem

famílias e empresas, com as tributações autónomas a carregarem nas pequenas e médias empresas, com o

segundo IRC mais alto da Europa.

Sr. Ministro, ando por todo o País, falo com todos os setores e ouço-os. A opinião é unânime: este Orçamento

esquece o crescimento económico, desconsidera as empresas como atores centrais relevantes para esse

crescimento económico e para a criação de emprego, do bom emprego que todos queremos. Este Orçamento,

mais uma vez, engana tudo e todos pelo quarto ano consecutivo!

Todos os anos há novidades na linha da austeridade. Uma austeridade dissimulada, como dissimulado é o

Governo, que apregoa o fim da austeridade e carrega nos impostos indiretos.

Protestos de Deputados do PS.

Em 2018, vai bater o recorde da carga fiscal e, em 2019, a manter-se o padrão deste ano, prepara-se para

bater mais um recorde.

Protestos do PS.

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Austeridade encapotada, como encapotada é a ação do Governo, quando aprova para, depois, cativar,

quando faz uma festa no Orçamento para depois fechar na gaveta durante a execução.

Para uns, Sr. Ministro, a sua ação será habilidosa, para nós, é simplesmente obscura, enganadora e cobarde.

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Muito bem!

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Austeridade escondida na degradação sistemática dos serviços

públicos, da saúde à educação, dos transportes à segurança.

Este Orçamento dá com uma mão e tira com a outra. Mantêm-se todos os novos impostos criados nos

Orçamentos anteriores — inclusivamente, carrega-se em vários deles, como no do gasóleo — e ainda se

acrescentam mais taxas.

No domínio dos serviços públicos, é urgente perguntar: vai ou não haver verba descativada e prontamente

disponível para o Hospital de São João, no Porto? E para o hospital de Gaia? E para o da Guarda? E para o

das Caldas da Rainha? E para todos aqueles, de norte a sul, do litoral ao interior do País, que estão fartos —

fartíssimos! — de ouvir promessas sem que sejam cumpridas?!

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Muito bem!

Protestos do PS.

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Vai ou não haver verba para as unidades de saúde familiar (USF),

prometidas e em falta?!

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Muito bem!

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Vai ou não haver investimentos nas escolas degradadas, onde

muitos alunos têm aulas em contentores?!

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Muito bem!

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Vai ou não haver verba para os investimentos na ferrovia e nas

infraestruturas mais do que planeadas e anunciadas, lembrados que estamos todos de que, por exemplo, na

ferrovia, até agora, só se concretizou 5% — repito, 5%! — do investimento planeado?!

Vai ou não haver verba para desbloquear a execução dos fundos na agricultura e na floresta?

Vai ou não haver uma descativação total — repito, total! — das verbas para a formação profissional?

Vai ou não haver verbas para pagar os milhares de horas extraordinárias em dívida aos profissionais de

saúde?! E para contratar auxiliares para as escolas?

Vai ou não haver verba para pagar a dívida galopante na saúde?!

Vai ou não haver acordo com os professores? E com os enfermeiros especialistas? E com os polícias,

claramente exasperados, perante as promessas incumpridas?!

Protestos do PS.

Vai ou não haver verba para contratar inspetores para a investigação criminal, essenciais para combater a

corrupção?!

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Muito bem!

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Vai ou não haver prontidão de verbas para assinar os contratos-

programa com as estruturas artísticas nacionais, à espera há um ano e meio?!

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Sr. Ministro, estas perguntas são apenas o confronto com as promessas do seu Governo e espero que, ao

longo deste debate, possa responder com clareza. A estas somo o grande «elefante» na Sala: explique-nos por

favor, se for capaz, a regra 60/40 para as pensões antecipadas.

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Muito bem!

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Para terminar, Sr. Ministro, como sempre e como em todos os

Orçamentos, o CDS apresenta uma visão alternativa àquela que nos é dada pelas esquerdas.

A Sr.ª Marisabel Moutela (PS): — Ah!

O Sr. Presidente: — Sr.ª Deputada, peço-lhe para concluir.

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Terminarei, Sr. Presidente.

Nessa visão alternativa, coloco-lhe três questões centrais: está disponível, ou não, para um verdadeiro

estatuto de benefício fiscal para o interior, essencial para a coesão territorial?! Está disponível, ou não, para um

verdadeiro pacote para a demografia e para a natalidade, que é o problema mais estrutural do País?! Está, ou

não, disponível para um verdadeiro programa de crescimento económico que, de facto, nos coloque noutros

patamares de sustentabilidade?!

Por fim, Sr. Ministro, há um ano, o CDS apresentou 91 propostas.

O Sr. Fernando Rocha Andrade (PS): — Por este caminho!…

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Foram todas chumbadas pelo Partido Socialista, certamente

articulado com o Sr. Ministro das Finanças.

Protestos do PS.

O Sr. Presidente: — Peço-lhe para concluir, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — A minha pergunta é no sentido de saber se este ano também vai dar

ordens de chumbo global.

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Ministro Mário Centeno.

O Sr. Ministro das Finanças: — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Assunção Cristas, o Orçamento do Estado

para 2019 é um Orçamento equilibrado, responsável, rigoroso e de bom senso. Não é, seguramente, o guião

eleitoralista com que a Sr.ª Deputada acabou de presentear esta Câmara.

Aplausos do PS.

Se a Sr.ª Deputada quisesse financiar esse guião eleitoralista, que seria, seguramente, o orçamento do CDS-

PP, teria de dizer-nos se aumentava o endividamento externo, se aumentava os impostos. É uma

responsabilidade que fica consigo…

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — São as suas promessas!

O Sr. Ministro das Finanças: — … e com as 91 propostas que custavam 1400 milhões de euros e que,

portanto, não foram adotadas no Orçamento do Estado para 2019.

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Aplausos do PS.

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Promete mas não cumpre!

O Sr. Ministro das Finanças: — Mais do que isso é a profunda adjetivação com que a Sr.ª Deputada

presenteia, claro, todas as suas intervenções nesta Câmara, e esta não ficou aquém, com adjetivos em grande,

grande quantidade.

Risos da Deputada do CDS-PP Assunção Cristas.

Não se consegue perceber muito bem qual o significado orçamental desses adjetivos, mas lá que eles

existem, existem.

Aplausos do PS.

Mas como de adjetivação não se faz política orçamental, Sr.ª Deputada, gostava de recordar-lhe o seguinte:

temos um enorme alívio fiscal, ao longo da Legislatura, em sede de IRS.

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Não é verdade!

O Sr. Ministro das Finanças: — São menos 1000 milhões de euros, repito, menos 1000 milhões de euros,

em termos comparativos, caso aplicássemos as regras que prevaleciam em 2015 aos rendimentos de 2019. É

um enorme alívio fiscal!

Aplausos do PS.

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Paga-se no gasóleo e na gasolina!

O Sr. Ministro das Finanças: — Temos, neste momento, mais de 200 milhões de euros de investimento no

SNS, cabimentados na DGO (Direção-Geral do Orçamento) e em execução. Nesses 200 milhões de euros

cabem 16 milhões do hospital de Gaia, 10 milhões do Hospital de São João, no Porto,…

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Só 10 milhões?! Então, não eram 20 milhões?! Já desceu para

metade!

O Sr. Ministro das Finanças: — … e muitas, muitas outras dezenas de milhões de euros de muitos

investimentos que estão em curso, neste momento, no SNS.

Quanto ao crescimento, a Sr.ª Deputada não reviu, seguramente, os números, porque atualmente — ao

contrário do momento em que aqui nos encontrámos em 2017, quando a maior parte das estimativas para o

crescimento de 2017 era de 1,2% —, em relação ao crescimento de 2017, o último número divulgado pelo INE,

numa enorme revisão, foi de 2,8%.

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — O seu número era de 3,2%!

O Sr. Ministro das Finanças: — E não me espantará que, quando nos encontrarmos aqui, daqui a um ano,

o número do crescimento para 2017 esteja muito próximo, repito, muito próximo daquele que corresponde à

informação que a Sr.ª Deputada traz do nosso Programa do Governo, que é de 3,1%.

Sr.ª Deputada, o Orçamento do Estado é um exercício de responsabilidade, um exercício de redução da

dívida,…

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Não conseguiu! Falhou no crescimento!

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O Sr. Ministro das Finanças: — … um exercício de consolidação orçamental e de crescimento da despesa

em todos os programas orçamentais. É esse crescimento da despesa que sustenta as políticas que

apresentámos, é esse crescimento da despesa que se tem materializado, ano após ano, em todas as execuções

orçamentais. Não houve cortes como também não vai haver execuções aceleradas…

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Houve aumento de impostos! A maior carga fiscal de sempre!

O Sr. Ministro das Finanças: — … que possam, ao contrário do passado, colocar o País em risco, porque

não temos mandato para isso.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Tem, agora, a palavra, para pedir esclarecimentos, o Sr. Deputado João Oliveira, do

Grupo Parlamentar do PCP.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr.as e Srs. Membros do Governo, Sr.

Ministro das Finanças: Já se percebeu que, para desgosto do PSD e do CDS, esta proposta de Orçamento do

Estado não é uma proposta de cortes de direitos e de rendimentos, de agravamento da exploração e do

empobrecimento, como as que foram apresentadas por governos anteriores, incluindo o anterior Governo

PSD/CDS, mas a verdade é que também não é uma proposta de Orçamento que corresponda inteiramente aos

anseios dos trabalhadores e do povo ou que responda aos problemas estruturais do País.

O Sr. António Filipe (PCP): — Muito bem!

O Sr. João Oliveira (PCP): — Apesar de incorporar medidas positivas, resultantes da luta dos trabalhadores,

da ação e iniciativa do PCP, e que, naturalmente, valorizamos, trata-se de uma proposta de Orçamento marcada

pelas opções do Governo do PS, que entravam e limitam avanços e que continuam a colocar como prioridade,

erradamente, a satisfação dos critérios e imposições da União Europeia, secundarizando e deixando sem

resposta os principais problemas nacionais.

Nada disto é novo. Sabemos, desde o início desta solução política, que as opções do PS limitam aquilo que

é possível alcançar e sabemos, também, que não depende apenas da vontade do PCP a concretização da

política alternativa de que os trabalhadores, o povo e o País necessitam.

Não iludindo nenhuma das limitações da atual correlação de forças, continuaremos, ainda assim,

determinados em não desperdiçar nenhuma oportunidade para alcançar novos avanços e medidas positivas

para os trabalhadores e o povo, mas não deixamos de sublinhar que a questão central, que continua colocada,

é a da luta por uma política alternativa que corresponda verdadeiramente aos interesses dos trabalhadores e do

povo e que dê resposta aos problemas estruturais do País.

Sr. Ministro, este é, como já disse, o quarto Orçamento desta Legislatura. A evolução da situação económica

e social dos últimos anos confirma que a devolução de direitos e de rendimentos trouxe crescimento económico,

redução do desemprego e da pobreza, melhoria das condições de vida, perspetiva de futuro para muitos que já

a tinham perdido. Trouxe até, ao contrário do que diz o PSD e o CDS, aquilo que era mais importante para

milhares de pequenas e médias empresas: clientes! A recuperação do poder de compra foi a medida mais

positiva que podia ter sido tomada para as milhares de pequenas e médias empresas, por muito que o PSD e o

CDS queiram anular isso.

Aplausos do PCP.

Esta evolução da realidade nacional, Sr. Ministro, comprova a falsidade do discurso de anteriores governos,

que justificaram o ataque aos direitos dos trabalhadores e do povo, dizendo que esse era o preço a pagar para

resolver os problemas do País; prova que os direitos dos trabalhadores não são um problema nem um obstáculo,

são, sim, um elemento indispensável ao desenvolvimento do País; e prova que a solução dos problemas

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nacionais está na valorização dos direitos dos trabalhadores e do povo e que esse é o caminho que tem de ser

prosseguido e aprofundado.

Por isso, pergunto-lhe, Sr. Ministro: perante esta realidade, como é que o Governo justifica que as metas do

défice e outras imposições da União Europeia continuem a ser colocadas à frente dos direitos dos trabalhadores

e da resposta aos problemas do País?!

Como é que o Governo justifica que as medidas positivas para os trabalhadores e para o povo sejam limitadas

e condicionadas mas, simultaneamente, pareça não haver travão ao gasto de dinheiro público com a banca

privada, com as PPP (parcerias público-privadas), com o insuportável fardo dos juros da dívida e outros

benefícios e privilégios dos grandes grupos económicos?!

Para que o País se desenvolva, Sr. Ministro, é preciso que essas opções se invertam.

Sr. Ministro, o PCP valoriza, naturalmente, o facto de a proposta de Orçamento do Estado para 2019

consolidar e desenvolver as medidas de reposição de direitos e rendimentos, tal como os avanços alcançados

nos últimos anos, mas não se dá por satisfeito com o que está proposto.

Queremos que, na especialidade, se ultrapassem as limitações de algumas das medidas positivas e se vá

mais longe na resposta a problemas que ainda não tiveram consideração nos avanços que constam da proposta,

avanços que, de resto, são resultado da luta e da intervenção decisiva do PCP, como o das pensões, com um

novo aumento extraordinário em 2019 e, desta vez, integralmente, a partir de janeiro, como defendíamos.

Pelo terceiro ano consecutivo, os pensionistas terão, nas suas pensões, aumentos mínimos de 10 € e de 6

€ — um avanço com a marca do PCP!

Há um avanço, também, na gratuitidade dos manuais escolares nos 12 anos da escolaridade obrigatória.

Durante anos, o PCP bateu-se por esta medida e pela sua universalidade, para que se caminhasse no sentido

da igualdade no acesso à educação por todas as crianças e jovens que frequentam a escola pública e, em 2019,

esse objetivo será alcançado — um avanço, também, com a marca do PCP!

Há avanços, ainda, no reforço do abono de família para as crianças entre os 3 e os 6 anos de idade, na

extinção do pagamento especial por conta como regime de coleta mínima, na possibilidade de redução dos

custos com a eletricidade e o gás natural, na valorização das longas carreiras contributivas, no acesso e no

apoio à cultura, no apoio extraordinário a desempregados de longa duração, na redução do valor das propinas,

na redução dos custos dos transportes públicos, por via do passe social.

É preciso que a discussão na especialidade se faça de forma a ultrapassar as limitações de algumas dessas

medidas positivas, como, de resto, já se identificou com clareza em relação à possibilidade de redução dos

custos com a energia; é preciso que se faça, também, de forma a evitar que o sentido positivo com que essas

medidas foram discutidas não seja, agora, transformado em retrocesso, perigo que, de resto, ficou demonstrado

no exemplo das longas carreiras contributivas.

Esta é a última questão que quero colocar-lhe: qual é a disponibilidade do Governo para que esse trabalho

que é preciso fazer na especialidade, no sentido de ampliar as medidas positivas que constam da proposta de

Orçamento, possa, de facto, avançar?

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Ministro das Finanças.

O Sr. Ministro das Finanças: — Sr. Presidente, Sr. Deputado João Oliveira, as metas do défice são,

seguramente, tão importantes como todas as outras metas que temos no Orçamento do Estado, como todas as

metas que estabelecemos para as contratações na Administração Pública, para as medidas que enquadram e

enformam a nossa política fiscal, para as medidas de investimento no Serviço Nacional de Saúde, na educação,

na cultura e na ciência. Todas essas metas são definidas no quadro de um equilíbrio no Orçamento do Estado.

Aquilo que temos feito, ao longo desta Legislatura, permitiu uma redução enorme dos custos de

financiamento dos portugueses, não apenas do Estado, mas das empresas, das famílias. Esta é a maior redução

que existe, entre todos os países da Europa, neste período de tempo. Apenas no âmbito do Estado, são menos

1400 milhões de euros de despesa com juros. Foi o cumprir das metas, mas não foi apenas o cumprir das metas

do défice, foi o cumprir dos objetivos que estabelecemos no Orçamento que trouxe credibilidade à política

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orçamental em Portugal e foi essa credibilidade que permitiu tornar o processo orçamental em Portugal mais

sustentável, a nossa dívida mais sustentável e, com isso, melhorar as condições de financiamento.

Essa redução da despesa com juros está vertida no Orçamento do Estado em mais investimento na saúde e

em mais investimento na educação.

O que temos estabelecido, ano após ano, traduz-se numa frase que já usámos várias vezes: não podemos

«dar passos maiores do que a perna». Não podemos colocar em risco aquilo que já conquistámos e que já

construímos para o futuro.

Trata-se, de facto, como disse na minha intervenção inicial, de construir uma sociedade mais justa, mais

coesa e mais integrada territorialmente. Mas, para o conseguirmos, temos de fazê-lo de forma responsável, com

este equilíbrio que resulta, obviamente, das discussões que temos, do debate que temos para a preparação do

Orçamento do Estado. É evidente que, tanto neste quanto em todos os outros Orçamentos do Estado, até hoje,

se prevê que o debate na especialidade seja muito rico, muito vivo. Aquilo que o Governo pretende, aquilo que

o Ministro das Finanças, seguramente, pretende é que esse debate seja equilibrado, que não ponha em causa

esta trajetória, porque, se a pusermos em causa, acredite, Sr. Deputado João Oliveira, vamos fazer com que

todas as outras conquistas que já alcançámos possam também, elas próprias, ser postas em causa. Isto é,

seguramente, algo que não pretendemos, seja nas pensões, seja em qualquer área do Orçamento do Estado.

A especialidade é um período de debate. Esperemos — e temos a certeza de que assim vai acontecer —

que esse debate seja guiado pelo sentido de responsabilidade que tem passado por toda, mas mesmo por toda,

a Legislatura.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para formular o seu pedido de esclarecimentos, o Sr. Deputado José

Luís Ferreira, de Os Verdes.

O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados,

Sr. Ministro das Finanças, permita-me que faça um comentário em relação à forma pouco respeitosa com que

o Sr. Deputado Adão Silva se referiu às posições conjuntas que o PS celebrou com os partidos à sua esquerda

e, em concreto, com o Partido Ecologista «Os Verdes».

Vozes do PS: — Muito bem!

O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Gostaria de lhe dizer duas coisas, Sr. Deputado: essas

negociações, ou as posições conjuntas, merecem respeito, porque foram construídas a pensar nos portugueses.

Aplausos do PS.

E sabe outra coisa, Sr. Deputado Adão Silva? Que eu tenha conhecimento — e está aqui o Sr. Primeiro-

Ministro, que o pode confirmar —, não houve, nem durante essas negociações nem depois, nenhum dirigente

dos partidos à esquerda do PS que se tenha chegado ao pé do Sr. Primeiro-Ministro, que tenha feito uma birra

absolutamente irrevogável e que tenha obrigado o Sr. Primeiro-Ministro a alterar a Lei Orgânica do Governo

para criar o cargo de Vice-Primeiro-Ministro!

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Bem lembrado!

Risos e aplausos do PS e de Deputados do BE e do PCP.

Protestos do CDS-PP.

O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Portanto, mais respeito, Sr. Deputado!

Sr. Ministro das Finanças, concordamos consigo, achamos que este Orçamento acompanha, de facto, as

linhas essenciais dos últimos três Orçamentos desta Legislatura, ou seja, este Orçamento assinala um esforço

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assumido de, pelo menos, colocar as coisas no sítio, depois da desarrumação que a passagem da direita pelos

destinos do País acabou por provocar, nomeadamente ao nível dos direitos e rendimentos das famílias, mas

também ao nível da qualidade dos serviços públicos.

Mas, Sr. Ministro, há um dado que tem de estar presente nesta discussão: tal como os três últimos

Orçamentos, este Orçamento não pode ser comparado com os do PSD e do CDS, por um motivo muito simples.

É que, neste Orçamento, discutimos o valor das devoluções, se é muito ou se é pouco; nos Orçamentos do PSD

e do CDS, aquilo que se discutia era a dimensão dos cortes, se eram muitos ou se eram poucos, se eram justos

ou se eram injustos.

O Sr. Fernando Rocha Andrade (PS): — Boa, boa!

O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Portanto, não pode ser este o termo de comparação. A comparação

tem de ser feita entre aquilo que este Orçamento propõe e aquilo que é socialmente justo, entre aquilo que este

Orçamento propõe e aquilo a que as pessoas e as famílias têm direito.

Sr. Ministro, sendo este o último Orçamento desta Legislatura, o sentimento generalizado que fica é o de que

sabe a pouco, porque, afinal, o Governo acabou por fazer os serviços mínimos ao nível da justiça social e do

desenvolvimento do País e, em algumas matérias, nem os serviços mínimos fez.

As contas são fáceis de fazer: se a economia está a ter um bom desempenho, é justo que esse bom

desempenho tenha reflexos positivos na vida das pessoas, exatamente na mesma proporção. E, quando

falamos de reflexos positivos, falamos não só dos direitos e rendimentos das pessoas mas também da qualidade

dos serviços públicos, porque, se não se valorizarem os salários e se não se melhorarem os serviços públicos,

quando a economia está a ter um bom desempenho, então, quando será o tempo de proceder à devolução de

rendimentos e salários e de reforçar a qualidade dos serviços públicos?! Quando será a altura de tomar decisões

que vão ao encontro das justas e legítimas aspirações das pessoas senão quando a economia dá sinais

positivos?!

Sr. Ministro, para Os Verdes, aquilo que se perspetiva, quanto ao aumento dos salários dos trabalhadores

da Administração Pública, parece ser insuficiente a todos os níveis e em todas as dimensões. É insuficiente

quando comparamos os salários médios do nosso País com os dos outros países europeus, é injusto quando

comparamos o valor desse aumento com o das verbas que estão previstas para financiar a banca — recordo

que são mais 850 milhões de euros só para recapitalizar o Novo Banco — e é absolutamente injusto quando

comparado com os montantes que estão previstos para o custo das parcerias público-privadas, que, recordo,

ascendem a 1692 milhões de euros.

Sr. Ministro, não lhe pergunto se acha isto justo ou injusto, mas pergunto-lhe, desde já, se acha que este

aumento dos salários dos trabalhadores da Administração Pública está em sintonia com o desempenho da nossa

economia. E a sua resposta, Sr. Ministro, terá de ter presentes dois elementos: a devolução de direitos e

rendimentos às famílias acabou por ser decisiva para o desempenho da economia e os salários dos

trabalhadores da Administração Pública estão congelados há 10 anos. Portanto, Sr. Ministro, a minha pergunta

é no sentido de saber se acha que este aumento dos salários vai acompanhar o crescimento da economia.

Além disso, Sr. Ministro, os serviços públicos exigem um investimento forte e de qualidade, até porque, como

sabemos, o anterior Governo deixou-os numa situação absolutamente fragilizada, a todos os níveis e em todos

os setores. Nesta matéria, Os Verdes sublinham a necessidade de olhar para os transportes públicos, muito em

particular para a ferrovia, com olhos de ver.

Assim, Sr. Ministro, gostaria de saber qual é a abertura e a disponibilidade do Governo para, em sede de

discussão na especialidade, acolher algumas das propostas de Os Verdes, nomeadamente no que diz respeito

à aquisição de material circulante e também ao reforço de trabalhadores, tanto na CP (Comboios de Portugal,

EPE) quanto na EMEF (Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário, SA).

Naturalmente, em sede de discussão na especialidade, Os Verdes não vão desistir e vão insistir nessas e

noutras propostas, designadamente em torno da necessidade de continuarmos a reforçar os meios ao nível da

conservação da natureza e também de criarmos incentivos para os produtores florestais que queiram investir

em produções de espécies autóctones.

Para terminar, Sr. Ministro das Finanças, reconhecemos que este Orçamento do Estado transporta elementos

positivos, nomeadamente no que se refere aos aumentos das pensões de reforma, à gratuitidade dos manuais

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escolares e à redução dos custos no acesso aos transportes públicos. Mas, Sr. Ministro, se não fosse a forma

como o Governo olha para as imposições externas, nomeadamente para o tratado orçamental e para o défice,

não temos dúvidas de que, certamente, «outro galo cantaria». O poema até podia ser o mesmo mas, certamente,

«outro galo cantaria» e as pessoas e os nossos recursos naturais teriam mais importância neste Orçamento.

Se não fosse a forma como o Governo olha e encara as parcerias público-privadas e as ajudas à banca, Sr.

Ministro, o poema podia ser o mesmo mas, certamente, «outro galo cantaria».

A pergunta que lhe deixo, Sr. Ministro, é exatamente no sentido de saber se acompanha esta leitura, de que,

se não fossem essas opções estratégicas por parte do Governo relativamente ao tratado orçamental, ao défice,

às parcerias público-privadas e às ajudas à banca, este Orçamento poderia pensar muito mais nas pessoas e

nos recursos naturais.

Aplausos de Os Verdes e do PCP.

O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Ministro Mário Centeno.

O Sr. Ministro das Finanças: — Sr. Presidente, Sr. Deputado José Luís Ferreira, a valorização das posições

conjuntas é, obviamente, um ato de democracia e, seguramente, um ato de respeito para com esta Assembleia.

Como sabe, do lado do Governo, sempre foi assim que as tratámos, sempre foi nesse espírito de diálogo e de

negociação que tratámos todos os Orçamentos e todas as decisões legislativas tomadas em conjunto.

Noto alguma nostalgia na intervenção do Sr. Deputado, mas gostava de lhe dizer que, enfim, sendo da

natureza da vida, há, seguramente, mais vida para além do Orçamento do Estado para 2019. Não vamos tomar

as últimas decisões das nossas vidas ao longo destas semanas, até ao final de novembro.

O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Claro que não!

O Sr. Ministro das Finanças: — Portanto, com naturalidade, com muita responsabilidade, tal como temos

feito até aqui, vamos continuar a enquadrar devoluções e progressos, em vez de regressões e cortes, como o

Sr. Deputado disse, e bem.

A despesa em prestações sociais cresce, nesta Legislatura, mais de 3000 milhões de euros e a despesa no

Serviço Nacional de Saúde cresce 1200 milhões de euros. Só a despesa com pessoal no Serviço Nacional de

Saúde cresce, na Legislatura, mais de 20%, o que significa que, neste momento, devotamos mais de 700

milhões de euros aos recursos humanos numa área tão importante, onde eles são tão cruciais, como a da saúde.

As decisões sobre recursos humanos, nomeadamente sobre os funcionários públicos, têm uma grande

incidência no Orçamento para 2019. Os 800 milhões de euros que referi há pouco representam um aumento de

3,7% nas despesas com pessoal. Só os processos de progressões e promoções têm um impacto no salário

médio da Administração Pública de 68 €, o que é uma progressão muito significativa. É neste contexto de

recuperação de direitos e de mecanismos de valorização da Administração Pública que devemos colocar todas

as discussões e todos os debates em torno destas matérias.

As questões relativas aos transportes são essenciais, como o Sr. Deputado sabe. Neste momento, estão a

decorrer processos de concurso para aquisição de autocarros, no Porto, em Lisboa e em várias cidades do País,

e de barcos na Transtejo e na Soflusa; lançámos, há pouco tempo, o maior concurso para aquisição de material

circulante para a rede regional da CP, um concurso superior a 160 milhões de euros; temos o maior investimento

dos últimos 100 anos na ferrovia, que lhe vai devotar, nos próximos cinco anos, mais de 2000 milhões de euros;

e, em 2018, o orçamento da CP, que está em execução, cresce 14% e o da IP (Infraestruturas de Portugal)

cresce 10%. Portanto, esta tem sido a trajetória e esta tem sido a evolução.

Aquilo que lhe posso garantir é que, na execução do Orçamento para 2019, estas dinâmicas e esta evolução

não vão ser postas em causa, antes, pelo contrário, em algumas destas dimensões vão, isso, sim, acelerar.

Posso garantir-lhe que vai ser esse o caso, seguramente, do investimento na ferrovia.

Aplausos do PS.

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O Sr. Presidente: — Para terminar esta primeira ronda de pedidos de esclarecimento, tem a palavra o Sr.

Deputado André Silva, do PAN.

O Sr. André Silva (PAN): — Sr. Presidente, Sr. Ministro das Finanças, antes de mais, queria congratular

publicamente o Governo pela importante e fundamental decisão de eliminar o uso de plástico descartável e de

utilização única na Administração Pública.

O Sr. João Dias (PCP): — Muito bem!

O Sr. André Silva (PAN): — Há muito que se aguardava esta medida, agora publicada em Diário da

República, porque promove, desde logo, a redução da produção destes resíduos, mas também porque tem um

relevante papel pedagógico junto de todos os funcionários públicos e suas famílias, conduzindo a uma tão

necessária alteração de consciências.

