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Sábado, 30 de setembro de 2023 I Série — Número 8
XV LEGISLATURA 2.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2023-2024)
REUNIÃOPLENÁRIADE29DESETEMBRODE 2023
Presidente: Ex.ma Sr.ª Edite Fátima Santos Marreiros Estrela
Secretários: Ex.mos Srs. Palmira Maciel Fernandes da Costa Lina Maria Cardoso Lopes Diogo Feijóo Leão Campos Rodrigues Helga Alexandra Freire Correia
S U M Á R I O
A Presidente (Edite Estrela) declarou aberta a sessão às
10 horas e 5 minutos. Foi discutida e, posteriormente, aprovada, na
generalidade, na especialidade e em votação final global, a Proposta de Lei n.º 92/XV/1.ª (GOV) — Autoriza o Governo a transpor a Diretiva (UE) 2020/1828, relativa a ações coletivas para proteção dos interesses dos consumidores, tendo usado
da palavra, a diverso título, além do Secretário de Estado do Mar (José Maria Costa), os Deputados Hugo Carneiro (PSD), Bruno Nunes (CH), Fátima Correia Pinto (PS), Isabel Pires (BE), Rui Tavares (L) e Bruno Dias (PCP).
Foram debatidos, na generalidade, os Projetos de Lei n.os 859/XV/1.ª (IL) — Aprova a Lei de Bases do Sistema Universal de Acesso à Saúde, procedendo à revogação da
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Lei n.º 95/2019, de 4 de setembro, que foi rejeitado, 880/XV/1.ª (CH) — Altera a Lei de Bases da Saúde, estabelecendo a obrigação de o Estado referenciar os utentes do Serviço Nacional de Saúde (SNS) para atendimento nos setores privado ou social em caso de esgotamento dos tempos máximos de resposta garantidos, que foi rejeitado, e 884/XV/1.ª (PAN) — Autoriza o acesso de estudantes de Medicina a sistemas de registo de dados de saúde dos utentes, procedendo à primeira alteração à Lei n.º 58/2019, de 8 de agosto, que, a requerimento do PAN, baixou à Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, sem votação, por um período de 60 dias, em conjunto com o Projeto de Resolução n.º 750/XV/1.ª (CH) — Recomenda ao Governo que adote medidas para aumentar a eficácia, eficiência e produtividade do Serviço Nacional de Saúde, particularmente nas zonas e regiões mais carenciadas, que foi rejeitado. Intervieram os Deputados João Cotrim Figueiredo (IL), André Ventura (CH), Inês de Sousa Real (PAN), João Dias (PCP), Irene Costa (PS), Miguel Santos (PSD), Rui Tavares (L), Isabel Pires (BE), Miguel dos Santos Rodrigues (PS) e Joana Cordeiro (IL).
Procedeu-se ao debate conjunto das seguintes iniciativas legislativas:
Projeto de Resolução n.º 763/XV/1.ª (PS) — Recomenda ao Governo novas soluções de monitorização e abastecimento de água em Portugal, que foi aprovado na generalidade;
Projeto de Lei n.o 437/XV/1.ª (CH) — Alteração à lei dos serviços municipais de abastecimento público de água, de saneamento de águas residuais e de gestão de resíduos urbanos, que foi rejeitado na generalidade;
Projeto de Lei n.o 853/XV/1.ª (BE) — Procede à criação do instituto da água, I. P. e à reativação das administrações das regiões hidrográficas e dos conselhos da região hidrográfica, que foi rejeitado na generalidade;
Projeto de Resolução n.o 794/XV/1.ª (PSD) — Modernização da monitorização dos recursos hídricos, que foi aprovado na generalidade;
Projeto de Resolução n.o 809/XV/1.ª (PSD) — Campanha nacional e plurianual para a poupança de água, que foi rejeitado na generalidade;
Projeto de Resolução n.o 821/XV/1.ª (BE) — Investimento em modos de produção compatíveis com a escassez de água e moratória sobre atividades de consumo intensivo de água, que foi rejeitado na generalidade;
Projeto de Resolução n.o 822/XV/1.ª (BE) — Programa nacional para redução de perdas de água, que foi aprovado na generalidade;
Projeto de Resolução n.º 829/XV/1.ª (PSD) — Programa de ação para a digitalização integral do ciclo da água, que foi rejeitado na generalidade;
Projeto de Resolução n.º 830/XV/1.ª (PSD) — Promover a utilização de águas residuais tratadas no combate a incêndios rurais reforçando a Rede de pontos de água, que foi aprovado na generalidade;
Projeto de Resolução n.º 870/XV/1.ª (PAN) — Recomenda ao Governo que proceda a uma revisão do enquadramento legal dos planos de gestão de bacia hidrográfica, com vista à sua adaptação aos cenários climáticos, que foi rejeitado na generalidade;
Projeto de Resolução n.o 871/XV/1.ª (PAN) — Recomenda ao Governo que proceda à elaboração e à implementação de um plano para a transição agroecológica, que foi rejeitado na generalidade.
Usaram da palavra os Deputados Pedro do Carmo (PS), Hugo Patrício Oliveira (PSD), Pedro Pinto (CH), Pedro Filipe Soares (BE), Bruno Coimbra (PSD), Inês de Sousa Real (PAN), Rui Tavares (L), Duarte Alves (PCP), Bernardo Blanco (IL) e Ricardo Pinheiro (PS).
Procedeu-se ao debate, na generalidade, dos Projetos de Lei n.os 836/XV/1.ª (PSD) — Reforça a proteção e os direitos de todos os trabalhadores-estudantes, 420/XV/1.ª (PSD) — Cria o estatuto do estudante praticante de atividades artísticas no ensino superior, 851/XV/1.ª (IL) — Não
discriminar os trabalhadores independentes face aos dependentes, na consideração dos rendimentos dos jovens estudantes-trabalhadores, 886/XV/1.ª (CH) — Procede à isenção de propinas para alunos a frequentar estágios profissionais obrigatórios em cursos do ensino superior, transversal a todas as áreas de estudo, alterando a Lei n.º 37/2003, de 22 de agosto, que estabelece as bases do financiamento do ensino superior e 904/XV/2.ª (PAN) — Salvaguarda o acesso dos trabalhadores independentes com estatuto de trabalhador-estudante ao abono de família, a bolsas de ensino superior e a pensões de sobrevivência, alterando o Decreto-Lei n.º 70/2010, de 16 de junho, que foram rejeitados, juntamente com os Projetos de Resolução n.os 873/XV/1.ª (PS) — Recomenda ao Governo que promova melhores condições de acesso ao trabalho para estudantes e 881/XV/2.ª (PAN) — Recomenda ao Governo que adote medidas de valorização do estatuto de trabalhador-estudante, que foram aprovados. Intervieram os Deputados Alexandre Poço (PSD), Carla Castro (IL), Rui Paulo Sousa (CH), Inês de Sousa Real (PAN), Miguel Matos (PS), Rita Matias (CH), José Moura Soeiro (BE), Rui Tavares (L), Alfredo Maia (PCP) e Bárbara Dias (PS).
Foi lido, pelo Deputado Pedro Roque (PSD), o Projeto de Voto n.º 444/XV/2.ª (apresentado pelo PSD) — De pesar pelo falecimento de Manuela Teixeira.
Foi lido o Projeto de Voto n.o 447/XV/2.ª (apresentado pela Comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas e subscrito por uma Deputada do PSD) — De pesar pelas vítimas da ditadura chilena, nos 50 anos da morte de Salvador Allende e do golpe de Estado de 1973.
Após a aprovação das partes deliberativas (a) daqueles votos, a Câmara guardou 1 minuto de silêncio.
Foi lido o Projeto de Voto n.º 446/XV/2.ª (apresentado pela Comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas e subscrito por uma Deputada do PSD) — De condenação pela realização de eleições regionais e locais nos territórios da Ucrânia ocupados temporariamente pela Federação Russa, tendo sido aprovada a respetiva parte deliberativa (a).
Foi aprovada, na generalidade, a Proposta de Lei n.º 88/XV/1.ª (GOV) — Transpõe a Diretiva Delegada (UE) 2022/2100 e reforça normas tendentes à prevenção e controlo do tabagismo, tendo sido rejeitados os Projetos de Lei n.os 879/XV/1.ª (CH) — Altera a Lei n.º 37/2007, de 14 de agosto, altera a rotulagem nos produtos de tabaco de forma a eliminar fotografias ou ilustrações das advertências de saúde combinadas e dando mais destaque às opções disponíveis de apoio antitabágico e 881/XV/1.ª (PAN) —Procede à segunda alteração da Lei n.º 88/2019, de 3 de setembro, conhecida como «Lei das Beatas», de forma a assegurar a sua mais eficiente, efetiva e transparente aplicação e aprovado o Projeto de Resolução n.º 868/XV/1.ª (PAN) — Recomenda ao Governo que assegure a adoção de incentivos para o correto descarte e reaproveitamento das pontas de produtos de tabaco.
Foi rejeitado o Projeto de Resolução n.o 853/XV/1.ª (CH) — Recomenda ao Governo que altere as regras de inscrição nas creches aderentes ao programa Creche Feliz dando prioridade a crianças com pais trabalhadores, tendo sido igualmente rejeitados, na generalidade, os Projetos de Lei n.os 876/XV/1.ª (IL) — Pela liberdade de escolha da creche e 882/XV/1.ª (PAN) — Cria um apoio extraordinário para a frequência de creches ou amas, destinado às crianças que não tenham tido acesso a vaga abrangida pela gratuitidade no setor social e solidário ou nas creches licenciadas da rede privada lucrativa.
Foram rejeitados, na generalidade, os Projetos de Lei n.os 862/XV/1.ª (BE) — Programa de valorização do ensino artístico, 883/XV/1.ª (PAN) — Dignifica o ensino artístico especializado, prevendo a identificação das necessidades e respostas públicas, a criação de bolsas artísticas e a contratação de docentes especializados e 928/XV/2.ª (PCP) — Alargamento da rede pública de ensino artístico especializado.
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Foram rejeitados, na generalidade, os Projetos de Lei n.os 522/XV/1.ª (PCP) — Carta de aptidão para a cultura de cereais, promoção da produção de cereais e acompanhamento da Estratégia Nacional para a Promoção da Produção de Cereais e 305/XV/1.ª (CH) — Promove a produção agrícola nacional com vista a atingir a soberania e segurança alimentar de forma sustentável, tendo sido aprovados os Projetos de Resolução n.º 604/XV/1.ª (L) — Recomenda ao Governo que assegure a continuidade do Banco Português de Germoplasma Vegetal e que contemple, no próximo Orçamento do Estado, os recursos financeiros que são inerentes ao seu funcionamento e missão e 869/XV/1.ª (PAN) — Recomenda ao Governo a contratação de técnicos superiores para o Banco Português de Germoplasma Vegetal.
Foi rejeitado o Projeto de Resolução n.º 363/XV/1.ª (CH) — Pela classificação como imóvel de interesse nacional e reabilitação da antiga Ponte do Vouga.
Foi aprovado, em votação final global, o texto final, apresentado pela Comissão de Educação e Ciência, relativo ao Projeto de Lei n.º 781/XV/1.ª (L) — Cria as respostas de apoio psicológico para vítimas de assédio e violência sexual no ensino superior e alarga o âmbito de aplicação dos códigos de boa conduta para a prevenção e combate ao assédio a todos os membros da comunidade académica.
A Presidente (Edite Estrela) encerrou a sessão eram 13 horas e 40 minutos.
(a) Estas votações tiveram lugar ao abrigo do n.º 10 do
artigo 75.º do Regimento.
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A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Bom dia a todas e a todos. Temos quórum, pelo que vamos dar início à nossa sessão.
Eram 10 horas e 5 minutos.
Cumprimento as Sr.as e os Srs. Deputados, os Srs. Secretários de Estado, as Sr.as e os Srs. Funcionários,
as Sr.as e os Srs. Jornalistas e as Sr.as e os Srs. Agentes da autoridade, a quem peço que abram as galerias ao
público.
Pausa.
Muito obrigada.
O primeiro ponto da ordem do dia consiste na discussão, na generalidade, da Proposta de Lei n.º 92/XV/1.ª
(GOV) — Autoriza o Governo a transpor a Diretiva (UE) 2020/1828, relativa a ações coletivas para proteção dos
interesses dos consumidores.
Para apresentar esta proposta de lei, tem a palavra o Sr. Secretário de Estado do Mar.
O Sr. Secretário de Estado do Mar (José Maria Costa): — Ex.ma Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O Governo está aqui, hoje, para apresentar uma proposta de lei que se insere no âmbito da política da defesa do
consumidor, cuja tutela cabe ao Ministério da Economia e do Mar. É, assim, com profundo sentido de dever que
represento hoje a pasta com a tutela dos consumidores, uma área que nos respeita a todos, na verdade.
Esta proposta tem como objetivo autorizar o Governo a estabelecer as normas que asseguram a transposição
da Diretiva (UE) 2020/1828, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 25 de novembro, relativa a ações
coletivas nacionais e transnacionais destinadas a proteger os interesses gerais dos consumidores e os
interesses individuais homogéneos de um grupo de consumidores.
A presente iniciativa legislativa foi preparada pela Direção-Geral do Consumidor em estreita articulação com
a Direção-Geral da Política de Justiça, dada a matéria em causa. Na verdade, está em causa a proteção dos
direitos e interesses dos consumidores, através de uma ação coletiva judicial.
De acordo com a diretiva a que se dá transposição e com o diploma nacional que a transpõe, estas ações
judiciais são intentadas em resposta a infrações ao direito nacional e da União Europeia, cometidas por
empresas, e que tenham lesado consumidores ou sejam suscetíveis de lesar os interesses coletivos dos
consumidores.
Está, assim, em causa o acesso à justiça e a obtenção de medidas inibitórias e de reparação dos
consumidores, bem como o reforço dos meios processuais para a proteção dos interesses coletivos dos
consumidores, assegurando o nível elevado da proteção dos mesmos, em Portugal e na União Europeia.
Estas ações coletivas cumprem um de dois objetivos: obter uma medida de reparação dos danos causados
por uma empresa aos consumidores ou obter uma medida inibitória para fazer cessar uma prática ilícita de uma
empresa contra os consumidores. Em resultado deste tipo de ações e como medida de reparação de danos,
poder-se-á obter uma indemnização para os consumidores lesados, bem como outras medidas, tais como a
substituição dos bens, a redução do preço, a rescisão do contrato ou o reembolso do valor pago pelos
consumidores.
Este novo regime prevê ações coletivas nacionais, ancoradas na atual lei da ação popular, e ações coletivas
transnacionais — solução esta que é, a nível nacional, a grande novidade deste regime.
As ações coletivas transnacionais são intentadas por entidades qualificadas num Estado-Membro diferente
daquele onde é intentada a ação. As ações coletivas ganham, assim, um caráter transnacional no espaço da
União Europeia, passando os consumidores a estar mais protegidos no mercado interno.
No caso das ações transnacionais, caberá à Direção-Geral do Consumidor avaliar e, em consequência,
designar quem serão as entidades qualificadas para intentar este tipo de ações — que, na sua maioria, serão
associações de consumidores —, procedendo à notificação junto da Comissão Europeia das mesmas,
publicitando essa lista, bem como divulgando as ações coletivas, em curso e concluídas, para conhecimento
dos consumidores e empresas.
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Com vista à prevenção do uso abusivo das ações coletivas, a diretiva estabelece a obrigação de os Estados-
Membros instituírem regras relativas ao financiamento deste tipo de ações, por forma a evitar conflitos de
interesse e a garantir que o financiamento por parte de terceiros que tenham interesse económico na propositura
ou no resultado da ação coletiva não desvie a ação coletiva do seu propósito de proteção dos interesses
coletivos dos consumidores.
Permitam-me ainda salientar um importante contributo que a presente proposta do Governo representa para
a política pública de defesa do consumidor em Portugal, pois não só incorporou as soluções previstas na diretiva
como ainda aperfeiçoou o regime jurídico existente.
Em sede parlamentar, e perante a transparência do procedimento legislativo, existem já cinco contributos
espontâneos de associações da sociedade civil representativas de consumidores e de operadores económicos.
Estão ainda em falta as consultas obrigatórias ao Conselho Nacional do Consumo, órgão consultivo do Governo
sempre que estão em causa os interesses e direitos dos consumidores, bem como ao Conselho Superior da
Magistratura, ao Conselho Superior do Ministério Público, à Ordem dos Advogados e à Comissão Nacional de
Proteção de Dados. Todos estes contributos serão ponderados e, certamente, enriquecerão a proposta
legislativa.
Em conclusão, a importante transposição para o direito nacional da diretiva relativa a ações coletivas
nacionais e transnacionais tem, naturalmente, uma forte componente de harmonização de direitos e de nível de
proteção entre os diferentes Estados-Membros, traduzindo-se, de forma clara, num reforço dos direitos dos
consumidores à escala nacional, mas também num reforço dos interesses coletivos dos consumidores
portugueses sempre que os mesmos sejam afetados com práticas de operadores económicos de outros
Estados-Membros.
A proposta que hoje se apresenta vem dar esta dimensão europeia, reforçando os direitos e interesses dos
consumidores que estão integrados no mercado mais amplo que o nacional, que é o mercado europeu.
Hoje, ao contribuírem para a transposição desta importante diretiva, a Assembleia da República e o Governo
reforçam a proteção dos consumidores em Portugal, para que o exercício dos seus direitos seja justo e mais
eficazmente exercido e para que as lesões das empresas aos consumidores sejam devidamente reparadas.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — A Mesa regista uma inscrição para pedir esclarecimentos ao Sr. Secretário de Estado.
Para formular esse pedido de esclarecimento, tem a palavra o Sr. Deputado Hugo Carneiro, do Grupo
Parlamentar do PSD.
O Sr. Hugo Carneiro (PSD): — Sr.ª Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: Este debate que hoje aqui fazemos, por mais esotérico que o tema possa parecer, é muito relevante.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Não parece nada esotérico!
O Sr. Hugo Carneiro (PSD): — Vamos introduzir na legislação nacional regras que defendem os consumidores e que o fazem de forma mais harmonizada com aquilo que tem acontecido também noutros
países. Portanto, é algo que é feito em conjunto com a União Europeia.
No entanto, e porque temos muitas dúvidas relativamente aos documentos que recebemos do Governo,
temos alguma dificuldade em fazer hoje este debate por o Secretário de Estado que tem esta pasta não estar
cá. Ainda assim, vou colocar as questões, esperando obter as respostas.
A primeira pergunta que gostava de deixar tem a ver com isto: há uma discordância no projeto de decreto-lei
autorizado, que é apresentado pelo Governo, entre a parte do preâmbulo e o artigo 1.º, porque diz-se que estas
ações podem ser intentadas nos casos que estão previstos no anexo I da diretiva — isto é o que está escrito no
artigo 1.º do projeto de decreto-lei autorizado, quando no preâmbulo se diz que o objetivo é que as ações possam
ser intentadas não só nesses casos, mas também quando se viola demais legislação sobre o direito dos
consumidores. Portanto, há aqui algo que é díspar. Foi um lapso? Vai ser corrigido?
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Qual é a nossa opinião sobre isso? É de que devemos permitir que o âmbito da aplicação deste decreto-lei
que o Governo se propõe aprovar, com autorização do Parlamento, seja o mais largo possível, precisamente
para poder abranger outra legislação, que não só aquelas situações previstas no anexo I da diretiva e que o
direito comunitário permite.
Outra questão tem a ver com quem paga as indemnizações. Isto é, se uma entidade for condenada, quem
fica responsável por distribuir o dinheiro das indemnizações? Não há nenhuma linha de orientação relativamente
a isto, mas nós achamos, por exemplo, que, sempre que lhe seja possível fazer a distribuição a expensas
próprias, deve ser a entidade condenada a fazer a distribuição.
Imaginem que um grande operador de distribuição de energia é condenado por um motivo qualquer
relacionado com a defesa de direitos do consumidor. Se ele puder fazer a distribuição, porque é que não há de
ser ele a fazê-la? E, neste aspeto, que papel tem a Direção-Geral do Consumidor, por exemplo?
Relativamente às entidades qualificadas, também não é suficientemente clara, por exemplo, a questão do
pagamento de honorários, porque podemos levar essas entidades a um ponto tal que se torne desinteressante
promoverem ações que defendem o interesse dos consumidores. Também temos aí algo a melhorar, julgo eu.
Depois, quanto à divulgação, diz-se que estas sentenças devem ser divulgadas das mais diversas formas,
mas também aqui deveríamos ir mais longe, de forma que as entidades condenadas tenham de publicitar isso
nos seus sites, por exemplo, ou de dar informação aos consumidores. Provavelmente, também nesta matéria
ficamos aquém daquilo que poderíamos fazer.
Depois — e como sabemos que um ponto sensível desta legislação tem a ver com as operações de
financiamento das entidades qualificadas que podem interpor ações em nome dos consumidores —, estas
operações de financiamento são operações de crédito, mas os reguladores, nomeadamente o Banco de
Portugal, não são tidos nem achados nas mesmas. Isto significa que qualquer pessoa pode financiar a
interposição dessas ações por entidades qualificadas sem regulação de nenhuma natureza?! Também nada é
dito sobre isso, e, aliás, há pareceres que chamam a atenção para esse detalhe.
Depois, vamos acometer mais responsabilidades à Direção-Geral do Consumidor, nomeadamente no registo
e verificação das entidades qualificadas, e há uma dúvida que nos surge: a Direção-Geral do Consumidor tem
os meios, humanos e técnicos, suficientes para esta nova atribuição? Vai o Governo reforçar esses meios, se
for necessário?
Gostávamos de ter aqui um compromisso do Governo, para que não estejamos a aprovar uma legislação
que depois «morre na praia» porque faltam os meios para a sua execução.
O Governo também diz que, no projeto de decreto-lei autorizado, foram consultadas uma série de entidades,
mas não fala nas autarquias. E as autarquias são uma das entidades que têm competências, nomeadamente,
como entidades qualificadas. Porque é que não foram ouvidas? Vão ser ouvidas? Vão ser envolvidas?
Para já, eram estas as questões que gostava de colocar e logo veremos o resto do debate.
Aplausos do PSD.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para responder, tem a palavra o Sr. Secretário de Estado do Mar, José Maria Costa.
O Sr. Secretário de Estado do Mar: — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado, muito obrigado pelas questões. Gostava de informar que, naturalmente, esta proposta de lei é do Governo e que o Sr. Secretário de Estado
do Turismo, Comércio e Serviços não está porque, neste momento, se encontra na Geórgia, onde vai ser
atribuído um conjunto de prémios ligados ao turismo, prevendo-se que Portugal possa também receber alguns
prémios nesta matéria.
O Sr. Pedro Pinto (CH): — Muito bem, na Geórgia!
O Sr. Secretário de Estado do Mar: — Gostava também de agradecer os contributos e as questões que foram levantadas.
Acima de tudo, aquilo que se pretende é que, no âmbito da especialidade e das consultas que vão ser feitas,
algumas das normas possam ser densificadas. Algumas das questões que levantou são, de facto, pertinentes,
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mas há aqui uma matéria nova, mesmo a nível da transposição e da harmonização europeia, nomeadamente
nas questões da reposição aos próprios indemnizados, em que há também algumas dúvidas e diferentes níveis
de atendimento. Mas penso que essa será também uma matéria em que, no âmbito da especialidade,
poderemos enriquecer e densificar algumas destas mesmas normas através dos contributos que vão ser
pedidos.
Aplausos do PS.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Só se for no gabinete do Sr. Secretário de Estado!
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Passamos agora ao período das intervenções e, para o efeito, tem a palavra o Sr. Deputado Bruno Nunes, do Grupo Parlamentar do Chega.
O Sr. Hugo Carneiro (PSD): — Sr.ª Presidente, peço a palavra.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — O Sr. Deputado Hugo Carneiro pediu a palavra para que efeito?
O Sr. Hugo Carneiro (PSD): — Para um ponto de ordem à Mesa sobre a condução dos trabalhos, Sr.ª Presidente.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Faça favor, Sr. Deputado.
O Sr. Hugo Carneiro (PSD): — Sr.ª Presidente, é apenas para clarificar que aquilo que estamos hoje a discutir, na nossa agenda, é uma autorização legislativa.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — É! Exatamente!
O Sr. Hugo Carneiro (PSD): — Portanto, não estamos a discutir propriamente o decreto-lei, ou seja, não sairá daqui a especialidade. Era apenas para clarificar isso.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — A agenda é conhecida, Sr. Deputado.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Pelos vistos, não!
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para uma intervenção, tem então a palavra o Sr. Deputado Bruno Nunes, do Grupo Parlamentar do Chega.
O Sr. Bruno Nunes (CH): — Sr.ª Presidente, Srs. Secretários de Estado, Srs. Deputados: Começamos, precisamente, por esta última afirmação. Ou seja, em relação às transposições, podíamos começar por analisar
o relatório anual sobre o controlo da aplicação do direito da União Europeia e perceber, uma vez mais, que o
Partido Socialista e este Governo atrasam e atrasam, com consequências e de forma a onerar o Estado
português por atrasos consecutivos, a transposição das diretivas.
A Sr.ª Fátima Correia Pinto (PS): — Não tem nada que ver!
O Sr. Bruno Nunes (CH): — Mas isto é feito de tal maneira e, desta vez, a incompetência é de tal maneira que o Secretário de Estado da tutela não está e mandaram o Secretário de Estado do Mar. Ou seja, isto,
basicamente, funciona assim — para as pessoas perceberem, lá em casa —: passamos por Bruxelas e dizem-
nos «olhem, está aqui este dossiê de transposições que vocês têm de fazer, lá na vossa terra»; trazem-no para
cá e, entretanto, entregam-no a alguém, que há de resolver o problema, e dizem-lhe «ó Zé, transcreve isto», e
o Zé transcreve.
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Risos do Deputado do CH Pedro Pinto.
O Zé transcreve isto e, entretanto, como o Sr. Secretário de Estado do Mar era o menos ocupado disseram-
lhe: «Olha, vais lá tu amanhã tratar disto».
Risos do Deputado do CH Pedro Pinto.
E lá veio ele tratar do assunto, sem saber bem do que é que estávamos a falar.
O Sr. André Ventura (CH): — Podia ser o do Desporto!
O Sr. Bruno Nunes (CH): — Podia ser o do Desporto, podia ser outro qualquer a vir tratar do assunto.
Protestos do PS.
Risos do CH.
Ninguém sabe bem do que é que veio para aqui tratar!
O Sr. Francisco Pereira de Oliveira (PS): — Estamos na tasca?!
O Sr. Bruno Nunes (CH): — Mas é de tal forma gritante que não sabem do que vêm para aqui tratar que este documento da proposta de lei termina a dizer o seguinte: «O presente decreto-lei entra em vigor a 25 de
junho de 2023.»
Vamos lá ser sérios! Vamos lá tratar as coisas como deve ser! Os senhores banalizam isto por completo.
Entretanto, também já ouvimos aqui dizer e chegámos à conclusão de que os consumidores… Mas até já
nem o PSD — e já não sabemos bem o seu posicionamento ideológico — quer saber das defesas que podem
estar aqui inerentes às empresas; já nem sequer quer saber se pode ou não pode existir uma litigância abusiva
e que estamos a tentar tornar o Estado de direito português nos Estados Unidos da América, quase. É uma
parvoíce de conjuntos de ações que não têm qualquer regulamentação, em que não percebemos exatamente
como é que são feitos os financiamentos às entidades qualificadas.
Protestos do L.
Ou seja, está tudo muito vago. E o Sr. Secretário de Estado, porque recebeu a pasta ontem à noite, aí à 1
hora da manhã — mandaram-lhe isto por WhatsApp, a dizer «vá lá falar disto amanhã» —, vem aqui e diz:
«Estamos dispostos a discutir isto na especialidade». Mas qual especialidade?! Não há especialidade, sequer.
Portanto, vamos ser sérios: os senhores não sabem o que estão a fazer.
Protestos do Deputado do PS António Monteirinho.
Sabemos mais, porque estudámos. O senhor não estuda, está aí atrás e, por isso, nem sequer tem direito a
falar.
Risos do CH.
Protestos do PS.
Portanto, vamos ver se esta questão…
Continuação de protestos do PS.
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Tenham calma! Logo de manhã?! Tenham calma…
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Sr. Deputado Bruno Nunes, o Sr. Deputado tem de respeitar os seus colegas e não pode dizer que não têm direito a falar. Os apartes, como sabe, são regimentais,…
O Sr. Pedro dos Santos Frazão (CH): — Ah!…
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — … desde que não prejudiquem a intervenção do orador.
O Sr. Pedro dos Santos Frazão (CH): — Ah, são?!
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Aliás, Sr. Deputado Pedro Frazão, faça favor também de guardar silêncio, porque os Srs. Deputados também fazem muitos apartes, como sabem.
O Sr. Pedro Pinto (CH): — E no PS não?!
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Faça favor de continuar, Sr. Deputado Bruno Nunes.
O Sr. Bruno Nunes (CH): — Sr.ª Presidente, creio que, certamente, não ouviu o aparte da bancada do PS, mas estamos habituados e não vou, sequer, falar acerca disso.
A Sr.ª Cristina Mendes da Silva (PS): — Ah!
O Sr. Bruno Nunes (CH): — Portanto, continuo a dizer que se o Sr. Deputado, não conhecendo a matéria, se quer pronunciar que se inscreva para falar, porque está sentado lá atrás. Mantenho a minha posição.
O Sr. Paulo Marques (PS): — Pode falar lá atrás!
O Sr. Bruno Nunes (CH): — Esta questão pode criar um problema de segurança jurídica. A má transposição deste diploma pode criar um problema de segurança jurídica às próprias empresas e existe um princípio de
segurança que tem de ser aplicado.
Além disso, os senhores vão lá para fora dizer que isto pode ser tudo resolvido e que fazem a transposição,
mas gostava de saber como é que vão resolver a situação, porque temos os tribunais atolados, com atrasos
consecutivos na resolução de processos e o problema dos funcionários judiciais, que estão com as diligências
todas atrasadas. E os senhores continuam a dizer: «Vamos meter mais processos, mais ações conjuntas e
vamos tratar de tudo».
Portanto, aproveitando que é Secretário de Estado do Mar, não sei se consegue lançar a rede e pescar
alguma coisa, para nos explicar, de uma vez por todas, se isto hoje dá ou não dá para que a pesca seja produtiva.
Mas, sinceramente, o senhor sabe exatamente o que é que estamos a transpor? O senhor sabe, exatamente?
Falou das associações que fizeram os pareceres, e pergunto: leu o parecer da CIP (Confederação Empresarial
de Portugal)? Vê como é arrasadora, para o Estado português, a forma como os senhores querem transpor isto?
O Sr. Rui Tavares (L): — Ah!…
O Sr. Bruno Nunes (CH): — Isto devia ter sido regulamentado…
O Sr. Rui Tavares (L): — É porta-voz da CIP!
O Sr. André Ventura (CH): — 600 votos!
O Sr. Rui Tavares (L): — Vocês é que tiveram!
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O Sr. Bruno Nunes (CH): — Não sei se sete assessores são suficientes para criar uma ação conjunta seja com quem for,…
Risos do Deputado do CH André Ventura.
… mas, para terminar, o que gostávamos de saber é se consideram, ou não, que esta transposição necessita
de regulamentação própria para que fique bem clarificado quem são as entidades qualificadas e como são
financiadas, isto para que não se criem problemas abusivos e de falta de segurança jurídica no País.
