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24 DE OUTUBRO DE 1986

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ê também por isso que nas Grandes Opções do Plano para 1987-1990 se dá uma tão grande ênfase à dimensão cultural. A relativa fragilidade de Portugal, no quadro geral da Comunidade Europeia, recomenda que o País se fortaleça culturalmente. A razão da prioridade que se dá à cultura não é, por isso, exclusivamente cultural. É também económica e política. Entende-se que assim Portugal melhor pode aproveitar as novas oportunidades e minimizar as vulnerabilidades que se apresentarão durante os primeiros anos de plena participação na Comunidade Europeia.

E voltamos à grande questão: reencontrando-se rapidamente consigo próprios, os Portugueses estarão melhor habilitados para se encontrarem proveitosamente com a Europa, por um lado, e para possibilitar à Europa o encontro com as capacidades plenas dos Portugueses, por outro.

Para tanto é preciso, antes do mais, imaginar Portugal com precisão e rigor. A imaginação de Portugal, como entidade que congrega em si um passado, apresenta uma condição necessariamente insatisfatória e exige uma encarnação futura. Não pode ser uma mera ilusão, vaga e indefinida.

Para já, tem de se imaginar um Portugal que se queira —este e não aquele, assim mesmo e nunca de outra maneira— e um Portugal que se possa, no quaJ se acredite nele e nesse seu poder.

Não se pode é escolher tudo, o que equivale a não escolher nada.

Não se escolhe quando se quer que, por exemplo, Portugal seja, a um tempo, do Oriente e do Ocidente, do Norte e do Sul, da Península e da Europa, da terra e do mar. Escolhe-se mal quando se ignora que nenhum daqueles pólos é estranho a Portugal. A escolha esclarecida é a que corresponde à grande vocação do País neste domínio: a de se assumir como uma ponte entre tempos, lugares, mercados e civilizações. Uma ponte é um lugar que une espaços, onde se passa, onde se cruza. Onde se paga portagem. Portugal já levou navios —pontes moveis— que uniram distâncias pelo mar, com a madeira das naus e o ferro da vontade dos homens.

Hoje, o Mundo conhece-se geograficamente. Acabados os impérios, vai-se definindo politicamente. Porém, os países continuam ainda afastados como sempre— culturalmente. Existem os meios áudio-visuais para aproximá-los, mas falta a vontade, e sobra o medo «chauvinista», de os aproximar. Portugal é capaz de ser a ponte entre esses lugares, capaz de lucrar com essa união e de se regozijar com ela.

Portugal tem uma experiência singular de convivência com outras culturas. Concorreu para o surgimento de «novas culturas», nascidas da simbiose entre a cultura portuguesa e outras cultras (a indiana, a africana, a americana). Por isso, é um «lugar» privilegiado de encontro entre culturas.

Trata-se de uma missão maior esta de promover convergências e a convivência entre culturas. Trata-se, por outro lado, de um meio —porventura o único — de Portugal não ficar amputado de uma parte do que é, a partir da sua experiência extra-europeia.

Portugal pode ser uma ponte entre essas culturas, um lugar de união onde as cultras se sintam em casa e assim possam ser visitadas por outras. A vocação e vontade de Portugal é ser anfitrião. Convidando o mundo a vir cá, dando o mundo a conhecer, e a conhecer-se. Quase nada temos a perder e tudo a ganhar.

Como «zona franca cultural» sem receios de se desnacionalizar, já que Portugal deve a sua nacionalidade ao confronto com o Mundo, podemos ganhar com as diferenças que afastam os outros países. Não há desonra em ser intermediário — em proporcionar encontros, em criar espaços de reunião e entendimento. Reunir o que estava disperso é uma forma corajosa de criação.

Daí a nossa vocação de ponte territorial e cultural, de lugar atlântico de congregação. Para mais, é importante compreender que, na Europa e no Mundo, Portugal não é tanto um país do Sul da Europa — porque há muitos outros —, mas também um país do Oeste, do Ocidente Atlântico.

Sendo assim, Portugal, tanto no que lhe vem do passado como no que lhe promete o futuro, é um espaço de união e reunião, atlântico e ocidental.

3 — Contexto geo-estratégico: a segurança na Europa e no Mundo

O conjunto complexo de problemas que influenciam directamente a segurança europeia e mundial é preocupação permanente, na medida em que tais problemas afectam de forma determinante o clima de paz c estabilidade necessário ao progresso cultural e económico. A segurança, o bem-estar e a liberdade, sendo bens inestimáveis e inseparáveis, fazem parte do ideário dos povos civilizados e todos os esforços despendidos para os preservar e reconquistar quando perdidos têm, por norma, o apoio da generalidade dos cidadãos. A realidade do tempo presente no hemisférico norte caracteriza-se pela existência da confrontação «Pacto de Varsóvia-OTAN», consequência das sequelas da Segunda Guerra Mundial, e c dominada, de forma preponderante, pelas duas superpotências. As relações entre estas nunca foram fáceis e são influenciadas por um clima de suspeição mútua que nem mesmo as diversas iniciativas de diálogo empreendidas por ambas as partes e apoiadas interessadamente por um grande número de nações, nos mais variados/oro internacionais, conseguiram desvanecer. Os resultados até agora obtidos terão de considerar-se pouco menos do que frustrantes, se tivermos em conta as expectativas alimentadas no sentido de se caminhar a passos seguros para uma situação de «distensão» das relações internacionais.

Apesar de novas iniciativas tomadas nos dois últimos anos pelos EUA e pela URSS, o Mundo, em 1986, não apresentou maiores índices de segurança do que nos anos anteriores.

O uso da força para atingir objectivos e aspirações nacionais continua a dominar a cena internacional.

A guerra entre o Irão e o Iraque, a ocupação do Afeganistão por tropas estrangeiras, a confrontação israelo-árabe, a situação caótica vivida no Líbano, as tensões na América Central, na África do Sul, no Sudeste Asiático, o terrorismo internacional, etc, são disso exemplo ilustrativo.

As nações, de acordo com a percepção dos perigos que correm em função das atitudes de terceiros e do inter-relacionamento complexo de interesses em disputa, legítima e assisadamente, sempre procuraram constv tuir o seu dispositivo de defesa, em antecipação à eclosão de situações de ruptura. A posse de armamentos, na quantidade e qualidade adequadas, não é. em si