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Sexta-feira, 18 de outubro de 2024 I Série — Número 51

XVI LEGISLATURA 1.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2024-2025)

REUNIÃOPLENÁRIADE17DEOUTUBRODE 2024

Presidente: Ex.ma Sr.ª Maria Teresa da Silva Morais

Secretários: Ex.mos Srs. Jorge Paulo da Silva Oliveira Joana Fernanda Ferreira de Lima Gabriel Sérgio Mithá Ribeiro Maria Germana de Sousa Rocha

S U M Á R I O

A Presidente (Teresa Morais) declarou aberta a sessão

às 15 horas e 1 minuto. Deu-se conta da retirada do Projeto de Lei n.º 310/XVI/1.ª

e da entrada na Mesa do Projeto de Deliberação n.º 14/XVI/1.ª.

Foram discutidos, na generalidade, os Projetos de Lei n.os 101/XVI/1.ª (L) — Aprova a carta dos direitos da cidadania sénior, 307/XVI/1.ª (PAN) — Aprova a carta dos direitos da pessoa idosa e 312/XVI/1.ª (PCP) — Cria uma rede pública

de equipamentos e serviços de apoio aos idosos, juntamente com os Projetos de Resolução n.os 347/XVI/1.ª (PAN) — Recomenda ao Governo que tome medidas que contribuam para a consciencialização e prevenção da violência e outros crimes praticados contra pessoas idosas, 348/XVI/1.ª (PAN) — Recomenda ao Governo que tome medidas de combate ao idadismo em Portugal, 358/XVI/1.ª (BE) — Criação de respostas públicas na área do envelhecimento, reconhecimento do direito ao cuidado e reforço dos direitos

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de cuidadores e 364/XVI/1.ª (PCP) — Pelo reforço da rede de equipamentos e serviços de apoio aos idosos e valorização das associações de reformados, pensionistas e idosos. Usaram da palavra, a diverso título, os Deputados Rui Tavares (L), Alfredo Maia (PCP), Armando Grave (CH), Ofélia Ramos (PSD), José Moura Soeiro (BE), Inês de Sousa Real (PAN), Elza Pais (PS), Joana Cordeiro (IL), Jorge Galveias (CH), Pedro Neves de Sousa (PSD), João Pinho de Almeida (CDS-PP) e Patrícia Faro (PS).

Entretanto, a Presidente (Teresa Morais) assinalou a presença, nas galerias, de um grupo de 50 alunos e professores da Escola Profissional do Vale do Tejo, em Santarém, e de um grupo de 61 cooperantes da Cooperativa Elétrica do Vale d’Este, em Vila Nova de Famalicão, que foram aplaudidos pela Câmara.

Procedeu-se à discussão, na generalidade, dos Projetos de Lei n.os 4/XVI/1.ª (PCP) — Aprova o regime especial de proteção da habitação arrendada, 5/XVI/1.ª (PCP) — Regime extraordinário de proteção da habitação própria face ao aumento dos encargos com o crédito à habitação, 142/XVI/1.ª (CH) — Cria a contribuição de solidariedade temporária sobre o setor da banca, para fazer face à escalada inflacionista de preços no setor da habitação, 306/XVI/1.ª (PAN) — Procede à alteração ao Regime do Arrendamento Urbano e prevê a não-discriminação no acesso à habitação e 320/XVI/1.ª (L) — Alarga os apoios às famílias para pagamento da renda e da prestação de contratos de crédito e protege as pessoas em vulnerabilidade habitacional, juntamente com os Projetos de Resolução n.os 346/XVI/1.ª (PAN) — Pela inclusão dos contratos celebrados após 31 de dezembro de 2011 no âmbito da dedução de encargos com juros de dívidas contraídas no âmbito de contratos de crédito à habitação, prevista nas alíneas b), c) e d) do n.º 1 do artigo 78.º-E do Código do IRS, 360/XVI/1.ª (BE) — Recomenda ao Governo que crie um mecanismo de controlo de rendas para defender o direito à habitação e 372/XVI/1.ª (L) — Recomenda a regulamentação do Fundo de Emergência para a Habitação. Proferiram intervenções os Deputados António Filipe (PCP), Rui Afonso (CH), Inês de Sousa Real (PAN), Isabel Mendes Lopes (L), Marisa Matias (BE), Hugo Oliveira (PS), Margarida Saavedra (PSD), Carlos Guimarães Pinto (IL), Marta Martins da Silva (CH), João Pinho de Almeida (CDS-PP) e Ricardo Araújo (PSD).

Procedeu-se ao debate, na generalidade, dos Projetos de Lei n.os 205/XVI/1.ª (BE) — Altera o regime de atualização anual das pensões da Segurança Social e da Caixa Geral de Aposentações, 305/XVI/1.ª (PAN) — Assegura a atualização das pensões no ano seguinte ao da sua atribuição e garante a equiparação dos valores de referência do complemento da prestação social para a inclusão e do complemento solidário para idosos, alterando o Decreto-Lei n.º 126-A/2017, de 6 de Outubro, e a Lei n.º 53-B/2006, de 29 de Dezembro, 313/XVI/1.ª (PCP) — Melhora as condições de atribuição do complemento solidário para idosos e altera a regra do mecanismo de atualização anual das pensões, 314/XVI/1.ª (CH) — Procede à atualização dos rendimentos que devem ser considerados para efeitos de cálculo do montante pago a título de complemento solidário para idosos, 316/XVI/1.ª (L) — Estende aos novos pensionistas a atualização anual das pensões do regime da Segurança Social e da Caixa Geral de Aposentações e 344/XVI/1.ª (PAN) — Pelo alargamento dos beneficiários dos benefícios adicionais de saúde. Usaram da palavra, a diverso título, os Deputados José Moura Soeiro (BE), Inês de Sousa Real (PAN), Alfredo Maia (PCP), Felicidade Vital (CH), Filipa Pinto (L), Joana Cordeiro (IL), Pedro Roque (PSD), João Pinho de Almeida (CDS-PP), Gilberto Anjos (PS), Pedro Pinto (CH), Fabian Figueiredo (BE) e Rui Tavares (L).

Foram discutidos os Projetos de Resolução n.os 294/XVI/1.ª (PS) — Recomenda ao Governo medidas de reforço no âmbito da ação social escolar no ensino superior e

152/XVI/1.ª (PS) — Recomenda ao Governo a abertura de concursos para a contratação de doutorados para posições permanentes da carreira de investigação científica nos Laboratórios de Estado, em conjunto com os Projetos de Lei n.os 311/XVI/1.ª (PCP) — Medidas de apoio aos estudantes no ensino superior no âmbito da ação social escolar e 317/XVI/1.ª (L) — Determina o dever de as instituições de ensino superior disponibilizarem serviços de saúde mental aos estudantes, na generalidade, e com os Projetos de Resolução n.os 342/XVI/1.ª (PAN) — Recomenda ao Governo a aprovação de medidas de combate ao abandono do ensino superior, 343/XVI/1.ª (PAN) — Recomenda ao Governo que elabore um estudo nacional sobre os custos de aquisição de material académico no ensino superior e que crie um suplemento que suporte estes custos, 345/XVI/1.ª (PAN) — Pela disponibilização de fundos públicos para ação social indireta a todas as instituições de ensino superior públicas sob a forma de fundações públicas com regime de direito privado, 365/XVI/1.ª (PCP) — Integração dos trabalhadores dos Laboratórios do Estado na carreira de investigação científica, 367/XVI/1.ª (CDS-PP) — Recomenda ao Governo que estenda as medidas de ação social escolar aos alunos carenciados que frequentam o ensino particular e cooperativo, 371/XVI/1.ª (L) — Recomenda a equidade salarial entre investigadores dos Laboratórios do Estado, da FCT e a criação de um fundo estratégico para a Ciência e Tecnologia, 375/XVI/1.ª (BE) — Recomenda ao Governo que proceda à abertura de concursos para contratação para posições permanentes da carreira de investigação nos Laboratórios do Estado e 376/XVI/1.ª (BE) — Promover o acesso ao ensino superior e reforçar a ação social escolar. Usaram da palavra, a diverso título, os Deputados Isabel Ferreira (PS), Ana Gabriela Cabilhas (PSD), Paula Santos (PCP), Filipa Pinto (L), Inês de Sousa Real (PAN), João Pinho de Almeida (CDS-PP), Joana Mortágua (BE), Patrícia Gilvaz (IL), Maria José Aguiar (CH), Miguel Matos (PS), José Carvalho (CH), Sonia dos Reis (PSD) e Rui Tavares (L).

Foram apreciados os Projetos de Resolução n.os 57/XVI/1.ª (PAN) — Pela aprovação de um programa de melhoria do atendimento e acompanhamento das vítimas violência sexual no Serviço Nacional de Saúde e 271/XVI/1.ª (PAN) — Pela aprovação de medidas de prevenção e combate à violência sexual com base em imagens, juntamente com, na generalidade, os Projetos de Lei n.os 308/XVI/1.ª (CH) — Altera a lei penal no sentido de atribuir maior proteção às vítimas de crimes sexuais e prevenir situações de revitimização em contexto judicial e de acesso à saúde, 318/XVI/1.ª (L) — Cria um plano nacional de promoção da segurança digital e presencial de crianças e jovens, 319/XVI/1.ª (L) — Introduz o crime de ciberviolência e 321/XVI/1.ª (BE) — Proteção das vítimas de violência sexual com base em imagens (altera o Código Penal e o Código do Processo Penal) e com o Projeto de Resolução n.º 362/XVI/1.ª (PCP) — Medidas de prevenção da prática de crimes de disseminação não consensual de conteúdos íntimos. Intervieram no debate os Deputados Inês de Sousa Real (PAN), Elza Pais (PS), Rita Matias (CH), Isabel Mendes Lopes (L), Madalena Cordeiro (CH), Pedro Pinto (CH), Pedro Delgado Alves (PS), Joana Mortágua (BE), Emília Cerqueira (PSD), Tânia Mateus (PCP), Patrícia Gilvaz (IL), Paula Cardoso (PSD), João Pinho de Almeida (CDS-PP) e Raquel Ferreira (PS).

Deu-se conta da entrada na Mesa do Projeto de Lei n.º 342/XVI/1.ª e dos Projetos de Resolução n.os 396 a 399/XVI/1.ª e 400 a 402/XVI/1.ª, bem como da presença, por videoconferência, nesta reunião plenária, de sete Deputados do PSD.

A Presidente (Teresa Morais) encerrou a sessão eram 19 horas e 16 minutos.

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A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Muito boa tarde, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados.

Vamos dar início aos nossos trabalhos de hoje.

Eram 15 horas e 1 minuto.

Peço às Sr.as e aos Srs. Deputados que tomem os seus lugares e aos Srs. Agentes da autoridade que abram

as galerias ao público que, eventualmente, queira acompanhar os nossos trabalhos.

Pausa.

Passo agora a palavra ao Sr. Secretário da Mesa Jorge Paulo Oliveira para a leitura do expediente.

O Sr. Secretário (Jorge Paulo Oliveira): — Sr.ª Presidente, informo a Câmara de que foi retirado o Projeto

de Lei n.º 310/XVI/1.ª (CH) — Reforça a proteção das vítimas de devassa da vida privada por meio de partilha

não consentida de conteúdos de cariz sexual.

Informo, igualmente, a Câmara de que deu entrada o Projeto de Deliberação n.º 14/XVI/1.ª (PAR) —

Suspensão dos trabalhos das comissões parlamentares durante o processo orçamental.

É tudo, muito obrigado, Sr.ª Presidente.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Muito obrigada, Sr. Deputado Secretário.

Vamos, então, dar início ao ponto um da nossa ordem de trabalhos, que consiste na discussão, na

generalidade, dos Projetos de Lei n.os 101/XVI/1.ª (L) — Aprova a carta dos direitos da cidadania sénior,

307/XVI/1.ª (PAN) — Aprova a carta dos direitos da pessoa idosa e 312/XVI/1.ª (PCP) — Cria uma rede pública

de equipamentos e serviços de apoio aos idosos, juntamente com os Projetos de Resolução n.os 347/XVI/1.ª

(PAN) — Recomenda ao Governo que tome medidas que contribuam para a consciencialização e prevenção da

violência e outros crimes praticados contra pessoas idosas, 348/XVI/1.ª (PAN) — Recomenda ao Governo que

tome medidas de combate ao idadismo em Portugal, 358/XVI/1.ª (BE) — Criação de respostas públicas na área

do envelhecimento, reconhecimento do direito ao cuidado e reforço dos direitos de cuidadores e 364/XVI/1.ª

(PCP) — Pelo reforço da rede de equipamentos e serviços de apoio aos idosos e valorização das associações

de reformados, pensionistas e idosos.

Para apresentar o projeto de lei do Livre, tem a palavra o Sr. Deputado Rui Tavares, que dispõe, como sabe,

de 4 minutos.

O Sr. Rui Tavares (L): — Sr.ª Presidente, Caras Colegas e Caros Colegas, Caros Concidadãos das galerias:

A todos saúdo, desejando que este instrumento que hoje aqui debatemos, e que esperamos que venha a ser

aprovado, possa a todos proteger, neste ou em futuros momentos de uma vida que se pretende longa, em

dignidade e em saúde.

O Livre regressa hoje a um tema que já foi debatido e aprovado nesta Câmara na Legislatura passada: a

carta dos direitos da cidadania sénior. Parte esta carta do princípio de que direitos que não se usam são direitos

que arriscam a tornar-se obsoletos e de que direitos que não se conhecem são direitos que dificilmente serão

usados.

Por isso, sem prejuízo do facto de alguns destes direitos estarem consagrados em instrumentos dispersos

ou já estarem, muitas vezes, previstos em estratégias nacionais que, no entanto, não configuram a consagração

de direitos, é importante a reunião desses direitos num único documento que possa ser conhecido, que possa

ser partilhado e, acima de tudo, que possa ser reivindicado.

A experiência do nosso País, e também a de outros países, é a de que, quando as pessoas conhecem os

seus direitos codificados e documentados, quando eles são disseminados pela sociedade, mais facilmente os

reivindicam, mais facilmente podem deles usufruir, seja na relação com os organismos do Estado, seja na

relação com outras instituições.

Ora, o nosso País é um país que está a envelhecer — e é natural e bom que assim seja —, a envelhecer

com mais esperança de vida e, esperamos nós, com mais qualidade de vida também.

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O usufruto de uma vida longa e com qualidade deve também ser acompanhado do benefício de vários

direitos, como os da participação política e cívica, do acesso a uma vida cultural plena, de poder ou não

desempenhar atividades, conforme vontade da própria pessoa, e de alguns tratamentos que sejam especiais ou

de benefício, quando se justificam pela idade e pelas condições que essa idade normalmente transporta, de

maior fragilidade ou de necessidade de uma atenção especial.

Nós tivemos, como eu dizia, este projeto aprovado na Legislatura passada, ele baixou à especialidade, os

grupos parlamentares, em geral, estiveram de acordo com os seus princípios e as entidades consultadas, nos

seus pareceres, foram unânimes em reconhecer que este projeto teria importância. Entretanto, com a dissolução

do Parlamento, o projeto caducou, e, por isso, eis-nos aqui a discuti-lo de novo, esperando que o mesmo espírito

construtivo o acompanhe desta vez.

É muito importante que, um dia, uma carta dos direitos da cidadania sénior, com a proposta que o Livre aqui

apresenta, e também com as agregações que serão feitas certamente no processo de especialidade, possa

estar em todas as juntas de freguesia, possa estar em todos os sítios que são frequentados por pessoas mais

idosas, possa chegar à caixa do correio quando uma pessoa se aposenta, para que, na relação que temos com

o Estado, não cheguem apenas contas ou avisos para pagar coisas nas finanças, mas também uma carta

consagrando direitos para todos os portugueses e portuguesas, e todas as pessoas que no nosso País residam,

com mais de 65 anos.

Estamos abertos a sugestões e a um debate que acreditamos profícuo, e gostaremos, certamente, de, na

especialidade, melhorar este projeto com as vossas contribuições.

Aplausos do L.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Passamos agora à apresentação dos projetos do Partido Comunista

Português.

Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Alfredo Maia, que dispõe de 4 minutos, como sabe.

O Sr. Alfredo Maia (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: Dirijo uma saudação aos reformados e às

suas organizações, que hoje estão em luta pelos seus direitos.

A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Muito bem!

O Sr. Alfredo Maia (PCP): — Srs. Deputados, o aumento da esperança média de vida é uma conquista e

um progresso contínuo de que a humanidade deve orgulhar-se. A expectativa de viver mais tempo e de

envelhecer com qualidade de vida, fruindo o lazer, a cultura e o convívio, mas também com segurança, conforto

e cuidados de saúde adequados, deve constituir uma garantia coletiva.

Cabe ao Estado assegurar que o aumento da esperança de vida não possa ter como contrapartida cínica a

negação dessas condições a quem é confrontado com a falta de recursos para satisfazer necessidades de

alimentação, cuidados de saúde e de higiene, residência, convívio, atividade cultural e física, de recreio e tantas

outras dimensões.

Para além da exigência, no plano do envelhecimento digno e com direitos, do aumento e valorização das

pensões e reformas em patamares justos — e é bom recordar que mais de 1 milhão de idosos estão a receber

menos de 510 € por mês —, é urgente assegurar uma rede de equipamentos e serviços de apoio.

A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Exatamente!

O Sr. Alfredo Maia (PCP): — A par do reforço das condições da atual rede de equipamentos e serviços, que

abrange um elevado número de instituições de solidariedade social com apoio público, é necessário pôr termo

à proliferação de lares ilegais, contrariar as práticas especulativas em relação às mensalidades e eliminar as

listas de espera e a falta de acesso de milhares de idosos a lares e centros de dia.

O PCP aponta uma rede pública de estruturas residenciais, centros de dia, centros de convívio, serviços de

apoio domiciliário, alargando o número de vagas e garantindo mensalidades compatíveis com os rendimentos

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dos reformados e pensionistas. Trata-se de uma rede que, sem prejuízo do apoio do Estado às instituições,

deve ser pública e de gestão pública a partir dos serviços de segurança social.

As iniciativas que aqui apresentamos apontam o levantamento das necessidades de integração em estruturas

residenciais, o alargamento e a requalificação de equipamentos da rede pública e do setor social e solidário.

Pretende-se garantir mais 80 000 vagas em residência na rede pública até 2026, correspondendo à criação de

40 000 vagas por ano, a começar já em 2025. Propõe-se também a planificação plurianual do alargamento das

vagas.

Por outro lado, o Instituto da Segurança Social deve garantir vagas em todos os distritos, proporcionais às

necessidades identificadas nas listas de espera. Devem ser mobilizados equipamentos da Segurança Social

desocupados e outros imóveis do Estado que estejam disponíveis para reconversão e adaptação às novas

funções, sem prejuízo da necessidade de construção de novos espaços.

O PCP propõe também a criação de apoios financeiros às associações de reformados, pensionistas e idosos

e às suas atividades, a revisão dos acordos de cooperação, a efetiva fiscalização da qualidade dos serviços

prestados e a devida articulação com as diversas valências do apoio domiciliário, centros de dia, entre outras

iniciativas.

É com o PCP que os reformados, os pensionistas, os idosos em geral podem continuar a contar.

Aplausos do PCP.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — O Sr. Deputado tem dois pedidos de esclarecimento. Tem pouco tempo

para responder, mas tem algum.

Quer, por favor, informar a Câmara de como é que vai responder? Presumo que seja em conjunto.

O Sr. Alfredo Maia (PCP): — Sim, Sr.ª Presidente.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Para o primeiro pedido de esclarecimento, tem a palavra o

Sr. Deputado Armando Grave, do Grupo Parlamentar do Chega, que dispõe de 2 minutos.

O Sr. Armando Grave (CH): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Portugal tem cerca de 2 milhões e

500 mil pessoas com idade superior a 65 anos. Esta faixa da população tem crescido, nos últimos anos, ao ritmo

de cerca de 2 %.

A situação não pode ser descurada pelo poder político, assim como não podem ser escondidas todas as

necessidades nestes escalões etários. Não podem ser esquecidas as pessoas que, devido às suas

circunstâncias e dificuldades, físicas, sociais, económicas ou mentais, têm necessidade de ser acompanhadas

por alguém, um cuidador, ainda que informalmente.

O Estatuto do Cuidador Informal não estabelece as necessárias medidas de apoio a quem, com imenso

esforço pessoal, físico e financeiro, se propõe a substituir os institutos do Estado no âmbito de um trabalho

absolutamente imprescindível para os seniores, para que os seniores possam ter a sua qualidade de vida digna.

O Sr. Pedro Pinto (CH): — Muito bem!

O Sr. Armando Grave (CH): — Apesar de constatarmos o esforço de algumas redes e serviços de apoio e

de outras instituições no sentido de identificar e acompanhar pessoas naquelas condições, nomeadamente as

que vivem isoladas, não deixa de ser necessário perceber a suficiência do alcance previsto nos instrumentos

jurídicos que regulam esta matéria, assim como no que respeita à sua interpretação.

De facto, o regime previsto no estatuto de maior acompanhado, conjugado com o Decreto Regulamentar

n.º 1/2022, de 10 de janeiro, a Lei n.º 100/2019, de 10 de janeiro, e a Lei n.º 49/2018, de 14 de agosto, e

acrescido dos efeitos interpretativos, não demonstra ser eficaz para dar cumprimento aos valores constitucionais

concernentes a esta matéria.

Assim, questiono o PC, aliás, o Partido Comunista Português, sobre se é seu entendimento que as medidas

legislativas em vigor são suficientes ou, de maneira interpretativa, suficientemente esclarecidas e direcionadas…

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Por ter excedido o tempo de intervenção, o microfone do orador foi automaticamente desligado.

Aplausos do CH.

O Sr. Pedro Pinto (CH): — Pode ser PC, que não há mais nenhum!

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Para o segundo pedido de esclarecimento, tem a palavra a

Sr.ª Deputada Ofélia Ramos, do Grupo Parlamentar do PSD.

A Sr.ª Ofélia Ramos (PSD): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados, Sr. Deputado Alfredo Maia, a proposta do

PCP parte de uma premissa, eu diria, tacanha, e que, de facto, o PSD não pode acompanhar. Para o PCP, tudo

o que não seja público é mau: é mau o setor privado, é mau o setor social e solidário.

O Sr. Hugo Soares (PSD): — Muito bem!

A Sr.ª Ofélia Ramos (PSD): — Ou seja, para o PCP, tudo o que não seja Estado é um alvo a abater.

O Sr. António Filipe (PCP): — Onde é que ouviu isso?

A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Não esteve atenta!

A Sr.ª Ofélia Ramos (PSD): — Sobre esta temática que hoje nos traz a debate, o PSD tem uma posição

muito, muito clara: primeiro estão as pessoas, primeiro estão os idosos. O mais importante é garantir respostas

sociais dignas e de qualidade, adequadas às necessidades dos mais idosos, e isto passa necessariamente por

garantir uma adequada cobertura dessas respostas sociais,…

O Sr. Hugo Soares (PSD): — Muito bem!

A Sr.ª Ofélia Ramos (PSD): — … quer seja na rede pública, quer seja na rede social e solidária, quer seja

na rede privada.

O Sr. Hugo Soares (PSD): — Muito bem!

Protestos da Deputada do PCP Paula Santos.

A Sr.ª Ofélia Ramos (PSD): — É precisamente este o compromisso do nosso Governo: aumentar a

capacidade existente na rede pública e na rede social. Sempre que esta se mostre insuficiente e não responda

às necessidades dos mais idosos, o Governo tem necessariamente de recorrer ao privado, porque, para o PSD,

o mais importante é a dignidade, é o bem-estar dos mais idosos, é o bem-estar das nossas famílias. Por isso

mesmo, não nos focamos em quem presta o serviço.

Sr. Deputado Alfredo Maia, sabemos que, por princípio e preconceito ideológico, rejeita à partida o setor

privado.

Protestos da Deputada do PCP Paula Santos.

Mas pergunto-lhe, Sr. Deputado: por que razão persiste o PCP nesta cruzada ideológica contra o setor social

e solidário,…

O Sr. Hugo Soares (PSD): — Muito bem!

A Sr.ª Ofélia Ramos (PSD): — … que tem sido um pilar fundamental do nosso Estado social, que tem sido

fundamental no apoio aos nossos idosos e às populações mais vulneráveis? Por que razão continua o PCP

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preso a esta visão arcaica e falida, que coloca o Estado no centro das responsabilidades e como único provedor

das respostas sociais?

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Alfredo Maia.

O Sr. Alfredo Maia (PCP): — Sr.ª Presidente, creio que o PSD não tem apenas um preconceito ideológico

em relação ao que é público, tem mesmo um ódio ideológico em relação ao que é público.

Vozes do PSD: — Eh!…

A Sr.ª Marta Martins da Silva (CH): — Vocês é que têm ódio!

O Sr. Alfredo Maia (PCP): — Mais: em relação a estas propostas, não as leu com a atenção devida. E, não,

não é verdade…

Por ter excedido o tempo de intervenção, o microfone do orador foi automaticamente desligado.

Protestos de Deputados do PSD.

O Sr. Pedro Pinto (CH): — Então, ninguém bate palmas ao Alfredo Maia? Parece mal!

O Sr. António Filipe (PCP): — Não, vocês batem muitas palmas!

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Sr. Deputado, foi o possível no tempo que tinha.

Passo agora a palavra, para a apresentação da iniciativa do Bloco de Esquerda, ao Sr. Deputado José Soeiro.

Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Um inquérito por dia é aberto pelo

Ministério Público por crimes em lares de idosos desde janeiro deste ano; há 318 processos em investigação

sobre crimes contra idosos nos lares, de acordo com dados divulgados pelo jornal Público ontem.

Amadeu Guerra, atual Procurador-Geral, anunciou que este é um dos crimes que merecerão mais atenção

no seu mandato. Esse trabalho deve ser feito, mas o que é que nós, aqui, no Parlamento, podemos fazer?

O Diretor da Organização Mundial da Saúde para a Europa classificou o que aconteceu nos lares de idosos

durante a pandemia — que não foi assim há tanto tempo — como, e cito, «uma tragédia humana inimaginável».

Metade dos que morreram na Europa de covid-19 eram residentes em estabelecimentos de cuidados

continuados para idosos.

Temos o hábito de fazer os debates à boleia de tragédias e do espaço de atenção que elas criam, mas nem

essa tragédia permitiu mudar o paradigma do nosso regime de cuidados, nomeadamente para os idosos.

Seremos capazes, agora, de olhar para a raiz do problema e encontrar caminhos alternativos?

Só este ano, até agosto, o Instituto da Segurança Social deu 75 ordens de encerramento de lares. O

encerramento nem sempre é cumprido, porque falha o processo de fiscalização, mas também porque a oferta

de cuidados a idosos é tão escassa e tão desequilibrada, que às vezes a alternativa a um lar ilegal é, para

desespero dos próprios e das famílias, o vazio de resposta.

Menos de 13 % dos idosos têm acesso a cuidados profissionais, seja apoio domiciliário, seja apoio

institucional. Além dos 100 000 idosos que residem em mais de 2500 lares legais, há cerca de 30 000, estima-se,

a residir em lares ilegais. Por que razão há tantos lares ilegais? Porque a oferta de respostas sociais é escassa,

porque não há uma rede pública, porque as ofertas lucrativas legais são inacessíveis, e isso faz florescer o

mercado clandestino.

Além disso, as pensões são, em média, muito baixas, fruto de baixos salários e das desigualdades sociais e

de género no mundo do trabalho. A maioria dos idosos em Portugal está em autocuidado ou dependente do

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apoio de cuidadores informais, maioritariamente mulheres, muitas vezes idosas, que cuidam de idosos; 80 %

dos cuidados em Portugal são prestados por cuidadores informais não remunerados.

Temos a maior percentagem de cuidadores informais da Europa, mas estamos longe de lhes reconhecer

direitos de uma forma efetiva. Aprovámos o Estatuto do Cuidador Informal, mas a regulamentação que os

Governos têm feito tem limitado o alcance dessas respostas. O acesso em condições especiais à Rede Nacional

de Cuidados Continuados, ao descanso ao cuidador, ao apoio domiciliário ou ao apoio psicológico nunca saíram

do papel. Outras medidas, como o reconhecimento dos cuidados para a carreira contributiva, foram chumbadas

pelo PS e pelo PSD sucessivamente.

Uma das angústias que temos é precisamente esta que estamos hoje a discutir: que direitos queremos

inscrever no papel, na lei? O problema é que faltam políticas públicas para realizar esses direitos,

nomeadamente os que já existem.

Por exemplo, não há uma rede pública de lares, e devia haver. O Instituto da Segurança Social é proprietário

de mais de 3000 imóveis, 516 dos quais se encontram vazios. Aí está a infraestrutura a partir da qual começar

a conceber e a construir uma rede pública de lares e um verdadeiro serviço nacional de cuidados.

Por exemplo, a proposta de Orçamento do Estado da AD (Aliança Democrática) para 2025 prevê

28,1 milhões para apoio aos cuidadores, que é menos do que constava no Orçamento do Estado para 2024.

E vejam a disparidade: há 450 milhões para os lares e, em média, uma instituição recebe 875 € por idoso

quando ele é institucionalizado; mas os cuidadores só recebem 352 €. Dos 200 000 cuidadores informais a

tempo inteiro em Portugal, só 5400 recebem o subsídio. Não pode ser, é também isto que queremos mudar com

a proposta que apresentamos.

Aplausos do BE.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Para apresentar os seus projetos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Inês

de Sousa Real, do PAN, que dispõe de 2 minutos.

A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — Sr.ª Presidente, cumprimento as Sr.as e os Srs. Deputados e saúdo o

Livre por ter trazido este tema a debate.

Sendo que hoje assinalamos também o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, não podemos

esquecer-nos de que, neste dia, foi assinalado que temos, em sete anos, uma subida da taxa de risco de

pobreza, um fenómeno que afeta também, e em particular, as pessoas idosas.

O Sr. Pedro Pinto (CH): — É verdade, com os orçamentos que aprovaste com o PS!

A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — Este é o espelho de um país que continua a não tratar as pessoas com

a dignidade e o respeito que nos merecem.

Todos os dias, quatro pessoas idosas são vítimas de violência. Dois em cada 10 idosos vivem em situação

de privação material e social. O idadismo continua a ser uma realidade; basta ligarmos a televisão para vermos

que continuamos a ter pessoas de 40 anos a fazer o papel de avós, em publicidade ou em outros programas de

televisão.

Para combater esta realidade, o PAN traz, por isso, hoje a debate três iniciativas.

Em primeiro lugar, queremos aprovar uma carta dos direitos da pessoa idosa, um diploma que consagra

direitos e princípios novos, em completo alinhamento com as orientações da ONU (Organização das Nações

Unidas).

Falamos do direito à habitação digna e adequada, seja em morada própria ou em instituição pública, privada

ou social; falamos da consagração de um dispositivo legal que proíba o idadismo, em linha com o exigido pela

Estratégia Nacional para o Envelhecimento Ativo e Saudável 2017-2025; falamos também do direito a

transportes públicos gratuitos; e, claro, falamos na criação do direito de pessoas idosas a um ambiente saudável

e sustentável, concretizando em Portugal a doutrina fixada pelo Tribunal Europeu dos Direitos Humanos no caso

que ficou conhecido como o «caso das avós do clima».

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Sabemos que o Governo aprovou, depois da entrada desta iniciativa, um estatuto da pessoa idosa, mas

estamos certos de que haverá margem para, na especialidade, conseguir cruzar vontades e trazer melhorias a

ambos os diplomas.

Em segundo lugar, queremos combater o idadismo propondo que seja alterada a representação normalmente

feita das pessoas idosas e que se combata a sua sub-representação na publicidade institucional e publicações

do Estado.

Por outro lado, e por fim, queremos olhar com seriedade para o problema da violência doméstica contra

pessoas idosas. Por isso mesmo, propomos um conjunto de medidas no sentido não só de disseminar boas

práticas na prevenção deste flagelo como também de criar comissões locais de proteção das pessoas idosas.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Antes de passarmos às próximas intervenções, queria apenas

assinalar à Câmara que está presente, entre nós, um grupo de 50 alunos e professores da Escola Profissional

do Vale do Tejo, em Santarém, na Galeria II.

