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I SÉRIE — NÚMERO 1

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As ideias políticas que o Dr. Jorge Sampaio desde sempre perfilhou estavam nos antípodas das nossas. As

decisões mais relevantes que tomou como primeira figura do Estado, decisões que tiveram influência crucial nos

anos que até hoje se seguiram, teriam sempre a nossa firme, absoluta, total e frontal oposição. Mas seria indigno

de nós e do Dr. Jorge Sampaio não deixar isto aqui bem claro. E sublinho que seria também indigno do Dr. Jorge

Sampaio, porque só nunca para quem nada contou recolhe unanimidade — unanimidade sincera, registe-se —

nas palavras que sempre são ditas nestas ocasiões. Porque assim é, sublinhar estas diferenças que nos

separavam representa um testemunho de respeito por um adversário que parte. Não o fazer seria uma

insuportável manifestação de desprezo, seria transformar um adversário num inimigo. E, em política, eu e o meu

partido, pelo menos da nossa parte, temos adversários, não temos inimigos.

Qual a diferença entre uma coisa e a outra?

Há uma diferença essencial, e é esta: é o respeito ou a falta dele pela humanidade de base daquele que se

nos opõe. Ambos partilhamos da mesma humanidade e é isso que verdadeiramente conta.

Mas não é um juízo sobre a vida política do Dr. Jorge Sampaio que para nós se encontra hoje e aqui em

causa. O que está hoje e aqui em causa é a vida de alguém que, independentemente da opinião que possamos

ter sobre o seu percurso, teve, de facto, um percurso. E não são muitos aqueles que verdadeiramente o tiveram

e que de tal se podem orgulhar.

As ideias políticas que balizaram esse percurso não eram as nossas. Mas eram as suas, e isso nos basta.

Que descanse em paz!

O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Ferreira, de Os Verdes.

O Sr. José Luís Ferreira (PEV): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados:

Evocamos hoje, em sessão plenária, o Dr. Jorge Sampaio.

Nesta circunstância, as primeiras palavras que o Partido Ecologista «Os Verdes» pretende deixar têm como

propósito expressar as mais profundas e sinceras condolências, particularmente à família do Dr. Jorge Sampaio

e ao Partido Socialista.

A vida tem destas coisas, porque a vida é mesmo assim.

Nem mesmo as pessoas que ajudam a construir a nossa história, nem mesmo os homens que passam a vida

a construir pontes conseguem fugir à inevitável partida definitiva do nosso convívio.

Uma partida que não tem hora marcada, é verdade, mas que acaba sempre por chegar.

Chega sempre. Sempre, inevitável e irremediavelmente.

Porque não há pontes para evitar a chegada da partida.

É esta a condição humana. Não temos outra.

E a perda de uma pessoa próxima é sempre terrível, muito dolorosa, de uma dor absolutamente incalculável,

porque nós, humanos, não estamos dotados para poder enfrentar com naturalidade a ameaça que a morte

representa.

Somos humanos, somos assim.

Por isso mesmo, importa, antes de mais, expressar o mais sentido respeito pelo sentimento de perda, desde

logo dos seus familiares e amigos mais próximos, mas também de todos quantos sentem a sua morte como

uma perda pessoal ou coletiva.

Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A vida do Dr. Jorge Sampaio foi indiscutivelmente atravessada por

uma forte e ativa intervenção política, tanto antes como depois da Revolução dos Cravos. Um homem que

marcou a história do nosso País não só pelos relevantes cargos que exerceu depois da Revolução de Abril, mas

também pelo seu contributo na luta contra o regime fascista.

Como é referido no voto de pesar, apresentado pelo Sr. Presidente da Assembleia da República, ao qual o

Grupo Parlamentar do Partido Ecologista «Os Verdes» também se associa, «O seu sentido de justiça, a sua

crença na dignidade do ser humano, cedo levaram Jorge Sampaio à intervenção política e ao confronto com o

regime repressivo então vigente».

Desse tempo sombrio, Os Verdes destacam o seu envolvimento na crise estudantil de 1962, enquanto

estudante e dirigente associativo, mas também a sua participação direta no processo eleitoral de 1969, como

candidato nas listas da Comissão Democrática Eleitoral.

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