O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

I SÉRIE — NÚMERO 62

14

sobrevivendo, desafiaram o destino que lhes estaria traçado pelo antissemitismo e pelo nazismo que ocupava

a Europa.

Para Sousa Mendes, o preço da desobediência ao regime e a Salazar significou o fim da sua carreira, o

ostracismo social e um fim de vida repleto de dificuldades. Não chegaria a ver a justiça que lhe era devida, a

qual só obteria com a reabilitação, na década de 80, e com as homenagens nacionais que, desde então,

justamente lhe têm sido prestadas.

Contudo, aqueles que sobreviveram graças a Aristides de Sousa Mendes nunca o esqueceram. Logo na

década de 60, seria reconhecido pelo Memorial de Yad Vashem, em Jerusalém, como «Justo entre as Nações»

e a medalha que assinala este reconhecimento cita a passagem da Mishná que proclama que «aquele que salva

uma vida salva o mundo inteiro». São precisamente os milhares de mundos que Sousa Mendes salvou, os

milhares de Henri Zvi Deutsch e suas famílias, que hoje nos escutarão quando decidirmos a concessão de

honras do Panteão.

Sobre os «Justos», Elie Wiesel sublinhou que importa aprender com eles, com gratidão e com esperança,

recordá-los. Consagrar a sua memória no espaço onde a Pátria homenageia e perpetua os cidadãos

portugueses que se extinguiram na defesa dos valores da defesa da civilização, em prol da dignificação da

pessoa humana e da causa da liberdade, é o corolário lógico que a República deve retirar destas sábias

palavras.

Nas palavras do depoimento de Henri Zvi Deutsch, a que regresso, Sousa Mendes foi «uma luz solitária que

caía sobre uma Europa nas trevas». Num momento em que, de novo, na Europa e no mundo, assistimos ao

exacerbar de extremismos, ao recrudescimento do antissemitismo, ao fecho de fronteiras, de solidariedade e de

humanidade a quem procura sobreviver a conflitos e perseguições, a mensagem de Aristides de Sousa Mendes

deve ser convocada em toda a sua atualidade e autoridade, para nos mostrar os caminhos a trilhar e para

iluminar, de novo, o caminho.

Todavia, importa ter presente que a defesa destes valores e a preservação da memória não se fará apenas

com evocações justas e com palavras e cerimónias bonitas. Constroem-se com o empenho permanente na

educação para a memória e a cidadania. Constroem-se dando combate sem tréguas ao antissemitismo e à

discriminação religiosa e étnica, denunciando quem rejeita, por vezes a partir desta mesma tribuna, os valores

humanistas comuns aos clássicos da Antiguidade, ao pensamento judaico-cristão, à tradição das Luzes e às

ideias emancipadoras de vários quadrantes ideológicos que foram libertando a humanidade ao longo dos últimos

dois séculos e meio.

Aplausos do PS e da Deputada não inscrita Joacine Katar Moreira.

Constroem-se com atos concretos de correção de injustiças, que não caducam, tenham elas anos, décadas

ou séculos, perante quem foi humilhado e violentado, privado dos seus bens, da sua identidade, da sua pertença

a uma comunidade ou da sua nacionalidade, não cedendo perante dificuldades pontuais e não perdendo nunca

de vista o essencial. Devemos sempre estar, como Sousa Mendes, de braços abertos aos nossos semelhantes

que, junto de nós, querem sobreviver, viver, prosperar e construir a sua vida.

Constroem-se, acima de tudo, preservando a frágil chama solitária que Aristides de Sousa Mendes acendeu

em Bordéus,…

O Sr. Presidente: — Tem de concluir, Sr. Deputado.

O Sr. Pedro Delgado Alves (PS): — … em nome da decência e da humanidade, há 80 anos, e que se deve

espelhar todos os dias na nossa democracia, na nossa República e nas nossas vidas.

Aplausos do PS, da Deputada não inscrita Joacine Katar Moreira e do Deputado do BE José Manuel Pureza.

O Sr. Presidente: — Tem, agora, a palavra, pelo Grupo Parlamentar do PCP, o Sr. Deputado António Filipe.

O Sr. António Filipe (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Certamente, o Grupo Parlamentar do PCP

associa-se a esta homenagem que aqui é proposta a Aristides de Sousa Mendes, saudando também os seus

Páginas Relacionadas
Página 0004:
I SÉRIE — NÚMERO 62 4 O Sr. Presidente: — Bom dia, Sr.as e Srs. Deput
Pág.Página 4
Página 0005:
12 DE JUNHO DE 2020 5 Quem ganha, então, no meio de toda esta cadeia
Pág.Página 5
Página 0006:
I SÉRIE — NÚMERO 62 6 O PCP traz ainda ao Plenário um outro projeto q
Pág.Página 6
Página 0007:
12 DE JUNHO DE 2020 7 No entanto, apesar das várias normas nacionais
Pág.Página 7
Página 0008:
I SÉRIE — NÚMERO 62 8 capacidade de armazenamento do pescado nas inst
Pág.Página 8
Página 0009:
12 DE JUNHO DE 2020 9 O Sr. Adão Silva (PSD): — Muito bem!
Pág.Página 9
Página 0010:
I SÉRIE — NÚMERO 62 10 Sr. Presidente, Srs. Deputados, no meio desta
Pág.Página 10
Página 0011:
12 DE JUNHO DE 2020 11 O Sr. Presidente: — Peço-lhe para concluir, Sr
Pág.Página 11