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II SÉRIE-A — NÚMERO 32

primitiva dc São Bento sofreu ligeiras adaptações locais que deram origem a novas ordens religiosas, entre elas a de Cister, promovida por São Bernardo, conservando todas a vocação beneditina para a conversão o formação dos povos. Surgiram assim muitos e diversos mosteiros por toda a parte.

Então, a Europa, em ruínas e sob o domínio dos bárbaros, começou a reorganizar-se à sombra da Igreja, que, pacientemente, com a força sobrenatural da fé c com os recursos humanos da ciência c da cultura clássiras, salvaguardadas nos manuscritos dos conventos, converteu, baptizou, instruiu e educou os bárbaros. Foi por isso que os aglomerados urbanos se desenvolveram em torno das catedrais e as povoações rurais se dispuseram à volta das igrejas e dos conventos.

Naquela linha histórica apareceram mais tarde, nos Fins do século xi e no começo do século xn, os Mosteiros de Rendufe e de Santa Maria de Bouro.

V — A «influfincla árabe»

A reorganização polílico-religiosa da Península Ibérica nos dois primeiros séculos da Idade Média, operada com o dinamismo das populações, o apoio da Igreja e a conversão dos bárbaros, sofreu um longo compasso de espera de peão de quatro séculos com nova invasão.

Com efeito, vindos do Norte de África através do estreito de Gibraltar, impelidos furiosamente pelo fanatismo religioso do Islão e também atraídos pela fertilidade das terras peninsulares, os Árabes (Mouros, na linguagem popular) invadiram a Península, subjugando-a em 711.

Contudo, o domínio árabe na Península nunca foi pacífico nem total, apesar da sua duração de vários séculos.

Com efeito, em locais dispersos c menos acessíveis, designadamente nas montanhas, constituíram-se núcleos de resistência que não toleravam o domínio nem a religião islâmica dos invasores e, depois, se juntaram ao incipiente Reino das Astúrias, donde veio a irromper, com a participação acüva e pessoal dos bispos, abades e fiéis, o movimento imparável da Reconquista, que esteve na origem da formação dos vários reinos peninsulares.

Na povoação de Caldelas não se apontam vestígios materiais da presença dos Árabes, mas há indícios indesmentíveis da sua passagem na região ou, pelo menos, de contactos com as populações.

De facto, verificam-sc reminiscências profundas que evocam imagens dc força c de magia na imaginação popular com referência aos Mouros.

Assim, com a passagem dos Árabes pela região cxplica--se bem a origem das tradições locais e lendárias que atribuem aos Mouros obras mágicas, executadas em noites de luar, e que fantasiam em cavernas, poços ou grutas naturais e em certos rochedos o encerramento dc mouras encantadas que não tiveram tempo de fugir diante do ímpeto da reconquista cristã.

Em Caldelas há dois exemplos curiosos daquela fantasia popular: o primeiro é a atribuição anacrónica da construção da ponte romana aos Mouros numa só noite, c o segundo é o Penedo da Moura, onde a prisioneira árabe estendia ao sol as suas arrecadas de ouro, que ninguém se atrevia a locar.

No domínio do real é evidente o reflexo da passagem dos Árabes nas seguintes expressões da linguagem popular: «trabalhar como um mouro»; e fulano «é um mouro dc

trabalho». Ao falar assim, o povo faz uma comparação, mas, para fazer uma comparação com os Mouros, o povo precisou de os conhecer ames.

VI — O aparecimento dc Caldeia* e suas termas

Nos tempos da Reconquista c das lutas da independência existiam na região de Caldelas aglomerados rurais pequenos e dispersos com nomes comuns dc origem romana (villas e quintas). É curioso observar que ainda hoje, passados oito séculos, subsistem aqueles nomes em dois lugares de Caldelas: o lugar da Vila e o lugar da Quinta.

A divisão eclesiástica do território fez-se em bispados e estes em arcediagos e arquidiaconatos, que, por sua vez, se dividiam em paróquias ou freguesias.

Em documento eclesiástico de 1145 há notícia de uma divisão de arcediagos em Braga entre o arcebispo c o seu cabido. Tratou-se de direitos de igrejas, herdades e rendimentos. Naquela divisão referem-se os nomes de freguesias vizinhas de Caldelas (como a Torre e São Vicente) e o arquidiaconato de Entre Homem e Cávado. Como é óbvio, Caldelas estava na área daquele arquidiaconato, mas o seu nome não consta expressamente no documento.

Cabe aqui uma observação que poderá fazer alguma luz sobre a omissão do nome de Caldelas no documento anterior e, simultaneamente, sobre a sua inclusão no documento que se refere mais abaixo. Apesar da sua inserção na Diocese de Braga, Caldelas foi terra da Comenda de Cristo e, por isso, deteve até 1918 o título de reitoria; só pelas constituições bracarenses daquele ano Caldelas se converteu em abadia.

No começo do século xm abriu-se um litígio entre o arcebispo de Braga e os reitores de várias igrejas que se recusavam a pagar direitos a cúria diocesana. O papa Inocêncio III, por bula de 1208, encarregou o deão de Zamora de decidir o pleito entre o arcebispo de Braga D. Martinho e os reitores daquelas igrejas. Entre as freguesias referidas do documento consta expressamente o nome dc Sant'Iago de Caldelas.

A referência de Caldelas naquele documento não é lisonjeira, mas demonstra que a freguesia de Caldelas já tinha existência canónica em 1208. Esta informação é muito importante.

As Inquirições de 1220 mencionam-na em «Terra» de Bouro, dizendo que o «rex non est patronus». Foram anexas de Caldelas as paróquias de Lanha e Vilarinho. Administrativamente, foi da «Terra de Bouro» já desde antes da nacionalidade.

O nome «Caldellas» (grafia antiga) é todo de origem latina e o seu significado relaciona-se directamente com as nascentes mineromedicinais.

De facto, etimologicamente, o vocábulo «Caldellas» é uma palavra derivada do étimo latino «calda» (que significa água quente) com o sufixo diminui tivo «ella», também latino (que junta a ideia de pequenez). Os dois elementos formaram o nome «Caldellas», que se adoptou no plural por se referir a duas nascentes.

O significado do nome è evidente e a ideia de pequenez derivou do facto de se aplicar a duas nascentes espremidas entre rochas e, por isso, pequenas ou com um débito inicialmente bastante reduzido.

Assim, o nome «Caldellas», literalmente, significa pequenas nascentes de água quente.

A análise etimológica do nome «Caldellas» sugere algumas observações de especial interesse.

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