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5 DE MARÇO DE 1998

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PROJECTO DE LEI N.º 476/VII

CRIAÇÃO DO CONCELHO DA LIXA

Nota justificativa

Não se conhece bem a origem da palavra «Lixa». Para uns derivará, por corrupção, de «lisa», adiantando os defensores desta tese que antigamente, quando na terra não existia uma casa sequer, chamavam «serra lisa» ao terreno elevado, mas plano, que principiava na Cerdeira das Ervas e acabava no Alto da Lixa. Para outros, o nome advém-lhe de uma valorosa mulher romana que, nas guerras do seu tempo, ganhou o estatuto de heroína, muito se celebrizando. Em abono desta versão, estaria o próprio significado da palavra latina «lixa», que era o de «mulher servente no exército, vivandeira». Para outros, ainda, a Lixa hodierna teria sido filha, genuinamente heráldica, da românica Lixia. Contudo, Maurício Antonino Fernandes (in A Vila da Lixa — Escorço Histórico da sua Formação) é peremptório em rejeitar todas estas teses, apoiando-se no filólogo francês Junet. Este autorizado filólogo, ao estudar o vocábulo «luxeil», no seu Dictionnaire Étymologique Latin, dá-o como proveniente de «luxae» ou «luxovium» e da família de «Lixa», termos celtas que não só significam fonte, nascente, mas ainda divindade ligada ao culto das águas e das estâncias termais. De facto, parece ser esta a explicação filológica mais adequada.

A Lixa existe desde há muitas centenas de anos. Com efeito, já no roteiro das vias romanas, mandado traçar pelo imperador Antonino, aparece como uma das passagens obrigatórias para os soldados e caminheiros de «Bracara» para «Astorga». A antiga Rua da Lixa, pela sua largura, pelo seu empedrado, pelo aspecto de algumas das suas casas mais antigas, parece atestar isto mesmo. Outros factos que também parecem confirmar esta realidade são os restos de um castro no Alto do Ladário e moedas de cobre de Tibério e Constâncio encontradas na quinta da residência paroquial de Vila Cova da Lixa (Eduardo de Freitas, Felgerias Rúbeas). Ora, se se tiver em consideração que as moedas de Tibério poderão abarcar um período de tempo que vai do ano 42 a. C. a 37 d. C, chegaremos facilmente à conclusão de que os primeiros habitantes se terão fixado por cá há mais de 2000 anos. No século xt terá sido uma grande propriedade rústica de alguma ilustre personagem, aparecendo a villa da Lixa referenciada num documento deste século, da era de 1079, transcrito por J. P. Ribeiro em duas das suas obras. Por outro lado, Pinho Leal afirma, na sua obra Portugal Antigo e Moderno, que na povoação existiu, desde tempo anterior à fundação da nacionalidade portuguesa, um convento de freiras beneditinas, que, tudo indica, estiveram por cá pouco tempo. Aliás, a fundação da igreja de Borba de Godim atribui-se a D. Arnaldi, um descendente do duque de Espoleto que por estas bandas andou na guerra contra os Mouros. A igreja matriz de Vila Cova da Lixa (a primitiva e não a de agora) também foi de origem românica e em Macieira da Lixa apareceu um cristelo e a cerca de 2 km deste apareceram bastantes sepulturas, formadas por tégulas.

As primeiras edificações da Lixa surgiram próximas da Capela de Santo António, ordenadas na forma de uma pequena rua, denominada de Rua Velha ou Rua da Lixa. Estas edificações foram-se progressivamente estendendo, mais para sul, prolongando-se para além do minúsculo Largo da Cruz. (hoje, Largo de l de Abril), nome que lhe advinha do facto de aí se cruzarem a Rua Velha e a estrada vinda da nascente das terras de Basto. Esta estrada, contornando os campos e montes, subia ao Ladário até ao encontro da es-

trada vinda do litoral e poente e de Penafiel. Ligava Guimarães a Amarante e Vila Real de Trás-os-Montes; entrava no concelho de Felgueiras por uma ponte em Vila Fria, atravessava Pombeiro, cruzava Padroso, passava em Margaride e, depois de atravessar Várzea e Caramos, seguia pela Espiúca à Lixa e daqui descia para Amarante, para depois subir até Vila Real. Esta via foi aquela que muitos peregrinos calcorrearam, mas em sentido inverso, para irem desde terras de além-Marão até à terra castelhana de Santiago de Compostela, propagando o culto ao Apóstolo. Já nas últimas décadas do século xix, com a construção da estrada real da Lixa a Ponte de Lima e consequente cruzamento no Alto da Lixa, a Lixa passou a ser o fulcro central e rodoviário de todas as vilas e cidades dessas províncias administrativas.

O prolongamento para além do Largo da Cruz veio a chamar-se Rua Nová, por contraposição precisamente à Rua Velha, e onde se terão criado estalagens e cómodos para os viandantes que por aqui passavam. Mas para além das edificações na Rua Velha, no Largo da Cruz e na Rua Nova, construíram-se também casas ao longo de toda a ala nascente da estrada até ao Ladário e, mais tarde, nos séculos XVIII e XIX, também do lado poente.

Entre as terras que deixaram o seu nome ligado às lutas fratricidas travadas entre liberais e absolutistas conta--se a Lixa. Com efeito, no espaço territorial compreendido entre a hoje denominada Capela de Nossa Senhora das Vitórias e a Capela da Franqueira (demolida em Abril de 1970) travou-se em 2 de Abril de 1834 um combate entre o exército do rei D. Miguel, comandado pelo brigadeiro José Cardoso, e o do rei D. Pedro IV, comandado pelo general José António da Silva Torres, que usou os títulos de barão do Pico do Celeiro, visconde da serra do Pilar e de par do Reino. Os absolutistas foram obrigados a fugir para Amarante e, depois de atravessarem a ponte sobre o Tâmega, seguiram para Trás-os-Montes. Este combate acabou por limpar o Minho das forças miguelistas, e com o Norte do País perdido, D. Miguel acabou por retirar-se para o estrangeiro, contribuindo assim para que mais depressa se chegasse à Convenção de Évora Monte. Esta realizou-se em 26 de Maio de 1834, tendo D. Maria II, filha de D. Pedro IV de Portugal e I do Brasil, ocupado o trono.

A partir da vitória das suas hostes na Lixa, os liberais lixenses começaram a chamar a uma imagem de Nossa Senhora da Aparecida, venerada numa capelinha que existiu ao lado da actual da Senhora das Vitórias, a Senhora da Vitória, promovendo-lhe no princípio do mês de Setembro de cada ano grandiosas festas, que ainda hoje atingem grande relevo. Anteriormente à realização de tais festas já se efectuava na Lixa, na primeira segunda-feira de Setembro, a Feira das Uvas, como se pode constatar, por exemplo, lendo o Só, de António Nobre (este poeta conhecia bem Lixa, tendo chegado a passar aqui férias, já que seu pai, José Pereira Nobre, era natural da Lixa, mais precisamente da freguesia de Borba de Godim).

A povoação da Lixa foi elevada à categoria de vila pelo Decreto n.° 22 382, de 1 de Abril de 1933, decreto esse que tinha sido aprovado em Conselho de Ministros realizado em 8 de Março desse ano. E, assim, foi progredindo a vila da Lixa, até que o bairrismo e esforços desenvolvidos pelas suas gentes vieram a ser reconhecidos pela Assembleia da República no dia 21 de Junho de 1995 que, por unanimidade, deliberou elevar a vila da Lixa à categoria de cidade—Lei n.° 39/95, de 30 de Agosto.

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