Aplausos do CH.
Protestos do L e contraprotestos do CH.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Fátima Correia Pinto, do Grupo Parlamentar do PS.
A Sr.ª Fátima Correia Pinto (PS): — Sr.ª Presidente, Srs. Secretários de Estado, Sr.as e Srs. Deputados: Temos em análise e discussão o processo legislativo de transposição da diretiva da União Europeia relativa a
ações coletivas, que tem essa relevante incumbência de harmonizar as diversas regulamentações judiciais dos
Estados-Membros em prol de uma maior proteção dos interesses coletivos dos consumidores, permitindo, de
forma generalizada, um acesso mais fácil à justiça e à reparação dos danos sofridos.
De facto, as ações coletivas, também conhecidas por «ações populares», desempenham um papel crucial
num Estado democrático, pois constituem uma ferramenta substancial que permite aos cidadãos fazerem valer
os seus direitos e serem compensados pelos danos resultantes de práticas abusivas, em larga escala, nas mais
diversas áreas da atividade económica.
É certo que Portugal dispõe, desde 1995, de um mecanismo processual que rege as ações populares e que
compreende já muitos dos normativos avançados pela diretiva europeia, daí que esta não seja uma transposição
da diretiva linear, como aqui fez transparecer o Chega,…
O Sr. Pedro dos Santos Frazão (CH): — Mau!…
A Sr.ª Fátima Correia Pinto (PS): — … porque era preciso harmonizar a diretiva com a legislação que já estava em vigor.
O Sr. Bruno Nunes (CH): — São assim todas as transposições!
A Sr.ª Fátima Correia Pinto (PS): — O mesmo não acontecia em outros Estados-Membros, em que não existia qualquer legislação relativa a ações populares. Por isso, a diretiva vem, não só, dotar o regime de uma
maior clareza e transparência,…
O Sr. Bruno Nunes (CH): — As transposições são sempre isso!
A Sr.ª Fátima Correia Pinto (PS): — … mas também garantir a existência de um mecanismo processual de ação coletiva, eficaz e eficiente, à disposição dos consumidores em todos os Estados-Membros.
É nossa opinião que o sucesso desta diretiva, e, consequentemente, o sucesso das ações coletivas, está
dependente de três aspetos fundamentais previstos no diploma: das entidades habilitadas, das regras de
financiamento das ações e, por último, da informação aos consumidores e efetiva distribuição das
indemnizações ou reparações a que têm direito.
No que diz respeito às entidades habilitadas, são inequivocamente definidos no diploma os critérios que as
entidades nacionais devem, de forma cumulativa, cumprir e que atestam a sua isenção e idoneidade, assim
como o dever de divulgação nas suas páginas de internet de toda a informação que demonstre o cumprimento
dos critérios, as suas fontes de financiamento e a sua estrutura organizativa. Assim, esta diretiva vem agora
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permitir que uma associação de defesa do consumidor nacional devidamente habilitada possa interpor uma ação
transfronteiriça contra uma empresa de outro Estado-Membro.
Relativamente ao financiamento das ações coletivas, que é uma novidade introduzida pela diretiva, este
reveste-se de extrema importância, uma vez que vem permitir às associações de defesa dos consumidores a
possibilidade de se debaterem contra grandes empresas, contra grandes interesses económicos, em prol da
legalidade e do cumprimento dos direitos dos cidadãos — o que de outra forma não lhes era permitido, muito
menos aos consumidores de modo individual.
Contudo, é fundamental que as regras aplicáveis ao financiamento sejam escrupulosas e rigorosas para
garantir a independência das entidades demandantes em relação aos seus financiadores, assim como a
ausência de qualquer conflito de interesses, tal como previsto e assegurado no artigo 10.º da proposta de lei —
garante de que a ação coletiva tem como propósito primordial a proteção dos interesses coletivos dos
consumidores.
Já no que diz respeito à efetiva distribuição das indemnizações, realço a escolha, por parte do Governo, pela
manutenção do mecanismo de autoexclusão, que já se aplicava na lei de ação popular em vigor. Através dele,
ao contrário do que aconteceria num mecanismo de autoinclusão, todos os consumidores em nome dos quais
a entidade qualificada decidiu intentar a ação serão automaticamente representados e vinculados pelos seus
resultados, pelo que todo o universo de consumidores lesados terá, dessa forma, direito à sua indemnização ou
reparação, a menos que manifestem expressamente o desejo de serem excluídos da ação.
Também a comunicação e divulgação das ações tem um papel importante para o garante da efetiva
distribuição das indemnizações, prevendo o diploma uma série de elementos e informações de divulgação
obrigatória que deverão estar disponíveis nas páginas de internet, quer dos demandantes de ações coletivas,
quer da autoridade competente, através do portal único de serviços.
Para finalizar, refiro que esta proposta de transposição tem merecido um acolhimento generalizado por parte
das diversas associações e entidades que sobre ela se pronunciaram e cujos pareceres incluem importantes
contributos, nomeadamente no que diz respeito à divulgação das ações e à distribuição das indemnizações.
Estes contributos deverão ser tidos em consideração pelo Governo durante a avaliação da aplicação desta
legislação, com vista à sua melhoria e aperfeiçoamento, estando nós, Deputados e Parlamento, também
vinculados e atentos a essa execução, obviamente, em prol da defesa dos consumidores — neste caso concreto,
em prol da defesa coletiva dos consumidores.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Isabel Pires, do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda.
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados, Sr.as Deputadas, Srs. Membros do Governo: Estamos, neste momento, perante a discussão de uma matéria que, do nosso ponto de vista, é muito relevante.
Sabemos que, em particular nas últimas décadas, as matérias que têm que ver com a defesa da proteção
dos consumidores têm ganhado alguma importância no debate público, mas, infelizmente, não têm tido, do
nosso ponto de vista, a devida correspondência no que toca aos mecanismos de proteção desses mesmos
consumidores. Em várias áreas, temos tido muitos casos em que se percebe como ainda é tão difícil os
consumidores poderem fazer valer os seus direitos ou até receber indemnizações relativamente a danos
causados ou a potenciais danos que possam vir a ser causados.
Portanto, desse ponto de vista, parece-nos relevante, em teoria, que possamos estar a discutir mecanismos
que avancem nessa proteção. Mas fomos verificar os pareceres que tinham chegado à Comissão relativamente
ao documento que temos em cima da mesa e eles levantam-nos algumas preocupações.
Em primeiro lugar, e o Sr. Secretário de Estado referiu isso, faltam uma série de audições que seriam
absolutamente essenciais antes da apresentação deste documento, desde logo, do Conselho Nacional do
Consumidor, mas também de associações como a DECO (Associação Portuguesa para a Defesa do
Consumidor), que é a maior do nosso País e também se queixa de não ter sido ouvida neste processo.
Portanto, o documento acabou por não ter o contributo daqueles que representam os consumidores, e isso
parece-nos uma falha grave neste processo.
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Essa falha grave leva a que, depois, existam também falhas na forma como a proposta está definida. Por
exemplo, no que toca à ligação entre as ações populares e, agora, as ações coletivas — que não são a mesma
coisa, Sr.ª Deputada Fátima Correia Pinto —, a DECO chama a atenção, por exemplo, para que, sim, seria
necessário agilizar o mecanismo da ação coletiva, que já está no ordenamento jurídico português, sendo que
tem alertado o Governo para essa necessidade há vários anos, por forma que mais pessoas possam ter acesso
e que o seu próprio financiamento possa ser mais escrutinável; e, também, para o receio de que possa haver
limitação do âmbito destas ações coletivas. Parece-nos importante que isso não venha a acontecer e que haja
possibilidade de articulação entre estas duas ações, mas sem retirar a autonomia a nenhuma delas, o que não
fica absolutamente claro neste processo.
Sobre a questão do financiamento, também é dado o alerta, por vários pareceres que chegaram à Assembleia
da República, da necessidade de assegurar que o Fundo do Consumidor assuma um papel de garante no que
respeita ao financiamento destas ações, não só para acautelar que se evitem potenciais conflitos de interesses,
como bem referiu, mas também para garantir o acesso à justiça. Desse ponto de vista, várias associações
fizeram chegar uma série de reparos àquilo que está na proposta de lei relativamente à questão do
financiamento.
Depois, como já havia referido, temos também a questão da manutenção da autonomia da ação popular em
face da ação coletiva que é agora proposta, bem como a questão da falta de sanção para o incumprimento do
dever de informação sobre decisões transitadas em julgado, por exemplo.
Portanto, parece-nos que seria necessário que, antes de estarmos a discutir esta autorização no Parlamento,
o Governo tivesse ouvido várias destas associações, que tivesse tido em conta vários destes pareceres e, já
agora, que tivesse feito as audições obrigatórias relativamente a isto.
Num tema tão importante, em que precisamos mesmo de uma maior segurança para os consumidores,
parece-nos que estamos a ficar muito aquém daquilo que é necessário.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — A Mesa não dispõe de mais inscrições, pelo que vamos passar…
O Sr. Rui Tavares (L): — Peço a palavra para intervir, Sr.ª Presidente.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Tem a palavra, Sr. Deputado.
O Sr. Pedro Pinto (CH): — Não está inscrito e tem a palavra? Tem de se inscrever!
O Sr. Rui Tavares (L): — Sr.ª Presidente, Caras e Caros Colegas: Diz-se muitas vezes que a União Europeia, tendo sido construída primeiro como uma realidade económica, tem as suas estruturas de poder desviadas a
favor das empresas. Isto não é inteiramente verdade, uma vez que a União Europeia é um espaço de contenção,
tal como o é Portugal, e desde o início houve casos em que cidadãos individuais puderam pôr empresas em
tribunal e ganhar. Costa vs. ENEL (Ente Nazionale per l'Energia Elettrica) é um dos casos mais conhecidos,
mas, ainda recentemente, um rapaz austríaco de 25 anos derrotou o Facebook em tribunal, e isso não é fácil
noutras partes do mundo.
A questão é que, quando iam ao Tribunal de Justiça da União Europeia, as associações representativas de
consumidores tinham um problema chamado «legitimidade processual» e os seus casos eram recusados. O
que esta diretiva e a sua transposição para a realidade nacional vêm permitir é que isso possa acontecer, e o
Livre não é contra isso — aliás, está no nosso programa desde 2014.
Uma vez que temos aqui o Secretário de Estado do Mar, permitam-me parafrasear Padre António Vieira para
dizer que esta é aquela situação em que um peixe muito grande come muitos pequenos, mas os pequenos, que
dariam para um grande comer durante muito tempo, não têm capacidade de se organizar para derrotar esse
grande. E aquilo a que aqui, hoje, já foi chamado de «parvoíce» é, basicamente, que os pequenos se possam
organizar para derrotar os grandes.
Mas sabemos perfeitamente que o Deputado que empregou essa palavra faz de conta que é a favor dos
pequenos, mas está sempre do lado dos grandes, quando chega a ocasião. Está sempre do lado dos grandes!
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A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Peço-lhe que conclua, Sr. Deputado.
O Sr. Rui Tavares (L): — O que nós queremos, e com isto concluo, Sr.ª Presidente, é que em Portugal haja uma aplicação o mais lata possível deste princípio, para que, finalmente, os pequenos tenham a hipótese de,…
O Sr. Pedro Pinto (CH): — Está a falar em causa própria!
O Sr. Rui Tavares (L): — … organizando-se, derrotar os grandes em tribunal e, assim, serem ressarcidos pelas taxas escondidas e pelos atropelos ao direito do consumidor que vemos todos os dias.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Bruno Dias, do Grupo Parlamentar do PCP.
O Sr. Pedro Pinto (CH): — Um minuto não são dois! Na Madeira falas zero!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Srs. Secretários de Estado: Como sabem, habitualmente a questão do atraso nos processos de transposição das diretivas não é problema que o
PCP levante; não é, para nós, questão central. Mas, neste processo legislativo em particular, o atraso, a
morosidade, a lentidão na forma como o processo foi tardiamente desencadeado na Assembleia da República
é a demonstração de um processo que deveria ter tido outra forma de participação e de envolvimento.
O Sr. Bruno Nunes (CH): — Nem gostam da Europa! Nem deviam falar nisto!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — E, portanto, quando o Governo entrega, no dia 2 de junho, esta proposta de lei de autorização legislativa, anexando um decreto de lei que, supostamente, estaria em vigor 20 dias depois,
sendo que há um conjunto de consultas obrigatórias que não são realizadas, isto prejudica a qualidade do debate
político e prejudica, ou, pelo menos, compromete, a própria qualidade da legislação a ser aprovada.
Temos consultas que não foram realizadas e contributos que o Sr. Secretário de Estado diz que ainda serão
dados, mas que, no limite, se não são contraditórios com a autorização legislativa que aqui será aprovada, pelo
menos, podem não ser abrangidos pelo sentido e extensão da mesma. Isto pode acontecer!
E a pergunta é: então, o que vai fazer o Governo? Vai trazer uma nova proposta de lei à Assembleia da
República para incorporar os contributos que venham a ser apresentados em processo obrigatório como, já foi
aqui dado como exemplo, no caso do Conselho Nacional do Consumo? Fica esta questão para ser tida em
conta, desde logo para servir de exemplo para processos futuros.
Registe-se, em todo o caso, que não é isso que se passa em relação à extensão e ao sentido de a autorização
não permitir a inclusão de contributos que já foram dados, como, por exemplo, as observações apresentadas,
nomeadamente pela DECO, em que aspetos de conteúdo do diploma são identificados e que o Governo não
pode deixar de ter em conta.
Por um lado, o exemplo da exclusão de áreas como a saúde ou a habitação do regime que está aqui a ser
tido em conta — é um problema que pode e deve ser prevenido atempadamente — e, por outro, um aspeto que
até deve levantar mais preocupações, que é a forma de considerar o próprio conceito de ação transfronteiriça
com mecanismos e com capacidades que as próprias ações nacionais não têm.
E este é um problema identificado, que, quer no que diz respeito à concretização de entidades qualificadas
de outros Estados-Membros — que só essas podem requerer medidas inibitórias ou medidas de reparação —,
ou, ainda, no que diz respeito à designação de entidades qualificadas, se justificaria também para as ações
coletivas nacionais.
Estes são exemplos concretos e a questão que se coloca é muito concreta; aliás, os pareceres e a forma até
do discurso de entidades como a CIP e — até vou mais longe — a Associação Portuguesa de Bancos quase
que são medalhas que esta proposta de lei podia pôr ao peito.
O problema é que, em relação às opções concretas na aplicação destes mecanismos, há aqui alertas que
devem ser tidos em conta.
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O Sr. Bruno Nunes (CH): — Pareces advogado da CIP, estás a citar o relatório!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — E termino com esta observação: esta diretiva, Srs. Deputados, pode ter sido um grande avanço para vários países em que não havia sequer enquadramento legislativo de ação popular, mas
nós, em Portugal, temos uma ação popular com dignidade constitucional, que está prevista no artigo 52.º da
Constituição, e, nesse contexto, não é a mesma coisa, mas há um parentesco muito direto em relação à ação
coletiva…
O Sr. Bruno Nunes (CH): — Não tem nada a ver!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — … que está aqui prevista.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para uma curta intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Hugo Carneiro, do Grupo Parlamentar do PSD.
O Sr. Hugo Carneiro (PSD): — Sr.ª Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: Nós concluímos, face a este debate, que, de facto, a proposta tem de ser muito mais trabalhada e fica já aqui o aviso: não iremos
inviabilizar a autorização legislativa, mas, se o Governo não fizer o seu trabalho de casa com base nas
recomendações que foram feitas pelas diversas entidades, o PSD tomará a iniciativa de corrigir aqui essas
insuficiências, se o Governo não o fizer.
O Sr. Bruno Nunes (CH): — Bem lembrado!
O Sr. Hugo Carneiro (PSD): — E lanço também aqui uma outra questão, que há pouco não abordei, sobre as indemnizações não reclamadas.
Diz o Governo, na sua proposta, que as mesmas revertem para um fundo gerido pelo Estado. Nós temos de
ser mais específicos, não podemos deixar isso em aberto, porque, qualquer dia, temos esse fundo a pagar, por
exemplo, ares condicionados ou painéis fotovoltaicos.
Portanto, temos de ser claros.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Peço-lhe que conclua, Sr. Deputado.
O Sr. Hugo Carneiro (PSD): — Para terminar, quero dizer que a posição do PSD foi construtiva. Não somos, por exemplo, como outros partidos, como o Chega, que aqui vieram criticar o documento que foi apresentado
pelo Governo,…
O Sr. Pedro Pinto (CH): — Pois, está mal feito!
O Sr. Hugo Carneiro (PSD): — … mais para inviabilizar a defesa dos consumidores do que, propriamente, com algum interesse em defender esses mesmos consumidores.
Aplausos do PSD.
O Sr. Pedro Pinto (CH): — Então e o PAN?! E o PAN?!
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Vamos passar à fase de encerramento, pelo que dou a palavra ao Sr. Secretário de Estado do Mar, José Maria Costa.
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O Sr. Secretário de Estado do Mar: — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Gostaria, naturalmente, de agradecer os contributos que foram dados e de referir que teremos em atenção as sugestões e as preocupações
que os Srs. Deputados manifestaram.
Gostava, ainda, de referir que, com esta proposta de lei, temos uma densificação da defesa dos
consumidores naquela que já é uma tradição portuguesa, sendo que Portugal dispõe de um quadro legal robusto
de instrumentação da ação coletiva, tendo algum atraso na transposição desta diretiva, que reconhecemos —
aliás, está apenas aprovada em 11 Estados-Membros —; mas temos uma legislação de ação popular e temos
também um conjunto de legislação nacional que protege os consumidores.
Estou certo de que, com os contributos dos Srs. Deputados, poderemos ter uma proposta de lei mais
aperfeiçoada e, assim, poderemos também garantir, da melhor forma, a defesa dos consumidores.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Srs. Deputados, concluímos, assim, o ponto um da ordem do dia e aproveito para me despedir dos Srs. Secretários de Estado.
Passamos ao ponto dois, que consiste na apreciação conjunta dos Projetos de lei n.os 859/XV/1.ª (IL) —
Aprova a Lei de Bases do Sistema Universal de Acesso à Saúde, procedendo à revogação da Lei n.º 95/2019,
de 4 de setembro, 880/XV/1.ª (CH) — Altera a Lei de Bases da Saúde, estabelecendo a obrigação de o Estado
referenciar os utentes do Serviço Nacional de Saúde (SNS) para atendimento nos setores privado ou social em
caso de esgotamento dos tempos máximos de resposta garantidos, 884/XV/1.ª (PAN) — Autoriza o acesso de
estudantes de Medicina a sistemas de registo de dados de saúde dos utentes, procedendo à primeira alteração
à Lei n.º 58/2019, de 8 de agosto e do Projeto de Resolução n.º 750/XV/1.ª (CH) — Recomenda ao Governo
que adote medidas para aumentar a eficácia, eficiência e produtividade do Serviço Nacional de Saúde,
particularmente nas zonas e regiões mais carenciadas.
Para apresentar a iniciativa da IL, tem a palavra o Sr. Deputado João Cotrim Figueiredo.
O Sr. João Cotrim Figueiredo (IL): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Nas declarações políticas de anteontem, a Iniciativa Liberal já explicou o porquê do nosso sistema universal de acesso à saúde (SUA Saúde).
O SUA Saúde é uma resposta ao estado calamitoso do SNS, uma resposta que reduz as listas de espera,
uma resposta que alinha os interesses dos doentes, dos profissionais de saúde e dos contribuintes, uma
resposta que promove a medicina preventiva e a cura duradoura, uma resposta que promove as terapias
inovadoras e combate o desperdício, ou seja, como diria qualquer liberal, o SUA Saúde é uma resposta que
funciona e faz falta.
As explicações foram dadas, hoje é dia de votar o SUA Saúde e cada partido é, obviamente, livre de decidir
o seu sentido de voto, mas se optarem por votar contra, por favor, não invoquem razões que mostram que não
leram a proposta ou que optam por deturpá-la.
O Sr. Rodrigo Saraiva (IL): — Muito bem!
O Sr. João Cotrim Figueiredo (IL): — Não digam, como disseram aqui anteontem vários à esquerda, que a IL quer acabar com o SNS, quando quem não quer reformar nada é que condena o SNS ao declínio e condena,
pior, os portugueses, especialmente os mais pobres, a terem maus cuidados de saúde.
Não digam, como fez o PCP, que a IL quer favorecer os privados, quando é o PCP quem se recusa a reformar
o sistema que tem feito crescer a medicina privada.
O Sr. Bruno Nunes (CH): — Muito bem!
O Sr. João Cotrim Figueiredo (IL): — Não digam, como fez o Bloco de Esquerda, que queremos reintroduzir as PPP (parcerias público-privadas),…
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — É verdade!
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O Sr. João Cotrim Figueiredo (IL): — … quando elas nem sequer fazem sentido no modelo que propomos. Não digam, como fez o PCP, que achamos a gestão privada sempre melhor do que a pública, quando, para
nós, é perfeitamente aceitável que o subsistema público, que defendemos que exista, possa ser o preferido dos
portugueses, porque se for o mais escolhido será por ser o melhor. Encantados!
Não digam, como fez o Bloco de Esquerda, que o PS está a aplicar o programa da IL, quando o que propomos
vai contra quase tudo o que o PS tem feito na saúde nos últimos anos.
Não digam, como fez o Livre, que se há dinheiro para resolver as listas de espera no SUA Saúde, então não
é preciso mexer no funcionamento do SNS.
Protestos do Deputado do L Rui Tavares.
Se o problema fosse só dinheiro, o aumento de mais 5000 milhões de euros nos últimos anos já o tinha
resolvido.
E não digam, como fez o Livre, que é uma questão de fezada, quando nos fomos inspirar nas partes que
melhor funcionam nos vários sistemas de saúde mais evoluídos na Europa.
O Sr. Rui Tavares (L): — Pois, umas partes boas e outras menos boas! O Frankenstein também tinha várias partes!
O Sr. João Cotrim Figueiredo (IL): — Quem acha que o modelo não precisa ser alterado tem uma visão muito diferente da que tem a Iniciativa Liberal sobre o valor social e económico de uma população saudável e
com maior bem-estar.
Hoje é dia de votar o SUA Saúde. Pelos portugueses e pela sua saúde, aprovem esta iniciativa hoje.
Aplausos da IL.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para apresentar o Projeto de Lei n.º 880/XV/1.ª (CH) e o Projeto de Resolução n.º 750/XV/1.ª (CH), tem a palavra o Sr. Deputado André Ventura.
O Sr. André Ventura (CH): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: Ao dia a que chegamos aqui, a saúde dos portugueses enfrenta riscos como nunca enfrentou.
As propostas do Chega visam, precisamente, ir ao encontro daqueles que, hoje, morrem à porta de hospitais,
veem os seus familiares sem consultas e ficam meses ou anos à espera de uma cirurgia.
Segundo os últimos dados que temos, dos doentes oncológicos que estão em lista de espera em Portugal,
um em cada quatro já ultrapassou o prazo máximo de espera previsto na própria lei. Um em cada quatro dos
doentes oncológicos já está há mais tempo à espera do que a lei permite!
Por isso, isto é muito claro: para a esquerda, mais vale ficarem à espera e morrerem se os cuidados não
forem públicos; para outros, seja público, privado ou social, o que interessa é que quem precisa tenha cuidados
de saúde. E essa é a nossa lógica em tudo! E essa é a nossa lógica em tudo!
Aplausos do CH.
Por isso, apresentamos este projeto, para garantir que Portugal não é só Lisboa e Porto e para garantir, a
quem não tem acesso a cuidados de saúde e a quem pouco importa que sejam públicos ou privados, que tenham
acesso a essa saúde.
O Sr. Bruno Nunes (CH): — Exatamente!
O Sr. André Ventura (CH): — As propostas que hoje são trazidas à discussão, mormente pela Iniciativa Liberal, têm uma vantagem: a de quebrar o preconceito ideológico que há décadas varre a saúde em Portugal.
Há décadas — por culpa da geringonça e, agora, por culpa do PS —, os portugueses ficam atolados num sistema
lamacento que não lhes permite ter acesso ao mais básico dos cuidados de saúde e à sua dignidade.
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Mas, Caros Companheiros, deixem-me dizer-vos isto: para uma proposta que pretende alterar a Lei de Bases
do Sistema Universal de Acesso à Saúde, ela é muito fraquinha e, para além de ser muito fraquinha, aparenta
ter até alguma ignorância face aos conteúdos da lei.
E eu queria que todos ouvissem qual é a solução da Iniciativa Liberal para o financiamento deste modelo.
Porque é importante saber, mudando a lei de bases, como é que se vai financiar o novo sistema.
Explica, então, a Iniciativa Liberal num grande artigo — e esse grande artigo tem três números — como será
feito esse financiamento. Um desses números diz o seguinte: «1. Tendo em conta a política de saúde definida
pelo Estado e os recursos necessários ao cumprimento das suas funções e objetivos, o financiamento do
Sistema Universal de Acesso à Saúde é assegurado de forma transparente e numa lógica de investimento
plurianual pelo Orçamento do Estado.»
O Sr. Bernardo Blanco (IL): — Isso quer dizer o quê?!
O Sr. André Ventura (CH): — Srs. Deputados, isto não é sério! Quando olhamos para aquilo que querem fazer, era preciso explicar como é que os subsetores vão ser financiados,…
Vozes do CH: — Exatamente!
O Sr. André Ventura (CH): — … como é que os subsetores que propõem vão ser pagos pelos contribuintes. E o que é que os senhores dizem? É uma lógica transparente e plurianual. Bom, olhem, é o mesmo que nada!
Mas mais: dizem, depois, que o Estado intervirá quando os privados não conseguirem resolver o problema.
Ou seja, na lógica da Iniciativa Liberal, ficaremos nós, os contribuintes, a pagar a saúde em geral e, quando os
privados não quiserem, nós pagamos ainda mais e ficamos ainda mais a onerar o sistema de saúde.
O Sr. João Cotrim Figueiredo (IL): — Isso não é verdade!
O Sr. André Ventura (CH): — Desculpem, mas isto é o que está na vossa iniciativa. Isto não é complementaridade; isto é roubo ao Estado para distribuir pelos privados. É outra coisa! É outra
coisa!
Aplausos do CH.
Mas também não fica claro, pela proposta da Iniciativa Liberal, como é que seria feito…
Protestos do Deputado da IL Bernardo Blanco.
Os Srs. Deputados pediram que lêssemos a proposta e foi o que fizemos. Eu sei que não queriam, mas nós
lemos!
Risos do CH.
Eu sei que preferiam que ninguém lesse, mas a verdade é que esta proposta é arcaica, é pouco clara e nem
sequer diz o básico, que é: como é que vamos pagar este modelo? Portanto, esta proposta vale muito pouco,
para ser sincero!
Aplausos do CH.
Mais: o diploma diz que vamos realocar e criar subsistemas. Passa a haver um sistema e subsistemas. E os
funcionários? E aqueles funcionários que hoje trabalham no setor público? A Iniciativa Liberal não quer saber,
sabem porquê? Porque não querem saber dos profissionais de saúde, como não querem saber dos profissionais
de enfermagem, como não querem saber dos profissionais da justiça, porque não querem saber de nenhuns.
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Para a Iniciativa Liberal há uma solução para tudo: despedir, despedir e despedir! Para o Chega é ajudar,
ajudar e ajudar! É isso que nós queremos!
Aplausos do CH.
O Sr. Rodrigo Saraiva (IL): — PCP! PCP!
O Sr. Miguel Santos (PSD): — Parece um social-democrata a falar!
Risos do Deputado do CH Pedro dos Santos Frazão.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para apresentar o Projeto de Lei n.º 884/XV/1.ª (PAN), tem a palavra a Sr.ª Deputada Inês de Sousa Real.
A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Agradecemos à Iniciativa Liberal o agendamento deste debate, apesar de, infelizmente, já conhecermos bem a visão da Iniciativa Liberal
para a saúde, tal como para outros setores: «Privatizar, privatizar, privatizar» é a palavra de ordem.
O Sr. Bernardo Blanco (IL): — Liga ao caçador!
A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — Para a IL, o «SNS para todos» parece ser para gente de mais. E, Sr.as e Srs. Deputados, esta não é a visão do PAN. Para o PAN, a saúde tem de ser para todos, sem
exceção, e não apenas para quem a possa pagar. A saúde tem de ser garantida pelo Estado e a iniciativa
privada deve ser um complemento até este deixar de ser necessário.
Mas não é por isso que ignoramos o estado moribundo da saúde em Portugal. Não ignoramos que, ainda
ontem, a greve dos médicos de Lisboa e Vale do Tejo registou uma adesão de 90 % nos blocos operatórios e
nos centros de saúde e quase 80 % nas consultas hospitalares.
Não ignoramos também a vaga de aposentações de médicos até ao fim do ano, nem o número de saídas
muito superior ao número de entradas. Entre o deve e o haver, mais de 2 milhões de portugueses, aqueles que
ouviram uma promessa antiga de um médico de família para todos, vão continuar sem médico de família.
Não ignoramos também que muitas USF (unidades de saúde familiar) não conseguem abrir por falta de
profissionais, assim como não ignoramos a desvalorização dos profissionais, as horas de espera nas urgências
ou as emergências fechadas.
Não ignoramos todos estes problemas na saúde, que infelizmente são muitos, mas o diagnóstico e a receita
da IL não só não curam, como agravam os sintomas e, para esse peditório, o PAN também não dá.
No entanto, hoje o PAN gostaria de falar sobre os futuros médicos, os jovens estudantes, a quem temos o
dever de apresentar uma situação e uma oportunidade de futuro diferentes.
Com a iniciativa que o PAN apresenta hoje, pretendemos algo tão simples como uma mera clarificação legal
que garanta aos estudantes de Medicina o acesso a sistemas de informação dos dados de saúde dos utentes,
com a garantia de respeito pelos dados pessoais.
Entendemos que esta consulta, efetuada pelos estudantes sob a devida supervisão técnica e em condições
de segurança, se mostra fundamental para a sua formação e prática clínica.
É uma alteração simples, que permite que o que muitas vezes já é feito na prática esteja vertido na lei e que,
assim, seja garantida uma boa formação aos futuros profissionais, na esperança de que não desistam de sê-lo,
apesar da forma como já veem a sua profissão ser tratada como um futuro sem muita valorização profissional
no horizonte.
O PAN está inteiramente disponível para tratar e melhorar esta iniciativa em sede de especialidade e
esperamos que as demais forças políticas nos acompanhem.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Concluímos a apresentação das iniciativas legislativas e passamos ao período de intervenções.
Tem a palavra o Sr. Deputado João Dias, do Grupo Parlamentar do PCP.
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Pausa.
Sr. Deputado João Dias, tem a palavra.
O Sr. João Dias (PCP): — Sr.ª Presidente, peço desculpa pela minha distração.
O Sr. Pedro Pinto (CH): — Ó João! Ó João!
O Sr. João Cotrim Figueiredo (IL): — Tinha ido à Rússia!
O Sr. João Dias (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: A Iniciativa Liberal traz hoje a debate, no fundo, a revogação da Lei de Bases da Saúde.
Mas, antes de mais, quero agradecer-vos, porque para o PCP é uma honra ser identificado pela Iniciativa
Liberal como um partido que defende o Serviço Nacional de Saúde e que é intransigente nesse caminho.
A Sr.ª Alma Rivera (PCP): — Muito bem!
