I SÉRIE — NÚMERO 7
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A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, queria começar por cumprimentar o Sr. Deputado José Maria Cardoso que traz aqui um assunto que é sério e grave.
De facto, o que se está a passar com a alteração da legislação das CCDR é grave, é muito grave mesmo.
Vale a pena lembrar que a descentralização que o Governo prometeu, e que, sim, deve ser feita, porque é
assim que há maior aproximação às populações e que se fazem melhores serviços públicos, é com a
passagem de competências para os municípios. Gostava de salientar que a passagem dessas competências
nos ramos da saúde, da educação e da ação social, que são aquelas que, de facto, implicam dinheiro e verbas
e que têm maior impacto na vida das pessoas, foi adiada por decisão do Governo. Pura e simplesmente não
estão feitas.
Em vez disto, o Governo resolve fazer um processo que é, basicamente, o seguinte: ao invés de ser o
Governo a nomear os presidentes das CCDR, estes são nomeados pelo «bloco central», através do aparelho
autárquico do PS e do PSD. Do meu ponto de vista, é uma mudança para pior, e mesmo para muito pior.
Inúmeros autarcas já explicaram que não têm sido ouvidos nas escolhas, que os boletins das candidaturas
aparecem já preenchidos. Aliás, havia até títulos a dizer que o Governo ia aproveitar para mudar alguns
secretários de Estado. Portanto, já se vê a proximidade às populações que com isto estava a ser feita. Dizia
um autarca: «Isto não são eleições». Não são, de facto, e na maior parte dos casos existia só um candidato.
Portanto, este processo não vai trazer nenhuma vantagem de proximidade. Não traz nenhuma vantagem para
os cidadãos, pelo contrário, traz desvantagens. Este é um processo de nomeação de comissários políticos do
«bloco central», tão só.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado João Cotrim de Figueiredo, do Iniciativa Liberal.
O Sr. João Cotrim de Figueiredo (IL): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Deputado José Maria Cardoso, cumprimento-o por ter trazido este tema a debate. Apesar de já ter sido discutida aqui, neste
Hemiciclo, a proposta de lei do Governo, apesar de já ter sido discutida aqui, neste Hemiciclo, a apreciação
parlamentar do diploma que lhe deu origem, apesar disso, o tema continua vivo e merece ser discutido.
Um ano antes das eleições autárquicas, poucos meses antes da chegada da «bazuca» financeira de
Bruxelas, o que nos é proposto? É-nos proposto que um órgão, cujas grandes competências são a nível do
planeamento, do desenvolvimento regional e da administração dos fundos, passe a ser nomeado por um
«cozinhado» entre o PS e o PSD. E o Sr. Deputado chamou-lhe «Tratado de Tordesilhas». Acho que até foi
simpático da sua parte. É mais uma repartição dos despojos de um saque daquilo que vai chegar aí de
Bruxelas.
E nada disto é inocente. Chegou ao ponto de um secretário de Estado se demitir do Governo já com o lugar
garantido, neste caso para a CCDR do Algarve.
Tanta democracia, tanta incerteza que há nesta eleição! Só há uma coisa pior do que isto ser feito assim: é
o PCP ter a sonsice, que não tem outro nome, de vir dizer «se os outros partidos se opõem a isto, então,
apresentem candidaturas alternativas». É preciso ser-se, de facto, muito sonso.
Portanto, a data de entrada em vigor desta lei não só é um mau dia para a democracia, como são péssimas
notícias para a descentralização e péssimas notícias para a transparência e para o exercício do poder em
Portugal.
O Sr. Presidente: — Para responder a estes pedidos de esclarecimento, tem a palavra o Sr. Deputado José Maria Cardoso, do Bloco de Esquerda.
O Sr. José Maria Cardoso (BE): — Muito obrigado, Sr. Presidente. Agradeço aos Srs. Deputados terem-me colocado questões sobre o tema que trouxe a discussão.
Sr. Deputado José Cancela de Moura, do PSD, é verdade, o Bloco de Esquerda critica. Então, não critica?!
É um partido de protesto?! Pois é, quando acha e considera que há algo que está errado, quando é necessário