27 DE JUNHO DE 2020
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universitários terão ainda para enfrentar, muitos serão os que aguentaram mesmo em condições adversas,
porque não foi só no ensino básico e secundário que se encontraram fragilidades de acesso a ferramentas
tecnológicas e até à internet.
Sim, com a pandemia ficou ainda mais claro que os estudantes do ensino superior e as suas famílias fazem
um grande esforço para pagar o preço exorbitante de propinas e foram ainda obrigados a pagar também quartos
que não usaram durante o confinamento obrigatório.
Mais uma vez, debaixo do chapéu da autonomia das universidades, foi possível acontecer um pouco de tudo:
os que tinham ferramentas tecnológicas e os que não tinham; os que tinham aulas e os que não tinham; os que
conseguiram acompanhar o plano da universidade e os que foram deixados à sua sorte.
«Não deixar ninguém para trás» foi o slogan tantas vezes dito e outras tantas ignorado, porque perderam
rendimentos ou porque não conseguiram acompanhar o ritmo de trabalho e de aulas.
Se, por um lado, se adivinham restrições a nível da oferta de alojamento para os estudantes deslocados a
frequentar as universidades e os politécnicos, por outro lado, a maior incerteza incide sobre a capacidade de
fazer face às inúmeras despesas, incluindo as propinas, o que condicionará o acesso e a continuidade da
frequência dos cursos universitários perante a acentuada perda de rendimentos das famílias e as inúmeras
situações de desemprego que afetam, sobretudo, os mais jovens. Afetam, concretamente, os trabalhadores-
estudantes, muitos deles com atividade profissional na área do turismo, no comércio de grandes superfícies e
na restauração, setores económicos fortemente comprometidos com as consequências da pandemia.
Os Verdes consideram que vivemos tempos de acentuação de desigualdades sociais, pelo que se exigem
medidas capazes de atenuar os constrangimentos económicos e sociais associados ao arranque do novo ano
letivo no ensino superior com vista a prevenir o abandono escolar no ensino académico.
Este é o momento de se assumirem medidas que nos permitam que não fique ninguém para trás e que isso
não se limite apenas a um slogan.
Aplausos da Deputada do PCP Alma Rivera.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João Cotrim de
Figueiredo.
O Sr. João Cotrim de Figueiredo (IL): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Antes de se chegar ao ensino
superior, há um longo caminho a fazer e, nesse caminho, há a lamentar que, este ano, os alunos que queriam
fazer melhoria de nota em exame nacional não o tenham podido fazer. Perante a óbvia injustiça da decisão do
Governo, estes alunos fizeram o que podiam, enviando mensagens e e-mails aos Deputados e criando petições.
Alguns partidos, entre eles a Iniciativa Liberal, fizeram propostas no sentido de lhes ser dada essa oportunidade,
mas foram todas rejeitadas pelo Governo e pela maioria deste Parlamento. Porquê? A única explicação é a de
que os interesses dos professores valem mais do que os interesses dos alunos. É, assim, hipotecado o futuro
de milhares de jovens para agradar a quem tem poder e sabe pressionar.
O Sr. Jorge Costa (BE): — Podem sempre ir para a universidade de verão.
O Sr. João Cotrim de Figueiredo (IL): — A verdade é que os sindicalistas votam e estes jovens ainda não
votam. A maioria dos partidos prefere estar de bem com os sindicatos, nós preferimos estar ao lado dos jovens,
mesmo que isso não dê votos.
Quanto ao próximo ano letivo, o Sr. Ministro responsável pelo Ensino Superior afirmou que o ensino superior
«vai, certamente, ser presencial» e que cabe às instituições adaptarem-se às regras sanitárias. É o que faz
sentido, não só no ensino superior como em todos os ciclos de ensino, mas o seu colega da Educação não tem
mostrado a mesma vontade nem está preparado para planear seja o que for no próximo ano letivo.
Já não bastava termos um País e dois sistemas, agora temos um Governo e duas visões. O que é comum?
Em ambos os casos, os jovens são os prejudicados. Uma geração inteira vítima dos interesses eleitoralistas de
uns e da incompetência de outros, mas uma geração inteira que a Iniciativa Liberal continuará sempre a
defender.