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11 DE SETEMBRO DE 2020

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Uma corrente que classifica a disciplina de Cidadania de «totalitarismo ideológico de matérias sensíveis e de

cariz moral» traduz uma postura hipócrita e um temor de que se desconstruam visões, essas, sim, totalitárias,

fechadas e passadistas. Mas o que esta corrente ainda não assumiu é, afinal, qual o modelo de educação e de

escola adequado à sua visão.

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — É não haver modelo!

O Sr. André Silva (PAN): — Seria, porventura, um modelo de terraplenagem do conhecimento em que, na

escola, fosse possível a seguinte série de perguntas e respostas:

«Professora, o que é o darwinismo?»

«Não posso dizer, porque o teu pai é criacionista.»

«Professora, o que é o aquecimento global?»

«Não posso dizer, porque o teu pai é um negacionista climático.»

«Professora, quem foi Fernão de Magalhães?»

«Não posso dizer, porque o teu pai é terraplanista.»

«Professora, o que são os direitos LGBTI?»

«Não posso dizer, porque o teu pai é homofóbico.»

«Professora, o que é o multiculturalismo?»

«Não posso dizer, porque o teu pai é xenófobo.»

«Professora, o que é o desenvolvimento sustentável?»

«Não posso dizer, porque o teu pai é a favor das minas de carvão.»

Protestos do Deputado do CDS-PP João Pinho de Almeida.

«Professora, quem foi Pasteur?»

«Não posso dizer, porque o teu pai é contra as vacinas.»

«Professora, o que foi o Holocausto judeu?»

«Não posso dizer, porque o teu pai é antissemita.»

«Professora, o que é a igualdade de género?»

«Não posso dizer, porque o teu pai é machista.»

«Professora, quem foi Fernando Pessoa?»

«Não posso dizer, porque o teu pai é contra isso da literatura.»

«Professora, o que é o Iluminismo?»

«Não posso dizer, porque o teu pai não gosta de modernices.»

Defender a não obrigatoriedade da disciplina de Cidadania é obstaculizar o debate e a construção plural de

ideias e de perspetivas; é desconsiderar o direito e o acesso à educação e a conteúdos pedagógicos

multidisciplinares por parte das crianças e dos jovens; é não dar às crianças e aos jovens a liberdade de

adquirirem conhecimento, de se informarem, de formarem a sua própria consciência; é ignorar os problemas

para além de si mesmo, é o reflexo do egocentrismo e do antropocentrismo; é esquecer que vivemos interligados

com todos os que partilham o mundo connosco; é desconsiderar a existência das muitas mundivisões que nos

formam como civilização.

Aceder a conhecimentos e perspetivas plurais não nos retira liberdade, torna-nos mais livres para fazer

escolhas conscientes e responsáveis, é a principal arma para combater o ódio. Mas há quem não queira

cidadãos mais livres, pois, sob a capa escondida dos argumentos contra esta disciplina, pretendem reduzir a

consciência individual e coletiva e implementar um regime totalitário.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma declaração política, o Sr. Deputado José Luís Ferreira, do

Grupo Parlamentar de Os Verdes.

O Sr. José Luís Ferreira (PEV): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A crise sanitária que se instalou

entre nós rapidamente se transformou também numa crise social e económica, com a pobreza a ganhar

proporções muito preocupantes.

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