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16 DE MARÇO DE 1991

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Gerez, que se esbate desde o alto de S. Pedro Fins, para formar o extenso e formosíssimo vale do Bico, na confluencia dos dois rios — Homem e Cavado.

Ao meio de esta freguesia, na direcção nordcslc--sudoeste, desenvolve-sc uma daquelas ondulações, o monte do Lodeiro, que estabelece uma linha divisória de águas entre o vale do Alvito c o de Cabaduços, que, através da montanha, comunicam pelo sítio da Portelinha.

Esta depressão da Portelinha faz avultar o outeiro de S. Sebastião, de cabeço cónico, arborizado de pinheiros e carvalhos, muito pitoresco. E a meia encosta da vertente a oeste deste outeiro, que em lugar aprazível assenta a igreja paroquial, reedificada em 1749.

C) Razões de ordem histórica 1 — Introdução

Nas introduções históricas é muito frequente a tendência para recuar até ao começo dos tempos, atravessando a Antiguidade e mergulhando na penumbra infindável da Pré--Hislória.

Apesar de se referir aquela tentação generalizada, não se teme o risco de situar a origem de Caldelas à saída da Pré-História, visto que se encontraram, no cabeço de São Sebastião, inegáveis vestígios materiais de uma pequena povoação castreja, onde deverá ter vivido um reduzido número dc famílias de brácaros fundidos com os primeiros invasores celtas.

Decerto aqueles vestígios não bastam para descrever cm pormenor o modo de vida concreto daqueles povos. Contudo, o facto da sua posição geográfica numa região interior, assente numa pequena colina próxima do vale c marginada por dois cursos de água (um rio c um regalo), bem como a sua composição etnográfica, sugerem a convicção lógica de que a população primitiva terá vivido sobretudo da agricultura e complementarmente da caça e da pesca. E porque os vestígios pré-históricos são idênticos cm toda a região, também sc pode acrescentar que terá sido uma população pacífica e muito apegada à sua terra. Estas notas características perduram felizmente na actual população dc Caldelas.

O crescimento demográfico da povoação impôs naturalmente a necessidade de explorar a fertilidade do vale. Assim, a população entregou-se dc todo à agricultura, que constituiu, de facto, a sua actividade dominante até aos tempos modernos.

II — A «romanização»

Como se sabe, a antiga Braceara (Braga) foi uma das mais importantes jurisdições romanas da Península, lendo recebido do imperador César Augusto, no século i a. C, o título «divino» de Augusta.

A partir de Braceara Augusta, os Romanos abriram uma estrada imperial denominada «Gcira», que descia até ao rio Cávado, subia alguns quilómetros pela margem esquerda, atravessava para a margem direita na ponte romana (hoje conhecida pelo nome dc ponte do Porto), passava na encosta nascente do monte de São Pedro Fins, ao lado da povoação de Caldelas, e entrava na Galiza pela actual fronteira da Portela do Homem, seguindo para Roma, capital do Império Romano do Ocidente.

A Gcira era constantemente percorrida, nos dois sentidos, por soldados c mercadores romanos que entravam nas povoações vizinhas, os primeiros para se abastecerem dc víveres e os segundos para comercializarem os seus antigos.

Mas aqueles contactos de natureza militar e comercial n;lo terão sido apenas fortuitos episódios de passagem, visto que a frequência das visitas criava relações humanas e, sobretudo, dava origem à instalação de estabelecimentos comerciais que determinavam permanências mais ou menos longas em diversos locais.

O contacto da povoação de Caldelas com os Romanos é um facto histórico incontestável. Para o comprovar bastará enunciar os seguintes argumentos:

1.' Na povoação de Caldelas encontraram-se vários objectos romanos, designadamente fragmentos de cerâmica e moedas e duas lápides com inscrições latinas, referidas aqui por serem documentos escritos e, como tais, assinalarem a entrada da povoação de Caldelas na História propriamente dita;

2.9 Na fala popular de Caldelas distinguem-se bem a forte sonorização vocálica, o acento e o rilmo do latim vulgar, que era falado precisamente pelos soldados e mercadores romanos. Ora, é evidente que as propriedades características de uma língua não se assimilam em contactos fortuitos e passageiros, mas na convivência quotidiana;

3.° A ponte de Caldelas sobre o rio Homem é, sem dúvida, medieval e, por isso, posterior à presença dos Romanos. Mas na tradição popular e local persiste a designação de ponte romana. Este facto carece de uma explicação razoável c só sc compreende bem com referência a uma ponte anterior e construída no mesmo sítio ou muito perto dali pelos Romanos. Aliás, a construção de pontes era um meio primordial na romanização das províncias do Império Romano; e o desaparecimento da primitiva ponte romana explica-sc cabalmente com a passagem devastadora dos bárbaros.

Aqueles três argumentos (ainda que o segundo não seja exclusivo de Caldelas) denunciam claramente a passagem dos Romanos na povoação.

III — As invasões bárbaras

Após a conquista de Braccara Augusta (cm 456), os Visigodos, naturalmente, multiplicaram as suas incursões por toda a região para apagar os vestígios do poder romano, estabelecendo o seu domínio absoluto. Pode ter ocorrido naquele período (é uma presunção lógica), como medida dc estratégia militar bárbara ou simplesmente por aversão racial aos Romanos, a destruição da ponte romana de Caldelas, que a tradição popular ainda não esqueceu.

Neste ponto não se pode ir além da conjectura, já que não se conhecem em Caldelas marcas positivas da passagem dos bárbaros.

IV — A Idade Media

Com a expansão europeia da Ordem Beneditina (a partir de meados do século vi), por iniciativa ou inspiração dc monges de grande prestígio espiritual e humano, a regra

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