Aplausos gerais.

E está também presente um grupo de 61 cooperantes da Cooperativa Elétrica Vale d’Este, em Vila Nova de

Famalicão.

Aplausos gerais.

Vamos, então, prosseguir com as intervenções.

Tem a palavra, para uma intervenção pelo Grupo Parlamentar do Partido Socialista, a Sr.ª Deputada Elza

Pais, que dispõe, como sabe, de 6 minutos.

A Sr.ª Elza Pais (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Os direitos das pessoas idosas e o combate

ao idadismo e à violência contra os mais velhos inscrevem-se na matriz genética de uma sociedade coesa,

decente, com menos desigualdades em todas as fases da vida, que o PS sempre defendeu.

Vivemos hoje um grande desafio, o do envelhecimento da população portuguesa, que se enfrenta com portas

abertas à imigração, com bom acolhimento e melhor integração.

A Sr.ª Rita Matias (CH): — Ai, afinal as portas estão abertas?…

A Sr.ª Elza Pais (PS): — Por isso, precisamos de quem nos procura, não só para desenvolver a nossa

economia como também para garantir a sustentabilidade da Segurança Social, e para nos abrirmos ao mundo,

a novas culturas, para nos aproximarmos em vez de ficarmos encerrados nos nossos próprios horizontes.

Portugal desenvolveu-se sempre que se expandiu, mas temos de o fazer com dignidade e com direitos em

todas as fases da vida. Ora, ser pessoa idosa não pode significar perda de direitos, e a velhice não pode

constituir um fator redutor da capacidade jurídica nem uma condicionante de autonomia.

Muitos idosos experienciam, tristemente, nesta fase da vida, violência doméstica, violência psicológica,

institucional e económica, a maior parte das vezes perpetrada por familiares que lhes são próximos. Por isso, a

resposta é, não raras vezes, o silêncio dos idosos. Como dizia Virginia Woolf, vivem a violência do silêncio para

não viverem a violência do confronto ou da rejeição.

Ora, viver livre de violência é o primeiro de todos os direitos humanos, e as pessoas idosas não podem ser

privadas desse direito, não podem ser privadas da sua dignidade nem da sua autonomia, havendo patamares

mínimos para a construção de uma sociedade decente que têm de ser respeitados.

Por isso, dizemos «sim», neste Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, especialmente para aqueles

que mais a sofrem, como é o caso dos idosos; dizemos «sim» ao envelhecimento ativo, ao diálogo

intergeracional e a todos os direitos sociais, económicos, habitacionais, culturais e de um ambiente saudável, e

aos princípios da independência, da participação, da representação social, que não se podem perder em

nenhuma fase da vida, muito menos nesta; dizemos «sim» ao direito ao afeto; e dizemos «não» à violência e ao

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idadismo, uma discriminação inaceitável que rejeita e estigmatiza quem nos criou e apoiou a vida inteira e agora

precisa de nós.

Dizemos «sim», por isso, à discussão da carta dos direitos das pessoas idosas, ou da cidadania sénior, à

qual acrescentaremos também, obviamente, os nossos contributos na especialidade; dois documentos

pragmáticos que sistematizam bem os direitos que defendemos e os princípios que nos norteiam.

Aplausos do PS.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Joana Cordeiro,

da Iniciativa Liberal.

A Sr.ª Joana Cordeiro (IL): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Discutimos novamente os desafios

do envelhecimento, mas será que o que estamos a fazer vai realmente resolver os problemas dos nossos idosos

e ir ao encontro das suas expectativas?

Alguns dos projetos em discussão falam de direitos, e bem, mas esses direitos já existem, e os

Srs. Deputados sabem-no. Depois, falam de direitos que, afinal, são também deveres, retirando aos mais velhos

a liberdade de escolha sobre como querem viver a sua vida.

Na Iniciativa Liberal defendemos que cada pessoa adulta, seja mais nova ou mais velha, deve ter sempre o

direito de escolher como quer envelhecer, com dignidade, respeito e, acima de tudo, liberdade.

O Sr. Rodrigo Saraiva (IL): — Muito bem!

A Sr.ª Joana Cordeiro (IL): — Srs. Deputados, propor e aprovar resoluções é fácil, mas do que os nossos

idosos precisam é de ações, não proclamações.

Vejamos, por exemplo, os internamentos sociais. Na sua maioria, temos idosos que, por falta de soluções

adequadas de apoio, ficam internados sem necessidades clínicas, a correr riscos e a ocupar camas de que

outros doentes precisam, o que acaba por custar mais ao Estado do que oferecer essas mesmas soluções.

Não resolveremos isto com cartas de direitos, que nós apoiamos, mas o mais importante direito é garantir

que qualquer cidadão pode escolher o seu caminho com dignidade, sendo apoiado sempre que precisar. É

assim que devemos encarar o envelhecimento.

Portanto, esse direito assegura-se com ações, com o fortalecimento da rede de apoio domiciliário, com mais

lares em condições, com respostas sociais dignas que respeitem a vontade e a individualidade de cada pessoa.

Sim, é preciso desburocratizar o licenciamento de equipamentos sociais e reforçar o financiamento das

unidades de cuidados continuados integrados, muitas delas geridas por misericórdias e não necessariamente

uma rede pública.

Sim, é essencial garantir o acesso de qualidade a cuidados de saúde e medicamentos a quem não os pode

pagar.

Estas são propostas que a Iniciativa Liberal defende porque fazem a diferença na vida das pessoas.

O Sr. Rodrigo Saraiva (IL): — Muito bem!

A Sr.ª Joana Cordeiro (IL): — Mas, para que estas ações sejam possíveis, precisamos de um Estado social

forte, sustentado por um País que gere riqueza suficiente para o sustentar.

Se queremos cuidar melhor dos nossos idosos, temos de criar todas as condições para o crescimento da

nossa economia. Para já, com recursos limitados, devemos garantir que quem mais precisa é ajudado. Ajudar

todos pode ser uma ideia nobre, mas ajudar quem mais precisa deve ser a prioridade, pois só assim podemos

garantir que esse apoio é digno e eficaz. Quando o Estado quer ser tudo para todos, acaba por não ser nada

para ninguém.

Sr.as e Srs. Deputados, novamente, os problemas do envelhecimento não se resolvem com proclamações;

resolvem-se com ações. É isso que os nossos idosos merecem e é isso que esperam de nós.

Aplausos da IL e da Deputada do PSD Margarida Saavedra.

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A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Jorge Galveias,

do Grupo Parlamentar do Chega. Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. Jorge Galveias (CH): — Excelentíssima Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Os idosos

portugueses não precisam de direitos, de cartas seniores, de idosos, tudo mais, e muito menos precisam de

projetos de combate ao idadismo, que apenas servem para gastar o dinheiro dos contribuintes e encher os

bolsos das organizações de inspiração marxista.

Aplausos do CH.

O Sr. Rui Tavares (L): — Votem contra!

O Sr. Jorge Galveias (CH): — Os idosos também estão cansados de promessas de mais equipamentos

sociais, que raramente passam do mundo dos papéis. O que os nossos idosos precisam, e querem, é dignidade,

o que os nossos idosos exigem é deixar de viver de esmolas, como aquelas que o Sr. Primeiro-Ministro deu este

mês, numa medida de eleitoralismo ao melhor estilo de António Costa ou de José Sócrates.

Aplausos do CH.

Mas mais, Srs. Deputados! Mas mais! O que os nossos idosos não querem é ver os seus netos e os seus

filhos partirem para longe, assim como não querem ver outros idosos a morrer de frio todos os invernos.

Lembro-vos que Portugal é um dos países da Europa com maior taxa de pobreza energética. Estou bem certo:

se as toneladas de papel destas cartas e destes projetos fossem usadas no aquecimento dos lares, se calhar a

pobreza energética seria menor.

O Sr. Rui Tavares (L): — Só que nós temos um projeto para o aquecimento dos lares e vocês não têm!

Protestos do Deputado do CH Pedro Pinto.

O Deputado Pedro Pinto está contra os apartes?! Isso é uma novidade!

O Sr. Jorge Galveias (CH): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados, o Chega é, desde 2019, quem nesta Casa

é a voz dos mais idosos, é quem sempre esteve na linha da frente para devolver a dignidade roubada pela

esquerda desta Casa.

Risos do Deputado do L Rui Tavares.

Fomos os primeiros a querer que nenhum idoso tenha uma reforma inferior ao ordenado mínimo. As nossas

propostas foram reprovadas pela hipocrisia das linhas vermelhas criadas pela esquerda, com o PSD incluído,

mas, com a mesma hipocrisia, as nossas ideias foram copiadas por todas as forças políticas.

Aplausos do CH.

Risos do Deputado do L Rui Tavares.

Termino relembrando que os idosos sabem distinguir quem sempre esteve ao lado deles daqueles que aqui

estão apenas a querer comprar o seu voto. Como idoso que sou, é um privilégio poder ser a voz que, em vosso

nome, aqui diz «chega!»

Aplausos do CH.

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A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Para uma intervenção pelo Grupo Parlamentar do PSD, tem a palavra

o Sr. Deputado Pedro Neves de Sousa. Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. Pedro Neves de Sousa (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Estamos aqui hoje para

discutir o projeto de lei do Livre relativo à carta dos direitos da cidadania sénior, bem como um conjunto de

outras iniciativas que foram objeto de arrastamento.

Falar dos mais velhos é falar do passado, do presente e do futuro e convoca para o debate os conceitos de

respeito, de solidariedade e de dignidade da pessoa humana.

Pedindo emprestadas as palavras de Florbela Espanca, no seu poema Pior Velhice, podemos ler: «Sou velha

e triste. Nunca o alvorecer / De um riso são andou na minha boca! / Gritando que me acudam, em voz rouca, /

Eu, náufraga da Vida, ando a morrer!» Não queremos que a descrição de Florbela Espanca seja uma realidade

para os mais idosos. Respeitar os mais velhos, os que nos conceberam e criaram, é defender o modelo de

sociedade humanista. Uma sociedade que não respeita os mais velhos é uma sociedade sem valores e sem

memória.

A carta dos direitos da cidadania sénior, aqui proposta pelo Livre, que já conheceu outra vida na anterior

Legislatura, tem o mérito de enunciar um conjunto de princípios com que todos concordamos, alguns dos quais

inscritos já na nossa Constituição e em diversos instrumentos de direito internacional, designadamente das

Nações Unidas e do Conselho de Europa, mas é meramente programática e proclamatória. Não será

seguramente esta carta que irá resolver os problemas dos mais velhos.

A este propósito, note-se que o PSD e este Governo estão muito empenhados em melhorar a vida dos mais

idosos. Recorde-se que foram adotadas medidas urgentes do reforço de proteção social dos idosos, que se

encontram em vigor desde o passado dia 1 de junho: o aumento do valor de referência do complemento solidário

para idosos em 50 €, passando de 550 € para 600 €; o alargamento do universo dos pensionistas abrangidos

por este complemento solidário para idosos, ao eliminar os rendimentos dos filhos como critério e fator de

exclusão na atribuição desta prestação; os benefícios adicionais de saúde para os pensionistas abrangidos pelo

complemento solidário para idosos, com destaque para o aumento da comparticipação de medicação com

prescrição médica, que passou para 100 %; mas, já neste mês de outubro, será pago um suplemento

extraordinário, entre 100 € e 200 €, que beneficia 2,4 milhões de pensionistas.

Note-se, ainda, que no passado dia 2 de outubro, o Conselho de Ministros aprovou um conjunto de diplomas

com vista à valorização da pessoa idosa, procurando um envelhecimento ativo, digno e seguro, sendo que a

proposta de lei que cria o estatuto da pessoa idosa já deu entrada neste Parlamento.

Mas o trabalho não acaba aqui, e ainda há muito para fazer. Preocupa-nos profundamente a violência contra

idosos e a falta de condições de quem já contribuiu para construir o mundo que hoje conhecemos.

Seguindo por este trilho, dando mais dignidade e qualidade de vida aos mais velhos, podemos ultrapassar a

visão negra de Florbela Espanca no seu poema Pior Velhice: são velhos, mas não têm de ser tristes. E como

diz o povo: «Velhos são os trapos». Tudo faremos para dar aos nossos pais e aos nossos avós o respeito que

eles merecem.

Aplausos do PSD.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João Almeida,

do Grupo Parlamentar do CDS-PP. Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Discutir cidadania sénior

e envelhecimento ativo é discutir uma das principais questões que as políticas públicas portuguesas têm para

resolver: a capacidade de conseguirmos, enquanto povo, enquanto população, dignificar aquele que é o nosso

percurso de vida desde a infância até a idade mais sénior.

A questão que temos, muitas vezes, de colocar é como é que um País que está a envelhecer tanto, porque

infelizmente não consegue substituir aqueles que morrem por nascimentos, pode, por um lado, inverter essa

tendência de inverno demográfico, mas também, por outro lado, dar dignidade à vida daqueles que felizmente

vivem cada vez mais tempo.

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Temos aqui várias propostas que vão nesse sentido. No passado, o CDS também apresentou,

designadamente em relação ao envelhecimento ativo, várias iniciativas neste Parlamento. Lembro um conjunto,

um pacote com 19 iniciativas apresentadas em 2016 que, curiosamente, não tiveram aprovação de muitos

destes partidos nessa altura. Aliás, é curioso ouvir hoje alguns dos partidos proponentes falarem de crimes e

violência praticada contra os mais velhos. Acontece que já foi discutido neste Parlamento um projeto para, no

Código Penal, que é o sítio certo, criminalizar e agravar os comportamentos contra os cidadãos mais velhos —

Projeto de Lei n.º 746/XIII/3.ª —, e votaram contra PS, Bloco de Esquerda e PCP.

O Sr. António Filipe (PCP): — Era péssimo! Muito mau!

O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Votámos, pois!

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Portanto, não vale a pena vir aqui dizer que os idosos são

vítimas de criminalidade e de atos que são praticados contra os mesmos e, depois, quando alguém quer agravar

a moldura penal para esses crimes, votam contra.

O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Se tiver tempo, respondo!

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — No Programa do Governo são dadas várias respostas às

políticas necessárias para o envelhecimento ativo e a dignificação da cidadania sénior. Já foi hoje aqui referido

o Estatuto da Pessoa Idosa, já aprovado. Mas questões muito importantes, como a reforma parcial ou a

possibilidade de acumulação de pensão com rendimento de trabalho, podem, efetivamente, fazer a diferença,

não só na atividade das pessoas que atingem estas idades, mas também na liberdade que devem ter de planear

o seu envelhecimento, de não serem obrigadas a isto ou aquilo só porque fazem determinada idade.

Outra área importante a explorar é a do voluntariado sénior, que deve ser mais apoiado e incentivado, e esse

também é um compromisso do Programa do Governo.

Estamos, naturalmente, disponíveis para discutir algumas, e só algumas, destas iniciativas na especialidade,

por uma razão simples: discutir o envelhecimento ativo, discutir a cidadania sénior, não é mais uma oportunidade

para meter ideologia em tudo quanto é iniciativa. Por exemplo, o Livre acha que até no Estatuto da Pessoa Idosa

tem de enfiar a orientação sexual e a liberdade de expressão de género,…

A Sr.ª Rita Matias (CH): — Muito bem!

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — … e o Bloco de Esquerda e o PCP acham que, mesmo nas

questões de assistência a idosos, têm de manter a exclusividade pública. Não, não apoiamos os vossos

complexos, apoiamos os idosos.

Aplausos do PSD e da Deputada do CH Rita Matias.

O Sr. Rui Tavares (L): — O CDS propõe o voto de castidade!

O Sr. Pedro Pinto (CH): — Metem um título e depois enganam as pessoas!

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Patrícia Faro,

do Grupo Parlamentar do Partido Socialista. Faça favor, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Patrícia Faro (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as Deputadas, Srs. Deputados: Temos hoje aqui em debate

várias iniciativas relativas a direitos humanos, a dignidade e bem-estar das pessoas idosas e, paralelamente,

falamos também de equipamentos e de apoio a estes idosos e pessoas dependentes.

É inegável, de facto, que o envelhecimento da população portuguesa representa um desafio social e de

saúde pública nas próximas décadas e, apesar de viverem mais tempo, o que é certo é que a partir dos 65 anos

a qualidade de vida é inferior à média europeia.

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Por essa razão, o Partido Socialista sempre teve uma visão muito progressista nesta matéria, atentos os

desafios que o próprio envelhecimento acarreta, sempre pautou a sua ação e atuação em prol da proteção dos

idosos e sempre pugnou por um envelhecimento digno e ativo.

Aliás, o anterior Governo do Partido Socialista estava a trabalhar e a promover, inclusive, alterações legais,

que tinham por base dois objetivos que se prendem com a visão que temos sobre a temática destas pessoas

idosas e pessoas em situação de dependência.

Estas alterações firmavam-se não só a nível financeiro, através do programa PARES 3.0 (Programa de

Alargamento da Rede de Equipamentos Sociais), e a nível de financiamento europeu, com o PRR (Plano de

Recuperação e Resiliência). No seu conjunto, estas medidas constituíram um investimento de cerca de

217 000 € para um aumento de 10 000 lugares, sendo que 8500 foram só ao nível do PRR — 8500 lugares!

O Sr. Miguel Cabrita (PS): — Muito bem!

A Sr.ª Patrícia Faro (PS): — Portanto, estamos na linha certa e conta, efetivamente, como aqui já foi dito,

aqueles que são os desejos, as expectativas, dos nossos seniores, dos nossos idosos: permanecer o mais

tempo possível no seu domicílio, independentemente da situação de dependência em que se encontrem.

Por outro lado, temos um grupo de supervisão, com a criação de dois grupos de trabalho, em que o PS

também investiu e que, entretanto, foram extintos, penso. O primeiro grupo de trabalho tinha por missão

conceber e apresentar um sistema de certificação da qualidade para as respostas sociais, avaliando o impacto

social do seu desenvolvimento. O segundo grupo de trabalho tinha o objetivo de efetuar uma revisão também

ao nível dos estatutos das IPSS (Instituições Particulares de Solidariedade Social). Uma reflexão abrangente e

que todas e todos temos de fazer.

Caras Deputadas e caros Deputados, independentemente das respostas, venham elas de onde vierem, o

importante é que efetivamente respondam às necessidades de todas as pessoas, de todos os nossos idosos e

que não existam mais mortes silenciosas. A isso temos de dizer: chega!

O Sr. Pedro dos Santos Frazão (CH): — Isso mesmo, muito bem!

A Sr.ª Patrícia Faro (PS): — Em relação à iniciativa apresentada pelo PCP, apesar de a recomendação ser,

de facto, bondosa, a proposta atua numa lógica inversa à do planeamento e visão do Partido Socialista sobre

esta temática.

Aplausos do PS.

O Sr. Pedro dos Santos Frazão (CH): — Patrícia Faro a dizer «chega» no Parlamento! Muito bem!

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Não havendo mais inscrições, dou a palavra ao Sr. Deputado Rui

Tavares, do Livre, para encerrar este debate, dispondo para o efeito de 2 minutos e 20 segundos.

Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. Rui Tavares (L): — Sr.ª Presidente, Caras e Caros Colegas: As pessoas de mais de 65 anos em

Portugal representam 24 % da população, praticamente um quarto. Portugal é o 3.º país da União Europeia que

tem uma maior proporção de pessoas com mais de 65 anos.

Ao propor a carta dos direitos da cidadania sénior, que está no programa do Livre desde 2014, a nível

europeu, e desde 2015, a nível nacional, nós não estamos a legislar para um nicho. Nós estamos a legislar para

um quarto da população, potencialmente para todas as pessoas que estão a assistir a este debate, mesmo as

mais jovens, e que poderão usufruir destes direitos.

Disseram alguns Deputados e Deputadas, neste debate, que os cidadãos portugueses seniores precisam de

ações e não de proclamações. Eu tive de me beliscar para perceber se estava a sonhar ou se estava num

Parlamento!…

O Sr. Pedro dos Santos Frazão (CH): — Estás a sonhar! Tu vives a sonhar!

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O Sr. Rui Tavares (L): — Isto porque, se um Parlamento não toma ação quando proclama, se proclamação

não é aquilo que um Parlamento faz desde o momento em que nos sentamos num Parlamento, então o que é

que é ação e o que é que é o trabalho do Parlamento?! Alguém anda aqui equivocado. Proclamações são ações!

Dizia o Chega que os cidadãos seniores não precisam de cartas, precisam de dignidade.

O Sr. Jorge Galveias (CH): — Exatamente!

O Sr. Rui Tavares (L): — Mas que diabo! Onde é que está a dignidade consagrada juridicamente?

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Está na carta, queres ver?!

O Sr. Jorge Galveias (CH): — Está na própria vida!!

O Sr. Rui Tavares (L): — Não é na Declaração Universal de Direitos Humanos? Não é na Constituição? Ela

não tem de ser proclamada para ser respeitada pelo Estado?

Diz o PSD que «não é esta carta que vai resolver os problemas dos idosos, é o Estatuto da Pessoa Idosa

que o Governo propôs», mas propôs com as mesmas coisas que estavam na carta, e que veio mais tarde tentar

legislar, por via do Executivo.

Eu não sei, mas creio que vocês conhecem as mesmas pessoas de mais de 65 anos que eu conheço.

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Por acaso acho que conheço diferentes!

O Sr. Rui Tavares (L): — Elas não estão sentadas à espera que lhes resolvam os problemas. A partir do

momento em que conheçam os seus direitos e os possam reclamar, elas resolvem os seus problemas.

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Por isso é que a carta já não é precisa!

O Sr. Rui Tavares (L): — Dizem: «Está aqui, está na carta! Eu recebi, porque o Estado me enviou quando

fiz 65 anos, e sei que posso exigir e que posso levar a minha exigência longe».

O Sr. Pedro Pinto (CH): — Os idosos andam todos com as cartas na mão!

O Sr. Rui Tavares (L): — Uma última palavra para o CDS.

O CDS disse que o projeto do Livre — vejam lá! — até consagrava o direito à não discriminação por

orientação sexual e identidade de género.

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — É verdade. Têm mais com que se preocupar!

O Sr. Rui Tavares (L): — Sr. Deputado João Almeida, confesso: «culpados!» É verdade. Era o que mais

faltava que as pessoas de mais de 65 anos chegassem a essa idade e deixassem de ser protegidas da

discriminação como no resto da legislação portuguesa. As pessoas de 65 anos são pessoas como as outras,

e…

Por ter excedido o tempo de intervenção, o microfone do orador foi automaticamente desligado.

Aplausos do L e do BE.

O Sr. Jorge Galveias (CH): — Então, não precisam da carta!

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Encerrado que está o primeiro ponto da ordem de trabalhos, passamos

ao ponto seguinte, que consiste no debate, na generalidade, dos Projetos de Lei n.os 4/XVI/1.ª (PCP) — Aprova

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o regime especial de proteção da habitação arrendada, 5/XVI/1.ª (PCP) — Regime extraordinário de proteção

da habitação própria face ao aumento dos encargos com o crédito à habitação, 142/XVI/1.ª (CH) — Cria a

contribuição de solidariedade temporária sobre o setor da banca, para fazer face à escalada inflacionista de

preços no setor da habitação, 306/XVI/1.ª (PAN) — Procede à alteração ao Regime do Arrendamento Urbano e

prevê a não-discriminação no acesso à habitação e 320/XVI/1.ª (L) — Alarga os apoios às famílias para

pagamento da renda e da prestação de contratos de crédito e protege as pessoas em vulnerabilidade

habitacional, juntamente com os Projetos de Resolução n.os 346/XVI/1.ª (PAN) — Pela inclusão dos contratos

celebrados após 31 de dezembro de 2011 no âmbito da dedução de encargos com juros de dívidas contraídas

no âmbito de contratos de crédito à habitação, prevista nas alíneas b), c) e d) do n.º 1 do artigo 78.º-E do Código

do IRS, 360/XVI/1.ª (BE) — Recomenda ao Governo que crie um mecanismo de controlo de rendas para

defender o direito à habitação e 372/XVI/1.ª (L) — Recomenda a regulamentação do Fundo de Emergência para

a Habitação.

Para a apresentação das iniciativas do Partido Comunista Português, tem a palavra o Sr. Deputado António

Filipe. Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. António Filipe (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: O PCP traz hoje a esta Assembleia dois

projetos de lei que dizem respeito a um dos mais graves problemas sociais com que estamos confrontados: o

acesso à habitação.

Uma grande parte da população, particularmente os jovens, está hoje confrontada com a quase inexistente

oferta de habitação pública, com os aumentos especulativos dos valores das rendas e com taxas de juro e

prestações bancárias incomportáveis.

Sejamos claros: o problema do País não é a falta de casas no mercado, o problema é a falta de casas que

as pessoas possam pagar. Não faltam casas para os investimentos dos fundos imobiliários; não faltam casas

para os nómadas digitais e residentes não habituais com altos salários; não faltam casas para os vistos gold;

não faltam casas para transformar em alojamento turístico. Mas os idosos com baixas reformas são expulsos

das suas casas, os jovens são obrigados a permanecer em casa dos pais e os trabalhadores, portugueses ou

imigrantes, com baixos salários são obrigados a viver em condições habitacionais tantas vezes precárias, tantas

vezes partilhadas, tantas vezes degradadas, tantas vezes indignas, quantas vezes sem casas.

Protestos da Deputada do CH Marta Martins da Silva.

Os projetos do PCP que hoje debatemos assumem um objetivo essencial: proteger os arrendatários e

proteger os endividados pelo recurso ao crédito bancário, permitindo conciliar os seus encargos com os seus

rendimentos,…

A Sr.ª Marta Martins da Silva (CH): — É o PREC (Processo Revolucionário em Curso)!

O Sr. António Filipe (PCP): — … por forma a salvaguardar o mais possível o respetivo direito à habitação.

Assim, no que se refere aos arrendatários, o PCP propõe: a introdução de limitações ao aumento das rendas

de casa, mesmo no caso de novos contratos; a reposição da via judicial dos despejos, acabando com os

despejos sumários por via administrativa e com o famigerado balcão dos despejos; e a limitação das

possibilidades de não renovação de contratos de arrendamento contra a vontade do inquilino.

No que se refere aos titulares de créditos à habitação, o PCP propõe: travar a subida das prestações e pôr

os lucros dos bancos a compensar as famílias pelo aumento das taxas de juros, fazendo com que ao aumento

das taxas de juros corresponda uma redução das comissões e emolumentos a cobrar pelos bancos; fixar o limite

máximo da prestação em 35 % do rendimento mensal do agregado familiar, tornando obrigatória a renegociação

das dívidas, a pedido dos endividados, sempre que essa taxa de esforço seja ultrapassada, nomeadamente por

via da extensão da maturidade dos empréstimos; criar uma moratória sobre a amortização do capital, por um

máximo de dois anos, durante os quais a prestação incida apenas sobre o pagamento de juros a uma taxa igual

àquela a que os bancos se financiam; no caso de dação em pagamento, vincular o valor a considerar para

efeitos da amortização da dívida ao valor da avaliação do imóvel realizada aquando da concessão do crédito e

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permitir a conversão do crédito em arrendamento com possibilidade de retoma do empréstimo no prazo de

10 anos, descontando as rendas pagas.

A atual situação exige soluções para resolver os problemas mais prementes e exige a rutura com um caminho

que tem vindo a ser prosseguido, de promoção da especulação imobiliária, de mercantilização da habitação e

de liberalização de preços. Exige também a rutura com um caminho em que a habitação é considerada como

mais uma oportunidade de negócio para a obtenção de lucros pelos fundos imobiliários e pela banca, e não

como um direito fundamental que é necessário consagrar.

Aplausos do PCP.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Para a apresentação da sua iniciativa legislativa, tem a palavra, em

nome do Grupo Parlamentar do Chega, o Sr. Deputado Rui Afonso. Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. Rui Afonso (CH): — Sr.ª Presidente em exercício, Sr.as e Srs. Deputados: Quando surgiu a crise

financeira em 2010, e com as taxas de juros dos empréstimos praticamente a zero, cresciam apenas os spreads

por risco de crédito. Com as receitas em mínimos históricos, os bancos compensaram a sua rentabilidade

através do expressivo aumento das comissões aos seus clientes.

Contudo, quando o BCE (Banco Central Europeu) começou a subir as taxas de juro — a única arma de que

dispõe para cumprir a sua obrigação estatutária de manter a inflação abaixo dos 2 %, arrastando as Euribor

(Euro Interbank Offered Rate) —, as receitas dos bancos começaram a subir.

Mas o aumento das taxas de juro dos empréstimos, da margem financeira e da rentabilidade dos bancos não

se fez acompanhar por uma revisão em baixa das comissões pagas nem pela atualização das taxas dos

depósitos.

O Sr. Pedro Pinto (CH): — Muito bem!

O Sr. Rui Afonso (CH): — Conclusão: a subida das taxas de juro encetada pelo BCE está a traduzir-se em

margens financeiras recorde para os bancos portugueses, tendo, em 2023, a receita com juros disparado para

9,3 mil milhões de euros e a receita com comissões disparado para mais de 2,3 mil milhões de euros, com os

sete maiores bancos portugueses a obterem lucros recorde de quase 68 % acima de 2022.

Só no primeiro semestre deste ano, os lucros dos maiores cinco bancos portugueses já cresceram 31 % face

ao período homólogo do ano passado, somando o resultado líquido de 2,6 mil milhões de euros, com a Caixa

Geral de Depósitos, o banco do Estado, a registar o maior crescimento absoluto com um aumento de quase

50 %, ou seja, 281 milhões de euros.

Protestos do Deputado da IL Carlos Guimarães Pinto.

Sr.as e Srs. Deputados, é de extrema importância que os bancos que operam em Portugal sejam o mais

sólidos possível e estejam devidamente capitalizados. Contudo, perante estes números, importa questionar qual

a justiça social destes lucros estratosféricos perante aqueles que sofrem para conseguir pagar todos os meses

o seu crédito à habitação e…

O Sr. Pedro Pinto (CH): — Muito bem!

O Sr. Rui Afonso (CH): — … qual a justiça social destes lucros estratosféricos perante aqueles que perdem

as suas casas devido ao efeito dos juros de crédito à habitação.

Em apenas dois anos, o peso dos juros na prestação da casa mais do que triplicou, ou seja, cada vez menos

crédito é amortizado a cada prestação que é paga. Em vez de amortizarem os seus créditos à habitação, os

portugueses estão a financiar os lucros extraordinários e desproporcionais dos bancos durante os últimos dois

anos e, apesar de o BCE já ter iniciado uma trajetória de descida das taxas, é bem possível que estes lucros se

estendam para 2025.

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Assim, é da mais elementar justiça a criação de uma CST (contribuição de solidariedade temporária) sobre

a banca, respeitante aos lucros de 2024 e 2025, e que a receita proveniente desta contribuição seja canalizada

para ajudar as famílias a fazerem o pagamento das suas hipotecas, para medidas de apoio a programas de

reestruturação de dívidas e para medidas de apoio à habitação acessível, através do apoio à construção e à

reabilitação.

É uma medida justa, proporcional e financeiramente racional, que beneficiará diretamente a esmagadora

maioria das famílias portuguesas.

Aplausos do CH.

Protestos do Deputado da IL Carlos Guimarães Pinto.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Para apresentar as iniciativas do PAN, tem a palavra a Sr.ª Deputada

Inês de Sousa Real. Dispõe de 2 minutos, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A habitação digna e acessível

continua a ser uma miragem no nosso País e as políticas de habitação continuam, consequentemente, a falhar

às famílias.

É precisamente do conceito de família que queremos partir hoje para falar das iniciativas que aqui trazemos.

Quando fala de famílias, o PAN fala de todos os membros do agregado familiar, incluindo os animais de

companhia.

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Ó pá!…

A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — No entanto, apesar de estes viverem em mais de metade dos lares

portugueses, muitos inquilinos, ao procurarem uma nova casa, enfrentam proibições arbitrárias contra a

presença daqueles que são parte integrante da sua família: os animais.