É, de facto, com enorme satisfação que vemos o Governo a convergir com o PAN, a acolher e a implementar

algumas das medidas que temos trazido a debate nesta Legislatura. Esperamos, agora, que o Governo e o

Partido Socialista continuem este salutar combate ao plástico, acompanhando uma outra proposta do PAN: a

extensão do fim do uso de louça descartável de plástico ao setor da restauração. Perante a gravíssima crise

ecológica que vivemos, Sr. Ministro, continuar a utilizar louça plástica de uso único na restauração é não só

profundamente irresponsável como de uma enorme futilidade.

Falando em impactos ambientais, Sr. Ministro, numa matéria em que o Governo não tem estado propriamente

bem, quero abordar algumas medidas da proposta de Orçamento sobre o setor da energia, pedindo-lhe um

comentário.

No ano passado, por proposta do PAN, aprovámos, em Orçamento do Estado, o fim da isenção do imposto

sobre produtos petrolíferos relativamente a produtos como o carvão que é queimado para produção de

eletricidade nas centrais termoelétricas, as maiores emissoras de gases poluentes do País.

Também no ano passado, já se implementou para estes centros produtores uma taxa de carbono

progressiva, correspondente ao adicionamento sobre as emissões de CO2 previstas.

Porém, Sr. Ministro, nesta proposta de Orçamento, o preço é manifestamente baixo — 5 €/tCO2 —, como

podemos constatar no artigo 224.º. Mas pior do que ser manifestamente baixo é o facto de o preço da taxa de

carbono ter sofrido uma redução face ao valor atual, de 2018, que é de 6,25 €/tCO2. Este valor agora proposto

representará uma pequeníssima penalização face ao custo das licenças de emissão que as empresas têm de

pagar e a sua redução dará um sinal errado, estando, aliás, em contraciclo com a realidade dos países europeus.

O valor das licenças de emissão de carbono na Europa tem vindo a aumentar, Sr. Ministro, rondando

atualmente os 18 €, um valor muito distante dos 5 € que o Governo agora inscreve no Orçamento para 2019.

No quadro da fiscalidade verde em Portugal, o espírito de taxar o carbono progressivamente nas centrais a

carvão tem de ser respeitado, pelo que o aumento da percentagem em cada ano não pode ser atenuado por um

preço nacional que vá decrescendo. Os valores das taxas nacionais do carbono nos países europeus não têm

descido, muito pelo contrário, porque estão, em muitos casos, indexados ao preço das licenças de emissão, tal

como no caso de Portugal, e têm, portanto, aumentado.

Sr. Ministro das Finanças, uma outra medida sobre o setor energético que se nos apresenta como pouco

compreensível e que não podemos deixar de comentar é o fim da isenção do pagamento de contribuição

extraordinária sobre o setor energético (CESE) na produção de eletricidade dos centros eletroprodutores que

utilizam fontes de energia renováveis. O término desta isenção acontece, enquanto vários centros

eletroprodutores de cogeração, que recorrem a combustíveis fósseis, continuarão isentos.

Alertamos, assim, para a enorme incoerência no que respeita às políticas na área da energia e do clima,

quando, por um lado, o Governo afirma querer atingir a neutralidade carbónica em 2050, mas, por outro, toma

medidas que penalizam as renováveis e excluem da contribuição extraordinária a eletricidade produzida por

combustíveis fósseis.

Sr. Ministro das Finanças, levaremos este caderno reivindicativo para a discussão em sede de especialidade,

esperando abertura, da parte do Governo, para o debater.

O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Ministro das Finanças.

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O Sr. Ministro das Finanças: — Sr. Presidente, Sr. Deputado André Silva, como sabe, o Governo, ao longo

da Legislatura, tem implementado um conjunto de medidas não apenas ao nível de taxas, ou de natureza fiscal,

mas de descarbonização da economia, de melhoria da mobilidade, de aposta nos transportes públicos. Estas

medidas contribuem, com certeza, para o objetivo que acabou de enunciar, que não é, de todo em todo, estranho

às prioridades políticas, económicas e orçamentais do Governo.

Em relação à questão que me colocou da taxa de carbono, que, como sabe, tem por base o CELE (Comércio

Europeu de Licenças de Emissão), ela passou de 6,5 €/t para 20 €/t, o que nos parece uma evolução bastante

significativa da penalização do carbono.

Aquilo que temos de encontrar, tal como na área orçamental, é um equilíbrio que permita o desenvolvimento

sustentado, inclusivo, da nossa economia — e este é, também, um desígnio de longo prazo —, mas que vá

sinalizando aqueles que são os incentivos importantes à racionalização do uso do plástico e de tudo o que é

energia fóssil.

Esse é o objetivo do Governo, assim prosseguiremos e é evidente que, tal como referi há pouco ao Sr.

Deputado João Oliveira, estamos abertos e, seguramente, debateremos, a nível da especialidade, as propostas

que o Sr. Deputado apresentar nesta matéria, que, como sabe, é central no Programa do Governo.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Sr.as e Srs. Deputados, vamos entrar na segunda fase dos pedidos de esclarecimento.

Temos, agora, seis pedidos, aos quais o Sr. Ministro das Finanças responderá em conjunto.

Tem a palavra, em primeiro lugar, o Sr. Deputado António Leitão Amaro, do Grupo Parlamentar do PSD.

O Sr. António Leitão Amaro (PSD): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Ministros, Sr.as e Srs.

Deputados, Sr. Ministro das Finanças, o senhor trouxe-nos aqui uma cantiga de sucesso e grande

autocontentamento.

Vamos, então, ver esses resultados, vamos ver como é que aproveitaram ou desperdiçaram uma

oportunidade única da conjuntura internacional, da política do BCE, da normalidade recuperada no País e das

reformas que os portugueses fizeram com esforço num passado recente.

Os senhores chamam-lhe sucesso, nós chamamos-lhe uma imperdoável oportunidade perdida, um

desperdício irrepetível, um desperdício imperdoável.

Vozes do PSD: — Muito bem!

O Sr. António Leitão Amaro (PSD): — Explique-me, Sr. Ministro das Finanças, como é que pode clamar

sucesso, quando 20 países da Europa crescem mais do que nós, quando, em 2017, temos o segundo pior défice

e a terceira maior dívida da Europa,

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — É sucesso, é!…

O Sr. António Leitão Amaro (PSD): — … quando a produtividade cai desde 2015, Sr. Ministro — diz o

Relatório do Orçamento, páginas 50 e 61 —, quando a consolidação orçamental que fazem é de menos de um

terço da Legislatura anterior,…

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Exatamente!

O Sr. António Leitão Amaro (PSD): — … quando até os juros da dívida pública a 10 anos são, hoje, mais

altos do que em março de 2015.

Como é que pode clamar sucesso, quando o rendimento disponível das famílias — página 51 do Relatório

do Orçamento —, nesta Legislatura, nunca cresceu tanto como em 2015?!

Como é que reclama sucesso com a carga fiscal no máximo de sempre e o investimento público no mínimo

de sempre?!

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Vozes do PSD: — Muito bem!

O Sr. António Leitão Amaro (PSD): — Sr. Ministro das Finanças, explique-me lá como é que isto é um

sucesso. Como é que mostra tanto autocontentamento quando estão imperdoavelmente a desperdiçar uma

oportunidade única e irrepetível no País?! Como é que isso é sucesso, Sr. Ministro das Finanças?

Explique-me talvez a mais lamentável e, mais, quase incompreensível escolha desta maioria, e,

seguramente, do Sr. Primeiro-Ministro: como é que os senhores decidiram e conseguiram fazer com que a carga

fiscal fosse a máxima de sempre e os serviços públicos estejam no mínimo de sempre?!

A Sr.ª Inês Domingos (PSD): — Muito bem!

O Sr. António Leitão Amaro (PSD): — Sr. Ministro, puseram os portugueses a pagar uma parte do

rendimento gerado — maior do que alguma vez entregaram ao Estado — e, ao mesmo tempo, fizeram os

maiores cortes e cativações de sempre dos investimentos públicos. Esta é uma marca histórica socialista! Isto,

sim, é histórico: carga fiscal máxima para serviços públicos mínimos!

Protestos da Deputada do PS Marisabel Moutela.

Sr. Ministro Centeno, sim, são números seus, do seu Relatório: o ano de 2018 regista o recorde de sempre

de carga fiscal, que, em 2019, ficará acima da de qualquer dos anos anteriores!

Em 2019 — números seus, Sr. Ministro! —, famílias e empresas vão pagar mais 7000 milhões de euros de

impostos do que pagaram em 2015. Só no próximo ano são mais 1400 milhões de euros.

O Sr. Carlos Silva (PSD): — Pois é!

O Sr. António Leitão Amaro (PSD): — Já sei, vêm com a conversa da ilusão: «Nós não fizemos nada por

isso! Não é culpa nossa!» Ó Sr. Ministro, os impostos que os portugueses pagam, a carga fiscal máxima que

pagam é responsabilidade sua, e do Sr. Primeiro-Ministro.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Quando cresce a economia, espera-se que os impostos arrecadados

baixem!…

O Sr. António Leitão Amaro (PSD): — Sim, pelas omissões relativamente a alguns impostos e pelos

agravamentos relativamente a tantos outros!

Sim, outra vez, como fizeram nos três Orçamentos anteriores, voltam a aumentar 11 impostos! Dos

combustíveis às tributações autónomas em IRC e IRS, à não atualização dos escalões em IRS, por exemplo,

ao imposto do selo, ao imposto sobre o tabaco, ao imposto único de circulação (IUC), ao imposto sobre veículos

(ISV); das contribuições sobre os recursos florestais à taxa municipal de proteção civil — grande herança do

atual Primeiro-Ministro, ex-Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, que quer à força criar uma taxa de

proteção civil, a ser paga por todos os portugueses, mesmo quando o Tribunal Constitucional diz que «não há

serviço nenhum!», porque isso é bem com António Costa, paga mas não recebe serviço de volta. Pois é!

Aplausos do PSD e de Deputados do CDS-PP.

Sr. Ministro Centeno, sabe que mais chocante do que essa opção de pôr os portugueses a pagar mais

impostos do que sempre, é cobrar mais impostos para lhes entregar piores serviços.

Vozes do PSD: — Muito bem!

O Sr. António Leitão Amaro (PSD): — Sim, é isso que têm feito! São as lamentáveis notícias de factos

relativos a atrasos, supressões, adiamentos de serviços públicos — das consultas às cirurgias, dos comboios

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às aulas, das fronteiras à defesa das pessoas, dos meios aéreos que não foram acionados aos equipamentos

e materiais que não foram renovados, dos tempos de espera às pessoas que desesperam com as falhas do

Estado.

Não são apenas as demissões e as greves que atingem recordes, são os cortes no investimento público e

as cativações que consigo, Sr. Primeiro-Ministro, convosco, atingem recordes.

O Sr. Paulo Sá (PCP): — O PSD agora está preocupado com os serviços públicos?!

O Sr. António Leitão Amaro (PSD): — Bastava que nesta Legislatura mantivessem um investimento público

igual ao de 2015 e, nestes quatro anos, tinham investido mais 1500 milhões de euros!

Vozes do PSD: — Bem lembrado!

O Sr. António Leitão Amaro (PSD): — Bastava manterem o investimento público igual ao de 2015! O que

é que não se faria com 1500 milhões de euros em hospitais, escolas, centros de saúde, esquadras de polícia,

equipamento da defesa e das forças de segurança?!

Com as vossas cativações máximas para serviços mínimos foram mais 500 milhões de euros de cativos

finais, até agora, e ficámos a saber que, com esse «truquezinho» artista que a UTAO (Unidade Técnica de Apoio

Orçamental) revelou, começamos já com 590 milhões de euros de cativações, as quais estão previstas neste

Orçamento que aqueles senhores à esquerda vão, seguramente, aprovar. Falam, falam, falam, mas cativar

também é com eles!

Aplausos do PSD.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Está preocupado com a falta de verbas para os escritórios de advogados?!

O Sr. António Leitão Amaro (PSD): — Sr. Ministro das Finanças, o peso dos impostos no PIB sobe, mas o

peso da educação no PIB desce!

A Sr.ª Marisabel Moutela (PS): — Ah!

O Sr. António Leitão Amaro (PSD): — A saúde, supostamente, é uma prioridade, mas a despesa do Estado

em saúde cresce menos do que a despesa total do Estado. Grande prioridade!…

Sr. Ministro Centeno e, sobretudo, Sr. Primeiro-Ministro, esta é a sua escolha, feita de uma oportunidade

perdida: pôr os portugueses a pagarem a carga fiscal máxima de sempre para receberem serviços públicos

mínimos. Triste a sua escolha!

Aplausos do PSD e de Deputados do CDS-PP.

Protestos do PS.

Entretanto, assumiu a presidência o Vice-Presidente Jorge Lacão.

O Sr. Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem, agora, a palavra o Sr. Deputado Fernando Rocha

Andrade, do PS.

O Sr. Fernando Rocha Andrade (PS): — Sr. Presidente, Sr. Ministro das Finanças, lateralmente, queria

começar por dizer que esta ideia que o Deputado António Leitão Amaro acabou de introduzir, de que a proteção

civil municipal não presta serviços às populações, é uma ideia dele, o Tribunal Constitucional não escreveu nada

disso,…

Vozes do PS: — Muito bem!

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O Sr. Fernando Rocha Andrade (PS): — … e convém ler com atenção os acórdãos do Tribunal

Constitucional, antes de atirar este tipo de afirmações irresponsáveis para cima da proteção civil deste País.

Aplausos do PS.

O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — E nós pagamos impostos para quê?!

O Sr. Fernando Rocha Andrade (PS): — Mas, Sr. Ministro das Finanças, o debate até agora teve a grande

vantagem de esclarecer totalmente a questão do eleitoralismo. Senão, vejamos. O PSD abre o debate a dizer

que este Orçamento é eleitoralista. Logo vem o Deputado António Leitão Amaro e diz «atenção, porque este

Orçamento cobra imensos impostos aos portugueses e não gasta o suficiente nos serviços públicos», o que —

diria eu — é a antítese de eleitoralista.

Aplausos do PS.

Mas, verdadeiramente, tudo isso é ultrapassado pela intervenção da Sr.ª Presidente do CDS, que, debaixo

daquela saraivada de adjetivos, conseguiu, basicamente, prometer tudo a toda gente que, recentemente, tenha

reivindicado alguma coisa. E fez isto, somando milhares de milhões à despesa, quando, na sexta-feira, tinham

aqui umas propostas para retirar milhares de milhões à receita.

Aplausos do PS.

Verdadeiramente, o Orçamento para o CDS não é uma coisa de receitas e despesas, é uma pantomima da

commedia dell’arte…

Aplausos do PS.

… e é por causa disso que mantemos o nosso compromisso de rejeitar todas as propostas do CDS que o

nosso sentido de responsabilidade nos obrigue a rejeitar.

O Sr. Duarte Pacheco (PSD): — Nem sabem o que são!

O Sr. Fernando Rocha Andrade (PS): — Mas, Sr. Ministro das Finanças, queria também referir-me à

questão de este Orçamento acautelar ou não o futuro ou ser, numa expressão que foi aqui usada, «chapa ganha,

chapa gasta». Repare-se que «chapa ganha, chapa gasta» já seria um progresso, porque, em Orçamentos

anteriores, o que tínhamos era que a «chapa ganha» não chegava para a «chapa gasta» e era preciso pedir

«chapa» emprestada.

Risos e aplausos do PS.

E sempre mais «chapa» do que aquela que, inicialmente, se tinha previsto!…

Portanto, Sr. Ministro das Finanças, o primeiro sinal de compromisso deste Orçamento com o futuro é o facto

de ser mais um Orçamento que diminui a dívida pública, sendo esta o encargo que cada uma das nossas

decisões financeiras deixa às gerações futuras.

Este e o anterior Orçamento, por terem os défices mais baixos da democracia, são o principal sinal do nosso

compromisso com o futuro. Mas não são só! É que aquela receita fiscal que o Sr. Deputado António Leitão

Amaro se recusa a compreender, que é receita fiscal e contributiva e que cresce fundamentalmente porque o

desemprego desce muito mais do que, aliás, tínhamos antecipado,…

O Sr. João Paulo Correia (PS): — Ora!

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O Sr. Fernando Rocha Andrade (PS): — … não é toda gasta na despesa do presente. É por causa das

decisões tomadas em Orçamentos anteriores e neste Orçamento, de afetação de parte dessa receita fiscal ao

Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social que esse Fundo de Estabilização Financeira, pelas

projeções de hoje, será capaz de sustentar um eventual desequilíbrio das contas durante mais 19 anos do que

quando esta Legislatura começou.

Aplausos do PS.

Isso, Sr. Ministro das Finanças, isso é que é um Orçamento que acautela o futuro.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Jorge Costa,

do Bloco de Esquerda.

O Sr. JorgeCosta (BE): — Sr. Presidente, Sr. Ministro das Finanças, a baixa dos custos energéticos das

famílias foi um trabalho conjunto que o Bloco de Esquerda e o Governo realizaram ao longo desta Legislatura

— nem sempre com concordância, nem sempre com acerto, mas, na verdade, conseguindo um resultado

importante. Sabemos, desde já, que este ano conseguimos evitar, com a alta dos preços da energia, um

aumento da ordem dos 8% à conta de medidas que não penalizaram os consumidores, mas que, ao contrário,

incidiram sobre os interesses instalados das grandes elétricas. Por outro lado, temos em vista a possibilidade

de reduzir ainda em cerca de 5% a fatura elétrica, com a injeção que vai ser feita de receita da CESE

(contribuição extraordinária sobre o setor energético) para baixar a tarifa. Esta é uma concordância que temos

com o Governo.

Quanto a nós, há três erros importantes que estão sobre a mesa neste Orçamento — erros na CESE, no IVA

e nas rendas — e há um deles que o Governo decididamente corrigiu, que foi o de direcionar a receita da CESE

para reduzir o défice tarifário. É uma boa medida e tem o apoio do Bloco. Deveria ter sido sempre assim. A

receita da CESE deveria ter sido usada para evitar que os custos energéticos das famílias tivessem atingindo

os níveis incomportáveis que hoje têm. Portanto, é saudável que essa receita seja, finalmente, aplicada onde

deve.

Mas há dois outros erros do passado que estão a ser encarados pelo Governo, quanto a nós, de forma muito

insuficiente. O primeiro tem a ver com o IVA. Mantém a taxa de IVA que a troica introduziu. Recordo que foi o

atual Secretário de Estado da Energia que, em nome do Partido Socialista, condenou esse aumento e que

defendeu o regresso à taxa intermédia dos 13%.

O Governo entendeu que não tinha condições para fazer essa reversão e optou por uma medida que, na

nossa opinião, é fraca e muito insuficiente: um desconto no IVA circunscrito à parcela da potência contratada na

fatura.

Protestos do CDS-PP.

E pior do que isso: mesmo na parcela da potência contratada, nem todos os consumidores são abrangidos,

só aqueles que têm uma potência contratada mais baixa é que conseguem.

Portanto, há cerca de dois milhões de contratos, dos seis milhões totais, que ficam fora desta redução da

taxa de IVA em relação à potência contratada.

Pergunto ao Sr. Ministro das Finanças se, em relação à medida tão modesta que o Governo concebeu, está

disponível para alargar a redução do IVA a toda a potência até aos 6,9 kVA, que é a potência que a generalidade

dos consumidores utiliza. Por exemplo, é o patamar de 6,9 kVA que é praticado para a tarifa social de energia.

Não é um nível de consumo exorbitante, muito pelo contrário.

A terceira questão que está a ser respondida de forma insuficiente pelo Governo é a que respeita

precisamente à contribuição dos produtores de energia renovável no âmbito da CESE. A Deputada Mariana

Mortágua já aqui levantou a questão e o Sr. Ministro não teve ocasião de responder, mas peço-lhe que responda

agora.

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Neste momento, com a CESE tal como está configurada, vamos ter um cenário muito complicado para

conseguirmos atingir os 30 milhões de euros que o Governo previu com a sua proposta de contribuição, que é

diferente da que o Bloco apresentou no ano passado, tanto no modelo, como no alcance.

A Sr.ª MarianaMortágua (BE): — Exato!

O Sr. JorgeCosta (BE): — Isto porquê? Porque continuam a ser excluídas do pagamento da CESE as

centrais atribuídas mediante concurso público.

Ora, quando olhamos para a produção renovável, verificamos que não foram atribuídas por concurso as

centrais mais antigas. Essas estão muito amortizadas e pagarão pouquíssima CESE. Quanto às mais recentes,

foram concedidas por concurso e, portanto, estarão isentas desse pagamento. Vai ser difícil conseguir sequer

metade dos 30 milhões que o Governo previu.

Pergunto-lhe, Sr. Ministro, se o Governo está disponível para corrigir esta medida, levantando a isenção para

as centrais atribuídas por concurso e fazendo com que a CESE possa alcançar o objetivo do Governo, que é

uma contribuição ao nível dos 30 milhões de euros.

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Mota

Soares.

O Sr. PedroMotaSoares (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Membros do Governo, Sr.

Ministro das Finanças, quero começar por lhe dizer que fiquei muito chocado quando o ouvi caracterizar este

Orçamento como o Orçamento que veste Prada, uma marca de luxo.

Vozes do PS: — Ah!

O Sr. PedroMotaSoares (CDS-PP): — Para um português que está desempregado, ou para um português

que está, há meses, à espera de uma consulta ou de uma operação no SNS, para um trabalhador que tem de

usar todos os dias os transportes públicos, que chegam atrasados ou que são suprimidos, ou para uma mãe ou

para um pai que tem um filho numa escola que está à espera, há meses, de uma intervenção mas que

sistematicamente o Ministério das Finanças diz que não há dinheiro, ouvir o Ministro das Finanças dizer que

este Orçamento do Estado veste uma marca de luxo é uma declaração profundamente infeliz. Quase tão infeliz,

Sr. Ministro, como aquela declaração que disse aqui hoje, de que este Orçamento traz um enorme alívio fiscal.

Sr. Ministro, vamos ver se nos entendemos. Entre este Orçamento e o de há quatro anos, os portugueses

estão a pagar mais 7000 milhões de euros de impostos — é a soma deste Orçamento que «veste Prada» e que

tem a responsabilidade e a chancela do Sr. Ministro.

Protestos do PS.

Em 2018, tivemos a maior carga fiscal de sempre — veja o quadro da UTAO — e, em 2019, muito

provavelmente, se falhar a previsão como falhou para 2018, vamos ter uma carga fiscal semelhante à de 2018.

Vozes do PS: — Ah!

O Sr. PedroMotaSoares (CDS-PP): — Por isso mesmo, Sr. Ministro, quero fazer-lhe quatro perguntas

sobre esta matéria.

A primeira tem a ver com o imposto sobre a gasolina e o gasóleo. O Sr. Ministro fala muito em cumprir

promessas, mas foi o Sr. Ministro que, quando criou a sobretaxa de 0,06 €, fez a promessa de que essa

sobretaxa seria neutral, que iria baixar.

Se tem alguma dúvida quanto a isso, pode olhar para o Sr. Deputado Fernando Rocha Andrade, que na

altura estava consigo no Governo e que gosta muito de falar em pantominices — pantomineiro é alguém que diz

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uma coisa e que se desdiz exatamente no momento a seguir —, que disse várias vezes que essa taxa era

neutral.

O Sr. FernandoRochaAndrade (PS): — Todo o vosso Governo foi pantomineiro!

O Sr. PedroMotaSoares (CDS-PP): — Onde é que está a neutralidade? Desapareceu! Falharam na vossa

palavra!

O Sr. NunoMagalhães (CDS-PP): — Muito bem!

O Sr. PedroMotaSoares (CDS-PP): — Sr. Ministro, também nos lembramos que, quando o CDS trouxe à

Assembleia a proposta de eliminação dessa sobretaxa, os senhores disseram, bem como o Partido Comunista

e o Bloco de Esquerda, que admitiam discutir essa matéria no debate do Orçamento do Estado.

A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Ora bem!

O Sr. PedroMotaSoares (CDS-PP): — A verdade, Sr. Ministro, é que olhamos para o Orçamento e vemos

que, mais uma vez, falhou a sua palavra, uma vez que não há lá nada relativo ao ISP (imposto sobre os produtos

petrolíferos e energéticos).

Gostava de lembrar que hoje um português que vá a uma bomba de gasolina está a pagar mais 0,40 €/l, 25

€ por depósito, se tiver um carro a gasóleo, ou 0,29 €/l, 18 € por depósito, se tiver um carro a gasolina, do que

pagava antes desta sobretaxa que foi criada por VV. Ex.as.

Estamos a falar, Sr. Ministro, de uma diferença, entre 2015 e 2019, de mais 1400 milhões de euros só neste

imposto.

Por isso mesmo, pergunto-lhe: vai ou não vai cumprir a palavra de eliminar esta sobretaxa no Orçamento?

Mais ainda, Sr. Ministro: Como é que consegue criar uma taxa de carbono alterando a fórmula de cálculo,

que, no final do dia, vai ter como consequência a subida do ISP de 0,01 €/l? Explique-me isto, Sr. Ministro,

porque sinceramente gostava de perceber.

Segunda pergunta: para 2019, está prevista uma inflação de 1,3%. A verdade é que o Governo não vai

atualizar as tabelas de IRS nesse sentido, retirando rendimento aos portugueses e aumentando a receita fiscal.

Sr. Ministro, está ou não está disponível para aceitar a proposta do CDS de atualizar as tabelas de IRS ao valor

da inflação?

Terceira pergunta: sobre as horas extra, o CDS já propôs, no Orçamento do Estado do ano passado, a

exclusão da tributação das horas extra que são feitas por parte de muitos trabalhadores em Portugal. O que

acontece, neste momento, é que uma pessoa que trabalhe mais, muitas vezes, recebe mais, mas tem de pagar

muito mais impostos, tornando completamente inútil o seu esforço e o mérito que teve.

Nesse sentido, propusemos a eliminação da tributação das horas extra e os senhores disseram que era

impossível. Já neste Orçamento do Estado retiram do englobamento, o que vai dar no seguinte: uma pessoa

que trabalhe agora vai pagar muito depois e, entretanto, nesse lapso, vai à cabine de voto votar. Está ou não

disponível para retirar a tributação das horas extra?

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Muito bem!

O Sr. Fernando Rocha Andrade (PS): — A que propósito? Que disparate!

O Sr. PedroMotaSoares (CDS-PP): — Quarta pergunta: continuando a falar de pantominices ou de logros,

já foi aqui dito que a descida do IVA da eletricidade é um logro, que vai ser aplicada a muito poucas pessoas,

tal como é um logro a descida do IVA para a área da cultura, proposta pelo CDS. É porque os senhores reduziram

o IVA para a cultura só em relação aos recintos fixos, não permitindo, por exemplo, que o espetáculo ao ar livre

tenha uma taxa de IVA reduzida. Um logro!

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Tal como são um logro as taxas dos recursos fiscais e da proteção civil. Deixe-me dizer-lhe, Sr. Ministro, que

estas duas taxas e estes impostos de que estou falar só ficarão assim se o Partido Comunista e o Bloco de

Esquerda quiserem,…

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Ora bem!

O Sr. PedroMotaSoares (CDS-PP): — … porque o CDS vai propor a eliminação dos mesmos.

Sr. Ministro, se esses impostos forem por diante, não vão vestir Prada, vão vestir Pravda, porque dependem

dessas duas bancadas, as quais terão de ser confrontadas com muitas das coisas que andaram por aí a dizer.

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Os senhores só querem ter o dinheiro no bolso!

O Sr. Presidente: (Jorge Lacão) — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Duarte

Pacheco.

O Sr. DuartePacheco (PSD): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados, Sr.

Ministro das Finanças, penso que é tempo, quando intervém nesta Casa, de deixar de fazer comícios e falar

concretamente daquilo que apresentou aos portugueses e ao Parlamento.

Aplausos do PSD.

O Sr. PedroMotaSoares (CDS-PP): — Está a pedir uma remodelação! É que com este Governo não dá!

O Sr. DuartePacheco (PSD): — É simples e vai perceber porque é que estou a dizer isto, Sr. Ministro. É

que eu adorava saber o que é que o Presidente do Eurogrupo pensa da postura do Ministro das Finanças de

Portugal. Muito simplesmente porque o Sr. Ministro sabe — tem, pelo menos, o dever de saber! — que aquilo

que, neste momento, os Deputados têm para votar é uma proposta de Orçamento que tem um défice de cerca

de 0,5% do PIB. O Sr. Ministro sabe isso tão bem como qualquer um de nós.

