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I SÉRIE — NÚMERO 62

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Protestos do PS.

Se José Saramago é um exemplo, então, que seja um exemplo de tudo aquilo que o País não quer seguir!

Aplausos do CH.

Protestos do PS e do PCP.

O Sr. Presidente: — Tem agora a palavra o Sr. Deputado Rui Tavares.

O Sr. Rui Tavares (L): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Um dia, um estudante de História jovem, estava a

ler O Tempo das Catedrais, de Georges Duby, e reparou não só que aquilo era interessante, como estava muito

bem escrito, mas, mais ainda, estava muito bem traduzido, e não é sempre que se repara numa tradução.

Foi umas páginas atrás e viu — tradutor: José Saramago, 1979. Era do tempo em que José Saramago estava

desempregado a refazer a sua carreira, sempre a aprender, traduzindo, no caso, os melhores.

Uns anos depois, José Saramago era já um escritor de fama internacional e encontrou, numa livraria em

Espanha, o mesmo jovem que tinha acabado de ler O Ano da Morte de Ricardo Reis. Ficaram ali à conversa,

até ao ponto em que esse jovem, um adolescente tímido, inventou uma desculpa, porque não se sentia bem

perante aquela que já era evidente grandeza do escritor que se preparava para ser o maior escritor da nossa

língua nessa época.

Se há uma razão, Caros e Caras Colegas, por que Portugal é um país literariamente rico, é porque a missão

da literatura é muito parecida com a mesma tensão essencial que o nosso País tem: de um lado, o que é caseiro,

o que é pequeno, o que é doméstico; e, do outro lado, o que é universal, o que é grandioso.

José Saramago, seguindo o exemplo do seu mestre Ricardo Reis — «põe quanto és no mínimo que fazes»

—, sendo desde serralheiro-mecânico a tradutor, a revisor de texto, a escritor, já regressado à literatura depois

dos seus 60 anos, conseguiu ser grandioso, falando da vida dos pequenos, dos camponeses do Alentejo, dos

seus avós ribatejanos, acerca daquele revisor de texto que transforma um «sim» em «não» e transforma a

história do universo, mantendo à mesma Lisboa no seu centro.

É por isso que renovar a ligação a José Saramago é aprendermos todos nós a sermos sempre maiores. Não

precisamos de mudar aquilo que somos. José Saramago não deixou de ser polémico, não deixou de ter as suas

opiniões — aliás, tornou-se um escritor global, nunca sendo um globalizado, liofilizado ou desidratado, mas

mantendo sempre as suas opiniões e, com isso, sendo maior.

E uma coisa é certa: se, hoje em dia, há por esse mundo fora, do México ao Brasil, da Ásia à África, cátedras

de língua portuguesa é porque houve um grande escritor português, dos maiores da nossa língua, chamado

José Saramago.

Aplausos do PS, do PCP e de Deputados do PSD.

E isso é uma verdade universal que se manterá.

Quem dera a muitos poder dizer, sequer, um milésimo disso. É que aqueles que amam a pátria são aqueles

que fazem com que o mundo conheça a pátria. O José Saramago foi um desses e não há muitos.

Aplausos do PS, do PCP e do BE.

O Sr. Presidente: — Tem agora a palavra o Sr. Deputado Pedro Filipe Soares.

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Levantado do Chão, José

Saramago era filho e neto de camponeses. Foi insubmisso perante uma vida que lhe queria negar o acesso

àquilo que ele amava, a literatura. Foi insubmisso perante a própria literatura perante as regras da arte, criou

novas formas de dizer a realidade, criou novas formas de escrever a realidade, criou novas formas de pensar a

realidade.

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