Esta realidade tem provocado uma angústia imensa e, nalguns casos, forçado mesmo pessoas a escolher

entre abandonar os animais de companhia ou viver em condições indignas, em situação de sem-abrigo. Há

mesmo quem opte por viver na rua, efetivamente, ao invés de deixar para trás os animais. Ora estas são

escolhas que não podemos permitir que as pessoas continuem a enfrentar nem que esta discriminação continue

a existir, apesar de este tema já ter sido trazido várias vezes a Plenário.

Não faz sentido permitir que os senhorios impeçam os inquilinos de manterem animais de companhia,

especialmente quando os direitos dos senhorios estão salvaguardados na própria letra da lei.

As políticas de habitação devem promover a inclusão e garantir que as famílias tenham o direito a viver com

os animais e em condições dignas. É isso mesmo que se pretende com a iniciativa que hoje apresentamos mais

uma vez.

O Estado não pode abandonar as famílias no acesso à habitação. Houve já casos em que tivemos famílias

a viver com crianças e animais na rua, precisamente porque não havia respostas sociais que as acolhessem por

terem animais de companhia.

Como tal, o PAN hoje defende, por um lado, o fim desta discriminação absolutamente injustificada e, por

outro lado, defende também que no acesso à habitação digna haja o alargamento do Porta 65, tal como o

defendemos, através do alargamento das deduções fiscais do crédito à habitação, para aliviar o preço

insuportável que continua a incidir sobre as famílias.

Precisamos, por isso, de respostas inclusivas para as famílias que enfrentam as desigualdades no

arrendamento, respostas que apoiem os mais vulneráveis e que permitam que todos, sem exceção, tenham um

lar seguro e digno junto das suas famílias.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Para fazer a apresentação das iniciativas do Livre, tem a palavra a

Sr.ª Deputada Isabel Mendes Lopes, que dispõe de 4 minutos.

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A Sr.ª Isabel Mendes Lopes (L): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Caros Concidadãos nas galerias:

Queremos, em primeiro lugar, agradecer ao PCP pelo agendamento deste debate sobre habitação, sobre o

direito à habitação e a proteção deste direito.

Hoje, tantas pessoas não conseguem pagar o bem mais essencial à nossa qualidade de vida, à nossa

autonomia, ao nosso bem-estar, que é uma casa, ou conseguem, mas é longe do sítio onde trabalham, do sítio

onde estudam, e perdem horas, todos os dias, nos transportes. E uma casa onde se vai apenas dormir não é,

na verdade, um lar, nem é uma casa como está previsto na nossa Lei de Bases da Habitação.

Todos temos direito a uma casa, e a uma casa digna, e o direito a ter uma vida boa perto da nossa casa.

Mas não é isso que hoje está a acontecer. Não se consegue arrendar nem comprar casa, e os dados são

preocupantes. Com uma inflação de 7,8 %, em 2022, e de 4,3 %, em 2023, acompanhada por taxas de juro

elevadas e uma especulação imobiliária que parece não ter fim à vista, os preços da habitação continuam a

subir a um ritmo insustentável.

Só no segundo trimestre de 2024, o índice de preços da habitação aumentou 7,8 % e as rendas dos novos

contratos subiram 11,1 %. Como é que isto é sustentável? Não é.

É preciso resolver esta emergência na habitação, esta crise na habitação, este problema na habitação, para

que a médio prazo deixe de ser um problema, e isso faz-se com habitação pública e com medidas que protejam

a habitação. Por isso, acompanhamos de forma genérica as medidas apresentadas hoje por outros partidos na

salvaguarda do direito à habitação.

Precisamos também de medidas imediatas para apoiar as famílias que tanto se debatem para conseguir

pagar os créditos ou as rendas.

O anterior Governo implementou medidas extraordinárias de apoio a pessoas com elevado esforço financeiro

para o pagamento da habitação, mas algumas terminam no final deste ano. É o caso do apoio ao pagamento

do crédito à habitação, para o qual defendemos a extensão do prazo e o aumento da bonificação para 85 %. O

Livre propõe também uma redução da taxa de esforço para 30 % e o aumento do valor máximo no apoio ao

arrendamento para os 300 €.

Além disso, consideramos urgente implementar a dação em cumprimento sem a possibilidade de oposição

das instituições de crédito. E, para combater a especulação imobiliária, defendemos um valor máximo de renda

para os novos contratos que não ultrapasse em 30 % os limites gerais dos preços de renda mensal, por tipologia

e escalão, especificados na Portaria n.º 176/2019.

Há ainda uma coisa muito importante: falta regulamentar o fundo de emergência para a habitação, que o

Livre fez aprovar na lei de Orçamento do Estado para 2024.

O Sr. Rui Tavares (L): — Bem lembrado!

A Sr.ª Isabel Mendes Lopes (L): — Este Fundo, que hoje terá cerca de 90 milhões de euros anuais, já

deveria estar a ser usado para impedir que as pessoas se vejam sem casa, para ajudar quem está sem casa,

para apoiar as pessoas que estão em situação de sem-abrigo. Já poderia estar a ser usado para reforçar o

financiamento do programa 1.º Direito e a Bolsa Nacional de Alojamento Urgente e Temporário, como hoje

propomos.

A habitação digna não é um privilégio, é um direito, e é obrigação do Governo e deste Parlamento cumprir

este direito.

Aplausos do L.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Para uma intervenção, para apresentação da iniciativa legislativa do

Bloco de Esquerda, tem a palavra a Sr.ª Deputada Marisa Matias, que dispõe de 4 minutos.

A Sr.ª Marisa Matias (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Começamos também por agradecer

ao PCP o agendamento deste debate.

Hoje, marca-se o dia para a erradicação da pobreza, e há imensas reportagens que assinalam este dia e

recolhem testemunhos de muitas pessoas. Nesses testemunhos, há um medo em comum: o medo de perder a

casa. Porquê? Porque, em Portugal, a habitação tornou-se no novo risco social.

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Os levantamentos que foram feitos mais recentemente, em particular o levantamento da PORDATA (Base

de Dados de Portugal Contemporâneo), mostram que o preço de compra de casas aumentou 106 %, em

comparação com 2015. Em relação às rendas, no primeiro trimestre de 2024, a renda mediana subiu 11,1 %,

face ao mesmo período de 2023.

Em 2023, 27 % dos inquilinos estavam em sobrecarga financeira por causa das despesas com a habitação.

Gastavam até 40 % do salário com a renda, a água, a luz e o gás. Portugal foi, aliás, um dos países da União

Europeia onde as rendas mais aumentaram desde 2015.

Há na União Europeia 13 países que estabeleceram mecanismos de controlo da renda, e Portugal não é um

deles. Aliás, em Portugal, o único mecanismo que existe é a exceção nos contratos celebrados antes de 1990,

em que os aumentos das rendas são limitados à inflação.

Há uma semana, ouvimos o Governo dizer que ia mexer nessa exceção. A pressão foi imensa, a contestação

foi grande, e o Primeiro-Ministro já veio dizer que, afinal, não irá alterar essa exceção. O que vos digo, Sr.as e

Srs. Deputados, é que veremos se vai haver ou não vai haver alteração, porque, na proposta de Orçamento do

Estado para 2025, está inscrita a transição dos contratos de arrendamento anteriores a 1990. Cá estaremos

para ver qual é a verdade!

Aliás, todas as medidas incluídas na proposta de Orçamento do Estado para 2025 agravam a escalada dos

preços na habitação e não os reduzem, pelo contrário.

Nas rendas, precisamos, por isso, de novas medidas. Precisamos de um instrumento de regulação que

estipule limites máximos de rendas para os novos contratos. Precisamos de um instrumento que seja justo e

que tenha em conta fatores de referência como a tipologia, a área, a qualidade, o estado da construção, a

eficiência energética, entre outros. É essa a proposta que o Bloco de Esquerda aqui traz hoje, porque

acreditamos verdadeiramente no direito à habitação.

Aplausos do BE.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Pelo Grupo Parlamentar do Partido Socialista, tem a palavra o

Sr. Deputado Hugo Oliveira, que dispõe de 6 minutos para a sua intervenção.

O Sr. Hugo Oliveira (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Sabemos que o debate sobre a

habitação é intenso, tendo em conta a importância e a centralidade da habitação na vida dos portugueses.

Sabemos que há diferenças na forma como concretizamos o direito à habitação, mas não podemos deixar de

reconhecer a pertinência de uma assinalável parte das iniciativas em discussão, por procurarem proteger

aqueles que mais precisam.

As divergências que possamos ter não são de princípio. Concordamos com a necessidade de desenvolver

medidas que garantam a segurança no arrendamento, que promovam o equilíbrio e a regulação do mercado e

também a sua estabilidade.

Queremos deixar claro que as nossas divergências são quanto à eficácia das medidas, pois temos de

assegurar que o resultado das medidas não seja o de desproteger aqueles que queremos apoiar e defender.

Nos últimos anos, o PS assumiu um compromisso claro com uma política pública de habitação.

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Correu muito bem!

O Sr. Hugo Oliveira (PS): — Foi o Governo anterior que rompeu com a visão minimalista da promoção

habitacional direta e assumiu, claramente, que a política pública de vocação universal não se faz sem a

existência de um parque público de dimensão adequada, que garanta resposta às necessidades mais prementes

de habitação e também às classes médias; um parque habitacional público robusto, que deve existir a par de

um mercado privado, que deve ser equilibrado, saudável e estável.

O Governo anterior traduziu essa visão em medidas concretas: as alterações ao regime do arrendamento

urbano, que criaram medidas destinadas a corrigir situações de desequilíbrio entre arrendatários e senhorios, a

reforçar a segurança e a estabilidade do arrendamento urbano, desde logo, aumentando a duração mínima dos

contratos; o reforço do Porta 65 para os jovens, através da criação de apoios diretos ao crédito e ao

arrendamento, que só neste último caso chegaram a mais de 250 000 pessoas, automaticamente, permitindo

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atenuar os efeitos da inflação; o maior investimento em habitação pública, expresso no PRR, de que há memória

e que já começa a dar os seus frutos, que outros não hesitarão em colher como seus;…

A Sr.ª Marta Martins da Silva (CH): — Está a dar muitos frutos!…

O Sr. Hugo Oliveira (PS): — … o fim dos vistos gold no imobiliário e a limitação do valor das rendas nos

novos contratos.

Naturalmente, quanto à reforma estrutural de que precisamos, aquela que traz mais oferta acessível para

todos, demora tempo até à sua efetiva concretização, seja pela natural duração de uma obra, seja pela

morosidade da contratação pública ou por condicionalismos como a capacidade de resposta do setor da

construção. Mas o Partido Socialista nunca baixou os braços, nunca deixou de lutar pelas pessoas e de adotar

medidas para as defender.

Aliás, nestas negociações do Orçamento do Estado, é público que o Partido Socialista elegeu a habitação

como uma prioridade,…

Aplausos do PS.

… ao propor a criação de um fundo de investimento de 500 milhões de euros anuais, durante 10 anos, para

a construção de casas e residências estudantis para os mais jovens e para a classe média.

É até particularmente irónico que estejamos a ter este debate nesta altura, quando está por dias a publicação

das alterações do Governo ao regime do alojamento local, para eliminar as medidas que esta Assembleia da

República aprovou no ano passado.

Protestos do Deputado da IL Carlos Guimarães Pinto.

Este Governo poderia apenas não ter soluções, mas, pior do que isso, retrocede nos avanços conquistados.

Ainda nesta semana, lia-se na comunicação social que «Espanha avança com regulamento para

arrendamento de curta duração e turístico, para garantir o direito à habitação»,…

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — É um grande exemplo, esse!

O Sr. Hugo Oliveira (PS): — … algo que o antigo líder do PSD, Rui Rio, definiu como «atitude de elementar

racionalidade».

A Sr.ª Marina Gonçalves (PS): — É verdade!

Protestos do Deputado do CDS-PP João Pinho de Almeida.

A Sr.ª Marina Gonçalves (PS): — Oiçam! Oiçam!

O Sr. Hugo Oliveira (PS): — Mas este Governo opta por agir em total contraciclo com as políticas

internacionais que estão a ser adotadas e que defendem uma maior regulação e equilíbrio no mercado

imobiliário.

O que tem, afinal, este Governo para nos apresentar, quando dizia, na oposição, que sabia como resolver a

crise da habitação da noite para o dia? A isenção do IMT (imposto municipal sobre as transmissões onerosas

de imóveis) na compra de casa para os mais jovens? Era essa a bala de prata?

Quando a medida foi proposta, o PS alertou para o facto de a mesma ser cara e ineficiente. E o que é que

aconteceu?! Os preços das casas voltaram a disparar e engoliram totalmente a isenção que foi criada.

O Sr. Miguel Cabrita (PS): — Essa é que é essa!

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O Sr. Hugo Oliveira (PS): — O Estado e as autarquias perdem essa receita, que poderiam utilizar para

reforçar o investimento em políticas de habitação, na construção de mais casas, e os mais jovens não vão

ganhar nem 1 cêntimo.

E o que tem este Governo para nos apresentar agora, neste Orçamento do Estado? Por um lado, omite a

proposta do PS para reforçar o investimento em habitação pública para as classes médias, mas, por outro lado,

ameaça com a subida das rendas antigas, numa espécie de regresso à «lei Cristas», criando instabilidade no

mercado de arrendamento…

A Sr.ª Marina Gonçalves (PS): — É verdade!

O Sr. Hugo Oliveira (PS): — … e junto dos mais velhos, que deveriam merecer sempre o nosso respeito e

proteção.

Aplausos do PS.

De resto, sobra um PowerPoint que o Governo apresentou em maio, com 30 medidas, a grande maioria com

os prazos já ultrapassados. Serviu para uma bela apresentação, mas não mudou a vida de ninguém.

O Governo não tem soluções para a habitação, mas estamos certos de que esta Assembleia da República e

o Partido Socialista não deixarão de continuar a procurá-las.

Aplausos do PS.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Para uma intervenção, pelo Grupo Parlamentar do PSD, tem a palavra

a Sr.ª Deputada Margarida Saavedra, que dispõe de 6 minutos.

A Sr.ª Margarida Saavedra (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Em 2021, estimavam-se em

723 000 o número de casas devolutas, admitindo-se que, desse número, 348 000 reuniam condições para estar

no mercado de arrendamento. Porque é que não estavam, nem estão? Por receio, por medo de um mercado

instável, por medo de que projetos de lei como alguns aqui em apreço possam, um dia, vir a ser aprovados.

A Sr.ª Marta Martins da Silva (CH): — E o que é que fizeram em relação a isso?!

A Sr.ª Margarida Saavedra (PSD): — O PCP propõe um diploma consubstanciado num contrato de

desigualdade entre senhorio e inquilino, em que se acautelam os interesses deste último em detrimento dos

direitos do primeiro. Quem, em seu perfeito juízo, assinaria um contrato destes?

Dou um exemplo: a Maria aluga uma casa ao João; o João comprova a inexistência de rendimentos que

garantam a sua subsistência e deixa de pagar a renda; chegando à altura contratualmente prevista para a

denúncia do contrato, o João declara que não só não paga a renda, como também não sai.

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Exatamente!

A Sr.ª Margarida Saavedra (PSD): — E a Maria passa a ser nominalmente proprietária de uma casa, com

todos os encargos inerentes, mas, em termos de facto, quem é o dono é o João, porque dela dispõe a seu bel-

prazer, quiçá a custo zero.

O Sr. Carlos Reis (PSD): — Muito bem!

A Sr.ª Margarida Saavedra (PSD): — Quanto à Maria, ou tem possibilidades de pagar a um advogado e de

arrastar um contencioso, sine die, suportando todos os encargos, ou, se por acaso contava com aquela renda

para equilibrar finanças, vai ter de vender a casa ao primeiro comprador pelo preço que ele entender dar por

ela.

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O Sr. Bruno Ventura (PSD): — Bem lembrado!

A Sr.ª Margarida Saavedra (PSD): — Sr.as e Srs. Deputados, o Partido Comunista sabe muito bem que a

aprovação deste projeto de lei acabaria de vez com o mercado de arrendamento.

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Claro!

A Sr.ª Margarida Saavedra (PSD): — Mas também sabe que o crescente número de famílias com

necessidade de arrendar casas levaria inevitavelmente a posses administrativas, a ocupações coercivas, a

ocupações de segundas casas, numa escalada progressiva de atentados à propriedade privada.

Vozes do PSD: — Muito bem!

A Sr.ª Margarida Saavedra (PSD): — É isso que o Partido Comunista e a esquerda radical pretendem.

Aplausos do PSD.

Protestos da Deputada do PS Marina Gonçalves.

O Partido Social Democrata sabe que o acesso à habitação é uma das bases em que assenta a paz social

e que um dos seus vetores é o mercado de arrendamento.

O Partido Social Democrata quer que o mercado funcione e tudo fará para que ele volte a ser estável e

saudável, num equilíbrio entre senhorios e inquilinos, de forma a que o benefício de uns não seja feito à custa

do prejuízo de outros.

O Sr. António Filipe (PCP): — Essa é que é a prioridade!

A Sr.ª Margarida Saavedra (PSD): — É este o caminho que vamos percorrer.

Aplausos do PSD.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Carlos Guimarães

Pinto, da Iniciativa Liberal. Dispõe, para o efeito, de 3 minutos.

O Sr. Carlos Guimarães Pinto (IL): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Não partilhamos a visão

maniqueísta tantas vezes repetida de que os senhorios são uns especuladores que querem explorar os

inquilinos.

Muitos senhorios pouparam ao longo da vida, com sacrifício, para comprar uma casa que lhes desse um

rendimento extra, que lhes garantisse uma reforma digna. São pessoas que, muitas vezes, arrendam a sua casa

em boas condições para a reaverem destruída; pessoas que ficam meses sem receber a renda e anos à espera

que o tribunal lhes dê razão.

O Sr. Rodrigo Saraiva (IL): — Bem lembrado!

O Sr. Carlos Guimarães Pinto (IL): — Depois de tudo isto, ainda têm de olhar para a televisão e ver uns

indigentes a desejar-lhes a morte em manifestações supostamente a favor da habitação.

A Sr.ª Patrícia Gilvaz (IL): — Muito bem!

O Sr. Gonçalo Lage (PSD): — Bem lembrado!

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O Sr. Carlos Guimarães Pinto (IL): — Não, nós não partilhamos de uma visão maniqueísta e, por isso, até

concedo que possam existir boas intenções em algumas destas propostas. Percebo, até, que o ponto de partida

possa não ser sempre a inveja e o ódio a quem poupou alguma coisa, mas, sim, alguma empatia para com

quem tem dificuldade em encontrar uma casa que possa pagar.

No entanto, as propostas não devem ser avaliadas pelas suas intenções, mas sim pelos seus resultados. E

os resultados das leis para controlo de rendas são desastrosos em todo o mundo.

De Berlim a São Francisco, da Catalunha a Estocolmo, estas medidas, mesmo quando bem-intencionadas,

apenas fazem com que haja ainda menos casas disponíveis para arrendar,…

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Como é evidente!

O Sr. Carlos Guimarães Pinto (IL): — … menos investimento na construção de novas casas, investimento

mais direcionado para habitação de luxo e degradação das zonas com rendas controladas.

Vozes da IL: — Muito bem!

O Sr. Carlos Guimarães Pinto (IL): — Não sou eu que o digo. O Journal of Housing Economics publicou

este ano um meta-estudo que pegou em 60 estudos sobre os efeitos do controlo de rendas realizados ao longo

das últimas décadas, em vários países. Estas foram as conclusões: dos 16 estudos que analisaram

especificamente o impacto sobre a oferta, 12 encontraram um efeito negativo dos controlos de rendas na oferta;

de outros 16 estudos que se focaram no impacto na construção, 11 identificaram um efeito negativo; dos

20 estudos que examinaram o impacto na qualidade da habitação disponível para arrendamento,

15 encontraram um efeito negativo; dos 3 estudos que exploraram se o controlo de rendas causa uma má

alocação da habitação, todos eles concluíram que sim.

Os controlos de renda fazem com que se construam e reabilitem menos casas, fazem com que haja menos

casas para arrendar, de qualidade inferior e, a longo prazo, mais caras. Estas leis até podem cair muito bem

entre quem se passeia com…

Por ter excedido o tempo de intervenção, o microfone do orador foi automaticamente desligado.

Aplausos da IL e de Deputados do PSD.

O Sr. Fabian Figueiredo (BE): — É preciso controlar as rendas e o tempo!

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Para uma intervenção, pelo Grupo Parlamentar do Chega, tem palavra

a Sr.ª Deputada Marta Silva.

A Sr.ª Marta Martins da Silva (CH): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: Vivemos num País onde há mais

casas vazias e prontas a habitar do que famílias em necessidade. São casas que não são colocadas no

mercado, porque as leis de arrendamento são altamente instáveis e mudam ao sabor do vento político.

O Sr. Carlos Reis (PSD): — E vem o Chega falar de instabilidade!

A Sr.ª Marta Martins da Silva (CH): — Mas o Estado nada faz para corrigir este desequilíbrio. Continua a

construir mais, a subsidiar mais, enquanto ignora o seu próprio património devoluto.

E o que fazem os partidos que há décadas ocupam o poder? Continuam a promover políticas que diabolizam

senhorios e investidores, lavam as mãos e jogam a responsabilidade sobre os ombros dos proprietários.

O Sr. Pedro dos Santos Frazão (CH): — Muito bem!

A Sr.ª Marta Martins da Silva (CH): — Como se não bastasse, o PCP e outros propõem hoje mais um ataque

direto ao direito à propriedade e à liberdade contratual.

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Primeiro, o PCP, ao limitar o aumento de preços nos novos contratos, ignora as regras básicas da economia.

Quando se limita o preço da renda, o resultado é um desincentivo para que mais casas sejam colocadas no

mercado. Com menos oferta e mais procura, o que se consegue é exatamente o oposto do que se pretende.

Aplausos do CH.

Depois, a limitação dos despejos por insuficiência económica dos inquilinos cria uma cultura de

irresponsabilidade.

A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Se forem para a rua, não há problema!

A Sr.ª Marta Martins da Silva (CH): — Estamos a dizer aos inquilinos que, mesmo em incumprimento, podem

continuar a ocupar uma casa que não é sua indefinidamente, e os proprietários veem-se na obrigação de

sustentar situações que não controlam e com responsabilidades sociais forçadas que cabe ao Estado assumir.

A limitação da não-renovação de contratos contra a vontade do inquilino é outra medida que ataca

diretamente senhorios, retirando-lhes o direito de decidir o que fazer com a sua propriedade no fim do contrato.

Estamos a criar uma espécie de expropriação encapotada — o sonho comunista.

Aplausos do CH.

A esquerda e, sobretudo, o PCP querem transformar os proprietários nos vilões desta crise, quando, na

verdade, é o sistema que é o verdadeiro culpado. É contra esse sistema, meus senhores, que continuaremos a

lutar.

Aplausos do CH.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João Almeida,

do CDS.

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Estamos hoje no

45.º debate promovido pela esquerda para tentar destruir o mercado do arrendamento em Portugal.

Tal como em todas as outras tentativas anteriores, aquilo que hoje se propõe não tem absolutamente nada

a ver com a melhoria das condições daqueles que têm dificuldade em encontrar habitação em Portugal. Isto por

uma simples razão: se fossem aprovadas estas iniciativas, não seria mais fácil ter acesso à habitação em

Portugal e não haveria mais gente, que hoje em dia tem dificuldades, a conseguir ter facilidade em ter uma

habitação para si.

É preciso perceber qual é a verdadeira raiz do problema e não vir com a velha história de que há uns maus,

que são os senhorios e os bancos, que, por acaso, são aqueles que põem casas no mercado e que emprestam

dinheiro a quem não tem para poder comprar as suas casas. Esses são os maus!

Protestos da Deputada do PS Marina Gonçalves.

Não falam, por exemplo, da realidade da propriedade em Portugal, em que muitos senhorios são eles próprios

carenciados do ponto de vista social e nem dinheiro têm para manter em condições as suas casas e, muitas

vezes, por isso mesmo, não as põem para arrendar.

Protestos da Deputada do PS Marina Gonçalves.

Portanto, essas que são as questões estruturais — da conservação das casas, do estado em que elas estão

e das condições que os senhorios podem ter ou não para as pôr no mercado —, para os senhores, são

absolutamente indiferentes.

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O Sr. Miguel Cabrita (PS): — Bom é o alojamento local!

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — O que os senhores querem é que haja regras para que quem

não paga continue a não pagar e quem não saia continue a não sair. Depois, ainda vem a Sr.ª Deputada Inês

de Sousa Real dizer que não paga, não sai e ainda leva o Boby e o Tareco para dentro de casa, e o senhorio

não tem nada a dizer sobre isso.

Risos da IL e de Deputados do PSD e do CH.

Aplausos de Deputados do PSD.

Ó, Srs. Deputados, tenham paciência, repito, tenham paciência!

Se queremos discutir com seriedade o problema da habitação em Portugal, temos de perceber logo uma

coisa: quem constrói tão pouca habitação como Portugal construiu nos últimos anos, não pode ter uma situação

equilibrada na habitação.

Protestos dos Deputados do PS Marina Gonçalves e Miguel Cabrita.

Sem ter uma renovação normal, e exigível, do parque habitacional, não vamos conseguir tê-la. Se os

senhores tornam as regras do arrendamento ainda mais rígidas, se dificultam ainda mais a vida a quem pode

efetivamente pôr casas no mercado, claro que vai haver cada vez menos casas. E os principais prejudicados

não são os bancos, ao contrário do que os senhores dizem, nem aqueles que têm dinheiro para ter muitas casas.

Os principais prejudicados são aqueles que não têm dinheiro para ter a sua própria casa, aqueles que não têm

dinheiro para pagar uma renda justa.

Vozes da IL: — Claro!

Vozes do PSD: — Muito bem!

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Esses é que vão ser prejudicados e a esses os senhores nunca

conseguiram resolver o problema.

Tetos de rendas, restrições a direitos, desequilíbrio absoluto entre o papel do arrendatário e o papel do

senhorio, a obrigação de os senhorios aceitarem determinadas condições que são absolutamente violadoras da

liberdade contratual: tudo isso só vai prejudicar a existência de habitação para quem mais precisa.

É por isso que incentivar a construção, reduzir a carga fiscal, permitir flexibilidade e não rigidez na contratação

pode aumentar a oferta habitacional em Portugal.

Aplausos do PSD.

A Sr.ª Mariana Leitão (IL): — Muito bem!

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Para uma intervenção, pelo Grupo Parlamentar do PSD, tem a palavra

o Sr. Deputado Ricardo Araújo.

O Sr. Ricardo Araújo (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O atual Governo assumiu a

habitação como uma prioridade nacional. Nesse sentido, a 10 de maio do corrente ano, sensivelmente um mês

após a investidura parlamentar, apresentou uma nova estratégia para a habitação, Construir Portugal,

anunciando um conjunto de 30 medidas para enfrentar a crise na habitação e dar resposta a uma urgência

nacional que oito anos do Governo do Partido Socialista e da geringonça não resolveram, pelo contrário,

deixaram agravar.

Vozes do PSD: — Muito bem!

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O Sr. Ricardo Araújo (PSD): — As políticas de habitação nos últimos anos falharam no objetivo de aumentar

o acesso à habitação e aumentaram a dificuldade das populações, em particular dos jovens. Além disso,

alimentaram divisões na nossa sociedade, aumentando diferenças sociais, colocando uns contra os outros,

virando inquilinos contra senhorios, turismo contra cidades, bancos contra promotores e clientes.

A aposta ideológica em medidas restritivas que limitam e colidem com o direito de propriedade, que limitam

a iniciativa económica privada, que reduzem rentabilidades através da imposição de mais taxas, impostos ou

contribuições extraordinárias, que reduzem o investimento privado e cooperativo, deixam o Estado sozinho,

incapaz de garantir um impulso ao mercado de habitação que garanta o acesso para todos.

Aplausos do PSD.

Os projetos de lei e de resolução apresentados e hoje em discussão são mais deste mesmo passado de

soluções de esquerda, de raiz marxista, hostis ao mercado e ao setor financeiro.

O Sr. João Vale e Azevedo (PSD): — Muito bem!

O Sr. Ricardo Araújo (PSD): — As medidas propostas teriam, mais uma vez, o efeito exatamente oposto ao

que se diz defender, nomeadamente prejudicar, em primeiro lugar, os mais desfavorecidos,…

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Tal e qual!

O Sr. Ricardo Araújo (PSD): — … levariam a uma restrição maior do crédito bancário e ao aumento de

custos desse mesmo crédito, fundamental para as famílias portuguesas poderem aceder à habitação própria.

Não acreditamos que a resposta à crise da habitação passe pelo controlo administrativo de preços, por

congelamento de rendas, por mais taxas ou contribuições extraordinárias. Por isso, ao contrário das políticas

anteriores e das propostas presentemente em discussão, queremos a mobilização de toda a sociedade para um

efetivo estímulo à oferta de habitação, acessível tanto no mercado de arrendamento como no de aquisição.

O plano Construir Portugal passa, assim, por claramente apostar no incentivo à oferta de habitação —

pública, privada e cooperativa —, devolver a confiança a todos os intervenientes e fomentar o acesso à habitação

para os jovens.

É por isso que das 30 medidas que foram apresentadas, várias podíamos aqui destacar: colocámos o Estado

a disponibilizar 59 000 casas nos próximos seis anos; o 1.º Direito mais do que duplicou; passámos de construir

26 000 novas casas, previstas no PRR, para 59 000…

Por ter excedido o tempo de intervenção, o microfone do orador foi automaticamente desligado.

Aplausos do PSD.

Entretanto, assumiu a presidência o Vice-Presidente Marcos Perestrello.

O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Inês de Sousa Real, a quem o

Livre cedeu a totalidade do seu tempo, 1 minuto e 2 segundos a acrescer ao tempo do PAN.

O Sr. Pedro Pinto (CH): — Oh! Tão bom!…

A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, agradeço ao Livre pela cedência de

tempo.

Sr. Presidente e Srs. Deputados: Não estava a pensar fazer uma segunda intervenção, mas, tendo em conta

a intervenção do Sr. Deputado do CDS-PP, importava aqui deixarmos bem claro que não estamos num qualquer

sketch do Contra Informação, Sr. Deputado.

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É que, pelos vistos, para o CDS, as famílias que tiverem animais de companhia só são dignas de ter acesso

à habitação se forem muito ricas e não tiverem problemas financeiros; se forem pobres, podem ficar a dormir na

rua, se tiverem animais de companhia,…

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Os animais é que não são tão dignos como as pessoas!

A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — … porque não temos, neste momento, respostas sociais que admitam

a sua entrada quando têm animais de companhia.

O Sr. Pedro Pinto (CH): — E os cavalos dos ciganos?!

A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — É que mesmo que estivéssemos num sketch do Contra Informação,

Sr. Deputado, deixe-me que lhe diga: o próprio Pinto da Costa já ficou a dormir no carro com o Boby e com o

Tareco, precisamente por lhe negarem, por ter consigo animais de companhia, o acesso a um hotel.

O Sr. Pedro dos Santos Frazão (CH): — E os cavalos dos ciganos?!

A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — E sim, o PAN quer uma sociedade inclusiva, porque há quem respeite

os senhorios e quem respeite a habitação, e não é por terem cão e gato que devem ficar na rua.

Protestos do CH e contraprotestos do PAN.

O Sr. Presidente (Marcos Perestrello): — Os Srs. Deputados não apreciaram a imagem utilizada pela

Sr.ª Deputada Inês de Sousa Real… Teve a sua graça. Não é preciso…

Continuação de protestos do CH e contraprotestos do PAN.

Bom, Srs. Deputados, não temos mais inscrições, pelo que passamos ao encerramento do debate. Para isso,

tem a palavra o Sr. Deputado António Filipe.

O Sr. António Filipe (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Aquilo a que assistimos aqui, neste debate,

foi a uma espécie de negacionismo dos problemas da habitação em Portugal, vindo dos liberais de várias

matizes — dos liberais propriamente assim chamados, mas também dos liberais do PSD,…

O Sr. Gonçalo Lage (PSD) — E os 8 anos?

