20 DE JUNHO DE 2020
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no trabalho, e tantos outros atropelos laborais e arbitrariedades que se intensificaram fortemente nestes últimos
meses.
Aliás, se há algo que também importa retirar destes últimos três meses é o perigoso sinal de até onde setores
patronais estão dispostos a ir, espezinhando os direitos dos trabalhadores e aproveitando o vírus como pretexto.
Sr. Presidente, Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo, o contexto atual do surto expôs, de forma muito
clara e crua, a natureza opressora e exploradora do capitalismo, a dura realidade vivida por milhões de
trabalhadores no nosso País, todos os dias, mesmo antes da COVID-19.
Trabalhadores com contratos a prazo, falsos recibos verdes, trabalhadores à peça, à hora; trabalhadores de
empresas de trabalho temporário ou outsourcing; trabalhadores no período experimental; falsos estágios, falsas
bolsas de investigação; tantos trabalhadores com vínculos precários — 1 em cada 5 —, que, respondendo a
necessidades permanentes, têm na instabilidade e na incerteza do seu posto de trabalho o quotidiano das suas
vidas. É a substituição de trabalhadores com direitos por trabalhadores sem direitos.
Baixos salários: são mais de 25% os trabalhadores que auferem o salário mínimo nacional e mais de 10%
os que estão em situação de pobreza, empobrecendo a trabalhar.
Longas jornadas de trabalho, intensos ritmos de trabalho, horas extraordinárias não remuneradas.
Horários desregulados, turnos informados de véspera, fins de semana com os filhos que não há, porque são
negadas as condições para a articulação da vida profissional, pessoal e familiar, limitação e negação de direitos
de maternidade e paternidade, chantagens, pressões, represálias sobre trabalhadores.
Tudo isto são realidades que vieram agora à tona mas que são bem antigas e que têm causas e responsáveis:
resultam de décadas de política de direita e de sucessivos governos do PS, do PSD e do CDS que, com as suas
opções políticas, as têm perpetuado.
E se é preciso combater o vírus, garantir todas as respostas por parte do Serviço Nacional de Saúde, garantir
todas as condições de saúde, higiene e segurança no trabalho aos trabalhadores, incluindo nas suas
deslocações para o trabalho, garantir a necessária proteção social a quem está em situação mais frágil, e, como
foi evidente nestes tempos, perceber que a precariedade do trabalho é também a precariedade da proteção
social, metade dos desempregados não tem proteção social. Se é preciso isto, é preciso também agir no
combate a outros vírus que aí andam há décadas:…
O Sr. José Luís Ferreira (PEV): — Muito bem!
A Sr.ª Diana Ferreira (PCP): — … o vírus da exploração, da precariedade, dos baixos salários, do
empobrecimento e das políticas que os alimentam.
O PCP tem apresentado várias propostas para responder ao momento atual, defendendo que tempos
excecionais exigem medidas excecionais que protejam e reforcem os direitos e os rendimentos dos
trabalhadores e que garantam a proteção social.
Mas assumindo esta batalha imediata, não abandonamos um combate de fundo que tem de ser travado de
forma firme e ininterrupta, a luta pela melhoria das condições de vida dos trabalhadores e do povo português,
pois ela é condição essencial para um país que se quer desenvolvido, de progresso e justiça social.
O Sr. António Filipe (PCP): — Muito bem!
A Sr.ª Diana Ferreira (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Os últimos quatro anos, em resultado da
intervenção do PCP pela reposição e conquista de direitos e rendimentos, demonstraram que o caminho para
combater injustiças e desigualdades sociais, para combater a pobreza, para melhorar a vida das famílias e até
para dinamizar o mercado interno é inseparável da valorização dos salários, das reformas, das prestações
sociais, da defesa e do reforço dos direitos laborais.
Impõe-se, pois, a valorização geral dos salários, o aumento do salário mínimo nacional para os 850 €, não
só por razões de justiça social e de uma mais justa distribuição da riqueza mas também por razões de caráter
económico, uma vez que assume especial importância no aumento do poder de compra dos trabalhadores, na
dinamização da economia e do mercado interno.