22 DE ABRIL DE 2022
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O Sr. Presidente: — Sr. Presidente da República, Excelência, Sr. Primeiro-Ministro, Sr.as e Srs. Deputados,
declaro aberta esta Sessão Solene de Boas-Vindas ao Sr. Presidente da República da Ucrânia, Volodymyr
Zelenskyy.
Eram 16 horas e 59 minutos.
A todo o momento será estabelecida a ligação — ainda não são 17 horas — para que possa dar a palavra
ao Sr. Presidente Zelenskyy para proferir a sua intervenção de saudação ao Parlamento português, que muito
aguardamos.
Vamos esperar 1 minuto para que possamos iniciar a Sessão à hora prevista.
Pausa.
Sr. Presidente da República da Ucrânia, Presidente Zelenskyy, é um gosto e uma honra para o Parlamento
português poder recebê-lo, acolhê-lo nesta Sessão Solene.
Vou dar, de imediato, a palavra a V. Ex.ª, Sr. Presidente Zelenskyy. Faça favor.
O Sr. Presidente da Ucrânia (Volodymyr Zelenskyy): — Muito obrigado, Sr. Presidente da Assembleia da
República.
Sr. Presidente da República, Sr. Presidente da Assembleia da República, Sr. Primeiro-Ministro, Srs.
Deputados, Povo Português: Estou grato pela oportunidade de vos poder dirigir um apelo nesta altura.
É, de facto, um tempo muito complicado. Ontem, na cidade de Borodyanka, não muito longe da nossa
capital, foram encontradas mais duas sepulturas feitas pelos ocupantes russos. Uma continha os corpos de
dois homens de 35 anos e de uma rapariga de 15 anos, outra tinha seis corpos. Foram todos mortos quando
as tropas russas ocuparam Borodyanka e os corpos foram sepultados no meio da cidade, no meio de
habitações.
As sepulturas que encontrámos agora estão em vários espaços que conseguimos libertar dos ocupantes
russos. Kyiv e o mundo já conhecem a cidade de Butcha — que se encontra a 20 minutos da cidade de
Borodyanka —, porque todos nos lembramos das fotografias dos mortos deitados, espalhados no meio da rua.
Os russos nem tentaram arrumar os corpos para que os cidadãos que lá vivem os conseguissem sepultar
como deve ser.
Vocês viram as fotografias, mas elas não retratam tudo o que aqueles cidadãos viveram nessa altura. Os
ocupantes mataram as pessoas só para se divertirem e também assaltaram as suas habitações. As pessoas
foram mortas dentro das fontes, foram torturadas e violadas nos bunkers onde se escondiam. Eles mataram
aquelas pessoas, mas também balearam carros em que havia crianças.
Portanto, só na região de Kyiv, à data de hoje — ainda nem conseguimos descobrir todos! —, há a registar
1126 ucranianos mortos, dos quais 40 são crianças.
Nas regiões de Kyiv, Chernihiv e noutras regiões da Ucrânia em que os ocupantes russos conseguiram
entrar, fizeram um inferno como o que fizeram em Borodyanka e em Butcha. Dou só um exemplo: na cidade
de Yahidne, região de Chernihiv, bombardearam uma escola e 10 pessoas foram mortas. As pessoas ficaram
lá escondidas durante semanas, sendo que a criança mais nova que estava lá escondida tinha 3 meses de
idade — imaginem, uma criança de 3 meses! — e a pessoa mais velha tinha 93 anos.
Na cave dessa escola havia mais de 30 pessoas que nunca tiveram a possibilidade de ir à casa de banho
ou de sair. Obrigavam-nas a cantar o hino da Rússia para as humilhar! É essa a diversão dos ocupantes
russos, é isso que está a acontecer na Ucrânia, em 2022!
Nós estamos a lutar com as tropas ucranianas não apenas pela nossa independência, mas também pela
nossa sobrevivência e para que os ucranianos não sejam mortos, torturados, violados ou capturados pela
Rússia.
Os ocupantes russos já retiraram dos territórios ocupados mais de 500 000 ucranianos, o que equivale,
imaginem, a duas vezes a população da cidade do Porto!
Essas pessoas foram deportadas. A Rússia está a fazer aquilo que os regimes totalitários faziam: os
ucranianos deportados não têm direito a estabelecer ligação com as famílias e estão a ser enviados para as