Por isso, gostava de saber qual é a opinião do Presidente do Eurogrupo sobre essa matéria.

De duas, uma: ou o Sr. Ministro colocou a despesa acima do que pretende fazer para satisfazer determinados

grupos, nomeadamente grupos políticos desta Casa, mas não tenciona executar qualquer uma dessas medidas

— e, então, diga concretamente que medidas não vai executar — ou, então, está claramente a querer enganar

os portugueses.

Em relação a isso, Sr. Ministro, só tenho uma palavra: falta de seriedade política!

O Sr. FernandoRochaAndrade (PS): — São quatro palavras! Nem as palavras consegue contar!

O Sr. DuartePacheco (PSD): — Isso não fica bem ao Ministro das Finanças de Portugal. Espero que fique

melhor ao Presidente do Eurogrupo!

Aplausos do PSD.

E pior do que isso, Sr. Ministro: de facto, os senhores são campeões a fazer muitos comícios e muita

propaganda — isso os senhores gostam de o fazer —, mas, depois, a realidade, como já aqui ficou manifesta

por vários partidos, infelizmente, não é aquela que propagandeiam.

Anunciam: «Vai baixar o IVA da eletricidade. Os portugueses vão pagar menos». Depois, percebe-se que só

vai baixar o IVA dos contadores, aqueles de menor potência, que as pessoas têm em casa. É um engano! É

atirar areia para os olhos dos portugueses!

Dizem: «As horas extraordinárias não vão ser tributadas». Pois não, não vão ser no momento em que são

recebidas, mas em 2020, a seguir, lá estará a fatura para pagar, depois das eleições.

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Também dizem: «Vai ser facilitado o regime das reformas antecipadas para quem tiver 60 anos de idade e

40 anos de serviço». Logo a seguir, a confusão instala-se e percebe-se que foi mais uma mentira que atiraram

para cima dos portugueses.

Sr. Ministro, a democracia tem regras e a regra significa que podemos discordar uns dos outros. No entanto,

temos de falar com seriedade sobre aquilo que propomos aos portugueses e ao Parlamento e, infelizmente,

essa não é a sua característica.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Por lapso exclusivamente meu, não dei a palavra, quando devia, ao Sr.

Deputado Paulo Sá, do PCP.

Para pedir esclarecimentos, tem, então, a palavra, Sr. Deputado.

O Sr. PauloSá (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sr. Ministro das Finanças, nos últimos três anos,

com o contributo decisivo do PCP, reverteram-se algumas das medidas fiscais mais gravosas do anterior

Governo PSD/CDS e concretizaram-se alguns avanços que contribuíram para uma fiscalidade mais justa e

adequada às necessidades de desenvolvimento do nosso País.

Reduziu-se o IRS, reduziu-se o pagamento especial por conta das micro e pequenas empresas, reduziu-se

o IVA da restauração, reduziu-se a taxa máxima do IMI (imposto municipal sobre imóveis), desagravou-se o IVA

dos instrumentos musicais, introduziu-se o novo imposto sobre o património imobiliário de elevado valor,

eliminaram-se algumas normas que facilitavam o planeamento fiscal agressivo por parte dos grupos económicos

e das grandes empresas, aumentou-se a derrama estadual para as empresas com elevados lucros, entre várias

outras medidas.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Muito bem!

O Sr. PauloSá (PCP): — O Orçamento do Estado para 2019 prossegue, embora de forma muito limitada, o

alívio fiscal em sede de IRS dos trabalhadores, dos reformados e pensionistas e das famílias por via de um novo

aumento do mínimo de existência. Mas, Sr. Ministro das Finanças, será ainda necessário que, na especialidade,

se proceda à atualização dos limites dos escalões do IRS tendo em conta a inflação.

Entre as medidas de natureza fiscal já incorporadas na proposta do Orçamento do Estado consta, ainda, a

eliminação do pagamento especial por conta, uma medida dirigida às micro e pequenas empresas. Esta é uma

proposta pela qual o PCP se bate há muito tempo e que, agora, irá, finalmente, ser concretizada.

Em 2016, no primeiro Orçamento do Estado da nova fase da vida política nacional, esta medida não foi

acolhida. Mas o PCP não desistiu, não se resignou e persistiu na sua luta, conseguindo, no Orçamento do

Estado para 2017, a redução do PEC e a inscrição de uma norma que estabelecia a sua extinção em 2019. A

persistência do PCP deu frutos: no próximo ano, mais de 100 000 micro e pequenas empresas deixarão de ter

de fazer o pagamento especial por conta.

Também importante para as micro e pequenas empresas, como, aliás, para a generalidade da população, é

a redução do ISP, como o PCP tem vindo a propor. Por isso, Sr. Ministro das Finanças, quero perguntar-lhe

quando será concretizada essa redução. Repito: quando será concretizada a redução do ISP?

Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sr. Ministro das Finanças, medidas de alívio fiscal dos trabalhadores, dos

reformados e pensionistas, das famílias e dos micro e pequenos empresários devem ser acompanhadas de

medidas que garantam uma tributação mais adequada dos grandes rendimentos, dos grandes patrimónios e

dos grandes lucros. O PCP tem propostas nesse sentido. Uma é o englobamento obrigatório, em sede de IRS,

de todos os rendimentos, incluindo os prediais e os de capital, para os contribuintes com rendimentos muito

elevados, isto é, superiores a 100 000 € anuais. A concretização desta medida contribuirá para corrigir as

distorções ao princípio da progressividade do IRS, garantindo uma maior equidade fiscal.

Outra das propostas é a criação de um novo escalão no adicional do IMI para património imobiliário superior

a um milhão e meio de euros. Esta é uma medida que garantirá a tributação mais justa e adequada das cerca

de 400 pessoas que, no seu conjunto, possuem património imobiliário de valor superior a 1000 milhões de euros.

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Também a criação de um novo escalão da derrama estadual para empresas com lucros anuais

compreendidos entre 20 e 35 milhões de euros representará, para cada uma das cerca de 100 empresas

abrangidas, uma tributação adicional de cerca 300 000 € por ano, um pequeno contributo para empresas que

registam anualmente lucros de dezenas ou centenas de milhões de euros.

Estas são propostas justas e necessárias, propostas que o PCP apresentará no debate da especialidade.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem agora a palavra, para responder a esta ronda de pedidos de

esclarecimento, o Sr. Ministro das Finanças.

O Sr. Ministro das Finanças: — Sr. Presidente, Sr. Deputado António Leitão Amaro, deixe-me dizer-lhe que

perdeu mais uma oportunidade. Perdeu mais uma oportunidade de reconhecer o sucesso do País! Mas é uma

opção! É uma opção que, aliás, vem fazendo desde 2016, na discussão do Orçamento do Estado de 2017.

Aconselho-o a ir reler as sábias palavras que então disse sobre o não crescimento da economia em 2017, o não

aumento das exportações, o não aumento do rendimento.

O Sr. António Leitão Amaro (PSD): — Vá lá ver!

O Sr. Ministro das Finanças: — Sr. Deputado, falhou todas. Todas!

Aplausos do PS.

Não houve nem uma única previsão das que o Sr. Deputado na altura fez que se tivesse concretizado, desde

o PIB, às exportações, ao rendimento, à dívida pública.

Sr. Deputado, Portugal tem hoje uma taxa de desemprego muito abaixo da média da área do euro. A

economia portuguesa foi a economia em que o emprego mais cresceu nos últimos dois anos. O rendimento das

famílias portuguesas cresce 18% nesta Legislatura e a produção do País cresce 16%. Sim, temos um défice,

em 2019, de 0,2% e temos uma dívida a cair 12 pontos percentuais face ao máximo atingido em 2016.

Todos estes indicadores não são os indicadores do sucesso do Governo, mas do sucesso do País! A teimosia

do Sr. Deputado em reconhecer estes números não são uma teimosia face ao Governo, são uma teimosia face

ao País!

Aplausos do PS.

Mas quem quiser viver de costas para o País tem uma opção: segue aquilo que o Sr. Deputado aqui disse.

Por falar em eleitoralismo, associo-me à sua expressão, «eleitoralismo máximo», que, na versão do Sr.

Deputado, é, na verdade, o que define o Orçamento do Estado de 2015, pois foi o que o seu Governo, na altura,

fez para preparar as eleições de 2015. Todos os indicadores da despesa pública de que o Sr. Deputado aqui

falou são de 2015. Não será por acaso, com certeza! Não será por acaso!

Risos do Deputado do PS Fernando Rocha Andrade.

Sr. Deputado, o peso do IRS cobrado às famílias portuguesas no PIB caiu de 7,3%, em 2015, para 6,3%, em

2019. É menos 1 ponto percentual, o que representa 2000 milhões de euros do PIB de 2019, porque em 2015

era menor. Em 2019, são 2000 milhões de euros — é esta a dimensão do alívio fiscal de que falo.

Sr. Deputado Fernando Rocha Andrade, qualquer comentário que faça à sua intervenção só a pode piorar.

Risos do PS e de Deputados do PCP.

O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — É difícil!

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O Sr. Ministro das Finanças: — Portanto, associo-me completamente ao Sr. Deputado disse, à sua tradução

de que a redução da dívida é o melhor investimento no futuro, de que os indicadores de sustentabilidade que

temos na segurança social são a melhor aposta no futuro para Portugal. É exatamente nesse sentido que

trabalhamos, é esse o esforço que fazemos, por isso subscrevo todas as suas afirmações.

Sr. Deputado Jorge Costa, é hoje público e notório que a questão do custo da eletricidade e do IVA da

eletricidade foi um dos grandes temas na preparação deste Orçamento do Estado. Nesse contexto, propusemos

e acordámos um conjunto de medidas não só com o Bloco de Esquerda, mas também com o Partido Comunista

Português e com o Partido Ecologista «Os Verdes». Aproveito e retomo, também, uma questão que o Sr.

Deputado Paulo Sá aqui colocou, dizendo que, nesse conjunto de medidas, nós tínhamos uma redução do IVA

numa das componentes da fatura da eletricidade que não atinge pouca gente: são mais de 3 milhões de

contadores de famílias que vão beneficiar dessa redução. Mas essa medida tem de ser entendida num conjunto

mais vasto.

Protestos do CDS-PP.

O Sr. António Filipe (PCP): — Lá ficou o CDS de propósito em baixo!

O Sr. Ministro das Finanças: — Sobre as questões que o Sr. Deputado e também a Sr.ª Deputada Mariana

Mortágua levantaram sobre a CESE, direi que estamos a analisá-las e abordá-las-emos, seguramente, na

especialidade.

Neste conjunto de medidas, está também prevista — e respondo também ao Sr. Deputado Mota Soares —

uma redução do ISP da gasolina. Essa redução far-se-á por portaria e, por isso, não está no articulado do

Orçamento do Estado.

A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Ah!…

O Sr. Ministro das Finanças: — Esta medida recoloca o ISP da gasolina nos níveis anteriores ao aumento

e não à sobretaxa. O Sr. Deputado Mota Soares gosta muito das palavras que cria nos Governos onde participa.

A sobretaxa não é uma sobretaxa! Houve uma atualização do ISP e essa atualização, neste momento, no caso

da gasolina, é totalmente revertida com esta redução. Sr. Deputado Paulo Sá, esta resposta é também para si.

A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — O PCP vai cumprir a palavra ou volta com a palavra atrás?!

O Sr. Ministro das Finanças: — Sr. Deputado Mota Soares, confundiu a frase e eu acho que devemos

gostar de ser bem citados. Nunca, na minha intervenção, associei essa marca que referiu ao Orçamento do

Estado.

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Disse-a tantas vezes!

O Sr. Ministro das Finanças: — Nunca a associei ao Orçamento do Estado e o Sr. Deputado não fez o favor

de citar as minhas palavras com exatidão!

O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Associou-a ao desemprego, o que é muito pior! Isso mostra

insensibilidade!

Protestos do PS.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Sr. Ministro das Finanças, queira continuar, por favor.

O Sr. Ministro das Finanças: — Vou manter a minha calma, porque a sua enervação, Sr. Deputado, é só

porque citou mal a minha frase.

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Quando nós erramos, não devemos exaltar-nos, devemos estar calmos, devemos ouvir o que nos estão a

dizer.

Aplausos do PS.

Protestos do CDS-PP.

E o que estou a dizer-lhe é que, no final dessa frase, todos os indicadores lá citados estão associados à

marca «Portugal». A diminuição do desemprego, o aumento do emprego, o aumento das exportações, o

aumento do PIB estão, Sr. Deputado, nessa frase que citou, associados à marca «Portugal».

O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Está a pedir desculpa?!

O Sr. Ministro das Finanças: — Pelo menos, cite o Ministro das Finanças deste País com a frase que o Sr.

Ministro das Finanças disse e que foi, exatamente, a que estou a dizer-lhe.

Quanto à questão da gasolina, já está respondida.

Quanto à questão da reforma do IRS, nós implementámos uma reforma do IRS em 2018 que implicou uma

alteração muito significativa dos escalões. Nessa altura, dissemos que esses escalões iriam vigorar ao longo da

implementação da reforma e que esta iria ter incidência em dois anos — 2018 e 2019. Nada mais coerente! É

exatamente isso que está na proposta deste ano.

Mais uma vez, Sr. Deputado, a forma como refere o imposto sobre as horas extraordinárias e sobre o

rendimento de anos anteriores, não é assim definido pela proposta do Governo. O que a proposta explicita é

que a essas formas de rendimento se aplique a mesma taxa de retenção na fonte que hoje já se aplica ao

subsídio de Natal e ao subsídio de férias. Não se trata de não pagarem imposto, mas, antes, que incidam sobre

estas formas de rendimento a mesma taxa de imposto.

O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Pagam depois!

O Sr. Ministro das Finanças: — Sr. Deputado Duarte Pacheco, cumprir é entregar Orçamentos, executá-

los e realizar as metas definidas. Foi exatamente isso que fizemos em 2016, em 2017, está a ser assim em 2018

e vai ser assim em 2019 — 0,2% é o défice que o Governo estima para 2019. Não há nenhum outro número a

discutir a não ser o 0,2% que corresponde a esse défice.

O Sr. Duarte Pacheco (PSD): — Qual é a despesa que não vai aparecer, Sr. Ministro?

O Sr. Ministro das Finanças: — Sr. Deputado Paulo Sá, as questões que levanta sobre o AIMI (adicional

ao imposto municipal sobre imóveis) e sobre a derrama são excelentes incentivos de debate para a

especialidade. Falaremos sobre estas matérias nessa altura.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Segue-se uma nova ronda de seis pedidos de esclarecimento. Lembro

que haverá, depois, uma outra ronda de pedidos de esclarecimento. Os Srs. Deputados façam o favor de regular

adequadamente o vosso tempo, de acordo com as disponibilidades existentes.

Sr.ª Deputada Lara Martinho, do Grupo Parlamentar do PS, tem a palavra para pedir esclarecimentos.

A Sr.ª Lara Martinho (PS): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro e demais Membros do Governo, Sr.

Ministro das Finanças, «Uma necessidade imperiosa» — foi assim que este Governo definiu, no seu Programa,

o relacionamento com as regiões autónomas.

Uma necessidade imperiosa de reconciliar o País com as regiões autónomas, uma necessidade imperiosa

de mobilizar os Açores e a Madeira para um novo patamar de relacionamento. E se é certo que, depois de anos

de esquecimento, havia a desconfiança de que esta mudança se concretizasse, a realidade é que aconteceu.

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Há uma mudança positiva no relacionamento com as autonomias regionais que, a cada ano desta

Legislatura, tem sido aprofundada; há uma mudança positiva quando eliminamos as limitações às suas

competências constitucionais e estatutárias; acima de tudo, há uma mudança, porque este Governo considera

as nossas regiões ativos estratégicos para o desenvolvimento do País!

Por isso, e volto a repetir, desde o primeiro dia, este Governo inscreveu como sendo imperiosa esta nova

visão do todo nacional. Uma nova visão que tem tido tradução nos vários Orçamentos apresentados, não sendo

este exceção.

Este Orçamento persiste em investir nos Açores e na Madeira, quando cumpre, integral e rigorosamente, as

transferências regionais, quando transfere para os serviços regionais de saúde as receitas obtidas com o

imposto sobre as bebidas não alcoólicas ou quando reverte para as regiões autónomas as receitas obtidas com

os jogos sociais, algo que não aconteceu com o anterior Governo PSD/CDS-PP.

Mas este Governo persiste também em investir nos açorianos e nos madeirenses quando assegura

investimentos nos serviços do Estado, quando reforça a conectividade e a proximidade dos açorianos e dos

madeirenses com o resto do território nacional, aumentando acima dos 100% o subsídio social de mobilidade,

ou quando reforça a conectividade e proximidade interilhas, comparticipando as obrigações de serviço público,

algo que não aconteceu com o anterior Governo PSD/CDS.

Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, este Governo tem consciência da necessidade de continuar a apostar

e a diminuir, acima de tudo, a corrigir, estas desigualdades que ainda persistem nas regiões autónomas; tem

consciência do potencial que representamos para a projeção externa do País; tem consciência de que investir

nos Açores e na Madeira é investir no futuro nacional.

Em razão desta consciência, este Orçamento continua a investir nas empresas regionais, ao promover a

substituição das interligações por cabo submarino entre o continente e as regiões autónomas, bem como ao

reduzir os custos da sua utilização em mais de 70%; aposta no transporte marítimo limpo, ao promover

estrategicamente a utilização do gás natural liquefeito; e considera estratégica a defesa dos interesses regionais

a nível internacional, apoiando os emigrantes que se encontram na Venezuela, bem como os que regressaram

e apostando em projetos estratégicos como o AIR Centre — Atlantic International Research Centre, o

Observatório do Atlântico, o aeroporto da Horta ou a negociação do dossier da Base das Lajes.

Há um esforço evidente deste Governo em apostar, investir e cumprir com as regiões autónomas, olhando

para os seus problemas distintos, dando respostas adaptadas às suas especificidades. E, apesar de ainda

persistirem muitos desafios que continuaremos a enfrentar, a realidade é que estamos a construir um novo

modelo.

Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, há uma positiva e sistemática teimosia deste Governo em assumir as

suas funções e responsabilidades, e ainda bem que, finalmente, assim é.

Neste sentido, Sr. Ministro das Finanças, o que lhe solicitamos é que possa desenvolver em que medida este

Orçamento concretiza esta aposta nos açorianos e nos madeirenses, que se pretende que seja participada,

positiva e sistemática para o contexto nacional.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem, agora, a palavra, para pedir esclarecimentos, o Sr. Deputado João

Almeida, do CDS-PP.

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Ministros, Sr.as e Srs.

Deputados, Sr. Ministro das Finanças, antes de mais, peço dois esclarecimentos sobre matérias que já foram

abordadas.

Sr. Ministro, o primeiro pedido de esclarecimentos diz respeito a uma matéria pela qual o CDS, desde a

primeira hora, se bateu, a da neutralidade do ISP, anunciada e incumprida sucessivamente por este Governo.

Relativamente a este imposto, três anos depois de este Governo, não cumprindo essa neutralidade, ter estado

a tirar receita da economia, receita dos contribuintes, receita das famílias, para incumprir, o Sr. Ministro agora

vem dizer que vai baixar o ISP.

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Sejamos claros — e a pergunta que faço é para clarificar: se quer, ao fim de três anos, cumprir aquilo que o

CDS lhe exigia há três anos, então diga em que termos o vai fazer. Quanto é que vai baixar o ISP da gasolina?

Quanto é que vai baixar o ISP do gasóleo?

Vozes do CDS-PP: — Muito bem!

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — A pergunta tem uma justificação. O Sr. Ministro falou da portaria,

que tem razão formal, e eu falo-lhe do Orçamento, que tem razão material.

O Orçamento refere que a receita com o ISP aumenta 200 milhões de euros. O que quero perguntar é como

é que os 200 milhões de euros, que o senhor diz que tem de aumento de receita de ISP, casam com a redução

que o CDS reclama há três anos e que, agora, o Sr. Ministro parece querer cumprir.

Segundo esclarecimento necessário: a questão das pensões antecipadas e dos 60/40. Durante a discussão

na especialidade, não pode acontecer…

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Cortes!

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — … com as pensões antecipadas aquilo que aconteceu no

Orçamento passado com a atualização das remunerações dos professores, que é haver uma letra e várias

interpretações.

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Muito bem!

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — O Governo é especialista nisso e, como diz o povo, «o diabo

está nos detalhes», vista o que vestir. Portanto, o Governo aposta nos detalhes para iludir todos aqueles que,

justiça seja feita, se deixam iludir com muita facilidade, como é o caso dos que, à esquerda, aprovam os

Orçamentos sem se preocuparem com esses mesmos detalhes.

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Muito bem!

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Sr. Ministro das Finanças, o que está a ser dito aos pensionistas

sobre a antecipação das suas pensões este ano é mais ou menos aquilo que foi dito aos professores no

Orçamento do ano passado? Ou seja, que vão ter direitos que depois não se materializam? Ou que vão ter

reconhecimento que depois não é efetivado? Ou que, na prática, vão ter condições que nunca conseguirão

concretizar?

De uma vez por todas, esclareça, sobre estas pensões antecipadas, o que é que, efetivamente, está em

causa.

Vozes do CDS-PP: — Muito bem!

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Por fim, Sr. Ministro, uma matéria que aparecia muito nos

discursos do Sr. Ministro no início desta Legislatura e que desapareceu: a questão do setor financeiro.

O Sr. Ministro, nos primeiros debates orçamentais e noutros, dizia sempre que tinha resolvido todos os

problemas do setor financeiro. O Governo anterior tinha deixado inúmeros problemas do setor financeiro e o Sr.

Ministro tinha resolvido todos os problemas desse setor.

Primeira pergunta: onde é que está a reforma da supervisão bancária?

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Muito bem!

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Ao fim de três anos, onde é que está a reforma da supervisão

bancária, que é anunciada desde o primeiro momento? Que Governo é que demora três anos para conseguir

entregar no Parlamento algo tão fundamental como a supervisão bancária?! E que falta faz essa supervisão

bancária revista e reformada, numa altura em que, como o Sr. Ministro sabe, se discute a forma como está a

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ser concedido crédito ao consumo e crédito à habitação sem que estejamos a acautelar, do ponto de vista

prudencial, aquilo que noutras alturas não se acautelou e gerou os problemas que gerou.

Sr. Ministro, três anos de atraso na reforma da supervisão podem custar ao País aquilo que se podia evitar

que custasse.

Sobre a resolução dos problemas no setor financeiro, esperava não ter de fazer esta pergunta porque,

provavelmente, seria uma pergunta que as bancadas do Bloco de Esquerda ou do PCP fariam.

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Ui!

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Mas o Bloco de Esquerda e o PCP esqueceram-se de que

ainda existe no Orçamento BANIF e BPN. Esqueceram-se! Já não há BANIF nem BPN!

Posso dizer-lhe, Sr. Ministro, que não só há BANIF e BPN neste Orçamento, como o peso das transferências

para os veículos do BANIF e do BPN, tal como, ainda hoje, dizia um órgão de comunicação social especializada,

é superior ao da atualização das carreiras dos funcionários públicos.

Por isso, a pergunta clara que lhe faço é a seguinte: como é que o Ministro das Finanças, que tinha resolvido

todos os problemas do setor financeiro, no último Orçamento da Legislatura transfere para os veículos do BPN,

nacionalizado por um Governo socialista, e para os veículos do BANIF, resolvido e entregue ao Santander por

este Governo socialista, 885 milhões de euros, mais do que aquilo que gasta com as carreiras dos funcionários

públicos?

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem a palavra, para pedir esclarecimentos, a Sr.ª Deputada Rita Rato,

do PCP.

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sr. Ministro, é de uma profunda demagogia

política ouvir o PSD e o CDS falarem de direitos dos trabalhadores. Isto porque quando puderam garantir direitos

aos trabalhadores não fizeram outra coisa que não fosse cortar salários, cortar pensões, aumentar o horário de

trabalho, destruir carreiras e — pasme-se! — despedir funcionários públicos.

Protestos do CDS-PP.

Tinham uma proposta em cima da mesa. O Sr. Deputado Mota Soares tinha a responsabilidade de despedir

700 pessoas na segurança social e, hoje, chega-se ao desplante, à profunda hipocrisia política de perguntar que

medidas é que este Orçamento tem no que se refere a carreiras.

Srs. Deputados, este Orçamento consagra propostas de valorização de carreiras, porque o PCP muito se

bateu por isso,…

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Ah!

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — … contra a vontade do PSD e do CDS.

Aplausos do PCP.

É que, Sr. Ministro, o que é hoje determinante é perceber que todos aqueles que queriam, para sempre,

porque o PSD e o CDS queriam para sempre!, cortes nos salários e nas pensões e o aumento do horário de

trabalho para as 40 horas — contra o relógio da história — , não se conformam com um caminho de reposição

de direitos. E usam os direitos dos trabalhadores e os trabalhadores da Administração Pública para fazer

politiquice.

Protestos da Deputada do CDS-PP Ilda Araújo Novo.

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Isso nós não admitimos, Sr. Ministro, porque, de facto, os trabalhadores da Administração Pública merecem

respeito e devem ser valorizados nos seus direitos!

Por isso, aqui dizemos de forma muito clara: a valorização dos salários, o aumento geral dos salários para

todos os trabalhadores da Administração Pública, repondo o poder de compra que foi perdido, é de elementar

justiça. Não é possível falar em valorização dos trabalhadores sem garantir valorizações salariais.

Nós não nos esquecemos de uma coisa muito importante e que, de resto, contou sempre com o voto contra

do PSD e do CDS: o aumento do salário mínimo para 650 €. Uma parte muito significativa dos trabalhadores da

Administração Pública, cerca de 200 000, aufere pouco mais do que o salário mínimo.

Por isso, quando o PCP, há semanas, aqui apresentou a proposta de aumento do salário mínimo para 650

€ também para o setor público, como é que PSD e CDS votaram? Contra, Srs. Deputados!

O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Por isso, a demagogia política tem limites, mas os trabalhadores da Administração

Pública exigem respostas.

Relativamente à contabilização do tempo integral de serviço dos professores e de outras carreiras da

Administração Pública, não é um favor que se faz aos trabalhadores, é um direito que lhes é reconhecido e é de

elementar justiça que assim seja!

O Sr. João Dias (PCP): — Muito bem!

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Ainda uma palavra sobre a precariedade. A tolerância zero à precariedade é um

combate de todos os dias. A cada posto de trabalho permanente deve corresponder um vínculo efetivo. Durante

mais de seis Orçamentos do Estado, o PCP trouxe aqui a proposta para um levantamento, para um diagnóstico

sobre a precariedade. Como é que votaram o PSD, o CDS e também o PS? Contra!

Foi por proposta do PCP que se consagrou o PREVPAP (Programa de Regularização Extraordinária de

Vínculos Precários na Administração Pública).

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — E com a ajuda da direita!

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Mas o PREVPAP não é o único instrumento para combater a precariedade, o

Governo tem outros instrumentos. O combate à precariedade deve ser diário. Sejam estágios, sejam bolseiros

de investigação, sejam formadores do IEFP (Instituto do Emprego e Formação Profissional), sejam falsos recibos

verdes, se respondem a necessidades permanentes, têm de ter um vínculo efetivo. Esse é um compromisso

básico do emprego com direitos: a contratação dos profissionais em falta.

Sr. Ministro, lembramo-nos bem da sangria de funcionários públicos no tempo do Governo do PSD e do CDS.

De facto, as condições de trabalho eram inaceitáveis e, por isso, hoje, os serviços públicos têm uma carência

estrutural de funcionários públicos.

Portanto, queremos garantir a contratação de todos aqueles que fazem falta, contra a vontade daqueles —

pasme-se! — que a toda a hora diziam que tínhamos funcionários públicos a mais, que era demais, que o País

não aguentava tantos privilégios e tantos funcionários públicos e que hoje usam os funcionários públicos, na sua

demagogia primária, para impedir um caminho de avanço e de direitos.

Protestos do CDS-PP.

Por isso mesmo, Sr. Ministro, o que sabemos é que mais e melhores salários geram mais e melhores serviços

públicos e melhores serviços públicos geram melhores condições de vida e de desenvolvimento do País.

