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3859 | II Série A - Número 094 | 15 de Maio de 2003

 

tomaram o capital social da Lisnave em 1963. O objectivo da empresa assim reformulado era o de construir e operar um estaleiro com capacidade suficiente para que pudesse receber os maiores navios que existiam no Mundo, tendo em especial atenção o previsto aumento de tráfego na Europa Ocidental, no Mediterrâneo e no Atlântico.
Em 1964 começa a construção do estaleiro da Margueira, projectado para proceder à reparação de grandes navios e inaugurado em 1967, sendo possuidor, a partir de 1971, da maior doca seca do Mundo.
De resto, a Lisnave manteve elos de ligação de formas diversas com estaleiros espalhados pelo Mundo, como são os casos da Setenave, Cabnave, em Cabo Verde, Estalnave, Sorefame e Sayde Mingas, em Angola, Guinave, na Guiné-Bissau, Emana, em Moçambique, Asry, no Bahrain, e Isry, na Arábia Saudita.
No fim da década de noventa, a Lisnave encerrou as suas actividades em Almada, deslocalizando para a Setenave os seus equipamentos e parte do pessoal, enquanto a maioria dos trabalhadores acabou por ser dispensada.
Resta em Almada o estaleiro do Arsenal do Alfeite, virado por razões estratégicas exclusivamente para o seu único cliente, que é a Armada.

Primeiras iniciativas para a preservação museológica
IX

A concentração industrial que integrava no concelho de Almada a Lisnave, o Arsenal do Alfeite, a Sociedade de Reparação de Navios, a Companhia Portuguesa de Pesca, o H. Parry & Son, a Sociedade Nacional dos Armadores do Bacalhau, empregava cerca de 15 mil trabalhadores nos anos 70 do séc. XX tendo diminuído o seu peso com o encerramento sucessivo destas empresas. No cálculo de trabalhadores ligados à indústria naval não estão contabilizados os trabalhadores de pequenas empresas metalúrgicas e metalomecânicas ou de electricidade naval e outras, que no conjunto acabavam por empregar um número significativo de trabalhadores e que acabaram, muitas delas, por encerrar dado que os seus clientes preferenciais cessaram a actividade. Esta situação provocou uma grave crise económica e social em toda a margem sul tendo alterado a sua composição económica, remetendo o sector de serviços para o primeiro lugar na estrutura económica da região quando, até aí, o sector secundário era primordial.
Esta rápida alteração na estrutura económica, com o fecho e desmembramento das empresas da área da construção, reparação naval e pescas, originou igualmente a perda de um património industrial muito importante e a perda de referências da população da zona ribeirinha do Tejo.
Sendo uma actividade especializada, o desaparecimento destas empresas lançou para o desemprego um número significativo de operários especializados, formados ao longo de décadas nas escolas das empresas, cuja colocação noutras empresas, quer pela especialização quer, muitos deles, pela idade, era muito difícil. Assim, à perda de um importante património industrial junta-se um património humano ímpar e que acabou abandonado à sua sorte.
Em 1984, com a criação do Museu Municipal de Almada, iniciou-se a recolha de materiais da indústria naval, quer das empresas de construção e reparação naval quer das pescas contudo, tratando-se de um património que se situava maioritariamente no concelho de Almada, pela dimensão e importância tinha um âmbito claramente nacional, ultrapassou rapidamente a capacidade de recolha e tratamento do Museu.
Com o encerramento das empresas seguia-se a venda do seu equipamento cujo destino foi, na maioria dos casos, o ferro-velho e a refundição.
Das raras excepções a esta situação, a Companhia Portuguesa de Pesca, onde se localizaram algumas pequenas empresas do sector, acabou por conservar em parte das suas instalações as oficinas e equipamentos da antiga Companhia. Hoje ainda se encontram apetrechadas as oficinas de fundição, serralharia e caldeiraria, as quais poucas alterações sofreram desde a constituição da Companhia Portuguesa de Pesca em 1920.
Sendo uma das últimas empresas com instalações construídas de raiz e adequadas às funções e com equipamentos ainda conservados no local e outros em reserva no Museu Municipal de Almada, sendo uma actividade cuja dimensão nacional é inegável e cujo património é cada vez mais escasso, até porque sofreu uma profunda evolução tecnológica, é fundamental e sem perda de tempo criar o Museu Nacional da Indústria Naval, pelo peso secular da região de Lisboa, e particularmente da margem sul do Tejo, e pelas razões apontadas, situá-lo nas instalações da antiga Companhia Portuguesa de Pesca.
Acresce que toda a zona ribeirinha adjacente a estas instalações foi fruto de uma profunda intervenção da Câmara Municipal de Almada no âmbito do Programa de Reabilitação Urbana NovAlmadaVelha, tendo reconstruído a Fonte da Pipa, local onde as embarcações que saíam para as descobertas faziam a agoada, criado o Jardim do Rio e o Elevador Panorâmico, que requalificaram o espaço e criaram novas acessibilidades ao local, tornando um espaço de lazer muito aprazível.

Defender o sector naval, valorizar a sua memória e identidade
X

Apreciando em perspectiva a evolução histórica da indústria da construção e reparação naval, bem como a sua importância social e económica para todo o País e para a região da grande Lisboa - com especial destaque, nos últimos séculos, para o concelho de Almada na margem sul do Tejo - conclui-se que um precioso património da nossa memória colectiva e identidade cultural tem ficado aquém do digno tratamento e da fruição que poderia (e deveria) merecer.
Sendo vital para o desenvolvimento económico do País a defesa e a valorização da indústria naval portuguesa, dos seus trabalhadores, da sua tecnologia e dos pólos de actividade que tem dinamizado, não podemos ignorar que as opções de sucessivos governos têm resultado no desmantelamento generalizado do sector produtivo nacional, em que a indústria naval assumiu e assume um papel fundamental.
É indispensável inverter o curso das políticas que têm vindo a ser seguidas e apostar na defesa e no desenvolvimento da indústria nacional da construção e reparação naval, um sector com uma tradição de inovação e de vanguarda técnica, consolidada ao longo dos séculos no saber dos seus trabalhadores.
Por outro lado, afirmar e valorizar esse saber, essa inovação e essa evolução histórica passa também pela promoção

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