O Sr. João Dias (PCP): — Por isso, honra-nos que se refira a nós enquanto defensores de a melhor resposta ser o próprio Serviço Nacional de Saúde, ser a gestão pública,…
O Sr. João Cotrim Figueiredo (IL): — Russa!
O Sr. João Dias (PCP): — … que naturalmente defendemos, porque é aí que reside a diferença. Falou-se aqui dos preconceitos ideológicos. Sr. Deputado, quero voltar a dizer-lhe que é uma opção; é uma
opção política,…
O Sr. João Cotrim Figueiredo (IL): — Deixar pessoas à espera!
O Sr. João Dias (PCP): — … e é aqui que divergimos completamente. É que o que os senhores querem é que sejam os grupos privados, que beneficiam com o negócio da doença,
a definir a política de saúde em Portugal! Mas nós não: nós defendemos que deve ser o Estado a definir a
política, que deve ser ele a salvaguardar a saúde dos portugueses, sendo financiador, sim, sendo prestador,
sim, e sendo regulador!
Naturalmente, não aceitamos que o Estado se demita destas funções, transferindo competências,
transferindo atribuições e recursos para o privado!
O que a Iniciativa Liberal aqui traz é uma opção com a qual sabe perfeitamente que se põe fim, se acaba
com o Serviço Nacional de Saúde! Os senhores sabem perfeitamente quais são as soluções que salvam o SNS.
Obviamente que não as defendem, porque defendem o contrário, tal qual como fez o Chega!
O Sr. André Ventura (CH): — Não, não!
O Sr. João Dias (PCP): — O Chega parece aquela criança que atira a pedra e depois esconde a mão.
Risos do Deputado do CH Pedro dos Santos Frazão.
Inicialmente, pôs na sua proposta de programa do governo a extinção do Serviço Nacional de Saúde e
evidenciou essa preocupação.
O Sr. André Ventura (CH): — Isso é falso!
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O Sr. João Dias (PCP): — Foi o que o Chega aqui disse: «Onde é que está o financiamento para os grandes grupos privados que operam na área da saúde?»!
Porquê? Porque sabe que tem de haver financiamento para a saúde, e então a preocupação é: «Onde é que
está o dinheiro para os subsistemas?», «Onde é que está o dinheiro para as seguradoras?», para tudo isso.
O Sr. Rui Paulo Sousa (CH): — Ai isso não interessa?!
O Sr. João Dias (PCP): — A verdade é que há um negócio brutal na área da saúde e os grupos económicos sabem-no bem! São necessários mais de 20 mil milhões de euros para a saúde dos portugueses e muito desse
valor já é pago do seu bolso!
O Sr. Pedro dos Santos Frazão (CH): — Mas que contas são essas?!
O Sr. João Dias (PCP): — E porquê? Porque quem falha não é o SNS nem os seus profissionais, a quem devemos agradecer todo o empenho na prestação de cuidados — valha-nos o SNS!
O que falha são as opções políticas, e o PS tem responsabilidade,…
O Sr. Duarte Alves (PCP): — Exatamente!
O Sr. Pedro dos Santos Frazão (CH): — Vocês também têm!
O Sr. João Dias (PCP): — … mas o PSD, a Iniciativa Liberal e o Chega ficam satisfeitos quando ouvem falar na degradação do Serviço Nacional da Saúde!
O Sr. André Ventura (CH): — Seis anos a apoiar o Governo!
O Sr. João Dias (PCP): — Srs. Deputados do Grupo Parlamentar do PS, quando aqueles senhores da direita dizem que o Serviço Nacional de Saúde está degradado, eles não querem saber de o salvar, eles querem
continuar a sua destruição!
Ficam absolutamente satisfeitos quando ouvem dizer que as listas de espera aumentam! Ficam todos
contentes quando ouvem dizer que não conseguem fazer operações no público e têm de ir para o privado!
A Sr.ª Maria Antónia de Almeida Santos (PS): — É verdade!
O Sr. João Dias (PCP): — E a verdade é que o Serviço Nacional de Saúde é hoje quem vale aos portugueses. Mas a vossa falta de ação e de medidas que correspondem àquilo que é necessário fazer no SNS é uma
cumplicidade com aqueles que o querem destruir, não se esqueçam disso!
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Maria Antónia de Almeida Santos (PS): — «Falta de ação»? Ia tão bem!
O Sr. João Dias (PCP): — O direito à saúde é reconhecido na Constituição da República Portuguesa, no artigo 64.º, e só através do Serviço Nacional de Saúde…
Protestos da Deputada da IL Patrícia Gilvaz.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Peço que conclua, Sr. Deputado.
O Sr. João Dias (PCP): — Concluo, Sr.ª Presidente. Como dizia, só através de um Serviço Nacional de Saúde público, gratuito e universal é que podemos ter
condições de responder às necessidades de saúde da população.
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Aplausos do PCP.
O Sr. Pedro dos Santos Frazão (CH): — Bebe água, João, que isso passa!
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Irene Costa, do Grupo Parlamentar do PS.
A Sr.ª Irene Costa (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A verdade é que o caminho do SNS, desde a sua criação, nunca foi fácil.
Vivemos, hoje, um dos maiores desafios ao Serviço Nacional de Saúde. Apesar de termos o maior orçamento
da saúde — com um aumento de mais de 50 % e um reforço de mais 25 % no número de profissionais no setor
da saúde —; apesar de, em resultado destas apostas, termos aumentado o número de consultas médicas, de
consultas de enfermagem e cirurgias efetuadas; apesar de termos hoje mais atividades no SNS, ainda assim,
temos mais necessidades, mais procura e uma evidente pressão sobre o Serviço Nacional de Saúde.
Mas o diagnóstico está feito: temos uma população envelhecida que gera mais necessidades de saúde;
assistimos a uma maior acessibilidade aos serviços de saúde com a eliminação das taxas moderadoras; temos
um expressivo aumento do número de utentes inscritos; temos uma efetiva melhoria na prestação de cuidados
e na capacidade de resposta ao nível dos recursos humanos e das carreiras; e temos em curso importantes
valorizações cujos efeitos ainda não se reproduziram na sua totalidade.
Este diagnóstico e a implementação das respostas desenhadas são os atuais desafios do SNS. São desafios
que implicam, naturalmente, abordagens que valorizem o SNS e que possibilitem a criação de sinergias
positivas, que promovam e facilitem a igualdade e acesso de todos os portugueses a cuidados de saúde
eficientes e de qualidade.
Neste sentido, o Ministério da Saúde e a Direção Executiva definiram duas reformas de grande alcance.
Por um lado, a generalização, em todo o País, das ULS (unidades locais de saúde), um modelo que se
pretende ao serviço das pessoas, que facilita a circulação dos utentes no SNS, que promove a integração de
cuidados, a otimização de recursos humanos, materiais e financeiros, a partilha, a agilização e a referenciação
mais célere entre níveis de prestação de cuidados, garantindo acesso, continuidade e qualidade nos cuidados.
Por outro lado, destacamos a reforma no modelo de relacionamento com os profissionais de saúde, seja pela
implementação da dedicação plena, seja pelo alargamento das unidades de saúde modelo B, que prevê um
modelo remuneratório mais atrativo para os profissionais.
Se a estas duas grandes reformas associarmos o trabalho que está a ser realizado ao nível do registo
eletrónico do utente e uma avaliação sobre produtividade e resultados, definida como objetivo também na lógica
do financiamento das estruturas de saúde, consideramos que estamos no caminho certo para proteger o SNS.
Por isso, Sr.as e Srs. Deputados, rejeitamos as propostas trazidas a debate,…
Vozes do CH: — Oh!…
A Sr.ª Irene Costa (PS): — … que são propostas de quem deposita toda a fé da resolução dos problemas do SNS na simples compra de serviços ao setor privado, sem indicar, por exemplo, o impacto dessas medidas
no orçamento do SNS, sem deixar evidências de que o recurso aos privados garante uma resposta efetiva a
todos os cidadãos e em todas as circunstâncias.
Rejeitamos propostas de quem deposita a fé da resolução dos problemas do SNS no financiamento de um
modelo concorrencial entre público e privado que apenas se destina a destruí-lo.
Estamos neste debate, hoje e sempre que for necessário, como sempre esteve o Partido Socialista: a
defender, a apoiar e a sustentar politicamente um Serviço Nacional de Saúde público, universal e
tendencialmente gratuito, sem prejuízo da natureza complementar e supletiva do setor social e do setor privado.
Aplausos do PS.
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A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Miguel Santos, do Grupo Parlamentar do PSD.
O Sr. Miguel Santos (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Estive a ouvir atentamente as intervenções do Partido Socialista e do Partido Comunista Português. Estão dentro daquilo a que já nos
habituámos há muitos e muitos anos e, com as responsabilidades governativas que tiveram nos últimos oito —
agora, o PCP está um bocadinho de lado, mas teve-as —, julgo que daí não resulta nada que possa efetivamente
melhorar o Serviço Nacional de Saúde.
Também ouvi atentamente o Sr. Deputado André Ventura, porque acho sempre muita graça à maior parte
das suas intervenções. Mas até me assustou, porque parecia verdadeiramente um social-democrata a intervir,…
O Sr. André Ventura (CH): — Olá!…
O Sr. Miguel Santos (PSD): — … ao defender o Serviço Nacional de Saúde e a complementaridade do setor social e privado.
Mas, como o Sr. Deputado André Ventura agora passa os dias a piscar o olho ao PSD, eu interpreto isso
mais como um «número político» do que propriamente uma forte convicção de matriz social-democrata.
Protestos do CH.
Em relação ao projeto de lei de bases que a Iniciativa Liberal apresentou, com toda a simpatia que sabem
que temos pela vossa postura…
O Sr. Filipe Melo (CH): — O Rui Tavares tem mais votos, em Valongo!
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Faça o favor de prosseguir, Sr. Deputado.
O Sr. Miguel Santos (PSD): — Continuando, Sr.ª Presidente…
Protestos do Deputado do CH Filipe Melo.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Sr. Deputado Filipe Melo, peço-lhe que dê condições ao orador para continuar.
Faça o favor de prosseguir, Sr. Deputado.
O Sr. Rui Tavares (L): — É uma obsessão!
Risos do Deputado do PSD Miguel Santos.
O Sr. André Ventura (CH): — Ri-te, ri-te!
O Sr. Filipe Melo (CH): — Sei que dói! Eu sei que dói!
O Sr. Miguel Santos (PSD): — Mas oiçam, como é que eu vou encarar aquilo que os senhores estão a dizer sem ser a rir-me?
Se for para levar a sério, é uma desgraça o que os senhores dizem, uma absoluta desgraça!
Aplausos do PSD.
Protestos da IL.
Risos do CH.
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O Sr. Pedro dos Santos Frazão (CH): — Depois choras!
O Sr. Miguel Santos (PSD): — É insuportável! A única forma de, civilizadamente, ouvir aquilo que os senhores estão a dizer é rir-me. E rio-me. Rio-me, em
parte, dos senhores, inclusive. Não só daquilo que dizem, mas também dos senhores.
Protestos do CH.
Sr.ª Presidente, em relação ao projeto de lei de bases que a Iniciativa Liberal — o Sr. Deputado João Cotrim
Figueiredo — apresentou, temos uma questão conceptual, porque os senhores defendem um sistema
concorrencial entre o setor público, o setor privado e o setor social. Portanto, logo por aí, à nascença, de raiz,
em termos ideológicos, não podemos acompanhar uma proposta dessas.
Mas depois, a concretização, da forma como os senhores a descrevem, ainda nos causa um maior arrepio e
afasta-nos mais politicamente.
A esquerda gosta muito de levantar o lobo da inconstitucionalidade, mas desta vez vou ser eu. Efetivamente,
na proposta da Iniciativa Liberal, a gratuitidade tendencial e a universalidade de acesso estão, objetivamente,
colocadas em causa, porque os cidadãos têm de pagar uma contribuição para terem acesso ao subsistema a
que querem recorrer.
Protestos da IL.
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Vejam só, até o PSD diz isso!
O Sr. Miguel Santos (PSD): — Digamos que, se fosse um clube, seria uma joia que tinha de ser paga.
O Sr. João Cotrim Figueiredo (IL): — Não leu! Não leu!
O Sr. Miguel Santos (PSD): — Isso não é possível.
Protestos da IL.
Mas, se me permitem, mais do que isso, existe uma parte, na base dois, em que vão para além disso e
transformam o Serviço Nacional de Saúde ou o subsistema público…
Protestos da IL.
…Sr.ª Presidente, com toda a boa vontade e ligeireza, às vezes, é um bocado complicado conseguir fazer
uma intervenção…
Vozes do CH: — Oh!
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Tem razão, Sr. Deputado. Peço aos serviços que interrompam a contagem do tempo.
Protestos do CH.
Srs. Deputados, todos têm direito a usar da palavra e a serem ouvidos. Não é aceitável que haja, da parte
de determinadas bancadas, interrupções sistemáticas. Portanto, façam favor de criar condições para que o
orador se possa exprimir.
Faça favor de prosseguir, Sr. Deputado.
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O Sr. Miguel Santos (PSD): — Pronto, Sr.ª Presidente, como estava dizendo, vamos tentar puxar atrás.
O Sr. André Ventura (CH): — Lá vem mais uma choradeira!
O Sr. Miguel Santos (PSD): — O Sr. Deputado André Ventura acha muita graça a tudo, não é? Pronto, a base dois vai muito para além disso, porque a base dois, na verdade, transforma o subsistema público, em si,
num sistema complementar ao subsistema privado ou social ou outro que possa existir nesse âmbito. Ou seja,
inverte completamente a situação. Pronto, terá a oportunidade de esclarecer mais sobre isso.
E depois, há aqui um problema relacionado, também, que o Sr. Deputado André Ventura já referiu, que é a
questão do financiamento. E a questão do financiamento…
O Sr. Filipe Melo (CH): — O que tu querias era que não fosse esse o problema!
O Sr. Miguel Santos (PSD): — Meu Deus, isto é uma comédia, Sr.ª Presidente.
O Sr. Rui Tavares (L): — E tem de acabar!
Protestos do Deputado do CH Filipe Melo.
O Sr. Miguel Santos (PSD): — Isto é uma comédia, a sério. Ai, meu Deus. A questão do financiamento não está minimamente garantida, nem está suficientemente esclarecida. Pronto,
Sr.ª Presidente, muito obrigado pela sua ajuda e pela paciência de todos.
Aplausos do PSD.
O Sr. Pedro dos Santos Frazão (CH): — Ó Miguel, tens de trabalhar o foco!
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Rui Tavares, do Livre.
O Sr. Rui Tavares (L): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: Esta sequência de dois debates é muito interessante para contextualizar de onde vem a proposta da Iniciativa Liberal.
Há pouco, tivemos um debate sobre a transposição de uma diretiva para dar direito aos consumidores de
irem a tribunal contra grandes empresas e até ouvimos o PSD, entre outros, dizer que isto devia ser estendido
à saúde, mas a Iniciativa Liberal nem sequer interveio. Tinha aqui o líder do partido, o líder do grupo parlamentar,
o Deputado da Comissão de Assuntos Europeus… Quer dizer, o Chega, ao menos assumiu que achava que
era uma parvoíce dar mais direitos aos consumidores; da Iniciativa Liberal, ouviram-se os grilos!
Protestos de Deputados da IL.
E isto é extraordinário, porque nesta proposta sobre a saúde querem transformar quem usa o Serviço
Nacional de Saúde em consumidor, mas antes, quando tiveram a oportunidade de dizer que os consumidores
poderiam ter mais poder contra as empresas, não disseram nada.
Protestos da IL.
Portanto, vê-se bem: quando os utentes de saúde forem consumidores, vocês vão estar do lado das
empresas, contra os consumidores.
Mas não quero falar só do que a Iniciativa Liberal não disse, quero falar do que a Iniciativa Liberal disse.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Isso mesmo!
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O Sr. Rui Rocha (IL): — Olhe o tempo!
O Sr. Rui Tavares (L): — Sr. Deputado João Cotrim Figueiredo, com toda a estima, não fui eu que disse que, se a proposta da Iniciativa Liberal custar mais dinheiro no início, esse dinheiro poderia ser empregue a acabar
com as listas de espera no Serviço Nacional de Saúde, e que isso era uma pergunta válida, foi o Sr. Deputado
que o disse. E, portanto, o que o Sr. Deputado disse é que o sistema de incentivos vai melhorar, mas isso é uma
fezada. Acredito que acredite nela, mas é uma fezada.
O Sr. João Cotrim Figueiredo (IL): — Não é!
O Sr. Rui Tavares (L): — Não fui eu que disse, foi o Sr. Deputado, que o vosso sistema não foi testado tal qual, em nenhum lado, tem o melhor de cada um. Sabe quem é que também achava que tinha o melhor deste
pedaço e daquele pedaço e com isso criava uma criatura muito boa? O Dr. Frankenstein. Pois bem, o Livre tem
uma solução mais simples.
O Sr. André Ventura (CH): — Tu é que és o Frankenstein!
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Peço-lhe que conclua, Sr. Deputado.
O Sr. Rui Tavares (L): — O Livre acha que a solução — termino, Sr.ª Presidente — para a suborçamentação do SNS é orçamentá-lo devidamente e que precisamos de muitos profissionais de saúde. Do único que não
precisamos é do Dr. Frankenstein da Iniciativa Liberal.
Protestos do Deputado da IL João Cotrim Figueiredo.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Isabel Pires, do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda.
Continuação de protestos do Deputado da IL João Cotrim Figueiredo e contraprotestos do L.
Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Deputado João Cotrim Figueiredo, não é o Sr. Deputado que tem o direito à
palavra agora, é a Sr.ª Deputada Isabel Pires, do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda.
Faça favor, Sr.ª Deputada.
Pausa.
O Sr. Deputado Rodrigo Saraiva pede palavra para que efeito?
O Sr. Rodrigo Saraiva (IL): — Para uma interpelação à Mesa, Sr.ª Presidente.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Faça favor.
O Sr. Rodrigo Saraiva (IL): — Sr.ª Presidente, na próxima Conferência de Líderes poderemos voltar ao tema, até porque na sexta-feira o Sr. Presidente da Assembleia da República já fez um alerta para ele: há
permanentemente um Deputado único representante de um partido que mais do que duplica o tempo das suas
intervenções,…
Vozes do CH: — É verdade!
O Sr. Rodrigo Saraiva (IL): — … e usa-o para falar de temas paralelos e ao lado dos temas que estão agendados. Portanto, por respeito àquilo que é a ordem do dia e às regras regimentais desta Casa, peço à Sr.ª
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Presidente que também tenha em consideração os excessos que alguns cometem nesta Assembleia da
República.
Aplausos da IL.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — O Sr. Deputado Rui Tavares pede a palavra para que efeito?
O Sr. Rui Tavares (L): — Para uma interpelação à Mesa sobre a condução dos trabalhos.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Faça favor, Sr. Deputado.
O Sr. Pedro Pinto (CH): — É para uma interpelação à Mesa!
O Sr. Rui Tavares (L): — Sr.ª Presidente, embora compreenda que quando não se está a gostar do que se está a ouvir se queira que outros interlocutores falem menos tempo, é preciso notar uma coisa: o excesso das
intervenções é o excesso de qualquer intervenção.
O Sr. Bernardo Blanco (IL): — Agradece o tempo!
O Sr. André Ventura (CH): — É uma interpelação!?
O Sr. Rui Tavares (L): — O que o Sr. Deputado nos está a dizer é que quem tem um carro pequeno só deve ultrapassar em 10 km o limite de velocidade, quem tem um carro grande deve ultrapassar em 100 km. Isso,
evidentemente, não faz sentido nenhum, tal como não faz sentido nenhum utilizar uma interpelação à Mesa para
anunciar o que vai fazer na Conferência de Líderes.
O Sr. Pedro dos Santos Frazão (CH): — O Rui Tavares é o Calimero do Parlamento.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Desculpem, Sr.as e Srs. Deputados, quem faz a gestão dos tempos e quem preside à sessão é a Mesa. E, portanto, se discordam das decisões da Mesa, recorrem para Plenário,
como diz o Regimento, se quiserem levar os assuntos à Conferência de Líderes, façam favor.
Para uma intervenção, com os pedidos de desculpa da Mesa, tem a palavra a Sr.ª Deputada Isabel Pires, do
Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda.
Protestos do Deputado do CH Filipe Melo e contraprotestos do L.
Sr. Deputado Filipe Melo, o Sr. Deputado, certamente, reconhece — reconhecemos todos — que tem um
timbre de voz muito audível. Agradeço que se criem condições para que a Sr.ª Deputada se possa exprimir.
Faça favor, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados, Sr.as Deputadas: A Iniciativa Liberal já trouxe este tema a debate na última quarta-feira e, em dois dias, obviamente, não esperávamos que nada de
significativo se alterasse. Mas, de facto, há aqui, neste projeto de lei, algumas pérolas e algumas matérias
bastante interessantes, que, aliás, contradizem exatamente a sua intervenção hoje e aquilo que foi a sua
intervenção na quarta-feira.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — A vender gato por lebre!
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Vamos a algumas delas: na página 14, temos a ideia de que poderão existir pacotes premium para a saúde, ou seja, para a Iniciativa Liberal há alguns serviços de saúde que são básicos
e, portanto, toda a gente deve ter a garantia desses serviços.
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A Sr.ª Joana Cordeiro (IL): — É o que já está hoje no SNS!
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Mas, depois, quem quiser aceder a determinados cuidados de saúde, paga mais. É completamente uma lógica de mercado: quer um bocadinho mais da sua subscrição, então, paga um pouco
mais.
O Sr. Bernardo Blanco (IL): — Há dentistas no SNS?
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Isto, aplicado à saúde, é absolutamente pernicioso, não faz sentido absolutamente nenhum, a não ser, lá está, o de a Iniciativa Liberal ser aqui a voz do dono, o lóbi da
hospitalização privada.
Protestos de Deputados da IL.
Mas, mais: este projeto continua a ser absolutamente inútil, porque a privatização que, na verdade, apregoam
— porque é o que vai dar, é o resultado daquilo que é proposto! — já está, aos poucos, a ser levada a cabo pela
política que está a ser seguida pelo Governo e, portanto, continuamos a não ver utilidade nenhuma nisto.
Mas, há mais: a Iniciativa Liberal acha que o Estado deve ser um prestador supletivo e, preferencialmente,
nem deve ser um prestador, o seu papel deve ser o de financiador nesta matéria. Ao contrário do que dizem,
isto não é um modelo inovador nem é um modelo que seja uma novidade, isto é um modelo que existiu nos anos
40 no nosso País. Portanto, não há novidade nenhuma, o que aí há é um recuo bastante grande.
Quando vamos à página 5, vemos que o que a Iniciativa Liberal quer — como qualquer bom liberal, diga-se
de passagem! — é que os privados sejam financiados com dinheiro público, ou seja, todo o financiamento deste
projeto de lei é Orçamento do Estado.
Na verdade, aquilo que já todos percebemos é que, para a Iniciativa Liberal, só há Estado a mais quando é
preciso assegurar determinados serviços públicos e determinados direitos. Quando é para financiar o setor
privado, aí, a Iniciativa Liberal vem sempre pedir mais financiamento e mais impostos. É a incongruência da
Iniciativa Liberal, mas que já foi e tem sido bastante desmascarada.
Mas há mais curiosidades, Sr. Deputado: a Iniciativa Liberal diz que os privados é que vão resolver os
problemas todos e, portanto, quer construir subsistemas constituídos por operadores privados convencionados,
mas há determinadas áreas que, afinal, devem ser da gestão pública. E vamos à página 16 do projeto de lei,
porque, veja-se, a saúde pública e a emergência médica ficam na área do Estado, tudo o resto pode ir para os
privados. E porquê?
A Sr.ª Joana Cordeiro (IL): — É óbvio!
O Sr. João Cotrim Figueiredo (IL): — Porque não funciona!
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Poderiam explicar porque é que não ficam, porque é fácil de perceber: a primeira, a saúde pública, não proporciona negócio, obviamente, e a segunda, naturalmente, não terá de dar lucro.
Portanto, é a lógica de que aquilo que para o mercado der prejuízo e não der lucro fica com o Estado, não
queremos e, depois, logo se vê quem é que fornece estes serviços. Tudo o que dá lucro vai para o privado em
subsistemas, subsistemas esses, já agora, que são financiados pelo Orçamento do Estado — é sempre o
Orçamento do Estado a pagar.
A Iniciativa Liberal é muito liberal, muito liberal, mas quando toca a hora de pagar, vai sempre ao mesmo.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — É fatal!
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Na quarta-feira — e vou terminar, Sr.ª Presidente —, disse que não tinha uma única referência a parcerias público-privadas. Também não é verdade, Sr. Deputado. Na página 35,…
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Ele não leu! Não leu!
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A Sr.ª Isabel Pires (BE): — … quando se refere a rede de cuidados continuados, refere exatamente parcerias público-privadas. O Sr. Deputado quis aqui dar uma ideia de um projeto de lei que, afinal,...
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Peço-lhe que conclua, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Vou terminar, Sr.ª Presidente. O projeto de lei que o Sr. Deputado, na quarta-feira e hoje, apresentou não é o projeto de lei que está aqui
em texto.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Afinal foi ele que não leu o projeto de lei!
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Aquilo que sabemos é que a única coisa para que a Iniciativa Liberal quer o Estado é para financiar o privado, o que lamento, porque, para isso, o Partido Socialista já está a fazer um ótimo
trabalho.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Miguel dos Santos Rodrigues, do Grupo Parlamentar do PS.
Faça favor, Sr. Deputado.
O Sr. Miguel dos Santos Rodrigues (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O debate que aqui temos hoje é sério e é pena, até, que algumas das propostas sejam apresentadas com a leviandade com que o
estão a ser.
Sr. Deputado João Cotrim Figueiredo, lemos atentamente a sua proposta — lemos a proposta e as FAQ
(Frequently Asked Questions). E há uma coisa curiosíssima que a Iniciativa Liberal faz: primeiro, promove uma
concorrência em mercado livre entre os prestadores de saúde. Posso dizer-lhe, desde já, o que é que gera uma
concorrência entre prestadores de saúde a correr para o fundo, gera taxas de cesariana de 100 % em hospitais
privados. É isso que gera.
Aplausos do PS.
O Sr. João Cotrim Figueiredo (IL): — É totalmente ao contrário!
O Sr. Miguel dos Santos Rodrigues (PS): — Essa é a primeira coisa, primeira regra para não continuar. O Sr. Deputado, na sua proposta e nas FAQ, até assume uma coisa mais curiosa: comparando o sistema
que a IL propõe com o holandês, diz que a Holanda gasta 9,97 % do seu PIB (produto interno bruto), ignorando,
já agora, que o PIB da Holanda é significativamente superior ao português, versus 9,45 % do PIB de Portugal.
Depois, tem um segundo problema que é: os prestadores de serviço público, o SNS, o privado e o social,
atuam em livre concorrência. Quanto custa? Não sabemos. Quem paga? O Estado! Belíssimo negócio,
belíssimo negócio!
Aplausos do PS.
Sr. Deputado, o que vale é que a nossa fé, a fé desta bancada no SNS, sempre é maior do que a fé da
Iniciativa Liberal no mercado livre. É o que vale.
Aplausos do PS.
Cumpre-nos, também, falar aqui do projeto do PAN relativamente à partilha de dados em saúde para os
estudantes de Medicina. De uma forma muito breve, Sr.ª Deputada Inês de Sousa Real — que não está,…
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O Sr. André Ventura (CH): — Está com o PSD ali!
O Sr. Pedro Pinto (CH): — Está a fazer o acordo!!
O Sr. Miguel dos Santos Rodrigues (PS): — … mas não faz mal, porque, em todo o caso, é importante discutirmos este tema, que é sério e merece a nossa atenção —, o projeto do PAN não é, no nosso
entendimento, garantístico o suficiente do ponto de vista da privacidade.
Aliás, ele é parcialmente transcrito de uma iniciativa do Partido Socialista, apresentada em 2021, mas
estabelece um mecanismo de consentimento que nos parece positivo. Não estabelece, no entanto, outros
mecanismos, de acordo com o Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados, que deveriam nele existir, como
a revogação de dados, o apagamento dos consentimentos, o apagamento dos dados e um conjunto de outras
garantias para os utentes e para os estudantes, desde logo, obrigações deontológicas para quem acede a dados
médicos, que estão ausentes do curso letivo dos estudantes e, naturalmente, estão presentes para quem se
inscreve na Ordem dos Médicos, a partir do momento em que termina o curso.
Portanto, parece-nos que este é um passo positivo, parece-nos que esta pode ser a direção, mas, ainda que
esta possa ser a direção, o que é preciso, neste tema, é mesmo desbravar caminho.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João Cotrim Figueiredo.
Faça favor, Sr. Deputado.
O Sr. João Cotrim Figueiredo (IL): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: Do que já aqui ouvimos, há uma virtude em termos trazido o tema, não só hoje, mas há dois dias: é que agora leram, repito, agora leram, mas
nem sempre perceberam.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Ele é que não leu!
O Sr. João Cotrim Figueiredo (IL): — Há uns que optam por deturpar o que leram, que é o caso do PCP e do Deputado João Dias, que se especializou nisso nos últimos dias. E outros, que leram, mais valia não terem
lido.
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Se não leram, é porque não leram, se leram, é porque leram!
O Sr. João Cotrim Figueiredo (IL): — Sr. Deputado Miguel dos Santos, não há contribuição nenhuma direta para os subsistemas.
Protestos do Deputado do PS Miguel dos Santos Rodrigues.
Então, não leu bem — não há. O que há é exatamente a mesma forma de financiamento, Sr. Deputado André
Ventura, que está hoje na atual Lei de Base de Saúde. O financiamento está definido exatamente da mesma
maneira, que uma lei de bases não tem de definir em pormenor. O resto está lá e, se tinha dúvidas, tinha
aproveitado, na quarta-feira, para pedir esse esclarecimento, que teria dado com todo o gosto.
O Sr. André Ventura (CH): — O debate é hoje!
O Sr. João Cotrim Figueiredo (IL): — Agora, do que o Sr. Deputado André Ventura me acusa, e isso magoa-me profundamente,…
Vozes do PS e do CH: — Oh…!
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O Sr. João Cotrim Figueiredo (IL): — … é de termos uma proposta fraquinha. Não há nada mais ofensivo do que o Chega vir dizer que é uma proposta fraquinha: o partido que copiou parágrafos, num projeto, que
vinham do Bloco de Esquerda.
Aplausos da IL.
Protestos do CH.
O partido que, ao querer agravar a moldura penal dos crimes de abuso sexual, acabava, diz o Conselho
Superior da Magistratura, a despenalizar esses mesmos crimes para as vítimas entre os 14 e os 19 anos.
Fraquinho, Sr. Deputado? Por amor de Deus!
Aplausos da IL.
Protestos do CH.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Vamos passar à fase de encerramento.
O Sr. André Ventura (CH): — Sr.ª Presidente, peço a palavra.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Sr. Deputado André Ventura, pede a palavra para que efeito?
O Sr. André Ventura (CH): — Para intervir, Sr.ª Presidente.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Não estava inscrito, Sr. Deputado, mas tem a palavra.
O Sr. André Ventura (CH): — Sr.ª Presidente, peço desculpa pela inscrição tardia, mas é importante dar aqui algumas respostas que nos parecem relevantes.