O Sr. António Filipe (PCP): — … dos liberais do CDS e da fação liberal do Chega, que vem dizer que a

culpa é do sistema, quando defende o sistema com unhas e dentes.

O Sr. Pedro Pinto (CH): — Isto não é o Comité Central!

O Sr. António Filipe (PCP): — Assistimos a uma espécie de negacionismo.

Qual é o grande problema do acesso à habitação em Portugal? O problema não é a falta de casas; não, há

casas no mercado.

Protestos de Deputados do PSD, do CH, da IL e do CDS-PP.

O problema é que essas casas…

Vozes do CH: — São vossas!

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O Sr. António Filipe (PCP): — … só podem ser compradas ou por pessoas muito ricas ou por fundos

imobiliários. Esse é que é o problema.

Continuação de protestos de Deputados do PSD, do CH, da IL e do CDS-PP.

A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Não gostam de ouvir as verdades!

Continuação de protestos de Deputados do PSD, do CH, da IL e do CDS-PP.

O Sr. Presidente (Marcos Perestrello): — Sr. Deputado, é melhor parar mesmo um bocadinho, se calhar.

Quando os Srs. Deputados quiserem acalmar, nós prosseguimos, se não quiserem, nós ficamos à espera.

O tempo corre igual para todos.

Continuação de protestos de Deputados do PSD, do CH, da IL e do CDS-PP e contraprotestos do PCP.

O Sr. António Filipe (PCP): — Se um…

Continuação de protestos de Deputados do PSD, do CH, da IL e do CDS-PP e contraprotestos do PCP.

O Sr. Presidente (Marcos Perestrello): — Só um bocadinho, Sr. Deputado, só um bocadinho.

O Sr. António Filipe (PCP): — Está bem, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente (Marcos Perestrello): — Deixe a poeira assentar toda.

O Sr. António Filipe (PCP): — A poeira!

Continuação de protestos de Deputados do PSD, do CH, da IL e do CDS-PP e contraprotestos do PCP.

O Sr. Presidente (Marcos Perestrello): — Sr. Deputado, faça favor.

O Sr. António Filipe (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, como dizia, se um residente não habitual rico

quiser comprar um andar em Lisboa, tem onde comprar; se alguém adquirir uma opção de residência com visto

gold, também tem onde comprar. Mas, a um jovem português que tenha o salário pago em Portugal e queira

comprar um andar em Lisboa, não lhe é possível comprar, e não consegue sair de casa dos pais!

Protestos de Deputados do CH.

Há casas, mas não há casas que ele possa comprar, e esse é que é o problema. O que trouxemos aqui, o

que trouxemos aqui…

O Sr. Carlos Reis (PSD): — Baixem os impostos!!

O Sr. António Filipe (PCP): — E o problema não são os senhorios…

Protestos do CH.

O Sr. Presidente (Marcos Perestrello): — Ó Sr. Deputado, se calhar, tem de parar um bocadinho novamente.

O Sr. António Filipe (PCP): — Eu paro, Sr. Presidente.

Protestos de Deputados do CH e contraprotestos de Deputados do PCP.

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O Sr. Fabian Figueiredo (BE): — Isto é política de cancelamento!

A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Não querem ouvir as verdades!

O Sr. Presidente (Marcos Perestrello): — Pode continuar, Sr. Deputado. Faça favor.

O Sr. António Filipe (PCP): — Posso prosseguir, Sr. Presidente? Muito obrigado.

Portanto, dizia eu que o problema não é não haver casas, é não haver casas que as pessoas possam

comprar.

E o que é que trouxemos aqui, neste debate?

A questão de conciliar os interesses das pessoas que têm créditos à banca com a possibilidade de poderem

pagar as suas prestações através de negociação de créditos. Não é nenhuma novidade, é algo que se faz em

muitas partes do mundo e que devia fazer-se aqui, para se poder conciliar interesses divergentes, permitindo

que as pessoas mantivessem a possibilidade de ter as suas casas.

Por outro lado, queremos fazer com que os despejos não sejam administrativos e as pessoas não sejam

expulsas de qualquer maneira das suas casas, procurando conciliar os interesses das pessoas com os

interesses dos tais senhorios que os senhores tanto prezam.

Aplausos do PCP.

Entretanto, assumiu a presidência o Presidente, José Pedro Aguiar-Branco.

O Sr. Presidente: — Vamos, então, passar para o ponto 3 da nossa ordem de trabalhos, que consiste no

debate, na generalidade, dos Projetos de Lei n.os 205/XVI/1.ª (BE) — Altera o regime de atualização anual das

pensões da Segurança Social e da Caixa Geral de Aposentações, 305/XVI/1.ª (PAN) — Assegura a atualização

das pensões no ano seguinte ao da sua atribuição e garante a equiparação dos valores de referência do

complemento da prestação social para a inclusão e do complemento solidário para idosos, alterando o Decreto-

Lei n.º 126-A/2017, de 6 de Outubro, e a Lei n.º 53-B/2006, de 29 de Dezembro, 313/XVI/1.ª (PCP) — Melhora

as condições de atribuição do Complemento Solidário para Idosos e altera a regra do mecanismo de atualização

anual das pensões, 314/XVI/1.ª (CH) — Procede à atualização dos rendimentos que devem ser considerados

para efeitos de cálculo do montante pago a título de Complemento Solidário para Idosos, 316/XVI/1.ª (L) —

Estende aos novos pensionistas a atualização anual das pensões do regime da Segurança Social e da Caixa

Geral de Aposentações e 344/XVI/1.ª (PAN) — Pelo alargamento dos beneficiários dos Benefícios Adicionais

de Saúde.

Para apresentar o respetivo projeto, dou a palavra ao Sr. Deputado José Soeiro, do Bloco de Esquerda, que

dispõe de 4 minutos. Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Desde 2007, por causa da lei, os

pensionistas não têm direito a ver a sua pensão atualizada no ano seguinte a terem passado à reforma.

Se eu me reformar em junho, chega janeiro do ano seguinte e a minha pensão não é revalorizada, a lei só

se aplica no segundo ano. Isto acontece quer na Segurança Social, quer na Caixa Geral de Aposentações

(CGA).

O caso é conhecido, foi denunciado ao longo de anos por economistas, como Eugénio Rosa, pela APRe!

(Associação de Aposentados, Pensionistas e Reformados), pela FENPROF (Federação Nacional dos

Professores), por associações diversas, e agora também pelo Movimento Justiça para Pensionistas e

Reformados (MJPR), que está presente na galeria e que saúdo, aliás, como outros representantes de outras

organizações.

Aplausos do BE e do L.

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Durante muito tempo, o tema passou com relativa indiferença, porque a inflação baixa determinava

atualizações nulas ou próximas disso, à exceção das pensões que tiveram sucessivos aumentos extraordinários,

nomeadamente as que tiveram os aumentos de 10 € a partir de 2016. A injustiça estava lá, mas quase não se

notava no bolso. Com a inflação, a situação mudou, passar do salário para a pensão já significa, regra geral,

perder rendimento, mas, à conta daquela regra, mais de 200 000 trabalhadores que passaram à reforma entre

2020 e 2022 viram o valor da sua pensão congelado no ano seguinte a terem deixado de trabalhar.

Em 2023, o cenário foi ainda pior. Como a fórmula da lei implicava aumentos mais significativos nesse ano,

ao ter como referência a inflação do ano anterior, os pensionistas de 2022 perderam muito. Ficaram sem o

aumento de janeiro e também sem o aumento intercalar de junho, em média, cerca de 8 % do valor da pensão

— numa pensão de 1000 €, são 80 € por mês que perderam para sempre.

Em 2024, a mesma injustiça: os aumentos de 5 % ou 6 % não chegaram a quem se reformou em 2023. São

centenas de milhares de pessoas que perderam rendimento nos anos de maior aumento de preços e que terão

essa perda para sempre, porque esse não-aumento fica para sempre no valor da sua pensão, que é abaixo do

que seria devido, caso a lei não tivesse uma tal regra, que é iníqua — e que, todavia, finalmente irá acabar.

Em meados de julho, o Bloco de Esquerda apresentou o projeto de lei que estamos aqui a discutir para pôr

fim a esta injustiça. Ao fazê-lo, e ao tê-lo agendado para debate e votação no Parlamento, deu sequência a uma

pressão que o Movimento Justiça para os Pensionistas e Reformados fez, nomeadamente, quando interpelou a

Provedoria de Justiça, o Presidente da República, o Primeiro-Ministro e os grupos parlamentares.

Agendado o debate do projeto do Bloco pela Conferência de Líderes, os efeitos foram imediatos. O Governo

fez saber, no domingo seguinte — através de Marques Mendes, claro —, a intenção de corrigir o problema logo

na semana seguinte.

A Sr.ª Marina Gonçalves (PS): — Que estranho!

O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Na segunda-feira de manhã, a seguir ao agendamento deste debate, o

Partido Socialista anunciou um projeto de lei para acompanhar o agendamento do Bloco, mas que, pelos vistos,

não acompanha.

Tudo isto significa que, finalmente, os pensionistas terão esta norma removida da lei, o que é uma vitória —

é uma vitória.

Aplausos do BE.

Resta perguntar se está tudo resolvido. Nós achamos que ainda não, porque, para sermos justos, devemos

garantir um ajustamento para quem já teve o prejuízo. Devemos garantir esse ajustamento não só para o futuro,

mas para quem teve o prejuízo, pelo que propomos o recálculo oficioso das pensões que começaram a ser

atribuídas em 2022, em 2023 e em 2024,…

A Sr.ª Marina Gonçalves (PS): — E 2019? E 2020?

O Sr. José Moura Soeiro (BE): — … coisa que já fizemos no passado — não é nenhum precedente —, com

o PCP e com o PS. Fizemos exatamente esta medida de recálculo, quando se tratou de recalcular, dois anos

para trás, o valor das pensões dos pensionistas das pedreiras, que tinham garantido uma pensão sem o corte

de sustentabilidade.

É isto que hoje está aqui em causa. Esperamos que esta injustiça seja corrigida, finalmente, hoje; garantir

justiça para os pensionistas não apenas para a frente, mas também com o recálculo para trás.

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente: — Para uma intervenção de 2 minutos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Inês de Sousa Real,

do PAN. Faça favor, Sr.ª Deputada.

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A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Apesar de já termos tido

recentemente aprovada, em Conselho de Ministros, uma medida que vai ao encontro do debate que aqui temos

hoje, este continua a ser útil, até porque há outras medidas para reforçar os direitos dos pensionistas que

poderão, efetivamente, sair não só deste debate, como ser trabalhadas em discussão em sede de especialidade.

O PAN vem hoje propor que, a partir do próximo ano, haja uma equiparação dos valores de referência do

complemento da prestação social para a inclusão e do complemento solidário para idosos, com efeito já a partir

do próximo ano, pois não nos faz sentido, nem é justo, que estas prestações sociais continuem a ser tratadas

como se fossem diferentes — o que é justificado dizendo que falamos de prestações sociais —, quando bem

sabemos que falamos de instrumentos que procuram combater a pobreza junto de pessoas mais vulneráveis; e

não podemos ignorar o que nos dizem os dados atuais relativamente ao aumento do risco de pobreza.

Sabemos também que, no Orçamento do Estado, o Governo assume o compromisso de seguir a

convergência de valores para consagrar o limiar da pobreza, mas é preciso dar segurança jurídica e consagrar

esta equiparação, que o PAN propõe que se transforme em letra de lei.

Também trazemos a este debate uma outra preocupação, recordando que cerca de 14,1 % dos idosos em

Portugal não consegue adquirir todos os medicamentos de que precisa.

A realidade é que a conta da farmácia continua a colocar milhares de idosos abaixo do limiar da pobreza e

estas despesas não são tidas em conta, por exemplo, para calcular o risco de pobreza ou classificar as pessoas

como estando a viver em situação de vulnerabilidade socioeconómica. Por isso mesmo — e ainda que estas

pessoas não consigam cumprir a condição de rendimentos para aceder aos benefícios complementares de

saúde —, é preciso colmatar esta lacuna.

É ainda preciso criar um mecanismo que assegure que, sempre que as despesas da farmácia coloquem os

rendimentos de uma pessoa idosa abaixo dos limiares de acesso ao complemento solidário para idosos, estas

possam aceder aos complementos e benefícios para a área da saúde, não ficando, assim, em risco de pobreza

ou, até mesmo, em risco de ver ser-lhes negado o tratamento de que necessitam, algo absolutamente indigno

— em particular para os mais vulneráveis e para as pessoas idosas — e contrário aos princípios do Estado

social e de direito.

O Sr. Presidente: — Também para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Alfredo Maia, do PCP,

que dispõe de 4 minutos.

O Sr. Alfredo Maia (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Saudamos os pensionistas e reformados e as

suas organizações, presentes nas galerias.

Srs. Deputados, o número de reformados, pensionistas e idosos em Portugal supera já mais de um terço da

população, auferindo, muitos deles, baixíssimas pensões — para mais de 1 milhão, abaixo dos 510 €! — para

satisfazer necessidades básicas como a alimentação ou os medicamentos.

O PCP tem vindo a intervir para pôr termo aos cortes nas pensões e reformas — nomeadamente em 2017 e

2021 — e para garantir a reposição do poder de compra.

Em 2021, por exemplo, o PCP propôs o aumento das pensões e atualizações intercalares para mitigar a

perda do poder de compra, mas o PS preferiu manter o rumo de degradação das condições de vida da grande

maioria dos reformados e pensionistas.

Em 2023, o PCP voltou a defender a melhoria das condições, mas foi contrariado, apesar de ser claro que

os aumentos decretados para o ano em curso seriam manifestamente insuficientes.

Ao assinalarmos hoje o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, é oportuno recordar a cifra que

deve envergonhar-nos a todos: mais de 17 % dos idosos estão em risco de pobreza e de exclusão.

Quanto a 2025, o Governo já disse que se limitará a atualizar as pensões de acordo com a legislação em

vigor e que, lá para o verão, poderá vir com mais uma iniciativa de esmoler típico, atribuindo uma prestação

avulsa. Mas o que é necessário é garantir a atualização das pensões e das reformas em, pelo menos, 5 % e,

no mínimo, 70 € por cada pensionista, como o PCP propõe.

A somar à perda do poder de compra, saliente-se a situação de largos milhares de reformados — mais de

120 000 só em 2023 — excluídos da atualização anual das pensões, em consequência de normas

profundamente injustas que os obrigam a esperar mais de dois anos por ela. O PCP submete uma proposta de

alteração à legislação em vigor, garantindo que todas as pensões — sublinhe-se, todas! —, independentemente

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do ano de reforma, são atualizadas à data do efeito do aumento anual e para as pensões de aposentação com

efeitos a partir do dia 1 de janeiro.

A proposta do PCP estabelece também a produção de efeitos da atualização das pensões a 1 de janeiro de

2019, com o recálculo oficioso, numa primeira fase, dos valores retroativos a essa data, mas sem perder de

vista a necessidade de abranger as pensões deferidas antes desse ano.

O PCP continua também a contribuir para melhorar o complemento solidário para idosos, um instrumento

muito útil no combate à pobreza, enquanto não se atingem patamares de pensões e reformas adequados. Dando

continuidade a iniciativas anteriores, propomos a atualização deste complemento em 14 meses, e não em 12,

como o Governo mantém.

Por outro lado, o PCP propõe também a eliminação da norma que penaliza os casais, garantindo-se a

atribuição individual da prestação no seu montante integral.

Com estas propostas e com a sua discussão na especialidade, esperamos que se faça caminho para

consagrar um mínimo de justiça.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Felicidade Vital, do Chega,

dispondo de 6 minutos.

A Sr.ª Felicidade Vital (CH): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: O Chega é um partido de convicções…

Risos de Deputados do BE e do L.

… e uma delas é a proteção dos que realmente precisam, dos mais desfavorecidos, dos que não podem

trabalhar.

Protestos da Deputada do PS Marina Gonçalves.

E é estes que o Estado tem de amparar e, com justiça social, é destes que tem de cuidar.

Os reformados são a população vulnerável que mais sofre, desde os tempos difíceis da troica, que o PS

chamou depois de destruir o País.

O Sr. Pedro Pinto (CH): — Muito bem!

A Sr.ª Felicidade Vital (CH): — Os pensionistas viram as suas reformas reduzidas. Note-se que são pessoas

sem possibilidades de voltar a trabalhar, sem possibilidades de refazer a sua vida ou de ter um trabalho extra

para complementar rendimentos.

Os reformados de hoje viveram toda a vida em Portugal, a construir o País que temos hoje e a descontar

para a Segurança Social, e hoje ainda têm de ouvir os Srs. Deputados a dizer que são os imigrantes que salvam

a Segurança Social. Tenham respeito, Srs. Deputados!

Aplausos de Deputados do CH.

Tenham respeito, Srs. Deputados, não ofendam a inteligência destes reformados com atitudes eleitoralistas

e enganadoras, como fez o Governo da AD, com 100 € e 200 € pagos de uma só vez.

Aplausos de Deputados do CH.

Portugal tem Primeiros-Ministros mentirosos e enganadores há décadas…

Aplausos de Deputados do CH.

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… e os reformados que o digam. De entre os pobres estão os mais pobres, que são os que recebem o

complemento solidário para idosos. Hoje, o Chega traz uma proposta de apoio a estas pessoas que recebem,

em média, 157 € — 157 €! — de complemento e que, em caso de viuvez, ficam sem este apoio. Além do impacto

psicológico violento do luto, que é um momento devastador nesta fase da vida, o viúvo ou a viúva ainda tem de

lidar com problemas financeiros, pois as despesas do quotidiano continuam a existir.

Assim, o Chega propõe corrigir o que os anteriores Governos fizeram, ou seja, roubar aos idosos para dar a

quem não precisa e pode trabalhar.

Aplausos do CH.

Propomos que, para este efeito — da atribuição do complemento solidário para idosos —, sejam excluídos

os rendimentos auferidos por pensão de viuvez e que o pensionista viúvo seja considerado como requerente

singular.

É uma proposta da mais elementar justiça, num sistema em que os Srs. Deputados teimam em pagar

subsídios a estrangeiros que nunca descontaram em Portugal e a homens e mulheres com capacidade para

trabalhar, mas que se arrastam pelos cafés sem nada fazerem o dia inteiro.

Aplausos do CH.

Têm filhos com o intuito de receber mais subsídios e ainda os vão colocar nas creches, retirando o lugar aos

que trabalham e que descontam para pagar as pensões.

Aplausos do CH.

O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Filipa Pinto, do Livre, que dispõe

de 4 minutos.

O Sr. Pedro Pinto (CH): — Os Pintos estão em grande maioria neste Parlamento. Até o Livre já tinha inveja!

A Sr.ª Filipa Pinto (L): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Caros Concidadãos nas galerias: Em

primeiro lugar, gostaríamos de saudar o Bloco de Esquerda pelo agendamento deste debate e destacar as

importantes iniciativas do Movimento Justiça para Pensionistas e Reformados, hoje presente nesta sessão.

As associações, movimentos e sindicatos têm assumido um papel fundamental ao reportar os impactos da

não-atualização das pensões no primeiro ano de reforma, tanto no regime da Segurança Social quanto na Caixa

Geral de Aposentações.

É importante salientar a relevância desse tema em momentos de elevada inflação e de aumento do custo de

vida, como os que vivemos nos últimos anos. As dificuldades são sentidas por todas as pessoas, mas de forma

mais aguda pelos pensionistas e reformados, por causa dessa injustiça.

O Livre acompanha a necessidade de corrigir esta situação. Não podemos ignorar a perda de rendimento

dos novos reformados e pensionistas, consequência da regra de não-atualização das pensões no primeiro ano.

Por isso, pretendemos alterar de forma estrutural esta realidade, consagrando a atualização anual das

pensões, que passa a produzir efeitos no início do ano civil subsequente ao da sua atribuição. A nossa iniciativa

tem como objetivo pôr fim a essa penalização, promovendo mais justiça e dignidade para estas pessoas.

Coincidentemente, após este debate ter sido agendado e uns dias antes da sua realização, o Presidente da

República promulga a iniciativa do Governo. Lamentamos a abordagem de não aguardar pelo debate

parlamentar, conforme ocorrido em situações anteriores.

Infelizmente, não temos conhecimento da substância completa do decreto-lei promulgado, já que o Governo

não disponibiliza os documentos aprovados em Conselho de Ministros. Por este motivo, o Livre mantém a sua

iniciativa a debate — não seria a primeira vez que os comunicados não correspondem às leis publicadas.

Acompanhamos, também, as propostas de melhoria das condições de atribuição do Complemento Solidário

para Idosos e a equiparação do valor de referência do complemento da prestação social para a inclusão.

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Além disso, apoiamos o alargamento dos benefícios adicionais de saúde a pessoas com elevadas despesas

de saúde, as quais, por não serem beneficiárias do complemento solidário para idosos, enfrentam dificuldades

em suportar as suas despesas médicas. É inaceitável que idosos se vejam forçados a escolher entre comprar

medicação ou pagar outras contas essenciais.

O Sr. Pedro Pinto (CH): — Muito bem! O chefe diz isso, também!

A Sr.ª Filipa Pinto (L): — O Livre reforça o seu compromisso em apresentar medidas para um sistema mais

justo, que valorize e proteja os nossos reformados e pensionistas. A iniciativa agora apresentada é mais um

passo fundamental nesse caminho.

Aplausos do L.

O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, dou agora a palavra à Sr.ª Deputada Joana Cordeiro, da

Iniciativa Liberal, dispondo de 3 minutos.

A Sr.ª Joana Cordeiro (IL): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Debatemos mais uma injustiça do

nosso sistema de pensões.

É uma injustiça que impede um pensionista de ver a sua pensão atualizada no ano seguinte àquele em que

se reformou e que, concordamos, é preciso corrigir, mas cuja correção — que está a ser proposta — é, de certa

forma, ela própria, geradora de injustiça, porque, obviamente, não pode ser indiferente o momento da atribuição

dessa pensão, quer seja em janeiro, quer seja em dezembro; e, depois, porque cria um esforço adicional sobre

a população ativa, que é chamada a pagar esta correção.

Este último ponto é especialmente importante, porque o nosso sistema contributivo de pensões resulta nisto:

o esforço para pagar as pensões do presente, mesmo quando é para corrigir injustiças, vai comprometer as

pensões do futuro. Basta ver, uma vez mais, o Relatório sobre a sustentabilidade financeira da Segurança Social

neste Orçamento do Estado, com défices no sistema a partir de 2040, num sistema que é frágil e que pode falhar

se a economia fraquejar.

Mas este debate traz ainda ao Parlamento outra discussão sobre o nosso sistema de pensões, sobre o qual

eu gostava de falar, nomeadamente sobre os baixos valores que muitos pensionistas recebem. Valores que,

pela mão do então Ministro Vieira da Silva, na reforma de pensões feita pelo Partido Socialista, resultarão, no

futuro, em pensões que são, proporcionalmente, muito inferiores aos já baixos salários de quem hoje trabalha.

Srs. Deputados, numa economia de baixo crescimento económico, não podemos ter um debate sério sobre

aumentar o valor das pensões sem, com isso, sobrecarregar a geração atual.

É a pensar na geração atual — inserida nessa tal economia de baixo crescimento económico, que perpetua

salários baixos e impostos altos, como temos em Portugal, e em que esses salários baixos são majorados por

suplementos que são criados para subir o rendimento mensal, mas que, depois, não contam para a reforma,

resultando, novamente, em reformas mais baixas — que devemos alertar para a dura realidade que muitos dos

atuais trabalhadores ativos vão enfrentar no momento da sua reforma e da sua velhice, ou seja, uma redução

brutal do seu rendimento.

Uma redução que, como tem sido feito, será obviamente minimizada por alguns apoios adicionais, mas que

resulta, uma vez mais, de um país estagnado, que se vê obrigado a contar todos os tostões para dar um

envelhecimento digno a quem trabalhou e descontou uma vida inteira.

É nisto, Srs. Deputados, que temos de trabalhar.

Aplausos da IL.

O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem agora a palavra o Sr. Deputado Pedro Roque, do PSD, que

dispõe de 6 minutos.

O Sr. PedroRoque (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Grosso modo, discute-se, hoje, um

conjunto de iniciativas que procura atuar sobre duas questões da maior relevância do ponto de vista social,

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respeitante à justíssima retribuição a que pensionistas e reformados, após uma carreira de trabalho em prol da

sociedade, devem ter direito.

A primeira dessas iniciativas é sobre a regra do mecanismo de atualização anual das pensões; o segundo é

sobre as condições de atribuição do chamado CSI (complemento solidário para idosos).

Relativamente à regra do mecanismo de atualização anual das pensões atribuídas, respetivamente, pelo

sistema de segurança social e pela CGA, pretende-se atuar no sentido de essa atualização passar a abranger

todas as pessoas que sejam pensionistas e reformadas à data da entrada em vigor da atualização, já que,

efetivamente, a regra de incremento do valor das pensões atualmente em vigor prevê que ela só ocorra no

segundo ano civil seguinte ao da sua atribuição, de acordo com a Lei n.º 53-B/2006, de 29 de dezembro.

Ora, a este nível, entendeu já o Governo alterar esta regra absurda, aprovando recentemente um diploma

que prevê a atualização das pensões no ano seguinte ao da sua atribuição, com efeitos a partir do dia 1 de

janeiro de cada ano, dando assim uma resposta mais efetiva às situações que, por força da sua natureza, se

revelem economicamente mais frágeis. Ontem mesmo, foi promulgado pelo Presidente da República este

diploma do Governo que procede à alteração das regras de atualização das pensões atribuídas pelo sistema de

segurança social e pela Caixa Geral de Aposentações, estabelecendo como princípio a atualização do valor da

pensão a partir do ano seguinte ao seu início. Esta norma entrará em vigor a 1 de novembro e é aplicável a

todas as pessoas que passaram à situação de reformado ou pensionista no ano de 2024 e para o futuro.

Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, no que respeita à atribuição do chamado CSI, julgamos que, face às

circunstâncias e às alterações já em vigor e às previstas para futuro, os diferentes projetos pecam por excesso.

Convirá ter em linha de conta que este Governo, correspondendo a uma promessa eleitoral, e em seis meses

de vigência, já aumentou o valor para beneficiar do CSI de 550 € para 600 €, e propõe-se subir este limiar em

anos subsequentes. Este aumento, de resto, é o primeiro passo para atingir o objetivo inscrito no Programa do

Governo, de colocar o CSI nos 820 € no final da Legislatura.

Já decretou a gratuitidade dos medicamentos para os cerca de 140 000 beneficiários do CSI, sem devoluções

nem reembolsos, através de uma medida de aplicação automática, quando os medicamentos clinicamente

prescritos são adquiridos nas farmácias. Recorde-se que, anteriormente, os beneficiários pagavam 50 % do

preço desses medicamentos.

E já alargou o universo dos pensionistas abrangidos pelo CSI ao eliminar os rendimentos dos filhos como

critério e fator de exclusão na atribuição desta prestação.

Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, como se vê, muitos passos concretos foram dados em seis meses de

vigência desta Legislatura, por uma maioria e um Governo apostados em reduzir as assimetrias e em tornar a

sociedade portuguesa mais justa e igualitária.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: — O Sr. Deputado José Moura Soeiro pede a palavra para que efeito?

O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Para uma interpelação à Mesa, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente: — Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Sr. Presidente, pareceu-me que o Sr. Deputado Pedro Roque citou aqui

um diploma do Governo sobre esta mesma matéria. Nós também lemos nas notícias que o Governo estaria a

legislar, mas andamos há vários dias a procurar ter acesso a esse diploma, sem sucesso. Uma vez que,

aparentemente, o Sr. Deputado Pedro Roque terá acesso a esse documento, queria pedir se o Sr. Presidente

diligenciava no sentido de esse documento poder ser partilhado com a Câmara, porque não conhecemos

exatamente o que é que o Governo apresentou e seria muito útil saber de que estamos a falar.

Aplausos do BE e da IL.

O Sr. Presidente: — Com certeza, Sr. Deputado, será feito.

Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João Almeida, do CDS-PP, que dispõe de 3 minutos.

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O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Como já referimos

noutros debates de hoje e de outros dias, há um enorme desafio demográfico para o nosso País e uma das

principais consequências do desafio que temos é conseguir garantir a sustentabilidade do nosso sistema de

pensões. Não tendo uma renovação geracional suficiente, obviamente que cada vez mais o encargo para pagar

as pensões justas a quem já contribuiu e fez o seu percurso profissional será mais difícil de sustentar.

Temos, acrescido a isso, um problema social também muito relevante, que é o facto de haver uma

prevalência muito significativa de pobreza nos mais velhos. Portanto, temos, ao mesmo tempo, de conseguir

sustentar um sistema que é um sistema social, de que penso que ninguém está disponível para abdicar nem

transformar, pelo menos para aqueles que já constituíram o seu direito às pensões, e, por outro lado, de retirar

da iminência ou da situação de pobreza os mais velhos que estão nessa situação.

Nesse sentido, o Governo teve algumas medidas prioritárias e urgentes, imediatas, desde logo o aumento

do complemento solidário para idosos, que faz uma discriminação positiva no apoio daqueles que, através da

sua pensão, não têm um rendimento suficiente para uma vida digna. Por outro lado, atendeu a uma necessidade

que é prevalecente também nos mais velhos, que é a medicação e o encargo que os idosos suportam com a

sua medicação, passando a comparticipar a 100 % os medicamentos para os idosos carenciados. E, justamente

no sentido das iniciativas que hoje aqui discutimos, alterou a regra para a atualização das pensões, permitindo

a sua atualização no ano imediatamente seguinte ao da atribuição para as pessoas que se reformam nesse

mesmo ano.

É certo que, daquilo que foi anunciado já pelo Governo, a abrangência desta iniciativa não será tão ampla

quanto alguns dos projetos que hoje aqui se apresentam. Mas temos de dizer, porque é um facto, que em seis

meses o Governo discriminou positivamente os idosos mais carenciados, atendeu especialmente à questão dos

medicamentos e alterou as regras de atualização de pensões, exatamente também para permitir que estes

idosos não perdessem rendimento.

É um caminho, um caminho que estamos a fazer, e que, naturalmente, com o desenrolar da Legislatura,

poderá ser aprofundado.

O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Gilberto Anjos, do Partido

Socialista, que dispõe de 6 minutos.

O Sr. Gilberto Anjos (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O tema das pensões tem sido central

nos debates que temos aqui travado e, como partido que sempre esteve comprometido com a justiça social e

com a defesa dos mais vulneráveis, o Partido Socialista orgulha-se do trabalho que tem desenvolvido neste

campo.

Aplausos do PS.

Somos o partido das reformas da segurança social, que retirou o nosso sistema de pensões dos países de

risco para o colocar entre aqueles que têm melhor horizonte de sustentabilidade.

Sr.as e Srs. Deputados, frequentemente é dito aqui que estivemos — e estivemos bem — oito anos no

Governo. Questionam-nos o que fizemos, o que não fizemos, porque o fizemos. Pois bem, entre outros, somos

o partido que, em oito anos, fez as pensões médias subir como nunca tinha acontecido no passado,

conseguindo, mesmo assim, ao mesmo tempo, assegurar mais anos de sustentabilidade da segurança social.

Vozes do PS: — Muito bem!

O Sr. Gilberto Anjos (PS): — Somos o partido que, ao longo dos últimos anos, foi capaz de implementar

sucessivos aumentos nas pensões cumprindo a fórmula de cálculo em vários anos acima dela, em particular

nas pensões mais baixas, com o objetivo de melhorar as condições de vida dos nossos pensionistas, mesmo

em momentos particularmente difíceis da nossa história recente, como durante a crise inflacionista. Somos o

partido que, mesmo durante este período de crise, tomou medidas concretas para proteger o poder de compra

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dos pensionistas, minimizando o impacto da inflação e garantido que aqueles que trabalharam uma vida inteira

tivessem a dignidade e o apoio que merecem.

Mas somos também o partido que, além dessas medidas imediatas, sempre esteve ciente da

responsabilidade em assegurar a sustentabilidade da segurança social, um pilar fundamental do nosso contrato

social.

