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II SÉRIE-A — NÚMERO 63 32

PROJETO DE RESOLUÇÃO N.º 202/XIII (1.ª)

RECOMENDA AO GOVERNO QUE DESENVOLVA TODOS OS ESFORÇOS JUNTO DO ESTADO

ESPANHOL PARA O ENCERRAMENTO DA CENTRAL NUCLEAR DE ALMARAZ

A central nuclear de Almaraz, no Estado espanhol, é a central nuclear mais próxima de Portugal. Situa-se a

apenas uma centena de quilómetros da fronteira. Os dois reatores nucleares entraram em funcionamento em

1981 e 1983, sendo dos mais envelhecidos do Estado espanhol, o que levanta preocupações, agravadas pelos

sucessivos incidentes registados. Não obstante, os governos de Madrid têm respondido às autoridades regionais

da Extremadura, tal como ao Governo da República Portuguesa, invocando "garantias de segurança". Assim foi

de novo agora, como informou no Parlamento o Primeiro-Ministro António Costa.

Em maio de 2015, era noticiado o desleixo na vigilância contra incêndios na central nuclear. Pouco depois,

no verão, a Greenpeace divulgava um estudo europeu sobre a aplicação dos mínimos de segurança

estabelecidos depois do acidente de Fukushima, no Japão, em 2011. Para a organização, "Almaraz não é

segura e não se deveria permitir a manutenção da sua atividade".

Há apenas dois meses, cinco inspetores do Conselho de Segurança Nuclear do Estado espanhol vieram a

público quebrar o silêncio. Depois da última vistoria à central nuclear, motivada por repetidas avarias nos

motores das bombas de água, ficou claro que o sistema de refrigeração não dá garantias suficientes e que,

dizem os técnicos, coloca sério risco de segurança.

Almaraz é apresentada pela Greenpeace como um caso extremo. A central não cumpre pontos essenciais:

não tem válvulas de segurança e sistemas de ventilação filtrada para prevenir uma explosão de hidrogénio como

a que ocorreu em Fukushima; não tem dispositivo eficaz para contenção da radioatividade em caso de acidente

grave; não tem avaliação de riscos naturais; não está sequer prevista a implantação de um escape alternativo

para calor. Depois do relato dos inspetores, já se registou em fevereiro nova avaria e um incêndio.

No dia mundial da água realizou-se uma audição a várias associações ambientalistas na comissão

parlamentar do Ambiente, Ordenamento do Território, Descentralização, Poder Local e Habitação sobre o estado

do rio Tejo. Nessa ocasião, o PSD alterou a sua posição relativamente a Almaraz, passando a exigir, como

explicou o deputado Manual Frexes, o encerramento desta central nuclear. Trata-se de uma mudança

importante, depois de décadas de passividade e de quatro anos de inação no Governo, quando as

responsabilidades do PSD poderiam ter-se traduzido em iniciativa governamental junto das autoridades

espanholas.

A contestação à energia nuclear e em especial às centrais mais antigas alastra pela Europa. Um conjunto de

municípios alemães, luxemburgueses e holandeses (Dusseldorf, Colónia, Maastricht e Cidade do Luxemburgo,

entre outras) acabam de abrir um processo no Tribunal Europeu de Justiça pelo encerramento de dois reatores

nucleares com 40 anos situados na Bélgica.

As consequências de um acidente nuclear grave são enormes, com implicações na vida e na saúde de

gerações, com contaminação em larga escala, pelo ar e pelo Tejo, podendo levar a um êxodo de populações.

A segurança das populações, fronteiriças e não só, vale mais do que os lucros dos acionistas da central

(Endesa, Iberdrola e União Fenosa). O argumento de que a energia nuclear é barata apenas se sustenta pela

imputação à sociedade dos gravíssimos custos de uma catástrofe.

O perigo representado pela central nuclear de Almaraz não pode ser ignorado nem negligenciado. É

necessário que o Governo Português desenvolva todos os esforços junto das entidades espanholas no sentido

de garantir o encerramento da central. O encerramento de Almaraz não é só a exigência das populações

ameaçadas. É o único objetivo responsável para um governo português.

Recentemente, Naoto Kan – primeiro-ministro japonês aquando do acidente de Fukushima – defendeu o

encerramento de “todas as centrais nucleares”. Cinco anos após a tragédia, reconheceu que, antes do acidente,

não concebeu que o Japão pudesse passar por semelhante cenário. Estas declarações demonstram que a

prevenção é a única política sensata.

Ao abrigo das disposições constitucionais e regimentais aplicáveis, o Grupo Parlamentar do Bloco de

Esquerda propõe que a Assembleia da República recomende ao Governo que tome todas as iniciativas

necessárias, junto do Estado espanhol e das instituições europeias, no sentido do encerramento da central

nuclear de Almaraz.

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30 DE MARÇO DE 2016 33 Assembleia da República, 30 de março de 2016.
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