É esse o contributo do PCP porque sabemos que quem praticou o retrocesso nunca apoiará o progresso,

mas quem defende o progresso e, de forma intransigente, o emprego com direitos estará sempre na linha da

frente dessa batalha.

Aplausos do PCP.

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O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem, agora, a palavra, para pedir esclarecimentos, a Sr.ª Deputada

Margarida Mano, do PSD.

A Sr.ª Margarida Mano (PSD): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro e demais Membros do Governo, Caros

Deputados, cumprimento, em particular, o Sr. Ministro Mário Centeno pela oportunidade de o questionar e de

ouvir respostas que, de resto, o Sr. Ministro da Educação — que não está neste momento — não nos poderia

dar, uma vez que quem manda no orçamento da educação é o Sr. Ministro das Finanças.

O Orçamento apresentado por este Governo é mais uma oportunidade perdida. É verdade que existem várias

diferenças entre nós, diferenças ideológicas e de atitude. E a principal diferença de atitude que existe entre nós

é a ambição.

O PSD representa um País com ambição, um País que olha para o futuro e que quer ser melhor num mundo

melhor. Esta ambição não enjeita a importância do deficit zero, mas aspiraria, neste momento, a um superavit

estrutural.

Vozes do PSD: — Muito bem!

A Sr.ª Margarida Mano (PSD): — Esta ambição não aceita que o investimento em educação, relativamente

ao investimento total, seja, neste momento, em 2019, de 2,2%, quando em 2015 era de 4,8%, não aceita que o

orçamento do PO11, da educação, esteja, em 2019, ao mesmo nível de 2011.

As diferenças ideológicas traduzem-se em escolhas que desperdiçam a oportunidade. São escolhas de um

caminho de ilusão, de irresponsabilidade dos partidos que apoiam o Governo. E são escolhas erradas, de

diminuição do investimento público na formação das gerações para o futuro, na utilização de receita excecional

para pagar despesa estrutural, de injustiça territorial para concidadãos de territórios de baixa densidade e de

medidas populistas que criam iniquidade social.

É um Orçamento de medidas «eleiçoeiras», como refere um insuspeito ex-Eurodeputado e ex-Deputado

socialista — não sei se é o conjunto de «eleitorais» e «traiçoeiras», isso não sei!?

Na educação e no ensino superior, são introduzidas medidas que vão beneficiar quem menos precisa à custa

dos que mais precisam,…

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — É a indústria livreira!

A Sr.ª Margarida Mano (PSD): — … daqueles que carecem de mais ajuda.

Vozes do PSD: — Muito bem!

A Sr.ª Margarida Mano (PSD): — Veja-se a redução do valor da propina máxima.

O Sr. Adão Silva (PSD): — É verdade!

A Sr.ª Margarida Mano (PSD): — É uma medida que não facilita a vida aos mais carenciados, que já recebem

bolsa, e que, de forma perversa, ao baixar o limite do rendimento, retira cerca de 1500 bolseiros do sistema.

Justiça social significaria usar esses 50 milhões de euros em ação social, por exemplo, alargando o universo

dos bolseiros e aumentando o complemento do alojamento e em alojamento.

Sr. Ministro, no momento em que mais de 100 000 estudantes do superior estão deslocados, sem alojamento

em residência, é uma vergonha social que este Orçamento não tenha um compromisso nesta matéria.

Outro exemplo é o da atribuição de manuais escolares gratuitos a todos os alunos das escolas públicas,

independentemente de serem ricos, remediados ou pobres. Ser socialmente justo significaria investir esses 100

milhões de euros nas crianças e nos jovens carenciados, em manuais e em material escolar, nas escolas, na

renovação de equipamentos escolares, em computadores, em internet, etc.

Protestos do PS.

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Isto para que as desigualdades do meio socioeconómico familiar fossem mitigadas. Seriam estas as opções

de um Orçamento social-democrata.

O Sr. Ministro afirmou recentemente, e cito: «A educação foi uma aposta desta Legislatura como se vê pela

afetação de recursos financeiros ao setor.» Sr. Ministro, a educação não foi, nem é uma aposta para este

Governo. Intenções não chegam!

Por isso, gostaria de o questionar, primeiro, sobre a despesa na educação que era, em 2015, 9,6% do total

e, em 2019, é inferior, será 9,5%. Junta-se a isto uma dramática diminuição do investimento público e uma

aquisição de bens de capital, em 2019, inferior, em 18%, relativamente a 2015.

As únicas rubricas que aumentam no orçamento da educação, face a 2015, são as despesas com o pessoal,

que são transversais a toda a função pública, e as do passivo financeiro.

Afinal, é esta a visão deste Governo para a educação, Sr. Ministro?

Segundo ponto: ciência, tecnologia e ensino superior. O Governo apresenta um investimento público 17%

inferior a 2015. O rácio de investimento caiu de 7%, em 2015, para 4,7%, em 2019. O Governo não reforça as

dotações iniciais de universidades e politécnicos com os valores do descongelamento, da regularização dos

vínculos precários, de verbas de contratação de bolseiros, nem com a redução das propinas.

Sr. Ministro, em que dotações estão estes valores? Quanto somam? Onde está a aposta do Governo neste

setor?

As escolas estão asfixiadas. Dizem-nos os diretores que nem no tempo da troica tiveram tal situação.

Aumentou o absentismo, há atrasos a fornecedores, o profissional não é pago há mais de um ano — repito, Sr.

Primeiro-Ministro, o profissional não é pago há mais de um ano! —, há problemas de infraestruturas e

equipamentos obsoletos.

Quando é que se vai investir neste setor de modo a responder às necessidades e desafios do futuro.

Por fim, e tal como esperado, é importante notar que este Orçamento, desenhado por todos os partidos que

apoiam o Governo, não apresenta soluções para as reivindicações do tempo de serviço dos professores.

Pergunto: é efetivamente assim? Ou estão orçamentadas verbas? Se sim, qual o valor, relativo a quanto tempo

e onde estão inscritas? Se não, isso significa que o assunto nem sequer merece relevo orçamental?

Sr. Ministro, pelos dados que este Orçamento revela e também por aqueles que não revela, como é possível

dizer que a educação foi uma aposta desta Legislatura, quando nos apresenta um Orçamento pouco rigoroso e

pouco transparente e, sobretudo, com níveis de investimento inferiores a 2015?

Sr. Ministro, aposta na educação? Só se for poucochinho!

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem a palavra, para pedir esclarecimentos, o Sr. Deputado António Sales,

do PS.

O Sr. António Sales (PS): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro e demais Ministros, Sr.as e Srs. Deputados,

Sr. Ministro das Finanças, as propostas de Orçamento do Estado são momentos de verdade, repito, são

momentos de verdade. De verdade quanto às escolhas que se assumem; de verdade quanto às prioridades que

se estabelecem e quanto ao valor e propósito social das políticas que se adotam.

Todos temos memória, ainda que alguns se tentem fazer de esquecidos, e a verdade nua e crua é que, entre

2011 e 2015, o anterior Governo PSD/CDS escolheu limitar e restringir as políticas sociais, como foi o caso da

saúde, diminuir drasticamente o financiamento público de saúde e do Serviço Nacional de Saúde, impor cortes

cegos que afetaram substancialmente a capacidade e o funcionamento dos serviços e o acesso dos portugueses

aos cuidados de saúde. Reduziram o número de profissionais de saúde, congelaram investimento, aumentaram

taxas moderadoras.

Aplausos do PS.

Esta é a verdade nua e crua e de má memória das escolhas assumidas pelo anterior Governo PSD /CDS.

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Pelo contrário, Sr. Ministro, o atual Governo escolheu, desde o Orçamento inicial de 2016, voltar a colocar a

saúde e o Serviço Nacional de Saúde como prioridade, aumentando todos os anos a despesa total e o montante

de transferências para o Serviço Nacional Saúde.

Sr. Ministro, sendo este o último exercício orçamental desta Legislatura é este também o momento oportuno

para fazer um balanço das escolhas orçamentais desde 2015 e do percurso efetuado pelo atual Governo,

comparando com o registo de opções e o percurso do anterior Governo.

A atual proposta de Orçamento para 2019 prevê como despesa total em saúde 10,922 mil milhões de euros,

ou seja, mais 1860 milhões de euros do que em 2015, o que representa um acréscimo de 20,6%.

Aplausos do PS.

As transferências para o Serviço Nacional de Saúde, na proposta de 2019, atingem 9,01 mil milhões de

euros, ou seja, mais 1140 milhões de euros do que em 2015, o que significa um acréscimo de 14,5%.

Resumindo: há mais 20,6% de despesa total em relação a 2015, mais 14,5% de transferências para SNS em

relação a 2015 e mais 500 milhões de euros para a saúde em relação a 2018, o que significa mais 7,1%.

Sr. Ministro, esta é a verdade nua e crua. No rigor dos números e no exercício da matemática, o que é certo

é certo, o que não está certo é errado.

Protestos do PSD.

E o pior cego é aquele que, de facto, não quer ver, refugiando-se na espuma dos dias.

Aplausos do PS.

A verdade da política orçamental seguida por este Governo é a da recuperação da profunda degradação em

que encontrámos o Serviço Nacional de Saúde. Recuperámos de um corte de 1000 milhões de euros e

introduzimos 1200 milhões euros no SNS; recuperámos de um corte de 7000 profissionais de saúde introduzindo

agora mais 9000; recuperámos de um congelamento de inovação terapêutica e introduzimos 111 novos

fármacos inovadores; recuperámos de 1 300 000 utentes sem médico de família e demos médico a mais 700

000 novos utentes.

Sr. Ministro, passámos três anos a corrigir fatores de uma pesada herança de corte cegos.

Aplausos do PS.

Pergunto-lhe por isso, Sr. Ministro, com a consciência e a humildade de reconhecer que ainda muito nos falta

fazer, se, em função do caminho trilhado nestes últimos três anos, no rigor das contas e na saúde das finanças

públicas, estamos agora, nesta nova fase do ciclo orçamental, em condições de evoluir de uma estratégia de

recuperação para um patamar mais ambicioso do programa orçamental da saúde através da definição de uma

estratégia de desenvolvimento do Serviço Nacional de Saúde que permita estabilizar o presente e potenciar

respostas apropriadas aos desafios do futuro.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem a palavra, para pedir esclarecimentos, a Sr.ª Deputada Isabel Galriça

Neto.

A Sr.ª Isabel Galriça Neto (CDS-PP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados,

Sr. Ministro das Finanças, no seu discurso, o Sr. Ministro falou muito — muito mesmo — de saúde. Mas bem

pode o senhor vir aqui, e, aliás, a bancada socialista também, fazer proclamações inflamadas de que a saúde é

uma prioridade do seu Governo que nem a vossa política, nem os vossos Orçamentos o demonstram.

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O senhor vem dizer-nos que agora é que é, agora é que é! Vem dizer-nos que, desta vez, não vai ser como

nos últimos três anos em que o anunciado não é, depois, o executado. Vem dizer-nos que a austeridade não

tem sido por si imposta aos serviços públicos.

Na saúde, os portugueses sabem que as suas palavras e as suas promessas não correspondem à realidade

e sentem-se profundamente defraudados.

O seu Governo, o seu Orçamento não resolve o garrote financeiro que impôs ao Serviço Nacional de Saúde,

não resolve o subfinanciamento do Serviço Nacional de Saúde. O que o seu Orçamento traz — e seja claro, Sr.

Ministro, mesmo quando ri — é apenas, repito, apenas, um aumento de 2% nas verbas transferidas para o

Serviço Nacional de Saúde. E o senhor vangloria-se disso!

Foi feita uma remodelação governamental. Expulsaram o Ministro Adalberto, talvez para lançar uma cortina

de fumo nesta área. Mas a remodelação está terminada, só que os problemas continuam, Sr. Ministro.

Portanto, o que lhe quero dizer é que a insatisfação dos profissionais de saúde aumentou; as greves, como

a de hoje, são a um nível que nunca tivemos; aumentam as listas de espera para consultas e cirurgias, e isso o

senhor não pode negar.

As administrações dos hospitais estão cativas das suas cativações e não têm autonomia para tomar decisões

atempadas, para substituir material obsoleto, para contratar atempadamente profissionais, que continuam a ser

em número insuficiente.

Sr. Ministro, depois do seu discurso e do que disse agora o Sr. Deputado António Sales, não posso deixar

de lhe pedir clarificações sobre anúncios bondosos e processos de intenções em que este Orçamento do Estado

é fértil, porque sobre o financiamento para essas promessas nós não vemos.

Se não, vejamos: gostava de o questionar sobre a implementação do estatuto do cuidador. Sr. Ministro, esta

é uma área à qual o CDS se tem dedicado muito desde 2016 e sobre a qual no Orçamento do Estado temos

inúmeros anúncios. Onde estão as verbas cabimentadas para implementar essa medida? São promessas vãs

ou vão efetivamente dar-se mudanças para ajudar milhares de portugueses que confiaram nas palavras do seu

Governo e que, mais uma vez, estão defraudados.

Aplausos do CDS-PP.

Sobre os cinco hospitais, os cinco sobre os quais o senhor vem fazer um anúncio como se fosse uma coisa

enorme, devo dizer que, de Orçamento para Orçamento, vamos assistindo a esta caricatura, Sr. Ministro.

Por exemplo, para o novo hospital de Évora, até o Presidente da ARS diz que não sabe se se pode

comprometer com o lançamento da obra para o próximo ano. É o quarto Orçamento, Sr. Ministro! É o quarto

Orçamento em que os senhores vêm fazer promessas e brincam com os portugueses e com este Parlamento!

Aplausos do CDS-PP.

Sobre a reforma dos cuidados de saúde primários, Sr. Ministro, devo dizer que está parada, repito, está

parada, com USF prometidas e não criadas.

Na última audição, em comissão, que o Ministro Adalberto Fernandes teve aqui em setembro, disse que

íamos ser surpreendidos com um despacho a 1 de outubro para 30 novas USF de modelo A e 20 de modelo B.

Sr. Ministro, estamos a 29 de outubro, onde é que está esse despacho? Onde é que estão esses anúncios

que, mais uma vez, repito, mais uma vez, não foram cumpridos?

Mais, Sr. Ministro: queria perguntar-lhe sobre a Rede Nacional de Cuidados Continuados, outra área onde

há anúncios bondosos neste Orçamento do Estado.

Qual é a verba que lhe está destinada, quando se diz que vai aumentar o investimento e há dívidas gritantes?

Há promessas que foram assinadas pelo seu Governo e que não foram cumpridas e, portanto, há dívidas a este

setor que são extremas. O que é que vai estar, afinal, cabimentado para a rede de cuidados continuados?

O que eu queria dizer, para terminar, é que este Orçamento do Estado faz promessas vagas e anúncios

bondosos para a saúde, mas não discrimina investimentos, nem os prioriza, nem os calendariza.

Nós não estamos cá para acreditar nas suas promessas, que, aliás, o senhor já mostrou que não cumpre.

Este é um Orçamento opaco e o Sr. Ministro bem pode vir dizer que agora é que é que, olhe, nem os portugueses

nem, veja lá, as bancadas que suportam o seu Governo acreditam, porque, de facto, estão de tal maneira

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comprometidas e cansadas de um contorcionismo para conseguir justificar que querem denunciar problemas,

mas a seguir vão aprovar os Orçamentos que acentuam e aumentam esses problemas.

Sr. Ministro, clarifique se vai ou não, efetivamente, comprometer-se com verbas, executá-las e dar prioridade

à saúde ou se vai continuar a desprezar o que esta área representa para os portugueses.

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para responder, tem a palavra o Sr. Ministro das Finanças.

O Sr. Ministro das Finanças: — Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sr.ª Deputada Lara Martinho, tal como

afirmou, a relação deste Governo com as regiões autónomas tem sido de intensificação das prioridades que

cada um de nós identifica.

Em relação às áreas que a Sr.ª Deputada referiu, gostaria de sublinhar que, por exemplo, no subsídio social

de mobilidade, o Orçamento do Estado para 2019 prevê uma duplicação das verbas, de 35 milhões de euros

para 70 milhões de euros.

Também nas obrigações de serviço público interilhas, tal como existe na Região Autónoma da Madeira, na

Região Autónoma dos Açores a verba que lhe estava destinada no Orçamento do Estado, de 5,6 milhões de

euros, será aumentada em 2019 para 9,8 milhões de euros. Estes são os sinais financeiros, mas é evidente que

por trás destes números estão políticas, medidas com objetivos. Mas, na dimensão financeira, estes são os

compromissos que estão assumidos no Orçamento do Estado.

Também temos, no Orçamento do Estado, uma dotação para o lançamento do concurso público para a carga

aérea. Essa dotação está no Orçamento do Estado e vai ser usada para esse fim.

É evidente que nem só da dimensão financeira se robustecem as relações entre o Governo da República e

os governos das regiões autónomas. Escolhi aqui fazer uma nota dessa dimensão pela relevância que me

parece que elas têm em relação ao ano de 2019.

Sr. Deputado João Almeida, a questão do ISP é para ser tratada, e é tratada no contexto de um pacote de

medidas sobre a energia, tal como o Governo se comprometeu no debate que em julho aqui teve lugar.

A redução de 3 cêntimos no ISP sobre a gasolina representa um esforço que o Governo faz para, no contexto

de outras medidas, tais como as do IVA da eletricidade e da redução do défice tarifário, permitir, no ano de 2019,

uma redução do custo das diferentes formas de energia para os portugueses. Com esta redução de 3 cêntimos

na gasolina, o ISP fica exatamente ao nível da média europeia.

Quanto ao gasóleo, já estamos abaixo da média europeia. Por isso, juntamente com o gasóleo profissional

— o Sr. Deputado esqueceu-se de referir que, em 2016, foi alargado ao transporte de mercadorias de forma

muito significativa —, estas medidas compõem o conjunto das medidas que o Governo vai propor. E é assim

que devem ser entendidas.

Em relação às pensões, vou referir apenas um número, e seguramente que o debate se fará daqui para a

frente: 16 000 portugueses já se reformaram ao abrigo das medidas que este Governo tomou sobre as longas

carreiras.

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — E agora?!…

O Sr. Ministro das Finanças: — Trata-se de um número muito significativo de portugueses, e estas medidas

vão, obviamente, ser continuadas sempre numa dimensão de responsabilidade, que é, aliás, aquela que este

Governo tem adotado.

O Sr. Deputado falou também do setor financeiro. Quero dizer-lhe que a reforma da supervisão no setor

financeiro é importante para este Governo, não perdeu nenhuma importância. Ela foi anunciada num contexto

muito vasto de medidas sobre o setor financeiro, mas não se faz uma reforma do setor sem o sistema financeiro

estar estabilizado. Nós tomámos muitas medidas nesse sentido e hoje temos, de facto, uma nova perspetiva

sobre o sistema financeiro em Portugal. Durante este tempo, foram também implementadas alterações na

Europa, pelo que era importante que esta reforma bebesse dessas alterações. Entretanto, nas próximas

semanas, muito brevemente, iremos introduzir essa discussão também aqui no Parlamento.

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As questões que coloca sobre o BPN e o BANIF são distintas. No caso do BPN, a verba que está inscrita no

Orçamento do Estado é para fazer uma amortização de empréstimos antigos do BPN, ou, melhor, dos

sucessores do BPN quando ele foi nacionalizado. Não tem nenhum impacto no défice desse ponto de vista. A

mesma coisa se passa com o BANIF: as receitas da Oitante cobrem as verbas que vão ser disponibilizadas no

Orçamento do Estado para as operações relativas ao BANIF.

Sr.ª Deputada Rita Rato, em relação às questões da precariedade, como sabe, temos uma grande

concordância no que diz respeito à importância em reduzir a precariedade. A implementação do PREVPAP é

uma matéria da maior importância para o Governo. Também sabe, porque eu já o referi várias vezes, a

importância de que o PREVPAP não gere, só por si, uma perturbação no local de trabalho na Administração

Pública. É esse o cuidado que temos colocado na implementação do PREVPAP. Os compromissos estão todos

assumidos, vamos levá-los até ao fim, e vamos levá-los até ao fim com sucesso.

Quanto à questão dos professores, é clara a solução que o Governo adotou na sequência da negociação

com os sindicatos, e vamos implementar essa solução.

Sr.ª Deputada Margarida Mano, fiquei sem perceber de onde é que a Sr.ª Deputada retiraria dinheiro para

todas as medidas que aqui lançou, porque nalguma coisa teria de ceder. A Sr.ª Deputada podia ter sido generosa

com esta Câmara e ter enunciado o que é que deixaria de fazer para poder fazer tudo aquilo que referiu.

Há, neste Orçamento do Estado, um reforço significativo da ação social escolar; há, neste Orçamento, verbas

para um programa de alojamento de 15 milhões de euros, 2000 camas, até 2021.

Este Governo faz uma aposta muito clara na educação, o que se nota através de três aspetos: a diminuição

do número de alunos por turma, os mais de 7000 docentes vinculados durante esta Legislatura e os mais de 10

000 trabalhadores que, nesta Legislatura, se juntaram ao emprego na educação.

Em relação à ciência, o orçamento das instituições de ensino superior cresce 2% neste Orçamento. O

orçamento da FCT (Fundação para a Ciência e a Tecnologia), em virtude do programa de emprego científico,

cresce mais do que 15%. Temos, neste Orçamento, no programa orçamental da ciência, mais 37 milhões de

euros e, no programa da educação, mais 221 milhões de euros.

Sr. Deputado António Sales, Sr.ª Deputada Isabel Galriça Neto, a saúde é uma prioridade para este Governo.

Vamos introduzir, em 2019, um novo modelo de financiamento dos hospitais. Este novo modelo de financiamento

surge no contexto de uma redução drástica do endividamento do SNS. No final do ano, esse endividamento

andará em torno dos 350 milhões de euros, um dos valores mais baixos de que há memória no Serviço Nacional

de Saúde, que permitirá, nesse contexto, que os hospitais ganhem eficiência, possam implementar modelos de

gestão que melhorem a prestação do serviço no SNS, que é, no fim de contas, o que todos queremos.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Passamos a uma última ronda de perguntas ao Sr. Ministro das Finanças.

Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Ana Mesquita, do PCP.

A Sr.ª Ana Mesquita (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr. Ministro, apesar de o Governo

ter vindo a assinalar o aumento de financiamento no ensino superior e na ciência, como fez agora mesmo, certo

é que há problemas que dificilmente encontrarão solução sem medidas adicionais no Orçamento do Estado, e

muitas delas inscrevem-se, precisamente, no capítulo de reposição de direitos e rendimentos, bem como no do

combate à precariedade.

Por um lado, continua visível o subfinanciamento das instituições de ensino superior. Se isto não se resolve

apenas e só por via do Orçamento do Estado e obriga a alterações à própria Lei do Financiamento, a verdade

também é que é preciso contrariar decisivamente a trajetória descendente, percorrida durante anos, de política

de direita.

O peso do ensino superior no conjunto da despesa pública foi caindo brutalmente, sobretudo desde os anos

2000, e empurrou-nos para sermos os primeiros dos últimos num conjunto de 35 países, bem longe da média

europeia, tantas vezes referida. Neste cenário, o reforço de cerca de 22 milhões às instituições de ensino

superior é insuficiente para dar resposta às necessidades de investimento.

O reforço do financiamento é fundamental para garantir o respeito pelos direitos, quer dos trabalhadores,

quer dos estudantes. A precariedade que assola ainda o ensino superior e a ciência é inaceitável: casos de

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atividade docente não remunerada prestada por bolseiros de investigação; pressões para assinatura de

cláusulas abusivas e ilegais nos contratos dos docentes convidados; leitores das universidades públicas a

lecionar há décadas sem vinculação; necessidade de aplicação justa do programa de regularização de vínculos

precários, de modo a que não sejam, precisamente, considerações de natureza orçamental a impedir a

contratação efetiva em todas as carreiras, incluindo as especiais; desigualdade que está criada ao nível das

progressões remuneratórias dos docentes e investigadores em relação a demais trabalhadores da

Administração Pública.

Sr. Ministro, está mesmo na hora de pôr no lixo o velho carrocel da precariedade que dá cabo da vida a

tantos bolseiros e investigadores, afastados do acesso à carreira de investigação científica, que era onde

deveriam estar há anos. O que vai o Governo fazer? É que o reforço, quer das instituições, quer da FCT, não

chega para tal empreitada.

Quanto aos direitos dos estudantes, Sr. Ministro, é preciso diminuir, de forma alargada, os custos de

frequência. Sim, com o fim das propinas, mas exige-se também o reforço da ação social escolar e uma resposta

urgente para resolver o drama da falta de alojamento de estudantes do ensino superior.

Sr. Ministro, 15 milhões de euros para estarem prontas 2000 novas camas até 2021 é um avanço, é verdade,

para o qual o PCP contribuiu com a sua iniciativa legislativa, mas é pouco e não chega a tempo para quem está

a viver o problema agora! É preciso uma iniciativa imediata para que os estudantes vejam o seu direito

constitucional de acesso e frequência aos mais elevados graus de ensino integralmente cumprido. Por isso,

queremos saber, Sr. Ministro, o que vai ser feito a esse respeito já neste Orçamento.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Inês

Domingos, do PSD.

A Sr.ª Inês Domingos (PSD): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo, Sr. Ministro das

Finanças, este Orçamento é a confirmação de que a qualidade do crescimento da economia portuguesa, com

este Governo, foi arrasada.

Risos do PS.

Não só temos um dos crescimentos mais baixos da Europa como temos o terceiro pior desempenho de

produtividade da Europa entre 2015 e 2018.

Sr. Ministro, seja sério! Contrariamente ao que disse aqui hoje, os números do seu Governo, no relatório do

seu Orçamento do Estado, mostram bem a realidade. A produtividade de toda a economia, e sem o efeito ilusório

dos preços, diminuiu 0,4% entre 2015 e 2018. Isto é um sinal, no mínimo alarmante, sobre a qualidade do

crescimento da economia portuguesa com este Governo.

Dirá o Sr. Ministro que é porque cresceu o emprego. Mas, Sr. Ministro, nos anos deste Governo houve seis

países que tiveram aumentos de emprego superiores a Portugal e em quatro desses países o crescimento da

produtividade foi muito superior: na Irlanda, na Eslovénia, em Chipre e em Malta.

Que medidas apresenta o Governo para as empresas melhorarem a produtividade? Como sempre, com este

Governo, não há nada.

Diz o Sr. Ministro que, afinal, o maior bem para as empresas é a estabilidade fiscal. Sr. Ministro, será mesmo?

Julga que pode dizer que é mesmo bom para as empresas terem a segunda taxa máxima de IRC da OCDE

(Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico), que só é superada pela situação na França?

A situação ainda é pior do que parece, Sr. Ministro, porque apresenta umas medidas para o interior e para

as PME (pequenas e médias empresas) que valem tão pouco que nem aparecem no plano que o Governo

enviou para a União Europeia. Será que tem vergonha do que apresentou por ser tão mínimo?

Em contrapartida, volta a carregar nos impostos para as empresas: na tributação autónoma sobre os

veículos, no imposto sobre os produtos petrolíferos, no alargamento da contribuição extraordinária sobre a

energia às empresas de energia renovável, em novas contribuições sobre recursos florestais e para a proteção

civil.

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E não é só este Orçamento, Sr. Ministro, já vem de longe. Os anteriores foram altamente penalizadores para

as empresas e para a iniciativa privada. Agravaram os impostos sobre o alojamento local, a derrama estadual,

o ISP, os impostos para muitos trabalhadores independentes.

Com este Governo, o enfoque da política económica é quase exclusivamente no consumo, nada para o

investimento, nada para as empresas exportadoras. É um caminho que já seguimos no passado e com

resultados que são tragicamente conhecidos.

Sr. Ministro, este Governo parece não saber que quem cria emprego, quem cria riqueza são as empresas.

Portugal beneficiou, nos últimos anos, de uma oportunidade única para fortalecer estruturalmente a economia.

Os bons ventos do exterior teriam permitido continuar o programa de reformas do anterior Governo para tornar

a nossa economia mais forte face às intempéries, reforçando a produtividade das empresas.

Sr. Ministro, quando é que este Governo vai parar de desperdiçar as oportunidades?

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem a palavra também para um pedido de esclarecimento, a Sr.ª

Deputada Sara Madruga da Costa, do Grupo Parlamentar do PSD.