O Sr. Miguel Cabrita (PS): — Muito bem!

O Sr. Gilberto Anjos (PS): — Olhando para as propostas sobre a alteração da regra de atualização das

pensões, que visa introduzir um aumento logo no ano seguinte à sua atribuição, devemos ser claros.

Em primeiro lugar, estamos a falar de uma regra que vigora há dezenas de anos e que faz parte da arquitetura

do sistema, sem grande ruído ou contestação, em gerações sucessivas de pensionistas, com equidade entre

todos e com aplicação uniforme ao longo do tempo e em períodos em que o nosso País conheceu níveis de

inflação distintas, reconhecendo, contudo, que esta fórmula pode estar, e estará, efetivamente, desajustada.

Em segundo lugar, não há regras imunes a discussão e a melhorias, principalmente para melhorar a proteção

social, desígnio a que somos favoráveis.

O Grupo Parlamentar do Partido Socialista considera, por isso, que estas ideias são meritórias.

No entanto, é imperativo que qualquer alteração seja feita de forma ponderada, garantindo o equilíbrio e a

sustentabilidade financeira da segurança social e os princípios de estabilidade e previsibilidade que a protegem,

para salvaguardar não só as gerações presentes, mas também as gerações futuras.

O Sr. Miguel Cabrita (PS): — Muito bem!

O Sr. Gilberto Anjos (PS): — Desde logo, protegendo o sistema da instabilidade provocada por recálculos

e aplicações retroativas com impactos financeiros que só o Governo está em condições de reconhecer na sua

plenitude. Qualquer mudança da regra de atualização das pensões tem um impacto que, ao contrário do que foi

dito publicamente pelo atual Governo, tem um efeito acumulado ao longo dos anos, todos os anos nas próximas

décadas.

O Presidente da República promulgou ontem legislação sobre este tema e seria grave que o Governo tivesse

avançado sem esses cálculos. Aqui entra a diferença entre um partido de oposição populista e um partido

responsável.

Aplausos do PS.

A Sr.ª Marina Gonçalves (PS): — Muito bem!

O Sr. Gilberto Anjos (PS): — O Partido Socialista é e será sempre um partido com responsabilidade de

Governo. Somos hoje o maior partido da oposição e estamos a trabalhar para voltar a merecer a confiança de

todos os portugueses para governar o nosso País.

Aplausos do PS.

A governação exige uma visão equilibrada que tenha em conta a sustentabilidade das finanças públicas, o

bem-estar dos cidadãos de hoje, mas também a segurança das gerações futuras. Não podemos ceder à

tentação de tomar decisões que, a curto prazo, possam parecer atraentes, mas que, a longo prazo e ao longo

do tempo, abririam brechas e precedentes que colocariam em risco a saúde financeira do nosso sistema de

pensões.

O Partido Socialista tem sido sempre guiado por este princípio de responsabilidade e da defesa da segurança

social pública. Reconhecemos a importância de proteger os nossos pensionistas, de melhorar o nosso sistema,

e sabemos que a segurança e a sustentabilidade da segurança social são cruciais para que todos, agora e no

futuro, possam contar com um sistema robusto e eficiente.

Sr.as e Srs. Deputados, como maior partido da oposição,…

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O Sr. Pedro Pinto (CH): — Oposição? Oposição, o quê!

O Sr. Gilberto Anjos (PS): — … o Partido Socialista continuará a trabalhar de forma responsável, propondo

soluções justas e equilibradas, sempre com a responsabilidade de quem ambiciona governar Portugal e de

quem compreende os desafios que isso implica. Vamos continuar a ser a força de estabilidade, proteção social

e prudência económica em defesa do bem-estar de todos os portugueses.

Para concluir, Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, as pensões e as suas atualizações são também um

instrumento para o combate à pobreza. No Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, é com grande

preocupação constatarmos que, pela primeira vez em sete anos, houve um aumento do nível de pobreza no

nosso País, como foi noticiado hoje. Este retrocesso tem de ser combatido com políticas públicas eficazes, para

proteger os mais vulneráveis. Ser pobre, desempregado, estar numa situação de carência é uma condição

involuntária que o Estado e todos nós temos responsabilidade de combater.

Aplausos do PS.

O Sr. Pedro Pinto (CH): — Foram seis meses!

Entretanto, assumiu a presidência a Vice-Presidente Teresa Morais.

A Sr.ª Presidente — O Sr. Deputado tem um pedido de esclarecimento. Para o fazer, tem a palavra o

Sr. Deputado Pedro Pinto, da bancada do Chega. Tem 2 minutos, Sr. Deputado Pedro Pinto, faça favor.

O Sr. Pedro Pinto (CH): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Deputado Gilberto Anjos, é que a sua

declaração de hoje vem mesmo no dia em que saiu a notícia que diz que Portugal está mais pobre, a notícia

que diz que a diferença entre ricos e pobres aumentou. E sabe quem é que governou nos últimos oito anos? Foi

o Partido Socialista!

Risos do CH.

Foi o Partido Socialista!

Aplausos do CH.

Portanto, isto é quase ridículo! Ó Sr. Deputado, é preciso ter uma grande lata e uma grande falta de vergonha

para vir dizer que o Partido Socialista «orgulha-se das reformas que tem feito». Orgulha-se?

Protestos do PS.

O Partido Socialista devia era dizer assim: nós fomos responsáveis, pedimos desculpa aos portugueses,

pedimos desculpa aos pensionistas, pedimos desculpa aos nossos idosos. Era isso que o Sr. Deputado devia

ter feito e não fez!

Aplausos do CH.

Percebe a diferença, Sr. Deputado? A diferença é esta: os pensionistas, graças ao Partido Socialista,

juntamente com o Bloco de Esquerda, com o PCP, com o Livre…

O Sr. Rui Tavares (L): — O Livre?!

O Sr. Pedro Pinto (CH): — … e com o PAN, graças a vocês todos, os pensionistas cada vez estão mais

pobres; trabalharam a vida toda e têm pensões de miséria. E a culpa é vossa!

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Aplausos do CH.

O Sr. Rui Tavares (L): — Não é só chegar aqui e dizer coisas!

Protestos do CH.

O Sr. Pedro Pinto (CH): — Mas não queria ouvir a resposta?

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — O Sr. Deputado Gilberto Anjos, do Partido Socialista, beneficia de uma

cedência de tempo de 30 segundos do Grupo Parlamentar do Livre para responder. Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. Gilberto Anjos (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, na minha intervenção tive oportunidade

de dizer que existe uma grande diferença entre os partidos da oposição e os partidos de Governo. E a prova foi

esta intervenção do Sr. Deputado Pedro Pinto, ao qual agradeço a pergunta. Porque, efetivamente, nós temos

orgulho e consciência daquilo que fizemos.

Protestos do CH.

Não foi tudo bem feito, mas nós trabalhámos… o Partido Socialista, nos últimos oito anos, combateu a

pobreza, subiu os salários como nunca tinham subido no passado.

Aplausos do PS.

Subiu as pensões como nunca tinham…

Por ter excedido o tempo de intervenção, o microfone do orador foi automaticamente desligado.

Aplausos do PS e protestos do CH.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Para uma intervenção, está inscrito o Sr. Deputado Pedro Roque, do

Grupo Parlamentar do PSD. Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. Pedro Roque (PSD): — Sr.ª Presidente: Há pouco, o Sr. Deputado José Soeiro, uma vez que a

bancada do Bloco de Esquerda já não dispunha de tempo, resolveu usar um estratagema parlamentar que foi

uma interpelação à Mesa relativamente à minha intervenção.

Voz do PSD: — Isso!

O Sr. Pedro Roque (PSD): — Percebe-se, uma vez que não tinha tempo e, portanto, acho que o Hemiciclo

é compreensivo quanto a isso. Mas, sobre o conteúdo da sua interpelação, devo dizer que não tenho,

obviamente, nenhuma informação privilegiada e ninguém iria perceber que assim fosse.

O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Até disse quando é que iria entrar em vigor!

O Sr. Pedro Roque (PSD): — Mas eu gostava de chamar-vos à atenção que o Sr. Deputado assinou um

artigo de opinião no Expresso, no dia 2 de outubro, intitulado «A lei das pensões vai mudar, e ainda bem!»,…

A Sr.ª Carla Barros (PSD): — Muito bem!

O Sr. Pedro Roque (PSD): — … onde já, digamos, levantava o pano relativamente a isto.

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A Sr.ª Ofélia Ramos (PSD): — Muito bem! Exatamente!

O Sr. Pedro Roque (PSD): — Portanto, «… e ainda bem» — eu reforço bem este aspeto.

De resto, há uma nota, no site da Presidência da República, que diz o seguinte, e passo a citar: «O Presidente

da República promulgou o diploma do Governo que procede à alteração das regras de atualização das pensões

atribuídas pelo sistema de segurança social e pela Caixa Geral de Aposentações, estabelecendo como princípio

a atualização do valor da pensão a partir do ano seguinte ao início da pensão.»

A Sr.ª Carla Barros (PSD): — Está tudo clarinho!

O Sr. Pedro Roque (PSD): — Ora bem, está aqui tudo claro, obviamente não está esmiuçado, não é o

diploma…

O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Onde é que está?

O Sr. Pedro Roque (PSD): — … mas a partir daqui, tal como o Sr. Deputado inferiu e tal como as outras

bancadas da esquerda inferiram, este sistema irá ser alterado.

Aplausos do PSD.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — O Sr. Deputado Fabian Figueiredo pede a palavra. Para que efeito?

O Sr. Fabian Figueiredo (BE): — Para uma interpelação à Mesa, Sr.ª Presidente.

O Sr. Pedro Pinto (CH): — Outra vez?!

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. Fabian Figueiredo (BE): — Sr.ª Presidente, para reiterar os bons ofícios da Mesa para solicitar ao

Sr. Deputado, por uma questão de cortesia e de lealdade parlamentar, que distribuísse às restantes bancadas

o documento que o Governo lhe terá facultado com o diploma que citou na sua intervenção inicial.

Se para mais fundamentar este pedido, o Sr. Deputado necessitar que sejam distribuídas as atas desta

mesma sessão, assim, também o solicitamos, para que o Sr. Deputado do PSD seja relembrado…

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Sr. Deputado…

O Sr. Fabian Figueiredo (BE): — … do que é que disse na sua intervenção inicial, porque achamos que é

um mau procedimento uma bancada ter acesso a informação legislativa que é ocultada das restantes bancadas.

É um mau princípio.

O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Um mau princípio! Mau princípio!

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Já todos entendemos qual é a questão, Sr. Deputado.

O Sr. Deputado Pedro Roque pede a palavra. Para que efeito?

O Sr. Pedro Roque (PSD): — Sr.ª Presidente, é também para uma interpelação à Mesa, porque julgo que

poderá informar o Sr. Deputado que a minha fonte de informação se chama www.presidencia.pt e é um site da

web.

Aplausos do PSD.

O Sr. Fabian Figueiredo (BE): — Diga lá, onde é que está?

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A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Sr. Deputado, estamos entendidos quanto a este pedido de

interpelações.

A Sr.ª Carla Barros (PSD): — Está no site!

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — O Sr. Deputado Pedro Pinto, do Chega, inscreve-se para uma

intervenção? Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. Pedro Pinto (CH): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: No final deste importante debate fica,

como nota, o orgulho socialista em ter empobrecido o País. Portanto, é um orgulho, é um legado do Partido

Socialista. Os portugueses também já estavam habituados, porque o socialismo é, realmente, uma máquina de

fazer pobres e é isso que o Partido Socialista tem feito em Portugal.

Aplausos do CH.

Para o Orçamento para 2025, do PS e do PSD, pouco aumentam as pensões: promessas, promessas,

promessas! Queriam, inclusive, não meter no Orçamento a baixa do IVA (imposto sobre o valor acrescentado)

da eletricidade, que vai beneficiar em muito os nossos idosos, num País onde aos jovens mandamos emigrar e,

aos nossos idosos, não lhes damos dignidade.

Vou-vos dar um exemplo. Nós recebemos muitos e-mails no nosso grupo parlamentar e um deles tocou-me

particularmente: «A minha esposa, com 67 anos e a 3 meses de fazer 68, e com uma carreira contributiva de

36 anos, tem uma pensão de 324 €» Trezentos e vinte e quatro euros! No mesmo dia, recebemos um vale de

correio, de um imigrante acabado de chegar a Portugal, que recebeu 721,02 €.

A Sr.ª Mariana Leitão (IL): — Não tem de comparar!

O Sr. Pedro Pinto (CH): — É assim que nós tratamos os portugueses. É assim que nós tratamos quem

trabalhou e descontou uma vida toda:…

A Sr.ª Felicidade Vital (CH): —Nem mais!

O Sr. Pedro Pinto (CH): — … descontámos, descontámos, descontámos, pagámos impostos, e agora, o

que fazemos? Temos de agradecer aos nossos imigrantes — aos imigrantes que vêm para Portugal — o que

estão a fazer pela Segurança Social. Meu Deus, onde é que nós chegámos?! Onde é que nós chegámos!

Aplausos do CH.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — A Mesa não regista mais inscrições.

Pausa.

O Sr. Deputado Rui Tavares, do Livre, inscreveu-se. Faça favor, dispõe de 39 segundos, Sr. Deputado.

O Sr. Rui Tavares (L): — Sr.ª Presidente, houve um tempo em que o discurso repetitivo de partidos, às

vezes, levava o nome de «cassete». Acho que, hoje em dia, é o gif riscado, porque praticamente todos os

discursos são iguais, quando vindos da bancada do Chega. E conseguem criar a divisão e o ódio entre pessoas.

Entre tudo: fala-se da carta do cidadão sénior, conseguem virar portugueses cuja segurança social também

depende de quem trabalha — quem trabalha, não interessa de onde vem; trabalha, desconta, contribui para a

segurança social —, como conseguem quando se fala de creches.

Srs. Deputados, eu só queria,…

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O Sr. Pedro Pinto (CH): — Querias estar calado, mas enfim!…

O Sr. Rui Tavares (L): — … enfim, salientar uma coisa: as pessoas aborrecem-se. E, se calhar, um grande

perigo para o Chega, e uma das razões porque o Chega tem medo de voltar a consultar o povo,…

Risos do CH.

… é que as pessoas se aborreçam dessa rábula.

Aplausos do L.

O Sr. Rui Tavares (L): — Não tem medos?

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Sr. Deputado Pedro Pinto, pede a palavra para que efeito?

O Sr. Pedro Pinto (CH): — Para uma interpelação à Mesa, Sr.ª Presidente.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Imagino que sobre a condução dos trabalhos.

O Sr. Pedro Pinto (CH): — Sr.ª Presidente, é para uma interpelação à Mesa, mesmo.

Sr.ª Presidente — certamente que o Sr. Deputado Rui Tavares andou distraído na sessão plenária de ontem

—, eu gostaria que distribuísse ao Sr. Deputado Rui Tavares e à bancada do Livre que, ontem, o Chega quis

ouvir também o povo e, por isso, propôs um referendo à imigração.

Nós nunca temos medo de ouvir o povo. Nós nunca temos medo de ouvir o povo, ao contrário do Livre. Por

isso é que eles são quatro e nós somos 50.

Aplausos do CH.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Sr. Deputado, o que debatemos ontem é público, todos nós o sabemos,

não carece, parece-me, de qualquer tipo de distribuição nem de reforço de informação.

O Sr. Deputado Rui Tavares pede a palavra. Para que efeito?

O Sr. Pedro dos Santos Frazão (CH): — Outra vez?! Para quê?!

O Sr. Rui Tavares (L): — Para uma interpelação à Mesa, Sr.ª Presidente.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. Rui Tavares (L): —Sr.ª Presidente, muito rapidamente: uma vez que se fala de ouvir o povo, e isso é

em referendos e eleições, gostaria que pudesse ser comunicado à Câmara quantas mudanças de posição já

teve o Chega sobre a realização de eleições.

Aplausos do L.

Protestos do CH.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — O Sr. Deputado sabe que isso não é uma interpelação à Mesa, nem é

coisa que a Mesa possa fazer.

Portanto, Srs. Deputados, peço-vos o favor de podermos avançar neste debate.

O Sr. Deputado Pedro Pinto pede a palavra para que efeito?

O Sr. Pedro Pinto (CH): — Sr.ª Presidente, é para uma interpelação à Mesa.

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A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. Pedro Pinto (CH): — Sr.ª Presidente, gostaria que a Sr.ª Presidente usasse da sua força natural, como

Presidente da Assembleia da República, para perguntar ao Livre onde é que o Chega mudou de posição em

relação ao referendo e que distribuísse por todas as bancadas.

Protestos do L.

Creio que seria importante, porque senão a mentira do Livre tenta passar.

Aplausos do CH.

Risos do Deputado do L Rui Tavares.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Os Srs. Deputados farão o favor de fazer chegar à Mesa aquilo que

entendam — de um lado e do outro — que deva ser distribuído. E a Mesa assim fará, porque não tem outra

obrigação que não essa.

A Sr.ª Rita Matias (CH): — Se não há nada para distribuir!

O Sr. Rui Tavares (L): — Ainda bem! Ainda bem!

O Sr. Pedro dos Santos Frazão (CH): — Ó Rui, hoje não estás bem, não!

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Muito obrigada, Srs. Deputados. Vamos continuar e, não havendo

mais inscrições, para encerrar o debate tem a palavra o Sr. Deputado José Soeiro, do Grupo Parlamentar do

Bloco de Esquerda. Faça favor, Sr. Deputado.

Continuação dos protestos do CH e dos contraprotestos do L.

Podemos, por favor, criar condições para ouvir o Sr. Deputado José Soeiro, que vai encerrar o debate?

O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Há uma norma injusta na lei das

pensões que impede a atualização das pensões no ano seguinte a terem sido atribuídas.

A Sr.ª Carla Barros (PSD): — Era o PS que estava no Governo!

O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Pelo que ouvimos aqui, essa norma injusta vai deixar de estar na lei, o

que é uma vitória para os pensionistas. E nós saudamos essa vitória e saudamos, também, o facto de o

agendamento do Bloco de Esquerda ter provocado a iniciativa do Governo e também de outros partidos. Ainda

bem que assim aconteceu.

Há ainda uma questão por resolver, porque nem todos os projetos e as propostas são iguais. Nós propomos

que se corrija essa injustiça para o futuro, mas também que se corrija essa injustiça, nomeadamente…

O Sr. Fabian Figueiredo (BE): — Muito bem!

O Sr. José Moura Soeiro (BE): — … para os pensionistas que ficaram prejudicados em 2022, em 2023 e

em 2024. E, sobre isso, não sei se estamos todos de acordo, porque vários partidos não definiram a sua posição

sobre essa matéria e nós não sabemos o que é que diz o diploma do Governo.

O Sr. Deputado Pedro Roque disse que a sua fonte é o site da Presidência da República. O site da

Presidência da República não fala de como é que entra em vigor.

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O Sr. Fabian Figueiredo (BE): — Claro!

O Sr. José Moura Soeiro (BE): — O Sr. Deputado disse: há uma lei que o Governo fez, um decreto-lei, que

entra em vigor no dia 1 de novembro. Onde é que está essa informação? Eu estou há uma semana a contactar

o Governo, por via do nosso gabinete, a pedir ao Governo que nos faculte informação. Ainda hoje pedimos ao

Governo: façam-nos chegar, queremos saber o que é que está... Não nos fizeram chegar.

Mas o Sr. Deputado tem informações que não estão no site da Presidência da República, e gostava de saber,

Sr. Deputado se, porventura, o Governo também vai corrigir retroativamente a injustiça ou não. Era importante

saber. Era importante saber.

Sobre as outras injustiças que existem no sistema de pensões: com certeza esta alteração não resolve todas

as injustiças, porque as pensões baixas são pensões baixas por haver baixos salários, por haver carreiras

contributivas degradadas, pelos cortes nas pensões antecipadas que ainda permanecem em muitas pensões e,

tudo isso, são matérias sobre as quais nós também intervimos, mas que não eram a matéria deste agendamento.

Aplausos do BE.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Encerramos este debate e passamos ao quarto ponto da ordem de

trabalhos, que consiste na discussão dos Projetos de Resolução n.os 294/XVI/1.ª (PS) — Recomenda ao

Governo medidas de reforço no âmbito da ação social escolar no ensino superior e 152/XVI/1.ª (PS) —

Recomenda ao Governo a abertura de concursos para a contratação de doutorados para posições permanentes

da Carreira de Investigação Científica nos Laboratórios de Estado, em conjunto com os Projetos de Lei

n.os 311/XVI/1.ª (PCP) — Medidas de apoio aos estudantes no ensino superior no âmbito da Ação Social Escolar

e 317/XVI/1.ª (L) — Determina o dever de as instituições de ensino superior disponibilizarem serviços de saúde

mental aos estudantes e com os Projetos de Resolução n.os 342/XVI/1.ª (PAN) — Recomenda ao Governo a

aprovação de medidas de combate ao abandono do Ensino Superior, 343/XVI/1.ª (PAN) — Recomenda ao

Governo que elabore um estudo nacional sobre os custos de aquisição de material académico no Ensino

Superior e que crie um suplemento que suporte estes custos, 345/XVI/1.ª (PAN) — Pela disponibilização de

fundos públicos para ação social indireta a todas as instituições de ensino superior públicas sob a forma de

fundações públicas com regime de direito privado, 365/XVI/1.ª (PCP) — Integração dos trabalhadores dos

Laboratórios do Estado na carreira de investigação científica, 367/XVI/1.ª (CDS-PP) — Recomenda ao Governo

que estenda as medidas de Ação Social Escolar aos alunos carenciados que frequentam o Ensino Particular e

Cooperativo, 371/XVI/1.ª (L) — Recomenda a equidade salarial entre investigadores dos Laboratórios do Estado,

da FCT e a criação de um Fundo Estratégico para a Ciência e Tecnologia, 375/XVI/1.ª (BE) — Recomenda ao

Governo que proceda à abertura de concursos para contratação para posições permanentes da carreira de

investigação nos laboratórios do Estado e 376/XVI/1.ª (BE) — Promover o acesso ao ensino superior e reforçar

a ação social escolar.

Para apresentar os seus projetos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Isabel Ferreira, do Grupo Parlamentar do

PS. Faça favor, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Isabel Ferreira (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Existem 88 técnicos superiores

doutorados em seis laboratórios do Estado, integrados na carreira geral de técnico superior, que exercem

funções inerentes à carreira de investigação científica sem que estejam integrados na mesma e sem que, para

tal, aufiram remuneração em consonância com as funções desempenhadas, ao que se alia a falta de perspetivas

de progressão na carreira, e a sua avaliação é feita de acordo com os critérios da referida carreira.

Eles não foram abrangidos pelo PREVPAP (Programa de Regularização Extraordinária dos Vínculos

Precários na Administração Pública) porque este incluiu apenas os doutorados que se encontravam em situação

de precariedade laboral, mas, ao contrário dos investigadores, dos técnicos superiores doutorados que

continuam a exercer funções de investigação a tempo integral, não têm qualquer perspetiva de progressão na

referida carreira.

Por isso, é essencial proporcionar o acesso destes trabalhadores à carreira de investigação científica,

garantindo avaliações, progressões e remunerações adequadas.

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Assim, recomendamos ao Governo que abra concursos para a contratação de doutorados para posições

permanentes na carreira de investigação nos laboratórios do Estado, de modo a permitir a integração dos

técnicos superiores doutorados que exercem funções de investigação científica.

O Sr. Ministro da Educação, Ciência e Inovação acompanha a atividade de investigação realizada dos

laboratórios do Estado e, por isso, deve atuar como dinamizador destes concursos junto dos ministros que

superintendam ou tutelem cada um destes laboratórios. É absolutamente prioritário resolver esta injustiça que

se criou com a contratação de investigadores para as mesmas funções.

Aplausos do PS.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — A Sr.ª Deputada tem um pedido de esclarecimento da Sr.ª Deputada

Ana Gabriela Cabilhas, do PSD, a quem dou a palavra.

A Sr.ª Ana Gabriela Cabilhas (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, oito anos não foram

suficientes para a atualização do Estatuto da Carreira de Investigação Científica, nem para encontrarem

respostas para os técnicos superiores doutorados que exercem funções de investigação nos laboratórios do

Estado.

Sr.ª Deputada, precisavam de mais tempo? Não conheciam os problemas antes? Ou vão dizer-nos que os

problemas surgiram há seis meses? É que agora não falta criatividade nem soluções.

Protestos da Deputada do PS Marina Gonçalves.

Portanto, aquilo que nós conseguimos perceber das iniciativas que são apresentadas é que o Partido

Socialista é mais rápido a apresentar soluções quando está na oposição do que quando estava no Governo.

Mas, para o PSD, as preocupações dos técnicos superiores doutorados não são de agora. Já em 2012,

mesmo condicionados pela troica, iniciou-se um caminho para a valorização destes profissionais e, depois de a

troica ter ido embora, os senhores nada fizeram.

Protestos do PS.

No Orçamento do Estado para 2024, o PSD acompanhou propostas para resolver estes problemas, que

foram rejeitadas pela maioria socialista. Mas, ao contrário do PS, nós não mudamos de opinião quando estamos

no Governo ou quando estamos na oposição.

Vozes doPSD: — Muito bem!

A Sr.ª Ana Gabriela Cabilhas (PSD): — Por isso, 12 anos depois, uma vez mais, será o Governo da AD a

encontrar uma solução para integrar estes doutorados na carreira de investigação. É este o compromisso deste

Governo.

E em seis meses foi possível fazer mais. Foi possível apresentar um novo estatuto da carreira de investigação

científica, que é bem diferente daquele que foi deixado na gaveta pelo PS. E isso foi feito em diálogo, ouvindo

todos.

Protestos do PS.

Nós bem sabemos que agora, no PS, têm todos de falar a uma só voz, mas nós ouvimos todos, ouvimos as

diferentes perspetivas, as várias partes, para depois obtermos as melhores soluções.

Assim, o que queremos saber é se o Partido Socialista estará do lado deste Governo, do lado das soluções,

ou se continuará do lado dos problemas.

Aplausos do PSD.

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A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Isabel Ferreira.

A Sr.ª Isabel Ferreira (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada, é absolutamente inacreditável que venha com

esse argumento preguiçoso de quem nada mais tem para dizer a não ser que nós nada fizemos durante os oito

anos.

Aplausos do PS.

Protestos do PSD.

Quer ouvir o que é que nós estivemos a fazer?

Vozes doPSD: — Zero!

A Sr.ª Isabel Ferreira (PS): — Pois bem, estivemos a criar a carreira de investigação científica, porque, se

não tivéssemos criado esta carreira, este problema não tinha surgido, e estivemos a tratar do emprego científico,

todos os programas na modalidade individual e institucional, como sabe.

Portanto, nós queremos é a sua solidariedade para resolver este problema.

Aplausos do PS.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Para apresentar as suas iniciativas, tem a palavra a Sr.ª Deputada

Paula Santos, do PCP.

A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O PCP traz também duas iniciativas

a este debate. Aliás, tivemos a oportunidade, a propósito do problema que subsiste com cerca de uma centena

de técnicos superiores doutorados que desempenham funções de investigação nos laboratórios do Estado, de

fazer uma audição a estes técnicos superiores na respetiva Comissão e, de facto, é um problema que exige

respostas, porque, evidentemente, estando a desempenhar funções de investigador científico é nessa carreira

que devem ser integrados.

Por isso, propomos que se proceda à abertura de procedimentos concursais necessários para acesso à

carreira de investigação científica dos trabalhadores dos laboratórios do Estado, cuja integração no âmbito do

PREVPAP não ocorreu em carreira ou categoria correspondente às funções efetivamente desempenhadas, e

que se proceda à consolidação na carreira de investigação científica dos trabalhadores dos laboratórios do

Estado que se encontrem em mobilidade intercarreira, desde que cumpridos os requisitos para o efeito.

Creio que o debate que já se iniciou relativamente a esta matéria mostra várias coisas, nomeadamente que

o Partido Socialista, que tinha todas as condições para resolver este problema, não o resolveu. Este é um facto.

Mas o PSD, que agora está no Governo, o que vai fazer? Ainda agora a Sr.ª Deputada disse que o PSD não

tem duas caras e que aquilo que assumiram é aquilo que vão fazer. Então, nestes seis meses, o que é que já

fizeram para resolver este problema? É que não encontramos nenhuma resposta. Ouvimos, de facto, um

conjunto de palavras, mas respostas concretas para resolver o problema destes investigadores é que não vimos.

Sr.ª Presidente, apresentamos também um projeto de resolução que se prende com medidas de apoio aos

estudantes do ensino superior no âmbito da ação social escolar. E gostaríamos de falar sobre aquilo que nós

propomos e que trazemos a este debate, porque bem sabemos que, dadas as dificuldades económicas, aliás,

dado até o agravamento das condições económicas de muitas e muitas famílias do nosso País, isso condiciona

em muito o acesso dos estudantes ao ensino superior, sendo que muitos alunos, inclusivamente, não têm

condições de poder continuar a frequentar os seus cursos e acabam por abandonar o ensino superior.

Assim, aquilo que propomos é numa linha de intervenção do reforço da ação social escolar, nomeadamente:

a reposição do conceito de agregado familiar, de modo que não se excluam estudantes dos apoios sociais, ou

a que se obrigue a devolução de valores já recebidos a título da bolsa de estudo, pelo facto de viverem com

familiares, como avós ou tios; o alargamento do rendimento per capita do agregado familiar para efeitos de apoio

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garantido, por forma a que mais estudantes possam ser abrangidos pelos apoios da ação social escolar; e a

garantia de apoio à deslocação a todos os estudantes deslocados.

Há, de facto, muitas questões que exigem resolução no que diz respeito à garantia do acesso e sucesso

escolar relativamente ao ensino superior.

Consideramos que, desde logo, deve ser assegurada a gratuitidade em todos os níveis de ensino, incluindo

nos mais elevados níveis de ensino.

Sabemos que é necessário ir mais longe e, por isso, trazemos aqui uma proposta concreta que, sendo

aprovada, permite já dar um passo significativo para garantir que os estudantes do ensino superior tenham as

condições que são necessárias para poder continuar a frequentar o seu curso e mais estudantes possam,

inclusivamente, tomar essa opção e candidatarem-se ao ensino superior.

Aplausos do PCP.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Filipa Pinto, do

Livre, para apresentar as suas iniciativas. Dispõe de 4 minutos.

A Sr.ª Filipa Pinto (L): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Concidadãos nas galerias: O Livre traz

duas iniciativas a este debate, e hoje falamos do futuro que queremos para o nosso País. A investigação e o

ensino superior são essenciais para o desenvolvimento da sociedade que queremos e nunca é demais investir

no futuro do País. A formação superior é mais do que um desígnio constitucional, é um dever que não devemos

escamotear.

No entender do Livre, todas as pessoas têm o direito a seguir a formação que entenderem e a capacidade

de concretizar os seus objetivos de vida.

Sr.as e Srs. Deputados, não podemos ficar indiferentes aos mais recentes e preocupantes dados sobre a

saúde mental dos estudantes no ensino superior.

Um estudo coordenado pela Universidade de Évora concluiu que quase 23 % dos estudantes inquiridos em

seis universidades portuguesas foram diagnosticados com uma doença mental.

Este problema não se resolve com o «cheque-psicólogo», discriminatório e que deixa quem mais necessita

fora desse apoio. Não é só o Livre quem o diz, são mesmo os psicólogos que consideram que os critérios de

exclusão, que incluem comportamentos aditivos e de ação suicida ou perturbação psicótica, entre outros, vão

deixar muitos estudantes de fora.

A saúde mental deve ser privilegiada em todas as dimensões da nossa vida. Quando tudo é rápido, quando

não temos tempo para mais nada, quando tudo nos empurra para a atomização ou para a produtividade

constante, alguém tem de primar pelo dever essencial de garantir que todas e todos os estudantes do ensino

superior têm acesso a cuidados de saúde mental. Estes cuidados devem ser prestados pelas próprias

instituições do ensino superior, sem exceções atrás de exceções.