Primeiro, Sr. Deputado Miguel Santos, penso que esteve distraído nos últimos tempos, talvez a pensar mais
na concelhia do que noutra coisa, mas essa é uma questão mais sua.
Risos do CH.
Talvez tenha andado distraído, mas ser social-democrata, Sr. Deputado, não tem nada a ver com as listas
de espera. Tenho uma notícia para si: em vários Governos sociais-democratas, hoje, as listas de espera
cresceram 85 %. Se é esse o social-democrata que quer que eu seja, não sou. Deixo isso para si e para aquilo
que têm feito em muitas regiões do País. Isso é convosco e não connosco.
Aplausos do CH.
Para nós, Sr. Deputado, há uma coisa que é importante: é que os portugueses tenham saúde,
independentemente de ser o privado, o público ou o social a prestar esses cuidados.
O Sr. Pedro Pinto (CH): — Muito bem!
O Sr. André Ventura (CH): — Finalmente, Sr. Deputado João Cotrim Figueiredo, lamento muito, mesmo, que traga a esta Assembleia uma proposta que era o core business da Iniciativa Liberal, a grande proposta da
Iniciativa Liberal — não é do Chega, nem do PSD, nem do Livre, nem do Bloco de Esquerda, mas da Iniciativa
Liberal —, mas quando pegamos nela, desculpe dizê-lo…
Protestos da IL.
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Sei que prefere falar de castração química, que vocês são contra, e de aumentos de penas, que vocês são
contra. Vocês sempre foram contra tudo o que é justiça, por isso não faz mal.
Protestos do Deputado da IL Bernardo Blanco.
Agora, o que custa mesmo é que a vossa principal proposta, trazida no início de uma Legislatura, não
explique, num momento destes, como se financia, como se paga e quais são as soluções.
Protestos de Deputados da IL.
O Sr. João Dias (PCP): — Vai tudo para os privados!
O Sr. André Ventura (CH): — Mas, Sr. Deputado, sabe porque é que não explica?
Protestos da IL.
Sabe porque é que não explica?
Risos de Deputados da IL.
Sabe porque é que não explica? Porque a vossa incompetência nesta matéria é tão grande, tão grande, que
nem sabem o que querem escrever.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Sr. Deputado André Ventura, tem de concluir.
O Sr. André Ventura (CH): — Não sabem o que querem escrever, mas há uma coisa que sei que vocês querem: querem destruir completamente a Administração Pública portuguesa. Nós não vamos deixar!
Aplausos do CH.
O Sr. João Dias (PCP): — É um lobo em pele de cordeiro!
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Miguel Santos, do Grupo Parlamentar do PSD.
O Sr. Miguel Santos (PSD): — Sr.ª Presidente: O Sr. Deputado André Ventura, já todos repararam nos últimos meses, a propósito do tabaco, do SNS, dos radares de trânsito ou de qualquer assunto, refere-se sempre
ao PSD.
O Sr. André Ventura (CH): — Oh, então?!
O Sr. Miguel Santos (PSD): — Isto porque o Deputado André Ventura agora tem uma nova estratégia mediática: convenceu-se de que, se disser que o PSD é mau, muito mau, péssimo, horrível, vai ser uma estrela
no firmamento e, portanto, vai crescer! Enfim…
Protestos de Deputados do PS, do BE e contraprotestos do Deputado do CH Pedro Pinto.
Contudo, depois, temos de ver exatamente o que é que, em termos substantivos, representa o Chega e o Sr.
Deputado André Ventura. Por exemplo, vejamos esta veia social-democrata, com que ele hoje se travestiu para
se apresentar aqui no Parlamento.
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Protestos de Deputados do CH e contraprotestos de Deputados do PSD.
O Sr. Filipe Melo (CH): — Como é que ficou em Valongo, na concelhia?
O Sr. Miguel Santos (PSD): — Em 2019, o Chega e o Sr. Deputado André Ventura defendiam a privatização dos hospitais, a privatização das escolas, a privatização das vias de comunicação e a dos meios de transporte.
O Sr. André Ventura (CH): — Vocês têm é medo!
O Sr. Filipe Melo (CH): — E a concelhia? Como é que ficou?
O Sr. Miguel Santos (PSD): — Agora, não! Agora, o Sr. Deputado André Ventura está com uma matriz social-democrata e humanista e está preocupado com o SNS, com um sistema que garanta a universalidade e
a gratuidade do acesso e já esqueceu um bocadinho a questão privada.
Nós não esquecemos nenhum setor,…
O Sr. Pedro Pinto (CH): — Nada!
O Sr. Miguel Santos (PSD): — … os senhores sabem, assumimos que tem de haver uma complementaridade.
Protestos de Deputados do CH.
Quanto aos projetos que o Chega apresenta e arrasta hoje para este debate, não o referi, mas o primeiro
sugere que, esgotados os tempos máximos de resposta garantida, vamos supletivamente ao setor privado e ao
setor social para as consultas.
O Sr. André Ventura (CH): — É o que faz sentido!
O Sr. Miguel Santos (PSD): — O Sr. Deputado, obviamente, é um «copião»!
Protestos do CH.
É um «copião»! Copiou uma proposta do PSD apresentada em junho e que a maioria do Partido Socialista
chumbou. Portanto, o Sr. Deputado é um «copião», repito, é um «copião»! Tem andado à solta, mas é preciso
agora começar a colocar o prisma verdadeiramente naquilo que acontece.
Aplausos do PSD.
Risos do CH.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Peço que conclua, Sr. Deputado.
O Sr. Miguel Santos (PSD): — O segundo aspeto, Sr.ª Presidente, é a segunda proposta que vem por arrastamento.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Não tem tempo, Sr. Deputado, para passar ao segundo aspeto.
O Sr. Miguel Santos (PSD): — Vou terminar, Sr.ª Presidente.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Já ultrapassou em muito o seu tempo.
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O Sr. Miguel Santos (PSD): — É como perguntar a uma criança se gosta de rebuçados.
Protestos do CH.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Sr. Deputado, não queria usar o mecanismo de cortar a palavra, portanto, faça o favor de concluir, rapidamente.
O Sr. Miguel Santos (PSD): — Vou concluir, Sr.ª Presidente. É como perguntar a uma criança se gosta de rebuçados, quando diz assim: no interior, onde há mais
necessidade, é preciso reforçar médicos, é preciso reforçar operacionalmente em termos técnicos e logísticos,
concordam? Concordamos, sim. Concordamos, é verdade!
Aplausos do PSD.
Protestos do CH.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para uma curta intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João Cotrim Figueiredo.
O Sr. João Cotrim Figueiredo (IL): — Sr.ª Presidente: O Sr. Deputado André Ventura hoje tirou o dia para acusar a Iniciativa Liberal de coisas que o Chega faz. Destruir a Administração Pública? Quem é que tinha no
programa que queria extinguir o Ministério da Educação e acabar com o SNS?
Protestos do CH.
Quem é que tinha no programa que não competia ao Estado garantir absolutamente nada? Serviços públicos
de educação, serviços públicos de saúde, vias de comunicação, transportes e comunicações. Nada! Nada!
Portanto, Sr. Deputado André Ventura, não acuse os outros daquilo que o senhor defende.
Aplausos da IL.
O Sr. André Ventura (CH): — Sr.ª Presidente, peço a palavra.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Sr. Deputado André Ventura, pede a palavra para que efeito?
O Sr. André Ventura (CH): — É só para uma interpelação à Mesa, verdadeiramente à Mesa, Sr.ª Presidente.
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — É sempre, mas depois, não!
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Faça favor, Sr. Deputado.
O Sr. André Ventura (CH): — Peço à Sr.ª Presidente que distribua, pelos Grupos Parlamentares do PSD e da Iniciativa Liberal, o programa moderno, justo e humanista do Chega para as eleições.
Aplausos do CH.
Risos de Deputados do PSD e da IL.
O Sr. Paulo Marques (PS): — Qual é a versão? Qual é a versão do programa?
O Sr. Rui Tavares (L): — Só tem duas páginas!
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O Sr. Filipe Melo (CH): — 600 votos! Tu tiveste mais votos do que a concelhia de Valongo!
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Obviamente que não é uma interpelação à Mesa, uma vez que o programa é público, é conhecido e, portanto, a Mesa não tem de se substituir ao interesse de cada um dos
consultores.
Vamos passar à fase de encerramento. Tem a palavra a Sr.ª Deputada Joana Cordeiro, da IL.
Protestos do L e contraprotestos do CH.
Srs. Deputados, peço silêncio.
Protestos do Deputado do CH André Ventura.
Sr. Deputado André Ventura, faça o favor de respeitar a sua colega.
Tem a palavra, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Joana Cordeiro (IL): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Portugal precisa de debater um novo modelo de saúde. O modelo atual, centralizado no SNS, já não consegue responder a todas as necessidades.
É isso que todas as pessoas sentem, ou sentem aquelas que não têm alternativa senão recorrer ao SNS.
Sentem aquelas que têm de ir para a fila do centro de saúde, de madrugada, mas já não vão só de madrugada,
também já vão no dia anterior; sentem aquelas que esperam e desesperam por uma consulta de especialidade
ou cirurgia; e sentem também os profissionais de saúde, que não veem o seu trabalho valorizado. Portanto, está
mais do que na altura de fazermos este debate.
O projeto de lei que hoje apresentamos propõe uma nova Lei de Bases da Saúde que permite enquadrar um
modelo de saúde de cariz liberal, ambicioso e exequível, que se inspira nos modelos europeus que melhores
resultados têm, mas adaptado à nossa realidade. Portanto, um modelo que funciona.
Porém, toda esta discussão que aqui se fez demonstrou, mais uma vez, que nos vamos atrasar a encontrar
a solução para um problema que hoje é mais do que evidente. A esquerda continua a dizer que quer salvar o
SNS, mas isso apenas quer dizer atirar mais dinheiro para cima do problema, quando o problema não é só
dinheiro.
Protestos da Deputada do BE Isabel Pires e do Deputado do PCP João Dias.
Em vez de discutir a proposta concreta, inventa o que não está lá escrito e imagina as nossas intenções. Diz
que a Iniciativa Liberal quer entregar o SNS a privados quando os privados cresceram exatamente por causa
das medidas que vocês defendem — medidas que vocês defendem e que já mostraram que não funcionam.
Aplausos da IL.
Protestos do Deputado do PCP João Dias.
Temos um Partido Socialista que vê um SNS diferente, mas que não foi capaz, em oito anos, de prever, de
planear e de agir.
Srs. Deputados, não podemos continuar a perder tempo. A experiência diz-nos que as ideias liberais vão
fazendo o seu caminho. Vamos abreviá-lo, vamos discutir esta proposta na especialidade. Vamos dar mais
soluções, soluções corajosas a quem precisa de cuidados de saúde, porque, se não alterarmos o atual modelo
de saúde, condenamos Portugal a ser um país mais doente, mais infeliz e socialmente mais injusto — e não é
este, de certeza, o Portugal que os portugueses ambicionam.
O Sr. João Dias (PCP): — Nunca houve tantos privados como agora! Há 128 hospitais privados!
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A Sr.ª Joana Cordeiro (IL): — Srs. Deputados, está nas vossas mãos provar que se importam com as pessoas e não apenas com a manutenção de um modelo esgotado. Está nas vossas mãos provar que se
importam com as pessoas e não com o partido que abre este debate. Está nas vossas mãos não deixar as
pessoas à espera. Não façam as pessoas perderem mais tempo.
A Iniciativa Liberal fez a sua parte, façam agora a vossa.
Aplausos da IL.
Protestos do Deputado do PCP João Dias.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Passamos ao terceiro ponto da nossa ordem de trabalhos e, para apresentar o Projeto de Resolução n.º 763/XV/1.ª (PS) — Recomenda ao Governo novas soluções de
monitorização e abastecimento de água em Portugal, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro do Carmo.
O Sr. Pedro do Carmo (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O projeto de resolução que apresentamos recomenda ao Governo novas soluções de monitorização e abastecimento de água em Portugal.
Sr.as e Srs. Deputados, para um alentejano como eu, falar de água ou, melhor, da sua falta é sempre um
imperativo. É uma oportunidade que não perdemos nunca, pois sentimos sempre, ao longo de várias décadas,
o quão difícil é viver com a sua escassez.
Não é novidade para nenhum de nós que o padrão de vida do mundo ocidental levou ao desenvolvimento de
um modelo económico que obriga a uma satisfação permanente e imediata das nossas necessidades, levando
ao aproveitamento extremo dos recursos do planeta, nomeadamente do bem essencial, que é a água.
A água é um direito humano. Ninguém deve ter esse acesso negado, afirmou António Guterres, Secretário-
Geral das Nações Unidas, como também afirmou que vivemos um momento de emergência climática.
O Sr. Pedro Pinto (CH): — Uh!
A Sr.ª Rita Matias (CH): — Ui, ui! Eles «andem» aí!
O Sr. Pedro do Carmo (PS): — Fruto das alterações climáticas, perante os impactos que provocamos no planeta, é, pois, fundamental e urgente que os Governos adotem medidas de mitigação dos efeitos adversos e
que, ao mesmo tempo, ganhem a disponibilidade e eficiência dos recursos essenciais à vida, à agricultura e às
restantes atividades económicas.
Assim, urge adotar medidas de adaptação de forma a garantir simultaneamente o crescimento económico e
o bem-estar das populações, assegurando sempre que esta transição é justa e equilibrada. É, sem dúvida, uma
fórmula difícil de aplicar, até pela sua emergência.
É, portanto, fundamental que o Governo desenvolva um conjunto de medidas que permitam, em
convergência, ou em exceção, com as políticas europeias, garantir uma boa gestão dos recursos hídricos
nacionais. No caso ibérico, Portugal e Espanha já deram um bom exemplo de como é possível, em conjunto,
implementar soluções excecionais de aplicação ibérica, como foi com o pacto para a energia.
Devemos também agora consolidar a cooperação política e económica na gestão conjunta para os recursos
hídricos, a designada Convenção de Albufeira, pois boa parte do território continental português é ocupada por
bacias hidrográficas partilhadas com a Espanha, sendo que cerca de 40 % das correntes superficiais que
ocorrem em Portugal têm, como VV. Ex.as sabem, origem no país vizinho.
Os rios e as águas não têm fronteiras. Um bom exemplo disto que vos digo é a barragem do Alqueva e todo
o impacto que tem tido no País e, em particular, em todo o Alentejo. Pergunto-me, muitas vezes, o que seria
económica e socialmente desta região se não tivesse sido a coragem do Governo em construir e continuar a
investir na vasta rede de canais e açudes do Alqueva.
Fruto deste investimento, que foi e é legalmente construído, os distritos de Beja e Évora têm hoje um circuito
de distribuição de água, que vai de Barrancos a Odemira, passando por Viana do Alentejo. Garantimos, assim,
o abastecimento público às populações, mesmo em tempo de seca severa como o que vivemos.
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Aplausos do PS.
O mesmo esperamos agora para o distrito de Portalegre, com a decisão firme e corajosa de construir a
barragem do Pisão.
O Sr. Pedro Pinto (CH): — Quando?
O Sr. Pedro do Carmo (PS): — Boas decisões que, no entanto, e em face do momento que vivemos, poderão revelar-se insuficientes.
Foi nesse sentido, e em boa hora, que a Agência Portuguesa do Ambiente promoveu a realização de um
estudo, o qual visa conhecer quer as disponibilidades, quer as necessidades hídricas atuais e futuras em cenário
de alterações climáticas.
Sr.as e Srs. Deputados, as conclusões foram as esperadas e são evidentes. Em cerca de 20 anos, a
precipitação diminuiu 15 %, prevendo-se que diminua entre 10 % a 25% até ao final do século, e, pior, muito
pior,…
O Sr. Pedro Pinto (CH): — Pior é este Governo!
O Sr. Pedro do Carmo (PS): — … as disponibilidades diminuíram cerca de 20 %. Perante este cenário, é urgente atuar, quer do lado da oferta, quer do lado da procura, evitando diabolizar a
sua utilização em face da atividade que a usa. Quero com isto dizer que temos de criar condições que permitam
um maior armazenamento de água disponível, nomeadamente em barragens, e ao mesmo tempo assegurar
melhores e mais eficientes formas de utilização deste recurso finito.
Assim, para a aplicação de estratégias que permitam o uso racional e sustentável da água, o Partido
Socialista faz várias recomendações ao Governo.
Primeiro, que desenvolva um cronograma de implementação dos planos de eficiência hídrica das diferentes
regiões e das diferentes bacias hidrográficas, naturalmente com prioridade, com máxima prioridade, para as que
apresentam maiores níveis de escassez severa e extrema, como é o caso do Sado, Mira, Guadiana e também
das ribeiras do Algarve.
Segundo, que se construa uma central dessalinizadora no Alentejo, para assegurar o aumento da oferta
hídrica da região.
Terceiro, que se definam objetivos, monitorize e controle as perdas e consumos nas diferentes bacias,
estabelecendo metas e exigindo, naturalmente, o seu cumprimento.
Quarto, que se articule com os municípios de forma a conhecer os consumos em cada um dos setores e dos
novos projetos a desenvolver na sua área geográfica, ficando, assim, garantida e assegurada sempre a
segurança no abastecimento.
Quinto, que se apresente aqui no Parlamento planos de implementação de novas soluções. Temos de
encontrar novas soluções de abastecimento de água em Portugal. Água é vida. Território com água é riqueza.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — O Sr. Deputado tem um pedido de esclarecimento. Embora não disponha de tempo para responder, o Sr. Deputado Hugo Oliveira irá formulá-lo. Faça favor.
O Sr. Hugo Patrício Oliveira (PSD): — Sr.ª Presidente. Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Deputado Pedro do Carmo, saudamos, naturalmente, o facto de o Partido Socialista trazer a debate o tema da água, isto porque o
PS é o partido que sustenta o Governo,…
O Sr. Pedro do Carmo (PS): — E bem!
O Sr. Hugo Patrício Oliveira (PSD): — … e o Governo está em caudais mínimos, como sabe.
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Risos do Deputado do PS Pedro do Carmo.
Olhemos para o projeto de resolução apresentado pelo Partido Socialista e para o seu título: «Recomenda
ao Governo novas soluções de monitorização e abastecimento de água em Portugal». Ou seja, é o próprio
Partido Socialista a reconhecer que o Governo faz o quê? Pouco ou nada. E recomenda que faça o quê? Que
faça mais. E a pedir o quê? Que cumpra prazos.
Aplausos do PSD.
Ou seja, o Partido Socialista é especialista em sacudir a água do capote.
O Alentejo teve um verão difícil. A barragem de Santa Clara está no limite e em breve pode ficar sem água.
No Algarve, a situação agudiza-se ano após ano, sem respostas efetivas.
Precisamos da revisão do Programa Nacional para o Uso Eficiente da Água. Precisamos da publicação do
Plano Estratégico para o Abastecimento de Água e Gestão de Águas Residuais e Pluviais. A consulta pública
fechou há um ano, Sr. Deputado. Mas mais, Sr. Deputado: aí no meio das vossas sugestões ao Governo,
também têm exigências? Esta é a pergunta. Pergunto se vão exigir mais e questionar onde estão os planos e
os cronogramas.
Mais do que falar, é preciso que o Governo faça. Senão, um dia destes, vou ver o PS aqui a recomendar ao
Governo que também peça a dança da chuva para poder resolver os problemas da água.
Aplausos do PSD.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para apresentar o Projeto de Lei n.º 437/XV/1.ª (CH) — Alteração à lei dos serviços municipais de abastecimento público de água, de saneamento de águas residuais e de gestão de
resíduos urbanos, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Pinto. Faça favor.
O Sr. Pedro Pinto (CH): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Uma vez mais, o importante tema da água vem a este Plenário. No próximo domingo, comemora-se o Dia Nacional da Água, esse elemento
fundamental para a nossa sobrevivência. Infelizmente, em Portugal, continua sem ser aproveitada como deveria
ser, pois apenas se aproveita 12 %. São números que nos envergonham: 12 % da água potável é aproveitada
em Portugal.
Não deixa de ser curioso que apresentem este projeto de resolução do Partido Socialista como se viesse
resolver todos os problemas da água em Portugal, quando sistematicamente esse partido tem votado contra as
propostas do Chega que, essas sim, resolvem esses problemas.
Mais de uma dezena de projetos de lei e de resolução foram apresentados, como foi o caso daquele que
visava a criação da rede nacional da água, uma autêntica autoestrada de água pelo interior do País que iria
permitir as ligações Douro-Tejo-Guadiana-Algarve, ficando garantida, para lá de 2100, a água necessária aos
diferentes usos de todo o país, do Minho ao Algarve. Os Deputados do Partido Socialista rejeitaram esta
iniciativa.
Para o PS, a ideologia está sempre à frente dos portugueses. Este projeto é quase uma cópia, malfeita, do
projeto que aqui apresentámos em março de 2023 sobre a identificação dos recursos hídricos e que visava a
elaboração de matrizes hídricas regionais para saber com clareza a localização e quantificação dos recursos
hídricos em cada concelho. Para espanto de todos, ou talvez não, o PS votou contra.
Sabemos a importância da soberania energética de cada nação e que os recursos hídricos, em paralelo com
os energéticos, são fundamentais e uma das grandes questões que se coloca a nível global. O desperdício de
água potável em Portugal é gritante, por falta de estratégia ambiental e energética e má utilização dos recursos.
Por isso, propomos um sistema de gestão ambiental que inclua uma vertente de utilização eficiente de
energia e de redução de gases com efeito de estufa, implementados no prazo de dois anos, a contar da criação
de novas entidades gestoras, sejam elas públicas ou privadas.
As soluções que o Governo tem apresentado são inócuas e por vezes até repressivas dos direitos dos
cidadãos. O Ministro Duarte Cordeiro, em vez de trazer medidas, prefere reprimir. Todos os anos é a mesma
conversa: estamos em seca severa, as alterações climáticas, isto ou aquilo. Mas a grande verdade é que poucos
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passos se têm dado para combater. Como é possível que haja barragens no Algarve com 10 % da sua
capacidade ocupada? E qual a solução apresentada? Limitar o consumo de água, inclusive em casa e para os
banhos, cortar mais de 20 % de água para a agricultura e aumentar o seu preço. Ou seja, a solução do costume
do Partido Socialista — pagar, pagar e pagar.
Aplausos do CH.
Já em relação à Convenção de Albufeira, o que tem feito o Governo português quando os espanhóis nos
fecham as torneiras e não cumprem o acordo? Nada, nada. Silêncio total. Um Governo de inércia que se verga
ao Governo socialista espanhol.
Com a seca, são os agricultores os que mais sofrem. Este Governo, em vez de apelar e ajudar os agricultores
a criar reservatórios de água, pequenos açudes ou retenções de água, de forma mais autónoma e com menos
burocracia, quer é aumentar o preço da água e que esta não seja utilizada.
Sabemos da agenda que existe para acabar com o setor primário em Portugal. Os agricultores estão sob um
ataque cerrado deste Governo e destes ministros, em particular da ainda Ministra da Agricultura. No entanto,
terão sempre no Chega o seu porto de abrigo e a sua voz neste Parlamento.
Aplausos do CH.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para apresentar o Projeto de Lei n.º 853/XV/1.ª e os Projetos de Resolução n.os 821 e 822/XV/1.ª, todos do Bloco de Esquerda, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Filipe Soares.
Faça favor.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A seca é uma realidade em todo o nosso País e, sendo certo que há períodos do ano, cada vez menores, em que as regiões a norte ainda
conseguem escapar desta realidade, no último ano, a sul, nenhuma região escapou da situação de seca. Aliás,
nos últimos 20 anos, a precipitação no nosso País diminuiu cerca de 15 % e a perspetiva até ao final da década
é a de que possa ser ainda muitíssimo pior.
Face a isto, face a esta realidade, vemos que há um setor que consome cerca de 75 % da água captada. E,
desse setor, a agricultura, os grandes consumidores de água são os agricultores da agricultura intensiva e
superintensiva.
Resulta, portanto, destes dados uma constatação óbvia: Portugal não está a fazer o suficiente e há setores
que poderiam fazer mais para garantir um uso digno, um uso sensato da água.
Mas o nosso País corre o risco — e corre rapidamente por essa circunstância — de incumprimento da diretiva
da água. Essa diretiva diz que, em 2027, todas as massas de água deviam estar em bom estado ecológico,
encontrando no nosso País um incumprimento, em 45 %, das massas de água.
Ora, portanto, vemos uma situação de seca alarmante e vemos um País que não está a fazer o que devia
para responder a esta situação alarmante.
O Governo, sabemos, chega tarde, a más horas e muitas vezes a toque de caixa dos interesses instalados,
os mesmos que recebem 75 % da água no nosso País, o setor agrícola, em particular da agricultura intensiva e
superintensiva.
É por isso que várias propostas do Governo são exatamente as mesmas que estes setores defendem: maior
artificialização dos leitos hídricos, criação, por exemplo, de estações dessalinizadoras, e nunca tocando, ou
muito pouco, nos modos de produção, que é onde está o problema atualmente instalado.
Quem não pensa estrategicamente, quem não pensa a longo prazo, vai repetir erros, e é o que o Governo
está atualmente a fazer para não tocar nestes interesses económicos instalados.
Ora, o que o Bloco de Esquerda propõe é que, em primeiro lugar, haja um pensamento estratégico, estrutural,
sobre a água no nosso País, que se recupere o Instituto da Água, que a maioria PSD e CDS destruiu no período
da troica, que se reativem as administrações das regiões hidrográficas regionais e que se dê corpo aos
conselhos de regiões hidrográficas.
Com isso, temos um pensamento estrutural no País, temos o envolvimento dos diversos setores, incluindo
das entidades regionais e locais, e temos a criação de uma agenda a longo prazo capaz de defender não alguns
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interesses privados, não algumas capelinhas instaladas, mas sim o País como um todo para este desígnio, que
deveria ser um desígnio nacional.
Defendemos o investimento nas alterações de modo de produção — por exemplo, que os fundos da PAC
(política agrícola comum) possam ser promovidos para essa adaptação da agricultura — e que exista aquilo que
é necessariamente óbvio, uma moratória para as produções de consumo intensivo de água. Não podemos
promover mais consumo intensivo no momento em que o País tem tantas dificuldades.
Protestos do Deputado do PS João Miguel Nicolau.
Por último, defendemos algo que é incontornável: que as perdas de água que atualmente existem possam
ser devidamente sanadas. Portugal tem nos sistemas de distribuição de água perdas de água que não nos
podemos dar ao luxo de ter. Desse ponto de vista, o que os fundos do PRR deveriam fazer é também responder
a essa exigência.
As medidas que propomos são sensatas, são essenciais e só não irão para a frente se o Partido Socialista,
em vez de defender o País, em vez de responder perante a exigência das alterações climáticas, continuar a
estar ao lado de alguma elite económica, em particular da agricultura, e com isso falhar neste momento
fundamental.
Hoje, estamos a construir o futuro e esperemos que o futuro não seja o da falta de água.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para apresentar os Projetos de Resolução n.os 794, 809, 829 e 830/XV/1.ª (PSD), tem a palavra o Sr. Deputado Bruno Coimbra. Faça favor.
O Sr. Bruno Coimbra (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A importância estratégica de uma gestão sustentável e eficiente da água tem levado o PSD a apresentar várias propostas para este setor. Se nos
preocupam as alterações climáticas, a disponibilidade hídrica, as secas cada vez mais intensas ou a
vulnerabilidade das nossas regiões, a inércia e ineficácia do Governo redobra os motivos para alarme.
Hoje, trazemos a Plenário mais quatro projetos com propostas concretas que fazem falta ao País. Propomos
um programa de ação para a digitalização integral do ciclo da água, num contexto em que existem grandes
ineficiências. Modernizar a gestão da água tem de ser uma prioridade e é possível avançar bastante neste
campo. Basta ver o bom exemplo espanhol e o processo de evolução tecnológica que, aqui mesmo ao lado,
está em curso.
Apontamos, também, à modernização do sistema de monitorização de recursos hídricos. É premente evoluir
nas funcionalidades deste sistema e assegurar uma maior cobertura das massas de água.
No âmbito da reutilização de águas residuais tratadas — também na senda de outros projetos que aqui já
trouxemos —, propomos um programa dirigido à utilização destas no combate a incêndios rurais e, por fim,
propomos uma campanha nacional e plurianual para a poupança de água, mudando o paradigma das
campanhas tardias e ineficientes, que mudam frequentemente de mensagem e têm fracos resultados, numa
estratégia comunicacional plurianual inovadora que possa ser abrangente, impactante e eficaz.
A Sr.ª Joana Barata Lopes (PSD): — Muito bem!
O Sr. Bruno Coimbra (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, saudamos também os contributos hoje propostos por outros partidos. Acompanhamos o Bloco de Esquerda, na necessidade da criação de um
programa nacional de redução de perdas de água. Esta necessidade é tão óbvia e tão premente que, já no ano
passado, por duas vezes, apresentámos projetos no mesmo sentido. Existe um único motivo para que esse
programa não exista atualmente: o Partido Socialista e a sua maioria chumbaram as propostas do PSD.
Aplausos do PSD.
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Também acompanhamos o PAN, na necessidade da revisão do enquadramento dos planos de gestão de
bacia hidrográfica. Tanto estamos de acordo que propusemos e aprovámos, nesta Assembleia, a criação do
Grupo de Trabalho — Revisão e Atualização da Lei da Água, que irá rever este enquadramento, neste âmbito
que o PAN defende, que é o correto.
O que não podemos resolver, mais uma vez, nem aqui nem no grupo de trabalho, é, novamente, a lentidão
e o mau desempenho governativo socialista. Os planos de gestão das regiões hidrográficas 2022-2027
continuam, ao dia de hoje, por aprovar. É mais um atraso, para somar aos muitos deste Governo.
Ainda ontem, foi noticiado mais um comunicado da Comissão Europeia a ameaçar Portugal com a ida a
tribunal, por sucessivos atrasos nos planos de gestão hidrográfica e nos planos de gestão de inundações.
A verdade é que nós avisámos. No final do ano passado, apresentámos uma iniciativa para colmatar esta
necessidade e este problema. Adivinhem o que aconteceu mais uma vez? O Partido Socialista rejeitou!
Aplausos do PSD.
Pois bem, agora Portugal tem dois meses para o fazer, antes de o caso subir ao Tribunal de Justiça da União
Europeia.
O Partido Social Democrata tem priorizado o tema da água e apresentado inúmeras propostas para colmatar
as lacunas que a política governativa tem revelado ter neste setor.
Sr.as e Srs. Deputados, infelizmente, aquilo a que temos assistido é a uma maioria socialista que prefere fazer
de conta que faz, com um prejuízo óbvio para o País, que assiste impotente à eternização dos problemas.
Só nesta Legislatura, nove iniciativas do PSD sobre recursos hídricos foram rejeitadas; quatro foram
aprovadas, mas nunca implementadas; e três foram aprovadas e depois anuladas no Orçamento do Estado
seguinte. Esperemos que hoje possamos assistir a uma postura mais aberta às soluções e novos caminhos para
podermos enfrentar os desafios da gestão sustentável com maior sucesso. Disse.
Aplausos do PSD.
Entretanto, reassumiu a presidência o Vice-Presidente Adão Silva.