A Sr.ª SaraMadrugadaCosta (PSD): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Membros do Governo,

Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Ministro das Finanças, podemos pretender enganar todos por algum tempo, podemos

até conseguir enganar alguns por todo o tempo, mas não conseguimos enganar todos todo o tempo. E os

madeirenses já perceberam que foram enganados e que o Orçamento do Estado é também uma farsa para a

Madeira.

Como se diz na minha terra, «de um poço sujo não se retira água limpa». Depois de três anos de muitas

promessas, ficou agora clarinho como a água a aldrabice e o embuste em torno do financiamento do novo

hospital da Madeira. O Governo prometeu, repetidamente, pagar 50% do novo hospital e agora já só assume

pagar 13%. Repito, 13%!

Vozes do PSD: — É verdade, é verdade!

Protestos do PS.

A Sr.ª SaraMadrugadaCosta (PSD): — Anunciou, Sr.as e Srs. Deputados, um financiamento de um

montante superior a 132 milhões de euros, mas, depois, publicou uma resolução do Conselho de Ministros com

apenas 96,5 milhões.

Como se não bastasse, Sr.as e Srs. Deputados, o Governo não assume o pagamento do IVA e ainda faz

contas com o património alheio, nomeadamente com o património do Hospital Dr. Nélio Mendonça e do Hospital

dos Marmeleiros.

O Sr. Ministro veio aqui dizer — e pode continuar a dizer que não serve de nada — que o Governo não quer

um País dividido, mas o que este Governo faz é ser o primeiro a tratar de forma diferente uma parcela do País

com intuito eleitoralista, asfixiando os madeirenses.

Vejamos mais um exemplo: o Governo prometeu repetidamente reduzir a taxa de juro do empréstimo da

Região, mas em vez disso penaliza duas vezes as famílias e as empresas madeirenses. Castiga em dobro a

Madeira, porque não baixa a taxa de juro para 2,5 %, não elimina a taxa cobrada pela República e introduz o

pagamento antecipado da dívida.

E não vale a pena rir-se, Sr. Ministro, porque isso permitiria à Madeira uma poupança de 140,5 milhões de

euros.

Como vimos, Sr.as e Srs. Deputados, o Governo não faz as coisas por menos: castiga em dobro os

madeirenses e ganha também em dobro com a Madeira. Primeiro, com a taxa de agiotagem e, segundo, com a

condição adicional de pagamento antecipado do empréstimo.

Sr. Ministro, Sr.as e Srs. Deputados, não há, neste momento, qualquer dúvida de que a falta de palavra do

Governo para com a Madeira é uma vergonha nacional.

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Sr. Ministro, Sr.as e Srs. Deputados, foram três anos de mentiras, três anos de trapaça, três anos de

embustes, de truques, de manipulações, de meras habilidades, de palavras vãs para enganar e brincar com os

madeirenses.

Chegados a este momento, impõe-se perguntar ao Governo o que vai fazer a seguir: vai continuar a arranjar

esquemas, novos argumentos esfarrapados e outras justificações para não cumprir sequer com os 13% do

financiamento do novo hospital? Vai o Governo encontrar novos expedientes para atrasar a obra? Vai, ou não,

o Governo continuar a adiar a revisão da taxa de juro do empréstimo à Madeira?

Sr. Ministro, Sr.as e Srs. Deputados, estas são as últimas aldrabices do Governo ou ainda devemos esperar

novas surpresas?

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem a palavra, para formular um pedido de esclarecimento, o Sr.

Deputado António Ventura, do Grupo Parlamentar do PSD.

O Sr. AntónioVentura (PSD): — Sr. Presidente, Sr. Ministro, a proposta de lei refere que o Governo

assegura a efetiva descontaminação dos solos e aquíferos da Praia da Vitória.

Para que não sejamos novamente enganados, na medida daquilo que é dito e na medida daquilo que é feito,

é preciso que o Governo diga hoje, aqui, o que entende por efetiva descontaminação e qual é o montante que

está destinado a essa descontaminação.

É isto que, hoje, os açorianos querem saber. Isto tem muito a ver com o relacionamento das regiões

autónomas. Caso contrário, este é mais um Orçamento que mente e que vende fumo aos açorianos.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem a palavra, para formular um pedido de esclarecimento, o Sr.

Deputado Jorge Paulo Oliveira, do Grupo Parlamentar do PSD.

O Sr. JorgePauloOliveira (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Primeiro-Ministro, Srs.

Membros do Governo, Sr. Ministro das Finanças, nós reconhecemos que há muitas medidas simpáticas e muitas

medidas populares nesta proposta de Orçamento do Estado. E não vale a pena desdizer que estas medidas e

estas propostas têm um objetivo muito claro e muito preciso.

O Sr. FernandoRochaAndrade (PS): — Melhorar a vida das pessoas!

O Sr. JorgePauloOliveira (PSD): — É o objetivo de ganhar votos! Sabemos que é assim!

Sr. Ministro das Finanças, isoladamente e individualmente, ninguém discordará, decerto, dessas mesmas

medidas, embora muitas delas estejam manipuladas e — permita-me a expressão — politicamente aldrabadas.

A questão, portanto, que se coloca é simplesmente esta: qual é o preço? Qual é a fatura? Qual é a

contrapartida a pagar por esta verdadeira orgia orçamental?

VozesdoBE: — Ah!…

O Sr. JorgePauloOliveira (PSD): — Como o Sr. Ministro sabe, «não há almoços grátis»! E as opções do

Governo implicam, desde logo, que desistimos de um saldo orçamental que poderia ser de 0% e que estava

perfeitamente ao alcance do Estado português.

As opções do Governo implicam, em 2019, um aumento da dívida pública bruta em mais de 3000 milhões de

euros. Mais de 3000 milhões de euros! As opções do Governo, Sr. Ministro, implicam, necessariamente, um

aumento da receita fiscal. Depois de, no ano passado, a carga fiscal ter batido o recorde da democracia com

34,7%, o Governo, em 2019, vai manter a carga fiscal nos mesmos máximos históricos. No próximo ano, a título

de receita fiscal, os portugueses vão entregar aos cofres do Estado mais 7000 milhões de euros,

comparativamente com 2015. Afinal, Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, não pagamos mais impostos por

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estarmos sob o garrote financeiro da troica, pagamos mais impostos porque o Governo quer que os portugueses

paguem mais impostos. É tão simples quanto isso.

VozesdoPSD: — Muito bem!

O Sr. JorgePauloOliveira (PSD): — As opções do Governo, Sr. Ministro, implicam, em 2019, continuar a

cortar nos investimentos públicos com vista ao funcionamento de um Estado que se quer ao serviço das

populações, particularmente na saúde e na educação.

Dou apenas um exemplo, Sr. Ministro das Finanças: as transferências para o Serviço Nacional de Saúde

aumentam 200 milhões de euros — não é verdade, Sr. Deputado António Sales? —, 2,3%, mas a despesa

primária do Estado sobe 3,1%! Portanto, no bolo, a saúde vai valer ainda menos do que valeu em 2019. Como

dizia o Sr. Deputado António Sales, do Partido Socialista, o pior cego é aquele que não quer ver!

Protestos do Deputado do PS António Sales.

Sr. Ministro das Finanças, na sua intervenção inicial, referiu que governar implica fazer escolhas. A pergunta

que fica é esta, Sr. Ministro: essas escolhas, porventura, legitimam hipotecar o futuro dos portugueses?

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem agora a palavra, também para um pedido de esclarecimento, a Sr.ª

Deputada Berta Cabral, do Grupo Parlamentar do PSD.

A Sr.ª BertaCabral (PSD): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Primeiro-

Ministro, Sr. Ministro das Finanças, na sua intervenção inicial, o Sr. Ministro fez questão de vincar e sublinhar

que o Governo cumpriu o que prometeu. Mas não, Sr. Ministro, não cumpriu. O Governo não cumpriu o que

prometeu aos Açores. Estamos a discutir o último Orçamento desta Legislatura e nada foi concretizado no que

diz respeito ao investimento público nos serviços do Estado na Região Autónoma dos Açores. Nada, Sr. Ministro!

Nada!

Percebo que o PS possa estar contente e satisfeito com poucochinho, mas nós não, temos mais ambição.

Não nos contentamos com não ter nada concretizado, nós queremos e exigimos o cumprimento de todas as

promessas que foram feitas aos Açores: desde o estabelecimento prisional de Ponta Delgada ao Aeroporto da

Horta, do Observatório do Atlântico à esquadra da Ribeira Grande, dos radares meteorológicos aos cabos

submarinos, do PREIT (Plano de Revitalização Económica da Ilha Terceira) à descontaminação dos solos e

aquíferos da Praia da Vitória.

Este Orçamento, Sr. Ministro, apenas tem atos de fé, não tem um único número, a não ser o número dos

artigos que referem estes investimentos. E, há um ano atrás, já assim era. Já há um ano atrás, denunciámos

esta situação, uma realidade idêntica, em que os investimentos não estavam quantificados e apresentámos

propostas de alteração quantificadas, que foram rejeitadas com o argumento de que o dinheiro estava lá e que

nós é que não o encontrávamos. Mas, Sr. Ministro, passado um ano, o dinheiro não estava lá, os projetos não

avançaram e continuamos na estaca zero, exatamente como em 2016. A história repete-se, como se vê.

Certamente vão dizer, outra vez, que o dinheiro estava lá, mas não estava.

O que se passa com o urgentíssimo problema da construção do novo estabelecimento prisional de Ponta

Delgada é uma vergonha, tendo já a Sr.ª Ministra da Justiça admitido que não será construído durante o seu

mandato.

O mesmo se passa com a ampliação do Aeroporto da Horta. O artigo 59.º tem uma redação extraordinária,

sendo quase preciso um tradutor para se perceber o que lá está escrito. Por isso, pergunto-lhe claramente, Sr.

Ministro: vai ou não o Governo cumprir o que foi decidido em resolução, nesta Casa, isto é, ampliar a pista do

Aeroporto da Horta para o mínimo de 2050 metros de comprimento e construir as áreas de segurança exigidas

pelas normas internacionais? Esta é a resposta que nós queremos ter, preto no branco, porque aquela redação

é muito infeliz. E queremos também saber como, quando e com que meios serão concretizados os

investimentos, porque nós exigimos que se cumpra o que foi prometido.

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Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem a palavra, para responder, o Sr. Ministro das Finanças, Mário

Centeno.

O Sr. MinistrodasFinanças: — Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sr.ª Deputada Ana Mesquita, as questões

da ciência, da tecnologia e do ensino superior são, ao longo dos últimos orçamentos, uma das grandes

prioridades do Governo, que assume uma proeminência especial em 2019.

Como referi há pouco, em 2019, o programa orçamental da ciência tem um reforço de 37 milhões de euros.

O reforço das instituições de ensino superior, tendo em conta a média dos reforços dos restantes programas

orçamentais, é superior. Logo no início da Legislatura, definimos uma aposta muito clara no emprego científico,

com a criação de 5000 empregos científicos. Essa aposta tem, em 2019, uma tradução orçamental de grande

dimensão, mas é evidente que temos de continuar a trabalhar, nesta como noutras áreas, nas questões que

identifica, nas questões da precariedade, da estabilidade do emprego, da criação de novas oportunidades.

A verdade é que a universidade e a ciência criam riqueza. Ao contrário do que considera a Sr.ª Deputada

Inês Domingos, que só vê riqueza criada no setor privado, as universidades, as escolas, os hospitais são fontes

de criação de riqueza nacional, e é evidente que, por essa razão, senão por outras, têm de ser apoiadas e

continuarão a ser reforçadas no Orçamento do Estado para 2019.

É verdade, Sr.ª Deputada Inês Domingos, que a produtividade das empresas não financeiras, em Portugal,

segundo dados divulgados pelo INE na semana passada, cresceu 6%. Presumo e percebo que a Sr.ª Deputada

utilize os números que mais jeito lhe dão para o seu argumento. Mas a verdade é que a produtividade das

empresas portuguesas, em 2016 e 2017, cresceu 6%.

Também é verdade que, em 2017, o investimento cresceu mais de 9%, em Portugal — 9%! Não é coisa

pouca, Sr.ª Deputada! Temos de recuar muitos anos para encontrar uma dinâmica do investimento público e

privado total, em Portugal, superior a 9%.

É verdade também, Sr.ª Deputada, que as empresas exportadoras portuguesas voltaram a ter, em 2017, um

ano excecional, um ano em que as exportações, em Portugal, cresceram muito acima do crescimento do

comércio internacional. Ou seja, as empresas exportadoras, em 2017, criaram riqueza e criaram um volume de

negócios muito superior àquele que se tinha verificado no passado.

É verdade também, Sr.ª Deputada, que o Programa COMPETE (Programa Operacional Competitividade e

Internacionalização) alavancou 9000 milhões de euros de investimento privado — 9000 milhões de euros! São

medidas do Governo que têm um impacto na economia.

A Sr.ª Deputada Sara Madruga da Costa refere que o apoio ao hospital da Madeira tem apenas 96 milhões

de euros inscritos no Orçamento, como se 96 milhões de euros não fosse um valor muito significativo no âmbito

da solidariedade com o serviço regional de saúde da Madeira.

Protestos da Deputada do PSD Sara Madruga da Costa.

E na questão da taxa de juro, Sr.ª Deputada, é muito simples: o Governo da República propôs ao Governo

Regional que se aplicasse uma taxa exatamente igual à média do custo de financiamento da República, e essa

taxa foi rejeitada pelo Governo Regional da Madeira.

A Sr.ª Sara Madruga da Costa (PSD): — Não é verdade!

O Sr. Ministro das Finanças: — Disse a Sr.ª Deputada, e muito bem, que podemos enganar alguns durante

algum tempo, mas não todos durante muito tempo. Ora, isso pode aplicar-se exatamente ao PSD da Madeira e

às contas que tem feito sobre o PSD da Madeira.

Aplausos do PS.

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Em relação à Região Autónoma dos Açores, tive oportunidade, na minha resposta à Sr.ª Deputada Lara

Martinho, de explanar algumas das dimensões financeiras dessas relações e vou agora terminar, dizendo que

nós temos aqui uma espécie de um cisma. De facto, temos uma nova versão daquela rábula que a Ivone Silva

fazia tão bem, da «Olívia costureira» e da «Olívia patroa», mas, agora, dentro da bancada do PSD. É que temos

o PSD que quer gastar e temos o PSD que quer poupar. Temos o PSD que quer aumentar despesa — e tem

uma longuíssima lista de medidas para a despesa — …

Aplausos do PS.

… e temos o PSD que quer reduzir impostos. Mas todos, tal como a «Olívia patroa» e a «Olívia costureira»,

queriam que o défice estrutural fosse mais baixo. Ora, temos um mês pela frente para os senhores explicarem

como é que esta alquimia se faz, e talvez possamos, no final de todo este processo, chegar a uma visão mais

clara das verdadeiras intenções e da análise que os senhores fazem do Orçamento do Estado.

Confesso-vos que, das perguntas que me fizeram hoje, não consegui tirar nenhuma conclusão.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Hugo Lopes Soares.

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Sr.as e Srs. Membros do Governo,

Sr.as e Srs. Deputados: Iniciamos hoje a discussão do Orçamento do Estado para o ano de 2019. Um Orçamento

que tem uma história, mas que se apresenta com pouco futuro. Se voltarmos ao discurso de posse do Primeiro-

Ministro, em 2015, a palavra, que afirmava ir ser honrada, apresentava como principais linhas de orientação «o

alívio da asfixia fiscal da classe média», «a aposta no investimento público» e «a garantia dos bens e serviços

públicos».

Sabemos hoje que, no que diz respeito ao alívio da asfixia fiscal, o Governo propõe a maior carga fiscal de

sempre.

Sabemos hoje que a aposta no investimento público ainda não atinge sequer os níveis do ano de 2015.

E sabemos hoje que, quanto à garantia de melhores serviços públicos, qualquer contacto com a realidade

desmascara essa intenção.

Aplausos do PSD.

Ou seja, hoje, sabemos quanto vale a palavra política do Governo e de António Costa: vale pouco, vale muito

poucochinho.

Mas, Sr. Presidente, reconheçamos que este é um Orçamento coerente e previsível. É coerente, porque

mantém a política da governação à vista, à costa, da falta de ambição e das cedências à extrema-esquerda que

o transformam numa manta de retalhos. E é previsível, porque não altera o rumo a que o Governo nos habituou:

privilegia a narrativa do ilusionismo em detrimento do compromisso com o real. Cria novos impostos, aumenta

os existentes (cerca de 11 impostos), aumenta a despesa estrutural e não preconiza uma única, uma única

reforma estrutural capaz de transportar Portugal para os níveis de desenvolvimento que todos desejamos.

Mas, sim, isso sim, é um instrumento orçamental carregado de palavras de ordem para usar em ano eleitoral.

Sr. Presidente, comecemos pelo cenário macroeconómico e podemos dizer, numa palavra, que é um

Orçamento do Estado sem ambição e sem consolidação. Um Orçamento do Estado sem ambição porque, se

olharmos ao crescimento, esse revela toda a sua falta de ambição. O Governo desistiu de crescer quando se

acorrentou ao Bloco de Esquerda e ao Partido Comunista Português, quando se demitiu de governar para o

País e optou por governar para a subsistência política, quando desistiu de apostar na competitividade. Falta

ambição a um Governo que anuncia crescer menos no próximo ano do que cresceu em 2018.

À gerigonça sobra em conversa fiada o que falta em ambição.

Aplausos do PSD.

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Falta ambição a um Governo que se acomoda na cauda da Europa e da zona euro. Se nos compararmos

com os países que tiveram programas de resgate iguais ou semelhantes ao nosso, este é o resultado do

quadriénio 2016 a 2019: a Irlanda cresce, no acumulado, 22,5%; a Espanha cresce cerca de 12%; o Chipre

cresce cerca de 15%; e Portugal cresceu cerca de 8%. Palavras para quê?… Esta é a ambição do Governo

socialista.

É um Orçamento do Estado sem consolidação. No que diz respeito ao défice, o País ainda não percebeu se

deve confiar nas palavras do Governo ou nas contas do Governo. Se atentarmos nas contas, então, o défice

aumenta; se confiarmos nas palavras, temos um défice sem qualquer consolidação orçamental efetiva. Dá a

sensação de que, nas palavras, temos um Ministro das Finanças que é Presidente do Eurogrupo, e, nas contas,

que é o que interessa e que o Parlamento votará, temos um Ministro das Finanças que é Ministro também do

Bloco de Esquerda e do Partido Comunista Português.

Aplausos do PSD.

São mais de 500 milhões de euros que separam o Presidente do Eurogrupo do Ministro das Finanças do

Bloco de Esquerda e do Partido Comunista Português. A verdade é que, em qualquer dos casos, o Governo

falha na consolidação orçamental.

Ora, quando devíamos estar a aproveitar o ciclo económico, aproveitando a baixa do preço do petróleo

durante mutos anos, a política de baixas taxas de juros do Banco Central Europeu e o crescimento dos nossos

parceiros, o que faz o Governo? O Governo desaproveita a oportunidade e faz de cigarra fanfarrona. É célebre

a frase que diz «o telhado não se repara no inverno». É uma verdadeira oportunidade desperdiçada.

Pode, pois, dizer-se que, neste Orçamento, a falta de ambição rima mesmo com a falta de consolidação.

Mas, Sr.as e Srs. Deputados, o Orçamento do Estado para 2019, porque não traz crescimento, nem cuida

como devia das contas públicas, é também efémero. É efémero porque não estimula a poupança; é efémero

porque não gera riqueza; e é efémero porque não promove a poupança. É uma espécie de «Orçamento pastilha

elástica», para usar, gastar e deitar fora.

Tem zero de estímulo à poupança, tem zero de desagravamento fiscal, tem zero de promoção do

empreendedorismo e de apoio às empresas.

Sr.as e Srs. Deputados, saiamos dos números, vamos ao dia a dia dos portugueses e vejamos como responde

o Orçamento do Estado para 2019. Este Orçamento é do Governo do Partido Socialista,…

O Sr. António Filipe (PCP): — Isso é verdade!

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — … mas é também do Partido Comunista Português e do Bloco de

Esquerda. Mas quero que fique claro: é assim por escolha do Partido Socialista, que abandonou o centro político

e se juntou aos radicais do Parlamento português.

Protestos do PCP.

É, sim! Os radicais e o Partido Socialista, que não se inibem de deixar à míngua os serviços públicos, que

abandonam o Serviço Nacional de Saúde, que desleixam a escola pública, que degradam as áreas de soberania,

que ludibriam na cultura e nas reformas antecipadas, que fazem que fazem, mas a verdade é que não fazem. E

a tudo isso, Partido Comunista Português e Bloco de Esquerda fecham os olhos, deixando-se enganar. Uns,

porque, assim, viram salvos um punhado de sindicatos; outros, porque partilham as migalhas do poder. O Bloco

de Esquerda e o Partido Comunista Português fazem da indignação inconsequente a velha máxima do

«enganem-me que eu gosto».

Aplausos do PSD.

Onde está a conhecida indignação do Bloco de Esquerda, quando António Costa adia constantemente a

recuperação da ala pediátrica do Hospital de São João?!

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Onde está a força do Partido Comunista Português, quando António Costa não cumpre com o que se

comprometeu com os professores?!

Onde está a indignação do Bloco de Esquerda, quando o Governo abandona o investimento na ferrovia?!

Onde está a força do Partido Comunista Português, quando António Costa não cumpre com o prometido em

relação ao financiamento do novo hospital na Região Autónoma da Madeira?!

Aplausos do PSD.

Bloco de Esquerda e Partido Comunista Português fingem ser oposição,…

Protestos do PCP.

O Sr. João Oliveira (PCP): — O que quer sei eu!

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — … mas, amanhã, com todos os Deputados de pé — falta saber se,

desta vez, é com ou sem aplauso —, aprovarão o vosso, também vosso, Orçamento do Estado para 2019.

Aplausos do PSD.

É que este Governo existe por opção do Partido Socialista. É que este Governo existe pela sobrevivência

política do Dr. António Costa, mas tem a cumplicidade conivente do Bloco de Esquerda e do Partido Comunista

Português.

Aplausos do PSD.

Sim, os senhores hipotecam o futuro e trocam-no pelo eleitoralismo orçamental.

O Sr. João Oliveira (PCP): — O Montenegro que se cuide!

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Na verdade, trocam o futuro pelo vosso umbigo político e partidário.

Este Orçamento do Estado é uma espécie de última cartada para António Costa tentar ganhar as eleições que

nunca ganhou.

Aplausos do PSD.

Em suma, os senhores preferem o estado eleitoral ao Estado social.

Aplausos do PSD.

Nunca, nunca como hoje, se desinvestiu tanto na escola pública, mas oferecem-se os livros escolares aos

ricos.

Risos do BE e do PCP.

Nunca, nunca como hoje, se deixou as áreas de soberania à míngua e a segurança dos portugueses em

causa, mas troca-se de ministros e resolvemos o problema. Nunca, nunca como hoje, se hipotecou tanto o

Serviço Nacional de Saúde, mas escolheram as 35 horas.

Sr. Primeiro-Ministro, há um País real e há o vosso País político. Há o País que, no discurso político, virou a

página da austeridade e há o País real que, em três anos, já conta com tantas greves como aquelas a que o

País assistiu em quatro anos, em período de emergência.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Com a luta é que o País avança!

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O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Há o País político que anuncia alterações às idades das reformas

antecipadas e à sua metodologia — ainda ninguém percebeu como nem porquê — e há portugueses, alguns

sem qualquer outro rendimento, que esperam mais de seis meses pela sua pensão de velhice.

Vozes do PSD: — Muito bem!

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Há o País político que jura baixar impostos e os portugueses que

pagam o contrário quando vão às bombas de gasolina.

O Sr. António Filipe (PCP): — Então, onde é que ficamos?

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Primeiro-Ministro, Sr.as e Srs. Membros do

Governo: Este Orçamento do Estado não vira a página da austeridade, mascara-a e não prepara o futuro, adia-

o.

Se há uma obsessão no Orçamento do Estado para 2019, ela é a de tentar que António Costa ganhe, pela

primeira vez, umas eleições legislativas, nem que para isso volte a colocar o País em risco.

Não fosse a obsessão do Dr. António Costa consigo próprio, hoje poderíamos ter menos carga fiscal, mais e

melhor crescimento económico, mais e melhores serviços públicos, um território mais justo e mais equilibrado.

Fossem os portugueses a obsessão do Dr. António Costa e hoje não estávamos novamente a falar dos riscos

que este Orçamento traz para o futuro de Portugal.

Fosse Portugal a vossa preocupação e o Orçamento do Estado não era isto.

Isto, Sr. Primeiro-Ministro, é muito poucochinho! Isto é uma carga fiscal no máximo para serviços públicos

nos mínimos! Isto é uma total ausência de estratégia para o crescimento sustentado! Isto é uma verdadeira

oportunidade desperdiçada sem consolidação e sem ambição! Isto é eleitoralismo sem visão de futuro! Isto é

«umbiguismo» político!

Por tudo isto, por causa disto e porque é o contrário disto que nós queremos, pode o País contar com o PSD,

mas o Governo não!

Aplausos do PSD, com Deputados de pé.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Inscreveram-se dois Deputados para pedir esclarecimentos ao Sr.

Deputado Hugo Soares.

Tem a palavra, em primeiro lugar, a Sr.ª Deputada Joana Mortágua, do Bloco de Esquerda.

A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Hugo Soares, aquilo que é poucochinho é a

intervenção que aqui nos traz hoje,…

Risos e protestos do PSD.

… porque, no auge da incoerência a que o PSD nos tem habituado, consegue dizer, ao mesmo tempo, que

não há consolidação das contas públicas, mas que a consolidação das contas públicas é feita à conta dos

serviços públicos e da míngua do Serviço Nacional de Saúde.

Protestos do PSD.

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Ah, pois é!

A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Aliás, referiu e citou a mesma incoerência noutras ocasiões como, numa

bem recente, em que disse, como conclusão desta reflexão, que Portugal parou no tempo. E perguntamo-nos:

Portugal está igual àquilo que estava no tempo de Passos Coelho, no tempo em que o seu partido governava?

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Nesse caso, significa que este Governo faz o mesmo que o seu partido fez quando estava no Governo, ou

seja, consolidar as contas públicas à conta dos serviços públicos,…

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Dos salários…

Protestos do PSD.

A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — … dos salários, das pensões, dos direitos laborais. Nesse caso, o que

esperaríamos seria que o PSD votasse a favor. Ou, então, o Sr. Deputado deixou-se turvar pelas saudades que

tem dos tempos passados…

O Sr. António Filipe (BE): — Ficou parado no tempo!

A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — … e das saudades que tem da troica. É que, na verdade, o País avançou,

o País avançou muito em relação aos tempos em que Passos Coelho governava com o programa do PSD, o

programa do CDS e o programa da troica. O País avançou tanto que o PSD ficou desorientado. É que o PSD,

sim, está parado no tempo!

O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Muito bem!

Protestos do PSD.

A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Por estar desorientado, não sabe o que há de dizer. Não pode dizer que o

Orçamento é despesista porque o PSD sonha com o défice zero, com que também sonha o Sr. Ministro das

Finanças,…

O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Muito bem!

A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — … mas não pode dizer que é austeritário porque sabe bem o que é um

orçamento austeritário — aprovou quatro, contra o Tribunal Constitucional.

O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Não, doze orçamentos!

A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Sabe bem o que são orçamentos que cortam salários e pensões e, portanto,

sabe distingui-los do Orçamento que temos aqui hoje.

O PSD sabe que nenhuma destas versões é verdadeira — nem o Orçamento é despesista, nem o Orçamento

é austeritário—, mas vai alternando as mentiras para ver se alguma delas cola, porque sabe perfeitamente que

está desorientado.

Perante este Orçamento, só há duas críticas possíveis: a de quem acha que o Orçamento pode ir mais longe

no investimento e nos direitos e a de quem acha que o Orçamento foi longe de mais na recuperação dos direitos

e do investimento.

O PSD, perante isto, não se encontra numa encruzilhada, o PSD está num beco! É que tudo aquilo que

disseram que era impossível aconteceu, uma maioria que disse que era impossível aconteceu para fazer aquilo

que o PSD disse que seria o Diabo e que melhorou a vida dos portugueses e das portuguesas sem criar um

armageddon financeiro. Portanto, perante o beco em que se encontra, a única saída que o PSD encontra é

andar para trás.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Estamos à espera do voto do Passos!

