13 DE MAIO DE 2023
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O Sr. João Cotrim Figueiredo (IL): — Sr. Presidente. Sr.as e Srs. Deputados: Esta Assembleia irá hoje
aprovar a quinta versão da lei da morte medicamente assistida. Esse facto será interpretado das formas mais
diversas, em função das convicções e dos interesses políticos de cada um.
A Iniciativa Liberal, que tem orgulho do seu papel na elaboração deste diploma e que aprecia um bom debate
ideológico, quer, desde já, rebater essas interpretações.
Aos que dirão que precisar de cinco versões para acertar um texto final é sinal de falta de rigor dos partidos
redatores, nós dizemos: «Não!» As sucessivas versões são sinal de abertura aos comentários e opiniões com
que muitos quiseram contribuir ao longo destes anos, a começar pelos contributos do Sr. Presidente da
República e do Tribunal Constitucional.
Aos que dirão que a lei carece de mais debate, mais proteções, mais salvaguardas, nós dizemos: «Não!»
Esta é uma das leis cujo debate, dentro e fora da Assembleia da República, foi mais longo, mais profundo e
mais participado de que temos memória. Esta é uma das leis mais ponderadas e contendo todas as
salvaguardas adequadas a um tema desta sensibilidade.
E a Iniciativa Liberal orgulha-se de ter sido, pela sua mão, que se incluíram aspetos cruciais, como o acesso
efetivo a cuidados paliativos, o mecanismo de objeção de consciência dos profissionais de saúde, a solidez do
processo de reafirmação da vontade da pessoa e a não exclusão destes óbitos do contexto dos seguros de vida.
Aos que dirão que é preciso um referendo, nós dizemos: «Não!» Direitos fundamentais e liberdades
individuais não são referendáveis. Para um liberal, esses direitos e liberdades pertencem a cada um de nós e
não dependem da vontade de uma maioria ou de um coletivo sem rosto.
A democracia direta não incorpora virtudes inalcançáveis pela democracia representativa e as posições que
os Deputados defenderam nesta Casa constam de programas políticos, de programas eleitorais, de numerosas
declarações públicas e debates ao longo de anos. Os Deputados desta Assembleia têm, por isso, toda a
legitimidade para deliberar sobre a morte medicamente assistida.
Aos que dirão que reapresentar este diploma sem alterar o seu texto é uma afronta ao Presidente da
República, dizemos: «Não!» As mensagens do Sr. Presidente da República, tal como os acórdãos do Tribunal
Constitucional, foram sempre tidos em boa conta ao longo do processo legislativo, num sinal de respeito e
abertura que ninguém poderá negar.
O mesmo respeito é agora devido à própria Assembleia da República, porque os temas levantados pelo Sr.
Presidente serão, certamente, tidos em conta na regulamentação que o artigo 31.º da lei prevê que seja
publicada nos 90 dias subsequentes à sua publicação, juntamente com outros aspetos igualmente importantes,
como o funcionamento do registo clínico especial, a designação de membros para a comissão de verificação e
avaliação ou os pareceres dos médicos orientador, especialista ou psiquiatra. Tudo isto é possível de ser
detalhado em fase de regulamentação.
Finalmente, aos que dirão que é necessário submeter esta lei à fiscalização sucessiva do Tribunal
Constitucional, nós dizemos: «Força!». É um direito que assiste aos Deputados, em rigor a um décimo dos
Deputados, e a Iniciativa Liberal tem toda a confiança de que o tribunal concluirá pela conformidade
constitucional do texto, já que foram acolhidas todas as considerações anteriores dos acórdãos do tribunal.
Sr. Presidente, Srs. Deputados, a consagração de um direito não é preconizar o seu exercício. Essa é, aliás,
a essência da natureza pessoal e universal dos direitos que se instituem em prol da liberdade individual. Todos
são titulares do direito, todos são livres de decidir sobre o seu exercício e ninguém pode ser penalizado na
decorrência da decisão de exercer, ou não, esse direito.
A Sr.ª Maria Antónia de Almeida Santos (PS): — Muito bem!
O Sr. João Cotrim Figueiredo (IL): — Qualquer outra interpretação seria atribuir ao Estado o direito de
valorar de forma diferente as escolhas livres de cada pessoa. Por outras palavras, penalizar escolhas morais do
indivíduo é aceitar que existe uma moral coletiva que o Estado pode impor, e isso a Iniciativa Liberal nunca vai
aceitar.
Aplausos da IL, do BE, do L e de Deputados do PS.