O Sr. Presidente: — Cumprimento as Sr.as e os Srs. Deputados. Passamos, agora, aos dois Projetos de Resolução do PAN: Projeto de Resolução n.º 870/XV/1.ª (PAN) —
Recomenda ao Governo que proceda a uma revisão do enquadramento legal dos planos de gestão de bacia
hidrográfica, com vista à sua adaptação aos cenários climáticos e Projeto de Resolução n.º 871/XV/1.ª (PAN) —
Recomenda ao Governo que proceda à elaboração e à implementação de um plano para a transição
agroecológica. Para usar da palavra, tem a palavra a Sr.ª Deputada Inês de Sousa Real.
A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Apesar do tema que aqui nos traz hoje, não posso deixar de referir que se assinala hoje o Dia Internacional da Consciencialização sobre
Perdas e Desperdício Alimentar, um tema que está intrinsecamente ligado com as perdas, não só no desperdício
de água, pois sem água também não haverá, evidentemente, alimentação para a nossa sobrevivência.
Gostaria, também, de destacar que me apraz ver que, finalmente, da Comissão da Agricultura vemos uma
referência e um casamento com o Pacto Ecológico Europeu e a preocupação com as alterações climáticas.
Aguardo, expectantemente, o dia em que veremos o Sr. Deputado Pedro do Carmo a falar, também, na defesa
e proteção dos animais.
O Sr. Pedro do Carmo (PS): — Vão começar a comer bananas da Madeira?
A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — Mas em relação a este tema que temos aqui, ao tema que aqui nos traz hoje…
Sr. Deputado, isto era um elogio, não precisa de se enervar!
O Sr. Pedro do Carmo (PS): — Obrigado pelo elogio!
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Protestos do CH.
A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — Vivemos já hoje, aqui, em pleno colapso climático, e a evidência disso são, sem dúvida, os eventos climáticos extremos a que temos assistido um pouco por toda a parte, em todas
as…
Pausa.
Quando puder continuar…
O Sr. Presidente (Adão Silva): — Queira prosseguir, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — Muito obrigada, Sr. Presidente. Uma pessoa não pode elogiar! Se fosse uma ofensa seria pior.
O Sr. Presidente (Adão Silva): — Os elogios de V. Ex.ª tinham boa vontade, mas nem por isso tiveram bom acolhimento!
Risos do PS, do PSD e do CH.
Queira prosseguir, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — Temos assistido, de facto, à emergência climática um pouco por todo o globo. Portugal não é exceção, seja com a seca extrema e os seus efeitos, seja com o impacto, também, das
cheias.
A agricultura é, também, uma parte importante do problema climático, nomeadamente naquilo que diz
respeito à perda de água e àquilo que é o seu impacto quando falamos do consumo de mais de 70 % da água
ao nível global. Só em Portugal, cerca de 75 % da água é utilizada na atividade agrícola e pecuária, apesar de
cerca de 15 % ser irrigável.
A disponibilidade destes recursos hídricos e o acesso à água potável constituem, sem dúvida, um dos
maiores desafios que Portugal terá de enfrentar, e quem o diz é o mais recente relatório do IPCC
(Intergovernmental Panel on Climate Change).
É, por isso, urgente contrariar este processo, nomeadamente, alterando os padrões de utilização nos setores
com o consumo mais intensivo de água, como o da agricultura e, em particular, o da pecuária intensiva, mudando
o paradigma, mas também os lobbies que estão instalados e encontrar aqui uma resposta, através de uma
estratégia nacional assente numa transição agroecológica, dando primazia aos serviços de ecossistemas, em
detrimento do aumento, por exemplo, do regadio ou das barragens, que qualquer dia não terão água para as
encher.
O Sr. Pedro Pinto (CH): — Tanta asneira!
A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — Também o PAN vem prever…
O Sr. Presidente (Adão Silva): — Sr.ª Deputada, tem de concluir.
A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — Vou mesmo concluir, Sr. Presidente. O PAN também prevê, aqui, a revisão dos planos de gestão de bacia hidrográfica, com vista ao seu
ajustamento aos cenários climáticos, nomeadamente, a escassez da água, o aumento da temperatura e
aumento do número e gravidade de episódios de seca, para que, efetivamente, possamos travar o agravamento
do colapso climático.
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O Sr. Presidente (Adão Silva): — Agora, vamos passar às intervenções. Para a primeira intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado do Livre, o Deputado Rui Tavares.
O Sr. Rui Tavares (L): — Sr. Presidente: Saúdo o PS pela marcação deste debate e também os outros partidos que apresentaram propostas.
Gostaria de me focar num aspeto que tem a ver com as nossas relações ibéricas e internacionais com
Espanha, uma vez que, com as notórias exceções do Sado e do Mondego, a maior parte das bacias
hidrográficas, a maior parte dos rios nacionais, dos grandes rios, vêm de Espanha. E, portanto, tudo o que
acontece em Espanha tem efeito sobre os caudais em Portugal. Estas relações são reguladas pelo acordo de
Albufeira, que tem já 23 anos, que já não era muito favorável a Portugal, e que é preciso rever.
Acontece que agora estamos numa situação em que, como a pressão da falta de água se faz sentir sobre
muitos países, e sobre Espanha também, é possível que a renegociação acabe por encontrar do lado espanhol
ainda uma barreira maior.
Portanto, o que quero perguntar, nomeadamente ao PS, que apoia o Governo, é se o Governo vai avançar
para uma rediscussão do acordo de Albufeira, como, aliás, prometeu em 2019, nas discussões que tivemos aqui
para o Orçamento do Estado para 2020, ou se pretende europeizar a questão, propondo, no fundo, rever a
Diretiva-Quadro da Água, de forma que a nossa relação bilateral com Espanha passe a estar com um quadro
muito mais exigente ao nível europeu, que nos permita resguardarmo-nos dos problemas que temos hoje, muitas
vezes por causa dos caudais que não vêm de Espanha.
O Sr. Presidente (Adão Silva): — Para uma intervenção, pelo Grupo Parlamentar do PCP, tem a palavra o Sr. Deputado Duarte Alves.
O Sr. Duarte Alves (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A situação de seca que o País tem vivido demonstra bem as consequências, por um lado, das alterações climáticas e, por outro, das opções
políticas de décadas no que diz respeito à política da água.
Num cenário que é de escassez, mas sobretudo de variabilidade da existência do recurso água, temos uma
péssima gestão dos recursos hídricos, uma ausência de planeamento sério, um incorreto ou inexistente sistema
de autorização dos usos da água.
A iniciativa do PS não aborda este problema fundamental, não aborda a necessidade de priorizar os usos da
água, de acordo com as disponibilidades de cada uma das bacias hidrográficas e com as necessidades
hierarquizadas em função de critérios de interesse público.
Ignora esse primeiro passo fundamental, para passar logo para uma solução última, que é a dessalinização.
O Sr. João Dias (PCP): — Muito bem!
O Sr. Duarte Alves (PCP): — Muito antes de se equacionar a dessalinização, é preciso garantir que em cada bacia hidrográfica se conhece o balanço hídrico até maio, ou seja, a relação entre a água existente em cada
reservatório, natural ou artificial, e quais as necessidades e captações instaladas. Essa informação é
fundamental para, depois, se decidir uma adequada priorização dos usos da água disponível.
Em vez disso, continuamos a ter um crescimento descontrolado de culturas que exigem muita água, como o
olival intensivo — que é regado, ao contrário do olival tradicional —, como o amendoal, o abacate, as estufas
de frutos vermelhos e, ainda, os campos de golfe.
O Sr. João Dias (PCP): — Exato!
O Sr. Duarte Alves (PCP): — O PS não quer priorizar usos; não quer que se assuma o princípio de que são as culturas que se devem adaptar à disponibilidade hídrica do território, e não o contrário; não quer planear os
recursos existentes, tendo em conta a sua variabilidade, mas quer ir logo para a solução de último recurso, que
é a dessalinização, uma tecnologia cara, poluente, que utiliza muita energia e que, por isso, só deve ser usada
quando esgotadas todas as outras soluções.
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E perguntamos: a quem serve uma tecnologia que não consegue dessalinizar por menos de 50 cêntimos por
metro cúbico, dez vezes mais do que o preço da água do Alqueva?
O Sr. João Dias (PCP): —Bem visto!
O Sr. Duarte Alves (PCP): — A quem é que serve, a que tipo de agricultura é que serve, esta solução da dessalinização? Não é, seguramente, nem ao consumo doméstico, nem a uma grande parte da agricultura do
Alentejo e de grande parte do nosso País.
Quanto a outras iniciativas em discussão, votaremos a favor das que promovem a água como recurso público,
com usos hierarquizados, votaremos contra as propostas que vão no sentido da privatização da água…
O Sr. Presidente (Adão Silva): — Sr. Deputado, permita-me interrompê-lo para pedir aos Srs. Deputados um pouco mais de silêncio para ouvirmos o nosso colega, o Sr. Deputado Duarte Alves.
Tem a palavra para prosseguir.
O Sr. Duarte Alves (PCP): — Muito obrigado, Sr. Presidente. Dizia que, quanto a outras iniciativas em discussão, votaremos a favor daquelas que promovem a água como
recurso público, com usos hierarquizados, contra as propostas que vão no sentido da privatização da água,
como é o caso da proposta do Chega, e não acompanharemos propostas que pretendem proibir qualquer nova
área de regadio, independentemente da região e da sua situação hidrográfica.
O Sr. João Dias (PCP): — Muito bem!
O Sr. Duarte Alves (PCP): — O PCP não deixará de intervir, em tempo próprio, por uma lei da água que garanta a água como bem público e universal, com uma gestão hierárquica dos usos, de acordo com o interesse
público.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Adão Silva): — Sr. Deputado Duarte Alves, já agora, um elogio para a excelência da gestão do seu tempo. Muito bem!
Para uma intervenção, agora pelo Grupo Parlamentar da Iniciativa Liberal, tem a palavra o Sr. Deputado
Bernardo Blanco.
O Sr. Bernardo Blanco (IL): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Gostaria de começar por congratular o Partido Socialista por este agendamento, pela importância do tema da água, mas também, em parte, pelo
atrevimento aqui demonstrado.
O PS, há poucos meses, votou contra a seguinte proposta da Iniciativa Liberal: «No âmbito do Plano Regional
de Eficiência Hídrica do Alentejo […], seja assegurado o aumento da oferta hídrica na região, através da
construção de, pelo menos, uma central de dessalinização», de que andamos a falar há um ano.
Agora, o PS propõe — tentem descobrir as diferenças — que o Governo «Preveja no Plano Regional de
Eficiência Hídrica do Alentejo, a construção de uma central dessalinizadora, de forma a assegurar o aumento
da oferta hídrica na região».
O Sr. João Dias (PCP): — Já cedeu!
O Sr. Bernardo Blanco (IL): — A única diferença é que trocaram a ordem das frases. Votaram contra uma proposta, copiaram-na, trocaram a ordem das frases, e agora o PS propõe. Assim se vê a coragem e a coerência
de alguns.
O Sr. Pedro do Carmo (PS): — O que parece não é!
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O Sr. Bernardo Blanco (IL): — Na altura, o PS justificou o voto contra, dizendo que a dessalinização não era a solução para tudo, que ainda faltava estudar mais, etc. Passou o verão e, afinal, o PS já propõe. Não sei
o que é que a bancada do Partido Socialista estudou durante o verão, mas eu sei o que é que aconteceu.
O Sr. Pedro do Carmo (PS): — Sabe? Então diga lá!
O Sr. Bernardo Blanco (IL): — O que aconteceu foi que o Governo colocou em consulta pública, que termina amanhã, o Plano Regional de Eficiência Hídrica do Alentejo, que propõe duas centrais dessalinizadoras, aquilo
de que estamos a falar há muito tempo. E o PS — tendo o Governo proposto aquilo de que nós já andávamos
a falar —, afinal, já é a favor das centrais dessalinizadoras
Muito bem! Assim se veem os princípios de alguns. Mais vale tarde, certamente, do que nunca!
Parece que já é claro que, em algumas regiões, é inevitável promovermos uma expansão da oferta de água.
Se a dessalinização é suficiente? Não é. E achamos que é, sobretudo, para situações de emergência.
A diminuição do desperdício nas redes — que o Estado não resolve, e onde o desperdício é em percentagens
avassaladoras—, a reutilização de águas residuais, a reutilização de águas cinzentas, a melhoria da eficiência
hídrica, são, obviamente, fundamentais.
Para além disso, é claro para nós, enquanto partido liberal, que quem utiliza a água deve pagar por ela, e o
seu preço deve refletir a disponibilidade hídrica da região onde está a ser usada.
Por isso, devemos também olhar, como hoje já se falou, para as disparidades na oferta entre diferentes
regiões e apostar em autoestradas de água para uma melhor distribuição.
O Sr. Duarte Alves (PCP): — Autoestradas de água! Ai, ai!
O Sr. Bernardo Blanco (IL): — São todos estes aspetos que esperamos ver refletidos na revisão da Lei da Água, que este Parlamento também fará.
Devemos trabalhar sem virar os portugueses uns contra os outros, sem demonizar a agricultura ou o turismo,
como alguns partidos querem fazer, e sem condenar regiões inteiras a ficar atrás do resto do País.
A Iniciativa Liberal entende que, em consenso, nesta revisão da Lei da Água, que certamente dará muito
trabalho, o Parlamento deve garantir um futuro de abundância e prosperidade para todas as zonas do País.
Aplausos da IL.
O Sr. Presidente (Adão Silva): — Para uma intervenção pelo Grupo Parlamentar do Chega, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Pinto.
O Sr. Pedro Pinto (CH): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, quase no final deste debate, queria dizer que este é um debate demasiado importante para termos tido aqui algumas farsas. Algumas propostas são
autênticas farsas, como por exemplo as do Bloco de Esquerda.
O Bloco de Esquerda vem aqui acusar, mais uma vez, os bandidos dos agricultores de nos levarem 75 % da
água e dizer que o grande problema da seca em Portugal é a agricultura, os agricultores portugueses. Não, Sr.
Deputado, não são os agricultores portugueses!
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Não, são os que vocês defendem!
O Sr. Pedro Pinto (CH): — É graças aos agricultores portugueses que Portugal ainda continua no mercado, com os seus produtos.
Aplausos do CH.
Percebemos, claramente, porque é que o Sr. Deputado falta, sucessiva e sistematicamente, à Comissão de
Agricultura e porque é que o Bloco de Esquerda raramente lá vai.
As barragens são fundamentais para reter água.
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O Sr. Deputado disse: «Queremos reter a água». Então como é que fazemos? É nas piscinas? É nas piscinas
do Robles e dos seus Robles que vamos reter a água? Não! As barragens são fundamentais e, por isso, as suas
propostas e as propostas do PAN…
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Vá estudar, homem!
O Sr. Pedro Pinto (CH): — … são uma autêntica farsa para a discussão que estamos aqui a ter.
Aplausos do CH.
Depois, ouvi também o PSD a dizer «seguindo o bom exemplo espanhol», mas, ó Sr. Deputado, em Espanha
há um Governo socialista, um péssimo Governo socialista que não tem sido um bom Governo para os
agricultores. Portanto, o mau exemplo de Espanha não podemos seguir.
O Sr. Duarte Alves (PCP): — Vocês querem é o mesmo que em Espanha!
O Sr. Pedro Pinto (CH): — E qual foi a proposta do PSD? Propor mais um grupo de trabalho nesta Assembleia da República.
Quanto à Convenção de Albufeira, Sr. Deputado Pedro do Carmo, o Sr. Ministro do Ambiente disse: «Portugal
não está disponível para rever a Convenção de Albufeira». Quando todos sabemos que os espanhóis não estão
a cumprir, Portugal não está disponível para rever a Convenção de Albufeira. Não está disponível, porque
gostamos de andar sempre de mão estendida aos espanhóis,…
A Sr.ª Rita Matias (CH): — É! Aos socialistas!
O Sr. Pedro Pinto (CH): — … a pedir-lhes que, por favor, nos deem água, e é isso que não pode acontecer. Sabe porquê, Sr. Deputado? Porque nós temos um projeto…
O Sr. Pedro do Carmo (PS): — Não fale do que não sabe!
O Sr. Presidente (Adão Silva): — Tem de concluir, Sr. Deputado.
O Sr. Pedro Pinto (CH): — Termino, Sr. Presidente. Temos um projeto que faz com que Portugal seja autossuficiente na água, que consiste na rede nacional da
água.
O Sr. Pedro do Carmo (PS): — Não sabe! Não fale do que não sabe!
O Sr. Pedro Pinto (CH): — O que eu gostaria era que os Srs. Deputados estivessem aqui a perguntar quanto é que isso vai custar. Ou seja, isso é que era importante.
Nós estamos a fazer…
Protestos do Deputado do PS Pedro do Carmo.
O Sr. Presidente (Adão Silva): — Tem mesmo de concluir, Sr. Deputado. Tem de concluir, mesmo.
O Sr. Pedro Pinto (CH): — Termino, Sr. Presidente. Nós estamos a criar uma ligação do Douro ao Tejo, ao Guadiana, ao Algarve, em que não vai fazer falta a
água dos espanhóis. Somos autossuficientes e andamos sempre de mão estendida, mas estamos fartos de
andar de mão estendida.
Aplausos do CH.
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Temos água em Portugal!
O Sr. Presidente (Adão Silva): — Sr. Deputado, reitero a necessidade de concluir.
O Sr. Pedro Pinto (CH): — Muito obrigado, Sr. Presidente, e agradeço a sua condescendência.
Aplausos do CH.
Protestos do Deputado do PS Pedro do Carmo e do Deputado do BE Pedro Filipe Soares.
O Sr. Presidente (Adão Silva): — Para uma intervenção — breve, com certeza —, tem a palavra o Sr. Deputado Bruno Coimbra, do Grupo Parlamentar do PSD.
O Sr. Bruno Coimbra (PSD): — Sr. Presidente, é muito breve. Eu até já não me iria inscrever, até porque só tenho 5 segundos, mas esta intervenção do Sr. Deputado Pedro Pinto faz-me vir prestar-lhe um
esclarecimento, já que, notoriamente, ou não percebeu nada do que eu disse ou não leu os nossos projetos.
Nós falámos de Espanha como um bom exemplo no que diz respeito…
O Sr. Pedro Pinto (CH): — Tenho de explicar tudo!
O Sr. Bruno Coimbra (PSD): — Ao menos ouça, Sr. Deputado! Já agora, posso explicar-lhe. Nós falámos de Espanha como um bom exemplo da revolução tecnológica que está a fazer e que nós
precisamos de acompanhar e fazer também cá, no que se refere à digitalização do ciclo da água.
Protestos do Deputado do CH Pedro dos Santos Frazão.
Em relação ao grupo de trabalho que criticou, sendo que nenhuma das propostas que o PSD traz é sobre
esse grupo de trabalho, foi para a revisão da Lei da Água — que precisa, de facto, de ser revista — e foi aprovado
por uma ampla maioria nesta Casa.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (Adão Silva): — Pedia às Sr.as. Deputadas e aos Srs. Deputados um pouco mais de serenidade no espaço parlamentar. Não é por nada, mas é porque vou dar agora a palavra ao Sr. Deputado
Ricardo Pinheiro.
Tem a palavra, Sr. Deputado.
O Sr. Ricardo Pinheiro (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Sendo a água um dos elementos mais importantes que a Europa hoje pode discutir, eu diria mesmo que a forma como as regiões e os países se
organizam em relação à partilha da água é um dos pontos fundamentais naquilo que possa ser a futura revisão
da Lei da Água.
Aproveitava para fazer uma pergunta, em matéria de água e de relações bilaterais, no sentido de perceber,
por exemplo, a forma como o Partido Chega se organiza com o seu congénere espanhol, o Vox, na medida em
que uma das principais propostas do Vox é, precisamente, fazer um transvase do Tejo para o Segura,…
A Sr.ª Rita Matias (CH): — Nós não somos da família europeia deles!
O Sr. Ricardo Pinheiro (PS): — … em que, claramente, se compromete de forma bárbara aquilo que pode ser a disponibilidade hídrica para os agricultores e para a agricultura portuguesa.
Aplausos do PS.
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O Sr. Pedro Pinto (CH): — Está aqui!
O orador exibiu um documento intitulado «Rede Nacional da Água».
O Sr. Ricardo Pinheiro (PS): — Em relação ao PSD — e, de facto, existem enormes pontos de união nesta matéria —, gostaria de falar em algumas questões.
Sei bem que, durante muitos anos, o norte do País esperou por se fazer um transvase do Douro para o Paiva
e, desta forma, garantir a resiliência nos sistemas de abastecimento, nomeadamente no concelho de Viseu.
O Sr. Pedro Pinto (CH): — É uma charca! É uma charca pequenina!
O Sr. Ricardo Pinheiro (PS): — Também sei bem que a população do Alto Alentejo, mas também do Baixo Alentejo, em relação ao Alqueva, esperou muitos anos para que as diferentes formas de governação e ideologias
político-partidárias do PSD se assumissem de forma efetiva e decidissem, de uma vez por todas, construir o
empreendimento de fins múltiplos do Pisão, a barragem do Crato.
Protestos do Deputado do CH Pedro Pinto.
De facto, em muitas situações, é preciso termos a objetividade de decidir e tomar medidas públicas para que
este modelo de resiliência em relação aos abastecimentos de água se possa fazer de uma forma efetiva.
O sistema nacional de informação em relação aos recursos hídricos e hidrográficos, o português, é
considerado um dos melhores sistemas, do ponto de vista europeu, em relação à prestação de informação.
O Sr. Duarte Alves (PCP): — Não, não é!
O Sr. Ricardo Pinheiro (PS): — Reflexo disso é a forma como somos capazes de, praticamente em tempo real, monitorizar, a montante e a jusante, as quatro bacias hidrográficas portuguesas,…
O Sr. Pedro do Carmo (PS): — Essa é que é a verdade!
O Sr. Ricardo Pinheiro (PS): — … mas também das oito regiões hidrográficas que estão classificadas em Portugal.
O Sr. Presidente (Adão Silva): — Tem de concluir, Sr. Deputado.
O Sr. Ricardo Pinheiro (PS): — Mesmo assim, e neste âmbito de parceria e de trabalho em relação a melhorias, o Partido Socialista irá aprovar algumas das propostas que aqui foram apresentadas, no sentido de
conseguirmos garantir a resiliência a setores tão importantes como a agricultura, a indústria e,
fundamentalmente, a proteção de um recurso tão importante como a água.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (Adão Silva): — Fica, assim, encerrado o terceiro ponto da nossa ordem de trabalhos. Passamos ao quarto ponto da ordem de trabalhos, que consiste na discussão, na generalidade, dos Projetos
de Lei n.os 836/XV/1.ª (PSD) — Reforça a proteção e os direitos de todos os trabalhadores-estudantes,
420/XV/1.ª (PSD) — Cria o estatuto do estudante praticante de atividades artísticas no ensino superior,
851/XV/1.ª (IL) — Não discriminar os trabalhadores independentes face aos dependentes, na consideração dos
rendimentos dos jovens estudantes-trabalhadores, 886/XV/1.ª (CH) — Procede à isenção de propinas para
alunos a frequentar estágios profissionais obrigatórios em cursos do ensino superior, transversal a todas as
áreas de estudo, alterando a Lei n.º 37/2003, de 22 de agosto, que estabelece as bases do financiamento do
ensino superior e 904/XV/2.ª (PAN) — Salvaguarda o acesso dos trabalhadores independentes com estatuto de
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trabalhador-estudante ao abono de família, a bolsas de ensino superior e a pensões de sobrevivência, alterando
o Decreto-Lei n.º 70/2010, de 16 de junho, juntamente com os Projetos de Resolução n.os 873/XV/1.ª (PS) —
Recomenda ao Governo que promova melhores condições de acesso ao trabalho para estudantes e 881/XV/2.ª
(PAN) — Recomenda ao Governo que adote medidas de valorização do estatuto de trabalhador-estudante.
Para apresentação das iniciativas do PSD, tem a palavra o Sr. Deputado Alexandre Poço.
O Sr. Alexandre Poço (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Esta Casa serve para resolver problemas,…
O Sr. Eurico Brilhante Dias (PS): — Depende dos partidos que os apresentam!
O Sr. Alexandre Poço (PSD): — … e foi neste sentido que o Grupo Parlamentar do PSD agendou para hoje a discussão de dois projetos de lei, da autoria dos Deputados da Juventude Social Democrata, para garantir que
acabamos com discriminações e que avançamos com mais direitos para todos os estudantes.
O primeiro projeto de lei que trazemos reforça a proteção dos direitos de todos os trabalhadores-estudantes,
garantindo igualdade no tratamento. Não podemos aceitar a discriminação no acesso a apoios sociais entre
trabalhadores-estudantes dependentes e trabalhadores-estudantes independentes.
Com a atual legislação, são discriminados todos aqueles que fazem trabalho por conta própria, todos os que
fazem trabalho sazonal ou temporário, os que trabalham com recurso a recibos verdes ou os que usam, por
exemplo, um ato isolado. Muitos destes jovens precários necessitam, ainda assim, de ter acesso a direitos
sociais, nomeadamente a bolsas de estudo ou a pensões de sobrevivência.
No nosso entendimento, o acesso a apoios sociais não deve depender do vínculo laboral, mas, sim, da
carência económica. E, se é certo que avançámos recentemente na garantia de que os trabalhadores-
estudantes dependentes podem beneficiar do acesso a apoios sociais, estamos hoje perante uma gritante
discriminação, que coloca em causa o princípio da igualdade entre trabalhadores dependentes e independentes.
Não podemos discriminar os jovens que querem começar a sua vida ativa e que, por uma situação deste
género, podem acabar a prescindir de trabalhar ou até a optar pela informalidade.
Este tema motivou uma petição, recentemente lançada por muitos jovens — alguns dos quais nas galerias,
hoje, e que também saúdo —, e o PSD entendeu que era tempo de corrigir. Mas é tempo de corrigir com um
projeto de lei, não com um projeto de resolução, como o que o Partido Socialista traz a esta Casa,…
O Sr. Eurico Brilhante Dias (PS): — Tens de votar a favor, Alexandre!
O Sr. Alexandre Poço (PSD): — … demitindo-se do seu papel de legislador, e garantir assim que conseguimos corrigir na legislação esta gritante discriminação.
O segundo projeto de lei que o PSD apresenta a esta Casa visa promover as atividades artísticas no decurso
do percurso académico no ensino superior. Para a criação deste estatuto do estudante-artista, o PSD,
naturalmente, também se inspirou no Decreto-lei n.º 55/2019, que criou o regime do estudante-atleta,
nomeadamente nos direitos, nos deveres, no conceito de mérito académico e no campo da regulamentação
para as instituições de ensino superior.
Semelhante estatuto ao que propomos hoje já existe em França, e até o Instituto Politécnico de Coimbra
também já avançou com uma fórmula semelhante, em 2018.
Claro que, na especialidade, podemos trabalhar este estatuto do estudante-artista sobre o que é que ele
deve conter, que direitos e deveres deve abranger para os estudantes, quais são as atividades artísticas
contempladas. Mas, seja no caso dos direitos dos trabalhadores-estudantes independentes, seja no caso dos
direitos dos estudantes que praticam atividades artísticas enquanto estudam no ensino superior, esta Casa não
se pode demitir. E estou certo — até pelo número de iniciativas que, nomeadamente, o tema dos trabalhadores-
estudantes justificou — de que há um amplo consenso para corrigirmos esta injustiça e garantirmos que os
trabalhadores-estudantes têm o acesso a apoios sociais salvaguardado, quer trabalhem por conta própria, quer
trabalhem por conta de outrem, e assim garantam o seu futuro no ensino superior.
Aplausos do PSD.
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O Sr. Presidente (Adão Silva): — Para apresentar o Projeto de Lei n.º 851/XV/1.ª, pelo Grupo Parlamentar da Iniciativa Liberal, tem a palavra a Sr.ª Deputada Carla Castro.
A Sr.ª Carla Castro (IL): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Além de os cumprimentar, endereço também cumprimentos especiais aos peticionários presentes na galeria, agradecendo todo o trabalho desenvolvido sobre
o tema.
Analisar o trabalho parcial dos jovens é um processo complexo. Portugal é um dos países cuja
compatibilização entre o estudo e o trabalho é das mais baixas da Europa e, simultaneamente, é um dos países
onde o trabalho a tempo parcial, de forma involuntária, é mais alto.
Não pretende esta iniciativa legislativa abordar tudo isto, mas pretende contribuir decisivamente para que o
trabalhador-estudante tenha melhores condições, independentemente da sua condição laboral — esta palavra-
chave, «independentemente», é importante.
A proposta que trazemos, sob a forma de projeto de lei, visa não discriminar os trabalhadores independentes
face aos dependentes na consideração do rendimento dos jovens trabalhadores-estudantes.
O que é que isto significa, exatamente? Significa que um trabalhador-estudante que tenha uma pequena
atividade — imaginem, no verão, um trabalho sazonal — não perca, por esta via, o direito ao abono de família
ou ao estatuto de bolseiro, por exemplo.
Poder acontecer algo como isto significa o quê? Significa desincentivarmos o trabalho, significa pôr jovens
na decisão de abdicar da experiência profissional, de abdicar da tentativa de procura de uma melhoria de vida,
de um aumento de rendimentos. Chega mesmo a ser um incentivo à formalidade ou olhar para a informalidade
como uma opção.
Houve uma alteração legislativa que permitiu que o rendimento de trabalho dependente auferido por jovens
trabalhadores com idade inferior a 27 anos e que não fosse superior a 14 vezes a retribuição mínima mensal
garantida deixasse de ser considerado para a atribuição das prestações sociais. Isto é positivo, mas o que é que
ocorre, Srs. Deputados? Tomemos especial atenção a este ponto: se é, claramente, uma melhoria, também é,
claramente, uma iniquidade. E os trabalhadores independentes? E os profissionais liberais?
Imagine-se um trabalho de verão, sazonal, em que alguém que pretende ter mais algum dinheiro no bolso,
experimentar o tal mercado de trabalho ou fazer face a alguma despesa, mas não o pode fazer por via desta
discriminação.
Ao contrário do que até já ouvimos aqui, hoje, flexibilidade não é precariedade; pode ser, simplesmente, uma
opção de vida ou fruto do tipo de trabalho por que se optou.
Além desta óbvia iniquidade entre as situações, creio que é, porventura, mais significativo que isto chega
mesmo a demonstrar quase um preconceito estrutural que existe no legislador face aos profissionais liberais e
face ao trabalho independente. Nós trabalhamos neste tema — e vamos continuar a trabalhar —, por exemplo,
nos direitos das mães, da parentalidade nos profissionais liberais e em tantos outros temas, e parece que o
legislador encontra sempre uma presunção ou frequentemente se esquece deste tipo de profissionais. Importa
ultrapassar esse preconceito e hoje é dia de darmos um passo nesse sentido.
Pergunto-vos diretamente: porque é que um trabalhador-estudante, se for um artista, é empurrado para a
economia informal? Porque é que não pode criar uma pequena atividade? Porque é que não pode ter um
trabalho cirúrgico na área do design, da programação, ir vender bolas de Berlim num ato isolado? Ou o que seja!
Pelo menos nos planos e intenções, dizem que o empreendedorismo é bom, dizem que as oportunidades
são um incentivo para alguma mobilidade social, que é positiva, mas, depois, encontramos na legislação esta
cristalização legislativa e este preconceito estrutural de que falava há pouco.
Não podemos dizer que temos de dar mais voz à representação dos profissionais liberais, fazer odes à
mobilidade social e ao empreendedorismo, mas, depois, falharmos nas oportunidades concretas. É por isso,
Srs. Deputados, que termino com um desafio, desta vez ao PS.
