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28 DE JUNHO DE 2019

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a construção de uma fábrica de briquetes. Melhorada a aceitação das lignites no mercado de combustíveis seria

assim possível garantir uma lavra mínima que custeasse a manutenção da mina, preparada para uma resposta

imediata a novas crises.

Investimento singular na inovação tecnológica, no panorama da extração de carvões em Portugal, a fábrica

de briquetes garantiu a estabilidade do empreendimento mineiro até à década de sessenta. Com a entrada em

funcionamento da fábrica retornou o afluxo de operários ao concelho de Rio Maior, lançando-se as bases do

desenvolvimento económico que transformaria a pequena vila rural na futura cidade.

Na década de sessenta, a empresa iniciou um processo de descapitalização devido à dificuldade de

escoamento dos carvões, gerando uma grave crise social com repercussão na imprensa nacional e que foi

acompanhada pela PIDE com informações a Salazar. Como resposta à crise, o Governo determinou em

Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos, de 16 de março de 1966, a construção de uma central

termoeléctrica que consumiria as lignites de Rio Maior viabilizando a lavra mineira. Os estudos realizados

revelaram a existência de reservas superiores a 20 milhões de toneladas de lignite, que permitiriam a laboração

por um período de cerca de vinte anos e determinaram o encerramento da mina, em 1969, para reformulação

da lavra. O projeto, incluído nos III e IV Planos de Fomento, arrastar-se-ia no entanto sem execução até ao seu

abandono já na década de oitenta.

A análise histórica e o levantamento do património mineiro do concelho de Rio Maior permitem-nos assim

confirmar a importância do conjunto edificado composto pela fábrica de briquetes e plano inclinado da Mina do

Espadanal enquanto documento paradigmático da resposta da sociedade e do Estado português às duas mais

graves crises da História Universal, as duas Grandes Guerras do século XX, e da intervenção governamental

no esforço de industrialização nacional no pós-guerra.

6. O valor estético, técnico ou material intrínseco do bem

A fábrica de briquetes da Mina do Espadanal é uma obra única, pela sua qualidade arquitetónica e inovação

tecnológica, na construção de acessórios mineiros em Portugal, cuja singularidade se deve ao investimento de

importantes recursos económicos e técnicos públicos na exploração do jazigo de lignites de Rio Maior como

reserva estratégica de combustível para abastecimento da região de Lisboa, durante a II Guerra Mundial e no

pós-guerra. A fraca qualidade da lignite, com uma elevada percentagem de humidade, obrigou ao

desenvolvimento de métodos inovadores para a secagem, com a intervenção do Governo através da Direção

Geral dos Combustíveis, promovendo a vinda a Portugal de técnicos especializados e a importação de

maquinaria inovadora então patenteada na Alemanha pela empresa Buckau R. Wolf, assumindo um risco que

teria sido incomportável para a empresa concessionária.

O desenvolvimento do projeto da fábrica de briquetes, respondendo aos requisitos técnicos concebidos pela

Buckau R. Wolf, com a colaboração qualificada da engenharia portuguesa, através dos engenheiros Alexandre

Vasconcelos Matias, da Direcção Geral dos Combustíveis, Luís Falcão Mena, da EICEL, e Eduardo Evangelista

do Carvalhal, resultou num complexo edificado singular no panorama da indústria mineira portuguesa. A este

respeito, em Parecer emitido em 5 de julho de 2006, o antigo IPPAR reconheceu que a fábrica de briquetes,

além de ser o mais importante testemunho material da atividade técnica da mina, é um exemplo único, quer na

sua relação com a mina, quer na sua materialização e funcionalidade.

7. A conceção arquitetónica, urbanística e paisagística

O conjunto edificado da fábrica de briquetes da Mina do Espadanal afirmou-se enquanto importante obra de

arquitetura do Movimento Moderno em Portugal, num eloquente testemunho da aplicação da estética da

máquina à arquitetura industrial. A fábrica é, em si mesma, uma grande máquina, monumentalizada nas suas

volumetrias brancas interligadas por transportadores aéreos e numa enorme chaminé octogonal de betão

armado aparente. Integrado nos princípios do Funcionalismo, o projeto dá forma ao diagrama funcional ditado

pela cadeia de produção e pela dimensão dos elementos mecânicos, num jogo volumétrico depurado,

explorando a monumentalidade num cuidado tratamento de alçados e através do uso expressivo do betão

enquanto material estrutural.

Desenhada como objeto simbólico, representativo de uma modernidade industrial de iniciativa

governamental, a fábrica de briquetes da Mina do Espadanal materializou-se numa incontornável presença

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