A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Andar para trás significaria reconhecer que o PSD sempre quis ir para além

da troica, foi para além da troica e, mesmo sem troica, continua a querer cortar os salários, as pensões, continua

a querer que a precariedade seja a regra no trabalho, continua a querer que a privatização e as concessões a

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privados sejam a regra dos serviços públicos. O PSD quer andar para trás para acabar, para terminar aquilo que

começou e que não conseguiu terminar quando se formou esta maioria parlamentar.

Protestos do PSD.

Pergunto-lhe, Sr. Deputado: olhando hoje para o País com aquilo que já foi possível fazer de reversão de

cortes e de recuperação de rendimentos, de aumento de pensões, tudo aquilo que este Orçamento garante, o

que é que não tem futuro? É uma receita requentada de austeridade — aquilo que o PSD quer, mas não tem

coragem de apresentar porque sabe que o País já sabe que é possível outro caminho — ou é aquilo que este

Orçamento representa, um sinal de futuro? Este Orçamento ainda não é aquele que gostaríamos de ter mas,

pelo menos, é um sinal de derrota da direita e de derrota das ideias da troica, que são aquelas que o PSD

defende mas não tem coragem para apresentar ao País.

Aplausos do BE e de Deputados do PS.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Jamila Madeira, do PS, para um pedido

de esclarecimento.

A Sr.ª Jamila Madeira (PS): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs.

Deputados, ouvir o Sr. Deputado Hugo Soares coloca-nos sempre a dúvida sobre se este discurso não fará mais

mossa ao PSD, em concreto à bancada do PSD, …

Risos e aplausos do PS.

… do que, propriamente, a quem pretendia agredir, que era o Governo e o PS. Ao ouvir este discurso do

Deputado Hugo Soares, ficamos na dúvida se é a AR TV ou se é a RTP Memória!?

De facto, aquilo que o Sr. Deputado aqui disse foi uma tentativa de regressar e de voltar atrás, o que, de

facto, não é possível. Nem os portugueses querem nem nunca perdoariam, nem ao PS, nem a quem quer que

esteja no Executivo, que se voltasse atrás, aos tempos que o Sr. Deputado Hugo Soares tentou ali dizer que

foram bons. Os portugueses não esquecem e não querem voltar atrás.

Aplausos do PS.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Quero é saber em quem é que vota o Passos!

A Sr.ª Jamila Madeira (PS): — Mais, fala-se em défice de 0,2% e, quando se discute 0,2%, tem-se uma total

ausência de consciência em relação ao que se está a falar. Então, não é uma coisa absolutamente marginal?

Quando estávamos a discutir o primeiro Orçamento deste Governo, em 2016, não diziam que o Diabo iria levar

todas as empresas para fora de Portugal, que iriam fugir, que não haveria investimento, que não haveria

crescimento económico? Ora, Portugal cresce consecutivamente há 19 trimestres e em convergência com a

zona euro.

Aplausos do PS.

Um crescimento que representou uma recuperação de 16% da riqueza produzida em Portugal, um aumento

do rendimento disponível das famílias de 18%, um alívio fiscal que permite, hoje, aos portugueses terem menos

1000 milhões de encargos em termos de impostos. Tudo isto com contas certas, com menos 7500 milhões de

défice do que em 2015, tudo efetuado de forma responsável, com contas certas. Isto são factos! Isto é assim

visto de qualquer prisma!

Mas ouvindo hoje, e passados todos estes anos, o PSD, bem como algumas das propostas que foram

ventiladas hoje, aqui, e que à partida surgirão na especialidade, urge perguntar o que pretendem. Quais os

setores que sacrificariam em nome da obsessão pela tal estratégia de austeridade e empobrecimento que, como

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se viu, da qual não desistem? A quem não devolveriam os salários? Até onde teriam levado o bloqueio ao

crescimento, ao aumento do salário mínimo? Quantos mais milhares de portugueses mandariam emigrar? Quem

ficaria para trás em nome da estratégia reconhecidamente caduca do Governo do PSD e do CDS, de direita,

que os portugueses rejeitaram?

Aquilo que sabemos hoje, e que também sabíamos em 2015 e quando foi desenhado este caminho, é que,

sim, existe uma alternativa à direita. Existe uma alternativa que assenta em tudo aquilo que este Governo tem

feito: devolver rendimentos, estimular a economia, apoiar os mais fracos, subindo o salário mínimo, subindo as

pensões, subindo o abono de família e alargando o âmbito da prestação social de inclusão.

Existe um caminho que dá esperança e alento ao País e que mobiliza para um futuro melhor, para continuar

a crescer. Durante dois anos e meio — e até o INE vir dizer que isso não era verdade —, foi impossível

demonstrá-lo, mas agora é possível demonstrar que, em 2016, a economia cresceu mais do que em 2015, ou

seja, cresceu 1,9%, e cresceu mais em 2017, ou seja, 2,8%. E esteve sempre em convergência com a zona

euro. Aliás, nesse período ainda se conseguiu que todas as agências de notação retirassem Portugal do rating

de lixo.

Ainda assim, hoje, continua a apregoar-se o eleitoralismo e a carga fiscal. O eleitoralismo, porque o PSD

quer fugir das suas opções políticas e, qual lobo vestido de cordeiro, não diz onde, como e quais as escolhas

que faria, apenas diz que quer tudo para todos. Por um lado, quer o défice zero, por outro, quer todos os

investimentos e mais alguns mas, ao mesmo tempo, não sabe muito bem como é que conciliaria tudo isto.

A par disso, tenta lançar a confusão aos portugueses quando alega uma excessiva carga fiscal. Ora, a carga

fiscal representa, neste quadro, aquilo que os portugueses sabem: sabem que não são mais taxas e impostos

mas sim mais rendimentos, mais salários, mais e melhores empregos e respetivas contribuições e, com isso, o

cumprimento do compromisso eleitoral do PS para com os portugueses ao devolver os cortes dos salários que

os senhores implementaram durante a vossa governação.

Sim, os portugueses estão melhor, vivem melhor e querem continuar a viver melhor. O Governo e os

portugueses fazem isso em parceria, sem eleitoralismos, com um orçamento conservador, prudente, tal e qual

como os anteriores e, por isso, foi possível fazer quatro orçamentos e não doze. Cientes das dificuldades sempre

estivemos, mas procurando dar um futuro melhor ao nosso País, investindo nas pessoas e na qualidade de vida

das pessoas.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Queremos saber é em quem vota o Passos.

A Sr.ª Jamila Madeira (PS): — Ao PSD cabe, agora, ser sincero e transparente e, por uma vez, dizer aos

portugueses onde pretendem cortar. Na saúde, retirando os 1000 milhões que o Governo do PS repôs do corte

que anteriormente tinham feito? Ou nos mais de 500 milhões de euros que o SNS vai receber em 2019? Ou

pretendem cortar na sustentabilidade da segurança social? Ou no abono de família, que beneficia cerca de 130

mil crianças por ano que, só nos três primeiros escalões, beneficiaram de aumentos anuais entre os 850 € e os

1300 €? Ou, já agora, no complemento solidário para idosos ou na gratuitidade dos manuais escolares, que

questionou da tribuna? Por tudo isto, aqui fica o desafio: sejam sinceros com os portugueses, assumam as

vossas escolhas. Digam aquilo que pensam!

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Hugo Soares.

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Sr. Presidente, queria agradecer as perguntas e os comentários que

teceram à minha intervenção.

Queria começar por responder à Deputada do Partido Socialista, Jamila Madeira. Diz a Sr.ª Deputada — e

bem— que «Portugal cresce há 19 trimestres consecutivos». Se a Sr.ª Deputada fizer as contas, sendo 19

trimestres consecutivos, ora veja lá quando é que começou o crescimento económico!

Aplausos do PSD e de Deputados do CDS-PP.

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Sei que os senhores costumam não ser bons nas contas, mas a Sr.ª Deputada sabe que 19 trimestres

consecutivos atiram-nos lá para trás, para o Governo de resgate nacional, de salvação nacional, o Governo

liderado pelo PSD. Fugiu-lhe a boca para a verdade!

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

É que os senhores apanharam o embalo de um País a crescer e 2016 foi um ano perdido.

Dizia a Sr.ª Deputada, tentando gracejar, que, ao ouvir-me daquela tribuna, não sabia se estava a ver a RTP

Memória ou a ARTV.

Sr.ª Deputada, estava mesmo a ver a ARTV. Aliás, estava mesmo aí a ver-me e a ouvir-me, mas há uma

coisa que quero dizer-lhe: se perguntar aos portugueses, tenho a certeza que o que eles não querem ver na

RTP Memória é o Governo que a Sr.ª Deputada apoiou e que levou Portugal à bancarrota.

Com esse episódio da RTP Memória é que os portugueses querem acabar de vez.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

A Sr.ª Deputada Joana Mortágua — no fundo, a questão é a mesma da parte das duas Sr.as Deputadas —

perguntava sobre aquilo que é a narrativa oficial do Partido Socialista no debate orçamental, ensaiada ontem,

de resto, pelo Sr. Primeiro-Ministro. Ou seja, como é que o PSD pode, por um lado, dizer que o Orçamento é

eleitoralista e, depois, dizer que não faz consolidação orçamental?! Ora, então, somos despesistas e deveríamos

poupar mais mas, ao mesmo tempo, os senhores acham que o défice deveria ser mais pequeno?!

Pois é, Sr. Primeiro-Ministro! É tudo um problema de estratégia que o Sr. Primeiro-Ministro não tem, que o

seu Governo não tem, porque está preso, por opção própria, ao Bloco e ao Partido Comunista Português.

Vozes do PSD: — Verdade!

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Chama-se estratégia para o crescimento, chama-se reformas

estruturais, chama-se ter evitado as reversões que levaram a que 2016 fosse um ano perdido dos pontos de

vista do investimento e do crescimento.

Vozes do PS: — Não é assim!

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — É assim, é! As nossas opções eram todas ao contrário daquilo que os

senhores têm feito.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Ainda bem que o dizem, até que enfim!… As vossas opções eram todas ao

contrário!

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Os senhores têm dúvidas…

Protestos da Deputada do BE Mariana Mortágua.

O Sr. João Oliveira (PCP): — As vossas opções eram todas ao contrário! É preciso chegarmos às 19 horas

e 5 minutos para ouvir isso!

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Todos esses apartes são música para os meus ouvidos. Não vale a

pena!

Os senhores entenderiam, por acaso, que alguém nesta bancada ou algum português não concordasse com

as medidas avulsas de recuperação de rendimentos que os senhores apresentam — que, de resto, nós já

vínhamos a fazer! —, de aumento das prestações sociais?! É evidente que não há um português que discorde,

nem nós nesta bancada! O problema não é esse, o problema é toda a estratégia que está por detrás disso. O

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problema é não haver uma estratégia que nos coloque com a ambição de crescer aquilo que deveríamos estar

a crescer.

O Sr. João Oliveira (PCP): — As vossas opções eram todas ao contrário!

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Este é o vosso último Orçamento do Estado. É o último Orçamento do

Estado de uma Legislatura a três, que os senhores do Partido Socialista entenderam que deveria ser assim.

Há um desafio que vos queria fazer.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Veja bem no que é que se mete! Olhe que o Passos Coelho vai acabar a votar

em nós!

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Sejam tão verdadeiros a apresentar as vossas propostas eleitorais

como nós fomos em 2015 e, se isso acontecer,…

O Sr. João Oliveira (PCP): — Vai votar em nós!? Já ganhámos votos!

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — … pode acontecer o mesmo que aconteceu em 2015 e o senhor voltar

a perder as eleições.

Aplausos do PSD e de Deputados do CDS-PP.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Segue-se a intervenção do Sr. Deputado Carlos Pereira, do PS.

Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. Carlos Pereira (PS): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs.

Deputados: Estamos a debater as propostas para o último exercício orçamental desta Legislatura. Neste

momento, é justo sublinhar que um dos vértices principais dos bons resultados desta governação é a

performance da economia e, em particular, o contributo decisivo das empresas e empresários de Portugal.

É hoje muito evidente que há uma linha que separa este Governo do anterior. Enquanto a direita ignorou o

papel das políticas económicas na alteração dos condicionalismos do mercado, apostando de forma quase cega

no seu funcionamento e no equilíbrio, abandonando as empresas aos ciclos económicos, o Governo do Partido

Socialista introduziu novas opções que ofereceram às empresas as condições certas para produzirem mais e

criarem mais emprego.

Sr. Presidente, já vamos com dois novos líderes na direita portuguesa, mas pouco ou nada mudou e nada

de novo foi trazido para o debate político. Os factos e a realidade desmentem as acusações sistemáticas, mas

PSD e CDS persistem em meter a cabeça na areia e em procurar o cisne negro que lhes dê uma razão

impactante para o seu velho e cansado discurso.

Na verdade, sem a implementação de uma política económica virada para promover a produtividade e a

competitividade das empresas, assim como a aplicação de medidas anticíclicas, muito dificilmente os resultados

macroeconómicos — seja de crescimento do produto, seja de controlo do défice, seja ainda de criação de

emprego — teriam tido a expressão que hoje conhecemos e que é completamente irrefutável.

Sr. Presidente, foi o crescimento do produto que permitiu os ganhos no défice, a enorme redução do

desemprego, mas também uma melhor e mais justa política de distribuição de rendimentos. Mas é fundamental

não esquecer que, sem a resposta positiva e determinada dos empresários portugueses ao choque das novas

políticas, os resultados não poderiam ser tão expressivos.

Na verdade, o crescimento do PIB, que tem batido recordes e até ultrapassado as previsões mais arrojadas,

decorre do crescimento económico das empresas. Por sua vez, este crescimento económico das empresas

depende, repito, da sua produtividade e competitividade, além, naturalmente, do estabelecimento do clima

económico estável e consistente para gerar as expectativas positivas que puxam pelos bons resultados.

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O Governo do Partido Socialista soube desde o primeiro momento que tinha de intervir para introduzir

políticas para as empresas e fê-lo sem hesitações, lançando no terreno um conjunto amplo de soluções que

permitiram contrariar as enormes dificuldades que ainda persistiam no final de 2015.

Nessa altura, em 2015, o Governo do Partido Socialista arregaçou as mangas, mostrando que as empresas

precisam que o Estado contribua para um ambiente favorável, estável e de confiança, onde seja possível gerar

a credibilidade para prosseguir com a inovação e o investimento. Era preciso combater a descapitalização das

empresas para assegurar a sua sobrevivência. Apesar de muitas delas ostentarem uma situação financeira

difícil, possuíam produtos e serviços capazes de competir no mercado e de garantir postos de trabalho.

Capitalizar as empresas é hoje um dos aspetos que mais mobiliza os esforços deste Governo, de forma a

estancar a sangria do tecido produtivo que se gerou entre 2011 e 2015.

Era também fundamental reforçar a inovação como elemento crítico para o aumento da produtividade. Entre

várias medidas, foram aproveitados os centros tecnológicos espalhados pelo País, de modo a transferir o

conhecimento, gerando ganhos económicos.

Ao mesmo tempo, o Governo promoveu a importância da indústria, sobretudo no seu papel para as

exportações, introduzindo a digitalização da economia e recolocando a indústria portuguesa na linha da frente

desta revolução 4.0.

O Governo também sabia que era preciso aproveitar as ideias de milhares de empreendedores que

precisavam de um empurrão para criar emprego e riqueza. O empreendedorismo não emerge sem a criação do

ambiente adequado e dos apoios acertados, e é isso que está a ser feito.

O investimento, como variável determinante para sustentar o crescimento do produto, necessitava de apoios

decisivos e o Governo não teve nenhuma dúvida em acelerar a entrega de meios financeiros às empresas,

meios esses que estavam disponíveis mas parados no PT 2020 e que precisavam de ser injetados no tecido

empresarial.

Além disso, também era preciso puxar pela simplificação da Administração Pública, declarando uma guerra

sem quartel aos custos de contexto para ajudar a produtividade empresarial.

Era também preciso apoiar a internacionalização, um fator crítico para a expansão do mercado e para

dinamizar as exportações. Foi por isso mesmo que o Governo concentrou esforços nesta temática, para que o

contributo das exportações assegurasse a sustentabilidade do crescimento do PIB.

Estas soluções têm hoje expressão concreta e quantificável em vários programas que estão em curso,

mostrando resultados absolutamente decisivos para o contexto macroeconómico e para a vida dos portugueses.

O Programa Capitalizar, o Programa Interface, o Programa Startup Portugal, o Programa Internacionalizar,

introduziram dezenas de medidas de apoio à performance das empresas nos diferentes fatores de

competitividade.

A estas medidas há ainda que juntar o regime contratual de investimento, o Simplex, a redução do IVA na

restauração, os benefícios fiscais, entre tantas outras iniciativas com o objetivo de criar o contexto certo para o

tecido empresarial português obter os resultados de que todos nos orgulhamos.

Se em 2015 encontrámos um País deprimido, estes 3 anos trouxeram resultados que nos dão esperança

para o futuro. Ao longo desta Legislatura obtivemos os maiores crescimentos do PIB, o défice mais baixo da

história moderna portuguesa, os maiores crescimentos do investimento privado, o maior valor das exportações

e, não menos importante, significativos e expressivos aumentos do emprego.

Ao mesmo tempo, a confiança dos consumidores e o clima económico, índices que apresentaram melhorias

que não se viam há muitos anos, refletem a eficácia das políticas e a capacidade para alcançar objetivos.

É neste contexto que chegamos ao Orçamento do Estado para 2019, com a certeza de que é preciso manter

as políticas públicas que assegurem um ambiente empresarial que permita a manutenção do crescimento

económico e o crescimento do emprego e que contribua para a redução do défice sem colocar em causa a justa

distribuição de rendimentos e a política social que está a ser implementada. É isto que voltamos a propor no

Orçamento para 2019: a continuidade no esforço para criarmos as expetativas positivas de que precisamos para

as empresas produzirem e criarem emprego.

Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Sr.as e Srs. Deputados: O último Orçamento da Legislatura não é um

fim em si mesmo, é um caminho que deve ser prosseguido para evitar perder os ganhos e as conquistas que os

portugueses obtiveram nestes últimos 3 anos.

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Aplausos do PS.

Voltar ao passado é voltar ao tempo do medo, da falta de esperança e do obscurantismo. Pode até ser que

seja isso mesmo que a direita quer, mas podem ter a certeza de que não é isso que nós queremos e é contra

isso que sempre lutaremos.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Rubina

Berardo.

A Sr.ª Rubina Berardo (PSD): — Sr. Presidente, gostaria de cumprimentar o Sr. Deputado Carlos Pereira.

Folgo muito em tê-lo connosco neste debate parlamentar sobre o próximo Orçamento do Estado.

Depois de ouvir a intervenção que proferiu agora — por momentos parecia haver aqui uma espécie de

minicomício do seu partido —, vieram-me à cabeça algumas palavras proferidas na semana passada

relativamente à capacidade de independência e de imparcialidade, mas isso ficou claro nesta sua declaração.

Aplausos do PSD.

Sr. Deputado, certamente que a última coisa de que quereria falar neste debate parlamentar seria sobre a

Madeira, mas era precisamente sobre isso que lhe queria colocar algumas questões, até porque os madeirenses

também exigem uma resposta do Grupo Parlamentar do Partido Socialista relativamente a várias matérias.

Sr. Deputado Carlos Pereira, vemos pelo mundo fora quais são as consequências de os partidos tradicionais

ignorarem parcelas inteiras dos seus cidadãos, sabemos quais são as consequências quando a luta pelo poder

é um fim em si mesmo e não um meio para governar melhor, ao contrário do que o Sr. Deputado Carlos Pereira

referiu ali daquela tribuna.

Esta responsabilidade, em Portugal, é primeiramente vossa, Sr. Deputado. Recai sobre quem governa, sobre

o Partido Socialista, Bloco de Esquerda, PCP e Os Verdes. Ao invés do que a responsabilidade e o sentido de

Estado ditariam, o vosso Governo encena, dissimula e, a par das cativações orçamentais que faz no País inteiro,

neste Orçamento, por razões meramente eleitoralistas, cativa aproximadamente 120 milhões de euros em

transferências devidas e prometidas à Madeira.

Vejamos como monta toda esta encenação pública, que supostamente vai contribuir para a construção do

novo hospital da Madeira, mas depois, na prática, é radicalmente abaixo dos 50% prometidos e, no final das

contas, o que temos são 13% do valor total da obra. Mas o PSD dará oportunidade para retificarem estes valores

no Orçamento.

Protestos do PS.

Sr. Deputado Carlos Pereira, o seu partido está disposto a apoiar algo que nada tem a ver com a ideologia

partidária, algo muito mais elementar: cumprir a palavra ainda não honrada pelo Primeiro-Ministro relativamente

aos 50%?

Sr. Deputado Carlos Pereira, continua a ser figurino desta farsa?

O Governo alega que diminui a taxa de juro do empréstimo à região, mas depois contamos com a

perversidade da vossa proposta, um verdadeiro «abraço de urso» relativamente aos contribuintes da Madeira,

obrigando a canalizar a poupança para a própria amortização mais rápida do capital.

Srs. Deputados, convém ter memória. O que é que aconteceu quando a troica, em 2013, baixou a taxa de

juro do empréstimo a Portugal!? Será que os credores internacionais impuseram um critério semelhante!? Não.

Nem a troica foi tão longe como os senhores socialistas! Quem vai além da troica, na verdade, são os

governantes socialistas.

Sr. Deputado Carlos Pereira, continua a ser figurino também desta farsa?

Diz o ditado que «à mulher de César não basta ser, tem de parecer»…

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Protestos do PS e do Deputado do PCP António Filipe.

… e, com este Orçamento, temos precisamente o contrário. Não basta parecer, Sr. Deputado, tem de ser.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Sr. Deputado Carlos Pereira, tem a palavra para responder.

O Sr. Carlos Pereira (PS): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Rubina Berardo, obrigado pela pergunta que me

dirigiu.

Queria, exatamente, pegar numa das expressões que utilizou: «é preciso ter memória». Também acho.

Estamos perfeitamente de acordo e julgo que nenhum dos Deputados aqui presentes, ou ninguém lá em casa,

se lembra de alguma promessa cumprida, ou sequer feita, aos madeirenses pelo Governo de Passos Coelho,

durante longos 4 anos, em que a única coisa que fez foi um plano de ajustamento económico e financeiro que

massacrou os madeirenses, que massacrou a Madeira.

Aplausos do PS.

Mas, tendo em conta a minha intervenção, julgo que aquilo que a Sr.ª Deputada gostaria de me ter

perguntado é «por que razão é que o Grupo Parlamentar do Partido Socialista trouxe ao Parlamento, na

discussão do Orçamento, uma apresentação e uma intervenção sobre uma homenagem às empresas?». Julgo

que essa era a pergunta que a Sr.ª Deputada gostaria de me ter feito, tendo em conta aquilo que já se ouviu

hoje, aqui, neste Parlamento, e tendo em conta aquilo que os seus colegas Deputados tanto falaram sobre as

empresas e sobre a sua importância.

Pois bem, o Grupo Parlamentar do Partido Socialista considera absolutamente essencial aquele que foi o

contributo das empresas nos últimos 3 anos para garantir aqueles que foram os objetivos que o Governo

estabeleceu. As empresas souberam responder de forma muito positiva aos estímulos às políticas económicas

que o Governo implementou para contrariar a agonia que tinha sido imposta, ao longo de 4 anos,…

O Sr. Carlos César (PS): — Muito bem!

O Sr. Carlos Pereira (PS): — … entre 2011 e 2015, às empresas portuguesas. Foi com os estímulos que

este Governo implementou, seja na inovação, seja no investimento, seja no apoio às exportações, que foi

possível obter os resultados extraordinários do ponto de vista do crescimento económico mas também do ponto

de vista do défice e, ainda, do ponto de vista do emprego.

Essa é a razão fundamental pela qual o Grupo Parlamentar do Partido Socialista presta esta homenagem

sincera, que julgo dever ser associada pelo PSD aos empresários e às empresas de Portugal.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Passamos a uma nova intervenção, desta vez a cargo do Sr. Deputado

José Manuel Pureza, do Bloco de Esquerda.

O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Sr.as e Srs. Membros do Governo,

Sr.as e Srs. Deputados: Disse-nos aquele pedreiro de Peroselo, em Penafiel, o seguinte: «a idade da reforma

que existe, os 66 anos, para nós, é a idade da certidão de óbito, não é a idade da reforma». Homens que

começaram a trabalhar aos 11 anos, primeiro com picaretas e depois com compressores, que lhes destruíram

os músculos, e respirando a sílica que lhes destruiu os pulmões.

Para aqueles homens que extraem as pedras das pedreiras de Penafiel, este Orçamento trouxe uma boa

notícia: passam a ser integrados no regime dos mineiros, que lhes assegura um ano de antecipação da reforma

por cada dois anos na extração da pedra. Valeu a pena a luta deles. Valeu a pena a nossa luta, para lhes darmos

resposta neste Orçamento.

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Aplausos do BE.

Perdida na sua autodestruição dolorosa e sem qualquer proposta para o País, a direita chamou a isto

«eleitoralismo». Para o PSD e os seus oráculos televisivos, a integração dos pedreiros de Penafiel no regime

dos mineiros faz parte de uma orgia eleitoralista. Para o CDS e os seus comentadores engajados, aos pedreiros

de Penafiel não se fez justiça, deu-se um bónus eleitoral.

Para os pedreiros de Penafiel, como para os trabalhadores dos serviços públicos, para os pensionistas

pobres, como para os trabalhadores que ganham o salário mínimo, a arrogância do PSD e do CDS é uma

ofensa.

A direita acha sempre que, quando algum setor da sociedade simpatiza com uma medida do Orçamento, é

mau sinal, porque para a direita, orçamento bom é orçamento que corta na despesa social, é orçamento que

corta direitos sociais, é orçamento que pune o trabalho. Foi muito mais por convicção do que por necessidade

que a direita aprovou orçamentos assim. Foi por convicção e não por distração que a direita garantiu que a

recuperação de rendimentos traria o desastre económico ou que a subida do salário mínimo faria disparar o

desemprego.

Tudo errado, tudo preconceituoso, nenhuma sensatez, sempre e só estratégia de empobrecimento.

Protestos da Deputada do CDS-PP Assunção Cristas.

A esquerda estava certa. Estávamos certos quando rejeitámos a continuação da política de desvalorização

interna como saída da crise. Estávamos certos quando conseguimos que se antecipasse a eliminação das

medidas de austeridade. Estávamos certos quando fizemos um acordo para aumentar o salário mínimo nacional.

Estávamos, portanto, certos quando, para responder a uma direita que foi sempre além da troica, fomos além

do que era o compromisso do Partido Socialista e acrescentámos novas conquistas de direitos, para que quem

trabalha ou trabalhou possa viver melhor no nosso País.

O Sr. Jorge Costa (BE): — Muito bem!

O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Sr.as e Srs. Deputados, o Bloco de Esquerda fez, na negociação deste

Orçamento, o que de nós exigia quem em nós confiou: batermo-nos, com a força política que nos foi dada e

com o rigor e trabalho aturado na preparação das nossas propostas, por medidas concretas que permitem à

grande maioria dos portugueses viver melhor. Até ao fim da elaboração deste documento, trabalhámos,

propusemos, argumentámos, negociámos.

Foi essa determinação que fez com que, neste Orçamento, esteja consagrado o corte nos custos da energia

até 5% em 2019 e de novo em 2020; a diminuição do valor das propinas do ensino superior; a alteração do limite

de endividamento das autarquias para investimento em habitação; a redução do IVA nos eventos culturais para

6%; a redução do preço dos passes dos transportes; o aumento extraordinário das pensões mais baixas,

garantindo aumentos mínimos de 6 € e de 10 € em janeiro; o fim, em 2019, do corte imposto pelo fator de

sustentabilidade nas pensões de todas as pessoas com 40 anos de descontos aos 60 de idade; o alargamento

do subsídio social de desemprego ou o compromisso para, pela primeira vez, reconhecer a condição de cuidador

informal.

Tudo eleitoralismo, diz a direita. Tudo razoabilidade económica e justiça social, dizemos nós.

Aplausos do BE.

Este volta, portanto, a ser um Orçamento que devolve rendimentos e conquista direitos. Isso irrita

solenemente a direita que, sem mais que dizer, clama, pela enésima vez, que aquilo que o Orçamento dá com

uma mão retira com duas.

É falso e basta fazer as contas.