Se com o ensino superior falamos do futuro do nosso País, também o fazemos quando falamos da ciência

que produzimos hoje. O sistema científico precisa de pessoas motivadas a contribuírem para a liderança do País

inovador que todos queremos. Contudo, a rede científica nacional tem permanecido esquecida pelas políticas

públicas e mantido os seus trabalhadores precários.

É importante garantir que o nosso sistema científico tem recursos humanos estáveis e remunerados de forma

justa e é preciso garantir também que os laboratórios do Estado têm todas as condições para trabalhar. É

extremamente injusto que nestes laboratórios os técnicos superiores doutorados cumpram funções da carreira

de investigação científica, enquanto investigadores auxiliares ou principais, e a sua avaliação seja realizada de

acordo com os critérios da carreira associada, mas que não estejam no mesmo regime remuneratório.

O mesmo acontece na FCT (Fundação para a Ciência e a Tecnologia), onde se verificam, dentro da mesma

instituição, dois grupos de doutorados, com as mesmas funções, mas com vencimentos diferentes.

O Livre tudo fará para garantir justiça a toda a gente que contribui para o presente e o futuro do nosso País

e para que tenham todas as condições para o seu trabalho.

Por isso, propomos que o Governo garanta a abertura, com urgência, de concursos especiais para a

contratação de técnicos superiores doutorados e que garanta a equidade salarial entre investigadores.

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Aplausos do L.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Para apresentar as suas iniciativas, dou a palavra à Sr.ª Deputada

Inês de Sousa Real, do PAN.

A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Estudar em Portugal custa, em

média, cerca de 900 € por mês, um valor que é insuportável, como bem sabemos, para muitas famílias.

Este não é um debate novo aqui no Parlamento e, tendo em conta que ano após ano continuamos a ter a

mesma problemática, tendo em conta que sabemos que muitos dos jovens se veem privados de concretizar o

seu percurso académico e tirar o curso superior que há muito sonhavam — aliás, temos estudos das próprias

associações que nos dizem que a incidência de desistências é, de facto, preocupante —, tendo em conta que

sabemos que a razão pela qual os estudantes desistem de prosseguir com os seus estudos tem, muitas vezes,

a ver com a falta de capacidade económica para continuarem com os mesmos, e tendo em conta o carácter

inesperado destas despesas para as famílias cujos jovens pretendem ingressar no ensino académico,

entendemos que estas despesas têm de ter, por parte da Assembleia da República, respostas que permitam

garantir que nenhuma pessoa deixe de estudar por não ter capacidade financeira para tal.

É por isso mesmo que o PAN defende um conjunto de medidas que passa, desde logo, pela descida do valor

das propinas nas licenciaturas, a disponibilização de mais soluções de alojamento para os estudantes e também

o fim da cobrança das taxas e emolumentos no ensino superior.

No âmbito da ação social, propomos que haja a garantia de que existem refeições de qualidade e que são

acessíveis no ensino superior, razão pela qual é urgente congelarmos o valor da refeição social e objetivar a

sua redução.

Além disso, queremos também garantir a contratação de psicólogos e nutricionistas para estas instituições,

para que todos os alunos possam ver garantido o seu direito ao acompanhamento necessário durante a

concretização do seu curso.

É também fundamental, em nosso entender, que o Estado comparticipe a compra de materiais obrigatórios

para a conclusão de um ciclo de estudos, algo reivindicado pelas associações académicas de estudantes, para

que nenhum estudante deixe de realizar os projetos que lhe são requeridos simplesmente porque não tem

dinheiro para o fazer e porque o seu ponto de partida do ponto de vista social não é igual ao colega do lado.

Por fim, instamos o Governo a garantir a disponibilização de fundos para a ação social indireta no ensino

superior, porque continua a haver estudantes, nomeadamente no ISCTE (Instituto Universitário de Lisboa), que

continuam a pagar uma fortuna para consultas de apoio psicológico e onde o preço da refeição social não está

garantido.

Esperamos que estas propostas possam descer à especialidade e que possamos cumprir um daqueles que

é o desiderato da nossa Constituição, o acesso ao ensino superior.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Para apresentar a iniciativa do CDS-PP, tem a palavra o Sr. Deputado

João Pinho de Almeida, que dispõe de 4 minutos.

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A iniciativa do CDS é

exatamente sobre ação social escolar. E, quando se fala de ação social escolar, presume-se que se fala de um

sistema público para apoiar os alunos carenciados. Só que não! Este sistema público para apoiar alunos

carenciados apoia só alguns, porque o verdadeiro critério não é a carência dos alunos, é o estabelecimento de

ensino onde os mesmos estudam. Ou seja, um aluno com a mesma carência social, se estudar no ensino

público, tem ação social escolar, se estudar numa instituição com contrato de associação, tem ação social

escolar, no entanto, se estudar no ensino particular e cooperativo, tem exatamente as mesmas carências, mas

tem zero de ação social escolar.

Ou seja, estamos perante mais um caso em que a política pública, em vez de privilegiar a necessidade dos

cidadãos, privilegia a natureza dos estabelecimentos, e isso não faz qualquer sentido. Não existe só Estado.

Nos estabelecimentos de ensino particular e cooperativo há muitos alunos carenciados que beneficiam de

bolsas, atribuídas pelas próprias instituições ou por terceiros. Muitas vezes, são bolsas de mérito,

Srs. Deputados, de mérito — de facto, existe sociedade para além do Estado, embora o Estado se esforce para

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acabar com ela —, mas pouco permitem que estas pessoas, apesar de terem carências sociais, consigam ter

acesso a instituições que os seus pais não podiam escolher, não fosse essa capacidade que os filhos têm.

Assim, o nosso projeto é muito simples, é cristalino. A ação social escolar tem de ser atribuída em função da

carência. Se há alguém que tem uma bolsa para poder frequentar um estabelecimento de ensino particular e

cooperativo, mas continua a ter dificuldades económicas para a alimentação, para o acesso aos materiais, tem

de ser apoiada pelo Estado. Enquanto não acabarmos com esta discriminação, não só estamos a manter a

carência daqueles que merecem ser apoiados, como, muitas vezes, estamos a esmagar o mérito que lhes

permitiu ter acesso a estas instituições.

É por isso que deveremos privilegiar a capacidade dos pais de escolherem a oportunidade de os filhos

frequentarem estas instituições e a função essencial do Estado é apoiar aqueles que precisam.

Aplausos do PSD e da IL.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Para apresentar o projeto do Bloco de Esquerda, tem a palavra a

Sr.ª Deputada Joana Mortágua. Tem 4 minutos, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Sr.ª Presidente: O acesso ao ensino superior continua a reproduzir as

desigualdades sociais que existem na sociedade. Os preços dos quartos, a propina, o custo das deslocações,

tudo isto são despesas impossíveis para muitas famílias e estudantes.

Não é por acaso que, no ano letivo de 2024-2025, ingressaram no ensino superior apenas 1655 alunas e

alunos com o escalão A de ação social escolar, o que significa uma quebra de 41 % em relação ao ano anterior.

Menciono este número pelo seguinte: hoje, soubemos que a pobreza em Portugal não diminuiu, o risco de

pobreza em Portugal aumentou.

O Sr. Pedro Pinto (CH): — É a esquerda!

A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Se os alunos com ação social escolar de escalão A diminuem, isto significa

não que a pobreza está a diminuir, mas que estes alunos estão a sair, a desistir do ensino superior.

Esta quebra reflete os efeitos do aumento de custo de vida prolongados no tempo, mas significa também

que, para contrariar a reprodução das desigualdades sociais, é necessário ir além da abertura de vagas e dos

apoios sociais depois de ingressar no ensino superior. É preciso agir no ensino básico e secundário para dar as

melhores condições a todas as crianças e a todos os jovens para atingirem o seu melhor potencial e não

encontrarem as portas fechadas pela sua origem social.

É preciso garantir que estes estudantes se candidatam ao ensino superior, é preciso garantir que estes

estudantes ingressam no ensino superior e depois é preciso garantir que estes estudantes permanecem no

ensino superior.

As propostas que trazemos aqui relacionam-se com todas estas dimensões: um programa de promoção de

acesso ao ensino superior para os estudantes com famílias com menos recursos financeiros que vá desde o

básico até ao secundário; a prossecução do caminho rumo à eliminação de propinas; a criação de um programa

de emergência para o alojamento estudantil; e o reforço da ação social escolar com, na proposta do Bloco, uma

facilitação do acesso ao apoio a estudantes deslocados.

Mas também de investigação científica se faz investimento na ciência em Portugal. E há uma questão que

nós já trazemos há alguns anos e que, apenas por vontade das maiorias neste Parlamento, nunca foi cumprida

e que esperamos que agora o possa ser. Tem a ver com os investigadores dos laboratórios do Estado.

O facto de não haver vagas para a carreira de investigador cria uma enorme desigualdade, porque há

trabalhadores exatamente com a mesma formação académica, doutorados, a trabalhar nos laboratórios do

Estado na carreira de técnico superior quando, na verdade, deviam estar na carreira de investigação científica.

Estão colocados na carreira errada, é uma mera injustiça, profunda, que cria enormes desigualdades e que

já poderia ter sido resolvida com um projeto cirúrgico que, infelizmente, as maiorias neste Parlamento sempre

obstaculizaram, criando dificuldades, naturalmente, na remuneração e na progressão da carreira destes

trabalhadores.

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No âmbito da criação do novo estatuto da carreira de investigação científica, o Governo decidiu não resolver

o problema destes doutorados, destes investigadores. Aquilo que propomos aqui é um projeto apenas e

simplesmente para abrir as vagas necessárias para os investigadores dos laboratórios de Estado integrarem a

carreira de investigação científica e saírem da carreira de técnicos superiores, onde não deviam estar, porque

não é lá que pertencem pelas suas habilitações académicas.

Aplausos do BE.

Entretanto, reassumiu a presidência o Vice-Presidente Marcos Perestrello.

O Sr. Presidente: — Muito obrigado, Sr.ª Deputada. Esta guilhotina horária é terrível, não falha.

O Sr. Fabian Figueiredo (BE): — Ainda tinha 30 segundos!

O Sr. Presidente (Marcos Perestrello): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Patrícia

Gilvaz, da Iniciativa Liberal.

A Sr.ª Patrícia Gilvaz (IL): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Onde andou o Partido Socialista nos

últimos oito anos? Esta é a pergunta que tem de orientar este debate.

Nenhum jovem deve ficar impedido de seguir os seus sonhos, os seus objetivos de vida e de subir no elevador

social por motivos financeiros.

Protestos dos Deputados do PS Marina Gonçalves e Miguel Matos.

Apesar de o número de estudantes do ensino superior aumentar todos os anos, a verdade é que a linha é

ascendente relativamente ao número de desistências do ensino superior.

A ação social cumpre, por isso, um papel que é fundamental, necessário, importante, no apoio a estes

estudantes, mediante a atribuição de apoios sociais, que é o que nós chamamos de ação social direta, mas

também para prestar serviços essenciais, como alojamento, alimentação, saúde, que é o que nós chamamos

de ação social indireta.

Mas estas preocupações não são de hoje. No que se refere ao alojamento estudantil, que, desde logo, é um

dos principais fatores que leva alunos a desistirem do ensino superior ou a nem sequer se inscreverem, já em

2017 o movimento estudantil reivindicava soluções e manifestava-se contra os Governos do Partido Socialista.

Entretanto, passaram-se sete anos.

No plano de alojamento estudantil de 2018, António Costa prometeu criar 12 000 camas entre 2019 e 2022.

Não conseguiu cumprir essa promessa, voltou a dizer que iria cumpri-la até 2026. Terminou a sua governação

em 2024 com apenas umas centenas de camas criadas.

O Sr. Pedro Pinto (CH): — Ora bem!

A Sr.ª Patrícia Gilvaz (IL): — Mais, 35 % dos alunos do ensino superior são deslocados e hoje temos cerca

de 100 000 alunos sem vaga em residências ou alojamentos protocolados, apesar das promessas que ficaram

por cumprir. Curiosamente, é o mesmo número para o qual o projeto de resolução do Partido Socialista remete

no sentido do reforço do número de bolsas de estudo. Onde é que andou o Partido Socialista nos últimos oito

anos, Sr.as e Srs. Deputados?

A esquerda acha que este problema se vai resolver apenas com mais oferta pública, mas os estudantes do

ensino superior precisam de mais oferta, seja ela pública, seja ela privada.

Aposte-se, por exemplo, na construção de residências universitárias recorrendo a parcerias público-privadas

e numa gestão mais eficiente de todos os recursos, garantindo que edifícios públicos desocupados são

adaptados para alojamento universitário.

Protestos das Deputadas do PS Marina Gonçalves e Rosário Gambôa.

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Sr.as e Srs. Deputados, nós não sabemos onde é que andou o Partido Socialista nos últimos oito anos, mas

sabemos que não foi a resolver o problema dos estudantes do ensino superior.

Aplausos da IL.

O Sr. Presidente (Marcos Perestrello): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Maria José

Aguiar, do Chega.

A Sr.ª Maria José Aguiar (CH): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Os sistemas de ação social escolar

asseguram um importante papel na garantia da igualdade de oportunidades entre jovens e na alavancagem

social daqueles que se encontram em situações mais desfavorecidas.

Estamos todos de acordo quanto à importância do alargamento destes apoios para assegurar o direito ao

ensino, à formação e à qualificação das centenas de milhares de jovens que frequentam o ensino superior

português, público e privado.

De facto, o agravamento dos custos de vida, potenciado pelo aumento da inflação e impostos asfixiantes,

tem vindo a sobrecarregar as famílias com onerosas despesas que se lhes afiguram penosas de suportar. Estas

barreiras económicas que subsistem são um entrave para muitos jovens que têm o desejo e a ambição de

estudar, conseguir aceder e frequentar uma universidade.

A escola e as faculdades deviam ser os elevadores sociais de excelência, potenciando oportunidades e

qualificações para se subir na vida e construir um futuro melhor.

Aplausos do CH.

E digo «deviam» porque não são, deixaram de o ser, após anos e anos de governação socialista. Aliás, não

posso deixar de assinalar a tremenda hipocrisia do PS em trazer à discussão um projeto de resolução no qual

se gabam dos feitos nos últimos anos ao assegurar, supostamente, mais oportunidades e apoios.

Mas, para lá da propaganda, vamos aos factos.

O Sr. Miguel Matos (PS): — Todos os anos houve aumentos! Factos!

A Sr.ª Maria José Aguiar (CH): — «Há pelo menos oito anos que não havia tantas desistências após o

primeiro ano de licenciatura.»

A oradora exibiu uma notícia de jornal.

O Sr. Pedro Pinto (CH): — Muito bem!

A Sr.ª Maria José Aguiar (CH): — «Abandono aumenta no ensino superior e chega aos 26,9 %.»

A oradora exibiu uma notícia de jornal.

«Faltam 75 000 camas para estudantes.»

A oradora exibiu uma notícia de jornal.

A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — E nos últimos cinco anos?

A Sr.ª Maria José Aguiar (CH): — «“Preços exorbitantes”: há alunos a abandonar o ensino superior por falta

de alojamento estudantil.»

A oradora exibiu uma notícia de jornal.

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Este é o legado do Partido socialista: pobreza, falta de oportunidades, incumprimento de metas e de

promessas,…

Aplausos do CH.

… resultando num flagrante abandono escolar, numa crise de saúde mental sem precedentes, também ela

causada pela falta de apoios ou por apoios que tardam em chegar, isso se chegarem.

São precisas mais camas, mais alojamento, é preciso um reforço da ação social escolar, garantindo a

igualdade de oportunidades e o elevador social ascendente a todos os jovens carenciados, quer estudem no

setor público, privado ou cooperativo.

Todos os alunos que necessitem devem ter direito aos apoios sociais previstos na lei e não podemos permitir

que a discriminação vigente, fundada estritamente em preconceitos ideológicos…

A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Não há um equalizador? Uma coisa que baixe o som?

A Sr.ª Maria José Aguiar (CH): — … continue a lesar o superior interesse dos jovens.

Da nossa parte, como sempre, estaremos ao lado de todas as propostas que forem benéficas para os jovens

e as suas famílias, mas nunca, nunca deixaremos de apontar a tremenda incoerência das esquerdas

representadas neste Hemiciclo, que agora se lembraram dos jovens, mas que, quando estiveram no poder, nada

de real fizeram para os ajudar.

Aplausos do CH.

O Sr. Fabian Figueiredo (BE): — Que alívio!

O Sr. Presidente (Marcos Perestrello): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Miguel Matos,

do Partido Socialista.

A Sr.ª RitaMatias (CH): — Não há jovens na bancada do PS? É que este já nasceu velho!

O Sr. Miguel Matos (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O sonho é viver melhor que os nossos

pais. Aliado ao conhecimento e à cultura, a afirmação profissional e a mobilidade social motivam, todos os anos,

centenas de milhares de jovens a estudar para entrar e, depois, concluir o ensino superior. E é a forma como

cada um pode fazer valer o seu mérito — essa palavra de que a direita gosta tanto. Sim, o seu mérito! Mesmo

que, tantas vezes, a nossa geração tenha dificuldades em encontrar emprego à altura do seu talento e casa ao

alcance do seu rendimento.

Mas, para muitos, essa não chega sequer a ser uma hipótese. Porque a educação não é apenas uma

demolidora de desigualdades, ela também reflete e reproduz as desigualdades que já existem na nossa

sociedade.

E, depois de nove anos em que o Partido Socialista governou — já agora, sempre a aumentar —, este ano,

houve uma redução do número de alunos inscritos pela primeira vez no primeiro ano no ensino superior. Mais,

na primeira fase do concurso nacional de acesso, houve uma quebra de 40 % no número de alunos carenciados

a entrar no ensino superior.

A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Porque será?!

O Sr. Miguel Matos (PS): — Isto aconteceu apesar da manutenção do contingente especial de acesso,

criado pelo Partido Socialista no ano passado.

Temos de dizer as coisas como elas são. A realidade está a ser mais rápida do que as políticas públicas, e

é necessário darmos um salto em frente.

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Protestos da Deputada do CH Maria José Aguiar.

Em oito anos, nós trabalhámos, sim. Passámos de 64 000 para 82 000 bolsas, que passaram, em larga

medida, a ser atribuídas automaticamente.

Aplausos do PS.

O valor das propinas baixou e o valor das bolsas subiu, reforçaram-se as verbas da ação social e criou-se o

complemento de deslocação. Estão em curso — sim, em curso — obras para duplicar o número de residências.

Já são milhares as que foram inauguradas e, ao longo deste próximo ano, vão ser muitas mais, porque as obras

foram lançadas,…

Protestos do PSD e da IL.

… e foram lançadas por nós, pelo Partido Socialista no Governo.

Aplausos do PS.

E porque os estudantes não podem esperar, o complemento de alojamento subiu de 125 € por mês para

entre 260 € e 500 €.

Apesar de o Governo e Belém, sim, se terem juntado para o travar, o PS e o conjunto da oposição nesta

Câmara aprovaram uma vez, e seguramente aprovarão de novo, o alargamento deste apoio por inteiro — não

por metade, como o Governo queria — para os estudantes deslocados da classe média.

Orgulho-me muito das conquistas da Juventude Socialista e do Partido Socialista no Governo.

Aplausos do PS.

Protestos da Deputada do CH Maria José Aguiar.

Sr. Presidente, precisamos de ir ainda mais longe. Ouvido o movimento associativo estudantil, o PS

questionou o Governo diversas vezes e preparou este projeto. Já o PSD, a Iniciativa Liberal e o Chega vêm para

cá com lágrimas de crocodilo, mas, de facto, não apresentam propostas neste debate.

Protestos do CH.

Precisamos de chegar aos 100 000 bolseiros; precisamos de reforçar o financiamento da ação social;

precisamos de alargar o complemento de deslocação a todos os estudantes deslocados, como propusemos no

complemento de alojamento; precisamos de apoiar mais quem vem de mais longe e de apoiar mais quem estuda

no interior, nomeadamente através do reforço do +Superior;…

A Sr.ª Rita Matias (CH): — Como se não tivessem necessidade de serem bolseiros!

O Sr. Miguel Matos (PS): — … precisamos de simplificar e apoiar os serviços de ação social,

nomeadamente, acabando com os diferentes critérios na reposição das bolsas de excesso; e precisamos de

uma segunda geração do plano nacional para o alojamento estudantil que levante, de novo, a ambição e nos dê

30 000 camas até ao final da Legislatura.

Em boa hora, houve outros partidos, não da direita, mas outros partidos, que juntaram as suas iniciativas à

nossa:…

O Sr. Pedro Pinto (CH): — O CDS-PP, por exemplo!

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O Sr. Miguel Matos (PS): — … para congelar o valor da refeição social; para adicionar um complemento que

faça face aos custos de aquisição de materiais, especialmente onerosos em certos cursos; e para contratar

psicólogos e nutricionistas diretamente nas instituições de ensino superior.

Estas são iniciativas justas, e elas merecerão o apoio do Partido Socialista. São iniciativas em sentido

completamente oposto às deste Governo,…

Protestos de Deputados do PSD.

… que ameaçou o aumento das propinas quando os estudantes ponderavam o ingresso no ensino superior,

desdizendo o que tinham dito uns meses antes, e agora recuaram.

Aplausos do PS.

São iniciativas em sentido oposto às deste Governo, que deixou o programa Cuida-te atrasar — neste

momento, o IPDJ (Instituto Português do Desporto e Juventude) não tem psicólogos —, que criou um cheque-

psicólogo que conta tostões e que limita consultas.

Por isso, Sr. Presidente, o reforço da ação social não devia ser assunto de controvérsia política, mas, sim,

de obrigação moral. O PS fez isso mesmo, apresentando propostas e agendando este debate. Aprovar e

implementar estas medidas é aquilo que nós devemos a uma geração que quer sonhar com uma vida melhor e

que, para isso, só pede que os deixemos estudar.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente (Marcos Perestrello): — Sr. Deputado, tem dois pedidos de esclarecimento.

Pausa.

Suponho que queira responder em conjunto.

O Sr. Miguel Matos (PS): — Sr. Presidente, um de cada vez,…

O Sr. Presidente (Marcos Perestrello): — Um de cada vez.

O Sr. Miguel Matos (PS): — … mas já não tenho tempo.

O Sr. Presidente (Marcos Perestrello): — Ah, não tem tempo. Penso que, mesmo não tendo tempo, os

Srs. Deputados vão querer manter os seus pedidos de esclarecimento.

O Sr. Pedro Pinto (CH): — O Livre e o Bloco de Esquerda podem dar! Rui, dá o tempo todo.

O Sr. Presidente (Marcos Perestrello): — O Livre cede os seus 40 segundos ao Partido Socialista, portanto,

já tem tempo.

Vozes do CH: — Ah!

O Sr. Pedro Pinto (CH): — Também não têm nada para dizer!

O Sr. Presidente (Marcos Perestrello): — O Chega às vezes dá, mas hoje não, está muito somítico.

O Sr. Rui Tavares (L): — Mas, se o Chega dá…

O Sr. Presidente (Marcos Perestrello): — O Chega hoje está muito somítico, reclamou por 5 segundos.

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Risos.

Então, Sr. Deputado Miguel Costa Matos, tem dois pedidos de esclarecimento, um do Sr. Deputado José

Carvalho, do Chega, e outro da Sr.ª Deputada Patrícia Gilvaz, da Iniciativa Liberal.

Tem a palavra o Sr. Deputado José Carvalho, do Chega, para o pedido de esclarecimento.

O Sr. José Carvalho (CH): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sr. Deputado Miguel Costa Matos, em dias

de verdade e falta de verdade, o Chega apresenta e representa a verdade.

O Sr. Pedro Pinto (CH): — Muito bem!

O Sr. José Carvalho (CH): — Portugal sabe-o, os portugueses reconhecem-no.

Aplausos de Deputados do CH.

Srs. Deputados, falamos hoje de ensino superior e dos apoios aos estudantes, e este é claramente um debate

fulcral para o País, por representar aquilo que os portugueses anseiam e necessitam: esperança e futuro. E a

esperança e o futuro escrevem-se com os jovens e com a palavra «chega».

O Sr. Pedro dos Santos Frazão (CH): — Muito bem!

O Sr. José Carvalho (CH): — Quem acompanha o Plenário, lá em casa, já percebeu que o PS está aqui a

fazer um número com uma encenação muito bonita.

Protestos da Deputada do PS Rosário Gambôa.

O Sr. Pedro Pinto (CH): — Ora bem!

O Sr. José Carvalho (CH): — Afinal, a especialidade socialista é encenar e nada solucionar.

Aplausos do CH.

Uma vez que abordamos o ensino superior, permitam-nos trazer uma novidade: a Faculdade de Direito da

Universidade de Lisboa suspendeu, após pressões públicas de umas minorias, uma pós-graduação sobre

racismo e xenofobia. Repito, uma pós-graduação em racismo e xenofobia.

Protestos do Deputado do PS Pedro Delgado Alves.

Da nossa parte, isto não parece um curso, mas um mero programa de doutrinação e de recurso.

Vozes do CH: — Muito bem!

O Sr. Rui Tavares (L): — Então, mas é a favor do curso ou da suspensão?

O Sr. José Carvalho (CH): — Desta bancada, Srs. Deputados, contem sempre com a denúncia de todos

aqueles que teimam em trocar o conhecimento por mero sectarismo ideológico.

Vozes do CH: — Muito bem!

O Sr. José Carvalho (CH): — A notícia que o País agora precisa de conhecer, Srs. Deputados, é o motivo

da suspensão, e esta foi, imagine-se, por ser ministrada apenas por professores brancos.

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Risos do CH.

O PS, Sr. Deputado, revê-se nesta atitude sectária e prisioneira dos disparates da extrema-esquerda?

Mas há mais! O PS está preocupado — e bem, nós também estamos — com os problemas que afetam os

estudantes, nomeadamente a falta de alojamento. Será que os senhores, quando foram Governo com a

geringonça, tiveram o cuidado de pedir ao Partido Comunista Português que cedesse parte das suas sedes para

alojamento estudantil?

Aplausos do CH.

O Sr. Presidente (Marcos Perestrello): — Para um pedido de esclarecimento, tem a palavra a Sr.ª Deputada

Patrícia Gilvaz, da Iniciativa Liberal.

A Sr.ª Patrícia Gilvaz (IL): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Deputado Miguel Costa Matos,

gostava que esclarecesse a Câmara onde estão os milhares de camas que anunciou lá de cima, da tribuna, que

o Partido Socialista construiu,…

A Sr.ª Marina Gonçalves (PS): — Vá ver o trabalho dos últimos oito anos!

A Sr.ª Patrícia Gilvaz (IL): — … porque os dirigentes associativos e os representantes dos estudantes do

ensino superior dizem-nos exatamente o contrário. Mas também não podemos esperar mais de um

representante que cita O Grande Salto em Frente, de Mao Tsé-Tung, que originou a fome de milhares de

pessoas na China.

Aplausos da IL.

Protestos da Deputada do PS Marina Gonçalves e contraprotestos da IL.

O Sr. Presidente (Marcos Perestrello): — Sr. Deputado Miguel Costa Matos, tem a palavra para prestar

esclarecimentos.

O Sr. Miguel Matos (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, em relação à Sr.ª Deputada Patrícia

Gilvaz, não tem de viajar tão longe como até à República Popular da China, basta conhecer o nosso País.

Portanto, se fizer questão, tenho todo o gosto em acompanhá-la, para podermos conhecer essas residências

que estão a ser construídas e vão ser inauguradas.

Protestos da IL.

Em relação ao Chega e à palavra «chega», que supostamente deposita esperança, de facto, nestes oito

anos, os estudantes puderam ter esperança, porque «chegou» de haver apoios ao alojamento que não

chegavam para pagar a renda, e por isso aumentámos o apoio ao alojamento; «chegou» de os estudantes

deslocados não terem apoio para visitarem os seus pais, e por isso criámos o complemento de deslocação;

«chegou» e chega, também, de tentarem impor aqui no Parlamento a vossa agenda ideológica nos currículos

do ensino superior,…

Protestos do CH.

… porque viva o 25 de Abril e a autonomia do ensino superior.

Aplausos do PS.

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O Sr. Pedro dos Santos Frazão (CH): — São só brancos na vossa bancada!

A Sr.ª Marina Gonçalves (PS): — Não vou dizer alto o que pensei!

O Sr. Presidente (Marcos Perestrello): — Sr. Deputado, está a pedir a palavra?

Pausa.

Sr. Deputado, está a pedir a palavra?

Não? Não está.

Sr.ª Deputada do Partido Social Democrata Sonia Reis, tem a palavra para uma intervenção.

A Sr.ª Sonia dos Reis (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as Deputadas, Srs. Deputados: A discussão em torno da

educação superior e ciência não é uma realidade fechada, e muito encontrou este Governo por fazer, depois de

oito anos de governação socialista e muita letargia, suscitando o contínuo debate, ou não fosse o avultado

conjunto de iniciativas dos diversos grupos parlamentares que hoje são aqui trazidas prova disso.

Desde a primeira hora, o Ministério da Educação, Ciência e Inovação tem sido incansável na deteção de

problemas, mas, acima de tudo, na definição de estratégias e políticas públicas que garantam, por exemplo, que

os problemas do alojamento, da saúde mental e física e da ação social no ensino superior sejam realmente

resolvidos, políticas públicas, essas, que necessitam de um diagnóstico da realidade, uma definição de objetivos

e metodologias, bem como de uma avaliação do impacto com uma consequente ação.

A distribuição dos cheques-psicólogo e cheques-nutricionista permitirá a realização de mais de 100 000 e

50 000 consultas, respetivamente, garantindo aos alunos um acompanhamento atempado por profissionais de

saúde, reforçando o seu bem-estar e a prevenção de patologias do foro da saúde física e mental.

Antes que se levantem as críticas a estas importantes medidas, ou não tivessem mais de 1500 cheques sido

já acionados,…

O Sr. Miguel Matos (PS): — Ainda não podem ser usados! Venderam uma farsa! Tenham vergonha!

A Sr.ª Sonia dos Reis (PSD): — … os critérios estabelecidos para a atribuição dos mesmos foram articulados

com as ordens profissionais dos psicólogos e dos nutricionistas, revelando a seriedade e a vontade do Ministério

da Educação, Ciência e Inovação de, realmente, resolver e fazer o que deve ser feito.

Mas também no alojamento existe vontade de realmente fazer o que deve ser feito. Quem ouve as

reivindicações do Partido Socialista pensará que este Governo herdou uma situação perfeita. Mas não, longe

disso! O Partido Socialista apresentou o maior investimento de sempre em alojamento estudantil, com a meta

de intervencionar mais de 26 000 camas até 2026, número muito aquém do que encontrámos quando o Governo

tomou posse.

Com a reduzida execução de projetos pelo anterior Governo, até junho de 2024, estavam disponíveis apenas

15 939 camas na rede pública de residências de estudantes para alojamento no ensino superior.

Porque ninguém pode ficar para trás e porque, depois do desafio de entrar no ensino superior, é fundamental

dar estabilidade e dignidade aos alunos do ensino superior para que lá se possam manter, o Governo da AD

apresentou um plano de emergência para o alojamento estudantil, um primeiro passo que nos permite olhar

para o futuro com mais otimismo.

Desde logo, contratualizou diretamente o aumento de camas com diversas entidades; aumentou-se o valor

dos complementos de alojamento, tendo sido alargado o universo de estudantes elegíveis, permitindo a

estudantes não-bolseiros deslocados a atribuição de metade do apoio previsto para os estudantes bolseiros.

Foi, ainda, permitido aos estudantes bolseiros trabalhadores a tempo parcial manter o direito à bolsa, desde

que os seus rendimentos não excedam, anualmente, 14 salários mínimos, resolvendo uma situação de injustiça

social que existia.

O objetivo do atual Governo é garantir a equidade, o sucesso e o bem-estar de todos os estudantes. Não

deixar nenhum aluno para trás por falta de condições económicas tem de ser um desiderato acompanhado de

uma discussão transversal, e não de medidas pontuais que acrescentam mais um retalho à atual manta.

