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21 DE MARÇO DE 2019

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nacionais. O artigo 66.º da Constituição da República Portuguesa (CRP) estabelece ainda que «todos têm

direito a um ambiente de vida humano, sadio e ecologicamente equilibrado e o dever de o defender.»

Ora, perante a desfiguração do Estado a que vimos assistindo, levada a cabo pelos sucessivos Governos,

é justo afirmar-se que o Estado se afasta do cumprimento da sua tarefa fundamental. É também a própria

Constituição da República que estabelece a obrigatoriedade de o Estado proceder à criação e gestão de áreas

de reserva e proteção natural, através de organismos próprios. O que presenciamos, porém, não é o reforço

desejável da capacidade de intervenção do Estado e dos seus organismos próprios, mas a sua gradual

destruição e fragilização. O Instituto da Conservação da Natureza e da Floresta (ICNF), integrado numa

orientação de minimização da presença do Estado, tem vindo a ser alvo de uma política de desarticulação. Na

realidade, este Instituto encontra-se cada vez mais ausente do território nacional que lhe cabe proteger e

valorizar. A criação de áreas protegidas e a atribuição da sua tutela ao ICNF não correspondeu, nem

corresponde, em medida alguma, ao reforço dos seus meios técnicos ou humanos. As sucessivas tentativas

de privatização da gestão, visitação e fiscalização no interior das áreas protegidas inseriram-se na lógica de

que o Estado se deve retirar para dar lugar à total mercantilização dos recursos, assim colocando ao serviço

de interesses privados o seu valor ecológico e o correspondente valor económico. Esta estratégia traduz uma

total subversão da hierarquia de princípios que devem presidir à política de ambiente e gestão do território e

conduz inexoravelmente à degradação da riqueza natural e à sua à espoliação da população do usufruto

dessa riqueza.

Assim, a restruturação do ICNF tem vindo a apontar para um afastamento da Conservação da Natureza

das populações. As alterações introduzidas na orgânica da instituição, com a eliminação das estruturas

diretivas de cada área protegida, e a visão que aponta mais para uso recreativo das áreas protegidas e menos

para a reabilitação e revitalização de vivências e atividades que estão intimamente ligadas a estes territórios,

afastaram o ICNB das áreas e das populações, o que potencia dificuldades de compreensão e

consequentemente de integração de forma harmoniosa das atividades tradicionais na gestão da área

protegida. Um futuro de desenvolvimento sustentável para as áreas protegidas tem que ser levada a cabo com

as populações e nunca contra as populações.

Por outro lado, as medidas gravosas da legislação laboral dos trabalhadores da administração pública

também têm os seus efeitos perversos na capacidade do ICNF em responder às suas funções. Assim, têm

vindo a agravar-se uma série de problemas. A indefinição dos vínculos, carreiras e remunerações dos

trabalhadores e em particular dos vigilantes e a falta de enquadramento das funções muito específicas nas

carreiras de regime geral do contrato de trabalho em funções públicas.

Os sucessivos governos atuaram, ao longo de décadas, no sentido de desresponsabilizar o Estado das

suas funções nas áreas protegidas. O desinvestimento caminhou de mãos dadas com a descaracterização

dos organismos públicos com funções na área. Os Governos PSD/CDS tentaram concessionar as áreas

protegidas a privados, implementando uma taxa de visitação para os financiar. Os governos PS foram

fundindo a gestão das áreas protegidas, afastando a gestão das mesmas do terreno e daquilo que é a

proposta do PCP, de que a cada área protegida de âmbito nacional devia corresponder uma unidade orgânica

de direção intermédia da administração central, dotada dos meios humanos e técnicos, com um diretor. À

semelhança de outros processos de desresponsabilização do Estado, também na área do ambiente significa

um incentivo à privatização de importantes áreas com vista à mercantilização da Natureza e dos recursos

energéticos, naturais, culturais e paisagísticos nacionais.

O chamado «Projeto-piloto para a Gestão Colaborativa do Parque Natural do Tejo Internacional» insere-se

numa linha de desresponsabilizar o Estado das suas funções nestas áreas. Assinado pelo Instituto da

Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), pelos Municípios de Castelo Branco, Idanha-a-Nova e Vila

Velha de Ródão, o Instituto Politécnico de Castelo Branco (IPCB), pela Associação Empresarial da Beira Baixa

(AEBB) e pela Quercus o protocolo prevê, por exemplo, a identificação no «quadro de colaboradores» dos

diferentes signatários «elementos que contribuam» para «concretização de missões específicas», ou seja,

uma maneira de cortar nos meios materiais e humanos do ICNF para a gestão destas áreas.

Sendo importante o envolvimento das autarquias nestas áreas, só a salvaguarda do papel do Estado

Central nas áreas protegidas garantirá que a utilização dos recursos naturais seja feita ao serviço do País e do

povo garantido a capacidade de adoção de políticas nacionais neste âmbito. Apesar de ligeiras melhorias nos

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