O conjunto de medidas novas negociadas à esquerda para a recuperação, em 2019, dos rendimentos das

pessoas equivale a 465 milhões de euros. Acrescem os efeitos, em 2019, das medidas que negociámos antes,

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como a atualização das pensões, a que se juntou um aumento extraordinário para fazer justiça às pensões mais

baixas, a eliminação da sobretaxa do IRS ou a alteração dos escalões. Total: um pouco mais de 1000 milhões

de euros.

Para contrabalançar, em termos de impostos, há a duplicação do imposto do selo sobre crédito ao consumo,

o aumento do imposto sobre bebidas açucaradas e das várias taxas dos impostos especiais de consumo. Total:

125 milhões de euros.

Ou seja, do lado do acréscimo de rendimentos das pessoas, 1000 milhões; do lado do acréscimo da carga

fiscal, 125 milhões. O mantra da direita, de que se vai buscar com «taxas e taxinhas» o que está a ser devolvido

às pessoas, é uma mentira. Mais uma!

Sr.as e Srs. Deputados, no caminho para aqui chegarmos, aprendemos que a recuperação de rendimentos e

a ampliação dos direitos não são um mero apêndice compensatório da sacralização do défice zero. O que o

caminho andado nos mostra é que a recuperação de rendimentos do trabalho, salários e pensões é ela própria

estratégia económica, que faz crescer a economia, que é condição e não acrescento da consolidação das contas

públicas e que torna a nossa sociedade e a nossa economia mais coesas.

O Sr. Jorge Costa (BE): — Muito bem!

O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Se o País está melhor é porque quem trabalha ou trabalhou tem mais

rendimento no fim do mês, não é porque Mário Centeno ou António Costa exibem a Bruxelas menos défice no

fim do ano.

É por isso que insistir na ficção de que é possível cumprir a absurda exigência europeia de termos superavits

primários durante 20 anos nos conduzirá para estratégias económicas e sociais erradas. O problema estrutural

da dívida mantém-se como garrote das escolhas certas de crescimento económica e socialmente sustentável.

Teimar em não o equacionar de frente é escolher o esvaziamento das políticas de crescimento e de coesão que

andámos nos últimos 3 anos.

O desafio que temos pela frente é o de dar seguimento e mais robustez a essas políticas e rejeitar

frontalmente os convites interessados a que fiquemos por aqui, porque já chega.

Orçamentar e não executar pode dar direito a sorrisos no Eurogrupo, mas cada um dos 2200 milhões de

euros que foram orçamentados e não executados em 2018 foi um euro que era imprescindível para substituir

equipamentos obsoletos no Serviço Nacional de Saúde, e não se usou; foi um euro que era imprescindível para

avançar com as obras inadiáveis, para dar um mínimo de dignidade aos estabelecimentos prisionais, e não se

usou; foi um euro que era imprescindível para investir numa ferrovia que se deteriora em estrutura e em serviço

a cada dia que passa, e não foi usado.

Para o Bloco de Esquerda, a execução orçamental tem de concretizar tudo o que de coesão e crescimento

está consagrado neste documento e não pode ser uma técnica de congelamento dessas políticas. A escolha da

vã glória do défice zero prejudica as escolhas certas da coesão social e da solidez da economia.

Sr.as e Srs. Deputados, fazemos escolhas e respondemos por elas. Temos estado determinadamente do lado

de políticas que façam da justiça social o principal apoio do crescimento. Neste Orçamento, conseguimos dar

novos passos nesse sentido. Com todas as limitações que ele exibe, valeu a pena.

Os pedreiros de Penafiel sabem bem que assim é, como o sabem os trabalhadores que veem o aumento do

salário mínimo ou o alívio no IRS; como o sabem os estudantes que terão, pela primeira vez, uma redução das

propinas; como o sabem as famílias que terão, pela primeira vez, uma redução da conta da luz; como o sabem

os cuidadores informais que solidariamente dedicaram toda uma vida a alguém; como o sabem os pensionistas

que viram nestes anos a atualização da sua pensão que, sendo longe do que é necessário, é um pouco mais

justo.

São eles a nossa gente. Em cada medida que negociamos neste Orçamento, como em cada dia desta

Legislatura, é por eles que respondemos.

Aplausos do BE.

Entretanto, reassumiu a presidência o Presidente, Eduardo Ferro Rodrigues.

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O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, tem um pedido de esclarecimento do Sr. Deputado Carlos Silva, do Grupo

Parlamentar do PSD. Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. Carlos Silva (PSD): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs.

Deputados, pensava que o Bloco de Esquerda vinha aqui hoje pedir desculpa aos portugueses.

Protestos do BE.

Senão, vejamos: os partidos que, no passado, rasgavam as vestes, marchavam contra a degradação dos

serviços públicos, apesar de a troica condicionar as opções do País, são os mesmos arautos do investimento

público, que sempre foram contra as regras do pacto de estabilidade e — pasme-se! — agora aceitam cortes

dolorosos e brutais no Orçamento do Estado de 2019, que irão provocar, sem dúvida, recuos na economia e

atrasos no progresso social.

Pergunto aos Srs. Deputados do Bloco de Esquerda como vão votar este Orçamento do Estado de 2019. É

que, Srs. Deputados, este Orçamento corta no investimento público, é o mais baixo de sempre. Nesta

Legislatura, fica 1500 milhões de euros abaixo do executado em 2015. Tem cativações recorde — até agora

mais de 500 milhões do que na Legislatura anterior.

A UTAO, inclusive, já mostrou que este Orçamento do Estado esconde uma cativação definitiva de 590

milhões de euros.

Este é o Orçamento do Estado que põe a carga fiscal em máximos de sempre, aumentando impostos

indiretos, verdadeiras rendas excessivas de Mário Centeno, que custam mais aos mais desprotegidos. Este é o

Orçamento do Estado que injeta 850 milhões de euros nos veículos dos bancos.

Sr.as e Srs. Deputados, é penoso constatarmos que o Bloco de Esquerda se encontra bloqueado, aceitando

os garrotes que são impostos todos os dias pelas cativações de Mário Centeno em áreas como a saúde, a

educação e os transportes, que funcionam, hoje em dia, pior do que durante o tempo da troica.

Os senhores engoliram todas as linhas vermelhas que traçaram, dos tratados orçamentais ao défice,…

O Sr. José de Matos Rosa (PSD): — Muito bem!

O Sr. Carlos Silva (PSD): — … do aumento do investimento público à redução dos impostos, do «nem mais

1 € para a banca» aos cortes nas rendas excessivas da EDP — de resto, afinal, ainda lhe deram mais 180

milhões de borla fiscal —, do fim das cativações à redução dos impostos indiretos.

Os Srs. Deputados do Bloco de Esquerda estão acorrentados à solução política que viabilizam. Este não é

mais do que um Orçamento de fachada da geringonça, porque o Orçamento real é o das cativações que sufocam

o Estado social e a economia. Assim, temos hospitais em rutura, transportes públicos paralisados e em colapso,

quartéis e paióis a saque, e os senhores são corresponsáveis por tudo isso.

O Orçamento foi discutido numa espécie de leilão, «pataca a mim, pataca a ti», e até o PAN teve direito a

umas migalhas. Prometeram muito quanto à redução do IVA da energia, mas, afinal, «a montanha pariu um

rato».

Protestos do PCP.

A esquerda prolonga a austeridade, tornando-a perpétua e infinita, agora sob a forma de austeridade

cativada, como não há memória.

Protestos do BE e do PCP.

O Orçamento de Costa e Centeno não consegue dar mais respostas para além da folha salarial que sustenta

o eleitorado socialista.

O Sr. José de Matos Rosa (PSD): — Muito bem!

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O Sr. Carlos Silva (PSD): — O Bloco de Esquerda foi comprado por um «prato de lentilhas», finge-se

preocupado com os portugueses mais pobres, mas cola-se a Costa, abandonando os enfermeiros, os

professores e os polícias.

Aplausos do Deputado do PSD Rui Silva.

O Bloco de Esquerda trocou as suas convicções do passado por migalhas de poder e obedece, em nome da

sobrevivência política. Protesta, mas, depois, vota o Orçamento da carga fiscal máxima para serviços públicos

mínimos.

Aplausos do PSD.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Já se percebeu que é o Leitão Amaro que está a dar orientação!

O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado José Manuel Pureza.

O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Carlos Silva, queria registar, com muita

simpatia, a preocupação que mostra com a firmeza das nossas convicções.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Isto parecia um duelo à espada!

O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Na verdade, fico sensibilizado, pois, naturalmente, o Sr. Deputado tem

todo o interesse em que as nossas convicções e a nossa firmeza se mantenham. Portanto, não há nenhuma

falsidade nas suas observações — só pode — e quero cumprimentá-lo por isso.

Risos de Deputados do BE.

Também quero tranquilizá-lo, porque o Sr. Deputado tem razão em alguma coisa, pelo menos, quando diz

que somos, em alguma medida, corresponsáveis por alguns dos conteúdos deste Orçamento. É verdade, e

orgulhamo-nos disso. Aliás, boa parte das questões que mencionei na tribuna, e não fiz um elenco exaustivo, é,

efetivamente, resultado de trabalho aturado, um trabalho muito difícil mas muito persistente, da nossa parte,

honrando as nossas convicções, honrando aqueles e aquelas que nos deram a sua confiança política e fazendo,

justamente, aquilo que era suposto que fizéssemos, que era trazer para este Orçamento algo mais do que aquilo

que o próprio programa do Partido Socialista comportava.

Compreendo que o Sr. Deputado e o Grupo Parlamentar do PSD se sintam incomodados, mas isso é próprio

de um trabalho que tem algum sucesso da nossa parte, não todo o que queríamos, mas algum sucesso. Isso,

certamente, incomoda-o e eu, devo dizer-lhe, fico muito contente com o seu incómodo.

Risos e aplausos do BE e do Deputado do PS Santinho Pacheco.

Quero acrescentar um pequeno ponto: o Sr. Deputado disse que «engolimos uma série de sapos», mas isso,

vindo de quem criou, ao longo do tempo, tantos «hipopótamos», é certamente motivo para algum humor.

Risos e aplausos do BE e de Deputados do PS.

O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Telmo Correia, do Grupo

Parlamentar do CDS-PP.

O Sr. António Filipe (PCP): — Sr. Deputado Telmo Correia, queremos saber se neste Orçamento há

austeridade ou eleitoralismo!

O Sr. João Oliveira (PCP): — A parte da intervenção do Sr. Deputado sobre o ISP já foi à vida!

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O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro e Srs. Membros do Governo, Sr.as e

Srs. Deputados: Este é o último Orçamento desta Legislatura e, portanto, o último Orçamento do Governo das

esquerdas unidas.

O Sr. António Filipe (PCP): — Se fosse no Governo anterior, não seria o último!

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — O Sr. Ministro das Finanças, na sua intervenção inicial, perante o silêncio

irónico — ou quase sempre irónico — do Sr. Primeiro-Ministro, classificou este Orçamento de histórico, mas a

história deste Orçamento é a de que, de facto, ele é uma enorme oportunidade perdida e um logro, como poucas

vezes vimos neste Parlamento.

Vozes do CDS-PP: — Muito bem!

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — O Orçamento, que tem, de facto, a mais elevada carga fiscal,

curiosamente, também enfrenta o maior e o mais elevado nível de descontentamento a que alguma vez

assistimos relativamente a um Orçamento do Estado. Isto, Sr.as e Srs. Deputados, não pode deixar de ser visto

como muito curioso!

É curioso, Srs. Deputados, que estejam descontentes os professores, que estejam descontentes os médicos,

que estejam descontentes os enfermeiros, que estejam descontentes os polícias e — veja-se, Srs. Deputados!

— que este Orçamento e este Governo enfrentem mais protestos e mais greves do que o Governo que teve de

lidar com a troica e que conseguiu sair dessa mesma situação.

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Jorge Costa (BE): — Isso é um elogio!

O Sr. João Oliveira (PCP): — É pela luta que o País avança!

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — E isto, mesmo com os partidos mais à esquerda dentro do Governo e da

maioria, Sr. Deputado João Oliveira!

Queria falar agora, essencialmente, da área da soberania, ou seja, da área que tem a ver com aquilo a que

poderíamos chamar «orçamento para a segurança» ou orçamento destinado às questões da segurança.

Quatro anos depois da troica, três anos e meio depois do Governo das reposições, dos equilíbrios, etc., o

que é que seria expectável, logo à partida, para as forças de segurança, para a PSP (Polícia de Segurança

Pública) e a GNR (Guarda Nacional Republicana)? Eu digo o que era expectável: era expectável que, de facto,

a reposição fosse feita até às últimas consequências;…

O Sr. João Oliveira (PCP): — Contra a vossa vontade!

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — … era expectável que o Governo cumprisse as suas promessas e

pagasse o que tinha de pagar;…

O Sr. João Oliveira (PCP): — Contra a vossa vontade!

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — … era expectável que o Governo lhes desse instalações dignas; era

expectável mais justiça; e, sobretudo, era expectável mais consideração. Mas não é nada disso que acontece

e, nesta área, o Orçamento é uma deceção, é um logro e é uma oportunidade perdida!

Ainda há pouco, o Sr. Ministro das Finanças disse que queria — estou a citar de cor, mas era mais ou menos

isto — devolver a dignidade a quem contribui para a causa ou para as funções públicas. Era isto que nos dizia

o Sr. Ministro das Finanças. Pergunto, Sr. Ministro: devolveram essa dignidade? Devolveram a dignidade e o

prestígio das funções às forças de segurança? Mas, se devolveram, por que razão é que eles não deram por

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isso?! Se devolveram, por que razão é que os médicos, os enfermeiros, os professores e os polícias dizem que

não deram por isso?! Por que razão é que eles dizem que estão revoltados?! Por que razão é que alguns deles

dizem que nunca estiveram assim, nem no auge do tempo da troica?!

Vozes do CDS-PP: — Muito bem!

Protestos do Deputado do PCP Jorge Machado.

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Se devolveram, por que razão é que a situação é esta, três anos e meio

depois da troica?! Três anos e meio depois, assistimos, outra vez, há dois dias, a um protesto de polícias,

repetindo aquilo que acontecia no momento mais difícil e no auge dessa realidade.

O Sr. António Filipe (PCP): — Afinal, sempre acontecia!

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Obviamente, a pergunta a fazer é muito natural: quem é que tem razão?

Onde é que está a verdade? Quem é que está a falar da realidade? São o Governo e o papel do Orçamento ou

são aqueles que estão no terreno todos os dias?

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Bem lembrado!

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Quem é que tem razão? É o Governo ou são as forças de segurança,

que nos vêm dizer que têm um parque automóvel caótico, um parque automóvel que não é renovado e que é o

pior dos últimos 20 anos, e que têm divisões e esquadras onde não há veículos?! Dou-vos o exemplo de Sintra

— e são eles que o dizem, não sou eu —, um dos maiores municípios do País, que tem 10 esquadras. Sabem

as Sr.as e os Srs. Deputados quantas viaturas existem para essas 10 esquadras? Duas!

O Sr. António Filipe (PCP): — O quê?!

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Duas viaturas para todo o município de Sintra!

Toda a baixa de Lisboa, com a dinâmica que tem hoje, tem uma única viatura!

Dizem eles: «Nós temos 1000 veículos parados! Nós temos instalações, como aquela onde está a Unidade

Especial de Polícia (UEP), na Ajuda, ou como a fatídica esquadra da Bela Vista, no Porto, que estão degradadas

e a cair!» Isto é o que eles nos dizem, todos os dias! Quem é que tem razão? São eles ou é o Governo? É

evidente que quem tem razão são eles e quem está a faltar à verdade é o Governo!

Aplausos do CDS-PP.

Mas dizem mais: «Temos coletes à prova de bala cujo prazo de validade já passou há muito, temos

descontentamento com as promoções, temos descontentamento com as progressões na carreira, temos

suplementos que o Governo não queria pagar, nem depois de uma decisão do Supremo Tribunal Administrativo

— nem aí o Governo queria pagar os suplementos que era justo serem pagos!» É este o Governo que defende

a lei, que defende a ordem e que defende as forças de segurança?! Obviamente que não!

Todos dizem a mesma coisa: não há efetivos, não há meios, não há viaturas, os computadores são antigos

ou estão antiquados, não servem para os dias de hoje. Todos o dizem: os guardas prisionais, que falam das

carreiras; a GNR, que diz que não há progressões; os inspetores do SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras),

que dizem que não têm meios nem efetivos; os investigadores da PJ (Polícia Judiciária), que dizem que os

meios não chegam. Todos dizem a mesma coisa!

A realidade é esta: a média de idades nas forças de segurança — porque as novas entradas ficam sempre

a meio do que deveriam ficar — é de 46 anos na PSP e de 48 anos na PJ, quando devia andar nos 35 ou 36

anos. Esta é a realidade!

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Nós, perante isto, perante estas denúncias e perante o que diz o Governo, voltamos a perguntar: estão todos

enganados? Será que estão todos equivocados? Será que toda esta gente está enganada? Não! O Governo é

que os está a enganar a todos!

Aplausos do CDS-PP.

Esta é a verdade e esta é a realidade! Não são eles que estão enganados, é o Governo que os está a enganar

a todos!

Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro e Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: Podemos até

admitir que, muitas vezes, a questão não é só orçamental. Sabemos que o Partido Socialista e os partidos mais

à esquerda — talvez, muito em particular, o Bloco de Esquerda — lidaram sempre mal com as questões da

segurança e da autoridade.

Protestos da Deputada do BE Mariana Mortágua.

É, de alguma forma, um clássico e, no limite, nunca consideram que as questões da segurança dos

portugueses são uma prioridade.

Protestos da Deputada do BE Mariana Mortágua.

Sr.ª Deputada Mariana Mortágua, nós sabemos as razões pelas quais lidam mal com a autoridade e a

segurança, que, em alguns casos, são muito antigas. Lidam mal com a segurança, lidam mal com os problemas

da autoridade e, muitas vezes, Sr.ª Deputada, entre o polícia e a «canção do bandido», gostam mais da «canção

do bandido» do que da proteção do polícia. Esta é a realidade: preferem sempre o bandido, romântico ou não!

Aplausos do CDS-PP.

Protestos do BE.

Lembramos, pois, que lidam mal com esta realidade e com a proteção dos cidadãos. E vimos isso muitas

vezes! Vimos isso, por exemplo, na maior tragédia do País, os incêndios de 2017. Por isso, quando o Governo

nos diz que este ano foi um sucesso, porque não morreu ninguém — como se o facto de morrer alguém fosse

normal ou aceitável —, tendo ocorrido em Monchique o maior incêndio florestal da Europa, e de cada vez que

demonstra que retificou, alterou ou melhorou alguma coisa, só está a demonstrar a extrema incompetência que

teve em 2017.

Portanto, muitas vezes, a questão não é só relativa ao Orçamento, é uma questão de comportamento, de

opção e de atitude política. Foi isso que se verificou no maior caso político que o País enfrentou mais

recentemente e que foi, eventualmente, um dos casos políticos de maior gravidade que conhecemos na

democracia portuguesa. Refiro-me, obviamente, ao roubo de Tancos, a que poderia somar ainda o

desaparecimento das 57 Glock da PSP. E, se sobre Tancos vamos sabendo muita coisa, sobre as Glock da

PSP sabemos ainda muito pouco, exceto que elas, provavelmente, estarão em mãos criminosas.

Falo do caso de Tancos para vos dizer somente que é de uma enorme gravidade e que, ao contrário do que

pretendem os branqueadores da situação, não é, estritamente ou essencialmente, uma questão orçamental. Em

relação a Tancos, quanto mais sabemos, quanto mais nos apercebemos do que cada um sabia em cada

momento da história, quanto mais vemos até onde chegou e até onde pode ter chegado o encobrimento e a

tentativa de menorizar primeiro e desresponsabilizar depois, mais ficamos com a sensação de que, em boa hora,

o CDS pediu demissões e forçou a constituição de uma comissão de inquérito.

Sr.as e Srs. Deputados, quanto mais sabemos sobre Tancos mais nos fica a ideia de que, na maior parte das

democracias avançadas, Tancos não justificaria a saída de um CEME (Chefe do Estado-Maior do Exército),

Tancos não justificaria a demissão do Ministro, Tancos justificaria que o Governo, todo ele, fosse corrido, porque

é inadmissível, é uma vergonha e é absolutamente inaceitável o que vamos sabendo sobre Tancos.

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Aplausos do CDS-PP.

Para terminar, podem até dizer que Tancos começou por um crime e que o crime existiria sempre, o crime

seria incontornável — podem até dizer-me isso —, mas, depois, tudo o resto, a encenação, a operação, quem

sabia, como é que foi feito, isso é outra questão, isso aí já não é crime, isso é política. Podem dizer que o crime

seria incontornável, porém, Srs. Deputados, eu pergunto…

O Sr. António Filipe (PCP): — Isto é para substituir aquela parte do ISP!

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Não, Sr. Deputado António Filipe, não é do ISP que estou a falar, é da

PSP. É diferente e o senhor deveria estar preocupado com a situação da PSP, porque a conhece bem.

Aplausos do CDS-PP.

Risos do PCP e do BE.

Sr. Deputado António Filipe, saindo da PSP, quando falamos de Tancos, quando falamos do crime…

Protestos do PCP.

O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, peço que deixem o orador continuar a sua intervenção.

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Muito obrigado, Sr. Presidente.

Como estava a dizer, quando falamos de Tancos, quando falamos do crime, quando falamos daquele que é,

provavelmente, o maior escândalo da democracia portuguesa, quando os números são inequívocos, quando a

Polícia Judiciária, os seus inspetores e os seus investigadores nos dizem que, face às circunstâncias atuais,…

Protestos da Deputada do BE Mariana Mortágua.

… nunca como hoje existiu falta de efetivos, nunca como hoje existiu falta de meios de investigação na Polícia

Judiciária, eu pergunto: Sr.as e Srs. Deputados, o que é que está a acontecer? É que, neste domínio, o que está

a acontecer é ainda mais grave. O que está a acontecer, neste domínio, é de uma enorme gravidade! Quando

se reduz o número de efetivos na Polícia Judiciária, quando o número de inspetores é claramente insuficiente,

quando os meios são claramente insuficientes, quando o equipamento é obsoleto e não serve, o que é que

estamos a asfixiar? É a Polícia Judiciária? Não! O que estamos a asfixiar, deliberadamente ou não, é a

capacidade de combate ao crime, o que estamos a asfixiar é a capacidade de o Estado de direito democrático

se proteger do crime e da corrupção, e isto, independentemente das pessoas, é de uma enorme gravidade, isto,

do nosso ponto de vista, é absolutamente inaceitável.

Termino, Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Sr.as e Srs. Deputados, dizendo que, para nós, as áreas de

soberania são essenciais, a segurança dos portugueses é fundamental. Nós não aceitamos, como faz este

Orçamento do Estado, que se enfraqueça a proteção dos portugueses, que se enfraqueça a segurança dos

portugueses, que não se dê prioridade absoluta às áreas de soberania e à segurança dos portugueses.

Aplausos do CDS-PP, de pé.

O Sr. Presidente: — Sr. Deputado Telmo Correia, a Mesa regista uma inscrição para um pedido de

esclarecimentos, da parte da Sr.ª Deputada Isabel Santos.

Tem a palavra, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Isabel Santos (PS): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Telmo Correia, depois de termos assistido aqui

a uma prestação da Sr.ª Deputada Assunção Cristas a espalhar purpurinas pela cabeça dos portugueses, num

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ato de promessas desmesuradas perfeitamente eleitoralistas, perfeitamente populistas e perfeitamente

demagógicas,…

Aplausos do PS.

Protestos do CDS-PP.

…vejo que o Sr. Deputado Telmo Correia, querendo sair desse caminho, acabou como o «general encerrado

no seu labirinto».

Sr. Deputado, quando falamos da situação da PSP e da GNR, lembro-lhe a quebra de recursos durante o

Governo PSD/CDS e lembro-lhe o aumento de recursos e o aumento de efetivos durante este Governo.

O Sr. João Paulo Correia (PS): — Bem lembrado!

A Sr.ª Isabel Santos (PS): — E lembro-lhe mais: nesta Legislatura, foram acrescidos 200 milhões de euros

de investimento em equipamentos para a PSP e a GNR!

Aplausos do PS.

Esta verdade é dura, Sr. Deputado, mas é a verdade.

Sr. Deputado, lamento não o ter ouvido aqui falar dos portugueses, em que se incluem, também, os efetivos

da PSP e da GNR. Quando lhes cortaram salários, quando lhes cortaram perspetivas de carreira, quando lhes

cortaram perspetivas de futuro, onde é que estava, Sr. Deputado?!

Vozes do PS: — Bem lembrado!

Protestos do Deputado do PSD Pedro Alves.

A Sr.ª Isabel Santos (PS): — Onde é que estava o Sr. Deputado no tempo dos cortes?

Aplausos do PS.

Além de tudo o mais, Sr. Deputado, lamento, porque este não é o seu estilo.

O Sr. Filipe Neto Brandão (PS): — Não apoiado!

A Sr.ª Isabel Santos (PS): — Hoje, o Sr. Deputado fez uma dupla fuga: uma fuga ao caminho do CDS,

durante este debate, e uma fuga ao debate, acabando por se encerrar num discurso profundamente

demagógico, populista e, naquilo que nada tem a ver consigo, profundamente alarmista. Lamento, Sr. Deputado!

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Telmo Correia.

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Isabel Santos, em primeiro lugar, agradeço

as perguntas que me dirigiu e, com toda a simpatia e benevolência,…

A Sr.ª Isabel Santos (PS): — Sem benevolência!

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — … procurarei corresponder mais àquilo que eventualmente a Sr.ª

Deputada ache que seja o meu estilo. Na medida do possível, procurarei fazê-lo.

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Queria, no entanto, dizer-lhe, Sr.ª Deputada, que não falei de outra coisa senão dos portugueses, dos

problemas dos portugueses e da questão da segurança dos portugueses.

E, Sr.ª Deputada, volto a sublinhar esta ideia fundamental: se está tudo tão bem, como é possível o Governo

estar confrontado com este grau de descontentamento e com este grau de protesto? Tudo aquilo que eu trouxe

aqui não foi só aquilo que eu entendo, eu citei, quase sempre, portugueses, não citei cidadãos anónimos, citei

portugueses em concreto. Citei, por exemplo, o português que preside ao maior sindicato português de polícia,

a ASPP (Associação Sindical dos Profissionais de Polícia), que é insuspeito — é só o maior sindicato de polícia

português —, e que diz tão-só…

O Sr. António Filipe (PCP): — É verdade! Não é lá como os «sindicatozecos» que os senhores criam.

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Sr. Deputado António Filipe, está lembrado da entrevista que o presidente

da ASPP deu ao jornal Sol?

O Sr. António Filipe (PCP): — Com certeza!

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — O cão polícia recebe mais do que o agente remunerado; «O cão recebe

mais do que um agente remunerado! Somos tratados abaixo de cão!»

Risos do Ministro das Finanças.

Não se ria, Sr. Ministro das Finanças! Sabe porquê? Porque estas pessoas que sentem e dizem isto — e isto

é verdade, porque o líder da ASPP está a falar de gratificados e se, num gratificado, ele se fizer acompanhar de

um cão recebe mais, e não por influência do Sr. Deputado André Silva, que nada teve a ver com isto — são

homens e mulheres que, ao contrário de nós, que aqui estamos sentados dentro, arriscam a vida todos os dias

para defender os portugueses, e arriscam a vida nas piores condições. Por isso, não merecem o nosso riso,

merecem o nosso respeito, merecem o nosso apoio e merecem a nossa consideração.

Aplausos do CDS-PP.

Mas não são só eles que o dizem! Sr.ª Deputada Isabel Santos, não acha relevante que, há dois dias — e

não foi, sequer, um sindicato, não foram, sequer, os inspetores, porque esses disseram que acham que o Estado

de direito democrático pode estar em causa —, o Diretor Nacional da Polícia Judiciária tenha dito que precisava

desesperadamente de mais dinheiro, mais homens, e homens com melhor salário?! Isto não a preocupa, Sr.ª

Deputada? Vários anos depois da troica, três anos e meio depois de um Governo das maravilhas, que vinha

para repor tudo e para resolver o problema de todos, acha razoável que não o tenha feito?! Não é razoável!

Também o Presidente do Sindicato dos Oficiais de Polícia (SOP) disse: «Estamos pior! Nem nos piores anos

da troica a PSP foi tratada assim».

