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3 DE DEZEMBRO DE 2022

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Ensinou-nos, a nós também, a todos, como nos pensarmos como povo, o nosso lugar do mundo, o nosso

lugar com a História e de, pelo seu amor ao nosso País, como nós nos poderíamos pensar muito mais do que

tínhamos sido nos tempos mais recentes.

Combateu as cegueiras da desigualdade social, da injustiça social e fê-lo convictamente, como quem

acreditava que, de facto, a liberdade e a democracia poderiam ser um bem maior em defesa de todos e de todas

nós.

É por isso que a direita, uma parte da direita muito reacionária, nunca lhe perdoou. Não lhe perdoou o

combate ao fascismo; não lhe perdoou o combate pela liberdade; não lhe perdoou ter vencido também, com

tantos e com tantas outras, a ditadura, que durante tantos anos silenciou o nosso País.

E, sim, Saramago é uma das vítimas do 25 de Novembro, aquele que determinada direita quer sempre

levantar no nosso País.

Protestos do CH.

E, sim, Saramago, que veio a ser Prémio Nobel, foi despedido de um jornal no 25 de Novembro.

Mas é também aquele que, quando esta direita ficar refém da história e do passado, daquele que nós

queremos no fundo do baú do lixo da história, demonstra que consegue obrigar a morte a intermitências.

Por isso, estamos aqui a celebrar os 100 anos do seu nascimento e estaremos, ao longo dos próximos

séculos, a lembrar-nos daquele que é um dos maiores escritores de língua portuguesa, que é também um grande

português e que nos orgulhou e orgulha, ainda, a todos.

Aplausos do BE, do PS e do PCP.

O Sr. Presidente: — Por fim, tem a palavra a Sr.ª Deputada Inês de Sousa Real, do PAN.

A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A grandeza de José Saramago

contrastava, sem dúvida, com a pequenez de algumas ideologias, tal como pudemos verificar aqui, hoje. Por

isso é que é um escritor maior e uma referência incontornável da nossa literatura.

Não só as suas obras nos trouxeram a valorização da dignidade da pessoa humana, como também o seu

papel — alguns poderão dizer polémico — foi, sem dúvida, um exercício de liberdade de expressão, que a todos

nos deve assistir. Foi essencial, por exemplo, para debatermos temas como a morte medicamente assistida,

que é, também, um princípio que emana da dignidade da pessoa humana.

No entanto, José Saramago não se ficou por aqui, também a sensibilidade em relação aos animais estava

presente nas suas obras. Personagens como o elefante Salomão, em A Viagem do Elefante, ou o Cão das

Lágrimas, nos romances Ensaio sobre a Cegueira e Ensaio sobre a Lucidez, demonstraram, de forma clara, já

nessa altura, a consciência incontornável que hoje temos sobre a senciência animal e sobre os valores e a

ligação que têm e que devem representar para com o ser humano.

Mais ainda, foi um forte opositor em relação às touradas. Para José Saramago, a tourada era uma atividade

cruel, atroz e obscena, indigna da nossa civilidade e das nossas nações.

Talvez por isso haja uma certa direita que gosta de silenciar e amordaçar quem pensa de forma diferente e

que gosta, de alguma forma, de contestar estas figuras maiores. No entanto, é precisamente por serem «uma

pedrada no charco» e para levar mais longe as suas ideias e a reflexão de uma sociedade, que hoje, não só

celebramos o centenário do nascimento de José Saramago, como iremos continuar a celebrar porque, acima de

tudo, através da palavra, da letra, a nossa língua está viva.

É pela capacidade crítica destes escritores de trazerem estas dimensões sociais, mas também de

sensibilidade, seja ela cultural ou, até mesmo, para com a natureza e para com os animais, que devemos

orgulhar-nos, enquanto País, ao invés de renegarmos estes legados tão importantes para resgatarmos todos

estes direitos.

Aplausos do PS.

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