O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

12 DE JULHO DE 1990

1581

mas que, nos finais da dinastia, ainda permitia passagem a grande número de navios, alguns dos quais da frota do bacalhau.

A barra — a actividade portuária, a indústria do salgado, a vida económica e até a salubridade da região — será motivo de esperança e desânimo durante os séculos xvii e xviii, em que os frutos da zona vão procurar saída pelo Porto e Figueira da Foz e, mais do que os frutos, os homens do mar.

Com a Restauração, a barra está na Vagueira (1643), mas teima em situar-se mais a sul: declinam o porto e salinas, incentivam-se as fainas de terra. Em 1671, a Capela da Coutada tem as obras que a data assinala na porta; em 1677 a Gafanha tem moradores e paulatinamente toda a sua orla irá deixar de ser o pasto de carneiros e touros; o bispo de Miranda e reitor da universidade compra a Quinta da Vista Alegre para aí levantar o solar e o magnífico panteão nos finais do século.

Em 1700, Aveiro está porto seguro. E a corografia do P.e Carvalho da Costa regista 500 fogos (cerca de 2000 habitantes) em Ílhavo. Mas em 1757, o capitão--mor de Ílhavo (João de Sousa Ribeiro) tem de mandar abrir à sua custa o regueirão na Vagueira para que as águas da ria possam sair. E as Informações Paroquiais de 1758 registam 2947 moradores na freguesia, cuja maioria vive da pescaria.

São preciosas de pormenor essas informações: lugar por lugar, as produções, as casas, as ruas, capelas e oratórios, quintas e pessoas ilustres. «[...] A terra tem um porto chamado Juncalancho [... ] no meio da vila fica a praça pública bastante pequena para o tráfico das gentes e comerciantes [...] carris e vielas com inumeráveis casas e casinhas, quanto baste limpas e asseadas à maneira de células de abelhas [...]» o pároco adverte mesmo que Ílhavo é palavra esdrúxula e transmite a historieta — a que não dá crédito — da neta que diz ir «à ilha, avó» para explicação do topónimo.

É o mesmo pároco João Martins dos Santos quem encabeça a construção da nova matriz sobre a destruição da anterior, exígua para o elevado número de fregueses e cujas obras decorrem desde 1774 (primeira pedra a 3 de Outubro) até à inauguração. E é das diligências para obter comparticipação da coroa que conhecemos quanto custara à população a célebre lâmpada de prata.

É desse priorado a construção da Capela das Almas, na vessada que separava Ílhavo de Alqueidão. E ao mesmo prior se deve a criação de um recolhimento para velhos marinheiros pobres nas proximidades dessa capela.

Os sobressaltos do século xix também atingem Ílhavo.

É a guerra: as pratas da paróquia são saqueadas por Junot (salvou-se a custódia) durante as invasões francesas; a bandeira e o cantil de vidro no Museu lembram os voluntários da rainha D. Maria II, equipados por Pinto Bastos nas guerras liberais.

É o fomento: a Barra Nova (dos engenheiros Reinaldo Oudinot e Luís Gomes de Carvalho), aberta em 1908; a ponte de Juncal Ancho, construída em 1862; a estrada nacional n.° 109.

É a revolução industrial: o magnate José Ferreira Pinto Basto compra a Quinta da Vista Alegre (1815) e aí instala a fábrica de vidros e cristais (1824) com

o seu transporte próprio por camelos ao longo dos areais e que, depois da descoberta do caulino (operário Luís Capote), se dedica à produção da porcelana.

Hoje o Museu da Vista Alegre é o repositório vivo da capacidade artística dos Ilhavenses.

É a reforma administrativa: a Lei de Mouzinho da Silveira de 13 de Agosto de 1832 extingue os forais e anula as doações régias; o concelho da Ermida incorpora-se no de Ílhavo; os lugares de Sá e Verde-milho são incorporados no concelho de Aveiro; o Decreto de 31 de Dezembro de 1853 desanexa do concelho de Ovar o lugar da Gafanha e a parte da costa a sul da Barra Nova (Ovar, do bispo do Porto, era senhora dos areais até à Barra — Barra Velha) e incorpora-os no concelho de Ílhavo (o Decreto de 24 de Outubro de 1855 confirma definitivamente, para efeitos judiciais e administrativos).

A própria Câmara altera a divisão tradicional: na sessão de 29 de Setembro de 1837 os lugares de Alqueidão, Casal e Lagoa são incorporados na vila.

Muitos sobressaltos, mas que não conseguiram alterar o velho ritmo da vida. Em 1843 lá encontra Garret os flhavos no Tejo, nos trabalhos sazonais, tal como o faziam — ainda continuam a fazer — ao longo da costa, dando origem a povoações que se reclamam de antepassados ilhavenses: Matosinhos, Buarcos, Nazaré, Caparica...

E os novos territórios? Os areais baldios foram transformados e ocupados de facto: palheiros de arrecadação e dormida tornaram-se casas de praia e de pescadores na Costa Nova; à tenacidade dos Gafanhões só escapou a mata semeada em 1887 pelo Estado e a carreira de tiro (1903); e mesmo a colónia agrícola (1936 — 16 de Novembro) não lhe consegue fugir. Vindos de todos os concelhos vizinhos da ria (ou até do Minho e Trás-os-Montes), tornam-se gafanhões para seguirem a antiga caminhada a bordo de navios.

Das várias surpresas que trouxe o século xix, a maior foi a última; por Decreto de João Franco de 21 de Novembro de 1895 o concelho de Ílhavo é suprimido e anexado a Aveiro. O desagrado de tal decisão levou ao restabelecimento do concelho por Decreto de 13 de Janeiro de 1898.

Em 23 de Junho de 1910 é criada a freguesia da Gafanha da Nazaré, em simultâneo com a criação da paróquia. Posteriormente, em 1926 e 1957, são criadas, respectivamente, as freguesias de Gafanha da Encarnação e Gafanha do Carmo, ficando desde então e até hoje uma divisão administrativa e religiosa composta por quatro freguesias e quatro paróquias, sendo a sede do concelho de Ílhavo, a freguesia de São Salvador, cujos limites geográficos são coincidentes com a vila de Ílhavo.

A par de uma agricultura tradicional, desenvolvem--se actividades de pesca longínqua, em que os Ilhavenses, capitães e pescadores, inscreveram nos mares frios da Gronelândia e da Terra Nova a chamada «epopeia do bacalhau». A pesca artesanal na ria de Aveiro complementava a economia agrícola, numa simbiose perfeita entre a terra e a laguna, para a prosperidade das suas gentes.

O pendor industrial, onde os Ilhavenses mostravam pouca capacidade empresarial, foi-se alargando pelos quadros operários formados na fábrica da Vista Alegre, encontrando nessa aprendizagem autonomia para

Páginas Relacionadas
Página 1583:
12 DE JULHO DE 1990 1583 A finalização do edifício municipal permitirá que igualmente
Pág.Página 1583
Página 1584:
1584 II SÉRIE-A — NÚMERO 58 os cuidados de saúde primários, serviço de atendimento pe
Pág.Página 1584