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Para tal, o Governo iniciou um processo de avaliação do sistema de ação social, que levará à sua revisão no

ano letivo de 2024-2025. E se for necessário rever medidas e decisões, o Governo fá-lo-á sem preconceitos

nem pruridos, porque o que interessa é resolver os problemas nesta área.

No que concerne à ciência, em 2021, trabalhavam nas instituições do ensino superior cerca de

4000 investigadores, e apenas cerca de 800 eram investigadores de carreira, ou seja, 75 % do total de

investigadores eram precários. A instabilidade do sistema científico e tecnológico afetou, também, as instituições

do ensino superior e centros de investigação.

O atual Governo pretende mudar este quadro de desinvestimento sucessivo, revendo a orgânica da

Fundação para a Ciência e a Tecnologia, tornando-a mais autónoma, e tornando a carreira de investigação

científica mais atrativa e flexível, permitindo-se a mobilidade intercarreiras e, acima de tudo, a excelência de

uma investigação de qualidade. É fundamental a aposta na modernização e no estreito diálogo e parceria com

as instituições do ensino superior.

Em suma, Sr.as e Srs. Deputados: sim, é possível fazer melhor; sim, é possível ter educação de excelência

em Portugal; e, sim, estamos no rumo…

Por ter excedido o tempo de intervenção, o microfone da oradora foi automaticamente desligado.

Aplausos do PSD.

Protestos do Deputado do PS Miguel Matos.

O Sr. Presidente (Marcos Perestrello): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Rui Tavares.

O Sr. Rui Tavares (L): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, muito brevemente, pedi para fazer esta

intervenção — para a qual o Bloco de Esquerda cedeu 15 preciosos segundos —, porque há pouco ouvi um

questionamento sobre práticas sectárias nas universidades, e pensei eu que esse questionamento tivesse a ver

com práticas como, por exemplo, as assumidas pelo Reitor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro,

que assume vigiar os seus docentes. Ou práticas como as que se vai vendo em cada vez mais universidades,

particularmente as fundacionais, em que há assédio moral sobre os docentes, não preocupações com aquilo

que é…

Por ter excedido o tempo de intervenção, o microfone do orador foi automaticamente desligado.

Aplausos do L.

O Sr. Presidente (Marcos Perestrello): — Para o encerramento deste ponto da ordem de trabalhos, tem a

palavra, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada Isabel Ferreira, do Partido Socialista.

A Sr.ª Isabel Ferreira (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O reforço da ação social é a garantia

de que todos os estudantes que assim o desejem possam prosseguir os seus estudos, independentemente das

suas origens socioeconómicas e/ou geográficas. Por isso, agendámos este debate.

Este foi o caminho da governação do Partido Socialista, que tanto fez neste domínio, pelo que recomendamos

a sua continuidade ao Governo atual.

Mas queria utilizar estes últimos instantes para falar de uma recomendação em particular, que é a de apoiar

o transporte semanal pendular dos estudantes do interior, criando condições equiparadas às dos passes sociais

das áreas metropolitanas.

O Sr. Miguel Matos (PS): — Muito bem!

A Sr.ª Isabel Ferreira (PS): — Trata-se de uma questão de justiça social e também de justiça territorial e de

compromisso com uma parte do País que representa 80 % da sua área territorial, mas que enfrenta um enorme

problema demográfico.

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A governação do PS sempre assumiu como prioritária a valorização do interior, ao contrário deste Governo,

que o despreza.

O Sr. Pedro Alves (PSD) — É, é!

A Sr.ª Isabel Ferreira (PS): — Veja-se só, como exemplos, a posição contra a eliminação das portagens, a

interrupção da ligação aérea Bragança – Vila Real – Viseu – Portimão, o esquecimento do Programa de

Revitalização do Parque Natural da Serra da Estrela ou do Porto Seco, na Guarda, só para dar alguns exemplos.

O Sr. Miguel Matos (PS): — Bem lembrado!

A Sr.ª Isabel Ferreira (PS): — Quero lembrar que o PS robusteceu o Programa +Superior, que visa, através

de bolsas de mobilidade, incentivar a frequência do ensino superior em regiões do interior, contribuindo para a

coesão territorial através da fixação de jovens e para a prossecução das metas que Portugal definiu

relativamente à qualificação de jovens.

Assim, é fundamental que as bolsas +Superior sejam reforçadas no sentido de apoiar o transporte para estes

estudantes, criando mecanismos que garantam que as desvantagens económicas e do contexto social não os

penalizam.

Por isso, é muito importante que se disponibilizem aos estudantes do interior condições similares às dos

passes sociais das áreas metropolitanas.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente (Marcos Perestrello): — Passamos, assim, ao ponto 5 da ordem de trabalhos, para a

apreciação dos Projetos de Resolução n.os 57/XVI/1.ª (PAN) — Pela aprovação de um programa de melhoria do

atendimento e acompanhamento das vítimas violência sexual no Serviço Nacional de Saúde e 271/XVI/1.ª (PAN)

— Pela aprovação de medidas de prevenção e combate à violência sexual com base em imagens, juntamente

com, na generalidade, os Projetos de Lei n.os 308/XVI/1.ª (CH) — Altera a lei penal no sentido de atribuir maior

proteção às vítimas de crimes sexuais e prevenir situações de revitimização em contexto judicial e de acesso à

saúde, 318/XVI/1.ª (L) — Cria um plano nacional de promoção da segurança digital e presencial de crianças e

jovens, 319/XVI/1.ª (L) — Introduz o crime de ciberviolência e 321/XVI/1.ª (BE) — Proteção das vítimas de

violência sexual com base em imagens (altera o Código Penal e o Código do Processo Penal) e com o Projeto

de Resolução n.º 362/XVI/1.ª (PCP) — Medidas de prevenção da prática de crimes de disseminação não

consensual de conteúdos íntimos.

Para a apresentação dos seus projetos de resolução, tem a palavra a Sr.ª Deputada Inês Sousa Real, do

PAN.

A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, o debate que o PAN aqui traz

hoje podia resumir-se a duas palavras muito simples: não partilhes! Mas, infelizmente, há quem partilhe.

Por isso mesmo, agendámos este debate para falar da violência contra mulheres, pois, apesar do caminho

que temos feito, há ainda um longo caminho a percorrer para que consigamos tirar os direitos e as garantias da

vítima do papel.

Senão vejamos: temos hoje um quadro legal que protege os direitos das vítimas de abuso sexual. No entanto,

continuamos a ver situações em que o risco de destruição de vestígios é enorme, desde logo porque diversos

hospitais do SNS (Serviço Nacional de Saúde) não têm os kits de recolha de evidências de abuso sexual e

acabam, muitas vezes, por improvisar soluções ad hoc.

Temos também um quadro legal que tem evoluído no sentido de dar mais garantias às vítimas de violação.

No entanto, depois temos uma realidade em que 4 em cada 10 profissionais de saúde dizem não conhecer o

protocolo aplicável a um pedido de ajuda de uma vítima de violação.

Temos apenas dois centros de crise para as vítimas de violência sexual — um em Lisboa e outro no Porto

—, o que obriga as vítimas a percorrerem centenas de quilómetros para encontrar apoio especializado.

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O mesmo se diga da chamada violência sexual baseada em imagens, que ainda no ano passado viu o seu

enquadramento legal reforçado, com a previsão de uma pena de prisão que pode ir até aos cinco anos, com a

imposição de obrigações de reporte às grandes empresas tecnológicas.

Contudo, e apesar desta lei, continuamos a ter em Portugal grupos de Telegram com dezenas de milhares

de membros em que, sem qualquer consequência, se partilham conteúdos, nomeadamente os conhecidos como

de «pornografia de vingança», com fotografias de mulheres e jovens, algumas menores, tiradas enquanto estão

nos transportes ou na praia. Partilham também dados pessoais, como a própria morada, entre outros, e o local

de trabalho das visadas.

A obscenidade é tal, que temos situações em que, perante a partilha de uma foto de uma rapariga com a sua

mãe, os membros deste grupo escreviam coisas como: «Comia as duas!» ou «Aposto até que é menor!»

Estas situações são abjetas e não podemos permitir a humilhação e a sexualização de raparigas e mulheres

e até de homens.

O crime tem de ser, e deve ser, punido, mas também temos de arranjar mecanismos para que a lei seja

aplicada em todas as suas dimensões.

Aplausos de Deputados do PS.

Entretanto, reassumiu a presidência a Vice-Presidente Teresa Morais.

A Sr.ª Presidente: — Para um pedido de esclarecimento, tem a palavra a Sr.ª Deputada Elza Pais, do Grupo

Parlamentar Partido Socialista.

A Sr.ª Elza Pais (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, começo por saudar a Deputada Inês de

Sousa Real pela visibilidade que dá à violência doméstica, a mais oculta de todas as violências de género. Uma

violência que tem estado escondida, como sabemos, porque tem estado envolta em estereótipos e preconceitos,

associada a tabus que se têm gerado em torno da sexualidade, que continua a ser vivida de uma forma muito

envergonhada e que, portanto, tem impedido que as vítimas possam pedir ajuda.

Os estudos, como a Sr.ª Deputada disse, nomeadamente os relativos à violação, no RASI (Relatório Anual

de Segurança Interna), demonstram que há uma diminuição da participação, o quer dizer que há uma maior

desocultação. Mas, ainda assim, continua a ser uma violência muito oculta.

A violência sexual é apenas, e tão só, um dos aspetos da violência de género. E uma das principais

características da violência de género é que as vítimas têm grande vulnerabilidade, as vítimas escondem que

estão a ser vítimas, não pedem ajuda. Não pedem ajuda, mas desejam ajuda e necessitam dela.

Por isso, é muito importante dar visibilidade a este tipo de violência.

Propõe programas para melhorar os atendimentos a vítimas de violência , no Serviço Nacional de Saúde,

através de kits de recolha de prova — o que é muito difícil porque, quando não se faz ali, depois dificilmente se

fará — e de campanhas, formações e sensibilizações a profissionais de saúde, já que muitos deles, quando se

deparam com este tipo de violência, não conhecem bem os contornos que ela pode assumir, nomeadamente a

nível do equilíbrio psicológico das vítimas.

Portanto, nada a opor, Sr.ª Deputada.

Pelas mãos do PS, como muito bem disse, foram criados dois centros de crise de violência sexual, em Lisboa

e no Porto. É pouco! Seguramente, queremos mais. Não tivemos tempo para fazer mais,…

A Sr.ª Patrícia Gilvaz (IL): — Tiveram oito anos!

A Sr.ª Elza Pais (PS): — … mas, seguramente, vamos ter, quando voltarmos novamente a ser Governo.

Protestos do CH.

O caminho foi aberto e, Sr.ª Deputada, o que lhe queria perguntar é se não acha que este programa pode

ser alargado a outro tipo de vítimas que não apenas as vítimas de violência sexual.

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Aplausos do PS.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Está inscrita para uma intervenção, pelo Grupo Parlamentar do Chega,

a Sr.ª Deputada Rita Matias.

Faça favor, Sr.ª Deputada. Dispõe de 6 minutos.

O Sr. Pedro dos Santos Frazão (CH): — Faz anos hoje!

A Sr.ª Rita Matias (CH): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: Começo por trazer algumas notícias recentes:

«Cidadão estrangeiro terá abusado de cliente adormecida no banco de trás»; «Mulher surda violada por

imigrante junto às piscinas da Expofacic»; «Jovem de 21 anos sequestrada e violada por quatro homens

estrangeiros»; «Mulher violada em Beja por estrangeiro desempregado que ajudou».

Para os comentadores do regime, estas são falsas perceções de insegurança, mas, para as vítimas é um

pesadelo demasiado real.

Aplausos do CH.

Os números são assustadores. Em 2020, tivemos cerca de 300 pessoas violadas em Portugal. Em 2021,

este número aumentou para 400 pessoas. Em 2022, chegou mesmo às 500 vítimas, um número que se manteve

em 2023. E estes são os números que conhecemos, porque, infelizmente, muitas das vítimas não apresentam

qualquer queixa porque não confiam no sistema judicial.

O Sr. Pedro Pinto (CH): — Ora bem!

A Sr.ª Rita Matias (CH): — E porque é que não confiam no sistema? Desde logo, porque temos

representantes políticos que dizem que não têm tempo para agir e para fazer qualquer coisa diferente. Mas

também porque, enquanto vítimas, se confrontam com a prisão perpétua que é o horror de viverem com a

memória que foi criada, enquanto os seus abusadores, não raras vezes, são ilibados,…

O Sr. Pedro Pinto (CH): — Muito bem!

A Sr.ª Rita Matias (CH): — … veem a sua pena suspensa ou passam impunes,…

Vozes do CH: — Muito bem!

A Sr.ª Rita Matias (CH): — … enquanto a vítima se sente humilhada e desprotegida.

E se as vítimas assim estão, é por culpa desta classe política, que tenta justificar agressores e que não

agrava molduras penais, não dá meios à justiça e vive obcecada com o fetiche de ressocializar à força toda

monstros que são capazes de violar uma mulher.

Aplausos do CH.

É por isto que o Chega se apresenta aqui, uma vez mais, como desde 2019, para devolver aos portugueses

a confiança na justiça.

Por isto, com o projeto que trazemos hoje aqui, pedimos que o crime de violação passe a ter uma natureza

pública, para que possa ser investigado mesmo que a vítima ainda não esteja preparada para falar ou, por

exemplo, mesmo que a vítima se encontre numa situação de chantagem às mãos do seu agressor.

Ora, isto é fundamental, porque violar alguém é tão, mas tão bárbaro, que este crime não lesa apenas a

vítima, em particular, não é apenas a nível individual; é algo que lesa toda a comunidade e, por isso, lesa todo

o nosso País.

Aplausos do CH.

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Pedimos também declarações para memória futura, e que isto possa ser um meio de prova antecipada, para

que a vítima não tenha de ser sujeita a interrogatórios sucessivos e traumatizantes.

Para além da possibilidade de suspensão do processo a pedido da vítima, pedimos que a vítima possa

escolher quem é o profissional de saúde que realiza os seus exames e perícias, para que não seja exposta a

mais desconforto e incompreensão.

É nas vítimas que centramos a nossa atenção e o nosso apoio, e não estamos disponíveis para falsa

caridade, porque o lugar do violador é, e será sempre, na prisão, para sempre!

Aplausos do CH.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Para uma intervenção, dispondo de 4 minutos, tem a palavra a

Sr.ª Deputada Isabel Mendes Lopes, do Grupo Parlamentar do Livre.

A Sr.ª Isabel Mendes Lopes (L): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Caros Concidadãos nas galerias,

Caras Concidadãs nas galerias: o nosso obrigado ao PAN, por trazer a debate este problema tão grave da

violência sexual.

A violência sexual é um problema estrutural e transversal, e as notícias dos últimos tempos mostram-nos

isso mesmo. São mais de 70 000 homens no canal português do Telegram, onde partilham vídeos íntimos e

imagens de pessoas, sobretudo mulheres, sem o seu consentimento, um canal onde se fazem os comentários

do maior nojo imaginável, onde as mulheres são tratadas como objetos, ou até abaixo de objetos.

Não são 7, não são 70, são 70 000 homens, mais de 70 000 homens, num só grupo. Repito, 70 000. Se

calhar, nem todos partilham ou comentam as fotografias ou vídeos, mas todos estão lá, todos veem o que é

partilhado, o que é dito, são coniventes, são 70 000 cúmplices de um ataque diário, de uma violência diária

contra as mulheres.

Este é um problema estrutural, transversal e também internacional. Ninguém fica indiferente ao que está a

acontecer em França. Através do sitecoco.gg, que esteve anos implicado em denúncias de crimes de homicídio,

pedofilia, ataques homofóbicos, violência sexual, e que foi recentemente — e bem! — encerrado, o agressor

Dominique Pelicot partilhou, durante anos, imagens e vídeos e angariou mais de 50 outros agressores para

violarem a sua mulher inconsciente; 50, numa comunidade pequena. E não são apenas 50. Milhares de outros

estavam nesse website, viam as partilhas, viam os anúncios, os apelos à violação, e não fizeram nada. São

milhares de cúmplices desse horror durante anos.

E eu quero, daqui, do Parlamento português, enviar uma enorme saudação, um enorme obrigada a Gisèle

Pelicot…

Aplausos do L, do PS, do BE, do PCP e do PAN.

… e a todas as vítimas que denunciam e lutam para que a culpa e a vergonha mudem de lado, porque a

vergonha e a culpa estão do lado dos agressores e nunca, nunca, nunca do lado das vítimas.

O que o Livre sabe é que aqui, na Assembleia da República, temos a responsabilidade política e a obrigação

social de uma ação legislativa forte que previna, condene e puna este tipo de criminalidade, ao mesmo tempo

que protege as vítimas.

É preciso combater este problema estrutural e transversal.

Por isso, trazemos aqui duas iniciativas legislativas que dão resposta ao tipo de criminalidade que faz uso de

ferramentas digitais para amplificar, violentar e perseguir vítimas, independentemente da sua idade.

A violência contra crianças e jovens assume diferentes formas e acontece nos mais variados contextos,

incluindo o digital.

Reconhecendo que a utilização dos meios digitais também pode ter um impacto positivo no dia a dia das

crianças e jovens, com acesso a conhecimento e proporcionando oportunidades, também sabemos que existe,

e no Livre temos essa preocupação, a exposição a novas formas de violência, como a ciberperseguição, o

ciberassédio, o ciberincitamento à violência e ao ódio, a fraude eletrónica, o roubo de identidade, entre várias

outras que vão surgindo.

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A lei e as políticas públicas não podem ser alheias nem permanecer desfasadas destes fenómenos. É urgente

prevenir e responder à violência contra as crianças e jovens através de abordagens integradas, multidisciplinares

e também enquadradas numa perspetiva de saúde pública. Por isso, precisamos de um plano nacional de

promoção da segurança digital e presencial de crianças e jovens.

Além disso, é também fundamental atualizar em conformidade o Código Penal, até em linha com a recente

diretiva comunitária adotada sobre o combate à violência contra mulheres e à violência doméstica,

reconhecendo que há formas específicas de violência cuja gravidade e impacto são desproporcionalmente

devastadoras quando acontecem através do meio digital. Por isso, o Código Penal português deve incluir

explicitamente a ciberviolência.

Há evidência científica suficiente, bem como recomendações nacionais e internacionais, e existem

demasiados casos reais com vítimas concretas, com impactos comunitários, para podermos continuar a ignorar

esta criminalidade.

Sr.as Deputadas, Srs. Deputados, esperamos que nos acompanhem hoje e transmitam connosco uma

mensagem sólida de solidariedade para com as vítimas e familiares e de repúdio a todas as pessoas agressoras.

Há melhorias a fazer aos nossos projetos? Certamente existirão. Esperamos que fiquem para a discussão

em sede de especialidade e que hoje saia daqui uma resposta clara: nem mais uma vítima de violência sexual.

Aplausos do L e do PS.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — A Sr.ª Deputada tem um pedido de esclarecimento, ao qual não tem

tempo disponível para responder.

Ainda assim, passo a palavra à Sr.ª Deputada Madalena Cordeiro, do Grupo Parlamentar do Chega, para

pedir esclarecimentos.

A Sr.ª Madalena Cordeiro (CH): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados, Sr.ª Deputada Isabel Lopes, o Livre tem

sempre esta mania de dar nomes fofinhos aos projetos, fazendo crer que se preocupam com tudo e com todos

e que têm preocupações genuínas com temas de enorme importância. Mas, na verdade, não passam de lobos

vestidos com pele de cordeiro.

Aplausos do CH.

O Sr. Rui Tavares (L): — Vira o disco e toca o mesmo!

A Sr.ª Madalena Cordeiro (CH): — Sim, porque quando começamos a ler os projetos do Livre, o que

encontramos são referências indiretas à sua cartilha, como, por exemplo, a ideologia de género. Mas também

digo aos Srs. Deputados: não há maquilhagem que vos salve.

Hoje, apresentam um projeto sobre violência contra crianças no espaço digital, e isto até parece nobre, mas

gostava de perceber se têm a humildade de reconhecer todas as formas de violência, nomeadamente a que

ocorre nas redes sociais usadas pelos vossos amigos de coletivos, comunidades e lóbis para aliciar crianças

sexual e moralmente.

Vozes do CH: — Ora bem! Toma!

Protestos da Deputada do L Filipa Pinto.

A Sr.ª Madalena Cordeiro (CH): — No TikTok, no Instagram e no YouTube, há cada vez mais jovens e

crianças que caem nas ilusões de falsos espíritos comunitários e de pertença, dando passos no sentido de

abraçar novas identidades sexuais.

O drama é que, em tenra idade, passam a afirmar ser o que não são e, por isso, sujeitam-se a procedimentos

médicos cujo dano é irreversível.

O Sr. Pedro Pinto (CH): — Ora bem!

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A Sr.ª Madalena Cordeiro (CH): — Cada vez mais se confunde a orientação sexual com esta dita «identidade

sexual» e, por isso, o lóbi LGB (lésbicas, gays, bissexuais) está a ser sequestrado pelo TQIA+ (transgénero,

queer, intersexo, assexuais e outros), que, de mãos dadas com grandes corporações, com a indústria

farmacêutica e com o lóbi da cirurgia plástica,…

O Sr. Fabian Figueiredo (BE): — Essa é nova!

A Sr.ª Madalena Cordeiro (CH): — … torna crianças e jovens em vítimas que odeiam tudo, a começar pelo

seu corpo, a começar por si mesmas. E diga-me se há maior violência do que esta!

O Sr. Pedro Pinto (CH): — Muito bem!

A Sr.ª Madalena Cordeiro (CH): — É impossível ignorar que se passa tudo isto e que começa pelos

algoritmos das redes sociais. A Chloe é um exemplo disso,…

Neste momento, a oradora exibiu fotografias da mencionada Chloe.

… porque aos 11 anos entrou no Instagram, ficou fascinada com a atenção que a comunidade trans recebia

e, por isso, aos 12 anos decidiu que era trans. Aos 13 anos começou a tomar bloqueadores hormonais, aos

15 fez uma dupla mastectomia e aos 16, quando a sua vida já estava toda destruída, percebeu que foi tudo um

erro.

Portanto, a pergunta que faço à Sr.ª Deputada é a de saber se reconhece que isto é uma forma de violência

contra jovens e crianças…

A Sr.ª Filipa Pinto (L): — Isso é ciberviolência, o que acabou de fazer!

A Sr.ª Madalena Cordeiro (CH): — … e se admite que há, de facto, um recrutamento abusivo de crianças e

jovens no meio digital para comunidades e grupos de iniciação sexual LGBTQIA+… N… O… R… M… A… L…!

Aplausos do CH.

Protestos da Deputada do L Filipa Pinto.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — A Sr.ª Deputada Isabel Mendes Lopes está a pedir a palavra para que

efeito?

A Sr.ª Isabel Mendes Lopes (L): — Para uma interpelação à Mesa, Sr.ª Presidente.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Faça favor, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Isabel Mendes Lopes (L): — Sr.ª Presidente, acabou de ser exposta aqui uma criança, e a exposição

de uma criança, nomeadamente em relação aos seus dados pessoais, não pode ser feita na Assembleia da

República, é crime. Portanto, gostava que o Chega fosse sinalizado em relação a isso.

Aplausos do L, do PS e do Deputado do BE José Moura Soeiro.

Protestos do CH.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — O Sr. Deputado Pedro Pinto está a pedir a palavra, suponho que seja

para uma interpelação à Mesa.

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O Sr. Pedro Pinto (CH): — E supõe muito bem, Sr.ª Presidente.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Faça favor.

O Sr. Pedro Pinto (CH): — Sr.ª Presidente, acabámos de assistir a mais uma tentativa do Livre de, quando

gasta o tempo todo, utilizar uma interpelação à Mesa para dizer uma mentira. É que esta criança que foi exposta

já não é uma criança, já tem mais de 18 anos.

A Sr.ª Filipa Pinto (L): — Vergonha! Transfóbicos!

Vozes do CH: — Mentirosos!

O Sr. Pedro Pinto (CH): — Portanto, a verdade tem de ser reposta, e o Livre permanece sempre na mentira!

Aplausos do CH.

A Sr.ª Isabel Alves Moreira (PS): — E ela autorizou?!

O Sr. Pedro Pinto (CH): — É um partido que vive aqui dentro na mentira. E aqui é a verdade, é a Casa da

verdade, a Casa da democracia.

Aplausos do CH.

Sr.ª Presidente, nós vamos enviar à Mesa a prova de que esta criança tem mais de 18 anos e, portanto, já é

adulta. Vamos enviar essa prova à Mesa e agradeço que distribua, particularmente ao Grupo Parlamentar do

Livre, para que o Livre pare de viver na mentira.

Aplausos do CH.

A Sr.ª Filipa Pinto (L): — E ela autorizou?!

Vozes do CH: — É público!

A Sr.ª Rita Matias (CH): — É uma ativista!

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Eu ia responder às interpelações, mas o Sr. Deputado Pedro Delgado

Alves também tem uma interpelação para fazer sobre o mesmo assunto.

Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. Pedro Delgado Alves (PS): — Penso que, se a Sr.ª Presidente vai responder, pode ser desnecessária

a minha intervenção. Era só para dar uma nota relevante para o momento atual, mas para reflexão futura: os

debates na Câmara devem manter a tutela dos direitos fundamentais de todos os cidadãos, em particular dos

que estão ausentes.

A Sr.ª Rita Matias (CH): — É uma ativista dos Estados Unidos!

O Sr. Pedro Delgado Alves (PS): — E nesse…

O Sr. Pedro Pinto (CH): — Quem é este Deputado?! Só chegaste agora!

Vozes do PS: — Democracia!

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Protestos do CH.

O Sr. Pedro Pinto (CH): — Tem a mania que manda aqui!

A Sr.ª Rita Matias (CH): — É uma ativista!

O Sr. Pedro dos Santos Frazão (CH): — É a censura! Queriam o lápis azul!

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Srs. Deputados, por favor, deem condições ao Sr. Deputado para fazer

a interpelação à Mesa, tal como fizeram anteriormente.

O Sr. Pedro Delgado Alves (PS): — De todos os cidadãos e cidadãs, de todos os Estados,

independentemente de onde se…

Protestos do CH.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Srs. Deputados, todas as bancadas fazem interpelações à Mesa

quando entendem que o devem fazer. Antes de a interpelação ser feita, não tenho nenhuma razão para a

recusar, portanto, se não se importam, deixam ouvir a interpelação do Sr. Deputado Pedro Delgado Alves, e a

seguir ajuizaremos.

Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. Pedro Delgado Alves (PS): — E é uma estrita interpelação, Sr.ª Presidente, porque penso que é

matéria de reflexão, que a Câmara deve encetar, a forma como são divulgados elementos que podem constituir

dados pessoais, da reserva da esfera privada de cidadãos nacionais, estrangeiros, ativistas, anónimos,

indiferentes.

Isto deve merecer a nossa reflexão, porque as pessoas têm o direito a preservar a sua intimidade, o direito

à não dupla-vitimização, se for o caso. E isto merece a nossa reflexão, acima de tudo, para que a Câmara tenha

um critério.

Parece-me que a reflexão suscitada é pertinente, e pedia à Sr.ª Presidente não que decida a definitivo, mas,

pelo menos, que consiga colocar um pouco de bom senso na Câmara, para este debate.

Aplausos do PS e do L.

A Sr.ª Rita Matias (CH): — É uma ativista! Vai ao Google!

O Sr. Pedro dos Santos Frazão (CH): — É censura!

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Muito obrigada a todas as bancadas pelas interpelações que fizeram.

Julgo que esta é uma matéria particularmente sensível, a que devemos estar muito atentas e atentos, todas

e todos nós. Não me parece que o facto de ser uma pessoa adulta retire a carga negativa que uma exposição

pública possa trazer, mas julgo também que este debate não deve continuar a ser feito aqui e que esta é uma

matéria suficientemente relevante para ser abordada numa próxima Conferência de Líderes.

Portanto, vamos prosseguir o nosso debate.

Aplausos do PS, do L e de Deputados do PSD e do BE.

O Sr. Pedro dos Santos Frazão (CH): — Querem censura!

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — O Sr. Deputado Pedro Pinto pediu entretanto a palavra. Para que

efeito?

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O Sr. Pedro Pinto (CH): — Para uma interpelação à Mesa, Sr.ª Presidente.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Faça favor.

O Sr. Pedro Pinto (CH): — Sr.ª Presidente, creio que a Sr.ª Presidente não está nesta situação para emitir

a sua opinião pessoal.

Protestos do PS e do L.

O Sr. Fabian Figueiredo (BE): — Mas o que é isto?!

O Sr. Pedro Pinto (CH): — Como disse, vamos discutir isso na Conferência de Líderes, e parece-me muito

bem que discutamos esse assunto. Mas deixe-me que lhe diga que, quanto a todas estas fotos que trouxemos

aqui, basta ir à internet, basta ir ao Google, e estão lá todas!

Protestos do PS e do L.

A Sr.ª Filipa Pinto (L): — Isso é uma violência!

O Sr. Pedro Pinto (CH): — Portanto, tudo o que o Chega fez aqui não é nada de mal.

Protestos do PS e do L.

A Sr.ª Madalena Cordeiro (CH): — Quem pôs foi ela!

O Sr. Pedro Pinto (CH): — Estamos a falar em democracia. Agora, o que estes senhores querem é o lápis

azul. Aqui não há lápis azul! Isto é a Casa da democracia!

Aplausos do CH.

Isto é a Casa da democracia e nós lutaremos sempre pela Casa da democracia!

Continuação de aplausos do CH.

Os senhores, aquilo que querem é a censura. Os senhores são o protótipo e o rosto da censura em Portugal.

Nós nunca, nunca permitiremos isso.

Aplausos do CH.

Protestos da Deputada do L Filipa Pinto e contraprotestos da Deputada do CH Rita Matias.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Sr. Deputado Pedro Pinto, tal como eu disse, parece-me que a matéria

é suficientemente relevante para ser abordada em Conferência de Líderes. Isso não me obriga a mim, no

entanto, como Deputada que também sou, a eximir-me de um comentário tão linear — parece-me — e universal

como dizer que se trata de uma matéria sensível.

A meu ver, é uma matéria sensível, não retiro nada do que disse.

O Sr. Pedro Pinto (CH): — Então, tem de sair daí e vir cá para baixo, para as bancadas!

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Portanto, Sr. Deputado Pedro Pinto, teremos esta conversa em

Conferência de Líderes, certamente.

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Aplausos do PSD, do PS, da IL, do BE, do PCP, do L e do PAN.

A Sr.ª Rita Matias (CH): — Só os vossos ativistas é que podem ser expostos!

O Sr. Pedro dos Santos Frazão (CH): — Vocês gostam é de drogas!

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Prosseguimos o debate, com a intervenção da Sr.ª Deputada Joana

Mortágua, do Bloco de Esquerda.

Protestos do CH.

Peço à Câmara para criar condições para ouvirmos a Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Há uma geração inteira, talvez seja

até já mais do que uma, que vive parte da sua sexualidade online. Essa é uma realidade inescapável.

Com a massificação das redes sociais e da tecnologia digital, a produção e a partilha de imagens íntimas

sem consentimento tornou-se numa nova forma de violência sexual. Esta realidade tem vítimas, vítimas que são

expostas a humilhação pública, a perda de controlo sobre a sua intimidade e a danos profundos à sua autoestima

e à sua confiança.

O Sr. Pedro dos Santos Frazão (CH): — Vocês queriam era o lápis azul!

A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — O impacto na vida destas pessoas vai além da violação da privacidade. É

também uma violação da dignidade, da liberdade sexual e da saúde mental das vítimas.

As vítimas são, na sua maioria, mulheres. E são particularmente elas as vítimas, porque elas também são

vítimas de uma dupla moral na sociedade, que penaliza mais o mesmo comportamento às mulheres do que aos

homens. Aliás, às vezes, penaliza nas mulheres o mesmo comportamento que glorifica nos homens.

Aplausos do BE, do PS e do L.

Portanto, há consequências sociais a que só as mulheres estão expostas, enquanto os homens ficam

impunes.