Esta é a verdade, esta é a realidade! E se a Sr.ª Deputada quer entrar um bocadinho numa lógica de canal

História, deixe-me que lhe diga que, nesses anos, quando tudo estava muito difícil, quando era necessário cortar

em todo o lado,…

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Ora bem!

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — … houve um ministério onde não se cortou, pelo contrário, houve um

ministério onde se manteve sempre o aumento, que foi o Ministério da Administração Interna, e muito bem,

porque é preciso fazer opções e é preciso ter prioridades.

De resto, é a história dos mais liberais e dos menos liberais. E digo-lhe uma coisa, Sr.ª Deputada, eu não

sou liberal, nunca fui nem quero ser, mas há algo com que todos devíamos concordar: a área que devia ser

prioritária e onde não devíamos cortar é a da função de soberania e de segurança dos portugueses.

Por isso, é estranho que eles estejam tão descontentes, que eles estejam tão esquecidos e se sintam tão

humilhados e tão revoltados.

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O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, pelo Grupo Parlamentar do PCP, tem a palavra o Sr. Deputado

Paulo Sá.

O Sr. Paulo Sá (PCP): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados:

O Orçamento do Estado para 2019 incorpora um conjunto de medidas de sentido positivo que correspondem a

novos avanços na reposição e conquista de direitos e rendimentos. Referimo-nos a medidas como a do aumento

extraordinário das pensões, num mínimo de 10 € ou 6 €, pelo terceiro ano consecutivo; a da gratuitidade dos

manuais escolares em todos os 12 anos da escolaridade obrigatória; a do fim do pagamento especial por conta

para as micro e pequenas empresas; a do alargamento das condições de acesso à reforma, por parte de

trabalhadores com longas carreiras contributivas; a da redução do custo da eletricidade e do gás natural; a do

apoio extraordinário a desempregados de longa duração; a do alargamento do abono de família para crianças

entre os 3 e os 6 anos; a da redução nos custos dos transportes públicos; a da redução das propinas no ensino

superior; a do apoio à agricultura familiar e à pesca artesanal; a da aquisição de material circulante ferroviário e

de navios do serviço fluvial; a da redução do IVA em espetáculos culturais; a da consolidação e reforço do apoio

à deficiência.

Além destas medidas, é preciso que o Governo concretize também compromissos anteriormente assumidos,

nomeadamente o da contagem do tempo de serviço nas carreiras especiais da Administração Pública —

professores, profissionais das forças e serviços de segurança, profissionais de saúde e carreiras da justiça —

e, ainda, o da contratação do pessoal indispensável ao normal funcionamento dos serviços públicos ou à

erradicação da precariedade na Administração Pública.

Sublinhamos, de resto, a afirmação do Sr. Ministro das Finanças, hoje, neste debate, de dar andamento ao

compromisso que já havia assumido com o PCP, de eliminação do aumento do ISP, feito em 2016.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Muito bem!

O Sr. Paulo Sá (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Se a proposta de Orçamento do Estado incorpora

medidas positivas, não é menos verdade que também enfrenta constrangimentos. Constrangimentos que

resultam das opções do PS e do seu Governo, que limitam, ou mesmo impedem, a resposta plena aos problemas

das pessoas e do País.

Nesta proposta de Orçamento do Estado para 2019, o Governo mantém a sua opção pela redução acelerada

do défice, fixando uma meta de 0,2%. São menos 5 décimas do que o défice de 2018, décimas que, somadas

às muitas com que anteriormente o País não pôde contar, faltarão para o investimento público, para a melhoria

dos serviços públicos e das funções sociais do Estado na saúde, na educação, na proteção social, na cultura,

na habitação, nos transportes. Décimas que faltarão para acolher as propostas do PCP, as quais dão resposta

aos problemas nestas e noutras áreas.

Sim, Srs. Deputados, a opção do PS, mas também do PSD e do CDS, de aceitar os constrangimentos e as

imposições da União Europeia e do euro, em particular no que diz respeito ao défice, tem consequências: trava

a reposição de direitos e rendimentos retirados pelo anterior Governo, limita a capacidade de conquistar e afirmar

novos direitos, impede a resposta aos sérios problemas estruturais do País.

Na proposta de Orçamento do Estado para 2019, o Governo insiste na ilusão de considerar que o problema

do endividamento está controlado e que os múltiplos fatores externos, que condicionam a sua evolução, terão

sempre um desenvolvimento favorável.

Em 2019, a dívida pública, medida em percentagem do PIB, até pode descer alguns pontos percentuais, mas

perturbações externas, que o nosso País não controla, poderão atirar a dívida novamente para um crescimento

exponencial.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!

O Sr. Paulo Sá (PCP): — Na realidade, Portugal continua hoje, como no passado, vulnerável à imprevisível

evolução dos mercados, aos caprichos das agências de rating ou à ação devastadora dos especuladores.

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O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!

O Sr. Paulo Sá (PCP): — Mas o PS e o Governo insistem na ideia de que meras operações de gestão

corrente da dívida, como aquelas realizadas nos últimos anos, poderão resolver o problema.

Os mais de 7000 milhões de euros pagos anualmente pelo serviço de uma dívida insustentável representam

um fardo insuportável para o nosso País.

Os saldos primários orçamentais de milhares de milhões de euros acabam devorados pelo serviço da dívida,

em vez de serem canalizados para o desenvolvimento, para o investimento e para o financiamento dos serviços

públicos.

A proposta de Orçamento do Estado contém algumas medidas fiscais de sinal positivo, mas mantém a opção

pela manutenção de um regime fiscal de favorecimento ao grande capital, o qual continua a beneficiar de uma

tributação inferior àquela que seria adequada, ao mesmo tempo que, por via dos juros da dívida, das parcerias

público-privadas e dos continuados apoios ao sistema financeiro, absorve uma parcela importante dos impostos

pagos pelos portugueses.

Esta opção do PS e do seu Governo de não romper com o favorecimento fiscal do grande capital priva o País

de importantes recursos e conflitua com o objetivo de proceder a uma redistribuição mais justa e equitativa da

riqueza nacional.

Sr. Presidente, Srs. Deputados: Embora incorpore um importante conjunto de avanços, resultantes da luta

dos trabalhadores e da intervenção decisiva do PCP, a proposta de Orçamento do Estado para 2019 é, contudo,

limitada pelas opções do PS e do seu Governo e por imposições externas decorrentes da submissão às

orientações da União Europeia e do euro.

São essas opções e imposições externas que não permitem que este Orçamento vá mais longe na resposta

aos problemas das pessoas e do País, que limitam a valorização do trabalho e dos trabalhadores, que limitam

o investimento no Serviço Nacional de Saúde, na escola pública, na segurança social, na cultura, na justiça, nos

transportes públicos, na habitação, nas forças e serviços de segurança e nas Forças Armadas.

São essas opções e imposições externas que é preciso ultrapassar para que, no quadro de uma política

alternativa, patriótica e de esquerda, se possa dar resposta aos graves e persistentes problemas nacionais,

garantir o progresso económico e social do País e elevar as condições de vida dos trabalhadores e do povo.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente: — Sr. Deputado Paulo Sá, a Mesa registou a inscrição, para pedir esclarecimentos, do Sr.

Deputado Cristóvão Crespo, do Grupo Parlamentar do PSD.

Tem a palavra, Sr. Deputado.

O Sr. CristóvãoCrespo (PSD): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Membros do Governo, Sr.as e

Srs. Deputados, Sr. Deputado Paulo Sá, desde finais de 2015 que existe uma coligação que define a política

financeira e económica do Estado, cujo reflexo são as opções que constam do Orçamento do Estado,

consensualizadas na «sala das bolachas» da Assembleia da República.

Esta coligação tem produzido legislação com eventual impacto orçamental que resulta das posições

conjuntas do PS, do PCP e do Bloco de Esquerda, mas esse impacto acaba na discussão do Orçamento do

Estado, Sr. Deputado. É que, logo a seguir, o PCP tem de assobiar para o lado, porque o Orçamento aprovado

não é o Orçamento cumprido.

Cabe, por isso, perguntar: onde está a defesa das funções sociais do Estado se o investimento público desce

para níveis abaixo do intolerável? Por que motivo, cada dia que passa, se degrada a prestação dos cuidados de

saúde, se degrada a qualidade dos transportes públicos, se degrada a proteção das pessoas?

Não, Srs. Deputados do PCP, não é só este Orçamento do Estado, têm sido todos assim. Este é um

Orçamento de muita ilusão, como os outros, em que a magra promessa de benefício tem agarrado um bem real

e pesado aumento de impostos; tem um ilusório benefício em IRS para ex-residentes pior que a regra geral que

existe; tem um ilusório benefício da fatura da luz que se traduz em escassos cêntimos; tem um ilusório benefício

nas condições de aposentação que não passa de uma confusão; tem uma real e pesada carga fiscal sobre os

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combustíveis; tem um real e pesado aumento da carga fiscal em adicionais, em contribuições extraordinárias,

em contribuições especiais e em contribuições municipais.

Para o Orçamento do Estado de 2015, o Sr. Deputado Paulo Sá fez uma brincadeira, a rábula dos legos.

Não quer repetir agora, Sr. Deputado?

A Sr.ª RitaRato (PCP): — Essa ficou-lhe atravessada!

O Sr. CristóvãoCrespo (PSD): — Lembra-se das peças em que cada uma valia 100 milhões de euros de

impostos? De quantas peças é que necessita mais agora, Sr. Deputado?

Aplausos do PSD.

Na altura, disse que tinha 90 peças a mais. De quantas mais é que necessita agora? Mais 70? Mais 80 peças

de 100 milhões? É isso, Sr. Deputado? Seria interessante que o senhor repusesse novamente esse trabalho.

Protestos do PCP.

Para terminar, Sr. Presidente, refiro-me ao distrito de Portalegre, mas o que vou dizer pode aplicar-se a

qualquer ponto do País.

Vemos, por todo o lado, desde o espaço público às redes sociais, mensagens que pretendem desculpabilizar-

vos. Uma delas diz o seguinte: «Em luta por um Alto Alentejo desenvolvido». Sr. Deputado, porque não o

desenvolvem? Ou «O PCP propôs 650 € de salário mínimo para janeiro de 2019». Porque não o aumentam?

O Sr. AntónioFilipe (PCP): — Vocês não votam favoravelmente esse aumento!

O Sr. CristóvãoCrespo (PSD): — O PCP não pode ser levado a sério, uma vez que já aprovaram, e vão

aprovar novamente, um Orçamento que diz uma coisa nesta Casa, no Parlamento nacional, e outra diferente no

Parlamento Europeu, em Bruxelas.

Aplausos do PSD.

O Sr. AntónioFilipe (PCP): — Votem o aumento do salário mínimo!

O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Paulo Sá.

O Sr. PauloSá (PCP): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Cristóvão Crespo, enquanto o ouvia, tenho de

confessar que me estava a cair o queixo de perplexidade.

Protestos do PSD e do CDS-PP.

Caiu-me o queixo ao ouvir o Sr. Deputado, em nome da sua bancada, falar em defesa das funções sociais

do Estado! Caiu-me o queixo, Sr. Deputado!

Aplausos do PCP.

Eu não tenho memória curta, nem os portugueses têm memória curta. Os senhores estiveram no Governo

bem recentemente, em conjunto com o CDS, e todos nos lembramos muito bem do que tentaram fazer com as

funções sociais do Estado.

Protestos do PSD e do CDS-PP.

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O PSD e o CDS atacaram as funções sociais do Estado e tentaram desmantelá-las. Atacaram o Serviço

Nacional de Saúde, a escola pública, a segurança social, os transportes públicos, a habitação. Atacaram as

funções sociais do Estado e agora vêm aqui falar nisso!

Protestos do PSD e do CDS-PP.

Sr. Deputado Cristóvão Crespo, é preciso muito descaramento político para vir aqui falar da defesa das

funções sociais do Estado!

Aplausos do PCP.

O Sr. Deputado veio também falar de aumento de impostos, mas lembro-o de que foi no vosso Governo que

fizeram o mais brutal aumento de impostos de que há memória na nossa história recente dirigido aos

rendimentos dos trabalhadores, dos reformados e dos pensionistas.

Protestos do PSD e do CDS-PP.

Os senhores congelaram o mínimo de existência, que é um instrumento do IRS que defende os contribuintes

que têm rendimentos mais baixos. Congelaram-no prejudicando e atacando esses contribuintes.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!

O Sr. PauloSá (PCP): — Os senhores atacaram os trabalhadores, os reformados, os pensionistas, as

famílias, os micro e pequenos empresários por via dos impostos e agora têm o descaramento de vir aqui falar

em aumento de impostos.

O Sr. Deputado referiu a história dos legos.

O Sr. CristóvãoCrespo (PSD): — Eram de várias cores, com formas e bonecos!

O Sr. PauloSá (PCP): — Lembro que hoje os trabalhadores, os reformados, as famílias, os micro e pequenos

empresários têm nas suas costas muito menos peças de lego também devido ao contributo do PCP.

Aplausos do PCP e de Os Verdes.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Sr. Deputado Cristóvão Crespo, o problema não é o tamanho da carga fiscal,

é como ela foi distribuída!

O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia, de Os Verdes.

A Sr.ª HeloísaApolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Sr.as e Srs. Ministros, Sr.as e

Srs. Deputados: Quando o PSD e o CDS referiram, por diversas vezes no debate que já aconteceu até agora,

que este Orçamento do Estado é eleitoralista porque contém medidas populares, apenas estão a reconhecer

que este Orçamento tem incluídas medidas que são, de facto, positivas para as pessoas. Fica-vos bem esse

reconhecimento político.

Os Verdes têm orgulho de ter contribuído para que muitas dessas medidas positivas tenham sido incluídas

neste Orçamento do Estado, designadamente numa lógica de continuidade daquilo que tem vindo a acontecer

nesta Legislatura ao nível da reposição de rendimentos e de mais investimento público em determinados setores

que careciam desse crescimento do investimento público.

É nesta senda que o PSD e o CDS andam absolutamente furiosos. Andam furiosos, evidentemente, porque

gostavam que as pessoas acreditassem que não havia alternativa à política que vinham a prosseguir na última

Legislatura.

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Protestos do PSD.

Aquilo que queriam mesmo era que ninguém acreditasse que fosse possível prosseguir medidas e políticas

diferentes que não massacrassem as pessoas, ao contrário daquilo que os senhores fizeram durante toda a

Legislatura e como agora se preparavam para continuar a fazer nesta Legislatura caso os portugueses vos

tivessem dado a maioria de Deputados na Assembleia da República, que, felizmente, não deram.

É bom, talvez, conseguir imaginar o que seria um Orçamento do Estado do PSD e do CDS nesta altura,

mesmo nesta altura. Seria, naturalmente, um Orçamento da continuidade dos cortes salariais, da continuidade

do corte nas pensões, da continuidade no corte das prestações não contributivas e de muitos apoios sociais, da

continuidade do enorme aumento de impostos, designadamente ao nível dos rendimentos.

Seria, naturalmente, um Orçamento do Estado marcado e carregado por privatizações e que pugnaria por

um fraco investimento público, seria, naturalmente, um Orçamento em que a descida do IRC para as grandes

empresas teria uma boa margem no vosso documento, porque a vossa lógica ideológica era essa e estava muito

bem marcada.

O Sr. JoséLuísFerreira (Os Verdes): — Muito bem!

A Sr.ª HeloísaApolónia (Os Verdes): — Por falar em investimento, gostaria de dedicar esta intervenção,

maioritariamente, às questões relacionadas com o ambiente.

A verdade é que, com a última governação PSD/CDS, a área do ambiente era aquela que anualmente não

escapava aos brutais cortes no investimento público.

O que é fundamental dizer é que os custos da inação de investimento em matéria de ambiente saem-nos

muito caros quando depois arcamos com as consequências dessa falta de investimento e com a necessidade

de termos de repor ou reabilitar aquilo que ainda é possível repor ou reabilitar. Muitas vezes, a negatividade do

investimento é mesmo definitiva.

Por exemplo, no que concerne aos fogos florestais, tivemos lições grandes e mágoas brutais neste País, mas

tivemos custos elevadíssimos pelo facto de não se ter investido nesta área ao longo de anos, anos e anos.

Apostou-se muito mais no combate do que na prevenção. Por isso, era fundamental, na perspetiva de Os

Verdes, inverter um pouco essa lógica e apostar seriamente na prevenção.

Nesse sentido, para além do facto de termos contribuído para estancar a expansão da área de eucalipto,

revertendo uma lei hedionda do Governo PSD/CDS — a lei da liberalização do eucalipto —, também

consideramos que é fundamental apoiar, estimular, dar incentivos às espécies autóctones, para que tenhamos

uma floresta multifuncional, diversificada e, portanto, mais resistente ao drama dos fogos florestais. Na nossa

perspetiva, também é fundamental apoiar as operações de limpeza da floresta, designadamente os pequenos

proprietários que têm menos condições económicas.

Por outro lado, falar de ambiente é falar de um serviço público — ao nível do Estado, naturalmente — que

requer meios humanos para que possa ser prosseguido com sucesso.

É nesse sentido que, nesta Legislatura, Os Verdes têm dado grandes contributos, em sede de Orçamento

do Estado, para o reforço desses meios humanos, nomeadamente quanto à conservação da natureza.

Além disso, temos desígnios nacionais, como, por exemplo, o combate às alterações climáticas, quer ao

nível da mitigação, quer ao nível da adaptação.

É fundamental que haja investimento certeiro para determinados setores que vão contribuir para esse

desígnio nacional. E a área dos transportes é um bom exemplo disso, porque é preciso mais material circulante,

mais pessoal, mais investimento nas infraestruturas, designadamente nas ferroviárias. É determinante e Os

Verdes têm trabalho nesse sentido, tal como têm trabalhado no que diz respeito aos custos dos títulos de

transporte.

Noutros Orçamento do Estado, batalhámos muito pela reposição do desconto do Passe 4_18 e do passe

sub23 e também para que o IVA do passe social pudesse ser deduzido ao nível do IRS.

Agora, todas estas medidas vão coincidir e conviver com uma outra traduzida neste Orçamento do Estado

— Os Verdes também batalharam muito por ela e anunciaram-na, aliás, nas jornadas parlamentares — que se

prende justamente com a questão do passe social único, que em muito vai beneficiar os utilizadores de

transportes públicos.

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Os Verdes consideram que, em sede de Orçamento do Estado, seria possível dar mais passos a nível

ambiental, como, por exemplo, apostando mais em benefícios fiscais para obras e equipamentos para promover

a eficiência energética. Essas medidas, que já estiveram traduzidas em Orçamentos do Estado, e que, depois,

foram retiradas, tinham utilidade e incentivo para bons comportamentos ambientais. Era igualmente possível

implementar mais medidas para a utilização eficiente da água, para reutilização de águas residuais e de águas

pluviais.

Relativamente a um drama com o qual hoje nos confrontamos, que se prende com a questão do plástico e

da necessidade de reduzir e retirar plástico do meio natural, Os Verdes têm apresentado inúmeras propostas na

Assembleia da República para esse efeito, mas com um contributo concreto por parte do mercado e daquilo que

o mercado oferece. Consideramos que não pode o Orçamento do Estado cingir-se a determinadas medidas

pouco ou nada eficazes, como, por exemplo, o aumento do preço dos sacos de plástico. Tudo aquilo que

sabemos é que não foi a taxa dos sacos de plástico leves que levou à sua redução, mas, sim, a sua retirada do

mercado, tendo as grandes superfícies substituído estes por sacos mais grossos, que não são taxados, mas

que estas mesmas grandes superfícies vendem aos consumidores como se de uma taxa tratasse. Afinal, trata-

se de um negócio que foi transferido para essas grandes superfícies.

Portanto, não vale a pena andar a ludibriar e a encontrar medidas que não têm eficácia prática. O mercado

tem de contribuir e tem de responder àquilo que é um desígnio de todos e ninguém pode ficar de fora.

Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A área do ambiente requer investimento, porque quando falamos de

ambiente falamos também da qualidade de vida concreta das pessoas e de direitos. Se falamos em reposição

de direitos, falamos também, naturalmente, em investimento no ambiente.

Aplausos de Os Verdes e do PCP.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, pelo Grupo Parlamentar do PSD, a Sr.ª Deputada

Maria Luís Albuquerque.

A Sr.ª Maria Luís Albuquerque (PSD): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados:

Esta proposta de Orçamento é a última da Legislatura e, mais uma vez, não surpreende — ilustra a chamada

«alternativa» à austeridade.

Depois de devidamente corrigido por Bruxelas nos primeiros esboços de Orçamento para 2016, o Governo

desistiu da confrontação e tem reclamado vitória pela consolidação orçamental e pelos défices mais baixos da

democracia. O que nos deve preocupar a todos é a forma como consistentemente têm alcançado estes

resultados. Gozando de uma conjuntura externa favorável, como há muito não se via, e de folgas orçamentais

provenientes da descida de encargos com juros — cortesia do BCE —, de elevados dividendos do Banco de

Portugal — também cortesia do BCE —, para além de uma carga fiscal sem precedentes, a despesa permanente

cresce todos os anos.

O investimento público que, depois de anos de crise, seria indispensável nem que fosse apenas para manter

a funcionar o que existe, tem sido o grande sacrificado. Para lá da ironia de ser um Governo das esquerdas a

penalizar os serviços públicos e os cidadãos que deles dependem — o que, note-se, também não surpreende

—, são as consequências presentes e futuras que nos preocupam.

Com a última proposta de Orçamento da Legislatura, pode fazer-se um balanço dos resultados alcançados,

como, de resto, o Governo também fez. Olhar para o desempenho da nossa economia permite-nos fazer esse

balanço.

O Governo gaba-se de estar a convergir com a área do euro e com a União Europeia, porque crescemos

marginalmente acima da média, quando muito, e parece achar que isso é prova suficiente. As médias são o que

são, por isso vale a pena olhar para lá das médias.

Se retirarmos da média os países grandes, penalizados por razões específicas, como, por exemplo, o Reino

Unido ou Itália, o resultado é uma clara divergência. Todos os países com os quais nos devemos comparar

estão a crescer consistentemente mais do que nós, alguns mesmo muito mais — da Irlanda ao Chipre, que

também passaram por duríssimos programas de ajustamento, a Espanha e a todos os países do leste europeu.

Se a conjuntura económica permitiu a esses países crescerem tanto mais, porque não o conseguiu Portugal?

Sr.as e Srs. Deputados, porque o Governo não sabe como fazer, nem se preocupa especialmente com isso.

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Vozes do PSD: — Muito bem!

A Sr.ª Maria Luís Albuquerque (PSD): — Recordo os Srs. Deputados que nos anteriores Governos

socialistas também foi assim. No primeiro Governo do Eng.º Guterres as poupanças com juros, os benefícios

das reformas dos Governos do Prof. Cavaco Silva e a conjuntura externa positiva redundaram em aumentos de

despesa e acabámos no pântano. E estávamos a crescer mais do que a média europeia!

Com o primeiro Governo Sócrates, com o crédito fácil e barato, mais uma vez, poupanças com juros, e a boa

conjuntura externa que antecedeu a crise, a despesa cresceu, a dívida pública duplicou, grandes

responsabilidades foram assumidas para que quem viesse a seguir pagasse, e acabámos em bancarrota. E,

apesar de pouco, também convergimos com a média europeia.

Permitam-me citar uma frase atribuída a Einstein: «Insanidade é fazer a mesma coisa e esperar resultados

diferentes».

Sr. Primeiro-Ministro, o que espera que aconteça a Portugal desta vez?

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: — Não há mais inscrições.

O objetivo do Presidente de acabar a reunião plenária às 21 horas, para que amanhã pudéssemos terminar

o debate de manhã e, à tarde, haver apenas declarações políticas, parece inconcretizável. De qualquer forma,

vamos fazer o possível para avançarmos o mais que possamos de manhã.

Entretanto, o Sr. Secretário Duarte Pacheco irá dar conta de algumas iniciativas que deram entrada na Mesa.

Faça favor.

O Sr. Secretário (Duarte Pacheco): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, informo que o Sr. Presidente

admitiu o Projeto de Lei n.º 1025/XIII/4.ª (PCP) — Repõe o princípio do tratamento mais favorável e regula a

sucessão de convenções coletivas de trabalho, procedendo à 14.ª alteração ao Código do Trabalho, aprovado

pela Lei n.º 7/2009, de 12 de fevereiro, que baixa à 10.ª Comissão, e os Projetos de Resolução n.os 1866/XIII/4.ª

(PSD) — Recomenda ao Governo português que promova medidas para cumprimento das metas de redução

de resíduos de plástico, que baixa à 10.ª Comissão, 1867/XIII/4.ª (CDS-PP) — Recomenda ao Governo a adoção

e divulgação de procedimentos simplificados para apoio às vítimas dos incêndios de Monchique, Silves,

Portimão e Odemira ocorridos em agosto de 2018, que baixa à 7.ª Comissão, 1868/XIII/4.ª (Os Verdes) —

Abolição de taxas de portagens na A1, em Vila Franca de Xira e Alverca, que baixa à 6.ª Comissão, e

1869/XIII/4.ª (Os Verdes) — Reversão da privatização dos CTT, que baixa à 6.ª Comissão.

É tudo, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente: — Antes de terminarmos a sessão, informo que a ordem do dia de amanhã, como sabem,

tem dois momentos, às 10 horas e às 15 horas, consistindo o primeiro ponto da conclusão do debate conjunto,

na generalidade, das Propostas de Lei n.os 155/XIII/4.ª (GOV) — Aprova as Grandes Opções do Plano para

2019 e 156/XIII/4.ª (GOV) — Aprova o Orçamento do Estado para 2019.

Temos, depois, um segundo ponto, com o encerramento de debate.

Por fim, do terceiro ponto constam as votações regimentais.

Boa noite a todos e até amanhã.

Está encerrada a sessão.

Eram 20 horas e 28 minutos.

Presenças e faltas dos Deputados à reunião plenária.

A DIVISÃO DE REDAÇÃO.

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30 DE OUTUBRO DE 2018 59 O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Há o País político
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I SÉRIE — NÚMERO 18 60 Nesse caso, significa que este Governo faz o m
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30 DE OUTUBRO DE 2018 61 privados sejam a regra dos serviços públicos. O PSD quer a
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I SÉRIE — NÚMERO 18 62 se viu, da qual não desistem? A quem não devol
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30 DE OUTUBRO DE 2018 63 Sei que os senhores costumam não ser bons nas contas, mas
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I SÉRIE — NÚMERO 18 64 problema é não haver uma estratégia que nos co
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30 DE OUTUBRO DE 2018 65 O Governo do Partido Socialista soube desde o primeiro mom
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I SÉRIE — NÚMERO 18 66 Aplausos do PS. Voltar ao passad
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30 DE OUTUBRO DE 2018 67 Protestos do PS e do Deputado do PCP António Filipe. <
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I SÉRIE — NÚMERO 18 68 Aplausos do BE. Perdida n
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30 DE OUTUBRO DE 2018 69 como a atualização das pensões, a que se juntou um aumento
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I SÉRIE — NÚMERO 18 70 O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, tem um pedid
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30 DE OUTUBRO DE 2018 71 O Sr. Carlos Silva (PSD): — O Bloco de Esquerda foi compra
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I SÉRIE — NÚMERO 18 72 O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Sr. Pre
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30 DE OUTUBRO DE 2018 73 isso?! Se devolveram, por que razão é que os médicos, os e
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I SÉRIE — NÚMERO 18 74 Nós, perante isto, perante estas denúncias e p
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30 DE OUTUBRO DE 2018 75 Aplausos do CDS-PP. Para terminar, podem até
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I SÉRIE — NÚMERO 18 76 ato de promessas desmesuradas perfeitamente el
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30 DE OUTUBRO DE 2018 77 Queria, no entanto, dizer-lhe, Sr.ª Deputada, que não fale
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I SÉRIE — NÚMERO 18 78 O Sr. Presidente: — Para uma intervençã
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30 DE OUTUBRO DE 2018 79 O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente! O S
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I SÉRIE — NÚMERO 18 80 combustíveis; tem um real e pesado aumento da
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30 DE OUTUBRO DE 2018 81 O PSD e o CDS atacaram as funções sociais do Estado e tent
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I SÉRIE — NÚMERO 18 82 Protestos do PSD. Aquilo que que
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30 DE OUTUBRO DE 2018 83 Os Verdes consideram que, em sede de Orçamento do Estado,
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I SÉRIE — NÚMERO 18 84 Vozes do PSD: — Muito bem! <

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