Nós temos este projeto de lei feito há diversos meses e o Partido Socialista fez o seu projeto em setembro
— no qual votaremos a favor —, mas é um projeto de resolução, que recomenda ao Governo que resolva. Ora,
com este projeto de lei, nós resolvemos este tema em concreto e, por isso, o desafio que endereço é muito
simples. Além dos outros projetos de resolução… Vou ler o primeiro ponto deste projeto do Partido Socialista.
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O Sr. Presidente (Adão Silva): — Sr.ª Deputada, tem de concluir.
A Sr.ª Carla Castro (IL): — Concluo, Sr. Presidente. É o seguinte: «Assegure que as condições de acesso às bolsas por parte dos trabalhadores-estudantes não
discrimine os trabalhadores independentes face aos trabalhadores dependentes.»
O meu desafio é que, em vez de «assegurarem», façam parte da solução viabilizando este projeto de lei, que
está bem estruturado e que podemos, ainda assim, afinar na especialidade. Vamos demonstrar aos
trabalhadores-estudantes que o objetivo não é recusar as outras propostas e passar uma intenção; é, sim,
resolver, e hoje, com a aprovação deste projeto de lei.
Aplausos da IL.
O Sr. Presidente (Adão Silva): — Para apresentar o Projeto de Lei n.º 886/XV/1.ª, do Chega, tem a palavra o Sr. Deputado Rui Paulo Sousa.
O Sr. Rui Paulo Sousa (CH): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Se há legado que qualquer político deva ambicionar é o de fazer tudo o que está ao seu alcance para deixar um futuro melhor às próximas gerações,
aos mais jovens. Lamentavelmente, não é isso que os socialistas e as suas políticas estão a deixar aos jovens
portugueses.
A herança dos socialistas para as novas gerações é a maior carga fiscal de sempre, salários baixos e
precariedade. O Governo bem tenta maquilhar esta realidade, como se pode ver pelas medidas que o Primeiro-
Ministro apresentou, com pompa e circunstância, num suposto pacote de apoios aos jovens: uma semana nas
Pousadas de Portugal e quatro bilhetes de comboio.
Convenhamos! Então, é isto que vai fixar os jovens no nosso País? Isto, Srs. Deputados do Partido Socialista,
para além de ser gozar com a cara dos portugueses, é um convite para que os jovens saiam do nosso País.
Vozes do CH: — Muito bem!
O Sr. Rui Paulo Sousa (CH): — Srs. Deputados, três em cada quatro jovens ganham menos de 950 €, e um terço quer sair de Portugal. O custo de deixarmos sair os nossos jovens, os nossos melhores, é muito elevado.
Não só agrava o inverno demográfico como retira mão de obra qualificada à nossa economia.
A verdade é que um jovem que ambicione ganhar mais de 1000 € ao fim do mês só tem uma opção: rumar
ao estrangeiro, para longe de casa.
O Sr. Pedro Pinto (CH): — Verdade! Verdade!
O Sr. Rui Paulo Sousa (CH): — Ex.mo Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, temos de estancar esta sangria, e estancá-la com propostas concretas. O projeto que aqui, hoje, traz o Chega é da mais elementar justiça para
os jovens portugueses.
Vozes do CH: — Muito bem!
O Sr. Rui Paulo Sousa (CH): — O estágio curricular é parte integrante do percurso académico em diversos cursos do ensino superior, muitas vezes obrigatório para a conclusão do ciclo de estudos, e tem como finalidade
a consolidação das aprendizagens. É uma ferramenta essencial para que os estudantes adquiram, na prática,
competências técnicas e sociais que lhes facilitarão a entrada no mercado de trabalho.
Mais do que uma mera questão de justiça, a isenção de propinas durante o período de estágio curricular é
um investimento na prosperidade do futuro da Nação: os nossos jovens. Não apoiar esta medida é não
demonstrar, uma vez mais, qualquer compromisso para com os nossos jovens, não lhes reconhecer valor e não
apostar na sua capacidade para transformar Portugal num país melhor.
O Sr. Pedro Pinto (CH): — Muito bem!
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O Sr. Rui Paulo Sousa (CH): — Numa altura em que a Agenda do Trabalho Digno esteve recentemente em debate nesta Casa, com os Deputados do Partido Socialista a continuarem a encher a boca com esta agenda e
a apregoarem tanto que o trabalho deve ser reconhecido e remunerado, é de uma tremenda hipocrisia permitir
que um jovem português tenha de pagar para trabalhar.
Mais, no final do ano passado, veio o Sr. Ministro afirmar que os estágios profissionalizantes para finalistas
de cursos do ensino superior passariam a ser remunerados. No entanto, além de estar estimado que tal medida
apenas irá abranger cerca de um milhar de estudantes, as propinas continuam a ser pagas.
Não existe lógica alguma nesta situação. Reitero: os estudantes não têm de pagar para trabalhar.
Aplausos do CH.
Sr.as e Srs. Deputados, em 2023, por cada 1000 alunos colocados, mais de 100 desistiram. Isto é, mais de
10 % abandonaram de forma forçada a continuação do seu percurso académico.
Quais as razões? Económicas. Num cenário de inflação, de subida generalizada de preços, em que as
famílias enfrentam cada vez mais dificuldades financeiras, os jovens acabam por ser dos mais penalizados.
Sr.as e Srs. Deputados, termino esta minha intervenção, fazendo um repto à Juventude Socialista, que está
aqui representada pelo seu presidente, o Sr. Deputado Miguel Matos,…
O Sr. Eurico Brilhante Dias (PS): — Não é presidente, pá!
O Sr. Rui Paulo Sousa (CH): — … que, de uma forma histriónica, aplaudiu as soluções apresentadas pelo Governo socialista para resolver o problema dos jovens estudantes portugueses.
Mas afirmar que vouchers para estadias nas Pousadas da Juventude ou meia dúzia de bilhetes de comboio…
O Sr. Pedro Pinto (CH): — E para o NOS Alive?!
O Sr. Rui Paulo Sousa (CH): — … impedem um jovem de abandonar o ensino superior só pode ser mais uma brincadeira dos amigos do Largo do Rato.
Aplausos do CH.
Nesse sentido, desafio a Juventude Socialista, aqui presente na bancada do PS, e, por arrasto, toda a
bancada socialista…
O Sr. Eurico Brilhante Dias (PS): — Por arrasto?!
O Sr. Rui Paulo Sousa (CH): — … a estar, efetivamente, ao lado dos jovens estudantes portugueses, votando favoravelmente esta iniciativa do Chega.
Aplausos do CH.
O Sr. Pedro dos Santos Frazão (CH): — Ó Miguel, ainda se fossem bilhetes para o NOS Alive! Agora, bilhetes de comboio…!
O Sr. Presidente (Adão Silva): — Para apresentar o Projeto de Lei n.º 904/XV/2.ª e o Projeto de Resolução n.º 881/XV/2.ª, do PAN, tem palavra a Sr.ª Deputada Inês de Sousa Real.
A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Dizemos tantas vezes que este País não é para velhos, dizemos tantas vezes que este País não é para jovens, mas o que dizer deste País para
os trabalhadores-estudantes?
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É que, efetivamente, a vida de um trabalhador-estudante é dura. É uma vida non-stop, de deitar tarde e
acordar cedo — quando não de diretas para estudar —, com ciclos de correrias intermináveis, de 8 horas de
trabalho, de 5 horas de aulas e em que todo o tempo livre, seja na hora do almoço ou nos transportes, serve
para estudar, para fazer resumos, para preparações.
Há muito esforço e ansiedade para pagar os estudos, mas demasiado pouco dinheiro e poucos direitos.
As barreiras a este mecanismo de desenvolvimento académico e profissional continuam a ser demasiadas,
e isto só é assim porque temos um estatuto de trabalhador-estudante completamente desatualizado e que
passou incólume na Agenda do Trabalho Digno.
Os trabalhadores-estudantes são jovens de segunda. Apenas e só por terem de trabalhar para pagar os
estudos, não têm acesso à ADSE (Instituto de Proteção e Assistência na Doença), não têm acesso à isenção
contributiva quando entram no mercado de trabalho a recibos verdes, e, quando concluem a sua licenciatura,
não conseguem beneficiar das medidas de apoio aos jovens à procura do primeiro emprego.
A situação ainda piora quando, fruto de uma lacuna na Agenda do Trabalho Digno, apenas e só por receber
rendimentos, um trabalhador-estudante a recibos verdes pode ser prejudicado no acesso ao abono de família,
a bolsas do ensino superior ou a pensões de sobrevivência. Esta discriminação, no entender do PAN, é
inaceitável e não foi travada, por exemplo, pelo regulamento de bolsas deste ano letivo.
Por isso mesmo, hoje, o PAN quer aplicar aos trabalhadores-estudantes com recibos verdes o mesmo regime
que este Parlamento aprovou para os trabalhadores-estudantes em situação de trabalho dependente. Propomos
também que o Governo empreenda uma reflexão transversal sobre o estatuto do trabalhador-estudante em
termos, não só, que garantam a sua respetiva atualização, mas, principalmente, o aprofundamento dos
respetivos direitos a nível da ADSE, das isenções contributivas, das bolsas de estudo e também das medidas
de apoio ao emprego.
O Sr. Presidente (Adão Silva): — Para apresentar o Projeto de Resolução n.º 873/XV/1.ª, do PS, tem a palavra o Sr. Deputado Miguel Costa Matos.
O Sr. Pedro Pinto (CH): — Bora, Miguel, para o NOS Alive!
A Sr.ª Rita Matias (CH): — Roubar dados ao Chega! Que vergonha! No mínimo, é a demissão!
O Sr. Miguel Matos (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O nosso País tinha trabalho infantil e, nos anos 90, acabou com ele. O nosso País tinha, e tem, um défice de qualificações, mas, hoje, os jovens
portugueses vão para a faculdade em maior proporção do que os jovens do resto da União Europeia. O nosso
País tem, hoje, um problema de baixos salários e de desemprego jovem, por muito que os salários dos jovens
tenham crescido 40 %, desde 2015, e que o desemprego jovem seja hoje metade do que era em 2014.
Aplausos do PS.
Mas há uma diferença entre Portugal e os seus pares quando falamos de trabalhadores-estudantes. Se, na
União Europeia, cerca de um em cada quatro jovens estuda e trabalha, em Portugal, essa percentagem reduz-
se para 10 %.
Ora, 90 000 jovens trabalham e estudam em Portugal. Alguns fazem-no por opção, de forma ocasional — foi
o meu caso quando era estudante e traduzi artigos científicos para português —, mas demasiados fazem-no por
necessidade, com precariedade, e muitos até na informalidade. Essa realidade foi bem retratada pela petição
«Promover a Independência Jovem em Portugal – Direitos & Deveres dos Trabalhadores-Estudantes», cujos
subscritores, que estão presentes, saudamos.
Foi por isso que, no primeiro Orçamento do Estado que fiz nesta Casa como Deputado, a Juventude
Socialista propôs, e obteve, uma isenção de IRS (imposto sobre o rendimento das pessoas singulares) para
trabalhadores-estudantes até 5 IAS (Indexante dos Apoios Sociais): 2400 €.
Foi por isso que na Agenda do Trabalho Digno, apenas há uns meses, garantimos que os estudantes que
trabalham e mantenham rendimentos até ao valor anual de 14 salários mínimos não perdem as bolsas de estudo
ou apoios sociais.
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E é por isso que vamos devolver as propinas, vamos alargar o IRS Jovem para IRS zero no primeiro ano e
vamos garantir transportes públicos gratuitos para todos os estudantes até aos 23 anos.
Aplausos do PS.
É importante darmos continuidade a este caminho e é isso que fazemos com este projeto de resolução,
excluindo estes rendimentos no benefício da ADSE, olhando para os apoios ao primeiro emprego, para os
estágios, para os apoios à contratação e o IRS Jovem, assegurando que quem trabalha, enquanto estudante,
não gasta o «cartucho» do apoio do Estado.
E o mesmo se aplica a quem esteja a recibos verdes — sim! —, que não tem de contribuir no primeiro ano
de descontos e que, por isso mesmo, deve poder adiar essa isenção contributiva para uma altura em que ganhe
mais. Seja com que vínculo for, não devem perder as suas bolsas de ensino superior.
O que nós recusamos, Sr.as e Srs. Deputados, é normalizar os falsos recibos verdes, tão comuns na nossa
geração. Não permitiremos que os jovens sejam empurrados para fora do sistema de proteção social com aquilo
que alguns vêm aqui propor: uma isenção contributiva, que é, na verdade, uma cenoura envenenada.
Protestos do Deputado do CH Bruno Nunes.
Hoje, estamos aqui, com a nossa própria iniciativa, com trabalho feito e trabalho a fazer, mas com a mesma
causa de sempre: o trabalho digno, também, para o trabalhador-estudante.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (Adão Silva): — O Sr. Deputado Miguel Costa Matos tem dois pedidos de esclarecimento, um do Sr. Deputado Alexandre Poço, do PSD, e outro da Sr.ª Deputada Rita Matias, do Chega.
V. Ex.ª como quer responder?
O Sr. Miguel Matos (PS): — Em conjunto, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente (Adão Silva): — Em conjunto, assim será. Para um pedido de esclarecimento, tem a palavra o Sr. Deputado Alexandre Poço.
O Sr. Alexandre Poço (PSD): — Sr. Presidente, cumprimento novamente as Sr.as Deputadas e os Srs. Deputados.
A pergunta que temos para fazer ao Sr. Deputado Miguel Matos é se, perante um problema concreto que
diferentes bancadas identificaram — mais, o próprio Partido Socialista também o identificou no seu projeto de
resolução —, o Sr. Deputado não se sente um pouco embaraçado por aquilo que, provavelmente, vai acontecer
daqui a pouco, que é o Partido Socialista chumbar estas iniciativas para fazer aprovar o seu projeto de resolução.
Aliás, posso dizer-lhe, desde já, que o PSD vai votar a favor do projeto de resolução do Partido Socialista.
Mas aquilo que nos faz confusão é, perante um problema concreto, com uma resolução à vista de todos, com
diferentes bancadas que avançam com essa solução, não conseguirmos perceber o que é que fará o Partido
Socialista.
Portanto, ou o Sr. Deputado, provavelmente, se sente embaraçado, porque não consegue garantir a
resolução de um problema real que, da tribuna, descreveu como lesivo para os trabalhadores-estudantes — e,
depois, na fase da especialidade, se o Sr. Deputado não concordasse com uma ou outra questão de um dos
projetos de lei que aqui hoje estão a debate até poderíamos exprimir as nossas opiniões —, ou, então, o Sr.
Deputado, se votar contra os projetos de lei do PSD, da Iniciativa Liberal e do PAN, e não sei como é que irá
votar hoje, não estará a aproveitar uma oportunidade de resolver um problema para os jovens trabalhadores-
estudantes liberais. E o que é que faz? Demite-se do seu papel de legislador, demite-se do seu papel e quase
que fecha o Parlamento para dizer: não, nós fazemos uma resolução e o Governo resolva quando quiser.
Sr. Deputado, podemos resolver isto hoje, com consenso democrático.
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Aplausos do PSD.
Portanto, Sr. Deputado Miguel Matos: sente-se embaraçado, não se sente embaraçado? E quero perguntar-
lhe o seguinte: como é que votará o Partido Socialista, e como é que votarão os Deputados jovens do Partido
Socialista, o projeto de lei do PSD nesta Câmara? É uma pergunta muito direta: sim ou não?
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (Adão Silva): — Para um pedido de esclarecimento, tem a palavra a Sr.ª Deputada Rita Matias, do Grupo Parlamentar do Chega.
A Sr.ª Rita Matias (CH): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sr. Deputado Miguel Matos, vou dar-lhe uma novidade: os jovens portugueses não querem bilhetes para o NOS Alive em troca de uma militância na JS…
O Sr. Pedro dos Santos Frazão (CH): — Ora aí está!
A Sr.ª Rita Matias (CH): — … e também não querem bilhetes para ir passear na CP (Comboios de Portugal).
Aplausos do CH.
Os jovens portugueses estão preocupados com os bilhetes de avião que os condenam à emigração. E por
isso, de forma muito concreta, aquilo que pergunto é: vai viabilizar esta iniciativa do Chega que garante que os
jovens estagiários não tenham de pagar para trabalhar?
O Sr. Presidente (Adão Silva): — Tem de concluir, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Rita Matias (CH): — Vou concluir, Sr. Presidente. Aquilo que fizeram em relação às ordens profissionais foi decretar que os estágios são remunerados, mas
não deram qualquer forma de haver esta remuneração.
Por isso, aquilo que eu pergunto é: o senhor vai ter coragem de, de uma vez por todas, ficar ao lado dos
jovens portugueses e daquilo que é de elementar justiça?
Aplausos do CH.
O Sr. Presidente (Adão Silva): — Para responder a este grupo de pedidos de esclarecimento, tem a palavra o Sr. Deputado Miguel Matos.
O Sr. Miguel Matos (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, quero agradecer as perguntas do Sr. Deputado Alexandre Poço e da Sr.ª Deputada Rita Matias.
Sr.ª Deputada Rita Matias, ver o partido que se vergou aos interesses das ordens profissionais, quando
tentámos que os jovens tivessem estágios pagos nas ordens, sinceramente…
O Sr. Pedro Pinto (CH): — O Chega nunca se verga!
O Sr. Miguel Matos (PS): — Da vossa parte, não aceitamos qualquer tipo de lição sobre esta matéria. Sobre aprovar propostas do Chega, a nossa resposta é muito clara: jamais! É mesmo jamais!
Aplausos do PS.
Vozes do CH: — E os bilhetes?!
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O Sr. Miguel Matos (PS): — Em relação à pergunta do Sr. Deputado Alexandre Poço, para quem andou durante o período de Governo do PSD a liberalizar os despedimentos e a precariedade, teríamos muito do que
falar, mas vamos falar do dia de hoje, que é isso que estamos cá a fazer.
O Sr. Deputado apresenta uma proposta que se limita a duas coisas: em primeiro lugar, a pôr no mesmo
plano os trabalhos com contrato e os trabalhos a recibos verdes, ou seja, incentivar que os jovens trabalhem
com falsos recibos verdes, e por esse caminho nós não vamos; e, em segundo lugar, fazer uma isenção
contributiva que, na verdade, o que é que iria fazer? Iria deixar os jovens sem proteção na doença, sem proteção
na paternidade, sem proteção no desemprego.
Por isso, Sr. Deputado, lamento dizer-lhe que não conta connosco para aprovar uma proposta que põe os
jovens a pagarem mais de segurança social do que os restantes trabalhadores e do que os empregadores. Por
isso, a conclusão que tiramos é de que a JSD, verdadeiramente, se apresentou aqui como um dos melhores
amigos da precariedade, e, por isso, naturalmente, a nossa posição perante a vossa iniciativa será contra.
Aplausos do PS.
O Sr. Pedro Pinto (CH): — Não falaste no NOS Alive!
A Sr.ª Rita Matias (CH): — E o NOS Alive?!
O Sr. Filipe Melo (CH): — Então e o NOS Alive?!
O Sr. Presidente (Adão Silva): — Tem, agora, a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado José Soeiro.
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Queria cumprimentar os proponentes e saudar o agendamento deste debate.
Permitam-me que reaja já ao que disse o Sr. Deputado do Partido Socialista, porque o ponto três do projeto
de resolução do Partido Socialista fala no diferimento da isenção contributiva de 12 meses à segurança social,…
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — É verdade!
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — … ou seja, é aumentar o tempo através do qual as pessoas — neste caso os trabalhadores-estudantes que tenham rendimento do trabalho — não têm qualquer proteção de segurança
social, porque eles não estão a descontar, durante este período de isenção eles não estão a descontar, e,
portanto, não estão a constituir direitos contributivos.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem! É verdade!
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — No enquadramento deste debate o PSD e a IL lamentam que haja poucos trabalhadores-estudantes em Portugal.
Ora, haver muitos ou poucos não é bom ou mau em si mesmo, porque há uma grande diferença entre
estudantes que são obrigados a trabalhar — pelo preço das propinas, pelas dificuldades no alojamento, pelos
custos do ensino superior — e que, portanto, ficam sem tempo para se dedicar aos estudos plenamente e, nesse
caso, ser trabalhador-estudante não é uma opção, mas uma necessidade que resulta dos custos e da falta de
apoios, e trabalhadores que escolhem voltar à escola por curiosidade intelectual, porque querem melhorar as
suas qualificações, porque querem mudar de vida, e isso é um excelente motivo para haver trabalhadores-
estudantes. Neste caso, aliás, haveria que melhorar os vínculos, a estabilidade dos vínculos, os horários de
trabalho, as culturas de organização para facilitar que as pessoas pudessem estar na escola outra vez.
Relativamente aos projetos de lei que estão a ser discutidos, os do PAN e da IL, para equiparar trabalhadores
independentes e trabalhadores por conta de outrem no acesso às bolsas e da não-contabilização dos
rendimentos até 14 salários mínimos nacionais, estamos de acordo, faz sentido, pois o caminho deve ser a
igualização de direitos entre trabalhadores por conta de outrem e trabalhadores independentes, nomeadamente
neste aspeto e noutros. Nós, aliás, tivemos essa discussão no âmbito da alteração ao Código do Trabalho e no
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alargamento, seja em contratação coletiva, seja num conjunto de outros direitos, aos trabalhadores
independentes.
Também somos a favor de isenção de propinas — aliás, nós somos a favor de que as propinas acabem —,
e não vamos opor-nos a que haja uma isenção para quem está a fazer estágios profissionais e ao abrigo do
estatuto do artista.
Relativamente às isenções contributivas, e isto vale para o projeto de lei do PSD como vale para o projeto
de resolução do PS, isso é uma armadilha — aliás, o Partido Socialista parte de um equívoco. Porque é que
hoje os trabalhadores independentes não pagam, no primeiro ano, contribuições à segurança social? Não é
porque haja um incentivo ao início da atividade dos jovens; isso é um equívoco! A única razão é uma razão
técnica, é porque antes os descontos à segurança social eram calculados em função do que a pessoa tinha
ganhado no ano anterior. Ora, no primeiro ano não havia ano anterior para calcular a incidência das contribuições
e, portanto, não havia como incluir as pessoas num escalão. É só por essa razão que no primeiro ano os
trabalhadores independentes não pagam contribuições à segurança social.
Isto não é um incentivo à entrada dos jovens no mundo do trabalho! Durante esse ano as pessoas não estão
a pagar contribuições à segurança social, mas não têm qualquer proteção na doença, na parentalidade, não
estão a constituir direitos contributivos para a reforma, nada!
Achar-se que a solução para os jovens é, a somar a esse ano em que eles não estão a contribuir — e,
portanto, não estão a constituir direitos contributivos —, diferir ainda mais esse período em que as pessoas não
estão a contribuir, é um problema, não é uma solução; e, portanto, estamos contra essas iniciativas, quer do
PSD quer do PS, para fragilizar a situação contributiva dos mais jovens.
Aplausos do BE.
Entretanto, reassumiu a presidência a Vice-Presidente Edite Estrela.
A Sr.ª Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Rui Tavares, do Livre.
O Sr. Rui Tavares (L): — Sr.ª Presidente: Queria começar por saudar os proponentes destas iniciativas por um debate que é importante e por algumas propostas que, acho, recolhem consensos bastante alargados.
Acho que podemos ir mais longe até, porque o que nos importa é que jovens trabalhadores — sejam eles
trabalhadores-estudantes, trabalhadores independentes, profissionais liberais — se possam concentrar a fazer
aquilo em que são bons e não terem de ser os seus próprios juristas, os seus próprios contabilistas, os seus
próprios cobradores; e poderem crescer em escala, partilhar custos. Isso é bom para as pessoas, é bom para o
País.
Mas há duas críticas que quero fazer, uma ao PS e outra ao PSD, sobre propostas recentes sobre juventude.
Uma crítica tem a ver com aquilo que seria uma taxa única para o IRS para jovens abaixo dos 35 anos.
Queria, então, que me explicassem se não há injustiça quando alguém que ganha um salário muito maior e tem
35 anos está a pagar muito menos do que alguém muitas vezes com salário baixo, como temos no nosso País,
com 36 anos. Isso não é «um país, dois sistemas» ao nível geracional?
Em relação ao PS, a proposta quanto às propinas é verdadeiramente uma proposta que fica muito aquém do
que era prometido e que até, de certa forma, é o pior de dois mundos, porque há jovens que, às vezes,
abandonam o ensino superior, porque não conseguem pagar as propinas e ficam pelo caminho, e há outros que
vêm de famílias com maior poder aquisitivo e vão ter as suas propinas devolvidas.
Ora, o justo aqui, tanto para uns como para outros, não seria simplesmente abolir as propinas e que as
pessoas pagassem depois, com os impostos progressivos que devem pagar, se beneficiaram do ensino superior
e têm rendimentos mais altos?
O Sr. Pedro dos Santos Frazão (CH): — Chega! Olha o tempo!
O Sr. Rui Tavares (L): — Seria assim que iriam ajudar a pagar o ensino superior para os outros estudantes, eventualmente até com a criação de um fundo de apoio ao estudante do ensino superior, que fosse financiado
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com uma parte do IRS de quem tenha beneficiado do ensino superior público e esteja nos escalões de
rendimentos de mais altos percentis.
O Sr. Pedro Pinto (CH): — Outra vez! Como é que é possível?!
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Alfredo Maia, do Grupo Parlamentar do PCP.
O Sr. Alfredo Maia (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: O Estatuto do Trabalhador-Estudante é um importante instrumento de promoção da dupla dimensão do trabalho e da educação.
Em termos formais, cria condições para que trabalhadores que tiveram de interromper o seu percurso escolar
ou estudantes que tiveram de começar a trabalhar precocemente possam prosseguir o seu rumo.
Há também muitos trabalhadores que decidem — aliás, bem — alargar os seus conhecimentos e
competências e diversificar e ampliar os seus saberes.
Além de uma justa aspiração individual e da concretização de um direito essencial, a frequência dos
sucessivos graus de ensino ou o alargamento de conhecimentos constitui também uma contribuição para a
melhoria do perfil cultural, social, cívico e económico da sociedade, com vantagens também para as empresas.
Não obstante a consagração legal do Estatuto, são frequentes as queixas de trabalhadores-estudantes sobre
dificuldades e obstáculos criados nas empresas ao uso pleno dos direitos nele consagrados. De facto, são
frequentes as queixas relativas à falta de autorização — entre aspas — da empresa para a adequação dos
horários de trabalho à frequência de aulas, à preparação de frequências e exames e mesmo à participação
nestes com a adequada concessão de dispensas, não sendo raro muitos estudantes terem de lançar mão de
dias de férias para que possam comparecer a exame.
Este quadro é inseparável de práticas autoritárias e até agressivas na organização do trabalho em muitas
empresas, com a desregulação dos horários de trabalho sob várias formas, designadamente o trabalho por
turnos e o regime de laboração contínua.
Se este problema, que atinge, pelo menos, 1 milhão e 800 mil trabalhadores portugueses, é já muito gravoso
para trabalhadores com família constituída, do ponto de vista da articulação do trabalho com a vida familiar, bem
se pode imaginar quanto é penoso quando estes aspiram a melhorar as suas qualificações.
Este problema é também inseparável da exigência de um aumento dos salários, porque é muito claro que,
face à sua insuficiência, muitos trabalhadores-estudantes estão forçados a ceder em direitos que deveriam ser
irrenunciáveis.
Em relação às iniciativas apresentadas, quero realçar duas notas sobre a isenção da taxa social única e a
isenção ou redução das taxas contributivas propostas: primeira, prejudicam claramente a carreira contributiva
do trabalhador e os seus próprios benefícios; segunda, é necessário encarar com cautela os efeitos no
financiamento da segurança social.
Já quanto ao acesso ao abono de família, é necessário prosseguir, de facto, o seu aumento e a sua
generalização, isto é, aplicando-o a todas as crianças e jovens, tal como o PCP tem proposto — proposta que
tem sido chumbada nesta Assembleia.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Bárbara Dias, do Grupo Parlamentar do PS.
A Sr.ª Bárbara Dias (PS): — Sr.ª Presidente em exercício, Srs. Deputados e Sr.as Deputadas, Srs. Peticionários aqui presentes: Privilégio ou falta deste é o conceito chave que está na base da decisão de um
jovem que se torna trabalhador-estudante.
Todos nós conhecemos um jovem que é obrigado a conciliar o estudo e o trabalho para perseguir os seus
sonhos, ou porque a família não tem capacidade financeira, ou então nem sequer tem esse suporte familiar.
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Todos nós conhecemos um jovem que, durante os meses de verão, procura formas de aumentar o seu
rendimento durante o próximo ano e todos nós conhecemos um jovem que concilia o estudo com o trabalho por
opção, porque quer ter possibilidade de realizar os seus projetos sem pesar no orçamento familiar.
Saudamo-los, todos, pelo seu esforço de conciliação, a sua resiliência diária para não desistirem do seu
percurso formativo nem dos seus rendimentos. Trata-se de pessoas verdadeiramente extraordinárias, com uma
vontade de vencer, e de contrariar o predestinado, inigualável.
Cabe, portanto, a cada um de nós acarinhar e abraçar as suas lutas através de soluções que acrescentem
mais-valias e que salvaguardem os seus direitos.
Há uns meses, aprovávamos a Agenda do Trabalho Digno, que, entre outras medidas, veio precisamente
reforçar a proteção social dos jovens trabalhadores e dos jovens estudantes que trabalhem durante os períodos
de férias escolares, permitindo acumular remunerações anuais até 10 640 € com o abono de família, com a
bolsa de estudo e pensão de sobrevivência.
Todavia, os projetos de lei do PSD, da Iniciativa Liberal e do PAN que hoje são submetidos a votação
contradizem, precisamente, os objetivos da Agenda do Trabalho Digno.
E porquê? Vale a pena refletir. É preferível perpetuar a precariedade laboral — através, por exemplo, dos
chamados «falsos trabalhadores independentes» —, e assim prejudicar o regime contributivo destes jovens,
bem como fragilizar o acesso à sua proteção social, ou, antes, reforçar a proteção social destes jovens e garantir
que tenham acesso pleno aos seus direitos através de um contrato de trabalho?
Para o Partido Socialista, a resposta a esta reflexão é clara. E, respondendo ao Sr. Deputado José Moura
Soeiro, nós não queremos prolongar a isenção contributiva,…
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — É o que está aqui!
A Sr.ª Bárbara Dias (PS): — … queremos adiar a isenção contributiva, e há uma clara diferença entre as duas.
Aplausos do PS.
Prolongar é diferente de adiar. E o projeto de resolução que hoje apresentamos vem acrescentar valor.
O Partido Socialista pretende estimular a conciliação entre estudar e trabalhar sem comprometer a igualdade
de oportunidades, a dignidade e o futuro do jovem trabalhador-estudante. Para nós, o trabalhador-estudante a
recibo não sai lesado, sai com contrato de trabalho e direitos assegurados.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Vamos passar ao encerramento. Para o efeito, tem a palavra o Sr. Deputado Alexandre Poço, do Grupo Parlamentar do PSD.
O Sr. Alexandre Poço (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Para fechar este debate, devo dizer que foi um pouco surreal ouvir o Partido Socialista utilizar argumentos que o Sr. Deputado José Moura Soeiro
utilizou.
