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6 DE ABRIL DE 2016 133

A maioria das famílias prefere cuidar dos seus doentes em casa, se lhe derem condições e o devido apoio,

clínico e social. No entanto, aquilo a que se tem assistido é a um aumento crescente dos internamentos

hospitalares de doentes crónicos e mesmo a um fenómeno que se chama de “hospitalização da morte”: é cada

vez maior o número de portugueses que vem a passar os últimos tempos e a falecer no hospital –

frequentemente sem o atendimento dirigido às suas necessidades de doente em fim de vida. Se se mantiver a

tendência atual, e num cenário conservador, em 2030 três em cada quatro mortes ocorrerá no hospital, com um

inerente incremento insustentável de custos na saúde. Além do mais, essa tendência não vai ao encontro da

vontade de um número relevante de portugueses que, de acordo com um estudo da Fundação Calouste

Gulbenkian, desejaria vir a falecer em casa, com o apoio clínico e social devido.

No nosso país, o AVC e o cancro estão entre as principais causas de morte, com morbilidade acrescida

associada, e as situações de demência têm também vindo a aumentar o que, tratando-se neste caso de uma

doença evolutiva e irreversível que cursa ao longo de anos, pode implicar muito tempo de cuidados prestados

por cuidadores no domicílio. Quando hospitalizados, estes e outros doentes crónicos, carecem de uma

abordagem apropriada e devem ser alvo de cuidados que em primeiro lugar garantam o conforto e que excluam

a obstinação terapêutica.

Estes cuidadores – familiares/vizinhos/amigos – prestam cuidados não remunerados, que podem implicar

muitas horas do dia e que têm um valor social inquestionável. Em muitos casos, podem surgir situações de

sobrecarga do cuidador (burnout), com evidente compromisso da saúde dos mesmos, e dificuldades na esfera

económica, social e emocional. São situações bem estudadas em cuidadores de pessoas com demência, com

esclerose lateral amiotrófica e nos pais de crianças com deficiência ou doença crónica. É desejável desenvolver

estratégias que, cada vez mais, permitam a manutenção da pessoa doente no seu domicílio e que,

simultaneamente, promovam o apoio aos seus cuidadores informais, sem que estes ponham a sua saúde em

causa.

O perfil de cuidadores remete mais frequentemente para mulheres de meia-idade, esposas ou filhas, elas

próprias com responsabilidades sociais acrescidas e muitas vezes também com problemas de saúde. Os

cuidadores do género masculino têm vindo a aumentar mas continuam a ser uma minoria.

As maiores dificuldades sentidas pelos cuidadores prendem-se com o desconhecimento dos apoios

disponíveis, com dificuldade na obtenção de apoios sociais e clínicos no domicílio, com a evolução da doença

e a dificuldade em lidar com a natureza crescente da dependência.

É hoje claro que estes cuidadores devem ter acesso fácil a informação sobre a doença dos seus familiares,

beneficiar de programas formativos de apoio estruturados, e com isso promove-se a melhoria dos cuidados ao

paciente, reduzem-se internamentos indevidos e reduz-se o desgaste dos cuidadores. Importa destacar que

qualquer programa de apoio a cuidadores, para validar as suas intervenções e prevenir a exaustão, para ser

eficaz, não pode passar apenas pela transmissão de conhecimentos mas tem obrigatoriamente que conter um

componente de treino de habilidades.

É ainda consensual que estes cuidadores informais beneficiam da possibilidade de, caso o desejem, em

grupos de entreajuda com supervisão de profissionais, partilhar experiências e expressar sentimentos.

Existem já vários programas de voluntariado que visam o apoio domiciliário a doentes e seus cuidadores, e

o que se preconiza é uma estreita articulação com os programas de intervenção das estruturas de saúde e

sociais que prestam apoio comunitário.

O internamento hospitalar do doente idoso frágil, com pluripatologia crónica ou do doente em fim de vida

(últimos doze meses de vida) deve constituir um momento preferencial para sinalizar e avaliar a situação familiar,

para avaliar das dificuldades, expectativas e recursos dos cuidadores (que algumas vezes, ou não existem, ou

serão até mais idosos e doentes que os internados). Preconiza-se uma avaliação global das necessidades e

uma articulação com os recursos da comunidade que possam favorecer a permanência da pessoa doente no

domicílio e, ao mesmo tempo, que contribua para prevenir a exaustão dos cuidadores.

Não devemos esquecer, no entanto, que certas situações, pela sua complexidade e também para apoio aos

cuidadores, implicam internamento, seja em unidades hospitalares, de cuidados continuados, paliativos ou

outras.

Pelo exposto, ao abrigo das disposições constitucionais e regimentais aplicáveis, os Deputados do CDS-PP

abaixo assinados apresentam o seguinte projeto de resolução:

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