Já se falou aqui daquele canal do Telegram com mais de 70 000 homens, 70 000 utilizadores, que

partilhavam diariamente imagens íntimas de mulheres portuguesas sem o consentimento. As vítimas viram a

sua intimidade devastada e os agressores ficaram impunes, tanto aqueles que as publicavam como aqueles que

frequentavam o canal, partilhando sem nunca denunciarem as imagens que lá tinham visto. E, não, não há uma

lei que proteja as mulheres disto, porque esse canal continua aberto e, até hoje, não foi possível desativá-lo.

Este caso demonstra a urgência de dar uma resposta penal eficaz e firme para combater este tipo de crimes.

É isso que diz a Diretiva (UE) 2024/1385, de 14 de maio de 2024, que estabelece ou recomenda a criminalização

da partilha não consensual de material íntimo, a punição para a manipulação de imagens — das chamadas

deepfakes —, a proteção das vítimas contra a ameaça de partilha de imagens íntimas e a tipificação de crimes

de assédio sexual online, como o exibicionismo digital.

É isso também que o Bloco de Esquerda, mais uma vez, vem aqui propor, com um projeto de lei que teve

parecer favorável da Ordem dos Advogados, que entendeu que o escopo deste projeto era a proteção, devida

pelo Estado e pela ordem pública, às vítimas de comportamentos, por via de meios digitais, de produção ou

partilha não consensual de material íntimo ou manipulado.

Sr.as e Srs. Deputados, podemos virar as costas à realidade, mas corremos o risco de que ela nos faça o

mesmo a nós. Corremos o risco de deixar desprotegida uma geração inteira que entende este problema como

real e que não vê no Parlamento o reconhecimento de uma realidade, o reconhecimento de uma nova realidade

da violência de género, da violência sexual e dos atentados à liberdade sexual.

O que pedimos é que possamos dar este passo em conjunto e levar este projeto à discussão em sede de

especialidade.

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Aplausos do BE, do PS e do L.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — A Sr.ª Deputada tem um pedido de esclarecimento da Sr.ª Deputada

Emília Cerqueira, do Grupo Parlamentar do PSD, que dispõe de 2 minutos para o efeito.

A Sr.ª Emília Cerqueira (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Joana Mortágua, a fase final da sua

intervenção não tem adesão à realidade, como se sabe, porque em 2023, há um ano, se legislou precisamente

sobre esta matéria.

Os partidos políticos e os grupos parlamentares, quanto à regulamentação da ciberviolência, estiveram muito

atentos, muito preocupados, mas houve aqui um dissenso, que a Sr.ª Deputada não referiu, que nos separou e

nos separa desde sempre, que é a natureza do crime público ou semipúblico e aquela que é a classificação do

crime.

O Bloco de Esquerda, que vai insistindo nesta proposta repetidamente, pretende que seja um crime contra a

liberdade sexual, e os restantes partidos políticos entenderam que não era isso, mas um crime de devassa da

vida privada. Esta classificação continua a separar-nos, precisamente pelos mesmos motivos, que também são

os motivos — e é importante que isto fique claro — apontados pelo Conselho Superior da Magistratura, nos

pareceres que nos foram fornecidos, aquando da feitura dessa legislação, porque desta vez não houve tempo,

como sabe.

A intenção verdadeira do Bloco é que a sociedade trate dos problemas das pessoas, Sr.ª Deputada. A

revitimização e aquilo que pode ser a condenação pública é algo a que o Bloco de Esquerda quer sujeitar as

vítimas, independentemente da sua vontade. Está a sujeitá-las a essa vitimização e a essa difamação pública,

independentemente de elas o pretenderem ou não. Com isso, faz com que não queiram aceder, provavelmente,

à justiça, quando têm essa possibilidade.

Mas também há outra questão, que diz respeito à diretiva, Sr.ª Deputada, e é sobre isso que a queria

questionar. Quanto à diretiva, como sabe, está até no Programa do Governo a sua transcrição, porque nos

revemos nela, obviamente. Mas não conseguimos entender estas medidas ad hoc, em que a cada momento se

vai acrescentando aqui e acolá, sem uma lógica de sistema. Pergunto-lhe se não estão dispostos a retirar a

vossa proposta para que legislemos como deve ser, com o sistema e através da transcrição efetiva da diretiva.

Aplausos do PSD.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Joana Mortágua.

A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Emília Cerqueira, argumentos sobre crime

público, já os ouvimos desde que conseguimos consagrar a violência doméstica como crime público, e são iguais

— repito, são iguais. Nós precisamos de um sistema judicial que consiga proteger as vítimas da dupla

vitimização. Precisamos, sim. Por isso é que incluímos mecanismos de suspensão do processo, tal como existe

no caso de violência doméstica.

Mas, sobre esta matéria, atenção: a partilha de imagens na internet já é, por natureza,…

A Sr.ª Isabel Alves Moreira (PS): — Pública!

A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — … pública e, portanto, o crime já é, por natureza, um crime público. O que

queremos tornar público é a denúncia desse crime, para que as pessoas possam aceder à denúncia, em

circunstâncias em que as vítimas possam ser reconhecidas sem ter conhecimento ou mesmo sob coação.

Aplausos do BE, de Deputados do PS e da Deputada do L Filipa Pinto.

Essa é a nossa diferença.

A segunda questão…

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Por ter excedido o tempo de intervenção, o microfone da oradora foi automaticamente desligado.

Aplausos do BE.

O Sr. Pedro Pinto (CH): — A segunda questão fica para amanhã!

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Para uma intervenção, está inscrita a Sr.ª Deputada Tânia Mateus, do

Grupo Parlamentar do Partido Comunista Português.

Faça favor, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Tânia Mateus (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Proteger as mulheres contra as várias

formas de violência — a pobreza, a violência doméstica, psicológica e sexual, o tráfico de seres humanos ou a

prostituição — deve constituir uma preocupação consistente e não momentânea. Deve ser alvo de medidas e

políticas transversais, como nos salários, no trabalho, nas funções sociais e nos serviços públicos, que visem o

integral cumprimento dos direitos das mulheres à luz da Constituição da República Portuguesa e de convenções

internacionais como as de Pequim e de Istambul.

A discussão em torno da violência sexual e da disseminação não consensual de conteúdos íntimos não pode

ser desligada da imagem estereotipada da mulher como objeto sexual, tanto na publicidade como na pornografia,

em alguma cinematografia e nas redes sociais, e que se mantém normalizada.

A proposta do PCP procura que sejam concretizadas medidas de prevenção da prática de crimes de

disseminação não consensual de conteúdos íntimos, com especial enfoque na avaliação e concretização das

medidas legais já aprovadas. Sobre esta matéria, entendemos que os comportamentos que violam a liberdade

e a reserva da vida privada devem ser punidos, mas, simultaneamente, exigem medidas de prevenção, de

informação junto dos mais jovens e de intervenção também junto dos serviços intermediários, no âmbito das

práticas de comércio eletrónico e tratamento dos dados pessoais.

Temos de intervir a vários níveis. Existe uma moldura legal relativamente a este crime, mas há que prevenir,

ou não estaremos a agir consistentemente nas causas da violência sobre as mulheres. Tornar público o crime

de violação implica forçar uma mulher ou qualquer vítima a um processo criminal. Estamos, uma vez mais, a

agir contra a sua vontade, contra a sua autodeterminação, e não estamos a respeitar o desejo e a vontade da

mulher.

Não melhoramos a prevenção nem o combate apenas com a alteração da tipificação do crime e, para o PCP,

esta não é uma questão menor. O crime de violação tem efeitos devastadores sobre as vítimas e tem de ser

punido. Importa perceber e intervir sobre os motivos da hesitação da mulher em não fazer queixa. Há que

respeitar e apoiar. Há que transmitir confiança e segurança sobre os motivos que a levam a hesitar sobre o

momento de fazer queixa. Esta é uma dimensão em que temos de intervir.

Aliás, no passado, o PCP já apresentou propostas no sentido de transmitir maior confiança às mulheres, para

que elas confiem no sistema e concretizem a queixa. Por isso, achamos que é preciso abordar preventivamente

os fatores de ordem social e de relacionamento e também as conceções de domínio e de posse, de subjugação

e violência sobre as mulheres e sobre os jovens, que são inerentes aos crimes sexuais e à partilha não

consentida de conteúdos íntimos. As propostas do PCP caminham neste sentido.

Aplausos do PCP.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — A Mesa tem agora a inscrição do Sr. Deputado Pedro Delgado Alves,

do Grupo Parlamentar do Partido Socialista.

Tem a palavra, Sr. Deputado, para uma intervenção.

O Sr. Pedro Delgado Alves (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O Grupo Parlamentar do PS

gostaria de saudar as iniciativas em discussão, naturalmente. Muitas delas focam novamente matérias que já

foram, no passado, objeto de iniciativas e de alterações legislativas desencadeadas até por este grupo

parlamentar. Refiro, a esse propósito, a Lei n.º 44/2018 e a Lei n.º 26/2023 — primeiros passos sobre esta

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matéria e sobre o reconhecimento de que há uma realidade nova nas redes sociais, na internet, no meio digital,

que precisa de respostas.

Contudo, o problema continua muito real, muito premente, muito atual, e agudiza-se. Há hoje canais

adicionais de partilha. Hoje há realidades que têm uma intensidade que não tinham no passado, como o

cyberflashing, a extorsão sexual através destes meios. Há uma dimensão transnacional e de difícil regulação e

prevenção.

Temos também uma realidade nova, para a qual não temos ainda cobertura adequada, que é a da

manipulação de imagens através da criação de deepfakes — a criação de imagens onde elas não existiam —,

que produzem o mesmo resultado, que é danoso para a vida das pessoas, que destrói as reputações e cria

problemas, como aqueles que descrevemos aqui hoje, na sua saúde mental e no seu quotidiano.

Recordo apenas que este é um tema que incide de uma forma desequilibrada, desproporcional, sobre as

mulheres. Hoje mesmo, numa conferência sobre outro tema, sobre violência e cyberbullying nas redes sociais,

organizada pelo CENJOR (Centro Protocolar de Formação Profissional para Jornalistas), relativo a jornalistas,

mais uma vez, a nota fundamental era a de que as mulheres jornalistas são alvo de muito mais ataques, com

muito mais agressividade, com muito mais intensidade, do que o que existe em relação aos homens. Portanto,

esta dimensão também tem de estar presente nas nossas respostas.

Precisamos de respostas na prevenção, na educação, na sensibilização, mas é necessário também esta

reflexão a nível do direito processual penal. Temos algumas reservas, algumas dúvidas, questões técnico-

jurídicas, em relação a várias das questões, e devemos resolvê-las na especialidade: refletir se temos um tipo

novo ou não, atento à dimensão simbólica que o direito penal também deve ter, se devemos atualizar o leque

das condutas ilícitas ou não, se devemos encontrar ou não melhores respostas processuais penais.

Por estas razões, apesar de poder não acompanhar a 100 % tudo o que é proposto, este debate merece

continuar em sede de especialidade e, por isso, votaremos favoravelmente as iniciativas sobre estes temas.

Aplausos do PS e de Deputados do BE e do L.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Está inscrita a Sr.ª Deputada Patrícia Gilvaz, da Iniciativa Liberal, a

quem dou a palavra, para uma intervenção.

A Sr.ª Patrícia Gilvaz (IL): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A violência sexual, seja ela física ou

digital, é um ataque flagrante à dignidade humana e uma afronta à liberdade individual.

No nosso País, ninguém deve temer pela sua segurança ou privacidade, seja no espaço público, seja no

ambiente privado ou no universo digital. Ninguém deve ser obrigado a assistir ou a realizar atividades de cariz

sexual sem que o tenha desejado ou consentido.

Hoje, enfrentamos uma realidade alarmante: o abuso sexual transcendeu o contacto físico e invade a vida

íntima das vítimas, através da divulgação não consentida de imagens e vídeos íntimos, expondo-as a uma

violência aparentemente invisível, mas devastadora, com consequências nefastas e permanentes na vida das

pessoas. Esta matéria assume especial gravidade se tivermos em conta que as crianças e jovens, devido às

suas idades e falta de experiência, são alvos preferenciais e vítimas fáceis deste tipo de crimes.

Para nós, Iniciativa Liberal, estas matérias são de extrema importância e, por esse mesmo motivo, somos

favoráveis às iniciativas que visam a sensibilização e formação de todos, desde os mais novos aos pais,

docentes e pessoal não docente, forças de segurança, bem como juízes e magistrados.

Protestos do Deputado do CH Filipe Melo.

A especificidade destes crimes exige uma preparação e um cuidado especial da parte de todos nós. É

também por isso que percebemos as iniciativas que visam alterações ao Código Penal e ao Código de Processo

Penal, no sentido de alterar a natureza deste crime de semipúblico para público, o que, na prática, significa que

deixaria de ser necessário o consentimento da vítima para apresentação de queixa.

No entanto, nunca o poderemos fazer sem antes acautelar a proteção dos direitos destas pessoas, as quais,

não se esqueçam, estarão certamente muito frágeis. Refiro-me ao direito da vítima à sua privacidade, ao direito

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da vítima a não ver a sua esfera privada transferida para o domínio público, ao direito e à liberdade destas

vítimas de decidirem sobre si próprias e não serem novamente obrigadas a algo.

A par disto, é absolutamente essencial garantir o acompanhamento médico e psicológico durante o tempo

que for necessário, para que as vítimas possam, além de cuidarem de si, decidir como agir.

Defendemos que o combate à violência sexual se faz com legislação, mas, sobretudo, com ações. Para isso,

precisamos que o nosso sistema de justiça seja célere e eficaz, protegendo as vítimas, e que lhes seja dado

todo o apoio nas instituições de saúde.

Hoje é nossa responsabilidade fazer esse caminho, não só enquanto decisores políticos, mas principalmente

como membros da sociedade. O combate à violência sexual, física ou por meios digitais é uma causa de todos

nós e não vamos recuar um passo.

Aplausos da IL.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Para uma intervenção, tem agora a palavra a Sr.ª Deputada Paula

Cardoso, do Grupo Parlamentar do PSD.

A Sr.ª Paula Cardoso (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Há vários anos que ouvimos

histórias trágicas sobre a disseminação não consentida na internet de conteúdos íntimos ou sexuais — de

crianças e jovens que se suicidaram, depois de terem sido divulgadas imagens suas, nuas, por toda a escola

ou na comunidade, mas também de pessoas adultas que, depois de serem vítimas deste crime, perpetrado pelo

namorado, ex-namorado, marido, ex-marido ou até por um mero encontro ocasional, ficam com a sua vida

destruída. De pouco lhes adianta mudar de emprego, de casa, de cidade, porque não conseguem voltar a ter

uma vida dita normal. Dificilmente vão consegui-lo, quer as vítimas, quer as suas famílias.

Numa sociedade cada vez mais digital, a divulgação destas imagens ou vídeos é praticamente instantânea,

principalmente nas redes sociais. Numa fração de segundo, centenas ou milhares de pessoas as visualizam.

Depois de isto acontecer, os danos estão feitos, as marcas colam-se ao corpo das vítimas e não mais as largam.

A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Claro! Muito bem!

A Sr.ª Paula Cardoso (PSD): —Sr.as e Srs. Deputados, estes factos convocam-nos para que tudo seja feito

para pôr fim a estes infames crimes.

Não olhemos para estes casos como se isto só acontecesse aos outros ou, pior ainda, para censurar, dizendo

«porque é que se deixaram filmar?» ou «porque é que não se dão ao respeito?».

Sr.as e Srs. Deputados, uma coisa é um contexto de intimidade, outra coisa é divulgar a meio mundo a nossa

intimidade sem o nosso consentimento.

A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Muito bem!

A Sr.ª Paula Cardoso (PSD): — Sr.as e Srs. Deputados, não acontece só aos outros. Pode ser um de nós,

pode ser um dos nossos filhos. Foram estas preocupações que, em junho do ano passado, uniram praticamente

todos os partidos no propósito de melhorar a legislação. Foram várias as alterações feitas nessa altura, quase

por unanimidade.

Esta meritória comunhão de esforços aconteceu, porque havia a consciência de que as respostas penais

eram insuficientes, desde logo porque estas práticas criminosas tinham, e têm, enquadramentos diferentes.

Estas alterações entraram em vigor apenas em junho de 2023.

Assim, não tirando mérito às preocupações que os projetos aqui em causa consubstanciam, há que distinguir

entre os projetos de resolução, que recomendam, alertam o Governo para que se criem condições, quer quanto

aos meios disponibilizados quer quanto à sensibilização, formação e outras ações que tornem mais efetiva e

consequente a aplicação das normas em causa, de modo a atingir o propósito — e o principal propósito nestes

crimes é conseguir o que tem sido impossível ou muito difícil até hoje — da cessação imediata da divulgação

das imagens e conteúdos — e tudo o que visa este objetivo é bem-vindo —, e uma coisa diferente, que é o

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revisitar das normas que estão em vigor há menos de um ano, ou há praticamente um ano, e ainda não fizeram

caminho que nos permita sobre elas fazer uma avaliação crítica.

A euforia legislativa deve ter sempre em consideração a segurança e estabilidade jurídica, e a mudança da

arquitetura dos tipos legais de crime deve ser algo de ponderação alargada, não devemos persistir em andar a

mudá-la a todo o momento e todos os anos.

Sr.as e Srs. Deputados, vamos dar tempo a que estas alterações façam o seu caminho; vamos dar tempo ao

tempo. Coisa diferente é refletirmos sobre se tudo está feito em relação aos prestadores intermediários de

serviços em rede: Facebook, Telegram e muitos outros, que foram aqui já mencionados. Aí sim, penso que a

legislação poderá ser revisitada e poderemos fazer, em conjunto, uma reflexão sobre de que modo podemos

impedir a partilha de imagens, ou levar a que estas redes, pelo menos, façam aquilo que é imposto por lei: o

bloqueio de partilha de informação e a comunicação ao Ministério Público, coisa que estas redes não fazem —

o Telegram e o Facebook não cumprem esta legislação.

E asseguro-vos que temos, no Governo português, um compromisso de que todos os esforços, quer quanto

a meios humanos quer quanto a outros que se entendam necessários, serão feitos para pôr fim a esta…

Por ter excedido o tempo de intervenção, o microfone da oradora foi automaticamente desligado.

Aplausos do PSD.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Para uma intervenção, está inscrito o Sr. Deputado João Almeida, do

Grupo Parlamentar do CDS. Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O combate contra a

violência sexual, seja física, seja cibernética, é, obviamente, algo que nos deve mobilizar a todos. No caso do

Grupo Parlamentar do CDS, mobiliza-nos já há bastante tempo, como comprovam as iniciativas que

apresentámos no passado, nem sempre aprovadas — aprovadas algumas, outras não —, como, por exemplo,

em 2021, há duas Legislaturas; uma dessas iniciativas não foi aprovada e é hoje especialmente relevante.

Quando estamos a falar da violência sexual em meio cibernético, dizemos que é um novo tipo de

criminalidade, mas o CDS apresentou, em 2021, um projeto que agravava as penas aplicáveis a crimes contra

a autodeterminação sexual de menores cometidos nos diferentes meios informáticos.

Portanto, não é para fazer contas ao que aconteceu na altura, é para dizer que, infelizmente, o crime não é

de agora. E já perdemos algum tempo no que podíamos ter feito para proteger estas vítimas — muitas vezes

menores, adolescentes —, que veem a sua vida exposta numa altura em que isso tem consequências do ponto

de vista da sua personalidade, do ponto de vista da sua saúde mental, do ponto de vista de toda a sua vida daí

para a frente, que os marca de uma forma inacreditável.

E, por isso, quer do ponto de vista físico, como disse, quer do ponto de vista da violência praticada em meio

cibernético, devemos avançar. E às vezes, quando nos questionamos se determinadas soluções jurídicas são

ou não são as mais adequadas do ponto de vista conceptual, a nossa preocupação deve ser, efetivamente, a

vítima.

Independentemente daquilo que pensamos em termos conceptuais e do ponto de vista da própria coerência

do ordenamento jurídico, não pondo em causa essa coerência, devemos pensar sempre na melhor forma de

proteger a vítima, porque, se conseguirmos proteger mais uma vítima, estamos a ir no caminho certo.

Aplausos de Deputados do PSD.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Temos a inscrição da Sr.ª Deputada Rita Matias, do Grupo Parlamentar

do Chega, para uma intervenção. Faça favor, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Rita Matias (CH): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: Há pouco, levantou-se nesta Câmara uma

Deputada mulher, a mais nova desta casa, e quis dar voz à sua geração, trazendo a imagem da Chloe,…

A oradora exibiu a imagem que mencionou.

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… uma ativista que luta contra os grupos que forçam crianças a proceder a transições sociais e físicas, e foi

assim.

Nesta Casa, levantam-se n vezes para exibir imagens, nomes, vídeos de vítimas do Hamas, vítimas de Israel,

vítimas do racismo,…

O Sr. Pedro Pinto (CH): — Ora bem! Ora bem!

A Sr.ª Paula Cardoso (PSD): — Não, não!

A Sr.ª Rita Matias (CH): — … e agora querem vir limitar o que é que uma Deputada pode vir dizer ou não?!

O Sr. Pedro Pinto (CH): — Ora bem!

A Sr.ª Rita Matias (CH): — Não, não vão limitar a bancada do Chega! E digo-vos mais: não há vacas

sagradas nesta Casa,…

Aplausos do CH.

… e, por isto, sempre que quisermos, vamos dizer que o lobby LGBTQIA+ (lésbicas, gays, bissexuais,

transgénero, queer, intersexo, assexuais e outros) está a fazer mal às novas gerações, está a doutrinar as novas

gerações, e a Chloe, e muitos mais, têm coragem de denunciar estas situações.

Aplausos do CH.

Protestos do PS.

A Sr.ª Filipa Pinto (L): — Transfóbicos!

A Sr.ª Rita Matias (CH): — Por fim, ouvimos aqui o Livre dizer que quer que a culpa passe verdadeiramente

para o lado do agressor. Mas, quando falamos em castração química e em prisão perpétua, já rasgam as vestes

e querem defender o agressor.

O Sr. Pedro Pinto (CH): — Ora bem!

A Sr.ª Rita Matias (CH): — Hoje não têm desculpas. O Chega traz aqui uma proposta que defende as vítimas

e que está ao lado das vítimas.

O Sr. Pedro Pinto (CH): — Muito bem!

A Sr.ª Rita Matias (CH): — E, portanto, só há uma posição possível: é a viabilização desta proposta em

nome das vítimas, que merecem muito mais em Portugal.

Aplausos do CH.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — A Sr.ª Deputada Rita Matias beneficiou de uma cedência de tempo do

Grupo Parlamentar do CDS.

Está agora inscrita, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada Raquel Ferreira, do Grupo Parlamentar do Partido

Socialista. Faça favor, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Raquel Ferreira (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Quando falamos da violência contra

crianças e jovens, recordemos a Convenção sobre os Direitos da Criança, que representa, indubitavelmente,

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um marco importante na proteção dos direitos fundamentais das crianças, independentemente da sua origem e

condição social.

Mas o mundo tem vindo a digitalizar-se cada vez mais, com a existência de riscos inerentes à atividade

digital. E, por isso, a era digital precisa que nos debrucemos sobre as problemáticas do mundo online, de forma

a preservar os direitos das crianças e jovens.

Com o Partido Socialista deram-se passos significativos, como a Estratégia Nacional para os Direitos da

Criança 2021-2024, a aprovação da Lei n.º 26/2023, que veio reforçar a proteção das vítimas de crimes de

divulgação não consensual dos conteúdos íntimos, e a alteração ao Código Penal, que previu o agravamento

das penas aplicáveis.

A violência contra crianças e jovens tem consequências nefastas a curto, médio e longo prazo, aquando da

utilização dos meios digitais. As crianças e jovens ficam expostos a novas formas de violência: a

ciberperseguição, o ciberassédio, a fraude eletrónica e o ciberincitamento à violência ou ao ódio.

Portanto, importa continuar no sentido de uma atuação proativa, por forma a podermos obstaculizar à

propagação da violência digital contra crianças e jovens.

Aplausos do PS.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Não temos novas inscrições, pelo que passamos ao encerramento do

debate.

Tem a palavra a Sr.ª Deputada Inês de Sousa Real, do PAN, que dispõe de 2 minutos e 59 segundos, tendo

beneficiado de uma cedência de tempo do Grupo Parlamentar do Partido Comunista Português.

A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: agradeço ao PCP a cedência

do tempo.

Sejam os 70 000 homens no Instagram; Dominique Pelicot, em França, que drogou e permitiu a violação da

sua mulher; ou aqui mesmo, em Portugal, os neonazis que instam à violação das mulheres de esquerda e que

contam com o silêncio daqueles que marcharam ao seu lado e sobre o qual não ouvimos uma palavra neste

Parlamento —…

Aplausos do BE, do L e de Deputados do PS.

… nem uma palavra, têm tido total silêncio até agora, de forma completamente conivente com os agressores

—, são tudo as mesmas manifestações de violência contra as mulheres. Este é um ciclo que não pode ser

tolerado — a começar aqui, na Casa da democracia.

É tempo de tirarmos os direitos e as garantias do papel e levá-los à prática. Para tal, apresentamos hoje duas

medidas e acompanhamos também as iniciativas que, de forma séria, querem contribuir para a melhoria deste

debate e aprovar, assim, um programa de melhoria no atendimento e acompanhamento das vítimas de violência

sexual no SNS.

Com este programa — respondendo até à Sr.ª Deputada Elza Pais, do PS — pretendemos, de facto, incluir

todas as vítimas de violência grave ou vítimas especialmente vulneráveis; pretendemos que compreenda

medidas tão importantes como algo tão simples quanto a distribuição extraordinária de kits de recolha de

evidências dos crimes aos estabelecimentos hospitalares com carências identificadas; pretendemos reforçar a

formação dos profissionais de saúde; pretendemos a criação de salas de espera específicas, dando às vítimas

a dignidade e a privacidade de que carecem; e pretendemos garantir que, até 2026, em cada capital de distrito,

tenhamos, pelo menos, um centro de crise para vítimas de violência sexual.

Por outro lado, Sr.as e Srs. Deputados, alinhados também com as boas práticas que existem noutros países,

pretendemos que as vítimas possam aceder a algo tão básico como os kits de higiene pessoal, roupa e outros

recursos emergenciais, para que elas não tenham de sair do hospital tal como entraram.

Não podemos aceitar que reine a impunidade da violência — em particular da violência sexual, Sr.as e

Srs. Deputados —, incluindo a violência baseada em imagens, e que, mesmo com uma lei já em vigor, não se

tenha mexido um milímetro na forma como a sociedade olha para os homens que partilham e acedem a estes

conteúdos.

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E, por isso mesmo, é tempo de termos mais apoio especializado às vítimas, campanhas de sensibilização e

divulgação, mas também a divulgação periódica dos dados estatísticos do Portal Violência Doméstica, para que

estes fenómenos possam ser, efetivamente, erradicados.

Precisamos de sensibilizar para as várias dimensões deste tipo de violência e para a implementação de

ações de formação específica, destinadas a magistrados ou a outros agentes de justiça, e para as campanhas

nacionais de sensibilização para os instrumentos ao dispor das vítimas.

Sr.as e Srs. Deputados, a violência sexual contra mulheres, seja qual for a sua dimensão, termina, sabemos,

em quem opta por respeitar, por não partilhar ou por não instigar.

Mas, quando tal não acontece, compete a todas e a todos nós quebrar este ciclo, não permitir o silêncio, não

permitir que a vergonha fique do lado da vítima e não permitirmos, acima de tudo, a impunidade. E tenho a

certeza de que as vítimas contam com todas e todos nós, deste Parlamento, aqui e agora.

Aplausos do BE, do L e de Deputados do PS.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Encerrámos este último ponto da nossa ordem de trabalhos, mas

temos ainda alguns anúncios para fazer.

Sr. Deputado Pedro Delgado Alves, pede a palavra para que efeito?

O Sr. Pedro Delgado Alves (PS): — Para uma interpelação à Mesa, Sr.ª Presidente.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. Pedro Delgado Alves (PS): — Sr.ª Presidente, era só para retificar uma informação que dei,

erradamente, há instantes. Referi que houve uma conferência do CENJOR esta manhã, quando, na verdade, é

CoLABOR, que é o Laboratório Colaborativo para o Trabalho, Emprego e Proteção Social. Era só para retificar,

para que não fique o lapso.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Fica corrigido, Sr. Deputado.

Passo, então, a palavra ao Sr. Secretário Jorge Paulo Oliveira, para prestar à Câmara informações

relevantes.

O Sr. Secretário (Jorge Paulo Oliveira): — Muito obrigado, Sr.ª Presidente.

Em primeiro lugar, queria informar a Câmara que deram entrada na Mesa, e foram admitidas pelo

Sr. Presidente, as seguintes iniciativas: o Projeto de Lei n.º 342/XVI/1.ª (BE) — Reforça a regulamentação dos

Serviços Municipais de Proteção Civil (terceira alteração à Lei n.º 65/2007, de 12 de novembro) e os Projetos

de Resolução n.os 396/XVI/1.ª (CH) — Recomenda ao Governo que desbloqueie as verbas necessárias para a

requalificação da Escola Básica 2/3 de Azeitão, 397/XVI/1.ª (CH) — Recomenda ao Governo a criação da

carreira de técnico auxiliar de educação, 398/XVI/1.ª (BE) — Recomenda ao Governo que declare Israel Katz,

Ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, persona non grata em Portugal, 399/XVI/1.ª (CH) — Recomenda

ao Governo que assuma a prioridade do desenvolvimento do Porto Seco, na Guarda, 400/XVI/1.ª (PCP): —

Classificação da obra de Adriano Correia de Oliveira como de interesse nacional, 401/XVI/1.ª (CH) —

Recomenda a revisão da legislação referente à emissão das licenças para redes de tresmalho «majoeiras» e

402/XVI/1.ª (CH) —Recomenda ao Governo a requalificação do Portinho de Mar de Vila Praia de Âncora

(PMVPA).

Informo igualmente a Câmara que participaram dos nossos trabalhos, por videoconferência, as

Sr.as Deputadas Olga Freire e Ângela Almeida e os Srs. Deputados Hugo Carneiro, Ricardo Carvalho, Telmo

Faria, Paulo Cavaleiro e Luís Newton, todos do Grupo Parlamentar do Partido Social Democrata. É tudo,

Sr.ª Presidente.

A Sr.ª Presidente (Teresa Morais): — Srs. Deputados, a nossa ordem do dia para amanhã tem como primeiro

ponto a realização de eleições para um juiz do Tribunal Constitucional e dois membros da Comissão

Independente de Acompanhamento e Fiscalização das Medidas Especiais de Contratação Pública (CIMEC).

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Seguir-se-á, num segundo ponto, o debate, na generalidade, da Proposta de Lei n.º 21/XVI/1.ª — Transpõe

para a ordem jurídica interna a Diretiva (UE) 2022/2523, relativa à garantia de um nível mínimo mundial de

tributação para os grupos de empresas multinacionais e grandes grupos nacionais na União.

Do terceiro ponto da nossa ordem de trabalhos consta a discussão, na generalidade, da Proposta de Lei

n.º 11/XVI/1.ª (GOV) — Autoriza o Governo a alterar o Código do IRC, quanto ao requisito da dupla tributação

económica.

No quarto ponto teremos o debate, na generalidade, da Proposta de Lei n.º 25/XVI/1.ª (GOV) — Altera o

Regime Jurídico das Autarquias Locais, em matéria de publicidade das deliberações conjuntamente com o

Projeto de Resolução n.º 232/XVI/1.ª (L) — Recomenda a publicação da portaria que fixa a tabela de custos

para a publicação das decisões autárquicas nos órgãos de comunicação social locais e regionais.

O último ponto consiste em votações regimentais, às 12 horas.

É tudo por hoje, Sr.as e Srs. Deputados, muito obrigada.

Está encerrada a sessão.

Eram 19 horas e 16 minutos.

Presenças e faltas dos Deputados à reunião plenária.

A DIVISÃO DE REDAÇÃO.

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