O racional é coerente, mas nós podemos discordar. Entendemos que sim, pode existir uma isenção
contributiva para os trabalhadores-estudantes até aos 27 anos e até 14 salários mínimos, com a compensação
da perda de receita da segurança social, para garantir que não há perda de direitos, a ser feita através do
Orçamento do Estado.
A Sr.ª Clara Marques Mendes (PSD): — Exatamente!
O Sr. Alexandre Poço (PSD): — O Sr. Deputado José Moura Soeiro discorda, o Sr. Deputado Alfredo Maia também discorda, mas foram coerentes com o pensamento que ambas as forças políticas têm.
Surreal é ver o Partido Socialista a utilizar a mesma argumentação para atacar o proponente deste projeto
de lei, neste caso o PSD, e depois, no n.º 3 do seu projeto de resolução, dizer o seguinte: «Avalie a capacidade
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e oportunidade de diferimento no caso de jovens trabalhadores-estudantes com remunerações anuais até 14
RMMG [remuneração mínima mensal garantida], da isenção contributiva de 12 meses à Segurança Social no
início do percurso profissional de um jovem».
Ora, isto não faz sentido nenhum!
Aplausos do PSD.
Ou escolhem os argumentos do Bloco de Esquerda e do PCP, que não seria assim tão raro, e são coerentes,
ou então não apresentam uma proposta que é semelhante à nossa!
O Sr. Eurico Brilhante Dias (PS): — A proposta é má!
O Sr. Alexandre Poço (PSD): — Portanto, Sr.as e Srs. Deputados, mesmo que não concordem, aquilo que, para nós, é relevante é o seguinte: existe um amplo consenso entre os diferentes projetos de lei.
Ó Sr. Deputado Rui Tavares, já agora, olhei para si e lembrei-me: taxa máxima e taxa única não são a mesma
coisa!
A Sr.ª Clara Marques Mendes (PSD): — Exatamente!
Protestos do Deputado do L Rui Tavares.
O Sr. Alexandre Poço (PSD): — Tem de ler a nossa proposta do IRS até aos 35 anos. Mas isto era só um aparte, porque olhei para si e lembrei-me de que cometeu esse erro.
Relativamente a este tema, há um consenso para garantir que os trabalhadores-estudantes não são
prejudicados por serem trabalhadores dependentes ou independentes. Há este consenso. Agora, vamos para
sede de especialidade resolver esta gritante injustiça e corrigir esta discriminação.
A Sr.ª Clara Marques Mendes (PSD): — Muito bem!
O Sr. Alexandre Poço (PSD): — Só não vamos porque, provavelmente, o Partido Socialista vai fazer o que faz sempre: chumba tudo e vai aprovar uma resolução inócua a recomendar ao Governo que um dia resolva
este problema.
Protestos do Deputado do PS Eurico Brilhante Dias.
Sr.as e Srs. Deputados, tenham orgulho em ser Deputados, tenham orgulho em ser legisladores, e aprovem
os projetos que garantem mais direitos aos trabalhadores-estudantes.
Aplausos do PSD.
O Sr. Eurico Brilhante Dias (PS): — Quando apresentar um projeto para baixar impostos, falamos!
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Vamos passar ao último ponto da nossa ordem do dia, com as votações regimentais.
Peço aos serviços que acionem o mecanismo de verificação de quórum.
Pausa.
Pergunto se há alguma ou algum dos Srs. Deputados que não tenha conseguido registar-se.
Pausa.
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Portanto, todas as Sr.as Deputadas e Srs. Deputados se conseguiram registar, pelo que peço aos serviços
que afixem o resultado.
Temos quórum e vamos proceder às votações.
Começamos pelo Projeto de Voto n.º 444/XV/2.ª (apresentado pelo PSD) — De pesar pelo falecimento de
Manuela Teixeira. Com a anuência de todas as bancadas, vai ler este projeto de voto o Sr. Deputado Pedro
Roque, do Grupo Parlamentar do PSD.
O Sr. Pedro Roque (PSD): — Sr.ª Presidente e Srs. Deputados, passo a ler: «Foi com profunda consternação que se conheceu a notícia do desaparecimento, aos 85 anos de idade, de
Maria Manuela Teixeira, figura incontornável do ativismo político-sindical.
Manuela Teixeira desempenhou as mais relevantes funções ao nível do movimento sindical democrático
português. Foi presidente do SPZN (Sindicato dos Professores da Zona Norte) e da FNSP (Federação Nacional
de Sindicatos de Professores), criada no seio da UGT (União Geral de Trabalhadores) e mais tarde FNE
(Federação Nacional de Educação). Organizações que sempre se pautaram pelos princípios do sindicalismo
reformista, baseadas na premissa de que a melhoria das condições de trabalho se processa gradualmente e
não de modo abrupto e revolucionário.
Professora e doutorada em Educação, esteve na criação do ISET (Instituto de Formação de Educação e
Trabalho), criado em 1993 para dar resposta às necessidades de formação inicial e contínua de professores e
de pessoal não docente.
Em termos sindicais foi também, em representação da tendência social-democrata, Presidente da UGT,
cargo que ocupou com distinção entre 1998 e 2004.
Profundamente social-democrata, para além da militância partidária desempenhou também cargos de relevo
nos TSD (Trabalhadores Social-Democratas), estrutura laboral do PSD, como Presidente da Mesa do Congresso
e do Conselho Nacional entre os anos 2000 e 2004.
Por indicação do Secretariado Nacional dos TSD foi candidata pelo PSD às eleições europeias de 1999. Não
tendo sido eleita diretamente, as circunstâncias ditaram, todavia, que, por força das renúncias de mandatos ao
longo da legislatura europeia, pudesse assumir mais tarde o lugar de Deputada ao Parlamento Europeu. Não
obstante, por uma questão de coerência em virtude do facto de sempre ter afirmado que só seria Deputada se
fosse eleita diretamente, declinou a assunção desse cargo.
Manuela Teixeira foi um exemplo para todos, sobretudo no movimento sindical docente e mormente na
presente conjuntura em que os docentes atravessam um período particularmente adverso, enfrentando um
processo de luta sindical difícil e demorado. De facto, o exemplo de Manuela Teixeira, enquanto líder sindical e
defensora de uma negociação dura, mas propositiva, não pode deixar de ser relembrado.
Assim, a Assembleia da República transmite à família, amigos de Manuela Teixeira, bem como ao movimento
sindical democrático as suas mais sinceras condolências, evocando a memória de uma lutadora incansável e
uma figura incontornável do sindicalismo em Portugal.»
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Vamos, então, votar a parte deliberativa do Projeto de Voto n.º 444/XV/2.ª (apresentado pelo PSD) — De pesar pelo falecimento de Manuela Teixeira.
Submetida à votação, foi aprovada por unanimidade.
Aproveito para enviar as nossas condolências aos familiares, amigos e representantes das entidades
sindicais aqui presentes, na Galeria III, em nome da Assembleia da República e em nome da Mesa.
Passamos ao Projeto de Voto n.º 447/XV/2.ª (apresentado pela Comissão de Negócios Estrangeiros e
Comunidades Portuguesas e subscrito por uma Deputada do PSD) — De pesar pelas vítimas da ditadura
chilena, nos 50 anos da morte de Salvador Allende e do golpe de Estado de 1973.
Para ler este projeto de voto, tem a palavra a Sr.ª Deputada, e Secretária da Mesa, Palmira Maciel.
A Sr.ª Secretária (Palmira Maciel): — Sr.ª Presidente e Srs. Deputados, o projeto de voto é do seguinte teor: «No dia 11 de setembro de 1973, o regime democrático constitucional chileno, eleito em 1970 com 36,2 %
dos votos numa coligação de esquerda, a União Popular, foi violentamente derrubado por um golpe de Estado
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perpetrado pelo general Augusto Pinochet com o apoio de militares nacionalistas, derrubando o governo do
Presidente Salvador Allende e causando milhares de vítimas, repressão e supressão das liberdades e dos
direitos fundamentais nos anos seguintes.
Não obstante o respeito pelo quadro constitucional e legal na implementação do novo programa de reformas,
a política chilena permaneceu polarizada, com conflitos que escalaram gradualmente entre 1970 e 1973,
instalando-se um clima de tensão fortemente influenciado pela Guerra Fria e o confronto dos blocos ideológicos.
Allende acabaria por falecer nesse mesmo dia 11 de setembro, na sequência do cerco e assalto à sede da
presidência no Palácio de La Moneda, bombardeado pelas forças golpistas, como que tornando proféticas as
palavras que proferira anos antes, de que “vale apenas a pena morrer pelas coisas sem as quais não vale a
pena viver”.
A ditadura de Pinochet, que se seguiu, levou à supressão de direitos e liberdades, à dissolução de partidos,
à perseguição de dissidentes políticos e a brutais violações de direitos humanos, como são exemplo as
execuções no campo de concentração de Chacabuco, no deserto do Atacama, e em pleno Estádio Nacional,
onde foram detidos e torturados milhares de chilenos nos primeiros dias da ditadura. No total, o regime fez mais
de 40 000 vítimas, entre executados, detidos, desaparecidos, torturados e presos políticos, forçando ainda cerca
de 200 000 chilenos ao exílio.
Hoje, 50 anos depois do golpe, permanece um dever de memória a cumprir, honrando as vítimas e
recordando que as forças e movimentos autoritários e nacionalistas não são apenas um dado histórico do
passado, mas uma realidade que irrompe hoje em muitos pontos do globo, incluindo na Europa, ameaçando a
democracia e as suas conquistas.
Assim, cumprindo um dever de memória em defesa da democracia e do Estado de direito, a Assembleia da
República manifesta o seu pesar pelas vítimas da ditadura de Augusto Pinochet, quando se assinalam os 50
anos da morte de Salvador Allende e do golpe de Estado de 1973, no Chile.»
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Srs. Deputados, vamos votar a parte deliberativa do Projeto de Voto n.º 447/XV/2.ª — De pesar pelas vítimas da ditadura chilena, nos 50 anos da morte de Salvador Allende e do
golpe de estado de 1973.
Submetida à votação, foi aprovada por unanimidade.
O Sr. Pedro Pinto (CH): — Peço a palavra, Sr.ª Presidente.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para que efeito, Sr. Deputado?
O Sr. Pedro Pinto (CH): — Sr.ª Presidente, para informar que vamos apresentar uma declaração de voto em relação a esta votação.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — A Sr.ª Deputada Paula Santos pede a palavra para o mesmo efeito?
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Sim, Sr.ª Presidente.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Fica registado. Srs. Deputados, na sequência das votações a que acabámos de proceder, vamos guardar 1 minuto de
silêncio.
A Câmara guardou, de pé, 1 minuto de silêncio.
Passamos ao Projeto de Voto n.º 446/XV/2.ª (apresentado pela Comissão de Negócios Estrangeiros e
Comunidades Portuguesas e subscrito por uma Deputada do PSD) — De condenação pela realização de
eleições regionais e locais nos territórios da Ucrânia ocupados temporariamente pela Federação Russa.
Tem a palavra o Sr. Secretário Diogo Leão para ler este projeto de voto.
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O Sr. Secretário (Diogo Leão): — Sr.ª Presidente, passo a ler: «Durante três dias, entre 8 e 10 de setembro de 2023, decorreram eleições regionais e locais na Federação
Russa e, de forma ilegal, coerciva e atentatória de todas as práticas democráticas, também nos territórios
ucranianos ocupados temporariamente pela Rússia.
As comissões eleitorais impostas por Moscovo na Crimeia, em Sebastopol, Lugansk, Donetsk, Zaporijia e
Kherson, num escrutínio que se destinou puramente a procurar legitimar politicamente a anexação ilegal destes
territórios, indiciaram que cinco partidos com representação no Parlamento russo apresentaram candidatos às
assembleias locais, com o partido Rússia Unida de Putin a surgir como destacado vencedor das eleições
regionais realizadas nestes territórios.
De acordo com a União Europeia e outros organismos internacionais, as “eleições” ilegais na Ucrânia
ocorreram num contexto marcado pela concessão forçada e ilegal de passaportes por parte da Rússia, inclusive
a crianças, por transferências e deportações forçadas, por violações e atropelos generalizados e sistemáticos
dos direitos humanos, bem como pela intimidação e crescente repressão de cidadãos ucranianos por parte da
Rússia e das autoridades ilegalmente nomeadas nos territórios ucranianos temporariamente ocupados.
A realização destas denominadas “eleições” ilegítimas nos territórios mencionados merece firme repúdio e
condenação, pois não constitui nada mais do que uma nova tentativa da Rússia em legitimar ou normalizar o
seu controlo militar ilegal e a tentativa de anexação de partes do território ucraniano. Trata-se de mais uma
violação manifesta do Direito Internacional, incluindo a Carta das Nações Unidas, assim como da independência,
soberania e integridade territorial da Ucrânia.
Assim, a Assembleia da República condena a realização das eleições locais e regionais promovidas pela
Federação Russa nos territórios da Ucrânia temporariamente ocupados, que em si representam mais uma
flagrante violação do direito internacional e uma provocação inaceitável à legítima soberania e unidade da
Ucrânia.»
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Srs. Deputados, vamos votar a parte deliberativa do projeto de voto que acaba de ser lido.
Submetida à votação, foi aprovada, com votos a favor do PS, do PSD, do CH, da IL, do BE, do PAN e do L
e a abstenção do PCP.
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Sr.ª Presidente, peço a palavra.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para que efeito, Sr.ª Deputada?
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Para anunciar que entregaremos uma declaração de voto.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Fica registado, Sr.ª Deputada. Vamos agora votar, na generalidade, a Proposta de Lei n.º 88/XV/1.ª (GOV) — Transpõe a Diretiva Delegada
(UE) 2022/2100 e reforça normas tendentes à prevenção e controlo do tabagismo.
Submetida à votação, foi aprovada, com votos a favor do PS, votos contra do CH, da IL, do BE e das
Deputadas do PS Alexandra Leitão e Isabel Alves Moreira e as abstenções do PSD, do PCP, do PAN, do L e
de 14 Deputados do PS (António Sales, Bruno Aragão, Carla Sousa, Cláudia Santos, Eduardo Alves, Fátima
Fonseca, Filipe Neto Brandão, Isabel Guerreiro, Joana Sá Pereira, João Paulo Rebelo, Maria Antónia de Almeida
Santos, Nelson Brito, Paulo Araújo Correia e Pedro Anastácio).
O diploma baixou à 9.ª Comissão.
A Sr.ª Deputada Isabel Moreira pede a palavra para que efeito?
A Sr.ª Isabel Alves Moreira (PS): — Sr.ª Presidente, para anunciar que já fiz chegar à Mesa uma declaração de voto escrita.
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A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Srs. Deputados, só se for para declarações de voto orais é que é necessário indicar à Mesa, de contrário, apresentem a declaração de voto e não vale a pena estarmos a perder
tempo, com toda a gente a dizer que entregou ou que vai entregar declaração de voto.
Sr. Deputado Pedro Cegonho, faça favor.
O Sr. Pedro Cegonho (PS): — Sr.ª Presidente, não sendo proibido, apesar de ter votado a favor, apresentarei uma declaração de voto escrita.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — O Sr. Deputado Rodrigo Saraiva pede a palavra para que efeito?
O Sr. Rodrigo Saraiva (IL): — Para uma interpelação à Mesa, Sr.ª Presidente.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Faça favor, Sr. Deputado.
O Sr. Rodrigo Saraiva (IL): — Sr.ª Presidente, talvez por lapso, falta saber quem é que vota a favor desta proposta. Portanto, ou se repete a votação ou, pelo menos, pergunte quem vota a favor para que os portugueses
saibam quem está a favor desta proibição.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Tem razão, Sr. Deputado, mas tal como tinha anunciado, presumi, por exclusão de partes, que quem votou a favor foi o PS.
Sr.ª Deputada Cláudia Santos, pede a palavra para que efeito?
A Sr.ª Cláudia Santos (PS): — Sr.ª Presidente, para anunciar que entregámos uma declaração de voto sobre a votação desta Proposta de Lei n.º 88, também no nome dos Srs. Deputados António Sales, Bruno Aragão…
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Sr.ª Deputada, desculpe interrompê-la, mas de acordo com o novo Regimento, não é necessário o anúncio, basta apresentarem a declaração.
Protestos de Deputados do PS, do PSD e do CH.
A Sr.ª Cláudia Santos (PS): — Muito obrigada, Sr.ª Presidente. Como já foi antes dito, o Regimento não proíbe e, portanto, permite.
Aplausos de Deputados do PSD.
E, nessa medida, continuaria a indicar o nome dos Srs. Deputados que subscreveram esta declaração de
voto e que são, além dos anteriormente ditos, os Srs. Deputados Eduardo Alves, Fátima Fonseca, Filipe Neto
Brandão, Joana Sá Pereira, Paulo Araújo Correia e Pedro Anastácio.
O Sr. António Prôa (PSD): — Peço a palavra, Sr.ª Presidente.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para que efeito, Sr. Deputado?
O Sr. António Prôa (PSD): — Sr.ª Presidente, para anunciar que apresentarei uma declaração de voto sobre a votação que efetuámos.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Prosseguimos com a votação, na generalidade, do Projeto de Lei n.º 879/XV/1.ª (CH) — Altera a Lei n.º 37/2007, de 14 de agosto, altera a rotulagem nos produtos de tabaco de
forma a eliminar fotografias ou ilustrações das advertências de saúde combinadas e dando mais destaque às
opções disponíveis de apoio antitabágico.
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Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PS e do PCP, votos a favor do PSD e do CH e
abstenções da IL, do BE, do PAN e do L.
Vamos votar, na generalidade, o Projeto de Lei n.º 881/XV/1.ª (PAN) — Procede à segunda alteração da Lei
n.º 88/2019, de 3 de setembro, conhecida como «Lei das Beatas», de forma a assegurar a sua mais eficiente,
efetiva e transparente aplicação.
Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PS e do CH, votos a favor do PSD, do BE, do PAN
e do L e abstenções da IL e do PCP.
Passamos à votação do Projeto de Resolução n.º 868/XV/1.ª (PAN) — Recomenda ao Governo que assegure
a adoção de incentivos para o correto descarte e reaproveitamento das pontas de produtos de tabaco.
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PSD, do BE, do PAN e do L e abstenções do PS,
do CH, da IL e do PCP.
Votamos, agora, o Projeto de Resolução n.º 853/XV/1.ª (CH) — Recomenda ao Governo que altere as regras
de inscrição nas creches aderentes ao programa Creche Feliz dando prioridade a crianças com pais
trabalhadores.
Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PS, do BE e do PAN, votos a favor do CH e
abstenções do PSD, da IL, do PCP e do L.
Vamos votar, na generalidade, o Projeto de Lei n.º 876/XV/1.ª (IL) — Pela liberdade de escolha da creche.
Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PS, do PCP, do BE e do L, votos a favor do PSD, do
CH e da IL e a abstenção do PAN.
Segue-se a votação, na generalidade, do Projeto de Lei n.º 882/XV/1.ª (PAN) — Cria um apoio extraordinário
para a frequência de creches ou amas, destinado às crianças que não tenham tido acesso a vaga abrangida
pela gratuitidade no setor social e solidário ou nas creches licenciadas da rede privada lucrativa.
Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PS e do PSD, votos a favor do CH, do PAN e do L e
abstenções da IL, do PCP e do BE.
Vamos votar, na generalidade, o Projeto de Lei n.º 862/XV/1.ª (BE) — Programa de valorização do ensino
artístico.
Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PS e da IL, votos a favor do CH, do PCP, do BE, do
PAN e do L e a abstenção do PSD.
Votamos, de seguida, também na generalidade, o Projeto de Lei n.º 883/XV/1.ª (PAN) — Dignifica o ensino
artístico especializado, prevendo a identificação das necessidades e respostas públicas, a criação de bolsas
artísticas e a contratação de docentes especializados.
Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PS, votos a favor do PSD, do CH, do PCP, do BE,
do PAN e do L e a abstenção da IL.
Passamos à votação, na generalidade, do Projeto de Lei n.º 928/XV/2.ª (PCP) — Alargamento da rede
pública de ensino artístico especializado.
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Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PS e da IL, votos a favor do PCP, do BE, do PAN e
do L e abstenções do PSD e do CH.
Prosseguimos com a votação, na generalidade, do Projeto de Lei n.º 522/XV/1.ª (PCP) — Carta de aptidão
para a cultura de cereais, promoção da produção de cereais e acompanhamento da Estratégia Nacional para a
Promoção da Produção de Cereais.
Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PS, do PSD e da IL e votos a favor do CH, do PCP,
do BE, do PAN e do L.
Votamos agora, na generalidade, o Projeto de Lei n.º 305/XV/1.ª (CH) — Promove a produção agrícola
nacional com vista a atingir a soberania e segurança alimentar de forma sustentável.
Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PS, do PCP, do BE, do PAN e do L, votos a favor do
CH e abstenções do PSD e da IL.
Vamos passar à votação, na generalidade, do Projeto de Resolução n.º 604/XV/1.ª (L) — Recomenda ao
Governo que assegure a continuidade do Banco Português de Germoplasma Vegetal e que contemple, no
próximo Orçamento do Estado, os recursos financeiros que são inerentes ao seu funcionamento e missão.
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do CH, do PCP, do BE, do PAN e do L e abstenções
do PS, do PSD e da IL.
O projeto baixa à 7.ª Comissão.
Seguimos com a votação, na generalidade, do Projeto de Resolução n.º 869/XV/1.ª (PAN) — Recomenda ao
Governo a contratação de técnicos superiores para o Banco Português de Germoplasma Vegetal.
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do CH, do PCP, do BE, do PAN e do L e abstenções
do PS, do PSD e da IL.
O projeto baixa à 7.ª Comissão.
Vamos, agora, votar, na generalidade, na especialidade e em votação final global, a Proposta de Lei
n.º 92/XV/1.ª (GOV) — Autoriza o Governo a transpor a Diretiva (UE) 2020/1828, relativa a ações coletivas para
proteção dos interesses dos consumidores.
Submetida à votação, foi aprovada, com votos a favor do PS, do PSD, da IL, do PAN e do L e abstenções do
CH, do PCP e do BE.
Vamos votar, na generalidade, o Projeto de Lei n.º 859/XV/1.ª (IL) — Aprova a Lei de Bases do Sistema
Universal de Acesso à Saúde, procedendo à revogação da Lei n.º 95/2019, de 4 de setembro.
Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PS, do PSD, do PCP, do BE, do PAN e do L, votos
a favor da IL e a abstenção do CH.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Ah, afinal o Chega abstém-se!
A Sr.a Presidente (Edite Estrela): — Passamos à votação, na generalidade, do Projeto de Lei n.º 880/XV/1.ª (CH) — Altera a Lei de Bases da Saúde, estabelecendo a obrigação de o Estado referenciar os utentes do
Serviço Nacional de Saúde para atendimento nos setores privado ou social em caso de esgotamento dos tempos
máximos de resposta garantidos.
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Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PS, do PCP, do BE e do L, votos a favor do PSD, do
CH e do PAN e a abstenção da IL.
Seguidamente, vamos votar o requerimento, apresentado pelo PAN, solicitando a baixa à Comissão de
Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdade e Garantias, sem votação, por 60 dias, do Projeto de Lei
n.º 884/XV/1.ª (PAN) — Autoriza o acesso de estudantes de Medicina a sistemas de registo de dados de saúde
dos utentes, procedendo à primeira alteração à Lei n.º 58/2019, de 8 de agosto.
Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.
Vamos prosseguir com a votação do Projeto de Resolução n.º 750/XV/1.ª (CH) — Recomenda ao Governo
que adote medidas para aumentar a eficácia, eficiência e produtividade do Serviço Nacional de Saúde,
particularmente nas zonas e regiões mais carenciadas.
Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PS, do PCP e do BE, votos a favor do PSD e do CH
e abstenções da IL, do PAN e do L.
Votamos agora, na generalidade, o Projeto de Resolução n.º 763/XV/1.ª (PS) — Recomenda ao Governo
novas soluções de monitorização e abastecimento de água em Portugal.
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PS, do PSD, do CH e da IL, votos contra do PCP
e abstenções do BE, do PAN e do L.
O projeto baixa à 11.ª Comissão.
Passamos à votação, na generalidade, do Projeto de Lei n.º 437/XV/1.ª (CH) — Alteração à lei dos serviços
municipais de abastecimento público de água, de saneamento de águas residuais e de gestão de resíduos
urbanos.
Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PS, do PCP, do BE e do L, votos a favor do CH e
abstenções do PSD, da IL e do PAN.
Vamos votar, ainda na generalidade, o Projeto de Lei n.º 853/XV/1.ª (BE) — Procede à criação do instituto
da água, I. P. e à reativação das administrações das regiões hidrográficas e dos conselhos da região
hidrográfica.
Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PS e do PSD, votos a favor do PCP, do BE e do L e
abstenções do CH, da IL e do PAN.
Temos, de seguida, a votação, na generalidade, do Projeto de Resolução n.º 794/XV/1.ª (PSD) —
Modernização da monitorização dos recursos hídricos.
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PSD, do CH, da IL, do PCP, do BE, do PAN e do L
e a abstenção do PS.
Este projeto baixa à 11.ª Comissão.
Procedemos, de seguida, à votação, na generalidade, do Projeto de Resolução n.º 809/XV/1.ª (PSD) —
Campanha nacional e plurianual para a poupança de água.
Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PS e votos a favor do PSD, do CH, da IL, do PCP,
do BE, do PAN e do L.
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Ponho agora à votação, na generalidade, o Projeto de Resolução n.º 821/XV/1.ª (BE) — Investimento em
modos de produção compatíveis com a escassez de água e moratória sobre atividades de consumo intensivo
de água.
Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PS, do PSD, do CH e da IL, votos a favor do BE, do
PAN e do L e a abstenção do PCP.
Passamos à votação, na generalidade, do Projeto de Resolução n.º 822/XV/1.ª (BE) — Programa nacional
para redução de perdas de água.
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PSD, do CH, da IL, do PCP, do BE, do PAN e do L
e a abstenção do PS.
O projeto baixa à 11.ª Comissão.
Segue-se a votação, na generalidade, do Projeto de Resolução n.º 829/XV/1.ª (PSD) — Programa de ação
para a digitalização integral do ciclo da água.
Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PS e do PCP e votos a favor do PSD, do CH, da IL,
do BE, do PAN e do L.
Vamos prosseguir com a votação, na generalidade, do Projeto de Resolução n.º 830/XV/1.ª (PSD) —
Promover a utilização de águas residuais tratadas no combate a incêndios rurais reforçando a Rede de pontos
de água.
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PSD, do CH, da IL, do BE, do PAN e do L e
abstenções do PS e do PCP.
O projeto baixa à 11.ª Comissão.
Temos, de seguida, a votação, na generalidade, do Projeto de Resolução n.º 870/XV/1.ª (PAN) —
Recomenda ao Governo que proceda a uma revisão do enquadramento legal dos planos de gestão de bacia
hidrográfica, com vista à sua adaptação aos cenários climáticos.
Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PS e do CH, votos a favor da IL, do PCP, do BE, do
PAN e do L e a abstenção do PSD.
Vamos passar à votação, na generalidade, do Projeto de Resolução n.º 871/XV/1.ª (PAN) — Recomenda ao
Governo que proceda à elaboração e à implementação de um plano para a transição agroecológica.
Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PS, do PSD, do CH e da IL, votos a favor do BE, do
PAN e do L e a abstenção do PCP.
Vamos proceder à votação, na generalidade, do Projeto de Lei n.º 836/XV/1.ª (PSD) — Reforça a proteção
e os direitos de todos os trabalhadores-estudantes.
Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PS e do PCP, votos a favor do PSD, do CH, da IL e
do PAN e abstenções do BE e do L.
Passamos agora a votar, na generalidade, o Projeto de Lei n.º 420/XV/1.ª (PSD) — Cria o estatuto do
estudante praticante de atividades artísticas no ensino superior.
Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PS e votos a favor do PSD, do CH, da IL, do PCP,
do BE, do PAN e do L.
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Vamos agora votar, também na generalidade, o Projeto de Lei n.º 851/XV/1.ª (IL) — Não discriminar os
trabalhadores independentes face aos dependentes, na consideração dos rendimentos dos jovens estudantes-
trabalhadores.
Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PS, votos a favor do PSD, do CH, da IL, do BE, do
PAN, do L e do Deputado do PS Hugo Carvalho e a abstenção do PCP.
Vamos votar, ainda na generalidade, o Projeto de Lei n.º 886/XV/1.ª (CH) — Procede à isenção de propinas
para alunos a frequentar estágios profissionais obrigatórios em cursos do ensino superior, transversal a todas
as áreas de estudo, alterando a Lei n.º 37/2003, de 22 de agosto, que estabelece as bases do financiamento do
ensino superior.
Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PS, do PSD e da IL, votos a favor do CH, do BE e o
PAN e abstenções do PCP e do L.
Passamos à votação, também na generalidade, do Projeto de Lei n.º 904/XV/2.ª (PAN) — Salvaguarda o
acesso dos trabalhadores independentes com estatuto de trabalhador-estudante ao abono de família, a bolsas
de ensino superior e a pensões de sobrevivência, alterando o Decreto-Lei n.º 70/2010, de 16 de junho.
Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PS, votos a favor do PSD, do CH, da IL, do BE, do
PAN, do L e do Deputado do PS Hugo Carvalho e a abstenção do PCP.
Votamos, de seguida, na generalidade, o Projeto de Resolução n.º 873/XV/1.ª (PS) — Recomenda ao
Governo que promova melhores condições de acesso ao trabalho para estudantes.
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PS, do PSD, do CH, da IL e do PAN e abstenções
do PCP, do BE e do L.
O projeto baixa à 8.ª Comissão.
Temos, de seguida, a votação, na generalidade, do Projeto de Resolução n.º 881/XV/2.ª (PAN) —
Recomenda ao Governo que adote medidas de valorização do Estatuto do Trabalhador-Estudante.
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PSD, do CH, da IL e do PAN e abstenções do PS,
do PCP, do BE e do L.
Baixa à 8.ª Comissão.
Votamos, agora, o Projeto de Resolução n.º 363/XV/1.ª (CH) — Pela classificação como imóvel de interesse
nacional e reabilitação da antiga Ponte do Vouga.
Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PS, votos a favor do PSD, do CH, da IL, do BE e do
PAN e abstenções do PCP e do L.
Procedemos, ainda, à votação final global do texto final, apresentado pela Comissão de Educação e Ciência,
relativo ao Projeto de Lei n.º 781/XV/1.ª (L) — Cria as respostas de apoio psicológico para vítimas de assédio e
violência sexual no ensino superior e alarga o âmbito de aplicação dos códigos de boa conduta para a prevenção
e combate ao assédio a todos os membros da comunidade académica.
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PS, do PSD, da IL, do PCP, do BE, do PAN e do L
e a abstenção do CH.
Concluímos as nossas votações.
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A nossa próxima sessão plenária será terça-feira, dia 3 de outubro.
No primeiro ponto da nossa ordem de trabalhos teremos a discussão, na generalidade, dos Projetos de Lei
n.os 349/XV/1.ª (PSD) — Define o regime transitório de regularização dos edifícios sede e similares das
associações sem fins lucrativos e 868/XV/1.ª (PAN) — Aprova um regime excecional de renegociação dos
contratos de crédito aplicáveis às micro, pequenas e médias empresas, às instituições particulares de
solidariedade social, às associações sem fins lucrativos e às entidades da economia social, em conjunto com o
Projeto de Resolução n.º 911/XV/2.ª (PCP) — Prevenção de segurança e regularização de edifícios sede e
similares das associações sem fins lucrativos.
Seguir-se-á, no segundo ponto, o debate dos Projetos de Resolução n.os 567/XV/1.ª (CH) — Recomenda ao
Governo que identifique o património imobiliário habitacional do Estado que está a ser indevidamente utilizado,
alvo de fraude ou a necessitar de obras de reabilitação e 906/XV/2.ª (PAN) — Recomenda ao Governo a
conclusão urgente do inventário do património imobiliário do Estado com aptidão para uso habitacional como
medida essencial para o combate à crise habitacional.
Do ponto três consta a discussão, na generalidade, da Proposta de Lei n.º 27/XV/1.ª (ALRAA) — Assegura
o aumento do subsídio de risco para os profissionais das forças e serviços de segurança, em conjunto com os
Projetos de Lei n.os 910/XV/2.ª (PCP) — Aprova o aumento do suplemento por serviço e risco nas forças e
serviços de segurança (sexta alteração ao Decreto-Lei n.º 298/2009, de 14 de outubro e quarta alteração ao
Decreto-Lei n.º 243/2015, de 19 de outubro), 916/XV/2.ª (CH) — Aumenta para 500 euros a componente fixa do
suplemento por serviço e risco nas forças de segurança auferido pelos militares da Guarda Nacional Republicana
e pelos agentes da Polícia de Segurança Pública e 917/XV/2.ª (PAN) — Assegura o aumento do suplemento
por serviço e risco e do suplemento de ronda dos profissionais das forças e serviços de segurança e com o
Projeto de Resolução n.º 875/XV/1.ª (CH) — Pela valorização das carreiras e reforço dos meios humanos e
materiais do Corpo da Guarda Prisional.
Num quarto e último ponto teremos o debate da Petição n.º 103/XV/1.ª (Isabel Vasco e outros) — Em defesa
dos nossos Professores!, conjuntamente com os Projetos de Lei n.os 922/XV/2.ª (BE) — Recuperação integral
do tempo de serviço cumprido, em defesa da escola pública e 925/XV/2.ª (CH) — Assegura os direitos dos
professores no que diz respeito à valorização da sua carreira, na generalidade, e com os Projetos de Resolução
n.os 714/XV/1.ª (PAN) — Recomenda ao Governo a revisão e alteração do novo regime de gestão e recrutamento
do pessoal docente, 883/XV/2.ª (PCP) — Recomenda a adoção de medidas de valorização dos trabalhadores
da educação e da escola pública, 899/XV/2.ª (L) — Pela valorização e qualificação das carreiras de assistente
técnico e de assistente operacional nas escolas e promoção de medidas que permitam a adequação destes
recursos à realidade de cada escola e 900/XV/2.ª (L) — Pela vinculação, contabilização do tempo de serviço
docente e fim do bloqueio na progressão da carreira.
Não há avisos a fazer, pelo que concluímos os nossos trabalhos.
Desejo a todas as Sr.as Deputadas, a todos os Srs. Deputados e a todos os presentes um bom fim de semana.
Está, assim, encerrada a sessão.
Eram 13 horas e 40 minutos.
———
Declarações de voto enviadas à Mesa para publicação
Relativa ao Projeto de Voto n.º 447/XV/2.ª:
O PCP votou favoravelmente o presente voto. Entendemos que é da mais elementar justiça que seja prestada
homenagem às vítimas da cruel repressão da ditadura fascista no Chile, aos milhares de homens, mulheres,
jovens perseguidos, presos, torturados, assassinados, desaparecidos, exilados e oprimidos.
No entanto, não pactuamos com o branqueamento da natureza da ditadura fascista do General Augusto
Pinochet, nem com a ingerência externa dos Estados Unidos da América e da CIA (Central Intelligence Agency),
na desestabilização do Chile.
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Num momento em que alguns procuram reescrever a História, branquear o que foi o fascismo e os seus
crimes, e em que são banalizadas, normalizadas e promovidas forças de extrema-direita e fascistas, assinalar
os 50 anos do golpe militar fascista no Chile é também alertar os democratas, os antifascistas, os defensores
da liberdade e da paz de que o tempo é de ação face a conceções e projetos reacionários e fascizantes.
Assinalam-se 50 anos do brutal e sangrento golpe militar no Chile que derrubou o Governo democraticamente
eleito, dirigido pelo Presidente Salvador Allende.
Durante três anos, de 1970 a 1973, o Governo da Unidade Popular implementou importantes medidas
económicas e sociais — como a nacionalização da indústria do cobre e de outros setores estratégicos da
economia ou a reforma agrária —, colocando os recursos do país ao serviço da melhoria das condições de vida
dos trabalhadores e do povo chileno, afirmando uma política de soberania e independência nacional e de
cooperação com os povos do mundo.
Um processo de transformações profundamente democrático e participado, com destacado papel do
sindicalismo e da juventude, que uniu correntes democráticas em torno do programa patriótico e progressista da
Unidade Popular.
Desrespeitando a vontade democraticamente expressa pelo povo chileno e o caminho transformador que
este determinou, a 11 de setembro de 1973, um golpe executado pelos setores mais reacionários das Forças
Armadas chilenas, liderado pelo General Augusto Pinochet, impôs uma violenta e cruel ditadura fascista. Um
golpe que foi concebido e implementado pelos Estados Unidos da América, com o envolvimento da CIA, das
multinacionais norte-americanas e dos grupos económicos chilenos, que durante o Governo da Unidade Popular
promoveram um permanente boicote da economia e a desestabilização do país, incluindo com o recurso ao
assassinato e a outras criminosas operações e atentados.
Com o golpe passaram a ser impostas no Chile as conceções liberais ditadas pelos Chicago Boys.
Conceções que, servindo os interesses dos grupos económicos, constituíram a base da política económica da
ditadura fascista, com gravosas consequências para os trabalhadores e povo chileno e que se traduziram na
privatização de setores e empresas estratégicas, na redução drástica das funções sociais do Estado, na brutal
regressão nos direitos, no empobrecimento e endividamento das famílias, na concentração da riqueza e saque
das riquezas do país.
Conceções que hoje continuam a procurar confundir liberalismo com liberdade, esse liberalismo onde
assentaram os princípios e fundamentos do golpe fascista no Chile, com as suas nefastas consequências. Esse
mesmo liberalismo que mostrou e mostra ser incompatível com a democracia.
Os EUA não promoveram apenas o golpe que levou à instauração da ditadura no Chile, mas igualmente a
instauração de ditaduras na Argentina, na Bolívia, no Brasil, no Paraguai ou no Uruguai, entre outras, com quem
levaram a cabo a funesta «Operação Condor», cujas consequências perduram na atualidade com a exigência
do esclarecimento da situação de milhares de desaparecidos.
Logo em 1973, sob a repressão da ditadura em Portugal, foram realizadas por antifascistas portugueses
ações de denúncia e condenação do golpe no Chile e de solidariedade para com o povo chileno.
Mas foi com a Revolução de Abril, que, em 1974, libertou o povo português de 48 anos de fascismo, que em
Portugal pôde ser expressa em liberdade uma imensa manifestação de solidariedade para com os democratas
e antifascistas chilenos então brutalmente assassinados, presos, torturados, perseguidos, e que contribuiu para
abrigar exilados políticos, impedir assassinatos, libertar presos, animar a resistência antifascista.
Os democratas têm o dever e a responsabilidade de não deixar que sejam esquecidos os crimes cometidos
pelo fascismo no Chile, em Portugal ou noutros países. Um dever e uma responsabilidade de sempre, que
assume particular significado e importância na atualidade.
Em vésperas das comemorações do 50.º aniversário da Revolução de Abril, é momento de afirmar o que ela
representou de avanço libertador para o povo português e de apontar um caminho para Portugal assente nos
seus valores.
Como o Presidente Salvador Allende afirmou na sua última mensagem dirigida ao povo chileno: «Saibam
que, antes do que se pensa, de novo se abrirão as grandes alamedas por onde passará o homem livre, para
construir uma sociedade melhor.»
Os Deputados do PCP, Paula Santos — Bruno Dias.
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———
Relativa ao Projeto de Voto n.º 446/XV/2.ª:
O PCP pugna pelo respeito dos princípios consagrados na Carta das Nações Unidas e no direito internacional
e na Constituição da República Portuguesa.
No entanto, o voto que é apresentado, mais do que procurar contribuir para a solução política de uma guerra
que dura há quase dez anos, com os seus múltiplos desenvolvimentos e consequências, inscreve-se numa visão
que, omitindo e distorcendo elementos de natureza histórica e deturpando as raízes e causas do conflito, procura
animar a guerra e quem com ela lucra.
Entre outros aspetos, não deve ser escamoteado que a atual situação resulta do carácter e das
consequências do golpe de Estado de 22 de fevereiro de 2014 para unidade e integridade territorial da Ucrânia,
nomeadamente, com o início da guerra pela junta militar golpista de Kiev em resposta à expressiva rejeição
popular nas regiões do Leste e Sul da Ucrânia do golpe, orquestrado pelos EUA (Estados Unidos da América)
e a EU (União Europeia), com o recurso a grupos e formações paramilitares que reivindicam o seu passado de
colaboracionismo com o nazi-fascismo.
Ao mesmo tempo, a complexa realidade destes territórios — nos planos político-territorial, económico, social,
linguístico-cultural — colhe raízes no processo de desmantelamento da URSS (União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas) e seus efeitos ao longo dos últimos 30 anos.
Por exemplo, cabe recordar que ainda com a existência da URSS, a 20 de janeiro de 1991, foi realizado um
referendo na Crimeia sobre a retirada deste território da jurisdição da Ucrânia, proposta que foi aprovada por
cerca de 93 % dos eleitores da península. Uma proposta que se traduzia no restabelecimento da República
Autónoma Socialista Soviética da Crimeia (RASSC) no seio da URSS, entidade que havia existido no seio da
Rússia Soviética entre 1921 e 1945, antes de se tornar distrito da Crimeia e de ser transferida, em 1954, para a
jurisdição da Ucrânia Soviética. Uma vontade expressa pela esmagadora maioria da população da Crimeia em
referendo que foi contrariada por uma votação do Soviete Supremo da então República Soviética da Ucrânia.
É também na Crimeia que, face ao golpe de Estado de 22 de fevereiro de 2014 e à violenta campanha que
atentou contra os direitos políticos, culturais e linguísticos da população russófona da Ucrânia — uma parte
muito significativa da sua população —, tem lugar os referendos de reintegração de Sebastopol e da Crimeia na
Federação Russa, com taxas de participação superiores a 80 % e de aprovação superiores a 90 %.
No Donbass, distritos de Donetsk e Lugansk, é já depois do início pela junta de Kiev da integração das
formações nazis de «batalhões voluntários», incluindo do batalhão Azov, na recém-formada Guarda Nacional
da Ucrânia, que têm lugar os levantamentos populares, com a proclamação das Repúblicas Populares de
Donetsk e, depois, de Lugansk.
Movimentos análogos tiveram lugar noutras regiões do Leste e Sul do país, como nos distritos de Kharkov e
Odessa, enfrentando a repressão do novo poder.
À rejeição popular da imposição do poder golpista em Kiev e da sua campanha nacionalista e fascista de
ataque à população russófona e de divisão do povo ucraniano, a junta militar respondeu com o início da guerra
no Donbass e uma brutal repressão, de que é exemplo o massacre na Casa dos Sindicatos de Odessa de 2 de
maio de 2014, cujos responsáveis continuam por levar à justiça.
Não se deve igualmente escamotear que, ao confessadamente frustrar o cumprimento dos acordos de Minsk
— que previam o fim do conflito e a autodeterminação das regiões do Donbass, com base numa ampla
autonomia no seio da Ucrânia — e reforçar a militarização do país e o alinhamento com a NATO (North Atlantic
Treaty Organization) — inclusive revogando, na revisão constitucional de 2019, o estatuto de neutralidade
inscrito na proclamação de independência da Ucrânia em 1991 —, o poder em Kiev, apostou na guerra.
Um processo, em que se incrementa a militarização da Ucrânia e o seu alinhamento com a estratégia dos
EUA, da UE e da NATO, se verifica a intervenção militar da Rússia, se promove o prolongamento e agravamento
da escalada de guerra.
Não pode ser encontrada uma solução política para o conflito que os EUA e a NATO travam na Ucrânia com
a Rússia, omitindo e distorcendo elementos de natureza histórica e deturpando as raízes e causas do conflito.
Desde o primeiro momento que afirmamos que o que se impõe é avançar para uma urgente agenda de paz,
para um processo sério de negociações, como única via para pôr fim ao conflito que se trava na Ucrânia e
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promover a paz e a segurança na Europa, impedindo o perigo do alastramento da guerra e da deflagração de
um conflito com maiores proporções e consequências ainda mais graves.
Insistimos, ao invés de instigar o prolongamento e o agravamento de uma guerra que se trava há quase dez
anos, o que é premente é a abertura de vias de negociação que visem alcançar uma solução política do conflito,
a resposta aos problemas de segurança coletiva e do desarmamento na Europa e o cumprimento dos princípios
da Carta da ONU e da Ata Final da Conferência de Helsínquia.
Pela nossa parte, defendemos que há que pôr fim à promoção do prolongamento e da escalada de guerra,
com as dramáticas consequências que tal comporta para o povo ucraniano, para o povo russo, para os povos
da Europa e do mundo.
Os Deputados do PCP, Paula Santos — Bruno Dias.
———
Relativa ao Proposta de Lei n.º 88/XV/1.ª:
Em primeiro lugar, como sustento há vários anos, esta lei é sobre liberdade e saúde pública e não apenas
sobre saúde pública. As razões que me levaram a votar contra a última (e recente) alteração adensaram-se,
como passarei a expor.
O que o propoente apresenta como uma alteração legislativa sobre matérias relativas à proteção da
exposição ao fumo ambiental, à limitação das vendas e à proibição da publicidade é, na verdade, um exemplo
prático de como desproteger de forma desproporcionada e simbólica (sendo que o proibicionismo simbólico é
incompatível com o Estado de direito) a liberdade individual e de como contrariar a política de redução de riscos
que sustenta a nossa abordagem em matéria de saúde pública.
Assim, no que toca à adição tabágica, há como que um Estado dentro do Estado, um Estado que entende
tratar o adito com a lógica do quit or die, perseguindo-o, dizendo-lhe, ao adito de um produto lícito, que há uma
única via de entrar no mundo padronizado da sonhada «Europa livre de fumo»: não fumar, não «dar» esse «mau
exemplo» (ainda que lícito) em determinados locais (ainda que sem risco relevante para terceiros) e não ser
premiado por aderir a produtos que reduzem os riscos de doença, como os cigarros eletrónicos ou o tabaco
aquecido.
Não são cigarros, não há combustão, os riscos diminuem significativamente, retira-se o «fumo» da equação
e mantém-se o que, de facto, vicia — a nicotina —, mas o tal Estado que desconhece o outro Estado da
metadona e da redução de riscos em geral decide que os novos produtos do tabaco são, para efeitos da lei, em
tudo, equiparados a cigarros.
Sendo isto evidentemente desproporcional, como já venho sustentando há anos, há aqui uma
inconstitucionalidade que tenho por evidente, mas há, pior, uma crueldade legal, uma cegueira sanitária, uma
aposta em cidadãos virtuosos, que tratarão de deixar um vício legal sem a ajuda de nada que se pareça com tal
maldição. Há anos que falamos nisto, há estudos e há uma enorme facilidade de fazer testes toxicológicos: não
vou reproduzir a vasta documentação sobre a matéria. Revejo-me nisto:
European Tobacco Harm Reduction Advocates - Europe-wide consumer organisation launches manifest on
behalf of millions of former smokers (ethra.co)
«Regulators should be aware of the overwhelmingly beneficial effect of reduced risk nicotine products to
attract smokers away from lit tobacco», said Rob de Lange of ACVODA, a Dutch consumer association and
partner of ETHRA. «Smoking rates in countries which regulate alternative nicotine products sensibly have
collapsed, yet consumers are constantly fighting against public health organizations who seem to favor an ill-
informed precautionary approach which can only perpetuate smoking and protect the most harmful nicotine
delivery system of all, the cigarette».
Em termos de liberdade individual, choca-me profundamente que um Governo do PS tenha por bem criar
dificuldades a pessoas adultas quando estas querem aceder a um produto lícito. As medidas mais restritivas no
que se refere aos locais onde é permitido vender tabaco, limitando a venda de tabaco em máquinas de venda,
através de entregas ao domicílio ou da venda ambulante, merecem-me repúdio.
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Todas as proibições de fumar ao ar livre ou em esplanadas que reúnem condições para a proteção razoável
de terceiros são, na minha opinião, inconstitucionais. Todas as normas simbólicas são inconstitucionais.
Voto contra, porque não há nada para salvar nesta proposta de lei. Ela vem na senda da anterior alteração
que mereceu meses de avaliação num grupo de trabalho que integrei. Essa alteração ainda não foi avaliada,
mas o ímpeto proibicionista e sanitário apressou-se, como então previ.
Gostava muito que voltássemos a apreciar a liberdade e a saúde pública como sempre o fizemos: sem
paternalismos e com humanismo. Entendendo que o Estado não pode proibir nem condicionar nem castigar
comportamentos lícitos. Pode restringi-los, na exatíssima medida em eles afetem terceiros. E a afetação tem de
ser razoável. Seria ótimo que, em 2023, soubéssemos que a liberdade de todos acarreta sempre algum
incómodo recíproco e que o Estado não pode normalizar comportamentos nem desenhar cidadãos exemplares.
Isto não é, portanto, apenas sobre fumar e não fumar. Isto é sobre a nossa conceção de Estado de direito.
A Deputada do PS, Isabel Moreira.
——
A proposta de lei relativamente à qual se faz esta declaração de voto tem como meritório propósito «continuar
a melhorar o enquadramento legislativo de redução da oferta e da procura de tabaco e de proteção da exposição
às emissões ambientais do tabaco e de produtos afins […]» porquanto «o consumo e exposição ao fumo do
tabaco representa um dos maiores problemas globais de saúde pública, não só em mortalidade prematura e
sofrimento humano, mas também em elevados encargos para o Estado e para as famílias em consumo de
medicamentos e de serviços de saúde, apoios sociais, absentismo e perda de produtividade económica, bem
como em termos de efeitos ambientais associados a toda a cadeia de produção e consumo».
Todavia, apesar de se concordar com a bondade de tal desígnio, sobressaem as dúvidas de
proporcionalidade em sentido estrito e de probabilidade de eficácia que mesmo neste momento de votação
apenas na generalidade se não devem desconsiderar.
Com efeito, no que respeita ao primeiro segmento de análise — a proporcionalidade — as soluções
excessivamente proibicionistas quer no que respeita aos locais onde se pode fumar quer no que tange aos locais
onde se pode comprar tabaco são de molde a recear que a compressão de direitos fundamentais seja excessiva
face ao desígnio de proteção, que é legítimo, da saúde pública.
Cumpre, porém, aqui recordar que a liberdade pessoal, enquanto valor eminentemente individual, não pode
ser esmagada sob o altar de valores de índole coletiva, os chamados valores supraindividuais, de que é exemplo
a saúde pública. As proibições que a iniciativa legislativa visa introduzir não podem justificar-se, pelo menos no
que respeita a adultos, pela proteção da saúde pessoal, porquanto, num Estado onde há décadas se deixou de
considerar ilícita até a tentativa de suicídio, é inevitável a conclusão de que cada um é livre de fazer com o seu
corpo aquilo que bem entender.
Ora, assim sendo, a restrição de liberdades individuais em nome de interesses coletivos carece de criteriosa
ponderação à luz de critérios de necessidade, proporcionalidade e eficácia. Indo a proposta de lei além daquilo
que resultaria do imposto pelos compromissos internacionais a que estamos vinculados, tal proporcionalidade é
muito questionável. Na proposta de lei, avulta a proibição de fumar em demasiados locais e a proibição de
comprar tabaco em demasiados locais, tornando particularmente oneroso o cumprimento dos deveres criados,
deveres esses a cuja violação se faz corresponder um regime sancionatório nada despiciendo. Ademais,
regimes de proibição específicos para idosos ou vítimas de violência doméstica, só para dar alguns exemplos,
carecem de justificação do critério diferenciador (o que justifica esse tratamento diferenciado e mais proibitivo?),
o que nos confronta com sérias dúvidas também no plano do princípio da igualdade.
Relativamente ao segundo aspeto, o da probabilidade de eficácia, avultam dificuldades de outra espécie. As
proibições de consumos de substâncias consideradas desvaliosas para a saúde (seja o álcool em contextos de
«lei seca» ou as drogas, só para dar os exemplos mais óbvios) são o exemplo por excelência da categoria
conceptual popularizada por Edwin Schur como ilícitos «sem vítimas» — no sentido em que quem compra não
se identifica como vítima de quem vende. Os estudos empíricos parecem inequívocos na conclusão da relativa
ineficácia das proibições no que tange à compra e venda de bens ou produtos intensamente desejados, mas
ilícitos. A oferta e a procura são relativamente inelásticas, pelo que o excessivo proibicionismo remete os
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consumos para espaços de marginalidade, faz subir os preços, aumenta as oportunidades de contrafação e de
contrabando. Ou seja, neste como em outros domínios, o caminho deve ser o da pedagogia e o da aposta nas
respostas de saúde. E não parece ser essa a dimensão que prevalece nesta iniciativa legislativa.
A convicção de que tais linhas argumentativas não podem ser desconsideradas impede-nos, portanto, de
aderir, sem reservas, a esta iniciativa legislativa de cuja bondade de propósitos se não duvida.
Os Deputados do Grupo Parlamentar do Partido Socialista, António Sales — Bruno Aragão — Cláudia Santos
— Eduardo Alves — Fátima Fonseca — Filipe Neto Brandão — Joana Sá Pereira — Paulo Araújo Correia —
Pedro Anastácio.
———
Nota: As declarações de voto anunciadas pelo Deputado do PS Pedro Cegonho e pelo Deputado do PSD
António Prôa não foram entregues no prazo previsto no n.º 4 do artigo 87.º do Regimento da Assembleia da
República.
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Relativa aos Projetos de Lei n.os 887/XV/1.ª, 888/XV/1.ª, 889/XV/1.ª, 890/XV/1.ª e ao Projeto de Resolução
n.º 874/XV/1.ª [votados na reunião plenária de 20 de setembro de 2023 — DAR I Série n.º 3 (2023-09-21)]:
Votei o Projeto de Resolução n.º 874/XV/1.ª e os Projetos de Lei n.os 887/XV/1.ª, 888/XV/1.ª e 890/XV/1.ª,
em cumprimento do sentido de voto definido no Grupo Parlamentar do PPD/PSD quanto a iniciativas
consideradas politicamente relevantes, apresentadas pelo meu grupo parlamentar. No entanto, quero deixar
registadas as seguintes observações:
• Quanto ao Projeto de Resolução n.º 874/XV/1.ª, entendo que não viola o artigo 167.º, n.º 2, da Constituição
da República, que apenas se refere a projetos de lei, propostas de lei ou propostas de alteração a diplomas
legais — é um projeto de resolução, que, a ser aprovado, não teria força lei. Considero, porém, duvidosa a
oportunidade da apresentação e votação de tal projeto de resolução a cerca de um mês de apresentação do
Orçamento do Estado para 2024, não me parecendo que exista uma situação de urgência que o imponha.
• Quanto ao Projeto de Lei n.º 888/XV/1.ª, entendo que a fixação de uma taxa máxima reduzida de IRS
(imposto sobre o rendimento das pessoas singulares) (15 %) apenas com base na idade do contribuinte (menos
de 35 anos) configura uma discriminação entre contribuintes apenas em razão da idade que é de duvidosa
constitucionalidade e não é justificada por uma situação excecional relativa à necessidade de retenção de jovens
profissionais no nosso País, além de ter dúvidas quanto a esse efeito da medida, se fosse aprovada. Em geral,
entendo que para este tipo de finalidades devem ser prosseguidas políticas e medidas relativas não às receitas
públicas, mas de aplicação de despesa pública para correspondentes incentivos.
• No que toca ao Projeto de Lei n.º 887/XV/1.ª, discordo da consagração na Lei de Enquadramento
Orçamental de uma obrigação de atualização automática dos escalões do IRS segundo a taxa de variação do
deflator do produto interno bruto (PIB) e a taxa de variação do produto interno bruto por trabalhador. Sem
prejuízo de considerar que tal atualização deve em regra ocorrer, a referida obrigação prevista na lei constitui a
meu ver uma «rigidificação» em lei de valor reforçado da política fiscal para todos os anos orçamentais, que
considero inconveniente.
• Por último, quanto a todos os projetos acima indicados, noto que se referem apenas ao IRS, mas o
PPD/PSD apresentou-se às últimas eleições legislativas com um programa eleitoral prevendo a redução da taxa
do IRC (imposto sobre o rendimento das pessoas coletivas), para melhorar as condições de funcionamento e
competitividade das empresas, como passo prévio ou concomitante com a redução do IRS. Sem prejuízo de
considerar justificada uma redução geral das taxas do IRS, entendo que o PPD/PSD não deve deixar de cumprir
essa proposta constante do seu programa eleitoral.
O Deputado do PSD, Paulo Mota Pinto.
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30 DE SETEMBRO DE 2023
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[Recebida na Divisão de Redação a 27 de setembro de 2023.]
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Relativa ao Projeto de Resolução n.º 880/XV/2.ª [votadas na reunião plenária de 20 de setembro de 2023 —
DAR I Série n.º 3 (2023-09-21)]:
O Grupo Parlamentar do Partido Socialista votou a favor do Projeto de Resolução n.º 880/XV/2.ª, apresentado
pelo Deputado único representante do partido Livre, que recomenda ao Governo que implemente medidas
ambiciosas de combate à evasão fiscal, à elisão fiscal e ao planeamento fiscal agressivo.
O sentido de voto do Partido Socialista perante esta iniciativa não podia, de resto, ser outro: estes temas têm
sido prioridades reiteradas do Partido Socialista e o projeto de resolução em apreço é meritório do ponto de vista
dos objetivos que pretende alcançar, sendo também meritório do ponto de vista dos instrumentos que mobiliza
para o efeito.
O combate à fraude e evasão fiscal e aduaneira é um elemento fundamental de promoção da justiça fiscal e
social, de salvaguarda da confiança nas instituições públicas e de defesa dos princípios democráticos que
sustentam o Estado social de direito.
Dito isto, não devemos confundir o imperativo de aprofundar o combate à fraude e evasão fiscal com as
posições políticas e ideológicas de cada partido. Nem se deve confundir melhorias que possam ser justificadas
(e que têm vindo a ser feitas) em regimes em concreto, como no regime dos residentes não habituais, com a
sua pura e simples eliminação.
O regime do residente não habitual é parte integrante da política pública de promoção do investimento
estrangeiro em Portugal, contribuindo para a melhoria da posição competitiva de Portugal e para o
desenvolvimento do tecido empresarial em vários setores de atividade. Não por acaso, este não é um regime
exclusivo de Portugal, havendo vários outros países da União Europeia que o adotaram.
Importa, aliás, desmistificar alguns aspetos do regime dos residentes não habituais:
1. Os residentes não habituais não têm qualquer tipo de benefício no que respeita ao pagamento de
impostos sobre os imóveis localizados em Portugal, contribuindo, pois, para a arrecadação de receita
fiscal em sede de IMI (imposto municipal sobre imóveis), IMT (imposto municipal sobre as transmissões
onerosas de imóveis) e IRS.
2. Apenas uma parte dos rendimentos de fonte estrangeira são isentos de IRS ao abrigo do regime do
residente não habitual: os rendimentos do trabalho dependente estão sujeitos a taxas progressivas ou
a uma taxa autónoma de 20 % no caso das atividades de elevado valor acrescentado; as pensões de
fonte estrangeira são tributadas a 10 %, em linha com o padrão médio de tributação das pensões dos
demais pensionistas e as mais-valias mobiliárias são tributadas a 28 %.
3. Por isso, quando se fala na despesa fiscal gerada pelos residentes não habituais, é preciso ir além da
leitura imediata dos dados e ter em conta que existe receita fiscal efetiva apurada a partir destes
contribuintes, seja em sede de IRS, seja em sede de IMI, IMT, IVA (imposto sobre o valor acrescentado)
ou outros impostos, receita essa que não existiria caso eles não optassem por se fixar em Portugal —
isto além da receita gerada indiretamente, desde logo, por via da dinamização do tecido económico e
da criação de emprego.
4. Acresce ainda que o regime dos residentes não habituais não se aplica apenas a cidadãos estrangeiros,
mas também a portugueses que qualifiquem como não residentes em Portugal durante um período de
cinco anos, sendo um incentivo importante para o regresso daqueles que emigraram.
Por tudo isto, porque, além de contribuírem para a modernização da economia, para a criação de valor e de
emprego e para o dinamismo do consumo interno, os residentes não habituais pagam impostos e contribuem
de forma efetiva para a arrecadação de receita fiscal, o Partido Socialista não pode subscrever a noção, implícita
ao texto do projeto de resolução em apreço, de que estamos perante um regime que facilita a fraude, a evasão
ou o planeamento fiscal agressivo.
O regime em apreço tem, aliás, sido objeto de melhorias, tendo por exemplo sido introduzida, mediante
proposta do Grupo Parlamentar do Partido Socialista, no Orçamento do Estado para 2020 a norma que passou
a sujeitar a uma taxa de 10 % em sede de IRS os rendimentos de pensões dos residentes não habituais.
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Se deve a promoção da justiça fiscal ser um desígnio comum a todos e se deve o combate à fraude e evasão
fiscal, para ser efetivo, ser um combate partilhado por todos os agentes políticos, deve então a intervenção da
Assembleia da República, no combate à fraude e evasão fiscal, ser norteada pelos princípios que unem e não
pelas posições que dividem os partidos com assento parlamentar.
As Deputadas e os Deputados do Grupo Parlamentar do Partido Socialista, Agostinho Santa — Ana Isabel
Santos — Anabela Real — André Pinotes Batista — António Faria — António Monteirinho — António Sales —
Bárbara Dias — Capoulas dos Santos — Carlos Brás — Catarina Lobo — Clarisse Campos — Cristina Mendes
da Silva — Cristina Sousa — Diogo Cunha — Dora Brandão — Edite Estrela — Eduardo Oliveira — Eurico
Brilhante Dias — Eurídice Pereira — Fátima Correia Pinto — Fernando José — Filipe Neto Brandão — Francisco
Pereira de Oliveira — Gilberto Anjos — Hugo Costa — Irene Costa — Jamila Madeira — João Paulo Rebelo —
Jorge Botelho — Jorge Gabriel Martins — José Pedro Ferreira — José Rui Cruz — Lúcia Araújo da Silva —Mara
Lagriminha Coelho — Maria da Luz Rosinha — Maria João Castro — Marta Freitas — Miguel Cabrita — Miguel
Iglésias — Miguel Matos — Norberto Patinho — Palmira Maciel — Paula Custódio Reis — Pedro Coimbra —
Raquel Ferreira — Rita Borges Madeira — Romualda Fernandes — Rui Lage — Sara Velez — Sérgio Monte —
Sofia Andrade — Susana Amador — Susana Barroso — Susana Correia — Tiago Brandão Rodrigues — Vera
Lúcia Brás.
[Recebida na Divisão de Redação a 26 de setembro de 2023.]
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Presenças e faltas dos Deputados à reunião plenária.
A DIVISÃO DE REDAÇÃO.